SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
Tecnologia da Informação é realmente necessária!

                        Um erro a cada 16 milhões de transações




                                                               quot;A tecnologia digital é a arte de criar
                                                   necessidades desnecessárias que se tornam
                                                                    absolutamente imprescindíveisquot;.

                                                                                      Joelmir Beting




      A Tecnologia da Informação (TI) vem sendo considerada por muitos como um
importante agente de reestruturação do ambiente e das funções dentro e fora das
organizações, por interligar pessoas, processos e organizações. Sob este ponto de vista a
TI passou a ser considerado um Fator Crítico de Sucesso para a competitividade das
organizações. Mas, será que ainda há espaço para o desenvolvimento de negócio sem o
uso da TI? Será que realmente a TI é necessária para o sucesso de uma organização?
Dada essas perguntas, apresenta-se a seguir um exemplo que como uma organização
pode obter sucesso em seu negócio e ainda ser referência em um mundo globalizado,
sem ter nenhuma TI ao seu serviço.

      Em Bombaim, a maior metrópole da Índia, um grupo de 5.000 homens com
uniforme e chapéu branco executa todos os dias, desde 1890, um serviço de entrega sem
igual no mundo. No início da manhã, os dabbawalas (“carregadores de marmitas”, em
hindi), Figura 1, retiram cerca de 200.000 refeições prontas da casa de seus clientes. Isso
mesmo: entregadores de marmita. Bombaim, você sabe, é mais um daqueles
formigueiros humanos da Índia, com trânsito impraticável e buzinas em profusão. Daí a
importância dos dabbawalas: são eles que levam comida quente aos trabalhadores
indianos - comida feita em casa, cabe dizer. O destino são milhares de escritórios
localizados na área comercial, no lado oposto da cidade. Há um preciso limite de tempo
para que o trabalho dos dabbawalas seja finalizado — o horário do almoço desses
200.000 trabalhadores indianos. Sem os dabbawalas, acredita-se que Bombaim sofreria

                         Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
uma pane com seus milhões de trabalhadores se acotovelando nos bares e restaurantes
a cada intervalo para o almoço.




                                    Figura 1 - Dabbawala

      Durante a coleta nos bairros residenciais, os dabbawalas se valem de bicicletas,
carrinhos de mão ou caixas de madeira que comportam até 60 marmitas. Das casas,
seguem para as estações de trem, onde outros integrantes dessa rede logística
organizam sua distribuição de acordo com o destino das refeições. No desembarque, na
área comercial da cidade, um novo grupo se encarrega de entregar em mãos o almoço
caseiro nos escritórios. Uma hora depois começa a jornada reversa, e todas as marmitas
são devolvidas aos seus locais de origem. O lema dos dabbawalas é “Levar comida a
alguém é o mesmo que servir a Deus”. E eles realmente encaram com seriedade a
missão. Apesar da quantidade de encomendas, da precariedade dos recursos
empregados e da confusão de trânsito nas ruas de Bombaim, o serviço tem índice de
falhas próximo de zero. Num artigo recente, a revista inglesa The Economist
(www.economist.com) estimou que ocorre um erro a cada 16 milhões de entregas dos
dabbawalas. A americana Forbes (www.forbes.com) classificou seu sistema logístico
como um dos mais engenhosos do mundo. E tudo isso sem o uso da Tecnologia da
Informação, comprovando que um processo de negócio bem definido e internalizado
pelos seus atores pode ser o segredo do sucesso de uma organização.
                         Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
Nos últimos anos, por causa dessa impressionante taxa de eficiência, o trabalho
dos marmiteiros de Bombaim passou a ser estudado por grandes organizações e escolas
de negócios do Ocidente. O reconhecimento da competência em logística faz hoje com
que os dabbawalas dividam seu tempo entre as entregas de marmitas e as palestras.
Nesses eventos, eles apresentam os fundamentos de seu sistema a platéias formadas
por organizações como Coca-Cola, Siemens e Daimler-Benz e dão aulas a alunos de
universidades como Harvard, Michigan e Stanford. “Por ano, realizamos uma média de
dez    palestras    —      até       no       exterior”,        afirmou          à   revista   EXAME
(http://portalexame.abril.com.br) Manish Tripathi, presidente da Fundação Dabbawala
(http://www.mydabbawala.org), parte da cooperativa que reúne os marmiteiros de
Bombaim.

