SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 32
Baixar para ler offline
Alimentação e
Hipocoagulação
Oral
COM O APOIO
Associação Portuguesa de Nutrição 2
Ficha Técnica Título
Alimentação e Hipocoagulação Oral
Coleção E-books APN
E-book N.º 52
Direção Editorial
Célia Craveiro
Conceção
Bruna Domingues, Fábio Cardoso, Teresa Rodrigues
Corpo Redatorial
Bruna Domingues, Fábio Cardoso
Produção Gráfica
Associação Portuguesa de Nutrição
Propriedade
Associação Portuguesa de Nutrição
Redação
Associação Portuguesa de Nutrição
Revisão Científica
Cármen Brás Silva, Sónia Xará, Nuno Borges
ISBN 978-989-8631-42-8
março de 2019 © APN
www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 3
1
2
3
4
5
6
7
8
Índice Números
Coagulação Sanguínea
Mecanismos Anticoagulantes Naturais
Anticoagulantes Orais
> Anticoagulantes Diretos
> Anticoagulantes Indiretos
Monitorização da Coagulação Sanguínea
> Tempo de Protrombina e International Normalized Ratio (INR)
Vitamina K
> Função, Benefícios e Ingestão Adequada
> Absorção, Armazenamento, Excreção e Deficiência
> Fontes Alimentares
Interações dos Anticoagulantes Orais Indiretos
> Interação com a Vitamina K
> Interação com a Vitamina E
> Interação com a Proteína
> Interação com Bebidas Alcoólicas
> Interação com Plantas Medicinais
Referências Bibliográficas
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 4
Estima-se que em Portugal, no ano de 2015, as doenças cérebro-
-cardiovasculares tenham constituído a principal causa de mortali-
dade, com uma prevalência de 1,313,669 casos e uma incidência de
192,640 novos casos (1).
Uma vez que a maioria dos eventos cérebro-cardiovasculares se
associam ao desenvolvimento de outas complicações como o trom-
boembolismo venoso, arterial ou cardíaco, o recurso a anticoagulan-
tes como estratégia preventiva é cada vez mais uma realidade (2).
De facto, o uso de anticoagulantes tem vindo a aumentar ao longo
dos últimos anos (Figura 1), sendo expectável a manutenção
desta tendência nos próximos anos dado o aumento da esperança
média de vida e a crescente prevalência das doenças cérebro-
-cardiovasculares (2,3).
1 Números
Figura 1 – Evolução dos encargos
do SNS, encargos do utente e utili-
zação de anticoagulantes entre 2000
e 2013.
Adaptado de: Gabinete de Informa-
ção e Planeamento Estratégico do
INFARMED (3)
30.000.000
25.000.000
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
Anticoagulantes
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
DDD
1000
Hab.
Dia
(DHD)
Encargos do SNS Encargos do Utente Utilização
12
10
8
6
4
2
-
euros
26,9M€
10,5 DHD
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 5
A hemóstase é um processo natural e complexo que tem como ob-
jetivo cessar a hemorragia resultante de um ferimento ou corte
(4,5,6).
Quando um vaso sanguíneo é danificado ocorre a vasoconstrição,
formação de um trombo plaquetário e a ativação da cascata de coa-
gulação que conduz à formação de um coágulo de fibrina (coagula-
ção sanguínea) levando ao cessar da hemorragia (4,5,6).
Fisiologicamente, existe um balanço preciso (hemóstase) entre o
processo de coagulação (fatores pró-coagulantes e anticoagulan-
tes) e a fibrinólise (destruição do coágulo de fibrina) (4,5,7).
Defeitos no processo de hemóstase (coagulopatias) podem ser cau-
sados pela diminuição e/ou ausência de fatores de coagulação ou
ainda pela diminuição e/ou disfunção das plaquetas (7).
Alterações na cascata da coagulação podem resultar em (7):
> Hemorragias espontâneas ou exacerbadas;
> Alterações Trombóticas;
> Complicações tromboembólicas.
2 Coagulação
Sanguínea
Procoagulantes
Coagulação
Anticoagulantes / fibrinolíticos
Hemóstase
Hemorrogia
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 6
Os anticoagulantes naturais são proteínas presentes no sangue
imprescindíveis para travar o processo de coagulação, limitando
o coágulo apenas à área afetada, evitando assim o seu desenvolvi-
mento patológico e uma possível obstrução ao normal fluxo sanguí-
neo (6, 8).
Qualquer deficiência (hereditária ou adquirida) no número ou fun-
ção destas proteínas poderá levar à trombofilia (condição na qual há
um aumento do risco para a formação de coágulos) (5, 9).
3 Mecanismos
Anticoagulantes
Naturais
Proteína S
Antitrombina
Proteína C
Príncipais Proteínas
Anticoagulantes (6, 8)
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 7
Situações graves de trombofilia e/ou de risco trombótico requerem
terapia com anticoagulantes orais (ACO) (10).
Definição
Os ACO são fármacos que limitam o processo de coagulação san-
guínea reduzindo, desta forma, a formação de coágulos nas veias e
artérias (11).
Indicações clínicas
De um modo global, a terapêutica anticoagulante oral é utilizada na
prevenção secundária de fenómenos tromboembólicos em indiví-
duos com patologia cardiovascular (p.ex. fibrilação atrial não valvu-
lar) e/ou que possuam predisposição para a formação de trombos
(10,11).
O tipo de ACO, dose e duração da terapêutica instituída varia de indi-
víduo para indivíduo em função da extensão do deficit anticoagulan-
te, circunstâncias do coágulo e sua eventual conjugação com outros
fatores de risco, após uma avaliação clínica individualizada (5).
4 Anticoagulantes
Orais
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 8
Os ACO diretos (designação recomendada pela International Society
on Thrombosis and Haemostasis), comummente designados por
novos anticoagulantes orais, são um grupo de fármacos criado
com o propósito de ultrapassar as diversas limitações associadas
aos ACO Indiretos. Estes atuam direta e seletivamente em fatores
de coagulação específicos, nomeadamente o Dabigatrano no Fator
IIa (trombina) e o Rivaroxabano, Apixabano e Endoxabano no Xa,
inibindo a cascata de coagulação (11, 12, 13).
Os ACO Diretos são (11, 12):
> Anticoagulantes
Diretos
Eliquis®
(Apixabano)
Xarelto®
(Rivaroxabano)
Lixiana®
(Endoxabano)
Pradaxa®
(Dabigatrano etexilato)
> Foi a primeira alternativa à varfarina
aprovada pela União Europeia e pela
Food and Drug Administration (FDA)
em 2008 e recomendada pelo American
College of Cardiology, a American Heart
Association e a Heart Rhythm Society
(11).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 9
Vantagens (11, 12, 13, 14):
> Farmacocinética e farmacodinâmica mais previsível, permitindo
o uso de doses fixas;
> Baixas interações medicamento-alimento;
> Respostas terapêuticas com início de ação rápido (30 min a 4
horas);
> Tempo de semivida relativamente curto;
> Ausência, na maioria dos casos, da necessidade de monitori-
zação laboratorial regular do estado de coagulação (exceto em
contexto de patologia renal e/ou hepática).
Desvantagens (11, 12, 13, 14):
> Biodisponibilidade muito variável entre fármacos;
> O tempo de semivida curto, poderá ser uma desvantagem na
medida em que um atraso na toma do fármaco poderá elevar o
risco de formação de coágulos;
> Atualmente não possuem um “antídoto”;
> Inexistência atual de testes padronizados para a sua monitoriza-
ção, especialmente em doentes hepáticos e/ou renais;
> Baixa experiência clínica na sua utilização dado a sua introdução
recente;
> Alto custo.
> Anticoagulantes
Diretos
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 10
> Anticoagulantes
Indiretos
Os ACO indiretos, comummente conhecidos como antagonistas da
vitamina K, são derivados cumarínicos que exercem um efeito anti-
coagulante mediante inibição do complexo enzimático epóxido-re-
dutase da vitamina K (VKORC) necessário à redução da 2,3-epoxi vi-
tamina K (forma oxidada e inativa) em vitamina KH2 (forma reduzida
e ativa), a nível hepático (11,15).
A vitamina KH2 tem um papel preponderante na coagulação san-
guínea, pois atua como cofator no processo de y-carboxilação das
moléculas de ácido glutâmico, presentes nos fatores de coagulação
II (protrombina), VII, IX e X, originando um aminoácido, o ácido y-
carboxiglutâmico (Gla), necessário à ativação destes fatores e con-
sequentemente da cascata de coagulação (Figura 2) (6,11,15).
Os ACO Indiretos mais comuns são (11):
Varfine®
(Varfarina)
Sintrom®
(Acenocumarol)
> Aprovado em 1987 pela Food and Drug
Administration (FDA), é o ACO mais prescrito em
todoomundoreduzindo,emdosesterapêuticas,
entre 30 a 50% a formação hepática de fatores
de coagulação ativos (16, 17).
Varfine®
Varfarina
Figura 2 – Visão global da implicação da Vitamina K e atuação dos ACO
indiretos no processo de coagulação sanguínea.
ACO Indiretos
VKORC
Vitamina
KH2
2,3-epoxi
vitamina k
y-glutamil-carboxilase
Ácido y-carboxiglutâmico Ácido glutâmico
Coagulação
Fatores II, VII, IX e X
Ativos
Fatores II, VII, IX e X
Inativos
( ) ( )
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 11
Vantagens (11, 13, 14, 18):
> Elevada biodisponibilidade do fármaco (99 a 100%);
> Possibilidade de monitorização do estado de coagulação e ajuste
da dosagem com base no tempo de protrombina (padronizado
pelo International Normalized Ratio - INR);
> Possuem um “antídoto” que é a vitamina K;
> Possibilidade de serem utilizados por indivíduos de qualquer
idade;
> Experiência clínica na sua utilização bem consolidada;
> Baixo custo
Desvantagens (11, 13, 14):
> Respostas terapêuticas com início de ação lento (de 36 a 72
horas);
> Grande variabilidade à resposta terapêutica individual devido
à ocorrência de polimorfismos ao nível das enzimas epóxido-
redutase da vitamina K (alvo de atuação do fármaco) e CYP2C9
(responsável pela metabolização do fármaco);
> Necessidade de monitorização regular do INR para um ajuste da
dose;
> Elevada taxa de interações medicamento-alimento (em
especial alimentos com vitamina K);
> Tempo de semivida longo (32 a 42 horas), elevando o risco de
hemorragias.
> Anticoagulantes
Indiretos
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 12
O uso de ACO Indiretos implica um controlo terapêutico regular,
garantindo a eficácia do fármaco e paralelamente a segurança do
doente (11, 13, 14, 18).
O controlo é feito mediante monitorização do estado de coagula-
ção, com base em testes laboratoriais (coagulograma), dos quais
se destacam o Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) e o
Tempo de Protrombina (TP) expresso segundo o International Nor-
malizated Ratio (INR)(14).
5 Monitorização
da coagulação
Sanguínea
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 13
O TP baseia-se na adição de cálcio e tromboplastina (um ativador
da coagulação) à amostra de sangue recolhida, medindo-se de se-
guida o tempo (em segundos) necessário à formação de coágulos
de fibrina, sabendo que o tempo normal de coagulação oscila entre
10 a 14 segundos (18).
Este é o exame laboratorial mais frequentemente utilizado para o
controlo do estado de coagulação em doentes medicados com ACO
Indiretos (14, 17).
Contudo, os resultados analíticos do TP estão sujeitos a uma varia-
bilidade inter e intralaboratorial, em função do uso de diferentes
tromboplastinas, dificultando uma interpretação e comparação se-
gura (17, 18).
Deste modo, em 1983, a Organização Mundial de Saúde (OMS), ins-
tituiu o INR como ferramenta de padronização mundial dos resulta-
