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Educar na Quinta
Henrique Santos
Educador de Infância
“Venham ver aqui estas vacas acabadas de nascer!”
É com frases com estas que começa o dia na Quinta das Malhadas.
O projecto das Visitas Temáticas de um Dia à Quinta das Malhadas, no
Cartaxo começou há sensivelmente nove anos, quando, na sequência da
preparação e coordenação dos Campos de Férias da Quinta das Malhadas, por
um grupo de profissionais de educação, organizados no mesmo local, foram
planeadas as chamadas Visitas Culturais no Ribatejo, que tinham como
principal objectivo a promoção e a sensibilização, junto das crianças e jovens
participantes nos Campos de Férias, para as culturas tradicionais do campo,
para os costumes regionais e para o trabalho, tal como é encarado numa zona
rural. Precisamos não esquecer que os Campos de Férias, tal como os
Circuitos Temáticos de um Dia se orientam, no essencial, para crianças e
jovens de meios urbanos.
Na sequência dessas primeiras visitas, onde se cumpria um dia no meio das
mais variadas exigências rurais, como fazer a vindima, apanhar tomate, podar
as árvores, amassar o pão ou fazer os queijos frescos, nasceu a vontade de
organizar e implementar uma série de percursos, devidamente orientados para
exploração pedagógica, com o intuito de os poder adequar à acção educativa
de outros profissionais de educação.
No ano de 1996 recebemos a primeira visita, que foi a primeira de muitas, e
que teve como principal objectivo testar as nossas capacidades e avaliar a
possibilidade de investir seriamente naquele projecto.
A primeira visita foi àquilo que nós chamamos o Circuito do Leite. Será então
essa que passarei a descrever, com algum pormenor.
“Chegados por volta das 10.30h da manhã, eis que irrompe, portões dentro, um
grupo de cerca de 50 crianças de uma escola de Lisboa, dispostos a tudo ouvir,
tudo tocar e tudo fazer.
Com um misto de alegria e expectativa, fazemos a recepção dos participantes,
crianças ou jovens e adultos, apresentando-nos e explicando, primeiramente,
quais são as regras essenciais para o dia. É para nós muito importante o
respeito pelas regras, não só pelo perigo, em alguns casos, que se pode correr
se não forem respeitadas, mas essencialmente pelo objectivo pedagógico que
as define, e que tem a ver com o respeito pelo local, pelos trabalhadores e
acima de tudo, pelos animais. Também não é menos verdade que o respeito
pelas regras básicas de comportamento, se devidamente referidas no início
das visitas, facilita de sobremaneira o decorrer do dia, apesar de se sentir,
cada vez mais, também aqui, uma indisciplina latente.
No essencial, as regras têm a ver com a necessidade (constante) dos miúdos
terem a cabeça coberta, pois os perigos de insolação, durante o Verão, é real;
com o respeito pelos animais (evitar ruídos intensos ou maltratar os animais) e
com o respeito pelo espaço (não afastar do local de reunião, evitar zonas
perigosa, etc.).
Passada esta fase de recepção, os grupos são divididos, para que sejam
acompanhados por um monitor (de 15 a 20 crianças por monitor), devidamente
“formado” para a visita (com temáticas da Quinta, se por acaso for profissional
da Educação, ou sobre métodos pedagógicos, se for profissional agrícola). De
referir ainda que as visitas são planificadas tendo em conta as necessidades
dos visitantes, mas também as suas idades, nível escolar e quantidade. A esse
nível, cada visita é uma visita.
Actualmente contamos com uma equipa de cerca de 20 monitores, que se
dividem pelas inúmeras visitas que recebemos.
Neste aspecto, cabe referir que a “formação” especializada de que são alvo
todos os monitores e colaboradores enfoca especificamente os métodos e
técnicas pedagógicas mais adequados para a promoção da informação e das
actividades mais adequadas para cada nível etário. Passada a primeira fase,
“entramos” então na Quinta, cumprimentando todos quantos nos surjam à
frente (uma das regras!), pois aqui, na Quinta, promove-se a convivência sã
entre homens e animais e, acima de tudo, respeita-se a tradição do
cumprimento matinal, tão comum junto das populações rurais, mas a cair em
desuso nos meios urbanos. Surge-nos um dos primeiros desafios
pedagógicos: sabendo que os animais não “falam” a língua dos humanos, há
que comunicar com os animais nas suas próprias línguas, este é o desafio.
