2. 1
Revista Literária
“O Voo da Gralha
Azul”
n0. 9 – Paraná, janeiro / março 2012
Idealização, seleção , layout e edição:
José Feldman
Contatos, sugestões, colaborações:
voodagralhaazul@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogspot.com.br
Endereço para correspondencia:
Rua Vereador Arlindo Planas, 901-A
Zona 6
Cep.87080-330
Maringá/PR
Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito
ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!!
Prezado Leitor
Este almanaque não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou
não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.
Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão
da cultura, em todas as suas manifestações.
Ao leitor, novos conhecimentos.
Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração.
Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
José Feldman
3. 2
SUMÁRIO
ANÁLISES LITERÁRIAS Dodora Galinari.............................................. 174
Domício da Gama .......................................... 36
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Elmano Cardim .............................................. 55
O poema das sete faces ............................................... 144 Inoema Nunes Jahnke ................................... 68
CECÍLIA MEIRELLES Jacy Pacheco ................................................ 84
Romanceiro da Inconfidência ....................................... 203 João Justiniano da Fonseca .......................... 80
MACHADO DE ASSIS Linhares Filho ................................................ 25
Trio em Lá Menor ......................................................... 183 Lino Sapo....................................................... 48
Luciene Barrel (lubarrel) ................................ 179
ARTIGOS Milton Nunes Loureiro ................................... 10
ADELTO GONÇALVES CONCURSOS LITERÁRIOS
Uma “redescoberta” da Literatura Africana no Brasil ... 58
ALBA KRISHNA TOPAN FELDMAN
A Identidade da Mulher Indígena na Escrita de Zitkala-Ša e Concurso Literário Padre João Maia 2012 'Vila de
Eliane Potiguara ........................................................... 220 Rei: Rostos e Olhares' .................................. 228
AMOSSE MUCAVELE III Concurso Literário da Academia Taubateana de
A poesia epigramática do Amin Nordine ou a Babalaze do Letras ............................................................ 229
Atirador das Verdades .................................................. 49 XV Concurso Nacional de Contos 'Prêmio Jorge
CILZA CARLA BIGNOTTO Andrade' ....................................................... 230
Duas leituras da infância,segundo Monteiro Lobato .... 116
Prêmio Professor Mário Clímaco - Alepon .... 231
ELMANO CARDIM
As primeiras revistas literárias ...................................... 52
15º Prémio Literário Fernando Namora (Portugal)
IALMAR PIO SCHNEIDER ....................................................................... 232
Outra Época e um Poeta Inesquecível ......................... 200
JANDI FABIAN BARBOSA e TANIA M. K. ROSING CONTOS / CRONICAS
A literatura infanto-juvenil: do acesso ao livro até a formação do
leitor .............................................................................. 133
J. G. de ARAÚJO JORGE ABÍLIO PACHECO
Uma Casa na Lembrança ............................................. 213 Cheiro de café ................................................ 177
JULIANA BOEIRA DA RESSURREIÇÃO AFRÂNIO PEIXOTO
A Importância dos Contos de Fadas no Desenvolvimento da Barro Branco .................................................. 15
Imaginação ................................................................... 71 AMOSSE MUCAVELE
NILTO MACIEL Carta do aniversariante no dia em que não se fará a
A Poética de Linhares Filho .......................................... 21 festa ............................................................... 112
RICARDO FARIA ANTONIO BRÁS CONSTANTE
Um poeta chamado Solano Trindade ........................... 154
Humor – Sol e Frio (tomou Doril e Não Sumiu) 26
SERAFINA FERREIRA MACHADO
A imagem do negro na poesia de Solano Trindade ..... 156
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
WALDOMIRO WALDEVINO PEIXOTO A canção que tocou no meio da noite ............ 64
O Tempo na Ficção ...................................................... 103 Caminho sem Volta ........................................ 214
ARTUR DE AZEVEDO
Uma aposta .................................................... 125
BIOGRAFIAS
CAROLINA RAMOS
Como de Costume... ...................................... 41
Afrânio Peixoto ............................................... 16 CLÁUDIO DE CÁPUA
Américo Facó ................................................. 102 Galo Doidão ................................................... 6
Amaury Nicolini .............................................. 227 DALTON TREVISAN
Cassiano Ricardo ........................................... 31 Em Busca da Curitiba Perdida ...................................... 217
Cilza Carla Bignoto ........................................ 121 DOMÍCIO DA GAMA
Cláudio de Cápua .......................................... 6 Maria sem Tempo .......................................... 33
Cornélio Pires................................................. 165 FERNANDO SABINO
Dalton Trevisan.............................................. 217 A mulher vestida............................................. 142
4. 2
FRANCISCO JOSÉ PEREIRA Gorjala.......................................................................... 96
A Velha Senhora e seus Cachorros ............... 10 Gralha Azul .................................................................. 96
Iara ............................................................................... 97
HENRIQUE OLIVEIRA João Galafoice ............................................................. 97
O Bêbado e o Poeta ...................................... 45 João Galafuz ................................................................ 97
JOÃO SCORTECCI Labatut ......................................................................... 98
Eu sou um livro .............................................. 114 Loira Do Banheiro ........................................................ 98
LEON ELIACHAR Lobisomem................................................................... 98
Mãe-Do-Ouro ............................................................... 98
A Outra ........................................................... 81 Mani (A Lenda Da Mandioca) ...................................... 99
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO JOSÉ GERALDO MARTINEZ
Vitor e seu irmão ............................................ 68 Lendas da Infância ....................................................... 201
OLIVALDO JÚNIOR LENDAS INDÍGENAS
Fim de Linha ................................................. 3 O guaraná .................................................................... 140
MACHADO DE ASSIS Vênus e Sirius .............................................................. 141
Adão e Eva..................................................... 195 LUIZ EDUARDO CAMINHA
Trio em Lá Menor ..... 180 Lenda de Iaraguaçu ...................................................... 60
Um homem célebre ........................................ 169 MARIA ROSA MOREIRA LIMA
A lenda dos tatus brancos ............................................ 150
RACHEL DE QUEIROZ
PARLENDAS ................................................. 126
Os Dois Bonitos e os Dois Feios .................. 130
VICÊNCIA JAGUARIBE
A Decisão ....................................................... 88 HAICAIS
Por uma nota de dez reais ............................. 106
ACADEMIA RIBEIRAOPRETANA DE POESIA
ENTREVISTAS HAICAIS, 1996
Arthur Francisco Baptista............................... 104
LINO MENDES Geraldo Lyra .................................................. 104
Conversas Curtas com Fernando Máximo ................... 211 Dercy Alonso de Freitas................................. 104
Sérgio Bernardo............................................. 104
Darly O. Barros .............................................. 104
FOLCLORE
Morais Lopes (Portugal)................................. 104
Maria Thereza Cavalheiro.............................. 104
FOLCLORE DO BRASIL Arthur Francisco Baptista............................... 104
Alamoa ......................................................................... 90
Ana Jansen .................................................................. 91
Napoleão Valadares ...................................... 105
Anhangá ....................................................................... 91 Sérgio Bernardo............................................. 105
Arranca-Língua ............................................................ 91 Arthur Francisco Baptista............................... 105
A Tartaruga e o Gavião ................................................ 175 Izo Goldman .................................................. 105
Barba Ruiva ................................................................. 91 Darly O.Barros ............................................... 105
Bicho-Homem .............................................................. 92
Boitatá .......................................................................... 92
Neide Rocha Portugal.................................... 105
Boto Sedutor ................................................................ 92 Darly O. Barros .............................................. 105
Cabeça-De-Cuia .......................................................... 93 Dercy Alonso de Freitas................................. 105
Caboclo-D´água ........................................................... 93 Edmar Japiassu Maia .................................... 105
Caipora ........................................................................ 93 Lila Ricciardi Fontes ...................................... 105
Canhambora ................................................................ 93
Capelobo ...................................................................... 94
Lila Ricciardi Fontes ...................................... 105
Cavalo Branco ............................................................. 94 Silvio Ricciardi ............................................... 105