      Esses trabalhadores são uma espécie de síntese do atraso do capitalismo do país.
E é exatamente por isso que eles se tornaram uma referência. A primeira lição que
emerge com a análise de seus incríveis índices de eficiência é que a tecnologia, em
especial a Tecnologia da Informação, e capital são ótimos — mas a falta deles não
significa a impossibilidade do sucesso da organização. Com suas bicicletas e o suporte do
sistema de transporte público, os dabbawalas mantêm as entregas de marmitas em dia.
Como se fosse o bastão de uma corrida de revezamento, as refeições trocam de mãos
até quatro vezes durante o percurso (as entregas são realizadas num raio de até 70
quilômetros). O destino de cada uma das marmitas é identificado por um código composto
de cores e letras, simples o suficiente para ser compreendido por uma maioria semi-
analfabeta de entregadores, conforme ilustrado na Figura 2. Cerca de 85% deles não
concluíram o ensino fundamental. Em troca do serviço, os dabbawalas ganham, em
média, 120 dólares por mês, rendimento considerado razoável no país para pessoas com
baixa escolaridade. “Somos como uma Fedex (http://www.fedex.com), só que entregamos
comida quente”, disse o dabbawala Dhondu Kondaji Chowdhury, numa reportagem
publicada recentemente pelo jornal The New York Times.




                         Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
VLP: Sigla do bairro de destino; 9E12: Código do entregador no destino; E: Código do
 edifício de destino; 12: Andar; E: Código do entregador na origem; 3: Código da estação
                                      de trem do destino.

                        Figura 2 – Identificação das marmitas




      De forma intuitiva, a organização dos dabbawalas segue os mais modernos
manuais de administração. Os entregadores têm autonomia para realizar seu trabalho —
os problemas são resolvidos sem a consulta a chefes ou superiores — e há apenas três
níveis na hierarquia da cooperativa. Há os entregadores; os coordenadores, que cuidam
da distribuição das encomendas nos trens; e o pessoal do apoio administrativo, que fica
no escritório. Todos recebem o mesmo salário e são bonificados quando a cooperativa
conquista novos clientes. “Nunca houve uma greve sequer na história do serviço”, afirma
Tripathi, da Fundação Dabbawala. Tripathi esteve recentemente em Dubai, nos Emirados
Árabes, para dar lições de motivação inspiradas nos marmiteiros a uma platéia de 1.000
executivos. “Os dabbawalas têm orgulho de manter a alta taxa de eficiência do serviço e
se preocupam com a qualidade do trabalho. Na prática, é como se todos fossem sócios
da empresa”, diz.


                         Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
Além de símbolos de eficiência logística, os dabbawalas viraram nos últimos
tempos ícones de “empreendorismo social”. Num país com altas taxas de pobreza, como
é a Índia, a operação consegue oferecer serviço e remuneração digna a pessoas que não
teriam muitas oportunidades no mercado de trabalho devido à baixa qualificação. A
cooperativa mantém uma reserva de caixa para socorrer associados em dificuldades
financeiras. “Os dabbawalas são peritos na separação e na distribuição das latas,
trabalhando como elos de uma corrente, passando as marmitas entre si, em diversos
estágios”, escreveu Richard Donkin, articulista do jornal Financial Times, no livro Sangue,
Suor & Lágrimas, que tem um capítulo dedicado à história dos marmiteiros indianos.
Figuras típicas na paisagem de Bombaim, os dabbawalas viraram personagens de obras
de literatura. No livro Versos Satânicos, de Salman Rushdie, por exemplo, um dos
principais personagens trabalha como dabbawala antes de se tornar um astro de cinema.