dos do TP obtidos em diferentes laboratórios, possibilitando a sua
comparação fidedigna (17, 18).
O INR consiste na correção do TP teste, tendo em conta o TP médio
normal e o Índice Internacional de Sensibilidade (ISI) específico da
tromboplastina utilizada, de acordo com a seguinte fórmula (18):
> Tempo de
Protrombina e
International
Normalized
Ratio (INR)
INR = [TP teste/TP médio normal]ISI
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 14
Condição Clínica Intervalos de valores de INR recomendados
Tromboembolismo venoso:
> Profilaxia
> Tratamento
2,0 - 3,0
Prevenção de embolismo sistémico:
> Enfarte Agudo do Miocárdio
> Doença valvar mitral reumática
> Fribrilação atrial crónica
> Prótese valvular biológica
> Cardiomiopatia
> Embolia sistémica recorrente
2,0 - 3,0
Prótese valvular mecânica 2,5 - 3,5
Síndrome antifosfolípidos com tromboembolismo venoso 2,5 - 3,5
Valores Terapêuticos do INR
A manutenção dos níveis de coagulação, num determinado interva-
lo de INR, é indispensável para uma anticoagulação segura e eficaz
(14, 18).
Valores de INR abaixo dos níveis mínimos de segurança, poderão
representar um risco tromboembólico aumentando, enquanto va-
lores de INR superiores ao limite máximo de segurança poderão
conduzir a hemorragias espontâneas (14, 18).
Em indivíduos saudáveis, o INR deverá ser próximo de 1,0. Porém,
em caso de terapia anticoagulante oral, o valor será superior, si-
tuando-se usualmente entre 2 e 3 (17).
Mais especificamente, de acordo com a condição clínica, o intervalo
do INR deverá ser (17):
> Tempo de
Protrombina e
International
Normalized
Ratio (INR)
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 15
Monitorização e Oscilações do INR
Após instituição da terapêutica ACO e até se alcançar um valor de
INR dentro do intervalo terapêutico, preconizam-se monitorizações
semanais ou com intervalos entre 4 a 5 dias, seguidas do ajuste
farmacológico mais apropriado (17, 19).
Uma vez encontrada, pelo clínico, a dosagem de ACO que mantém
os valores de INR nos intervalos adequados, o controlo terapêutico
é, regra geral, realizado com uma menor frequência (17, 19).
Contudo, oscilações inesperadas no valor de INR em doentes cujo
valor já se encontra estável podem ocorrer, sendo potenciadas por
(12, 17):
> Má adesão à terapêutica;
> Auto medicação;
> Erros de laboratório (protocolos de procedimento da OMS);
> Alterações à alimentação habitual, incluindo o consumo de
álcool.
> Tempo de
Protrombina e
International
Normalized
Ratio (INR)
É fundamental monitorizar com regularidade o INR, especialmente aquando da introdução
de novos fármacos, alimentação e/ou suplementos alimentares, por forma a precaver
consequências nocivas resultantes de possiveis interações fármacos-alimentos (15).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 16
6 Vitamina K
Filoquinonas
(K1)
Vitamina K
Menaquinona
(K2)
Menadiona
(K3)
Presentes naturalmente e principalmente em
hortícolas de folha verde e óleos vegetais
(20,21).
Sintetizada pela microbiota intestinal e natu-
ralmente presente em alimentos como ovos,
manteiga, banha e produtos fermentados (p.ex.
keffir e nattõ) (21).
Composto sintético na forma de provitamina,
posteriormente convertido em menaquinona a
nível hepático (20, 21).
A vitamina K é uma vitamina lipossolúvel e um cofator essencial,
em humanos, para a produção de várias proteínas envolvidas na
coagulação e no metabolismo ósseo (20, 21, 22).
Esta pode ocorrer sob forma natural (filoquinona - K1
e menaquinona - K2) ou sintética (menadiona - K3) (20, 21, 22):
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 17
> Função, Benefícios e
Ingestão Adequada
Função
> Regulação do processo de coagulação
sanguínea (ativação de fatores de coa-
gulação II, VII, IX e X e anticoagulantes
como a Proteína C e S) (20, 21, 22);
> Regulação do processo de ossificação
(ativação da osteocalcina) estimulando a
fixação de cálcio nos ossos e dentes (20,
21, 22, 23);
> Regulação do processo de calcificação
(ativação da proteína Gla da matriz -
MGP) limitando a calcificação vascular
(21, 23, 24);
> Participação na síntese de esfingolípi-
dos no cérebro (20, 21).
Benefícios
> Prevenção de hemorragias exageradas e
contribuição para um processo de cica-
trização eficaz (21, 23, 25);
> Melhoria da qualidade e densidade mi-
neral óssea com consequente diminuição
do risco de fraturas e prevenção da os-
teoporose (21, 23, 25);
> Prevenção da calcificação arterial (21, 23,
24);
> Melhoria da função cognitiva (20, 21);
> Prevenção do carcinoma hepatocelular
(23);
> Melhoria da resposta inflamatória asso-
ciada à artrite (21);
> Melhoria da sensibilidade à insulina (21,
23).
Dose de Ingestão Diária
Adequada (adultos > 18 anos)
> 120 μg/dia para homens (25);
> 90 μg/dia para mulheres (25);
> 90 μg/dia para mulheres grávidas
e/ou a amamentar (25).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 18
> Absorção,
Armazenamento,
Excreção e
Deficiência
Fatores que afetam a sua
Absorção
> A vitamina K é normalmente absorvida
na porção distal do intestino delgado,
podendo esta absorção ser influenciada
por fatores fisiológicos como (20, 26):
- Má absorção gastrointestinal;
- Mau estado nutricional;
- Ingestão de suplementos de vitamina
A e E;
- Secreção biliar e pancreática diminuí-
da;
- Dieta pobre em lípidos;
- Uso de anticoagulantes.
Armazenamento e Excreção
> A vitamina K que não é utilizada acaba
sendo excretada num período de três
dias (22, 26):
- Cerca de 20% na urina;
- Entre 40% a 60% nas fezes;
> Assim, as reservas hepáticas desta vita-
mina oscilam rapidamente em função da
quantidade de vitamina K consumida (22,
26).
Deficiência
> A carência é rara em humanos e tem
sido associada a casos de má absorção
de lípidos e à depleção da microbiota
intestinal comensal após recurso a
antibioterapia crónica. Um défice de
vitamina K pode provocar hemorragias
e, em situações de maior
complexidade, anemia grave (20, 26).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 19
> Fontes
alimentares
A vitamina K encontra-se presente tanto em alimentos de origem
vegetal (Filiquinona - K1), como em alimentos de origem animal e
alimentos fermentados (Menaquinona - K2), sendo a sua quantidade
superior nos primeiros (20, 21, 26).
De facto, as maiores fontes de Vitamina K1 são os hortícolas de folha
verde escura com teores desta vitamina geralmente superiores a
100 μg/100g, seguindo-se os óleos vegetais com teores entre os
42 e os 193 μg/100g e alguns frutos frescos e secos com teores a
atingir os 54 μg/100g (20, 26, 27).
Hortícolas (100 g) vit. K (μg)
Acelga* 830
Agrião* 541
Espinafres* 483
Couve Galega* 437
Kale* 390
Endivia* 231
Couve de Bruxelas* 177
Nabiças* 138
Nabiças* 126
Brócolos* 102
* Alimento em crú USDA database, 2019 (27)
A quantidade de vitamina K1 nos hortícolas pode ainda variar de
acordo com alguns fatores, nomeadamente: sazonalidade, grau de
frescura e de maturação, grau de pigmentação, condições climaté-
ricas, bem como condições de preparação e confeção (20, 26).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 20
> Fontes
alimentares
Os óleos vegetais por constituírem uma boa fonte de vitamina K ao
serem adicionados tanto na confeção como no tempero de alimentos,
podem contribuir para o aporte significativo desta vitamina (20, 26):
Nos frutos, o teor de vitamina K é bastante variável. Relativamente
aos frutos gordos, o pinhão e o caju são os que possuem maiores
quantidades deste micronutriente enquanto nas frutas frescas, o
kiwi, a amora e o abacate, são as mais ricas em vitamina K (20, 26):
Óleos (100 g) vit. K (μg)
Óleo de soja 193
Óleo de Canola 127
Óleo vegetal 114
Óleo de algodão 60
Azeite 55
USDA database, 2019 (27)
Frutos (100 g) vit. K (μg)
Pinhão 54
Caju 34
Kiwi 41
Amora 19
Abacate 21
USDA database, 2019 (27)
A vitamina K localiza-se essencialmente na casca da fruta, pelo que
a polpa e/ou os sumos de fruta geralmente apresentam teores mais
baixos desta vitamina (26).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 21
> Fontes
alimentares
Os alimentos de origem animal e/ou fermentados embora sejam
uma fonte menor de vitamina K2 também podem contribuir para
um aporte substancial desta vitamina, especialmente nos casos em
que o seu consumo é elevado (20, 26):
Alimentos (100 g) vit. K (μg)
Miso 29
Nattõ 23
Bife do vitela 18
Panados de frango 15
USDA database, 2019 (27)
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 22
Interações medicamento-alimento são mais pronunciadas para os
medicamentos administrados por via oral, como é o caso dos ACO
(28).
O facto de um alimento atrasar ou diminuir a absorção de um
fármaco e/ou acelerar ou bloquear a sua distribuição, metabolismo
e/ou excreção, poderá levar à ineficácia terapêutica do mesmo ou
até mesmo a casos de toxicidade (28).
Esta situação é agravada em fármacos com uma janela terapêutica
estreita, como os ACO Indiretos (11, 13, 14):
7 Interações dos
Anticoagulantes
Orais Indiretos
Coagulação
Excessiva
Efeito dos ACO Interações com alimentos Efeito dos ACO
Coagulação
Ótima
Coagulação
Deficitária
Risco tromboembólico Janela Terapêutica Risco hemorrágico
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 23
> Interação com a
Vitamina K
Uma vez que os ACO Indiretos bloqueiam a regeneração da Vitamina
KH2, limitando assim a ativação de fatores essenciais no processo
de coagulação, o aporte de vitamina K (proveniente da alimentação
e/ou suplementação) interfere diretamente na eficácia destes fár-
macos dado o seu efeito antagónico (6, 11, 29).
Assim, quer uma redução, quer um aumento no consumo deste
micronutriente poderá causar flutuações no estado de coagulação,
pondo em causa a eficácia terapêutica (29).
Uma elevada ingestão de vitamina K associa-se à diminuição do INR
e uma baixa ingestão a um aumento neste (30, 31).
Baixa ingestão
de vitamina K
Alta ingestão
de vitamina K
INR
INR
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 24
> Interação com a
Vitamina K
O doente hipocoagulado não deve res-
tringir a ingestão de vitamina K, deve sim
ser instruído para realizar uma ingestão
constante ao longo do tempo (20, 32, 33).
Deve ser Restringida a Ingestão de Vitamina K?
Dado os vários efeitos benéficos desta vitamina não está preconizada
a restrição da sua ingestão em doentes hipocoagulados com ACO
(20, 21, 23, 25).
Mais importante do que uma restrição na ingestão de vitamina K, é
assegurar o seu aporte constante ao longo do tempo, evitando gran-
des flutuações que possam comprometer a eficácia da hipocoagula-
ção (20, 21, 23, 25).
Assim, no doente hipocoagulado, deve ser estabelecida uma inges-
tão habitual deste micronutriente e definida a dose de ACO em fun-
ção dessa ingestão que, à posteriori, deverá ser mantida, prevenindo
oscilações no INR e evitando a necessidade de ajustes frequentes na
dose de ACO (20, 32).
Além da manutenção da ingestão diária de vitamina K, recomenda-se:
> Utilizar a menor quantidade possível de gordura na confeção dos
alimentos;
> Evitar o consumo de produtos industrializados à base de óleos
(molhos, sopas pré-confecionadas, caldos
concentrados, entre outros);
> Utilizar preferencialmente queijos e geleias em
