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Revista Literária
                                                                   ―O Voo da Gralha
                                                                        Azul‖
                                                             n0. 8 – Paraná, setembro/outubro/novembro 2011

         Idealização, seleção e edição:
                José Feldman

       Contatos, sugestões, colaborações:
      pavilhaoliterario@gmail.com
      voodagralhaazul@gmail.com
http://singrandohorizontes.blogspot.com
        Endereço para correspondencia:
          Rua das Mangueiras, 296-A
                Cep.87080-680
                 Maringá/PR




Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito
ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!!



                                                   Prezado Leitor

    Este almanaque não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou
não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado.
   Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão
da cultura, em todas as suas manifestações.
   Ao leitor, novos conhecimentos.
    Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração.
                     Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,
                                                                                  José Feldman
SUMÁRIO

ACADEMIAS                                                                                               ESTANTE DE LIVROS

ACADEMIA CAMPINENSE DE LETRAS ......................................... 155                             ANTONIO BRÁS CONSTANTE
                                                                                                        Hoje é seu Aniversário! "Prepare-se".......................................122
ADEMAR MACEDO                                                                                           ÁTILA JOSÉ BORGES
                                                                                                        Matando o Porco. Eu Contos .....................................................166
MENSAGENS POÉTICAS N. 399                                                                               BRANQUINHO DA FONSECA
Uma Trova Nacional ................................................................ 163                 O Barão ..................................................................................... 43
Uma Trova Potiguar ................................................................ 164                 CAROLINA RAMOS
Uma Trova Premiada ............................................................... 164                  Lançamento do Livro de Poesias ―Destino‖ ................................. 3
Uma Trova de Ademar ............................................................. 164                   GUIMARÃES ROSA
...E Suas Trovas Ficaram ......................................................... 164                  7 Contos do Livro Primeiras Histórias
Estrofe do Dia .......................................................................... 164           Sorôco, sua mãe, sua filha ........................................................ 74
Soneto do Dia .......................................................................... 164            A menina de lá .......................................................................... 75
                                                                                                        Os irmãos Dagobé ...................................................................... 76
BIOGRAFIAS                                                                                              Pirlimpsiquice........................................................................... 77
                                                                                                        Fatalidade ................................................................................. 78
Abílio César Borges ...................................................................29               Substância................................................................................. 79
Adalcinda Camarão ....................................................................25                A partida do audaz navegante ................................................... 80
Adelto Gonçalves .......................................................................18              ISABEL FURINI (ORGANIZADORA)
Anderson Braga Horta ............................................................. 142                  Passageiros do Espelho (Antologia de Contos) ..........................164
Antonio Brás Constante ............................................................ 122                 JOÃO UBALDO RIBEIRO
Antônio Cândido da Silva ...........................................................67                  O Sorriso do Lagarto.................................................................168
Branquinho da Fonseca .............................................................45                   JOSÉ MARINS (ORGANIZADOR)
Carlos Reverbel ..........................................................................88            A brisa é você: Mini contos.......................................................101
Cláudio Batista Feitosa ...............................................................69               LYA LUFT
Emilia Pardo Barzón ............................................................... 137                 A Asa Esquerda do Anjo ............................................................ 89
Fernando Campanella .............................................................. 154                  MARIO QUINTANA
Glorinha Rattes ........................................................................ 134            80 anos de poesia ...................................................................... 72
Jardel Estevão Barbosa Silva ................................................... 150
Jussára C. Godinho ....................................................................59               FOLCLORE
Lafcádio Hearn ―Koizumi Yakumo‖............................................86
Laurindo Rabelo ........................................................................48              O Amigo da Onça ......................................................................145
Lya Luft ......................................................................................90
Natália Correia ........................................................................ 101            HAICAIS
Nilton da Costa Teixeira ........................................................... 130
Nilton Manoel.............................................................................10            NILTON MANOEL
Raul de Leoni .......................................................................... 160            Poesia Magica (haicais)................................................................ 5
Valdeck Almeida de Jesus .........................................................96
Victor Giudice ......................................................................... 125
                                                                                                        MENSAGEM
CINEMA                                                                                                  ARISTÓTELES ONASSIS
                                                                                                        Talvez ........................................................................................ 1
Obras de Shakespeare no Cinema ............................................. 120
                                                                                                        O ESCRITOR COM A PALAVRA
CURIOSIDADES DE NOSSA LÍNGUA
                                                                                                        A. A. DE ASSIS
VÍCIOS DE LINGUAGEM                                                                                     A Moça do Jipe .......................................................................... 27
Tautologia ................................................................................ 147         ALBERTO PACO
                                                                                                        Uma Estranha Mulher ...............................................................162
ENTREVISTA                                                                                              ANTONIO BRÁS CONSTANTE
                                                                                                        A Partida Do Homem Mais Veloz Do Mundo ..............................118
IALMAR PIO SCHNEIDER                                                                                    Contos da Delegacia Brasil ........................................................121
O Homem atrás do escritor, o Escritor atrás do homem .............55                                    Mamãe, a Professora Sumiu!.....................................................110
                                                                                                        Uma Feira de Doces para Alimentar o Pensamento .................... 81
                                                                                                        ANTÔNIO CÂNDIDO DA SILVA
                                                                                                        Bar do Zizi ................................................................................ 66
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA                                                                           Ode à água ...............................................................................142
Celulares ....................................................................................52      ARTHUR RIMBAUD
ARTHUR RIMBAUD                                                                                        O barco ébrio ...........................................................................104
Aurora — XXII ....................................................................... 106             Vogais ......................................................................................105
ARTUR DE AZEVEDO                                                                                      Minha boêmia (Fantasia) ..........................................................105
A Ama-Seca ................................................................................12         BRANQUINHO DA FONSECA
A "Não-me-toques!‖ ..................................................................32               Naufrágio .................................................................................. 42
CAROLINA RAMOS                                                                                        Arquipélago das sereias ............................................................ 42
Do Cotidiano ................................................................................ 2       Castanheiros, irmãos… .............................................................. 42
CINTIAN MORAES                                                                                        FERNANDO CAMPANELLA
A diferença entre Viver Bem e Viver Melhor ...............................93                          Ao vento ...................................................................................151
DIEGO OLIVEIRA                                                                                        Ninféias ....................................................................................152
Um Minuto ............................................................................... 102         Luz cadente ..............................................................................152
EMILIA PARDO BAZÁN                                                                                    Refabulando .............................................................................152
Oito Nozes ................................................................................ 135       Capela dos ossos .......................................................................152
FERNANDO CAMPANELLA                                                                                   La Campanella ..........................................................................152
Conversa de Compadres ............................................................ 150                A media luz ..............................................................................153
HUMBERTO DE CAMPOS                                                                                    Alquimia ..................................................................................153
A Rosa Azul ................................................................................. 4       Olhos ........................................................................................153
O Filósofo ...................................................................................40      Tua beleza................................................................................153