Cavalo Das Almas ....................................................... 94 Branca Marilene Mora de Oliveira ................. 105
Chibamba ..................................................................... 94 Lila Ricciardi Fontes ...................................... 105
Chupa-Cabras .............................................................. 94 Sílvio Ricciardi ............................................... 105
Cobra Grande .............................................................. 95
Cobra-Jabuti ................................................................ 95
Sílvio Ricciardi ............................................... 105
Cobra Norato ............................................................... 95 Rita Marcianp Mourão ................................... 106
Corpo Seco .................................................................. 95 Lila Ricciardi Fontes ...................................... 106
Cuca ............................................................................. 95 Silvio Ricciardi ............................................... 106
Curaganga ................................................................... 96 AFRÂNIO PEIXOTO
Curupira ....................................................................... 96
Famaliá ........................................................................ 96
Haicais ........................................................... 14
5. 3
JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA Soneto do Dia
50 Haicais + 3 ................................................ 86 Amilton Maciel Monteiro/SP
NILTON MANOEL Mistério......................................................................... 19
Haicai – O Poema de Três Versos ................. 84 Francisco Macedo/RN
Um Soneto Filho do Sol ............................................... 115
Ialmar Pio Schneider/RS
MENSAGEM Soneto do Abandonado ............................................... 40
PAULO V. PINHEIRO João Justiniano Da Fonseca/BA
Uma Flor no Meio da Vida ........................................... 1 Soneto sem sal e sem pimenta .................................... 63
Renato Alves/RJ
MENSAGENS POÉTICAS Sussurros ..................................................................... 177
(Ademar Macedo: seleção) Rogaciano Leite/PE
MENSAGENS POÉTICAS 82 ........................ 3 Impossível .................................................................... 145
MENSAGENS POÉTICAS 84 ........................ 18 Sônia Sobreira/RJ
MENSAGENS POÉTICAS 88 ........................ 40 Eu Gosto da Chuva ...................................................... 189
MENSAGENS POÉTICAS 93 ........................ 62 Vanda Fagundes Queiroz/PR
Transitório .................................................................... 4
MENSAGENS POÉTICAS 101 ...................... 114
MENSAGENS POÉTICAS 104 ................... 145
Uma Trova de Ademar
MENSAGENS POÉTICAS 108 ...................... 176
Ademar Macedo/RN ..................................... 4
MENSAGENS POÉTICAS 111 ...................... 188
Ademar Macedo/RN ..................................... 19
Ademar Macedo/RN ..................................... 40
Estrofe do Dia Ademar Macedo/RN ..................................... 63
Ademar Macedo/RN ...................................... 4 Ademar Macedo/RN ..................................... 115
Ademar Macedo/RN....................................... 189 Ademar Macedo/RN ..................................... 145
Carolina Ramos/SP ....................................... 40 Ademar Macedo/RN ..................................... 176
Djalma Mota/RN ............................................ 19 Ademar Macedo/RN ..................................... 189
Gilmar Leite/PE.............................................. 63
José Lucas De Barros/RN ...... 115 Uma Trova Nacional
José Tomaz/PB ............................................. 177 A. A. De Assis/PR .......................................... 18
José Zilmar/PB .............................................. 145 Carolina Ramos/SP ....................................... 145
Izo Goldman/SP............................................. 40
...E Suas Trovas Ficaram Jeanette De Cnop/PR .................................... 62
Aloísio Alves Da Costa/CE ........................... 19 Marina Bruna/SP ........................................... 3
Aloísio Alves Da Costa/CE ............................ 115 Olympio Coutinho/MG ................................... 114
Durval Mendonça/RJ ..................................... 63 Rejane Costa/CE ........................................... 176
Edmilson F. Macedo/MG ............................... 40 Roberto Medeiros/MG .................................... 188
Luiz Otávio/RJ ............................... 145
Paulo Cesar Ouverney/RJ.............................. 189 Uma Trova Potiguar
Miguel Russowsky/SC ................................... 4 Ascendino De Almeida/RN ............................ 18
Waldir Neves/RJ ............................................ 176 Bento Rabelo/RN ........................................... 63
Carmo Chagas De Oliveira/RN ...................... 115
Simplesmente Poesia Fabiano Wanderley/RN .................................. 188
Antonio m. A. Sardenberg/RJ – Joamir Medeiros/RN ...................................... 3
Sorriso .......................................................................... 63
Marcos Medeiros/RN ..................................... 176
Antonio Roberto Fernandes/RJ –
Saudade... .................................................................... 19
Marivaldo Ernesto/PB .................................... 40
Djalma Mota/RN Pedro Grilo/RN .............................................. 145
Décima- (Redondilha Menor) ....................................... 145
Eduardo A. O. Toledo/MG Uma Trova Premiada
Por Sobre as Nuvens ................................................... 189 Alcy Ribeiro S. Maior/RJ ................................ 188
Gilson Maia/RJ .............................................. 115 Dorothy Jansson Moretti/SP .......................... 4
Manoel De Macedo/RN ................................. 40 Eduardo A. O. Toledo/MG ............................. 19
Zé De Sousa/PB ............................................ 176 Marcelo Zanconato Pinto/MG ........................ 115
Olympio Coutinho/MG ................................... 145
6. 4
Pedro Melo/SP .............................................. 63 Só quero existir ............................................................ 52
Selma Patti Spinelli/SP .................................. 176 ELISABETH SOUZA CRUZ
Thereza Costa Val/MG .................................. 40 Missão terrestre ........................................................... 189
Segredo........................................................................ 190
Amor de extremos ........................................................ 190
POESIAS Bacharel ....................................................................... 190
Dia de resgate .............................................................. 190
ALBA HELENA CORRÊA ENÉIAS TAVARES DOS SANTOS
Semeadura do bem ..................................................... 71 A briga de dois cegos por causa de uma esmola ......... 146
AMAURI NICOLINI HÉRON PATRÍCIO
Calendário .................................................................... 226 Colheita ........................................................................ 69
No caminho ................................................................. 226 IALMAR PIO SCHNEIDER
Memórias ..................................................................... 227 Soneto a Laurindo Rabelo ........................................... 2
Passageiros a bordo ..................................................... 227 Soneto para Jayme Caetano Braun ............................. 2
Velhos carnavais ......................................................... 227 Soneto a Arthur Azevedo ............................................. 2
AMÉRICO FACÓ Soneto a São Francisco De Assis ................................ 2
Noturno ........................................................................ 99 Soneto a Ernest Hemingway ........................................ 3
Ar da floresta noturna .................................................. 100 INOEMA NUNES JAHNKE
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG Imortal .......................................................................... 66
Amor e paixão .............................................................. 56 Coração guerreiro ........................................................ 66
Seu beijo ...................................................................... 56 Corpo e alma................................................................ 66
Presa ............................................................................ 56 Esperança .................................................................... 66
Abraço .......................................................................... 57 Saudade ....................................................................... 67
Noite de amor .............................................................. 57 Refúgio ......................................................................... 67
Você ............................................................................. 57 Lasciva ......................................................................... 67
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Janela da emoção ........................................................ 67
Adeus a Sete Quedas .................................................. 149 É preciso ...................................................................... 67
Balada do amor através das idades ............................. 121 Compaixão pela vida .................................................... 67
Debaixo da ponte ......................................................... 130 O fim............................................................................. 68
Poema das Sete Faces ............................................... 143 JACY PACHECO
CASSIANO RICARDO Ambição do pingo d'água ............................................. 83
Riso e lágrima .............................................................. 27 Primavera do mundo .................................................... 83