detrimento de manteigas e margarinas;
> Remover a casca da fruta e hortícolas.
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 25
> Interação com a
Vitamina E
A toma de suplementação de Vitamina E
poderá aumentar o risco de hemorragias
em doentes hipocoagulados com ACO
Indiretos (20, 35, 36).
A vitamina E é uma vitamina lipossolúvel com um efeito anticoagu-
lante, podendo interferir com a atividade da Vitamina K e dos ACO
Indiretos (35,35).
Alguns estudos sugerem que uma ingestão de vitamina E, sob a for-
ma de suplementação (> 1,000 UI), antagoniza o efeito da vitamina
K, inibindo de forma eficaz a ativação dos fatores de coagulação de-
pendentes desta. Adicionalmente, em doentes hipocoagulados com
ACO Indiretos, a suplementação com vitamina E poderá potenciar o
efeito anticoagulante destes, aumentando o risco de hemorragias
(35, 36).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 26
> Interação com a
Proteína
É essencial manter um bom estado nutri-
cional e um equilíbrio na ingestão proteica
durante o tratamento com ACO Indiretos
minimizando assim as interações medica-
mento-alimento (37,38).
O poder de distribuição dos ACO no organismo está dependente da
sua ligação às proteínas plasmáticas transportadoras (albumina)
(37, 38).
A diminuição da concentração de albumina sérica, decorrente de
uma dieta hipoproteica e/ou disfunção hepática, faz com que haja
uma maior quantidade de fármaco livre, atingindo uma biodisponi-
bilidade superior à que seria de esperar para a dose estabelecida,
aumentando o INR e consequentemente o risco de hemorragias (20,
37, 38).
Já o aumento da concentração de albumina sérica, decorrente de
uma dieta hiperproteica ou um aumento na atividade do citocromo
P450, faz com que haja uma menor quantidade de fármaco livre,
com consequente menor biodisponibilidade à que seria de esperar
para a dose estabelecida, diminuindo o INR e consequente aumen-
tando o risco tromboembólico (20, 37 38).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 27
> Interação com
Bebidas Alcoólicas
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas deve ser evitado em doen-
tes hipocoagulados com ACO. Já um consumo pontual e moderado
(1 copo de apróx. 150 mL por dia para as mulheres e dois copos de
apróx. 150 mL por dia para os homens) não parece ter efeitos perni-
ciosos (32, 36, 39).
O consumo agudo e excessivo de bebidas alcoólicas inibe o meta-
bolismo dos ACO Indiretos, aumentando o seu efeito anticoagulante
e, consequentemente, o risco de hemorragias, refletindo-se num
aumento do INR (32, 39).
Por outro lado, o consumo crónico e excessivo de bebidas alcoólicas
potencia o metabolismo dos ACO Indiretos, devido a uma sobrees-
timulação das enzimas do citocromo P450, contribuindo para uma
redução do efeito anticoagulante e aumento do risco de tromboem-
bolismo, traduzindo-se numa diminuição do INR (32, 39).
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 28
> Interação com
Plantas Medicinais
Algumas plantas medicinais influenciam a farmocinética dos ACO
Indiretos, podendo gerar alterações no estado de coagulação (39,
40).
Algumas das interações mais comuns são (39, 40):
Potenciação do efeito anticoagulante
> Camomila
> Danshen (Salvia miltiorrhiza)
> Garra do diabo (Harpagophytum procumbens)
> Dong Quai (Angélica sinensis)
> Tanaceto (Tanacetum Parthenium)
> Feno-grego (Trigonella foenum-graecum)
> Gingko Biloba
> Serenoa (Serenoa repens)
> Âmio-maior/vulgar (Ammi majus)
Redução do efeito anticoagulante
> Gingeng
> Chá verde (Camellia sinensis)
> Erva de São João/Hipericão (Hypericaceae)
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 29
(1) Timmis A, Townsend N, Gale C, Grobbee R, Maniadakis N, Flather M, et al. European Society of Cardiology: Cardiovascular Disease Statistics 2017.
European heart journal. 2018;39(7):508-79.
(2) Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares. Programa Nacional Para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares 2017. Lisboa set
2017
(3) Gabinete de Informação e Planeamento Estratégico do INFARMED. Anticoagulantes 2000-2013. Available from: http://www.infarmed.pt/
documents/15786/17838/Relatorio_Anticoagulantes_05012015.pdf/c8c00f82-0541-4bcf-9eb2-80db9f569f99.
(4) Chapin JC, Hajjar KA. Fibrinolysis and the control of blood coagulation. Blood reviews. 2015;29(1):17-24.
(5) Lipe B, Ornstein DL. Deficiencies of natural anticoagulants, protein C, protein S, and antithrombin. Circulation. 2011;124(14):e365-8.
(6) Palta S, Saroa R, Palta A. Overview of the coagulation system. Indian Journal of Anaesthesia. 2014;58(5):515-23.
(7) Grottke O, Fries D, Nascimento B. Perioperatively acquired disorders of coagulation. Current Opinion in Anesthesiology. 2015;28(2):113-22.
(8) Bereczky Z, Gindele R, Speker M, Kállai J. Deficiencies of the Natural Anticoagulants – Novel Clinical Laboratory Aspects of Thrombophilia
Testing. EJIFCC. 2016;27(2):130-46.
(9) Joel L. Moake, J. W. Cox. Distúrbios trombóticos Manual MSD2019 [8 jan 2019]. Available from: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/
hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-tromb%C3%B3ticos/dist%C3%BArbios-tromb%C3%B3ticos.
(10) Lippi G, Mattiuzzi C, Cervellin G, Favaloro EJ. Direct oral anticoagulants: analysis of worldwide use and popularity using Google Trends. Annals of
Translational Medicine. 2017;5(16):322.
(11) Mekaj YH, Mekaj AY, Duci SB, Miftari EI. New oral anticoagulants: their advantages and disadvantages compared with vitamin K antagonists in the
prevention and treatment of patients with thromboembolic events. Therapeutics and Clinical Risk Management. 2015;11:967-77.
(12) Uprichard J, Sikorska J. Direct Oral Anticoagulants: A Quick Guide. European Cardiology Review. 2017;12(1).
(13) Rick H. van Gorp, Leon J. Schurgers. New Insights into the Pros and Cons of the Clinical Use of Vitamin K Antagonists (VKAs) Versus Direct Oral
Anticoagulants (DOACs). Nutrients. 2015;7(11):9538-57.
(14) Uprichard J, Sikorska J. Direct Oral Anticoagulants: A Quick Guide. European Cardiology Review. 2017;12(1).
(15) Marques da Silva P. Velhos e novos anticoagulantes orais. Perspetiva farmacológica. Revista Portuguesa de Cardiologia. 2012;31:6-16.
8 Referências Bibliográficas
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 30
(16) Infarmed. Resumo das Características do Medicamento 2016 [8 jan 2019]. Available from: http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.
php?med_id=9007&tipo_doc=rcm.
(17) Riley RS, Rowe D, Fisher LM. Clinical utilization of the international normalized ratio (INR). Journal of clinical laboratory analysis. 2000;14(3):101-
14.
(18) Sherilyn Alvaran Tuazon, Anthony P Scarpaci. Prothrombin Time: Medscape; 2014 [08 jan 2019]. Available from: https://emedicine.medscape.com/
article/2086058-overview#a4.
(19) Marques MS, Almeida AP, MG. L. A Terapêutica Anticoagulante em Cirurgia Oral - Revisão da Literatura. Rev Port Estomatol Cir Maxilofac.
2005(46):31-6.
(20) L. Kathleen Mahan M, RD, CDE, Janice L Raymond, MS, RD, CD and Sylvia Escott-Stump, MA, RD, LDN,. Krause’s Food & the Nutrition Care
Process. 13 ed: Saunders Elsevier; 2012.
(21) Schwalfenberg GK. Vitamins K1 and K2: The Emerging Group of Vitamins Required for Human Health. Journal of Nutrition and Metabolism.
2017;2017:6254836.
(22) Efsa Panel on Dietetic Products Nutrition Allergies, Turck D, Bresson JL, Burlingame B, Dean T, Fairweather‐Tait S, et al. Dietary reference values
for vitamin K. EFSA Journal. 2017;15(5).
(23) DiNicolantonio JJ, Bhutani J, O’Keefe JH. The health benefits of vitamin K. Open heart. 2015;2(1):e000300-e.
(24) Schurgers LJ, Cranenburg EC, Vermeer C. Matrix Gla-protein: the calcification inhibitor in need of vitamin K. Thrombosis and haemostasis.
2008;100(4):593-603.
(25) Institute of Medicine. Dietary reference intakes for vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, iron, manganese, molybdenum,
nickel, silicon, vanadium, and zinc. Washington (DC): National Academy Press; 2002.
(26) Klack K, Carvalho JFd. Vitamina K: metabolismo, fontes e interação com o anticoagulante varfarina. Revista Brasileira de Reumatologia.
2006;46:398-406.
(27) U.S. Department of Agriculture. USDA National Nutrient Database for Standard Reference: Agricultural Research Service; 2015 [updated apr 2019
cited 10 jan 2019]. Available from: https://ndb.nal.usda.gov/ndb/nutrients/index.
(28) Bushra R, Aslam N, Khan AY. Food-drug interactions. Oman medical journal. 2011;26(2):77-83.
8 Referências Bibliográficas
Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 31
(29) Holbrook AM, Pereira JA, Labiris R, McDonald H, Douketis JD, Crowther M, et al. Systematic overview of warfarin and its drug and food interactions.
Archives of internal medicine. 2005;165(10):1095-106.
(30) Violi F, Lip GY, Pignatelli P, Pastori D. Interaction Between Dietary Vitamin K Intake and Anticoagulation by Vitamin K Antagonists: Is It Really
True?: A Systematic Review. Medicine. 2016;95(10):e2895.
(31) Rombouts EK, Rosendaal FR, van der Meer FJ. Influence of dietary vitamin K intake on subtherapeutic oral anticoagulant therapy. British journal
of haematology. 2010;149(4):598-605.
(32) Kampouraki E, Kamali F. Dietary implications for patients receiving long-term oral anticoagulation therapy for treatment and prevention of
thromboembolic disease. Expert review of clinical pharmacology. 2017;10(8):789-97.
(33) Holmes MV, Hunt BJ, Shearer MJ. The role of dietary vitamin K in the management of oral vitamin K antagonists. Blood reviews. 2012;26(1):1-14.
(34) Pastori D, Carnevale R, Cangemi R, Saliola M, Nocella C, Bartimoccia S, et al. Vitamin E serum levels and bleeding risk in patients receiving oral
anticoagulant therapy: a retrospective cohort study. Journal of the American Heart Association. 2013;2(6):e000364.
(35) National Institutes of Health Clinical Center Drug-Nutrient Interaction Task Force. Important information to know when you are taking: Warfarin
(Coumadin) and Vitamin K 2011.
(36) Harris JE. Interaction of dietary factors with oral anticoagulants: review and applications. Journal of the American Dietetic Association.
1995;95(5):580-4.
(37) Phang M, Lazarus S, Wood LG, Garg M. Diet and thrombosis risk: nutrients for prevention of thrombotic disease. Seminars in thrombosis and
hemostasis. 2011;37(3):199-208.
(38) White PJ. Patient factors that influence warfarin dose response. Journal of pharmacy practice. 2010;23(3):194-204.
(39) Nutescu EA, Shapiro NL, Ibrahim S, West P. Warfarin and its interactions with foods, herbs and other dietary supplements. Expert opinion on drug
safety. 2006;5(3):433-51.
(40) Sigma Pharmaceuticals. Dietary guidelines and drug-herb interactions for people taking Warfarin. 2005.
8 Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO
Rua João das Regras, 278 e 284 - R/C 3, 4000-291 Porto
Tel.: +351 22 208 59 81 | Fax: +351 22 208 51 45
geral@apn.org.pt | www.apn.org.pt
Em caso de dúvidas,
contacte um Nutricionista.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Alimentação e Hipocoagulação Oral