INGLÊS DE SOUSA                                                                                       Consummatum .........................................................................153
A Quadrilha de Jacob Patacho ....................................................59                   Frutos da terra .........................................................................153
JARDEL ESTEVÃO BARBOSA SILVA                                                                          Pássaros ...................................................................................154
O Perfume ................................................................................ 148        GLORINHA RATTES
J.B.XAVIER                                                                                            Desabafo ...................................................................................133
A Espera .....................................................................................11      Espelho ....................................................................................133
JORGE LUIS BORGES                                                                                     Exemplo de vida.......................................................................133
O Outro .................................................................................... 106      O que fica .................................................................................134
JUSSARA C. GODINHO                                                                                    Sublime amor .........................................................................134
Meninos de rua ..........................................................................51           JUSSARA C GODINHO
LAFCÁDIO HEARN                                                                                        Amor, sentimento estranho ....................................................... 59
A Promessa ................................................................................83         LAURINDO RABELO
LUIS FERNANDO VERÍSSIMO                                                                               ―O que fazes, ó minh’alma?‖ .................................................... 46
Metamorfose............................................................................. 123          Dois impossíveis ........................................................................ 47
MIGUEL FALABELLA                                                                                      LYA LUFT
Saudade .....................................................................................97       Canção na plenitude .................................................................. 82
NILTO MACIEL                                                                                          NATÁLIA CORREIA
Vou ser herói, Maria ..................................................................31              ―A defesa do poeta‖ ................................................................. 98
OTTO MELANDER                                                                                         Fiz um conto para me embalar .................................................. 99
A Mulher e o Cachorro ................................................................70              Auto retrato .............................................................................. 99
PETRUS ALPHONSUS                                                                                      Queixa das almas jovens censuradas ......................................... 99
Humor do Século XII ................................................................ 144              Ode à paz .................................................................................100
SAMUEL CASTIEL JR.                                                                                    A alma......................................................................................100
Noturnas ....................................................................................68       Falavam me de amor ................................................................100
VICÊNCIA JAGUARIBE                                                                                    NILTON DA COSTA TEIXEIRA
Mas a vida...A vida não se passa a limpo ....................................22                       A fonte luminosa ......................................................................132
VICTOR GIUDICE                                                                                        PADRE CELSO DE CARVALHO
O Arquivo ................................................................................. 124       A lenda dos caminhos ..............................................................102
                                                                                                      Soneto .....................................................................................103
POESIAS                                                                                               Diamantina em serenata ...........................................................103
                                                                                                      RAUL DE LEONI ..............................................................................
ADALCINDA CAMARÃO                                                                                     A hora cinzenta ........................................................................158
Bom dia, Belém ..........................................................................24           Argila .......................................................................................158
Espaço-tempo .............................................................................25          Decadência ...............................................................................158
ANDERSON BRAGA HORTA                                                                                  Transubstanciação ...................................................................158
Salmo para Célia ..................................................................... 139            Desconfiando ............................................................................159
A tartaruga............................................................................... 140        ― Almas desoladoramente frias…‖ ...........................................159
Sísifo ........................................................................................ 141   Crepuscular ..............................................................................159
Rio ........................................................................................... 141   Unidade ....................................................................................159
(A)mar(o) ................................................................................. 141       Pudor .......................................................................................159
Ciranda .................................................................................... 141      Prudência .................................................................................160
Aos que sonham ....................................................................... 160          JUSSARA C. GODINHO
SAMUEL CASTIEL JR.                                                                                  Trovas ....................................................................................... 52
Flor Tropical .............................................................................67       NILTON DA COSTA TEIXEIRA
VALDECK ALMEIDA DE JESUS                                                                            Trovas dispersas ......................................................................132
A vida pulsa ..............................................................................95       NILTON MANOEL (SP)
Coração de pedra ........................................................................95         Trovas ....................................................................................... 10
Cicatrizes ...................................................................................95    TROVAS
                                                                                                    Tema: Paciência ........................................................................ 19
SOPA DE LETRAS                                                                                      TROVAS EM IMAGEM
                                                                                                    A. A. de Assis (PR) ..................................... 12,18, 35, 89, 104, 110
ADELTO GONÇALVES                                                                                    Ademar Macedo (RN) ................................................................. 55
Cinco séculos de poesia brasileira ..............................................15                 Alberto Paco (PR) ...................................................................... 95
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL ...............................................50                      Austregésilo de Miranda Alves (BA) ........................................... 41
                                                                                                    Dáguima Verônica (MG) ............................................................. 66
                                                                                                    Élbea Priscila de Souza e Silva (SP)........................................... 15
TROVAS                                                                                              Francisco Pessoa Reis (CE) .............................................................
                                                                                                    Hermoclydes S. Franco (RJ) ...................................................... 21
A. A. DE ASSIS                                                                                      Nemésio Prata Crisóstomo (CE) .............................................. 9, 31
Tábua de Trovas ........................................................................35          Wagner Marques Lopes (MG) ...................................... 5, 27, 50, 70
BAÚ DE TROVAS                                                                                       WALDIR NEVES
Nova Friburgo 1960 ................................................................. 111            Trovas ......................................................................................177
ELIANA RUIZ JIMENEZ                                                                                 XVII JOGOS FLORAIS DE CURITIBA
Trova-Legenda (Participe!) ....................................................... 175              Regulamento ............................................................................174
Trovas de 9 a 15 de outubro .................................................... 176
IALMAR PIO SCHNEIDER
Trovas ........................................................................................58




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                ARISTÓTELES ONASSIS
                                                          Mensagem
                                                          Talvez algumas pessoas queiram o meu mal.
                      TALVEZ                              Mas irei continuar plantando a semente da fraternidade
                                                          por onde passar.
Talvez eu venha a envelhecer rápido demais.
Mas lutarei para que cada dia tenha valido a pena.        Talvez eu fique triste ao concluir que não consigo seguir o
                                                          ritmo da música.
Talvez eu sofra inúmeras desilusões no decorrer de        Mas então, farei que a música siga o compasso dos meus
minha vida.                                               passos.
Mas farei que elas percam a importância diante dos
gestos de amor que encontrei.                             Talvez eu nunca consiga enxergar um arco-íris.
                                                          Mas aprenderei a desenhar um, nem que seja dentro do
Talvez eu não tenha forças para realizar todos os meus    meu coração.
ideais.
Mas jamais irei me considerar um derrotado.               Talvez hoje eu me sinta fraco.
                                                          Mas amanhã irei recomeçar, nem que seja de uma
Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda.     maneira diferente.
Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão.
                                                          Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias.
Talvez um dia o sol deixe de brilhar.                     Mas terei a consciência que os verdadeiros ensinamentos
Mas então irei me banhar na chuva.                        já estão gravados em minha alma.