Manhã de caça ............................................................ 27 O ateu .......................................................................... 83
Brasil-menino ............................................................... 28 Conformismo ................................................................ 84
A rua ............................................................................ 29 J.B. XAVIER
A sintaxe do adeus ...................................................... 29 O Camelô ...................................................................... 197
Serenata sintética ........................................................ 29 JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA
Imemorial ..................................................................... 29 A beleza da vida ........................................................... 79
Poema implícito ........................................................... 30 A morte do sonho ......................................................... 79
O cacto ......................................................................... 30 As plantas do sertão .................................................... 80
Você e o seu retrato ..................................................... 31 Coração do velho ......................................................... 80
CECÍLIA MEIRELES O esquecimento ........................................................... 80
Canção ......................................................................... 122 O tecelão da vida ......................................................... 80
Motivo .......................................................................... 122 JOSÉ TAVARES DE LIMA
Balada das dez bailarinas do cassino .......................... 122 Tempo de colheita........................................................ 71
Canção ......................................................................... 123 LINHARES FILHO
Canção de alta noite .................................................... 123 A minha mãe, habitante da morte ................................. 22
Canção do caminho ..................................................... 123 A Machado de Assis, morto vivo .................................. 23
Canção ......................................................................... 123 Das coisas .................................................................... 24
Guitarra ........................................................................ 124 Ode a Fernando Pessoa .............................................. 24
Serenata ...................................................................... 124 LINO SAPO
Pássaro ........................................................................ 124 Jardim dos sonhos ....................................................... 46
CECIM CALIXTO Poesia da cachoeira..................................................... 46
Colheita da fé ............................................................... 69 Cachoeira do sapo ....................................................... 47
EDMAR JAPIASSÚ MAIA Minha tapera ................................................................ 47
O tolo e o sábio ............................................................ 70 LUBARREL
EFIGÊNIA COUTINHO As fadas ........................................................................ 178
Porque amo ................................................................. 51 Tributo ao mar .............................................................. 178
O sonho realizado ........................................................ 51 Placidez noturna ........................................................... 178
Sonhos ......................................................................... 51 Refúgio ......................................................................... 178
Canção do amor .......................................................... 51 Ode a Iara ..................................................................... 179
7. 5
Reencontro ................................................................... 179 Ademar Macedo – RN .................................................. 5
MAURÍCIO CAVALHEIRO Angélica V. Santos – SP .............................................. 5
Colheita para Deus ...................................................... 70 Antônio da Serra – PR ................................................. 5
NILTO MACIEL Aparício Fernandes – RN ............................................. 4
Conhecimento .............................................................. 37 Carolina Ramos – SP ................................................... 5
Arco íris ........................................................................ 37 Carolina Ramos – SP ................................................... 5
Soneto crepuscular ...................................................... 38 Diamantino Ferreira – RJ ............................................. 5
Visionário ..................................................................... 38 Dinair Leite – PR .......................................................... 5
O jangadeiro ................................................................ 39 Diva da Costa Lemos – RS .......................................... 4
Domitilla B. Beltrame – SP ........................................... 6
PEDRO DU BOIS Eliana Palma – PR ....................................................... 6
Final ............................................................................. 13 Francisco Macedo – RN ............................................... 6
Transformar ................................................................. 13 Francisco Pessoa – CE ................................................ 5
Estar ............................................................................. 13 Heliodoro Morais – RN ................................................. 4
Construir ...................................................................... 13 Jeanette De Cnop – PR ............................................... 5
Reinstalar ..................................................................... 13 Jeanette De Cnop – PR ............................................... 6
Esquecer ...................................................................... 14 José Marins – PR ......................................................... 5
PLINIO LINHARES Júlia Leal Miranda – RJ ................................................ 4
Trovamando V - Helena .............................................. 191 Luiz Antonio Cardoso – SP .......................................... 5
PROF.GARCIA Luiz Antonio Cardoso – SP .......................................... 6
Sentimentos .................................................................. 71 Milton Nunes Loureiro – RJ .......................................... 6
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE Nei Garcez – PR .......................................................... 5
Ela e a janela ............................................................... 89 Nilton Manoel – SP ...................................................... 5
Percepção .................................................................... 90 Osvaldo Reis – PR ...................................................... 5
Passarinho ................................................................... 90 Relva de Egypto Rezende – MG .................................. 5
Ponto final .................................................................... 90 Rodolpho Abbud – RJ .................................................. 6
ROBERTO RESENDE VILELA Ronaldo Afonso Júnior – MG ....................................... 5
Momentos de reflexão ................................................. 70 Thereza Costa Val – MG .............................................. 6
SILMAR BOHRER CLÁUDIO DE CÁPUA
(Outros) versos marinhos ............................................ 19 Trovas ........................................................................... 42
Prisioneiro .................................................................... 20 CORNÉLIO PIRES
Cantilenas .................................................................... 20 Trovas ........................................................................... 164
Riquezas ...................................................................... 20 Causos sobre Cornélio ................................................. 167
Mensagem ................................................................... 21 DODORA GALINARI
SILVIAH CARVALHO Trovas ........................................................................... 174
Insensato coração ........................................................ 43 MILTON LOUREIRO
Canção do amor .......................................................... 43 Trovas .......................................................................... 8
Me perdoa .................................................................... 44 PARANÁ TROVADORESCO
Até que as águas nos unam ........................................ 44 Adilson de Paula - Joaquim Távora ............................. 107
SOLANO TRINDADE Alberto Paco – Maringá ................................................ 107
Poema autobiográfico .................................................. 151 Aldo Silva Júnior – Curitiba .......................................... 107
Canta América ............................................................. 151 Angelo Batista – Curitiba .............................................. 107
Conversa ...................................................................... 151 A. .A. Assis – Maringá .................................................. 107
Eu gosto de ler gostando ............................................. 152 Antônio Facci – Maringá .............................................. 107
Negra bonita ................................................................ 152 Antônio Salomão – Curitiba ......................................... 107
Reflexão ....................................................................... 152 Apollo Taborda França – Curitiba ................................ 108
Poema do homem ........................................................ 152 Araceli Friedrich – Curitiba ........................................... 108