Uso racional da vitamina c 18 03-2013
Uso racional da vitamina c 18 03-2013Uso racional da vitamina c 18 03-2013
Uso racional da vitamina c 18 03-2013Maria Da Gloria
 
Embolização/Quimioembolização
Embolização/Quimioembolização Embolização/Quimioembolização
Embolização/Quimioembolização Uiliam Santos
 
Manual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalManual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalEduarda Emanuela
 
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptx
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptxWebpalestra_DoençaRenalCrônica.pptx
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptxnatansilva624689
 
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....farmacoterapêutica, bomba de prótons.....
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....JulianaAparecidadeSo4
 
Antiagregante plaquetário e anticoagulante
Antiagregante plaquetário e anticoagulanteAntiagregante plaquetário e anticoagulante
Antiagregante plaquetário e anticoagulanteresenfe2013
 
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...Carlos D A Bersot
 
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptx
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptxPraticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptx
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptxNayara921526
 
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdf
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdfpraticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdf
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdfMarcioCruz62
 
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...adriana da silva barros
 
Farmacologia em pacientes especiais
Farmacologia em pacientes especiaisFarmacologia em pacientes especiais
Farmacologia em pacientes especiaisLarissa Ramalho
 
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...Abilio Cardoso Teixeira
 
Cancer de próstata
Cancer de próstataCancer de próstata
Cancer de próstataTassiaCF
 
Anticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e AntiagreganteAnticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e Antiagreganteresenfe2013
 
nutrição enteral e parenteral.pptx
nutrição enteral e parenteral.pptxnutrição enteral e parenteral.pptx
nutrição enteral e parenteral.pptxssuser51d27c1
 
Estudos de utilização de medicamentos
Estudos de utilização de medicamentosEstudos de utilização de medicamentos
Estudos de utilização de medicamentosSandra Brassica
 

Semelhante a Alimentação e Hipocoagulação Oral (20)

Uso racional da vitamina c 18 03-2013
Uso racional da vitamina c 18 03-2013Uso racional da vitamina c 18 03-2013
Uso racional da vitamina c 18 03-2013
 
Embolização/Quimioembolização
Embolização/Quimioembolização Embolização/Quimioembolização
Embolização/Quimioembolização
 
Manual terapia nutricional
Manual terapia nutricionalManual terapia nutricional
Manual terapia nutricional
 
Infa09
Infa09Infa09
Infa09
 
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptx
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptxWebpalestra_DoençaRenalCrônica.pptx
Webpalestra_DoençaRenalCrônica.pptx
 
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....farmacoterapêutica, bomba de prótons.....
farmacoterapêutica, bomba de prótons.....
 