Após as várias tentativas de comunicar com os animais, há tempo para
aprender o nome dos sons que acabaram de ser produzidos. O grasnado para
os patos, o balido para os carneiros, o mugido para as vacas e por assim em
diante. Mas como a visita é sobre o Leite e as Vacas, depressa chegamos à
vacaria, onde começamos por visitar a Ordenha.
A ordenha visitada é uma ordenha mecânica, que funciona todos os dias entre
as 7 e as 9 da manhã e as 17 e as 19 da tarde (nas Malhadas, como quase em
todas as outras quintas da zona, já é muito raro encontra ordenhas manuais).
Na maior parte das vezes, é possível observá-las em funcionamento, apesar de
quase sempre os grupos chegarem depois deste primeiro período, no entanto
há o cuidado de, em dias de visita, fazer “esperar” algumas vacas. Nesta zona
é explicado aos pequenos visitantes todo o processo de recolha de leite, que
começa diariamente pelas 5 da manhã. Nesta zona eles acompanham o
agricultor que lava as vacas, e ficam a saber o porquê desse gesto, aplicam as
teteiras nas tetas da vaca, experimentam a pressão exercida pelos pequenos
orifícios de borracha e, acima de tudo, se forem já capazes, experimentam
operações matemáticas a tentar calcular quantos copos de leite beberiam com
a produção diária de apenas uma das vacas. Se forem crianças
maioritariamente frequentadoras de jardim de infância, os cálculos serão
outros, mas o que não deixa de acontecer é o exercício de raciocínio lógico-
matemático proposto a partir do observado.
De seguida passamos aos parques de repouso, onde se encontram as vacas à
espera de dar à luz. Neste espaço aproveitamos para desmistificar alguns
preconceitos em relação à inseminação artificial, e à necessidade de “produzir”
leite, mas aproveitamos também para falar das doenças e do trabalho dos
veterinários. Brincamos com as “impressões digitais” das vacas (que já agora
aproveito para lhe perguntar a si, que está a ler, se sabe quais são?) e com os
brincos, muito “na moda”, que os animais usam, e que tem uma função
específica muito importante.
Chega então a hora de lhes apresentarmos a dieta das vacas, constituindo este
um dos momentos mais apetecidos. Os participantes são levados a
experimentar, cheirar, tocar e se o quiserem, provar e descobrir as diferenças.
Neste espaço é também explicado todo o processo de “fabrico” das rações, e a
importância destas no desenvolvimento dos animais. Também a ruminância
aqui tem espaço, e aproveita-se para justificar os cerca de 100 litros de água
que cada vaca bebe por dia. Passamos depois à maternidade, aproveitando
para ver os recém-nascidos, onde se “brinca” com a idade de cada um deles
(para uma criança de 5 anos é difícil acreditar que alguns daqueles “monstros”
têm apenas dois dias). É então explicado todo o processo de reprodução,
desenvolvimento e nascimento dos vitelos, e os cuidados a que estão sujeitos,
nomeadamente a necessidade de beberem apenas o colostro nos seus
primeiros dias, surgindo este como um momento importante para reflectir, em
conjunto, a necessidade de vacinação ou de outros tipos de tratamento
baseados nas substâncias naturais.
Eis-nos então chegados aos depósitos de leite, onde é fornecida uma breve
descrição dos processos de tratamento do leite, bem como das suas
aplicações.
Não será necessário referi-lo, mas é claro que toda a linguagem e actividades
organizadas em redor deste percurso estão devidamente adequadas à idade
das crianças e jovens em visita. E como já anteriormente referido, cada visita é
uma visita, e não há dúvida que a sua pré-preparação, feita na escola ou no
jardim de infância, aumenta consideravelmente o sucesso desta. Para este
ponto, é de salientar que os Circuitos Temáticos de um Dia da Quinta das
Malhadas se disponibilizam para receber, previamente, todos os profissionais
que queiram efectuar uma visita antes do dia marcado para as crianças.
Após esta sequência, é chegada a hora do almoço, que se processa em registo
de pic-nic, num espaço adequado e muito interessante, mesmo para um outro
tipo de aproximação à vida no campo. Normalmente o pic-nic faz-se na zona da
Valada do Ribatejo, uma praia fluvial do Rio Tejo, onde aproveitamos para
desenvolver algumas actividades de carácter ambiental, à volta do rio e das
suas potencialidades.