Talvez um dia eu sofra alguma injustiça.                  Talvez eu me deprima por não ser capaz de saber a letra
Mas jamais irei assumir o papel de vítima.                daquela música.
                                                          Mas ficarei feliz com as outras capacidades que possuo.
Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos.
Mas terei humildade para aceitar as mãos que se           Talvez eu não tenha motivos para grandes
estenderão em minha direção.                              comemorações.
                                                          Mas não deixarei de me alegrar com as pequenas
Talvez numa dessas noites frias, eu derrame muitas        conquistas.
lágrimas.
Mas não terei vergonha por esse gesto.                    Talvez a vontade de abandonar tudo torne-se a minha
                                                          companheira.
Talvez eu seja enganado inúmeras vezes.                   Mas ao invés de fugir, irei correr atrás do que almejo.
Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém
merece a minha confiança.                                 Talvez eu não seja exatamente quem gostaria de ser.
                                                          Mas passarei a admirar quem sou.
Talvez com o tempo eu perceba que cometi grandes          Porque no final saberei que, mesmo com incontáveis
erros.                                                    dúvidas, eu sou capaz de construir uma vida melhor.
Mas não desistirei de continuar trilhando meu caminho.
                                                          E se ainda não me convenci disso, é porque como diz
Talvez com o decorrer dos anos eu perca grandes           aquele ditado: “ainda não chegou o fim”
amizades.                                                 Porque no final não haverá nenhum “talvez” e sim a
Mas irei aprender que aqueles que realmente são meus      certeza de que a minha vida valeu a pena e eu fiz o
verdadeiros amigos nunca estarão perdidos.                melhor que podia.
2


                                        Carolina Ramos
                                          Do Cotidiano


Fim de tarde. Friozinho abelhudo penetrava          Disfarçou, fingindo não vê-lo. Foi puxado pela
por onde quer que lhe fosse permitido entrar,       manga.
encolhendo ombros e aconchegando corpos.
                                                    – Moço, me dá um dinheirinho? Tô cum fome.
Pressa. Pressa de voltar para casa. De rever a
esposa, os filhos, os entes queridos. Pressa de     Era tudo que não queria ouvir! Engoliu a
trocar os sapatos pela comodidade dos chinelos      saliva que o reflexo, condicionado à chegada
velhos, das meias de lã, ma maioria das vezes       do hamburger, lhe fizera crescer na boca.
furadas no dedão. Pressa de sumir dentro do
pijama quentinho. De saborear o jantar              – Hoje não, meu filho…Não tenho trocado. –
fumegante e depois esparramar-se na                 Procurou ignorar a presença incômoda do
poltrona, frente à TV para cochilar e falar mal     menino, saboreando, com os olhos, a iguaria,
dela.                                               cujo aroma lhe excitava as glândulas salivares.
                                                    Apertou o hamburger com volúpia, fazendo o
Fim de tarde fria. Noite a insinuar-se, mais fria   ―catchup‖ escorrer pelas bordas. Chegou a
ainda.                                              abrir a boca para a primeira mordida, não
                                                    consumada.
Sem esposa, nem filhos, sem aquela pressa que
movia tantas pernas, Reginaldo caminhava            Ao seu lado, o garoto permanecia fascinado
sem motivação maior, arrastando os passos           pelo petisco fumegante, entre fritas e folhas de
até a lanchonete mais próxima, menos cheia          alface.
de gente descompromissada, como ele, e,
portanto, menos tumultuada pelo vozerio das         Reginaldo engoliu em seco. Tivesse dinheiro no
massas.                                             bolso e tudo estaria resolvido. O remorso
                                                    antecipou-se à consumação, importunando-o
Roído de fome, passou a perna por sobre a           mais do que a própria fome. Pensou em divir o
banqueta redonda, repousando os cotovelos           pitéu. Lambuzou-se todo! Os olhos do garoto
no balcão de formica. Consultou os bolsos. Eles     continuavam,     gulosos,    namorando       o
é que ditavam o pedido. Os apelos do                hamburger.
estômago eram secundários. Fim de mês.
Minguava, no fundo da algibeira, a carteira         Capitulou. Pediu um saquinho de papel e
murcha. Não dava para muito. E, justamente          encheu-o de batatas fritas. Embrulhou o
naquele início frio de uma noite que prometia       hamburger num guardanapo e entregou-o,
ser gélida, sentia uma fome de cão vadio!           inteiro, à fome que se estampava na carinha
                                                    esquálida. E achou que seria pouco!
– Um hamburger com fritas. Ah… e um
cafezinho pingado.                                  Alegria e surpresa coloriram a face ´pálida do
                                                    menino que balbuciou qualquer coisa
– Bebida?                                           ininteligível e disparou porta afora, temeroso
                                                    de possível arrependimento.
Lembrou-se da carteira murcha.
                                                    Sobraram para Reginaldo, desapontamento e
– Não…obrigado. Só o cafezinho.                     frustração total!

Aguardou, impaciente.                               Perdera o jantar! A fome continuava firme. E
                                                    a fuga precipitada roubava-lhe, ainda, a
Chegaram juntos: – o hamburger e o garoto           modesta      satisfação    do     espetáculo
de olhos tristes. Seis ou sete anos, no máximo.     proporcionado pela sua renúncia. Queria ver
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                                             3
morrer a fome do guri! Fome a ser morta por        a mãe, maltrapilha, e com mais duas crianças,
ele! Morte da qual não se arrependeria,            sua finada refeição.
jamais! Direito seu!
                                                   O sorriso do menino foi, sem dúvida, o que de
Contentou-se com o cafezinho morno e duas          mais gratificante recebera da vida!
fritas sobradas no prato. E enfrentou
novamente a noite, mais fria do que antes,         A caminho da modesta vaga que ocupava,
ignorando os reclamos do estômago vazio.           numa casa de cômodos, esqueceu-se da fome.
                                                   Chegou mesmo a envergonhar-se dela!.
Meio quarteirão adiante, uma surpresa.             Fonte:
Sentado na calçada, encostado à parede, o          RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos.SP: EditorAção, abril 1993.
mesmo garoto, olhos menos tristes, dividia com