                         Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Tecnologia da Informação é realmente necessária

O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do Silício
O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do SilícioO que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do Silício
O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do SilícioArmRebel
 
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do Silicio
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do SilicioOque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do Silicio
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do SilicioRicardo Jordão Magalhaes
 
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/Junho
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/JunhoRevista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/Junho
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/JunhoAlinesilva.in
 
Showroom294
Showroom294Showroom294
Showroom294Kellycsg
 
Repensando a Comunicação no mundo em transe
Repensando a Comunicação no mundo em transeRepensando a Comunicação no mundo em transe
Repensando a Comunicação no mundo em transeGrupo TV1
 
Globalização e desemprego
Globalização e desempregoGlobalização e desemprego
Globalização e desempregoNome Sobrenome
 
Simplicidade propaganda
Simplicidade propagandaSimplicidade propaganda
Simplicidade propagandaHaendel Dantas
 
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...procondelsudene
 
Endeavor - Scale-Ups no Brasil
Endeavor - Scale-Ups no BrasilEndeavor - Scale-Ups no Brasil
Endeavor - Scale-Ups no Brasilrfermatos
 
Fgv Isae Webempreender
Fgv Isae WebempreenderFgv Isae Webempreender
Fgv Isae Webempreenderkleber.torres
 
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdf
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdfApresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdf
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdfvtrinta30
 
Projeto marca corporativa pesquisa quantitativa
Projeto marca corporativa  pesquisa quantitativaProjeto marca corporativa  pesquisa quantitativa
Projeto marca corporativa pesquisa quantitativaElaine Silva
 
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03Vitor Drumond
 

Semelhante a Tecnologia da Informação é realmente necessária (20)

O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do Silício
O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do SilícioO que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do Silício
O que uma Empresa Pode Aprender com o Vale do Silício
 
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do Silicio
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do SilicioOque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do Silicio
Oque Uma Pequena Empresa Pode Aprender Com Ovale Do Silicio
 
Para Onde Estamos Indo?
Para Onde Estamos Indo?Para Onde Estamos Indo?
Para Onde Estamos Indo?
 
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/Junho
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/JunhoRevista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/Junho
Revista Armazém Ano 2 Número 5 Maio/Junho
 
Case Catho online
Case Catho onlineCase Catho online
Case Catho online
 
Catho online
Catho onlineCatho online
Catho online
 
Showroom294
Showroom294Showroom294
Showroom294
 
Repensando a Comunicação no mundo em transe
Repensando a Comunicação no mundo em transeRepensando a Comunicação no mundo em transe
Repensando a Comunicação no mundo em transe
 
Globalização e desemprego
Globalização e desempregoGlobalização e desemprego
Globalização e desemprego
 
Simplicidade propaganda
Simplicidade propagandaSimplicidade propaganda
Simplicidade propaganda
 
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...
Anotações sobre os Eixos Estruturadores do Pólo de Confecção do Agreste e o D...
 
Aqui é o lugar
Aqui é o lugarAqui é o lugar
Aqui é o lugar
 
Endeavor - Scale-Ups no Brasil
Endeavor - Scale-Ups no BrasilEndeavor - Scale-Ups no Brasil
Endeavor - Scale-Ups no Brasil
 
Fgv Isae Webempreender
Fgv Isae WebempreenderFgv Isae Webempreender
Fgv Isae Webempreender
 
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdf
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdfApresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdf
Apresentação Fiema 27.06 - Tendências de Mercado.pdf
 
Evento Marketing Imobiliario
Evento Marketing ImobiliarioEvento Marketing Imobiliario
Evento Marketing Imobiliario
 
Projeto marca corporativa pesquisa quantitativa
Projeto marca corporativa  pesquisa quantitativaProjeto marca corporativa  pesquisa quantitativa
Projeto marca corporativa pesquisa quantitativa
 
Apresentação acsp e panorama digital
Apresentação acsp e panorama digitalApresentação acsp e panorama digital
Apresentação acsp e panorama digital
 
Artigo dabio pdf
Artigo dabio pdfArtigo dabio pdf
Artigo dabio pdf
 
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03
Pesquisa Marcas Humanitárias Parte 03
 

Mais de Ivan Luizio Magalhães

Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0
Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0
Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0Ivan Luizio Magalhães
 
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio Magalhães
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio MagalhãesCatálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio Magalhães
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio MagalhãesIvan Luizio Magalhães
 