Antiagregante plaquetário e anticoagulante
Antiagregante plaquetário e anticoagulanteAntiagregante plaquetário e anticoagulante
Antiagregante plaquetário e anticoagulante
 
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...
Management of the Patient Using Anticoagulants Submitted to Urgent and Emerge...
 
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptx
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptxPraticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptx
Praticas-Seguras-na-Dispensacao-de-Medicamentos.pptx
 
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdf
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdfpraticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdf
praticas-seguras-na-dispensacao-de-medicamentos-230630180632-43dcaa83.pdf
 
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...
ANEXO PORTARIA 76 -GAS - 2021 - PRT.EMTN.001___Indicacao_e_acompanhamento_nut...
 
Farmacologia em pacientes especiais
Farmacologia em pacientes especiaisFarmacologia em pacientes especiais
Farmacologia em pacientes especiais
 
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...
Como fazer a diferença no doente crítico? - A nutrição no doente crítico: rea...
 
Slide Farmáco
Slide Farmáco Slide Farmáco
Slide Farmáco
 
Cancer de próstata
Cancer de próstataCancer de próstata
Cancer de próstata
 
Anticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e AntiagreganteAnticoagulante e Antiagregante
Anticoagulante e Antiagregante
 
Cap1 pdf
Cap1 pdfCap1 pdf
Cap1 pdf
 
Imunodep
ImunodepImunodep
Imunodep
 
nutrição enteral e parenteral.pptx
nutrição enteral e parenteral.pptxnutrição enteral e parenteral.pptx
nutrição enteral e parenteral.pptx
 
Estudos de utilização de medicamentos
Estudos de utilização de medicamentosEstudos de utilização de medicamentos
Estudos de utilização de medicamentos
 

Mais de idaval_1

Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfAlimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfidaval_1
 
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-17605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-1idaval_1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-ituidaval_1
 
632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 portidaval_1
 
20 infecurinaria
20 infecurinaria20 infecurinaria
20 infecurinariaidaval_1
 
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idosoidaval_1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-ituidaval_1
 

Mais de idaval_1 (10)

Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfAlimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
 
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-17605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu
 
00000893
0000089300000893
00000893
 
632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port
 
543 550
543 550543 550
543 550
 
199
199199
199
 
20 infecurinaria
20 infecurinaria20 infecurinaria
20 infecurinaria
 
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu
 

Último

Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointwylliamthe
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfFidelManuel1
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelVernica931312
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaFrente da Saúde
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesFrente da Saúde
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxMarcosRicardoLeite
 

Último (6)

Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power point
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
 