                                       Carolina Ramos
                                  Lançamento do Livro
                                  de Poesias ―Destino‖,
                                  em 23 de Novembro
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                               4




                                  Humberto de Campos
                                        A Rosa Azul


       O    comendador Luiz de Faria
            acabava de fechar os olhos à velha
marquesa de São Justino, adoçando-lhe o
                                                    O comendador interrompeu um momento a
                                                    narrativa, recostou-se na almofada, e
                                                    continuou:
momento da morte com a noticia alvissareira
e mentirosa da completa regeneração do seu          A sua paciência de jardineiro era absorvida,
neto, o estudante Guilherme de Araújo,              entretanto, por uma idéia, que era um sonho:
quando o encontrei à porta da casa funerária,       encontrar a rosa azul das legendas do Oriente,
à espera do seu automóvel. Abalado, ainda,          de que tivera noticia, uma noite, ao ler os
pela emoção daquele instante, em que tivera         poemas latinos dos velhos monges medievais.
de lançar mão de uma falsidade para                 Para isso, casava ele as sementes, os brotos,
perfumar o último sopro de uma vida de              fundia os enxertos, combinando as terras, com
virtudes e sofrimentos, o antigo par do reino       que as cobria, e as águas, com que as regava,
português aceitou um lugar no meu ―taxi‖, e         esperando, ansioso, o aparecimento, no topo
confessou-me, em viagem:                            da haste, do sonhado botão azul! Ao fim de
                                                    setenta anos de experiências e sonhos, em que
- A mentira, meu amigo, é, às vezes, uma            se lhe misturavam na imaginação as chagas
necessidade. Aquela de que me socorri há            vermelhas de Cristo e as manchas celestes da
meia hora, para suavizar a morte de uma             sua rosa encantada, surgiu, afinal, no
santa, de uma senhora cuja maior esperança          coroamento de um galho de roseira, um botão
consistia no futuro de um neto que se               azul, como o céu. Centenário e curvado, o
desgarrara do lar, era tão necessária como a        velhinho não resistiu à emoção; adoeceu, e,
do prior da Cartuxa para alegrar a agonia           conduzido à cela, ajoelhou-se diante do
daquele célebre monge do Bussaco.                   Crucificado, pedindo-lhe, entre soluços
                                                    pungentes, que, como prêmio à santidade da
Eu olhei, interrogativamente, o meu                 sua vida, não lhe cerrasse os olhos sem que eles
companheiro de viagem, e ele, percebendo a          vissem, contentes, o desabrochar da sua rosa
ignorância, indagou, com admiração:                 azul.

- Não conhece, então, a lenda da rosa azul?         Uma nova pausa, e o meu companheiro
                                                    tornou:
À minha afirmativa, que lhe pareceu estranha,
o comendador apoiou as mãos robustas no             - Em volta do santo velhinho, no catre do
castão de ouro da bengala, e contou:                mosteiro, todos choravam, compungidos. E foi,
                                                    então, que, divulgada de boca em boca, foi a
- No Mosteiro da Cartuxa, no Bussaco, em            noticia ter a um convento das proximidades,
Portugal, vivia, em séculos que já se foram, um     onde jazia, orando e sonhando, uma linda
piedoso e santo monge, cuja vida se consumia,       infanta de Portugal. Moça e formosa, e, além
inteira, entre a oração e as rosas. Jardineiro da   de formosa e moça, – fidalga e portuguesa,
alma e das flores, passava ele as manhãs de         compreendeu a pequenina freira, no jardim
joelhos, no silencio da nave, aos pés de um         do seu sonho, o valor daquela ilusão, e correu
Cristo crucificado, e as tardes, no pequeno         à sua cela, consumindo toda uma noite a
jardim da ordem, curvado diante das roseiras,       fazer, com os seus dedos de neve, uma viçosa
que ele próprio plantava e regava.                  flor de seda azul, que perfumou, ela própria,
                                                    com essência de gerânio. E no dia seguinte,
                                                    pela manhã, morria no seu catre, sorrindo
                                                    entre lágrimas de alegria, por ter nas mãos
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                          5
tremulas, por um milagre do céu, a sua rosa        - Feliz, meu amigo, aquele que morre, como
azul!                                              esse monge e a marquesa, apertando nas
                                                   mãos a rosa, mesmo mentirosa, de uma roseira
O ―taxi‖ parava no meio-fio da calçada, o          de que cuidou toda a vida.
comendador acrescentou, estendendo-me a
mão agradecida:                                    Fonte:
                                                   Domínio Público