O canto da liberdade .................................................... 153 Argentina de Mello e Silva – Curitiba ........................... 108
Meu canto de guerra .................................................... 153 Ariane França De Souza – Curitiba ............................. 108
Abolição número dois .................................................. 153 Arlene Lima – Maringá ................................................. 108
Quem tá gemendo? ..................................................... 153 Átila Silveira Brasil – Cornélio Procópio ....................... 108
THEREZA COSTA VAL Camilo Borges Neto – Curitiba ..................................... 108
Colhendo versos .......................................................... 70 Cassiano Souza Ennes – Curitiba ............................... 108
Cecília Souza Ennes – Curitiba ................................... 108
Ceciliano José Ennes Neto – Curitiba.......................... 108
TROVAS Cecim Calixto – Tomazina ........................................... 108
Cristiane Borges Brotto – Curitiba ................................ 108
ADEMAR MACEDO Cyroba Braga Ritzmann – Curitiba .............................. 108
Trovas Engraçadas ...................................................... 113 Dinair Leite – Paranavaí ............................................... 108
AQUARELA DE TROVAS Fernando Vasconcelos - Ponta Grossa ....................... 108
A. A. de Assis – PR ...................................................... 5 Gerson Cezar Souza - São Mateus ............................. 108
A. A. de Assis – PR ...................................................... 5 Gilberto Ferreira – Curitiba........................................... 108
8. 6
Glycínia De França Borges – Curitiba ......................... 108 Maria Nicólas – Curitiba ............................................... 110
Harley Clovis Stocchero – Almirante Tamandaré ........ 109 Mariza Soares De Azevedo – Curitiba ......................... 110
Heitor Borges de Macedo – Curitiba ............................ 109 Maurício Leonardo – Ibiporã ........................................ 110
Heitor Stockler de França – Palmeira .......................... 109 Maurício Norberto Friedrich – Curitiba ......................... 110
Hely Marés de Souza - União Da Vitória ..................... 109 Nei Garcez – Curitiba ................................................... 110
Hilda Koller – Castro .................................................... 109 Neide Rocha Portugal – Bandeirantes ......................... 111
Horácio Portella – Piraquara ........................................ 109 Olga Agulhon – Maringá .............................................. 111
Istela Marina Gotelipe Lima – Bandeirantes ................ 109 Orlando Woczikosky – Curitiba .................................... 111
Janete de Azevedo Guerra – Bandeirantes ................. 109 Ralf Gunter Rotstern – Curitiba .................................... 111
Jeanette de Cnop – Maringá ........................................ 109 Rose Mari Assumpção – Curitiba ................................. 111
José Feldman – Maringá ............................................. 109 Roza de Oliveira – Curitiba .......................................... 111
Josias de Alcântara – Curitiba ..................................... 109 Serafim França-Curitiba ............................................... 111
Lairton Trovão de Andrade – Pinhalão ........................ 109 Sinclair Pozza Casemiro - Campo Mourão. ................. 111
Leonardo Henke – Curitiba .......................................... 109 Sônia Ditzel Martelo – Ponta Grossa ........................... 111
Ligia Cristina de Menezes – Pinhais ............................ 109 Tasso da Silveira – Curitiba ......................................... 111
Lorys Marchesini – Curitiba ......................................... 109 Vanda Alves da Silva – Curitiba ................................... 111
Lourdes Strozzi – Curitiba ............................................ 109 Vanda Fagundes Queiroz – Curitiba ............................ 111
Lucília Trindade Decarli – Bandeirantes ...................... 110 Vânia Maria Souza Ennes – Curitiba ........................... 111
Lúcio da Costa Borges – Morretes .............................. 110 Vasco Taborda Ribas – Curitiba .................................. 111
Luiz Hélio Friedrich – Curitiba ...................................... 110 Vera Vargas – Piraí Do Sul .......................................... 111
Lygia Lopes dos Santos – Curitiba .............................. 110 Victorina Sagboni – Curitiba ......................................... 111
M. Machado – Curitiba ................................................. 110 Vidal Idony Stockler – Curitiba ..................................... 111
Manoel Claro Alves Neto – Curitiba ............................. 110 Walderez de Araújo França – Paranaguá .................... 112
Manuel M. Ramirez Y Anguita – Curitiba ..................... 110 Walneide Fagundes S. Guedes – Curitiba ................... 112
Maria Conceição Fagundes – Curitiba ......................... 110 Wandira F. Queiroz – Curitiba ...................................... 112
Maria de Lourdes Akel – Curitiba ................................. 110 Wellesley Nascimento– Almirante Tamandaré .......... .. 112
Maria Eliana Palma – Maringá ..................................... 110
Maria Lúcia Daloce Castanho - Bandeirantes ............ 110
Marita França – Curitiba .............................................. 110
SUPLEMENTO ESPECIAL (ANEXO) – HOMENAGEM A FRANCISCO NEVES DE MACEDO
Este Almanaque não pode ser comercializado em hipótese alguma.
Caso assim o desejar, deve-se contatar o/s autor/es para obter
autorização.
Respeite os Direitos do Autor.
9. 1
Mensagem
Paulo V. Pinheiro Passei a ler como se eu tivesse escrito o texto que
não escrevi. Busquei o sentimento que vale a pena
Uma Flor no Meio da Vida (no estrito sentido da pena que escreve).
O quê queres? Perguntei-me a mim. Antes disso eu não respeitava os que escreveram
tanto como mereciam.
Dia e outro, na procura dos sentidos, me perco nas
palavras que brotam por todo lado com seu Textos bons ou textos nem tanto como queríamos
propósito de me confundir. ler, servem para o que servem, para se qualificarem
uns aos outros.
Jornais, revistas, livros... tantas letras que doem.
Quem sabe o que é bom?
Já li de tudo, me arrebatam as bulas...
Sempre gostei das coisas mais fáceis e por isso
Machado, Alencar, Scliar, Saramago, Lobato, e tanta busquei as mais difíceis, só para me contrariar... só
gente que depois de um tempo me cobra: que eu sofri no caso das palavras que li.
dizes? Que me dizes?
Agora a pouco me perguntaram: e a flor, onde entra
Ousado, talvez com um pouco de medo, arrisquei nisso que dizes?
umas pequenas linhas... pequeninas...
pequenininhas. Ora entendo que a flor é o produto da expressão do
Então escrevi. que se diz, do que se escreve, do que se pinta, do
que se faz para a apreciação, como o trabalho,
Tive a sorte de aprender a letrar pensamentos e os como o amor... como a expressão pura e simples da
letrei; então achei pouco. ação.
Pensei: se posso descrever o que penso... porquê Existe no campo ou nos jardins, todo o tipo de
não posso escrever o que sinto? expressão floral. Existe no jardim de nossos dias
uma quantidade de obras a se admirar, umas com
Vi que existia uma ponte estreita, longa, perigosa e mais cuidado, outras com mais atenção, outras
muita vez conflitiva, entre o que eu sentia e pensava. detalhadas, outras simples... cada qual com suas
qualidades.
Sofri, mas não desanimei, então me reescrevi.
Para nós sobra entender o que fizemos ou faremos
Contei contos, desvelei novelas, trabalhei textos... de nós.
passei a ler com mais cuidado, com mais rigor, com
mais seleção. Fonte:
Revista Entrementes
10. 2
Ialmar Pio Schneider
Homenagens em Soneto
SONETO A LAURINDO RABELO SONETO A ARTHUR AZEVEDO
– In Memoriam – – In Memoriam –
Nascimento do poeta em 8.7.1826 - . – Nascimento do escritor em 7.7.1855
Foi poeta... sofreu e fez seus versos, Foi dramaturgo, poeta e contista,
clamando que seriam ais sentidos, com “Arrufos”, um soneto forte,
pois quanto mais tristonhos, mais perversos, após desentender-se com a consorte,
representando corações partidos... fez uns ares de quem do amor desista...
Mas sua obra é vasta e os dias idos Toma o chapéu e sai, sem que suporte,
na existência de sonhos tão dispersos, fingir que não mais ama e se contrista,
lamentou como se fossem perdidos mas algo o faz voltar e então persista
os cantos que compôs, os mais diversos... a manter a paixão até a morte...
E no soneto “O Tempo” põe sua alma Assim são os amores verdadeiros,
arrependida de gastá-lo em vão, ao menos na aparência dos amantes,
tal como se fosse perder a calma. que às vezes têm questiúnculas por nada...
Um conselho final então dos diz: E quando voltam ficam companheiros
de não desperdiçarmos, sem razão, para viverem todos os instantes,
o tempo em que se pode ser feliz... seguindo adiante pela mesma estrada...
SONETO PARA JAYME CAETANO BRAUN SONETO A SÃO FRANCISCO DE ASSIS
– In Memoriam – – Nascimento em 5 de julho de 1182 -
Jayme Caetano Braun, o inimitável poeta gauchesco
e pajador, falecido há 12 anos, ou seja, em 8 de Quero ao “O Pobre de Deus” render meu preito
julho de 1999, aos 75 anos de idade. de gratidão por suas orações;
quando pregava às aves, com efeito,
Jayme Caetano Braun quando tu cantas, ele atingia a todos os corações...
eu me quedo silente a te escutar;
em teus poemas de belezas tantas, “Padroeiro dos Trovadores”, aceito
encontro o Rio Grande a me falar. e venerado pelas multidões,
seu nome São Francisco tem conceito,
Não posso compreender quem não encantas e nos consola em horas de aflições...
no teu nobre e gauchesco linguajar;
sobre as coxilhas quando te levantas Pregou a paz entre os irmãos e santo
eu vejo um farroupilha em teu lugar. permanece p´ra sempre no seu canto
de amor sublime a todas as criaturas...
Primoroso cantor, valente e forte,
sem temor de lutar, de altivo porte Hoje, no dia do seu nascimento,
tal qual o lutador galo de rinha que sua bênção traga um sentimento
de concórdia, de luz e de ternuras...
que morre de tortura e não se entrega
e aguenta firme a ríspida refrega,
pois morre sem deixar dobrar a espinha.