De seguida, deslocamo-nos à Quinta das Malhadas, onde fazemos o queijo
fresco, e onde cada criança tem a oportunidade, além de aprender o processo
de fabrico do queijo, de experimentar e de sentir a consistência do coalho e de
se poder orgulhar com o resultado da sua experiência.
Para acabar o dia, desenvolvemos inúmeras actividades “livres”, ou seja,
fazemos jogos, cantamos e, acima de tudo, permitimos a brincadeira, real e
efectiva, num espaço acolhedor e livre de perigos, como é a quinta.
Não há dúvida que um dia passado num espaço com estas característica é um
dia bem passado, especialmente para as crianças que, muitas das vezes não
tem nem o conhecimento nem os meios para vivenciar este tipo de actividades
nos seus locais de origem. Por vezes recebemos visitas que já por mais de
uma vez nos acompanharam, e é fantástico apercebermo-nos que muita da
informação que foi anteriormente passada, continua, e com muita intensidade,
a ser referenciada, sinal que não é despropositada e encontra nas crianças e
jovens interlocutores atentos e interessados.
Este espaço de formação pretende, acima de tudo, ser um espaço de reflexão
pedagógica numa altura em que existe, cada vez mais, a ideia de que os
produtos que consumimos são feitos em fábricas ou, em muitos casos, que
surgem, pura e simplesmente, nas prateleiras dos hipermercados.
A quinta em si, é, só por si, um espaço extremamente interessante e repleto de
espaços de experimentação. É comum testemunharmos vivências de
liberdade, de cooperação, de interajuda que temos em crer, são potenciados
pelo “espírito” vivido na quinta. Quase nunca temos de recorrer a situações de
interdição ou de registo disciplinar.
A visita sobre o Leite e as Vacas é uma das muitas visitas que organizamos,
muito mais haveria a dizer sobre o Vinho e a Vindima, sobre a Pecuária, sobre
a Água ou o Papel ou mesmo sobre as Profissões Tradicionais do Ribatejo,
mas essas, ficarão para um olhar mais próximo e in loco.
Não nos podemos ainda esquecer do trabalho desenvolvido numa perspectiva
de efectiva integração e transição entre ciclos, pois estas visitas são planeadas
numa perspectiva de servir um conjunto alargado de objectivos, de onde se
destacam, antes de mais, a possibilidade de desenvolver esforços de partilha e
de colaboração tão queridos às políticas de transição, por exemplo, entre ciclos
de escolaridade, na medida em que, como é compreensível, estas visitas são
também um espaço de inter-relação entre grupos distintos de um mesmo
estabelecimento de ensino, podendo mesmo ser observadas num espírito de
cooperação entre profissionais de educação.
A par de todas as experiências científicas e pedagógicas permitidas, há ainda
espaço para, se houver essa vontade, tomar um banho de rio ou de piscina,
fazer jogos de pista ou caças ao tesouro, recolher os animais ou, pura e
simplesmente, brincar ao ar livre.
Numa altura em que tanto se fala de Educação Ambiental, ou de experiências
efectivas, os Circuitos Temáticos de um Dia surgem como um espaço de
experiência e partilha, que, antes de mais, permitem uma aproximação efectiva
aos conteúdos académicos e escolares, com a clareza e a intensidade das
vivências reais.
Cada visita é, para nós, um momento de avaliação efectiva que nos permite
alterar ou converter algumas práticas e actividades que, pelo seu sucesso ou
insucesso, ou inadequação, não resultam da forma esperada. Neste aspecto, é
pela vontade de melhorar cada vez mais a componente pedagógica que nos
“obrigamos” a constantes alterações, se achamos que o devemos fazer.
O objectivo primordial do técnico (ou monitor) que acompanha a visita, nos
quais me incluo, é o de substituir o docente nomeadamente no que respeita à
disponibilização da informação específica, bem como a da adaptação das
“linguagens” da quinta aos ouvidos urbanos e juvenis. Também as por nós
apelidadas “actividades de espera” são da nossa responsabilidades e são, no
fundo, jogos e outras actividades lúdicas, estas mais perto da realidade da
escola, mas devidamente adaptadas e inseridas no contexto da quinta.
Podemos, pelo atrás referido, pensar que estas visitas poderão ser também um
“descanso” para os docentes, no entanto, em matéria de disciplina e
orientação, um dia diferente não pode, nem deve, substituir as práticas diárias
e regulares do contexto escola, pelo que aqui, a cooperação é fundamental.