                                        Nilton Manoel
                                       Poesia Magica
                                         (haicais)
     1                                             7
     Chove… Noite longa!                           Música na rua!
     Insone faço barquinhos                        O caminhão passa e vejo
     e a aurora não chega.                         meu fogão sem gás!
     2                                             8
     No céu estrelado,                             Menino de rua,
     a bola redonda, agita,                        - dorme e sonha à porta da igreja -,
     o dia das bruxas.                             sem família e escola.
     3                                             9
     É noite. Os barulhos                          Dois corpos inertes.
     são tantos… e um pernilongo,                  Sangue escorrendo no chão!
     deixa-me acordado.                            Há droga no crime?
     4                                             10
     Muro antigo, os bichos,                       Na estreita calçada,
     movimentam-se, com medo                       o bípede e o quadrúpede,
     de uma lagartixa.                             desfilam na corrente.
     5                                             11
     Famintos de espaço,                           Calça desbotada,
     cupins, mudam de lugar,                       rasgada, cós baixo… é a moda!
     nas tábuas da mesa,                           Quanta mulher linda!
     6                                             12
     Na cômoda antiga,                             Rua descalça:
     um jornaleiro de louça!                       - o povo clama e reclama,
     O guri se foi.                                e o prefeito? Viaja!
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No escuro da rua,                            Um tiro no escuro.
alguém corre e agita a mão,                  A estrela sai de cartaz
ao táxi que passa.                           e a platéia chora.
14                                           27
Na grama verdinha                            Boteco de esquina,
a perereca faz cooper                        o pai ausente, acredita
e assusta a madame.                          que, a família, é chope.
15                                           28
No verão há menos                            Brisa leve. Velas
fofoqueiros que, no inverno.;                aromáticas nos ares…
o sorvete acalma!                            Rituais diversos.
16                                           29
A ágil libélula,                             Na ausência da lua,
voa e sobrevoa, a fonte.                     namorados de esquina,
da praça da escola.                          se esquecem do mundo.
17
Na praça, a menina,                          30
namora, entre belas flores.                  Na manhã de Sol,
É um buquê de sonhos!                        a libélula descansa,
18                                           num varal de roupas.
Em céu de bons ventos                        31
e a meninada feliz,                          Campo Santo, a brisa
solta pipa e canta.                          da madrugada, clareia,
19                                           idéias macabras.
A mosca chateia,                             32
o corpo suado do chapa,                      Delicia de vida!
na usina de açúcar.                          Quando há cravo e canela,
20                                           o arroz é doce.
Deitados na grama                            33
da praça, um casal namora                    Cheia de cupins,
e, o Sol nem se foi.                         morre aos poucos, a figueira,
21                                           da praça sem nome.
Na fria manhã,                               34
o entregador de jornal,                      Sopa quente… as letras
traz notícias de ontem.                      do macarrão, revelam-me
22                                           palavras e idéias.
Em banca de feira,                           35
o preço do feijão jalo,                      A cigarra canta
vende mais arroz.                            na palmeira sem parar
23                                           e nem todos a ouve.
Friagem na rua,                              36
sob a marquise, o homem só,                  No xaxim do alpendre,
põe jornais no tênis.                        a samambaia desfolha,
24                                           folhinhas no chão.
Na estreita calçada,                         37
portões, folhagem, floreiras…                Saudade: – mão única.;
pedestres, na rua!                           campas, estátuas, fantasmas.
25                                           Desfecho da vida.
Na coleta, o lixo,                           38
nem pesa na mão sofrida,                     Na areia macia,
do rapaz cansado.                            a juventude faz festa,
                                             com as ondas do mar.
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39                                           52
Fogos de fim de ano                          Céus azuis. Planícies!
e, o poeta, cheio de versos,                 Cidades. Sonhos. Poder.
sonha com bonança.                           Quadros sociais.
40                                           53
Venta e chove forte ,                        Sete de setembro.
vejo da vidraça, na rua,                     Independência ou morte. Sorte.
os ônibus lotados.                           Um bem-te-vi canta.
41                                           54
Real na pele,                                É carnaval. Festa
o rico chupa sorvete,                        do povo que sonha e sua
e o pobre gelinho.=                          em paz com alegria.
42                                           55
Natal! Luzes… lojas…                         Os flocos dengosos
Sonhos… Novas esperanças!                    do algodão caem no chão…
e o homem só, esmola!                        Tapetes plumosos.
43                                           56
Na falha da folha                            O poeta olha o céu,
da goiabeira, o sol crava,                   Sonha, sonha, sonha e sonha…
lâminas de luz.                              Desperta e escreve!
44                                           57
Máscaras, confetes,                          A inveja lateja
pelas ruas quanto samba!                     na alma abatida e sem calma.
Carnaval é festa!                            Espinhos daninhos.
45                                           58
O homem com a pá,                            Primavera, festa
cava a cova e guarda os restos.              da natureza. A beleza
Com o fim vive a vida.                       está da alma da gente.
46                                           59
No xaxim de areia,                           Na mata, o perfume,
a robusta samambaia                          revela os mistérios lindos
quer dengo sem dengue.                       que a natureza tem.
47                                           60
Cantigas, bandeiras,                         Nos galhos secos,
batatas, quentões, fogueiras…                as aves pintam a tarde,
é junho na roça.                             e o canto é saudade.
48                                           61
No fogão de lenha,                           Há uva na parreira
o gosto do bom café,                         e o néctar de cada cacho
tem casa de campo.                           tornam-me um eterno.
49                                           62
Chapéus de lã, ventos                        Na rua o homem só
de frente fria, caem                         não pesa na minha consciência.
folhas secas no chão.                        Virou postal.
50                                           63
A lua cheia e redonda,                       Saudade é a avenida
toma conta das estrelas.;                    dos que vão antes de mim!
e o poeta, versa.                            E eu vou pra onde.
51                                           64
Na folha branquinha,                         Na rua do empório,
consoantes e vogais,                         em dias de promoção,
ondeiam meus sonhos.                         o povo faz fila .
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A velha senhora,                             Sentado no chão,
entra no mercado, na farmácia…               o menino, sem destino,
Não ri nem chora.                            mastiga um filão.
66                                           79
O sapo coaxa,                                Lua baça, esfria!
no lago da fazenda,                          É frente fria na gente
em noite estrelada.                          e rua vazia.
67                                           80
Os campos se vão                             Como a vida é bela!
e as aves silvestres ficam,                  Fartura! Há arroz com mistura.
mais urbanizadas.                            Viva a mortadela.
68                                           81
No verde minguado                            Venta. É primavera.;
de aves e animais, os homens,                perfume em todos os lares, lume
plantam mais cinzas…                         de nova quimera.

69                                           82
Escureceu e o campo                          No pé de abacate,
revela as luzes singelas                     o bem-te-vi canta bem…
de mil pirilampos.                           Um cachorro late.
70                                           83
Luzes estelares                              Queimada de cana!
de abril… sutil poesia                       Venta e a palha atormenta
em todos os lares.                           o fim de semana!
71                                           84
Na lã do chapéu                              Tarde sossegada,
De leve flocos de neve                       na rede, eu mato a sede
Invernam meu céu.                            com limonada.
72                                           85
Junho. A lua brilha.                         Em noite de vento
Na roça qualquer palhoça                     tem sempre o vulto de alguém
faz fogo e quadrilha.                        procurando alento.
73                                           86
Comédia medonha,                             A beira do rio
o salário do operário,                       verde e robusto o arbusto
não paga o que sonha.                        balança macio.
74                                           87
Tapete de flores,                            Rua longa, fria,
no chão a emoção                             muito pó… O homem vai só,
de perfuma em cores.                         sem lar, na agonia!
75                                           88
Na clara manhã                               Pobre e sem afeto,
canta um galo e numa planta                  nada de novo para o povo,
salta e salta a rã…                          sem terra e sem teto.
76                                           89
Na porta da firma,                           O mínimo vem!
por salário, o operário,                     O salário do operário,
faz greve e se afirma.                       faz sofrer? Amém!
77                                           90
Fim de tarde… o Sol                          Escura noite. O céu
movimenta-se e inventa                       estrelado me vê calado
as cores do arrebol.                         com sonhos ao léu.
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011    9