11. 3
SONETO A ERNEST HEMINGWAY que faça qualquer coisa ao seu alcance...
– In Memoriam –
Morte do escritor em 2.7.1961 Um trágico final a um grande amor
em que Ernest Hemingway desenvolveu
Lembra-me “Adeus às armas”, um romance a efemeridade da vida e a dor...
que li mais de uma vez, pois foi chocante
a emoção que senti naquele lance: Com certeza, não há maior tortura
Catherine despede-se do amante... do que aquela em que ele descreveu
a passagem da amada criatura...
Henry, desesperado, vive o instante,
e reza para um Deus, sentindo o transe Fonte:
que o acomete, e não está confiante Sonetos enviados pelo autor
Olivaldo Júnior
Fim de Linha
Pois é, o ano velho está no fim, é o fim da meus amigos é o quadrado de uma folha de papel
linha para ele. Acabam-se as aulas e as férias em que pousam ilusões. Ilusão é pôr-se à mercê de
invadem as casas, causando frisson nas crianças e ninguém. Ninguém vive sem ninguém.
em todos que estudaram ou trabalharam durante o Iludo-me. Mas o ano é novo. Fim de linha
ano. O ano velho está de molho, o molho que é feito para o velho que mora em mim. Mas o que faço para
de amizade. o despejo de quem me ajuda a ter assunto para
Amigos que telefonavam todo dia já não meus versos, combustível para os lampejos de um
ligam quase nunca; amigos que não ligavam quase verso à-toa, que me atordoa? Contando com amores
nunca já não telefonam mais. Pois é, a vida é assim que nunca foram amáveis, amei quem nem sabe
mesmo: ligações ou longos períodos ocupados ou que o meu amor contava com o dele, o amor do meu
fora da área de cobertura. Cobrindo o ano velho, amor. O amor é velho; o ano, não. E eu estou
cubro a mim mesmo, que eu mesmo ando velho, cansado de ser amigo de ninguém e de ninguém
bem velho, querendo nascer. Nasceram amigos que estar comigo quando entra o ano novo e todos
eu pensei que seriam eternos, mas fenecem no fazem tim-tim.
esquecimento desta pessoa; tenho amigos que não
telefonam mais, ainda que ligassem quase todo dia. Fontes:
O Autor
Dia a dia, eu noto bem: tudo é ciclo, e o círculo dos
Ademar Macedo
Mensagens Poéticas 82
Trova do Dia Trova Potiguar
Neste ano novo eu pretendo Um Ano Novo sem guerra,
rasgar meus dias tristonhos mandai, ó Deus paternal:
e, de remendo em remendo, que reine a paz sobre a terra,
reconstruir os meus sonhos... que reine o bem contra o mal!
MARINA BRUNA/SP JOAMIR MEDEIROS/RN
12. 4
Uma Trova Premiada E fiz pra Deus uma carta
pedindo uma mesa farta
2000 > Petrópolis/RJ para o faminto comer;
Tema > Ano 2000 > 13º Lugar mandei essa carta em nome
daquele que passa fome
Que os anos 2000 nos falem e que não sabe escrever!
de novos feitos de luz, ADEMAR MACEDO/RN
mas que seus ecos não calem
a voz que bradou na cruz! Soneto do Dia
DOROTHY JANSSON MORETTI/SP
– Vanda Fagundes Queiroz/PR –
Uma Trova de Ademar TRANSITÓRIO.
Neste Ano Novo eu queria Trezentos e sessenta e cinco dias,
entre nós mais união; meu calendário, foi seu tempo exato.
e, que o amor pela poesia Agora é estranho, quando então constato:
cresça em nosso coração! - É um bloco velho, já sem serventias.
ADEMAR MACEDO/RN
Mas eu o estimo. As datas foram guias...
...E Suas Trovas Ficaram Cada lembrete compôs um retrato
do cotidiano que se fez, de fato,
Deus com seu saber profundo, de altos e baixos, sombras e alegrias.
para nos trazer a paz,
mandou o seu filho ao mundo Releio as notas... Dói-me concordar:
há dois mil anos atrás - Dever cumprido! Ceda o seu lugar
MIGUEL RUSSOWSKY/SC para o que chega e estréia no cenário.
Estrofe do Dia Tão companheiro, em toda a minha lida
de um ano inteiro... para mim, tem vida!
Hoje eu pedi para o povo, – Adeus, meu velho amigo Calendário...
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo, Fonte:
Ademar Macedo
muito amor nos corações!
Aquarela
de Trovas
Desta saudade infinita A ressaca da bebida
não guardo mágoas, porque é pra ninguém esquecer.
foi a coisa mais bonita Por isso a melhor pedida
que me ficou de você. é não parar de beber.
Aparício Fernandes – RN Heliodoro Morais – RN
Sou tal qual ave ferida O vazio dos teus braços,
que as suas asas quebrou depois de tristonho adeus,
e Deus, para dar-lhe vida, fez a dor rondar meus passos,
os seus pedaços juntou. na busca inútil dos teus...
Diva da Costa Lemos – RS Júlia Leal Miranda – RJ
13. 5
Disse o carteiro, confuso: Paz, amor, felicidade!
- mora aqui o “seu” Leitão? Palavras tão usuais,
- Não mais, respondeu o luso: que seriam, na verdade,
virou torresmo e sabão. mais bonitas, se reais.
Relva de Egypto Rezende – MG Luiz Antonio Cardoso – SP
Os dois velhinhos dançavam, Do Ano Velho ao Ano Novo:
mostrando desenvoltura; – Baixa a pose, ó garotão,
mas sempre que tropeçavam, que num zás o jovem ovo
trocava de dentadura! torna-se um galo ancião!...
Ronaldo Afonso Júnior – MG Osvaldo Reis – PR
De quantas bênçãos se tecem Fugindo pela janela,
as vidas fortes, sofridas, o “dom juan” quis “dar no pé”.
que de si mesmas se esquecem – Um fantasma!, gritou ela.
para cuidar de outras vidas! E o marido: – Agora é!
A. A. de Assis – PR Angélica V. Santos – SP
Nesta vida não deu certo, Toda vez que eu chego tarde,
mas na próxima quem sabe? lá em casa, rente ao portão,
Quem sabe, eu de ti mais perto, minha esposa dá “boa-tarde”
o muro entre nós desabe?... com a vassoura na mão...
Antônio da Serra – PR Nei Garcez – PR
Deus um dia há de me dar Casa velha, quanto encanto!
o que peço em cada prece: ... tem cobras, cupins, lagartos!
- A virtude de perdoar Uma história em cada canto
a quem perdão não merece. e fantasmas pelos quartos.
Carolina Ramos - SP Nilton Manoel – SP
Não sou ave nem sou peixe, Nos passos do bailarino,
nunca aprendi a nadar, na garganta do cantor,
mas peço a Deus que me deixe em cada tango argentino
num dia desses voar! geme uma história de amor.
Diamantino Ferreira – RJ A. A. de Assis – PR
Palavras ditas à alma O amigo que nos quer bem
num sussurro, é como fosse é aquele que, sem temor,
uma sonata bem calma oculta uma dor que tem
tocada por flauta doce. e vem sanar nossa dor...
Francisco Pessoa – CE Ademar Macedo – RN
Nesta imagem refletida Somos anões sem idade,
(tão bom se o espelho falasse...), a perseguir-te sem tréguas,
quanta história está contida enquanto, felicidade,
nos vincos da minha face! tens botas de sete léguas...
Jeanette De Cnop – PR Carolina Ramos – SP
Ah, o mutirão da pamonha, Na esperança verde e bela
lá na casa de meus pais; há o otimismo de luz!
em mim o menino sonha Se a porta fecha, a janela
um tempo que não vem mais. se abre em par e o sol reluz!