Alimentação e Hipocoagulação Oral

  • 2. Associação Portuguesa de Nutrição 2 Ficha Técnica Título Alimentação e Hipocoagulação Oral Coleção E-books APN E-book N.º 52 Direção Editorial Célia Craveiro Conceção Bruna Domingues, Fábio Cardoso, Teresa Rodrigues Corpo Redatorial Bruna Domingues, Fábio Cardoso Produção Gráfica Associação Portuguesa de Nutrição Propriedade Associação Portuguesa de Nutrição Redação Associação Portuguesa de Nutrição Revisão Científica Cármen Brás Silva, Sónia Xará, Nuno Borges ISBN 978-989-8631-42-8 março de 2019 © APN www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt
  • 3. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 3 1 2 3 4 5 6 7 8 Índice Números Coagulação Sanguínea Mecanismos Anticoagulantes Naturais Anticoagulantes Orais > Anticoagulantes Diretos > Anticoagulantes Indiretos Monitorização da Coagulação Sanguínea > Tempo de Protrombina e International Normalized Ratio (INR) Vitamina K > Função, Benefícios e Ingestão Adequada > Absorção, Armazenamento, Excreção e Deficiência > Fontes Alimentares Interações dos Anticoagulantes Orais Indiretos > Interação com a Vitamina K > Interação com a Vitamina E > Interação com a Proteína > Interação com Bebidas Alcoólicas > Interação com Plantas Medicinais Referências Bibliográficas
  • 4. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 4 Estima-se que em Portugal, no ano de 2015, as doenças cérebro- -cardiovasculares tenham constituído a principal causa de mortali- dade, com uma prevalência de 1,313,669 casos e uma incidência de 192,640 novos casos (1). Uma vez que a maioria dos eventos cérebro-cardiovasculares se associam ao desenvolvimento de outas complicações como o trom- boembolismo venoso, arterial ou cardíaco, o recurso a anticoagulan- tes como estratégia preventiva é cada vez mais uma realidade (2). De facto, o uso de anticoagulantes tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos (Figura 1), sendo expectável a manutenção desta tendência nos próximos anos dado o aumento da esperança média de vida e a crescente prevalência das doenças cérebro- -cardiovasculares (2,3). 1 Números Figura 1 – Evolução dos encargos do SNS, encargos do utente e utili- zação de anticoagulantes entre 2000 e 2013. Adaptado de: Gabinete de Informa- ção e Planeamento Estratégico do INFARMED (3) 30.000.000 25.000.000 20.000.000 15.000.000 10.000.000 5.000.000 0 Anticoagulantes 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 DDD 1000 Hab. Dia (DHD) Encargos do SNS Encargos do Utente Utilização 12 10 8 6 4 2 - euros 26,9M€ 10,5 DHD
  • 5. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 5 A hemóstase é um processo natural e complexo que tem como ob- jetivo cessar a hemorragia resultante de um ferimento ou corte (4,5,6). Quando um vaso sanguíneo é danificado ocorre a vasoconstrição, formação de um trombo plaquetário e a ativação da cascata de coa- gulação que conduz à formação de um coágulo de fibrina (coagula- ção sanguínea) levando ao cessar da hemorragia (4,5,6). Fisiologicamente, existe um balanço preciso (hemóstase) entre o processo de coagulação (fatores pró-coagulantes e anticoagulan- tes) e a fibrinólise (destruição do coágulo de fibrina) (4,5,7). Defeitos no processo de hemóstase (coagulopatias) podem ser cau- sados pela diminuição e/ou ausência de fatores de coagulação ou ainda pela diminuição e/ou disfunção das plaquetas (7). Alterações na cascata da coagulação podem resultar em (7): > Hemorragias espontâneas ou exacerbadas; > Alterações Trombóticas; > Complicações tromboembólicas. 2 Coagulação Sanguínea Procoagulantes Coagulação Anticoagulantes / fibrinolíticos Hemóstase Hemorrogia
  • 6. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 6 Os anticoagulantes naturais são proteínas presentes no sangue imprescindíveis para travar o processo de coagulação, limitando o coágulo apenas à área afetada, evitando assim o seu desenvolvi- mento patológico e uma possível obstrução ao normal fluxo sanguí- neo (6, 8). Qualquer deficiência (hereditária ou adquirida) no número ou fun- ção destas proteínas poderá levar à trombofilia (condição na qual há um aumento do risco para a formação de coágulos) (5, 9). 3 Mecanismos Anticoagulantes Naturais Proteína S Antitrombina Proteína C Príncipais Proteínas Anticoagulantes (6, 8)
  • 7. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 7 Situações graves de trombofilia e/ou de risco trombótico requerem terapia com anticoagulantes orais (ACO) (10). Definição Os ACO são fármacos que limitam o processo de coagulação san- guínea reduzindo, desta forma, a formação de coágulos nas veias e artérias (11). Indicações clínicas De um modo global, a terapêutica anticoagulante oral é utilizada na prevenção secundária de fenómenos tromboembólicos em indiví- duos com patologia cardiovascular (p.ex. fibrilação atrial não valvu- lar) e/ou que possuam predisposição para a formação de trombos (10,11). O tipo de ACO, dose e duração da terapêutica instituída varia de indi- víduo para indivíduo em função da extensão do deficit anticoagulan- te, circunstâncias do coágulo e sua eventual conjugação com outros fatores de risco, após uma avaliação clínica individualizada (5). 4 Anticoagulantes Orais
  • 8. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 8 Os ACO diretos (designação recomendada pela International Society on Thrombosis and Haemostasis), comummente designados por novos anticoagulantes orais, são um grupo de fármacos criado com o propósito de ultrapassar as diversas limitações associadas aos ACO Indiretos. Estes atuam direta e seletivamente em fatores de coagulação específicos, nomeadamente o Dabigatrano no Fator IIa (trombina) e o Rivaroxabano, Apixabano e Endoxabano no Xa, inibindo a cascata de coagulação (11, 12, 13). Os ACO Diretos são (11, 12): > Anticoagulantes Diretos Eliquis® (Apixabano) Xarelto® (Rivaroxabano) Lixiana® (Endoxabano) Pradaxa® (Dabigatrano etexilato) > Foi a primeira alternativa à varfarina aprovada pela União Europeia e pela Food and Drug Administration (FDA) em 2008 e recomendada pelo American College of Cardiology, a American Heart Association e a Heart Rhythm Society (11).
  • 9. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 9 Vantagens (11, 12, 13, 14): > Farmacocinética e farmacodinâmica mais previsível, permitindo o uso de doses fixas; > Baixas interações medicamento-alimento; > Respostas terapêuticas com início de ação rápido (30 min a 4 horas); > Tempo de semivida relativamente curto; > Ausência, na maioria dos casos, da necessidade de monitori- zação laboratorial regular do estado de coagulação (exceto em contexto de patologia renal e/ou hepática). Desvantagens (11, 12, 13, 14): > Biodisponibilidade muito variável entre fármacos; > O tempo de semivida curto, poderá ser uma desvantagem na medida em que um atraso na toma do fármaco poderá elevar o risco de formação de coágulos; > Atualmente não possuem um “antídoto”; > Inexistência atual de testes padronizados para a sua monitoriza- ção, especialmente em doentes hepáticos e/ou renais; > Baixa experiência clínica na sua utilização dado a sua introdução recente; > Alto custo. > Anticoagulantes Diretos
  • 10. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 10 > Anticoagulantes Indiretos Os ACO indiretos, comummente conhecidos como antagonistas da vitamina K, são derivados cumarínicos que exercem um efeito anti- coagulante mediante inibição do complexo enzimático epóxido-re- dutase da vitamina K (VKORC) necessário à redução da 2,3-epoxi vi- tamina K (forma oxidada e inativa) em vitamina KH2 (forma reduzida e ativa), a nível hepático (11,15). A vitamina KH2 tem um papel preponderante na coagulação san- guínea, pois atua como cofator no processo de y-carboxilação das moléculas de ácido glutâmico, presentes nos fatores de coagulação II (protrombina), VII, IX e X, originando um aminoácido, o ácido y- carboxiglutâmico (Gla), necessário à ativação destes fatores e con- sequentemente da cascata de coagulação (Figura 2) (6,11,15). Os ACO Indiretos mais comuns são (11): Varfine® (Varfarina) Sintrom® (Acenocumarol) > Aprovado em 1987 pela Food and Drug Administration (FDA), é o ACO mais prescrito em todoomundoreduzindo,emdosesterapêuticas, entre 30 a 50% a formação hepática de fatores de coagulação ativos (16, 17). Varfine® Varfarina Figura 2 – Visão global da implicação da Vitamina K e atuação dos ACO indiretos no processo de coagulação sanguínea. ACO Indiretos VKORC Vitamina KH2 2,3-epoxi vitamina k y-glutamil-carboxilase Ácido y-carboxiglutâmico Ácido glutâmico Coagulação Fatores II, VII, IX e X Ativos Fatores II, VII, IX e X Inativos ( ) ( )
  • 11. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 11 Vantagens (11, 13, 14, 18): > Elevada biodisponibilidade do fármaco (99 a 100%); > Possibilidade de monitorização do estado de coagulação e ajuste da dosagem com base no tempo de protrombina (padronizado pelo International Normalized Ratio - INR); > Possuem um “antídoto” que é a vitamina K; > Possibilidade de serem utilizados por indivíduos de qualquer idade; > Experiência clínica na sua utilização bem consolidada; > Baixo custo Desvantagens (11, 13, 14): > Respostas terapêuticas com início de ação lento (de 36 a 72 horas); > Grande variabilidade à resposta terapêutica individual devido à ocorrência de polimorfismos ao nível das enzimas epóxido- redutase da vitamina K (alvo de atuação do fármaco) e CYP2C9 (responsável pela metabolização do fármaco); > Necessidade de monitorização regular do INR para um ajuste da dose; > Elevada taxa de interações medicamento-alimento (em especial alimentos com vitamina K); > Tempo de semivida longo (32 a 42 horas), elevando o risco de hemorragias. > Anticoagulantes Indiretos
  • 12. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 12 O uso de ACO Indiretos implica um controlo terapêutico regular, garantindo a eficácia do fármaco e paralelamente a segurança do doente (11, 13, 14, 18). O controlo é feito mediante monitorização do estado de coagula- ção, com base em testes laboratoriais (coagulograma), dos quais se destacam o Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA) e o Tempo de Protrombina (TP) expresso segundo o International Nor- malizated Ratio (INR)(14). 5 Monitorização da coagulação Sanguínea
  • 13. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 13 O TP baseia-se na adição de cálcio e tromboplastina (um ativador da coagulação) à amostra de sangue recolhida, medindo-se de se- guida o tempo (em segundos) necessário à formação de coágulos de fibrina, sabendo que o tempo normal de coagulação oscila entre 10 a 14 segundos (18). Este é o exame laboratorial mais frequentemente utilizado para o controlo do estado de coagulação em doentes medicados com ACO Indiretos (14, 17). Contudo, os resultados analíticos do TP estão sujeitos a uma varia- bilidade inter e intralaboratorial, em função do uso de diferentes tromboplastinas, dificultando uma interpretação e comparação se- gura (17, 18). Deste modo, em 1983, a Organização Mundial de Saúde (OMS), ins- tituiu o INR como ferramenta de padronização mundial dos resulta- dos do TP obtidos em diferentes laboratórios, possibilitando a sua comparação fidedigna (17, 18). O INR consiste na correção do TP teste, tendo em conta o TP médio normal e o Índice Internacional de Sensibilidade (ISI) específico da tromboplastina utilizada, de acordo com a seguinte fórmula (18): > Tempo de Protrombina e International Normalized Ratio (INR) INR = [TP teste/TP médio normal]ISI