91                                           faz formas no chão.
No sótão, guardados                          99
dos antigos da família,                      Magro o gato persa,
dão vida aos cupins.                         no canto da sala, embala,
92                                           muita conversa.
Na rua devassa,                              100
cenas constantes, obscenas,                  Sentadas no chão
assustam quem passa.                         crianças batem mansas
93                                           figuras com a mão.
Na quadra de esporte                         101
a bola rola, rola e enrola,                  Chove forte e o rio
o atleta sem sorte.                          de baixa borda transborda.
94                                           e a vida num fio.
Férias escolares                             102
nas noites de lua, a rua,                    Pula, corcoveia…
têm bolas nos ares.                          no embalo pára o cavalo
                                             e o peão, na areia.
95                                           103
Folhas no chão.                              Flor branca e bela.
Grilos. Sombras. Espantalhos                 visão de impacto o cacto
mexem com a visão.;                          de minha janela.
96                                           104
Na gaiola, canta                             Rua molhada,
o canário e o hinário,                       a parada brusca de um fusca,
é encanto e vida                             traz confusão danada.
97                                           105
O grão de feijão,                            Balcão de perfumes.
descobre, na mesa do pobre,                  Rosa Maria, formosa,
que é ouro-tesouro.                          é meiguice e ciúmes.
98
Seca, mansamente,                            Fonte:
cai a folha e o vento lento                  Usina de Letras
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                         10




                                      Nilton Manoel
                                         Trovas

                   1                                   e geme sem dor com ela!
      Quem tem vida vive atento
     pêlos caminhos que enfrenta;                                  9
     brinda as farpas do momento                      Solteiro? – Querida! Ó vida
       com chocolate e pimenta.                       de prazeres… sonhos tantos!
                                                       Casados? ? Os nós da lida,
                    2                                  cegam os reais encantos!?
        O chifre em terra rachada
          em bucolismo infernal,                                  10
     é o adorno que traça a estrada                    No lirismo de meu povo
        da carência de água e sal.                     sonho e tenho sempre fé
                                                       que num dia de sol novo
                     3                                 será plena a paz.. de pé!
      Florestas? – Quero espigões!
       e a fauna toda enjaulada!                                    11
      … e a moda de altos portões,                      Enfim dono dos saberes
        esconde a noite estrelada.                   da vida, em música e dança,
                     4                                concluo que, o fim dos seres
       Depois dos cinqüenta, creio,                     é o limite da esperança.
         tudo é lucro e coerência;
      homem que não faz rodeio,                                   12
      sabe o que vale a existência.                   Corre-se tanto, mas tanto,
                                                        pelo pódio e sua glória
                                                   que, o enfim é o fúnebre pranto,
                   5                               de um troféu ao fim da história!
        Homem é o que sabe ser
      companheiro, amigo e irmão;                               13
      Quem preza o Bem, sabe ter                   Quando há morte programada
        da vida toda a emoção.                       pelos quadrantes da terra,
                                                    homens que não valem nada
                    6                              sentem paz plantando guerra.
       Meu pai, exemplo perfeito
          de luta e vitalidade;                                   14
        ao partir, por ser direito,                    Cavalgando sem rodeios
        deixou sincera saudade.                        por galáxias estreladas,
                                                       o poeta, em seus anseios
                  7                                    tece trovas requintadas.
Quando o homem é Homem não chora,
     enfrenta as farpas da vida,
   vence a fauna hostil com a flora
     tornando a estrada florida.

                   8                          Nilton Manoel
         O amante da Filomena,
     se encontra o ex-marido dela,
       treme tanto de dar pena…
                                                      N   ilton Manoel Teixeira, capricorniano
                                                          de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão
                                              Preto-SP, onde vive.
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                                   11

         Professor e contabilista.                    Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto (
         Começou nos anos sessenta publicando         fundador e 1º presidente),
seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo       Clube Internacional da Boa Leitura.
para jornais. Com apoio de Luiz Otávio                Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana.
(fundador da União Brasileira de Trovadores)          Instituto Histórico e Geográfico do Distrito
implantou os Jogos Florais em sua cidade e como       Federal.
presidente da secção ubeteana de Ribeirão             Ordem dos Velhos Jornalistas.
Preto, realiza eventos locais e nacionais.            The International Academy of Letters of England.
         Na área da Literatura, esteve no             União Brasileira de Escritores.
Conselho Municipal de Cultura, por três gestões.      Usina de Letras etc.
         Tem editados:-Trovas da Juventude;
Cantigas do meu terreiro; Caviar, gororoba e sal              Tem o título de Magnífico Trovador pela
de frutas, Poesia Mágica (haicais) e folhetos de      Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de
Cordel ao estilo tradicional.                         Cordel;
         Pertence a:                                          Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e
Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e           Geográfico de Uruguaiana,
Letras.                                                       Medalha de Ouro, no I Aniversário do
Academia Brasileira de Trova.                         Clube dos Trovadores Capixabas,
Academia de Letras de Uruguaiana,                             Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira
Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio          dos Poetas da Literatura de Cordel.
Grande do Sul.                                                Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004
Academia Friburguense de Letras.
Academia Goianiense de Letras.                        No        http://www.movimentodasartes.com.br/
Academia        Internacional       de     Ciências   assina a coluna Trovador
Humanísticas.
Academia Internacional de Heráldica e                 Fontes:
Genealogia.                                           Usina das Letras
                                                      Portal CEN
Academia de Letras de Ribeirão Preto.
Academia Petropolitana de Poesia.
Academia Poços-caldense de Letras.
Academia Ribeirãopretana de Poesia.
Academia Santista de Letras.
Academia Virtual Brasileira de Letras.