José Marins – PR Dinair Leite – PR
14. 6
Oh, minha mãe, quando eu falho, O que vou fazer agora
tua lágrima rolada se a lembrança não tem fim?
é qual pérola de orvalho Luiz Antonio Cardoso – SP
sobre a rosa machucada!...
Domitilla B. Beltrame – SP Amanhã... Depois... Depois...
Foi assim a vida inteira...
O verde em brasa estalando; E entre os sonhos de nós dois,
uivos doridos da mata: a intransponível fronteira...
gritos horrendos compondo Milton Nunes Loureiro – RJ
uma fúnebre sonata!
Eliana Palma – PR Na vida, lutar, correr,
não me cansa tanto assim...
A saudade dos meus filhos, O que me cansa é saber
dói, machuca, me amordaça. que estás cansada de mim!
Comparo-me aos velhos trilhos, Rodolpho Abbud – RJ
Por onde o trem já não passa.
Francisco Macedo – RN Agora peço somente,
ao tempo de que disponho,
Ausência do bem, o mal que um tempo me dê, paciente,
só traz sofrimento a quem para que eu viva o meu sonho...
não conhece o especial Thereza Costa Val – MG
prazer que é se querer bem!
Jeanette De Cnop – PR Fontes:
Ademar Macedo (RN) – O Trovadoresco n. 67, de janeiro de 2011
A. A. de Assis (PR) Revista Virtual Trovia n.133 – janeiro de 2011
Minha amada foi-se embora A. A. de Assis (PR) Revista Virtual Trovia n. 134 – fevereiro de 2011
para bem longe de mim...
Cláudio de Cápua
Galo Doidão
publicado originalmente na edição número 2 da média de cana e uma enorme goiabeira de frutos
revista Santos Arte e Cultura vermelhos, que, temporã, frutificava o ano inteiro.
Certas cenas indelevelmente ficam registradas, em Certo dia, nossa avó, Maria da Glória, fez-nos uma
nossa mente e, de uma forma ou de outra, marcam surpresa; - trouxe da feira cinco pintinhos, que nos
nossas vidas. Uma delas: eu tinha aproximadamente foram dados de presente. Dois logo morreram, e os
sete anos e Berto, meu irmão, uns três menos. outros três se transformaram em duas frangas e um
Morávamos na Avenida Inajá, hoje Lavandisca, no frango. As frangas logo foram parar na panela, mas
bairro de Indianópolis, em São Paulo. Terreno, com o galo virou bicho de estimação. Nossa família,
20 metros de frente, e 65 de fundos. Na frente, a descendente de italianos, como 85% das famílias
casa de meu avô materno, e nos fundos, a nossa paulistanas, nunca deixava faltar vinho à mesa.
casa. Tínhamos no belo pomar dois pessegueiros, Certo dia, num almoço domingueiro, tio Rafael,
limoeiro, laranjeira, ameixeira e dois pés de figo, irmão de minha mãe, molhou miolo de pão num
sendo que um deles era raro, figo branco. E ainda resto de vinho e arremessou-o pela janela, em
uma parreira de uvas rosé, um pé de louro, touceira direção ao nosso galo. Petisco de imediato
15. 7
devorado. Resultado: o galo pôs-se a cantar fora de sempre a marca de sua integridade e força de
hora. trabalho. Ainda no jornalismo, tornou-se professor de
jornalismo eletrônico, na Universidade Mackenzie,
Berto, meu irmão, embora pequeno, era vivo e na década de 80.
arteiro. Viu o que o pão e o vinho fizeram ao galo e
passou a repetir a arte a qualquer hora do dia ou da Cláudio de Cápua fez ainda algumas incursões
noite. E, após algum tempo, o galo assumiu um ritual pelas artes dramáticas, tendo participado como ator
todo seu. Devorava o petisco, subia no tanque, no filme "A Marcha" baseado no romance de Afonso
pulava para o muro da vizinha, de onde saltava para Schmidt. Na televisão, foi ator coadjuvante na
o telhado do tanque e depois para o telhado da telenovela "Hospital" da extinta TV Tupi, isso em
casa. E, aí, ele percorria o telhado, até a frente da 1971, e na TV record trabalhou como assistente de
residência e bem no alto da cumeeira punha-se a produção de externas na telenovela "O Leopardo".
cantar, a qualquer hora do dia ou da noite, para uma
platéia de transeuntes que paravam diante da casa, Cláudio de Cápua atuou sempre de forma marcante
abismados com o espetáculo daquele galo doidão, na vida literária paulista, tendo participado
sem entender as razões de sua estranha euforia. ativamente de diversas eleições da União Brasileira
de Escritores. Nesta entidade deixou marcas de sua
CLÁUDIO DE CÁPUA defesa intransigente dos direitos do escritor, e tem
O dia oito de março marca a data do nascimento de lutado pela divulgação de suas obras e do
Cláudio de Cápua, que é natural de São Paulo, e pensamento do escritor paulista. Nenhum
que em 1960 mudou-se para Araraquara, tendo mais movimento sugnificativo que tivesse por objetivo a
tarde ingressado na Escola Superior de valorização e a divulgação dos escritores e suas
Agrimensura. Paralelamente aos estudos, Cláudio obras deixou de contar com o apoio e iniciativa
começou a colaborar no jornal semanário "A Cidade" decisiva de Cláudio de Cápua. Da mesma forma
onde respondia pela edição da "Coluna do teve ainda atuação destacada junto ao Sindicato dos
Estudante". A partir deste momento, Cláudio não Escritores do Estado De São Paulo e Centro de
parou mais de escrever. Escrever tornou-se a forma estudos Euclides da Cunha de São Paulo.
de comunicação marcante em sua existência. Foi
escrevendo que Cláudio de Cápua passou a Como escritor, Cláudio de Cápua publicou livros que
escrever em jornais paulistanos como a antiga "A não foram brindados com edições fantásticas, mas
Gazeta", "Diário da Noite", "A Tribuna Italiana", que foram procurados avidamente pelos
"Diário Popular"; colaborou também na revista conhecedores das obras de qualidade, esgotando
"Destaque", de Santos, além de outras assim como rapidamente suas edições. Estão nessa categoria, a
ainda em cerca de 30 jornais de bairro, do interior de começar por 1980, a biografia do escritor e político
São Paulo e até de outros estados. Plínio Salgado, livro que alcançou 4 edições e
vendeu 11 mil exemplares mantendo-se durante 9
Em sua volta a São Paulo, Cláudio de Cápua teve semanas entre os livros mais vendidos. (...) Em
de abandonar em definitivo os estudos de 1981, Cláudio de Cápua lançou o livro "Meu
Agrimensura, uma vez que não existia este curso em Caderno de Trovas", editado por Mestre das Artes;
nível superior na Capital. Foi nesta época que anos depois publicou em co-autoria com sua
começou a conviver com poetas como Guilherme de esposa, Carolina Ramos, o livro "Paulo Setúbal -
Almeida, Paulo Bomfim, Judas Isgorogota. Bernardo Uma Vida - Uma Obra", que teve sua primeira
Pedroso, Orlando Brito, Oswaldo de Barros, Antônio edição esgotada em apenas 90 dias. Entre os
Lafayette, Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, projetos de Cláudio de Cápua está a publicação de
Laurindo de Brito, Ibrahim Nobre, só para mencionar um ensaio sobre a revolução de 1924, obra que
os mais conhecidos. Para aperfeiçoar sua vocação demandou muita pesquisa e anos de trabalho.
natural e satisfazer seu desejo de ampliar os
conhecimentos e adquirir um maior lastro Nas palavras de Carolina Ramos, “Ninguém passa
profissional, Cláudio ingressou num curso de pela Trova saindo impune. Rendido aos seus
jornalismo. A partir daí, o jornalismo constituiu-se a encantos, sempre deixa com ela um pedaço do
base de todas as variadas atividades nas quais coração, quando não o coração inteiro. No passado,
Cláudio de Cápua se envolveu e nas quais deixou grandes poetas como Vicente de Carvalho, Martins
16. 8
Fontes, Bilac, Colombina e outros, passaram por ela, Embora concorrente bissexto, Cláudio de Cápua
ainda que de raspão. Naquele tempo, a Trova não conquistou vários prêmios em Concursos de Trovas
tinha a força nem o prestígio que hoje tem. Mas, realizados em território nacional.
convém lembrar que o santista Ribeiro Couto
conquistou Prêmio Internacional com o livro "Jeux de Seu trabalho em prol da Trova, sincero e
l'apprenti animalier", com suas fábulas consideradas despretensioso, merece o respeito daqueles que
superiores às de La Fontaine pela concisão com que cultuam o gênero e fazem do Movimento
eram apresentadas, ou seja, sob o formato de Trovadoresco Nacional, uma das mais ativas e
Trovas.” populares facções da literatura do nosso país.”