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade Organizacional
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade OrganizacionalGovernança de Dados como meio para o incremento da Produtividade Organizacional
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade OrganizacionalIvan Luizio Magalhães
 
Sala de Situação para a Gestão Pública
Sala de Situação para a Gestão PúblicaSala de Situação para a Gestão Pública
Sala de Situação para a Gestão PúblicaIvan Luizio Magalhães
 
Centro de Controle e Comando da Experiência do Cliente
Centro de Controle e Comando da Experiência do ClienteCentro de Controle e Comando da Experiência do Cliente
Centro de Controle e Comando da Experiência do ClienteIvan Luizio Magalhães
 
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbus
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbusGestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbus
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbusIvan Luizio Magalhães
 
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de Negocio
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de NegocioDesign Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de Negocio
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de NegocioIvan Luizio Magalhães
 
Gestão de carreira - Perfil Profissional
Gestão de carreira - Perfil ProfissionalGestão de carreira - Perfil Profissional
Gestão de carreira - Perfil ProfissionalIvan Luizio Magalhães
 
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...Ivan Luizio Magalhães
 
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma prática
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma práticaGestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma prática
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma práticaIvan Luizio Magalhães
 
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de Carreira
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de CarreiraGestão de Carreira - Projeto Pessoal de Carreira
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de CarreiraIvan Luizio Magalhães
 
Portfólio de Produtos para a área de TI
Portfólio de Produtos para a área de TIPortfólio de Produtos para a área de TI
Portfólio de Produtos para a área de TIIvan Luizio Magalhães
 
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...Ivan Luizio Magalhães
 
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007Ivan Luizio Magalhães
 

Mais de Ivan Luizio Magalhães (20)

Customer Multiexperience Center
Customer Multiexperience CenterCustomer Multiexperience Center
Customer Multiexperience Center
 
Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0
Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0
Fábrica de Testes de Software na era da Indústria 4.0
 
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio Magalhães
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio MagalhãesCatálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio Magalhães
Catálogo de palestras, workshops e cursos do prof. ivan Luizio Magalhães
 
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade Organizacional
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade OrganizacionalGovernança de Dados como meio para o incremento da Produtividade Organizacional
Governança de Dados como meio para o incremento da Produtividade Organizacional
 
Service Operations Management
Service Operations ManagementService Operations Management
Service Operations Management
 
Sala de Situação para a Gestão Pública
Sala de Situação para a Gestão PúblicaSala de Situação para a Gestão Pública
Sala de Situação para a Gestão Pública
 
Centro de Controle e Comando da Experiência do Cliente
Centro de Controle e Comando da Experiência do ClienteCentro de Controle e Comando da Experiência do Cliente
Centro de Controle e Comando da Experiência do Cliente
 
Metrics for Call Center
Metrics for Call CenterMetrics for Call Center
Metrics for Call Center
 
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbus
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbusGestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbus
Gestão de Eventos por meio da Ferramenta IBM Tivoli Netcool/OMNIbus
 
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de Negocio
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de NegocioDesign Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de Negocio
Design Thinking aplicado ao Redesenho de Processos de Negocio
 
Gestão de carreira - Perfil Profissional
Gestão de carreira - Perfil ProfissionalGestão de carreira - Perfil Profissional
Gestão de carreira - Perfil Profissional
 
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...
Os 7 mitos da monitoração de Serviços de TI - Indo além da monitoração da inf...
 
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma prática
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma práticaGestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma prática
Gestão por meio dos 5 sentidos - O básico de forma prática
 
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de Carreira
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de CarreiraGestão de Carreira - Projeto Pessoal de Carreira
Gestão de Carreira - Projeto Pessoal de Carreira
 
Portfólio de Produtos para a área de TI
Portfólio de Produtos para a área de TIPortfólio de Produtos para a área de TI
Portfólio de Produtos para a área de TI
 
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...
O sucesso do Negocio por meio do monitoramento da Experiencia do Usuario de S...
 