                                            J.B.Xavier
                                              A Espera

 Por sobre o banco onde eu estava
sentado, pendiam galhos de chorões que                 Muitos bons dias dei, muito acenei para
iam até o chão, mas ainda assim, por                  os passageiros que ansiavam por
entre essa maravilhosa prisão verde, eu               liberdade, por fugir da clausura de horas
podia ver os ônibus que chegavam,                     e horas de viagens claustrofóbicas.
vindos de todos os Estados do país.
                                                       Sorri um riso amarelo, e acenei
 Coloridos, eles se misturavam num                    claudicante para os sorrisos das crianças,
caleidoscópio maravilhoso de cores e                  filhos de migrantes que vinham tentar a
formas,num magnífico balé de titãs.                   sorte na cidade grande. Mas não tive
                                                      tempo de ficar triste, porque os galhos
 Às seis horas da manhã lá estava eu,                 verdes, gentilmente manipulados pela
sentado num banco da pequena praça                    brisa da manhã, acariciaram meu rosto
que havia em frente à área de                         ternamente, alisaram meus cabelos e
desembarque do terminal rodoviário de                 farfalharam alegres, certamente gratos
uma das maiores cidades do país.                      pelo sol que surgia por trás dos edifícios,
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numa promessa de um cálido banho de            mim, restando apenas uma umidade em
vida.                                          meus dedos, único sinal de que ela
                                               existira e ensinara-me algo sobre a
 Reflexos vívidos e faiscantes lascas de luz   seqüência eterna dos ciclos.
transformavam as poças da chuva da
noite anterior em bateias repletas de           Uma brisa mais ousada veio me dar seu
esfuziantes diamantes.                         bom dia e o galho estremeceu num
                                               frenesi de prazer, feliz pela visita bem
Como garimpeiro cuidadoso, toquei              vinda.
uma dessas jóias que pendiam frágeis na
ponta de uma delicada folhinha que              Apenas por observar esse encontro
balouçava suavemente à minha frente.           maravilhoso, fui ungido com a bênção de
                                               ter sobre mim as lágrimas de felicidade
 Gentilmente ela aceitou meu convite e,        do orvalho remanescente. Então um
assim, de repente, eu tinha uma obra de        grande e multicolorido ônibus surgiu
arte na ponta dos dedos. Olhei atônito         entre os demais, e, numa janela
aquele universo minúsculo, aquela esfera       ocasional senti, antes de ver, teu sorriso
perfeita, na qual Deus faz demonstrações       maravilhoso e as doces promessas de
magistrais de engenharia celestial e pude      amor que dele rescendiam.
ver seus espelhos refletindo o mundo ao
meu redor, como a lembrar-me de                 Olhei   durante  aquela   pequena
minha própria pequenez diante da               eternidade que durou tua chegada e
beleza universal.                              lembrando de Louis Armstrong, pensei
                                               comigo mesmo:
 Frágil, e com a certeza de já ter vivido o
suficiente para tocar-me a alma, a             Que mundo maravilhoso!
pequenina gotícula chegou ao fim de            Fonte:
sua eternidade e desfez-se diante de           http://www.jbxavier.com.br/visualizar.php?idt=4572




                                 Artur de Azevedo
                                   A Ama-Seca

                                               a mais leve infidelidade conjugal como

O
        Romualdo, marido de D.                 de roubar o sino de São Francisco de
       Eufêmia, era um rapaz sério, lá         Paula; mas – vejam como o diabo as
       isso era, e tão incapaz de cometer      arma! Um dia D. Eufêmia foi chamada,
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                13

a toda a pressa, a Juiz de Fora, para ver
o pai que estava gravemente enfermo, e       - Boa noite.
como o Romualdo não podia naquela
ocasião deixar a casa comercial de que       - Como se chama?
era guarda-livros (estavam a dar
balanço), resignou-se a ver partir a         - Antonieta.
senhora acompanhada pelos três
meninos, o Zeca, o Cazuza, o Bibi, e a       - Pode dar-me uma palavra?
ama-seca deste último, que era ainda de
colo.                                        - Por que não falou no bonde?

Foi a primeira vez que o Romualdo se         - Era impossível… estava tanta gente… e
separou da família. Custou-lhe muito,        estes elétricos são tão iluminados.
coitado, e mais lhe custou quando, ao
cabo de uma semana, D. Eufêmia lhe           - Mas o sinhô bolinou que não foi graça!
escreveu, dizendo que o velho estava         vamos, diga: que deseja?
livre de perigo, mas a convalescença
seria longa, e o seu dever de filha era      - Desejo saber onde mora.
ficar junto dele um mês pelo menos.
                                             - Não tenho casa minha; tou empregada
O Romualdo resignou-se. Que remédio!…        numa famia ali mais adiente, por siná
                                             que não stou satisfeita, e ando
Durante os primeiros tempos saía do          procurando outra arrumação.
escritório e metia-se em casa, mas no fim
de alguns dias entendeu que devia dar        - Onde poderemos falar em particular?
alguns passeios pelos arrabaldes, hoje
este, amanhã aquele. Era um meio,            - Não sei.
como outro qualquer, de iludir a
saudade.                                     - Você sai amanhã à noite?

Uma noite coube a vez ao Andaraí             - Amanhã não, porque saí hoje, e não
Grande. O Romualdo tomou o bonde do          quero abusá.
Leopoldo, e teve a fortuna ou a desgraça
de se sentar ao lado da mulatinha mais       - Então, depois de amanhã?
dengosa e bonita que ainda tentou um
marido, cuja mulher estivesse em Juiz de     - Pois sim.
Fora.
                                             - Onde a espero?
Nessa noite fatal a virtude do Romualdo
deu em pantanas: tencionando ele ir até      - Onde o sinhô quisé.
o fim da linha, como fazia todas as
noites, apeou-se na Rua Mariz e Barros,      - Na Praça Tiradentes, no ponto dos
ali pelas alturas da Travessa de São         bondes. As oito horas.
Salvador. A mulata havia se apeado
algumas braças antes.                        - Na porta do armazém do Derby?

E ele viu, à luz de um lampião, o vulto      - Isso!
dela saltitante e esquivo, e apressou o
passo para apanhá-la, o que conseguiu        - Tá dito! Inté depois d‘amanhã às oito
facilmente, porque, pelos modos, ela já      hora.
contava com isso.
                                             - Não falte!
- Boa noite!
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                14

- Não farto não!                             - Que homens sem-vergonha!… Não
                                             podem ver uma mulata!…
No dia seguinte, o Romualdo contou a
sua aventura a um companheiro de             O     Romualdo     perturbou-se,     mas
escritório que era useiro e vezeiro nessas   disfarçou, perguntando:
cavalarias… baixas, e o camarada levou
a condescendência ao ponto de confiar-       - E agora? E preciso anunciar! Não
lhe a chave de um ninho que tinha            podemos ficar sem ama-seca!
preparado adrede para os contrabandos
do amor.                                     - Já mandei o Zeca pôr um anúncio no
                                             Jornal do Brasil.
Antonieta foi pontual; à hora marcada
lá estava à porta do Derby, com ares de      No dia seguinte, o Romualdo saiu muito
quem esperava o bonde.                       cedo; ao voltar para casa, a primeira
                                             coisa que perguntou à senhora foi:
O Romualdo aproximou-se, fez um sinal,
afastou-se e ela seguiu-o…                   - Então? Já temos ama-seca?. .