Cláudio de Cápua não seria uma exceção. Fonte:
Trechos extraídos do Discurso de Saudação de
Biógrafo, prosador e poeta, esbarrou na Trova e Henrique Novak em recepção a Cláudio de Cápua.
deixou-se cativar por ela. Em 1969, foi um dos 31 de outubro de 1998 . Disponível em
fundadores da "União Brasileira de Trovadores", http://www.de-capua.com/biografia.html
Seção de São Paulo e, desde 1980, faz parte do Excerto da Introdução por Carolina Ramos ao livro
quadro associativo da Seção de Santos. “Canto que eu Canto”, de Cápua.
http://www.de-capua.com/galodoidao.html
A ciência me conduz parecendo não ter fim,
a pensar desta maneira: é o cantar de uma saudade
do excesso, às vezes, de luz, que eu ouço dentro de mim...
pode nascer a cegueira...
A vida às vezes revela
Amanhã... Depois... Depois... certos contrastes assim:
Foi assim a vida inteira... eu – enredado por ela;
E entre os sonhos de nós dois, e ela – a tramar contra mim!
a intransponível fronteira...
Chegaste, os braços abertos,
A penumbra que me invade tranqüila... em tuas andanças,
e que nunca chega ao fim, e plantaste em meus desertos
é a janela da saudade mil sementes de esperanças...
fechada dentro de mim...
Embora colhendo espinhos
A tristeza que me invade, em meu viver malogrado,
17. 9
semeio pelos caminhos que persiste entre nós dois,
bem-me-quer por todo lado... dá mais vida à nossa vida
e mais crença no “depois” ...
Entre caminhos, frementes,
os meus lábios, em volteios, O poeta em sua lida,
dançam valsas diferentes ainda que o mundo o afronte,
na vereda dos teus seios... nos devaneios da vida
vai muito além do horizonte...
Esperança, não me peças
que acredite em tuas juras... O amanhã, que importa agora?
Já me cansei de promessas Que nos importa o depois?...
e me perdi nas procuras... Vamos viver, vida afora,
o imenso amor de nós dois!...
Esta cautela, querida,
Primaveris e frementes na valsa do nosso adeus...
os meus lábios, em volteios,
trocam passos diferentes EU não entendo, Senhor,
sob o manto dos teus seios... a diferença das ruas:
- Umas, repletas de amor,..
Sem direito de sonhar, outras, de amor, sempre nuas.
vagando no mundo, a esmo,
nem sequer pude marcar Teu poder de sedução.
encontro comigo mesmo! e a magia dos teus braços,
levam minha solidão
Se o meu tempo está marcado a percorrer os teus passos ...
e da saudade eu disponho,
invento alguém ao meu lado, Não quero o poder que esmaga
cerro meus olhos e sonho... o sonho com seu furor..
Eu quero o poder que afaga
Sem jamais fazer menção nossos momentos de amor ...
ao destino que a conduz,
a raiz, na escuridão, Do poder tens o infinito,
mantém os ramos na luz!... à fortuna tens direito,
mas não sufoques o grito
Somente tristes lembranças do amor que vive em teu peito...
vão comigo pela estrada...
Eu, que plantei esperanças, Enquanto a noite vagueia
colho derrotas... mais nada... pela minha solidão,
a distância mais ateia
Tarde demais... e as lembranças o fogo desta paixão...
vão comigo pela estrada...
eu que plantei esperanças Esta carta que ora mando
vivo de sonhos... mais nada... a você, com muita ânsia.
é a saudade soluçando
Senhor, escuta os cicios sobre os trilhos da distância
dos excluídos, sem teto...
Troca seus ninhos vazios Liberta este amor profundo
por ninhos cheios de afeto! dos grilhões dos teus desertos,
que o maior Homem do mundo
Tanta ternura mostrando, morreu de braços abertos.
teus olhos – juro por Deus –
são mil promessas bailando Esta pergunta te faço,
18. 10
meu coração sonhador: Delegado, além de poeta/trovador, Milton Loureiro é
- se possuis tão pouco espaço, presidente da UBT, seção de Niterói, há mais de
como guardas tanto amor?... trinta anos, pela qual promove um dos mais
tradicionais Jogos Florais do gênero no país. Essa
Uma verdade patente, realização anual reúne em torno de uma centena de
que não tem contestação: amantes do gênero, além de inúmeras autoridades.
abrir ESCOLA é semente Edita um livro de resultados, em riquíssima
que fecha muita prisão. impressão, com cerca de 60 páginas que, além dos
trabalhos premiados, entre diversas matérias
Apesar dos solavancos ilustrativas traz, aos trovadores, os "Lembretes e
em minha vida sem cor, Recomendações do Presidente Nacional da UBT",
adornei, com lírios brancos, cujo primeiro item dá o seguinte alerta: "Não envie a
nossos segundos de amor... mesma trova para mais de um concurso".
De tanto sofrer na vida, Títulos:
eu peço a Deus, sem revolta: - Cidadão Cantagalense,
- Abra as porteiras da ida, - Cidadão Niteroiense,
feche as porteiras da volta!... - Cidadão Gonçalense,
- Cidadão Benemérito do Rio de Janeiro;
Eu não sei, meu Deus, por que,
tendo a vida em desalinho, Membro:
encontro sempre você - Academia Brasileira da Trova;
ao longo do meu caminho. - Academia Niteroiense de Letras e Artes, e
- Academia Ateneu Angrense de Letras e Artes.
Neste mundo passageiro,
a vida, que vai fluindo, Autor dos livros:
é um intervalo ligeiro, “Sonetos de Outono”
dois silêncios dividindo... “Dos Sonhos Brotaram Versos” e
“Varanda dos Sonhos”
Milton Nunes Loureiro (1925- 2011)
Milton Nunes Loureiro nasceu em Campos- Fontes:
Falando de Trova
RJ, a 09 de junho de 1925.
Silvia Araujo Motta
Radialista, jornalista, apresentador de
programas de TV, Escrivão de Polícia, Advogado,
Francisco José Pereira
A Velha Senhora e seus Cachorros
A velha senhora vivia só, preferira assim. Alegou razões conhecidas, atribuindo-lhes caráter
de irreversibilidade. Assim, as filhas poderiam sentir-
Quando ficou viúva, suas duas filhas propuseram se consoladas ou redimidas. Disse-lhes:
levá-la. Ela não quis. - Assim sozinha e tão longe,
mamãe - ponderaram, inutilmente. - Casei aqui, nesta casa que ele mesmo construiu.
Vocês nasceram aqui, viveram aqui e também
Embora não fosse necessário, e tampouco elas casaram aqui. Ele morreu aqui. E eu vou morrer
houvesses pedido, a velha senhora justificou-se. aqui.
19. 11
- Ô mãe, que bobagem, - em uníssono. Sem que também de pequena horta, com o mesmo desvelo
pudessem dissimular um certo tom de conforto. dele, e preparava sem prazer o parco almoço.