Por último, uma nota para o prazer de sentir o agrado, a alegria e a felicidade
estampada nos pequenos rostos que, no fim do dia, se despedem com pouca
vontade de ir.

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Educar na Quinta

  • 1. Educar na Quinta Henrique Santos Educador de Infância “Venham ver aqui estas vacas acabadas de nascer!” É com frases com estas que começa o dia na Quinta das Malhadas. O projecto das Visitas Temáticas de um Dia à Quinta das Malhadas, no Cartaxo começou há sensivelmente nove anos, quando, na sequência da preparação e coordenação dos Campos de Férias da Quinta das Malhadas, por um grupo de profissionais de educação, organizados no mesmo local, foram planeadas as chamadas Visitas Culturais no Ribatejo, que tinham como principal objectivo a promoção e a sensibilização, junto das crianças e jovens participantes nos Campos de Férias, para as culturas tradicionais do campo, para os costumes regionais e para o trabalho, tal como é encarado numa zona rural. Precisamos não esquecer que os Campos de Férias, tal como os Circuitos Temáticos de um Dia se orientam, no essencial, para crianças e jovens de meios urbanos. Na sequência dessas primeiras visitas, onde se cumpria um dia no meio das mais variadas exigências rurais, como fazer a vindima, apanhar tomate, podar as árvores, amassar o pão ou fazer os queijos frescos, nasceu a vontade de organizar e implementar uma série de percursos, devidamente orientados para exploração pedagógica, com o intuito de os poder adequar à acção educativa de outros profissionais de educação. No ano de 1996 recebemos a primeira visita, que foi a primeira de muitas, e que teve como principal objectivo testar as nossas capacidades e avaliar a possibilidade de investir seriamente naquele projecto. A primeira visita foi àquilo que nós chamamos o Circuito do Leite. Será então essa que passarei a descrever, com algum pormenor. “Chegados por volta das 10.30h da manhã, eis que irrompe, portões dentro, um grupo de cerca de 50 crianças de uma escola de Lisboa, dispostos a tudo ouvir, tudo tocar e tudo fazer. Com um misto de alegria e expectativa, fazemos a recepção dos participantes, crianças ou jovens e adultos, apresentando-nos e explicando, primeiramente, quais são as regras essenciais para o dia. É para nós muito importante o respeito pelas regras, não só pelo perigo, em alguns casos, que se pode correr se não forem respeitadas, mas essencialmente pelo objectivo pedagógico que as define, e que tem a ver com o respeito pelo local, pelos trabalhadores e acima de tudo, pelos animais. Também não é menos verdade que o respeito pelas regras básicas de comportamento, se devidamente referidas no início das visitas, facilita de sobremaneira o decorrer do dia, apesar de se sentir, cada vez mais, também aqui, uma indisciplina latente. No essencial, as regras têm a ver com a necessidade (constante) dos miúdos terem a cabeça coberta, pois os perigos de insolação, durante o Verão, é real; com o respeito pelos animais (evitar ruídos intensos ou maltratar os animais) e com o respeito pelo espaço (não afastar do local de reunião, evitar zonas perigosa, etc.). Passada esta fase de recepção, os grupos são divididos, para que sejam acompanhados por um monitor (de 15 a 20 crianças por monitor), devidamente “formado” para a visita (com temáticas da Quinta, se por acaso for profissional da Educação, ou sobre métodos pedagógicos, se for profissional agrícola). De
  • 2. referir ainda que as visitas são planificadas tendo em conta as necessidades dos visitantes, mas também as suas idades, nível escolar e quantidade. A esse nível, cada visita é uma visita. Actualmente contamos com uma equipa de cerca de 20 monitores, que se dividem pelas inúmeras visitas que recebemos. Neste aspecto, cabe referir que a “formação” especializada de que são alvo todos os monitores e colaboradores enfoca especificamente os métodos e técnicas pedagógicas mais adequados para a promoção da informação e das actividades mais adequadas para cada nível etário. Passada a primeira fase, “entramos” então na Quinta, cumprimentando todos quantos nos surjam à frente (uma das regras!), pois aqui, na Quinta, promove-se a convivência sã entre homens e animais e, acima de tudo, respeita-se a tradição do cumprimento matinal, tão comum junto das populações rurais, mas a cair em desuso nos meios urbanos. Surge-nos um dos primeiros desafios pedagógicos: sabendo que os animais não “falam” a