AutomAction
AutomActionAutomAction
AutomAction
 
Atendimento Nota 10 no Service Desk
Atendimento Nota 10 no Service DeskAtendimento Nota 10 no Service Desk
Atendimento Nota 10 no Service Desk
 
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007
Guia Prático - 7 Ferramentas da Qualidade com MS Excel 2007
 
Gestão de Valor por meio de Projetos
Gestão de Valor por meio de ProjetosGestão de Valor por meio de Projetos
Gestão de Valor por meio de Projetos
 

Tecnologia da Informação é realmente necessária

  • 1. Tecnologia da Informação é realmente necessária! Um erro a cada 16 milhões de transações quot;A tecnologia digital é a arte de criar necessidades desnecessárias que se tornam absolutamente imprescindíveisquot;. Joelmir Beting A Tecnologia da Informação (TI) vem sendo considerada por muitos como um importante agente de reestruturação do ambiente e das funções dentro e fora das organizações, por interligar pessoas, processos e organizações. Sob este ponto de vista a TI passou a ser considerado um Fator Crítico de Sucesso para a competitividade das organizações. Mas, será que ainda há espaço para o desenvolvimento de negócio sem o uso da TI? Será que realmente a TI é necessária para o sucesso de uma organização? Dada essas perguntas, apresenta-se a seguir um exemplo que como uma organização pode obter sucesso em seu negócio e ainda ser referência em um mundo globalizado, sem ter nenhuma TI ao seu serviço. Em Bombaim, a maior metrópole da Índia, um grupo de 5.000 homens com uniforme e chapéu branco executa todos os dias, desde 1890, um serviço de entrega sem igual no mundo. No início da manhã, os dabbawalas (“carregadores de marmitas”, em hindi), Figura 1, retiram cerca de 200.000 refeições prontas da casa de seus clientes. Isso mesmo: entregadores de marmita. Bombaim, você sabe, é mais um daqueles formigueiros humanos da Índia, com trânsito impraticável e buzinas em profusão. Daí a importância dos dabbawalas: são eles que levam comida quente aos trabalhadores indianos - comida feita em casa, cabe dizer. O destino são milhares de escritórios localizados na área comercial, no lado oposto da cidade. Há um preciso limite de tempo para que o trabalho dos dabbawalas seja finalizado — o horário do almoço desses 200.000 trabalhadores indianos. Sem os dabbawalas, acredita-se que Bombaim sofreria Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
  • 2. uma pane com seus milhões de trabalhadores se acotovelando nos bares e restaurantes a cada intervalo para o almoço. Figura 1 - Dabbawala Durante a coleta nos bairros residenciais, os dabbawalas se valem de bicicletas, carrinhos de mão ou caixas de madeira que comportam até 60 marmitas. Das casas, seguem para as estações de trem, onde outros integrantes dessa rede logística organizam sua distribuição de acordo com o destino das refeições. No desembarque, na área comercial da cidade, um novo grupo se encarrega de entregar em mãos o almoço caseiro nos escritórios. Uma hora depois começa a jornada reversa, e todas as marmitas são devolvidas aos seus locais de origem. O lema dos dabbawalas é “Levar comida a alguém é o mesmo que servir a Deus”. E eles realmente encaram com seriedade a missão. Apesar da quantidade de encomendas, da precariedade dos recursos empregados e da confusão de trânsito nas ruas de Bombaim, o serviço tem índice de falhas próximo de zero. Num artigo recente, a revista inglesa The Economist (www.economist.com) estimou que ocorre um erro a cada 16 milhões de entregas dos dabbawalas. A americana Forbes (www.forbes.com) classificou seu sistema logístico como um dos mais engenhosos do mundo. E tudo isso sem o uso da Tecnologia da Informação, comprovando que um processo de negócio bem definido e internalizado pelos seus atores pode ser o segredo do sucesso de uma organização. Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