  • 14. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 14 Condição Clínica Intervalos de valores de INR recomendados Tromboembolismo venoso: > Profilaxia > Tratamento 2,0 - 3,0 Prevenção de embolismo sistémico: > Enfarte Agudo do Miocárdio > Doença valvar mitral reumática > Fribrilação atrial crónica > Prótese valvular biológica > Cardiomiopatia > Embolia sistémica recorrente 2,0 - 3,0 Prótese valvular mecânica 2,5 - 3,5 Síndrome antifosfolípidos com tromboembolismo venoso 2,5 - 3,5 Valores Terapêuticos do INR A manutenção dos níveis de coagulação, num determinado interva- lo de INR, é indispensável para uma anticoagulação segura e eficaz (14, 18). Valores de INR abaixo dos níveis mínimos de segurança, poderão representar um risco tromboembólico aumentando, enquanto va- lores de INR superiores ao limite máximo de segurança poderão conduzir a hemorragias espontâneas (14, 18). Em indivíduos saudáveis, o INR deverá ser próximo de 1,0. Porém, em caso de terapia anticoagulante oral, o valor será superior, si- tuando-se usualmente entre 2 e 3 (17). Mais especificamente, de acordo com a condição clínica, o intervalo do INR deverá ser (17): > Tempo de Protrombina e International Normalized Ratio (INR)
  • 15. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 15 Monitorização e Oscilações do INR Após instituição da terapêutica ACO e até se alcançar um valor de INR dentro do intervalo terapêutico, preconizam-se monitorizações semanais ou com intervalos entre 4 a 5 dias, seguidas do ajuste farmacológico mais apropriado (17, 19). Uma vez encontrada, pelo clínico, a dosagem de ACO que mantém os valores de INR nos intervalos adequados, o controlo terapêutico é, regra geral, realizado com uma menor frequência (17, 19). Contudo, oscilações inesperadas no valor de INR em doentes cujo valor já se encontra estável podem ocorrer, sendo potenciadas por (12, 17): > Má adesão à terapêutica; > Auto medicação; > Erros de laboratório (protocolos de procedimento da OMS); > Alterações à alimentação habitual, incluindo o consumo de álcool. > Tempo de Protrombina e International Normalized Ratio (INR) É fundamental monitorizar com regularidade o INR, especialmente aquando da introdução de novos fármacos, alimentação e/ou suplementos alimentares, por forma a precaver consequências nocivas resultantes de possiveis interações fármacos-alimentos (15).
  • 16. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 16 6 Vitamina K Filoquinonas (K1) Vitamina K Menaquinona (K2) Menadiona (K3) Presentes naturalmente e principalmente em hortícolas de folha verde e óleos vegetais (20,21). Sintetizada pela microbiota intestinal e natu- ralmente presente em alimentos como ovos, manteiga, banha e produtos fermentados (p.ex. keffir e nattõ) (21). Composto sintético na forma de provitamina, posteriormente convertido em menaquinona a nível hepático (20, 21). A vitamina K é uma vitamina lipossolúvel e um cofator essencial, em humanos, para a produção de várias proteínas envolvidas na coagulação e no metabolismo ósseo (20, 21, 22). Esta pode ocorrer sob forma natural (filoquinona - K1 e menaquinona - K2) ou sintética (menadiona - K3) (20, 21, 22):
  • 17. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 17 > Função, Benefícios e Ingestão Adequada Função > Regulação do processo de coagulação sanguínea (ativação de fatores de coa- gulação II, VII, IX e X e anticoagulantes como a Proteína C e S) (20, 21, 22); > Regulação do processo de ossificação (ativação da osteocalcina) estimulando a fixação de cálcio nos ossos e dentes (20, 21, 22, 23); > Regulação do processo de calcificação (ativação da proteína Gla da matriz - MGP) limitando a calcificação vascular (21, 23, 24); > Participação na síntese de esfingolípi- dos no cérebro (20, 21). Benefícios > Prevenção de hemorragias exageradas e contribuição para um processo de cica- trização eficaz (21, 23, 25); > Melhoria da qualidade e densidade mi- neral óssea com consequente diminuição do risco de fraturas e prevenção da os- teoporose (21, 23, 25); > Prevenção da calcificação arterial (21, 23, 24); > Melhoria da função cognitiva (20, 21); > Prevenção do carcinoma hepatocelular (23); > Melhoria da resposta inflamatória asso- ciada à artrite (21); > Melhoria da sensibilidade à insulina (21, 23). Dose de Ingestão Diária Adequada (adultos > 18 anos) > 120 μg/dia para homens (25); > 90 μg/dia para mulheres (25); > 90 μg/dia para mulheres grávidas e/ou a amamentar (25).
  • 18. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 18 > Absorção, Armazenamento, Excreção e Deficiência Fatores que afetam a sua Absorção > A vitamina K é normalmente absorvida na porção distal do intestino delgado, podendo esta absorção ser influenciada por fatores fisiológicos como (20, 26): - Má absorção gastrointestinal; - Mau estado nutricional; - Ingestão de suplementos de vitamina A e E; - Secreção biliar e pancreática diminuí- da; - Dieta pobre em lípidos; - Uso de anticoagulantes. Armazenamento e Excreção > A vitamina K que não é utilizada acaba sendo excretada num período de três dias (22, 26): - Cerca de 20% na urina; - Entre 40% a 60% nas fezes; > Assim, as reservas hepáticas desta vita- mina oscilam rapidamente em função da quantidade de vitamina K consumida (22, 26). Deficiência > A carência é rara em humanos e tem sido associada a casos de má absorção de lípidos e à depleção da microbiota intestinal comensal após recurso a antibioterapia crónica. Um défice de vitamina K pode provocar hemorragias e, em situações de maior complexidade, anemia grave (20, 26).
  • 19. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 19 > Fontes alimentares A vitamina K encontra-se presente tanto em alimentos de origem vegetal (Filiquinona - K1), como em alimentos de origem animal e alimentos fermentados (Menaquinona - K2), sendo a sua quantidade superior nos primeiros (20, 21, 26). De facto, as maiores fontes de Vitamina K1 são os hortícolas de folha verde escura com teores desta vitamina geralmente superiores a 100 μg/100g, seguindo-se os óleos vegetais com teores entre os 42 e os 193 μg/100g e alguns frutos frescos e secos com teores a atingir os 54 μg/100g (20, 26, 27). Hortícolas (100 g) vit. K (μg) Acelga* 830 Agrião* 541 Espinafres* 483 Couve Galega* 437 Kale* 390 Endivia* 231 Couve de Bruxelas* 177 Nabiças* 138 Nabiças* 126 Brócolos* 102 * Alimento em crú USDA database, 2019 (27) A quantidade de vitamina K1 nos hortícolas pode ainda variar de acordo com alguns fatores, nomeadamente: sazonalidade, grau de frescura e de maturação, grau de pigmentação, condições climaté- ricas, bem como condições de preparação e confeção (20, 26).
  • 20. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 20 > Fontes alimentares Os óleos vegetais por constituírem uma boa fonte de vitamina K ao serem adicionados tanto na confeção como no tempero de alimentos, podem contribuir para o aporte significativo desta vitamina (20, 26): Nos frutos, o teor de vitamina K é bastante variável. Relativamente aos frutos gordos, o pinhão e o caju são os que possuem maiores quantidades deste micronutriente enquanto nas frutas frescas, o kiwi, a amora e o abacate, são as mais ricas em vitamina K (20, 26): Óleos (100 g) vit. K (μg) Óleo de soja 193 Óleo de Canola 127 Óleo vegetal 114 Óleo de algodão 60 Azeite 55 USDA database, 2019 (27) Frutos (100 g) vit. K (μg) Pinhão 54 Caju 34 Kiwi 41 Amora 19 Abacate 21 USDA database, 2019 (27) A vitamina K localiza-se essencialmente na casca da fruta, pelo que a polpa e/ou os sumos de fruta geralmente apresentam teores mais baixos desta vitamina (26).
  • 21. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 21 > Fontes alimentares Os alimentos de origem animal e/ou fermentados embora sejam uma fonte menor de vitamina K2 também podem contribuir para um aporte substancial desta vitamina, especialmente nos casos em que o seu consumo é elevado (20, 26): Alimentos (100 g) vit. K (μg) Miso 29 Nattõ 23 Bife do vitela 18 Panados de frango 15 USDA database, 2019 (27)
  • 22. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 22 Interações medicamento-alimento são mais pronunciadas para os medicamentos administrados por via oral, como é o caso dos ACO (28). O facto de um alimento atrasar ou diminuir a absorção de um fármaco e/ou acelerar ou bloquear a sua distribuição, metabolismo e/ou excreção, poderá levar à ineficácia terapêutica do mesmo ou até mesmo a casos de toxicidade (28). Esta situação é agravada em fármacos com uma janela terapêutica estreita, como os ACO Indiretos (11, 13, 14): 7 Interações dos Anticoagulantes Orais Indiretos Coagulação Excessiva Efeito dos ACO Interações com alimentos Efeito dos ACO Coagulação Ótima Coagulação Deficitária Risco tromboembólico Janela Terapêutica Risco hemorrágico
  • 23. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 23 > Interação com a Vitamina K Uma vez que os ACO Indiretos bloqueiam a regeneração da Vitamina KH2, limitando assim a ativação de fatores essenciais no processo de coagulação, o aporte de vitamina K (proveniente da alimentação e/ou suplementação) interfere diretamente na eficácia destes fár- macos dado o seu efeito antagónico (6, 11, 29). Assim, quer uma redução, quer um aumento no consumo deste micronutriente poderá causar flutuações no estado de coagulação, pondo em causa a eficácia terapêutica (29). Uma elevada ingestão de vitamina K associa-se à diminuição do INR e uma baixa ingestão a um aumento neste (30, 31). Baixa ingestão de vitamina K Alta ingestão de vitamina K INR INR
  • 24. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 24 > Interação com a Vitamina K O doente hipocoagulado não deve res- tringir a ingestão de vitamina K, deve sim ser instruído para realizar uma ingestão constante ao longo do tempo (20, 32, 33). Deve ser Restringida a Ingestão de Vitamina K? Dado os vários efeitos benéficos desta vitamina não está preconizada a restrição da sua ingestão em doentes hipocoagulados com ACO (20, 21, 23, 25). Mais importante do que uma restrição na ingestão de vitamina K, é assegurar o seu aporte constante ao longo do tempo, evitando gran- des flutuações que possam comprometer a eficácia da hipocoagula- ção (20, 21, 23, 25). Assim, no doente hipocoagulado, deve ser estabelecida uma inges- tão habitual deste micronutriente e definida a dose de ACO em fun- ção dessa ingestão que, à posteriori, deverá ser mantida, prevenindo oscilações no INR e evitando a necessidade de ajustes frequentes na dose de ACO (20, 32). Além da manutenção da ingestão diária de vitamina K, recomenda-se: > Utilizar a menor quantidade possível de gordura na confeção dos alimentos; > Evitar o consumo de produtos industrializados à base de óleos (molhos, sopas pré-confecionadas, caldos concentrados, entre outros); > Utilizar preferencialmente queijos e geleias em detrimento de manteigas e margarinas; > Remover a casca da fruta e hortícolas.