língua dos humanos, há que comunicar com os animais nas suas próprias línguas, este é o desafio. Após as várias tentativas de comunicar com os animais, há tempo para aprender o nome dos sons que acabaram de ser produzidos. O grasnado para os patos, o balido para os carneiros, o mugido para as vacas e por assim em diante. Mas como a visita é sobre o Leite e as Vacas, depressa chegamos à vacaria, onde começamos por visitar a Ordenha. A ordenha visitada é uma ordenha mecânica, que funciona todos os dias entre as 7 e as 9 da manhã e as 17 e as 19 da tarde (nas Malhadas, como quase em todas as outras quintas da zona, já é muito raro encontra ordenhas manuais). Na maior parte das vezes, é possível observá-las em funcionamento, apesar de quase sempre os grupos chegarem depois deste primeiro período, no entanto há o cuidado de, em dias de visita, fazer “esperar” algumas vacas. Nesta zona é explicado aos pequenos visitantes todo o processo de recolha de leite, que começa diariamente pelas 5 da manhã. Nesta zona eles acompanham o agricultor que lava as vacas, e ficam a saber o porquê desse gesto, aplicam as teteiras nas tetas da vaca, experimentam a pressão exercida pelos pequenos orifícios de borracha e, acima de tudo, se forem já capazes, experimentam operações matemáticas a tentar calcular quantos copos de leite beberiam com a produção diária de apenas uma das vacas. Se forem crianças maioritariamente frequentadoras de jardim de infância, os cálculos serão outros, mas o que não deixa de acontecer é o exercício de raciocínio lógico- matemático proposto a partir do observado. De seguida passamos aos parques de repouso, onde se encontram as vacas à espera de dar à luz. Neste espaço aproveitamos para desmistificar alguns preconceitos em relação à inseminação artificial, e à necessidade de “produzir” leite, mas aproveitamos também para falar das doenças e do trabalho dos veterinários. Brincamos com as “impressões digitais” das vacas (que já agora aproveito para lhe perguntar a si, que está a ler, se sabe quais são?) e com os brincos, muito “na moda”, que os animais usam, e que tem uma função específica muito importante. Chega então a hora de lhes apresentarmos a dieta das vacas, constituindo este um dos momentos mais apetecidos. Os participantes são levados a experimentar, cheirar, tocar e se o quiserem, provar e descobrir as diferenças. Neste espaço é também explicado todo o processo de “fabrico” das rações, e a importância destas no desenvolvimento dos animais. Também a ruminância
  • 3. aqui tem espaço, e aproveita-se para justificar os cerca de 100 litros de água que cada vaca bebe por dia. Passamos depois à maternidade, aproveitando para ver os recém-nascidos, onde se “brinca” com a idade de cada um deles (para uma criança de 5 anos é difícil acreditar que alguns daqueles “monstros” têm apenas dois dias). É então explicado todo o processo de reprodução, desenvolvimento e nascimento dos vitelos, e os cuidados a que estão sujeitos, nomeadamente a necessidade de beberem apenas o colostro nos seus primeiros dias, surgindo este como um momento importante para reflectir, em conjunto, a necessidade de vacinação ou de outros tipos de tratamento baseados nas substâncias naturais. Eis-nos então chegados aos depósitos de leite, onde é fornecida uma breve descrição dos processos de tratamento do leite, bem como das suas aplicações. Não será necessário referi-lo, mas é claro que toda a linguagem e actividades organizadas em redor deste percurso estão devidamente adequadas à idade das crianças e jovens em visita. E como já anteriormente referido, cada visita é uma visita, e não há dúvida que a sua pré-preparação, feita na escola ou no jardim de infância, aumenta consideravelmente o sucesso desta. Para este ponto, é de salientar que os Circuitos Temáticos de um Dia da Quinta das Malhadas se disponibilizam para receber, previamente, todos os profissionais que queiram efectuar uma visita antes do dia marcado para as crianças. Após esta sequência, é chegada a hora do almoço, que se processa em registo de pic-nic, num espaço adequado e muito interessante, mesmo para um outro tipo de aproximação à vida no campo. Normalmente o pic-nic faz-se na zona da Valada do Ribatejo, uma praia fluvial do Rio Tejo, onde aproveitamos para desenvolver algumas actividades de carácter ambiental, à volta do rio e das suas potencialidades. De seguida, deslocamo-nos à Quinta das Malhadas, onde fazemos o queijo fresco, e