  • 3. Nos últimos anos, por causa dessa impressionante taxa de eficiência, o trabalho dos marmiteiros de Bombaim passou a ser estudado por grandes organizações e escolas de negócios do Ocidente. O reconhecimento da competência em logística faz hoje com que os dabbawalas dividam seu tempo entre as entregas de marmitas e as palestras. Nesses eventos, eles apresentam os fundamentos de seu sistema a platéias formadas por organizações como Coca-Cola, Siemens e Daimler-Benz e dão aulas a alunos de universidades como Harvard, Michigan e Stanford. “Por ano, realizamos uma média de dez palestras — até no exterior”, afirmou à revista EXAME (http://portalexame.abril.com.br) Manish Tripathi, presidente da Fundação Dabbawala (http://www.mydabbawala.org), parte da cooperativa que reúne os marmiteiros de Bombaim. Esses trabalhadores são uma espécie de síntese do atraso do capitalismo do país. E é exatamente por isso que eles se tornaram uma referência. A primeira lição que emerge com a análise de seus incríveis índices de eficiência é que a tecnologia, em especial a Tecnologia da Informação, e capital são ótimos — mas a falta deles não significa a impossibilidade do sucesso da organização. Com suas bicicletas e o suporte do sistema de transporte público, os dabbawalas mantêm as entregas de marmitas em dia. Como se fosse o bastão de uma corrida de revezamento, as refeições trocam de mãos até quatro vezes durante o percurso (as entregas são realizadas num raio de até 70 quilômetros). O destino de cada uma das marmitas é identificado por um código composto de cores e letras, simples o suficiente para ser compreendido por uma maioria semi- analfabeta de entregadores, conforme ilustrado na Figura 2. Cerca de 85% deles não concluíram o ensino fundamental. Em troca do serviço, os dabbawalas ganham, em média, 120 dólares por mês, rendimento considerado razoável no país para pessoas com baixa escolaridade. “Somos como uma Fedex (http://www.fedex.com), só que entregamos comida quente”, disse o dabbawala Dhondu Kondaji Chowdhury, numa reportagem publicada recentemente pelo jornal The New York Times. Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
  • 4. VLP: Sigla do bairro de destino; 9E12: Código do entregador no destino; E: Código do edifício de destino; 12: Andar; E: Código do entregador na origem; 3: Código da estação de trem do destino. Figura 2 – Identificação das marmitas De forma intuitiva, a organização dos dabbawalas segue os mais modernos manuais de administração. Os entregadores têm autonomia para realizar seu trabalho — os problemas são resolvidos sem a consulta a chefes ou superiores — e há apenas três níveis na hierarquia da cooperativa. Há os entregadores; os coordenadores, que cuidam da distribuição das encomendas nos trens; e o pessoal do apoio administrativo, que fica no escritório. Todos recebem o mesmo salário e são bonificados quando a cooperativa conquista novos clientes. “Nunca houve uma greve sequer na história do serviço”, afirma Tripathi, da Fundação Dabbawala. Tripathi esteve recentemente em Dubai, nos Emirados Árabes, para dar lições de motivação inspiradas nos marmiteiros a uma platéia de 1.000 executivos. “Os dabbawalas têm orgulho de manter a alta taxa de eficiência do serviço e se preocupam com a qualidade do trabalho. Na prática, é como se todos fossem sócios da empresa”, diz. Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)
  • 5. Além de símbolos de eficiência logística, os dabbawalas viraram nos últimos tempos ícones de “empreendorismo social”. Num país com altas taxas de pobreza, como é a Índia, a operação consegue oferecer serviço e remuneração digna a pessoas que não teriam muitas oportunidades no mercado de trabalho devido à baixa qualificação. A cooperativa mantém uma reserva de caixa para socorrer associados em dificuldades financeiras. “Os dabbawalas são peritos na separação e na distribuição das latas, trabalhando como elos de uma corrente, passando as marmitas entre si, em diversos estágios”, escreveu Richard Donkin, articulista do jornal Financial Times, no livro Sangue, Suor & Lágrimas, que tem um capítulo dedicado à história dos marmiteiros indianos. Figuras típicas na paisagem de Bombaim, os dabbawalas viraram personagens de obras de literatura. No livro Versos Satânicos, de Salman Rushdie, por exemplo, um dos principais personagens trabalha como dabbawala antes de se tornar um astro de cinema. Prof. Ivan Luizio Magalhães (ivan_luizio@hotmail.com)