Uma eternidade parecia separá-la das meiguices de Nas tardes longas e ociosas, senta-se no degrau
suas meninas. Elas cresceram e foram perdendo mais alto da escada lateral, que dá acesso à sala,
aquela ternura. Ele acompanhara esse lento e toma Zimbo no colo, com o Xapado sentado no
natural distanciamento delas, e lamentava. Ela degrau abaixo, e os faz confidentes de infindáveis
também acompanhara, mas sem lamentar. Afinal a revelações de seu tempo de menina, de sua
vida é mesmo assim, fora assim também com ela, adolescência, e sobretudo de sua vida feliz junto a
bifurcando-se igualmente lenta e definitiva. Elas ele.
casaram e procriaram com genros chatos. Ele os
estima, ela não - e com razão. Por onde, afinal, Nessas ocasiões, como acontece também com a
andavam durante o calvário da penosa enfermidade gente, Zimbo se deixa envolver pelo hipnótico som
que terminou por matá-lo? Só ela, solitária, estivera da velha senhora, cochila e dorme. Desperta
ali, na hora de fechar-lhe os olhos. Depois vestiram minutos depois, apruma-se com olhos de espanto,
lutos, todos. Os netinhos inclusive, com tarjeta preta sacode repentinamente a cabeça num eficaz esforço
na manga da camisa curta. Coitados, três pequenos para afastar o sono, e não cochila mais. Xapado,
idiotas. este sempre desligado, logo estendia suas pernas
traseiras e dormia a sono solto.
As filhas a visitavam com alguma frequência e
traziam os netos que cresciam sem que ela se desse Vencidas as longas tardes, segue-se repetitivo ritual.
conta. E tampouco se deu conta de como as visitas A velha senhora se levanta, beija Zimbo, acaricia
das filhas, com o tempo, se tornaram cada vez Xapado e os afugenta com delicadeza para os
menos frequentes e, agora, já muito raras. Raras fundos do quintal. Ambos obedecem, caminhando a
mesmo. passos lentos e em silêncio, com as compridas e
úmidas línguas lambendo seus gelados focinhos -
Mas havia seus cachorros. um antigo e atávico cacoete.
Ela sempre os tivera, dividindo com ele um igual Há dias em que Zimbo sente vontade de alertar
carinho pelos bichos. Foram vários. Agora restavam Xapado para a recente tristeza da velha senhora.
apenas esses dois, que haviam chorado com ela a Esta tristeza, preocupava Zimbo, não era como as
morte dele: o mais velho, Zimbo, tão velho quanto outras tristezas, tão antigas e conhecidas desde a
ela - exagerava, obviamente- e o Xapado, que morte dele. Essa nova tristeza era uma tristeza que
chegou bem depois, à época em que surgira a lhe reduzia o cheiro. E isso, Zimbo sabia, não era
enfermidade dele, e fora ele quem o trouxera e lhe boa coisa. Mas não dissera nada ao Xapado, porque
dera o nome. este - desde pequeno - se revelara um cachorro
retardado ou de poucos ouvidos.
A velha senhora passava parte dos dias falando com
seus cachorros. Não só porque carecesse de gente Em verdade, essa tristeza que preocupava Zimbo
com quem falar - o que era um fato - mas porque tomara forma quando a velha senhora, há algum
eles a entendiam e compartilhavam seus pesares e tempo já, percebera, acabrunhada, uma insuportável
sua solidão. fadiga que - ela se convencera - iria prostrá-la
definitivamente. E, desde então, um sentimento de
Há muitos séculos, aliás, que humanos e cães que sua vida se tornara inútil instalara-se
partilham seus alimentos, suas moradais e suas dolorosamente em seu coração. Após anos de
vidas. Neste planeta fortuito,entre outras formas de tantas ausências a velha senhora finalmente
vida que nos circundam,nenhuma - exceto o cão - sucumbia à sua imensa solidão.
tem feito aliança conosco.
Suas pernas já nem sempre lhe obedeciam,
Após o café matinal, a velha senhora seguia sua seguindo, cansadas, direção que ela não pretendia.
antiga rotina de afazeres domésticos que, há muito Os pulmões respirando menos ajudavam menos,
sozinha, já se reduzido a quase nada. Ocupava-se quando as pernas cansavam. A cabeça insistia em
20. 12
se esquecer, só tendo lembranças muito antigas. distante dele, arrastava as patas na vegetação rala,
Espantou-se, por fim, quando a cabeça embaralhou buscando, paciente, algo que só ele aparentemente
dia e mês da morte dele. E, então, se horrorizou no sabia.
limite do desespero, temendo que viesse a
esquecer-se de si mesma. Foi quando decidiu não Serviu-lhes a ração, como fazia a cada manhã;
esperar mais pela morte que se tardava tanto, e desta vez, porém, em quantidade excessiva. Zimbo
começou a organizar sua morte com pungentes comeu lenta e passivamente, como se já houvesse
cuidados. esquecido seus premonitórios uivos. Xapado, como
sempre, digeriu vorazmente sua ração.
Utilizaria o veneno que ele trouxera para ser usado
quando o suplício da dor lhe fosse insuportável. Após, como também era costume, estendeu-lhes as
Tinha efeitos semelhantes ao arsênico, dissera, e a pequenas tinas com água - agora com o veneno
ensinou como preparar a dose que ela deveria servir dissolvido em ambas. Zimbo fixou seus olhos
a ele. O suplício dele se estendeu e a dor o matava remelentos nos olhos exauridos da velha senhra,
lentamente, mas ela não teve coragem. Ele morreu, lambeu-lhe os pés, que já haviam perdido o antigo
já sem dor, agradecendo o gesto dela. cheiro, bebeu a água envenenada de sua tina, e
toda a água da tina do Xapado - antes que este a
Pensou, sem mágoas, em suas filhas que não bebesse.
apareciam. E resolveu, aflita, não abandonar os
cachorros, temendo que eles fossem recolhidos por A velha senhora perturbou-se e, sem ânimo para
mãos malvadas. Havia suficiente veneno para os entender o incidente, voltou à cozinha, encheu a tina
três. de água com nova dose de veneno e depositou-a na
frente de Xapado, que se deteve confuso. Zimbo,
Na véspera, à noite, ela preparou meticulosamente e com seus movimentos já muito afetados pela ação
com estranha frieza - da qual, aliás, já não tinha do veneno que agia rápido, ainda teve forças para
consciência - doses adequadas de veneno. Não impulsionar as patas dianteiras e derramar,
havia nela qualquer outra emoção, senão a de novamente, a água da tina do Xapado.
concluir, com isenção, esses ritos finais.
Só então a velha senhroa percebeu nos olhos
Desde o quintal, chegavam uivos que - também à moribundos de Zimbo sua derradeira súplica pela
véspera - haviam anunciado a morte dele. Como vida de Xapado. Não teve tempo sequer de afagá-lo,
soubera Zimbo? E como soube agora, se ela apenas Zimbo não se movia mais.
pensara sozinha? E tem gente que não crê na
percepção sensorial dos cachorros! - exclamou Com a alma esvaindo-se, a velha senhora retornou a
baixinho. Ou, quem sabe, é a morte que lhes avisa? casa. Esqueceu-se de fechar a porta e de se banhar,
- indagou-se ainda, já muito abalada. E dormiu tarde. como pretendera. Sentiu-se aliviada, enquanto
sorvia o veneno no copo, escutando, lá fora, latidos
Despertou cedo. Com o café, comeu mais torradas alegres do Xapado provocados pelo prazer da
do que normalmente comia, pois com o estômago barriga cheia.
vazio - acreditava assim - a dor do veneno seria
maior. Tomaria cuidados iguais com os cachorros. Fonte:
PEREIRA, Francisco José. Contos Completos. Florianópolis:
Garapuvu, 2006. Disponível em
No quintal, Zimbo se movia em pequenos círculos http://grandesautorescatarinas.blogspot.com/
sem parar, num verdadeiro desassossego. Xapado,