onde cada criança tem a oportunidade, além de aprender o processo de fabrico do queijo, de experimentar e de sentir a consistência do coalho e de se poder orgulhar com o resultado da sua experiência. Para acabar o dia, desenvolvemos inúmeras actividades “livres”, ou seja, fazemos jogos, cantamos e, acima de tudo, permitimos a brincadeira, real e efectiva, num espaço acolhedor e livre de perigos, como é a quinta. Não há dúvida que um dia passado num espaço com estas característica é um dia bem passado, especialmente para as crianças que, muitas das vezes não tem nem o conhecimento nem os meios para vivenciar este tipo de actividades nos seus locais de origem. Por vezes recebemos visitas que já por mais de uma vez nos acompanharam, e é fantástico apercebermo-nos que muita da informação que foi anteriormente passada, continua, e com muita intensidade, a ser referenciada, sinal que não é despropositada e encontra nas crianças e jovens interlocutores atentos e interessados. Este espaço de formação pretende, acima de tudo, ser um espaço de reflexão pedagógica numa altura em que existe, cada vez mais, a ideia de que os produtos que consumimos são feitos em fábricas ou, em muitos casos, que surgem, pura e simplesmente, nas prateleiras dos hipermercados. A quinta em si, é, só por si, um espaço extremamente interessante e repleto de espaços de experimentação. É comum testemunharmos vivências de liberdade, de cooperação, de interajuda que temos em crer, são potenciados
  • 4. pelo “espírito” vivido na quinta. Quase nunca temos de recorrer a situações de interdição ou de registo disciplinar. A visita sobre o Leite e as Vacas é uma das muitas visitas que organizamos, muito mais haveria a dizer sobre o Vinho e a Vindima, sobre a Pecuária, sobre a Água ou o Papel ou mesmo sobre as Profissões Tradicionais do Ribatejo, mas essas, ficarão para um olhar mais próximo e in loco. Não nos podemos ainda esquecer do trabalho desenvolvido numa perspectiva de efectiva integração e transição entre ciclos, pois estas visitas são planeadas numa perspectiva de servir um conjunto alargado de objectivos, de onde se destacam, antes de mais, a possibilidade de desenvolver esforços de partilha e de colaboração tão queridos às políticas de transição, por exemplo, entre ciclos de escolaridade, na medida em que, como é compreensível, estas visitas são também um espaço de inter-relação entre grupos distintos de um mesmo estabelecimento de ensino, podendo mesmo ser observadas num espírito de cooperação entre profissionais de educação. A par de todas as experiências científicas e pedagógicas permitidas, há ainda espaço para, se houver essa vontade, tomar um banho de rio ou de piscina, fazer jogos de pista ou caças ao tesouro, recolher os animais ou, pura e simplesmente, brincar ao ar livre. Numa altura em que tanto se fala de Educação Ambiental, ou de experiências efectivas, os Circuitos Temáticos de um Dia surgem como um espaço de experiência e partilha, que, antes de mais, permitem uma aproximação efectiva aos conteúdos académicos e escolares, com a clareza e a intensidade das vivências reais. Cada visita é, para nós, um momento de avaliação efectiva que nos permite alterar ou converter algumas práticas e actividades que, pelo seu sucesso ou insucesso, ou inadequação, não resultam da forma esperada. Neste aspecto, é pela vontade de melhorar cada vez mais a componente pedagógica que nos “obrigamos” a constantes alterações, se achamos que o devemos fazer. O objectivo primordial do técnico (ou monitor) que acompanha a visita, nos quais me incluo, é o de substituir o docente nomeadamente no que respeita à disponibilização da informação específica, bem como a da adaptação das “linguagens” da quinta aos ouvidos urbanos e juvenis. Também as por nós apelidadas “actividades de espera” são da nossa responsabilidades e são, no fundo, jogos e outras actividades lúdicas, estas mais perto da realidade da escola, mas devidamente adaptadas e inseridas no contexto da quinta. Podemos, pelo atrás referido, pensar que estas visitas poderão ser também um “descanso” para os docentes, no entanto, em matéria de disciplina e orientação, um dia diferente não pode, nem deve, substituir as práticas diárias e regulares do contexto escola, pelo que aqui, a cooperação é fundamental. Por último, uma nota para o prazer de sentir o agrado, a alegria e a felicidade estampada nos pequenos rostos que, no fim do dia, se despedem com pouca vontade de ir.