  • 25. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 25 > Interação com a Vitamina E A toma de suplementação de Vitamina E poderá aumentar o risco de hemorragias em doentes hipocoagulados com ACO Indiretos (20, 35, 36). A vitamina E é uma vitamina lipossolúvel com um efeito anticoagu- lante, podendo interferir com a atividade da Vitamina K e dos ACO Indiretos (35,35). Alguns estudos sugerem que uma ingestão de vitamina E, sob a for- ma de suplementação (> 1,000 UI), antagoniza o efeito da vitamina K, inibindo de forma eficaz a ativação dos fatores de coagulação de- pendentes desta. Adicionalmente, em doentes hipocoagulados com ACO Indiretos, a suplementação com vitamina E poderá potenciar o efeito anticoagulante destes, aumentando o risco de hemorragias (35, 36).
  • 26. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 26 > Interação com a Proteína É essencial manter um bom estado nutri- cional e um equilíbrio na ingestão proteica durante o tratamento com ACO Indiretos minimizando assim as interações medica- mento-alimento (37,38). O poder de distribuição dos ACO no organismo está dependente da sua ligação às proteínas plasmáticas transportadoras (albumina) (37, 38). A diminuição da concentração de albumina sérica, decorrente de uma dieta hipoproteica e/ou disfunção hepática, faz com que haja uma maior quantidade de fármaco livre, atingindo uma biodisponi- bilidade superior à que seria de esperar para a dose estabelecida, aumentando o INR e consequentemente o risco de hemorragias (20, 37, 38). Já o aumento da concentração de albumina sérica, decorrente de uma dieta hiperproteica ou um aumento na atividade do citocromo P450, faz com que haja uma menor quantidade de fármaco livre, com consequente menor biodisponibilidade à que seria de esperar para a dose estabelecida, diminuindo o INR e consequente aumen- tando o risco tromboembólico (20, 37 38).
  • 27. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 27 > Interação com Bebidas Alcoólicas O consumo excessivo de bebidas alcoólicas deve ser evitado em doen- tes hipocoagulados com ACO. Já um consumo pontual e moderado (1 copo de apróx. 150 mL por dia para as mulheres e dois copos de apróx. 150 mL por dia para os homens) não parece ter efeitos perni- ciosos (32, 36, 39). O consumo agudo e excessivo de bebidas alcoólicas inibe o meta- bolismo dos ACO Indiretos, aumentando o seu efeito anticoagulante e, consequentemente, o risco de hemorragias, refletindo-se num aumento do INR (32, 39). Por outro lado, o consumo crónico e excessivo de bebidas alcoólicas potencia o metabolismo dos ACO Indiretos, devido a uma sobrees- timulação das enzimas do citocromo P450, contribuindo para uma redução do efeito anticoagulante e aumento do risco de tromboem- bolismo, traduzindo-se numa diminuição do INR (32, 39).
  • 28. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 28 > Interação com Plantas Medicinais Algumas plantas medicinais influenciam a farmocinética dos ACO Indiretos, podendo gerar alterações no estado de coagulação (39, 40). Algumas das interações mais comuns são (39, 40): Potenciação do efeito anticoagulante > Camomila > Danshen (Salvia miltiorrhiza) > Garra do diabo (Harpagophytum procumbens) > Dong Quai (Angélica sinensis) > Tanaceto (Tanacetum Parthenium) > Feno-grego (Trigonella foenum-graecum) > Gingko Biloba > Serenoa (Serenoa repens) > Âmio-maior/vulgar (Ammi majus) Redução do efeito anticoagulante > Gingeng > Chá verde (Camellia sinensis) > Erva de São João/Hipericão (Hypericaceae)
  • 29. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 29 (1) Timmis A, Townsend N, Gale C, Grobbee R, Maniadakis N, Flather M, et al. European Society of Cardiology: Cardiovascular Disease Statistics 2017. European heart journal. 2018;39(7):508-79. (2) Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares. Programa Nacional Para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares 2017. Lisboa set 2017 (3) Gabinete de Informação e Planeamento Estratégico do INFARMED. Anticoagulantes 2000-2013. Available from: http://www.infarmed.pt/ documents/15786/17838/Relatorio_Anticoagulantes_05012015.pdf/c8c00f82-0541-4bcf-9eb2-80db9f569f99. (4) Chapin JC, Hajjar KA. Fibrinolysis and the control of blood coagulation. Blood reviews. 2015;29(1):17-24. (5) Lipe B, Ornstein DL. Deficiencies of natural anticoagulants, protein C, protein S, and antithrombin. Circulation. 2011;124(14):e365-8. (6) Palta S, Saroa R, Palta A. Overview of the coagulation system. Indian Journal of Anaesthesia. 2014;58(5):515-23. (7) Grottke O, Fries D, Nascimento B. Perioperatively acquired disorders of coagulation. Current Opinion in Anesthesiology. 2015;28(2):113-22. (8) Bereczky Z, Gindele R, Speker M, Kállai J. Deficiencies of the Natural Anticoagulants – Novel Clinical Laboratory Aspects of Thrombophilia Testing. EJIFCC. 2016;27(2):130-46. (9) Joel L. Moake, J. W. Cox. Distúrbios trombóticos Manual MSD2019 [8 jan 2019]. Available from: https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/ hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-tromb%C3%B3ticos/dist%C3%BArbios-tromb%C3%B3ticos. (10) Lippi G, Mattiuzzi C, Cervellin G, Favaloro EJ. Direct oral anticoagulants: analysis of worldwide use and popularity using Google Trends. Annals of Translational Medicine. 2017;5(16):322. (11) Mekaj YH, Mekaj AY, Duci SB, Miftari EI. New oral anticoagulants: their advantages and disadvantages compared with vitamin K antagonists in the prevention and treatment of patients with thromboembolic events. Therapeutics and Clinical Risk Management. 2015;11:967-77. (12) Uprichard J, Sikorska J. Direct Oral Anticoagulants: A Quick Guide. European Cardiology Review. 2017;12(1). (13) Rick H. van Gorp, Leon J. Schurgers. New Insights into the Pros and Cons of the Clinical Use of Vitamin K Antagonists (VKAs) Versus Direct Oral Anticoagulants (DOACs). Nutrients. 2015;7(11):9538-57. (14) Uprichard J, Sikorska J. Direct Oral Anticoagulants: A Quick Guide. European Cardiology Review. 2017;12(1). (15) Marques da Silva P. Velhos e novos anticoagulantes orais. Perspetiva farmacológica. Revista Portuguesa de Cardiologia. 2012;31:6-16. 8 Referências Bibliográficas
  • 30. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 30 (16) Infarmed. Resumo das Características do Medicamento 2016 [8 jan 2019]. Available from: http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro. php?med_id=9007&tipo_doc=rcm. (17) Riley RS, Rowe D, Fisher LM. Clinical utilization of the international normalized ratio (INR). Journal of clinical laboratory analysis. 2000;14(3):101- 14. (18) Sherilyn Alvaran Tuazon, Anthony P Scarpaci. Prothrombin Time: Medscape; 2014 [08 jan 2019]. Available from: https://emedicine.medscape.com/ article/2086058-overview#a4. (19) Marques MS, Almeida AP, MG. L. A Terapêutica Anticoagulante em Cirurgia Oral - Revisão da Literatura. Rev Port Estomatol Cir Maxilofac. 2005(46):31-6. (20) L. Kathleen Mahan M, RD, CDE, Janice L Raymond, MS, RD, CD and Sylvia Escott-Stump, MA, RD, LDN,. Krause’s Food & the Nutrition Care Process. 13 ed: Saunders Elsevier; 2012. (21) Schwalfenberg GK. Vitamins K1 and K2: The Emerging Group of Vitamins Required for Human Health. Journal of Nutrition and Metabolism. 2017;2017:6254836. (22) Efsa Panel on Dietetic Products Nutrition Allergies, Turck D, Bresson JL, Burlingame B, Dean T, Fairweather‐Tait S, et al. Dietary reference values for vitamin K. EFSA Journal. 2017;15(5). (23) DiNicolantonio JJ, Bhutani J, O’Keefe JH. The health benefits of vitamin K. Open heart. 2015;2(1):e000300-e. (24) Schurgers LJ, Cranenburg EC, Vermeer C. Matrix Gla-protein: the calcification inhibitor in need of vitamin K. Thrombosis and haemostasis. 2008;100(4):593-603. (25) Institute of Medicine. Dietary reference intakes for vitamin A, vitamin K, arsenic, boron, chromium, copper, iodine, iron, manganese, molybdenum, nickel, silicon, vanadium, and zinc. Washington (DC): National Academy Press; 2002. (26) Klack K, Carvalho JFd. Vitamina K: metabolismo, fontes e interação com o anticoagulante varfarina. Revista Brasileira de Reumatologia. 2006;46:398-406. (27) U.S. Department of Agriculture. USDA National Nutrient Database for Standard Reference: Agricultural Research Service; 2015 [updated apr 2019 cited 10 jan 2019]. Available from: https://ndb.nal.usda.gov/ndb/nutrients/index. (28) Bushra R, Aslam N, Khan AY. Food-drug interactions. Oman medical journal. 2011;26(2):77-83. 8 Referências Bibliográficas
  • 31. Associação Portuguesa de Nutrição www.apn.org.pt | geral@apn.org.pt 31 (29) Holbrook AM, Pereira JA, Labiris R, McDonald H, Douketis JD, Crowther M, et al. Systematic overview of warfarin and its drug and food interactions. Archives of internal medicine. 2005;165(10):1095-106. (30) Violi F, Lip GY, Pignatelli P, Pastori D. Interaction Between Dietary Vitamin K Intake and Anticoagulation by Vitamin K Antagonists: Is It Really True?: A Systematic Review. Medicine. 2016;95(10):e2895. (31) Rombouts EK, Rosendaal FR, van der Meer FJ. Influence of dietary vitamin K intake on subtherapeutic oral anticoagulant therapy. British journal of haematology. 2010;149(4):598-605. (32) Kampouraki E, Kamali F. Dietary implications for patients receiving long-term oral anticoagulation therapy for treatment and prevention of thromboembolic disease. Expert review of clinical pharmacology. 2017;10(8):789-97. (33) Holmes MV, Hunt BJ, Shearer MJ. The role of dietary vitamin K in the management of oral vitamin K antagonists. Blood reviews. 2012;26(1):1-14. (34) Pastori D, Carnevale R, Cangemi R, Saliola M, Nocella C, Bartimoccia S, et al. Vitamin E serum levels and bleeding risk in patients receiving oral anticoagulant therapy: a retrospective cohort study. Journal of the American Heart Association. 2013;2(6):e000364. (35) National Institutes of Health Clinical Center Drug-Nutrient Interaction Task Force. Important information to know when you are taking: Warfarin (Coumadin) and Vitamin K 2011. (36) Harris JE. Interaction of dietary factors with oral anticoagulants: review and applications. Journal of the American Dietetic Association. 1995;95(5):580-4. (37) Phang M, Lazarus S, Wood LG, Garg M. Diet and thrombosis risk: nutrients for prevention of thrombotic disease. Seminars in thrombosis and hemostasis. 2011;37(3):199-208. (38) White PJ. Patient factors that influence warfarin dose response. Journal of pharmacy practice. 2010;23(3):194-204. (39) Nutescu EA, Shapiro NL, Ibrahim S, West P. Warfarin and its interactions with foods, herbs and other dietary supplements. Expert opinion on drug safety. 2006;5(3):433-51. (40) Sigma Pharmaceuticals. Dietary guidelines and drug-herb interactions for people taking Warfarin. 2005. 8 Referências Bibliográficas
  • 32. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE NUTRIÇÃO Rua João das Regras, 278 e 284 - R/C 3, 4000-291 Porto Tel.: +351 22 208 59 81 | Fax: +351 22 208 51 45 geral@apn.org.pt | www.apn.org.pt Em caso de dúvidas, contacte um Nutricionista.