Dez     dias    depois,    estava     ele    - Já; é uma mulatinha bem jeitosa, mas
arrependidíssimo da sua conquista fácil, e   tem cara de sapeca. Chama-se
com remorsos de haver enganado D.            Antonieta.
Eufêmia, aquela santa! Procurava agora
meios e modos de se ver livre da mulata,     - Hem? Antonieta?
cuja prosódia era capaz de lançar água
na fervura da mais violenta paixão.          - Que tens, homem?

Vendo que não podia evitá-la, tomou o        - Nada; não tenho nada… E jeitosa?…
Romualdo a deliberação de fugir-lhe, e       Tem cara de sapeca?… Manda-a
uma noite deixou-a à porta do ninho,         embora! Não serve! Nem quero vê-la!…
esperando debalde por ele. Lembrou-se,
mas era tarde, que havia prometido           - Ora essa! Por quê? Olha, ela aí vem.
dar-lhe uni anel, justamente nessa noite.
                                             Antonieta chegou, efetivamente, com o
- Diabo! pensou ele, Antonieta vai supor     Bibi ao colo; mas o Romualdo tinha
que lhe fugi por causa do anel!              fechado os olhos, dizendo consigo:

Voltou, afinal, D. Eufêmia de Juiz de        - Que escândalo!… rebenta a bomba!…
Fora. Veio no trem da manhã,                 este diabo vai reclamar o anel!.
inesperadamente, e já não encontrou o
marido em casa.                              Mas como nada ouvisse, o mísero abriu
                                             os olhos e – oh! milagre! – era outra
Estava furiosa, porque a ama-seca de         Antonieta!.
Bibi deixara-se ficar na estação da
Barra. Podia ser que não fosse de            Ele pensou, os leitores também pensaram
propósito. O mais certo, porém, era o ter    que fosse a mesma; não era.
sido desencaminhada por um sujeito que
vinha no trem a namorá-la desde              Decididamente, há um Deus para os
Paraíbuna.                                   maridos que enganam as suas mulheres.

Quando D. Eufêmia contou isso ao             Fonte:
                                             Domínio Público
marido, acrescentou indignada:
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                  15




                                Adelto Gonçalves
                                Cinco séculos de
                                poesia brasileira
I                                            O primeiro volume da série, Antologia
                                             da poesia barroca brasileira, traz poemas

Os      professores     de     Literatura
       Brasileira tanto do ensino médio
como do ensino universitário já não
                                             de Gregório de Matos (1636-1696), Bento
                                             Teixeira (c.1561-1600), Manuel Botelho de
                                             Oliveira (1636-1711) e Sebastião da Rocha
precisam se preocupar tanto para             Pita (1660-1738), selecionados por
elaborar seus planos de ensino nem           Emerson Tin, doutorando em Literatura
consultar uma grande quantidade de           Brasileira pela Unicamp, responsável
livros nem sempre disponíveis nas            também pelo prefácio, por notas
bibliotecas de escolas ou mesmo de           explicativas e de natureza literária,
universidades públicas ou privadas. Foi      contextual e lexical e por uma pequena
pensando nisso que a Companhia               notícia biográfica de cada autor que
Editora Nacional e a Lazuli Editora          ajudam a tornar cada poema mais
decidiram editar uma série de cinco livros   legível ao leitor pouco versado na
sobre a poesia brasileira desde a            produção barroca luso-brasileira.
formação do País até o começo do século      Não é preciso dizer que na produção
XX, entregando a tarefa a uma equipe         poética do período a primazia é de
de jovens críticos e professores já com      Gregório de Matos, o que levou o
experiência em sala de aula, todos           organizador da antologia a selecionar 40
ligados à Universidade Estadual de           de seus poemas. Seu contemporâneo
Campinas (Unicamp).                          Botelho de Oliveira aparece com 20
                                             poemas,       enquanto     Rocha     Pita,
O resultado é uma edição que merece          consagrado autor da História da
toda a confiança do leitor e que permite     América portuguesa, tem resgatada a
―pensar a história da poesia no Brasil e     sua um tanto esquecida produção na
suas principais linhas de força, ao longo    Academia Brasílica dos Esquecidos.
de cinco séculos‖, como assinala na          Quem, porém, abre a antologia é Bento
apresentação do primeiro dos cinco           Teixeira, conhecido especialmente pelo
volumes Paulo Franchetti, professor          poema épico ―Prosopopéia‖, que tem
titular de Teoria Literária na Unicamp,      como modelo ―Os Lusíadas‖, de Luís de
responsável também pela apresentação         Camões (1524?-1580).
dos demais livros.
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                  16

II                                           a pouca modéstia, a biografia de Tomás
                                             Antônio Gonzaga que este articulista

C   om seleção e notas de Pablo
    Simpson, o segundo volume da série,
Antologia da poesia árcade brasileira,
                                             escreveu.

                                             III
dedica os maiores espaços, como não
poderia deixar de ser, a Cláudio Manuel
da Costa (1729-1789) e Tomás Antônio         J á Antologia da poesia romântica
                                               brasileira, com seleção e notas de Pablo
Gonzaga (1744-1810), mas também              Simpson, Pedro Marques e Cristiane
contempla parte da produção de Santa         Escolastico Siniscalchi, é um volume mais
Rita Durão (1822?-1784), Domingos            encorpado, em razão mesmo da
Caldas Barbosa (1738-1800), Basílio da       necessidade de abranger maior número
Gama (1741-1795), Alvarenga Peixoto          de autores. O período, a rigor, vai de
(1744-1793) e Silva Alvarenga (1749-1814).   1836, quando o poeta Gonçalves de
                                             Magalhães (1811-1882) publicou um ensaio
Reúne o que de melhor produziu a             na revista Niterói, editada em Paris,
poesia árcade e, de certo modo, ajuda-a      lançando as idéias de um programa
a recuperar um lugar que nem sempre          para a edificação de uma literatura
lhe foi reconhecido pela crítica,            genuinamente brasileira, sob a influência
especialmente a da primeira metade do        da natureza americana, até meados da
século XX, que viu com prevenção a           segunda metade do século XIX. E
estilização e o apego de seus poetas a       configura a presença do Romantismo em
cânones não só portugueses como              terras brasileiras.
italianos, esquecendo-se de que, à época,
o Brasil não existia como nação              Além do citado Gonçalves de Magalhães,
organizada e, na verdade, éramos todos       o volume abrange autores díspares como
portugueses.                                 Sousândrade (1832-1902), autor de ―O
                                             Guesa Errante―, poema redescoberto
Como assinala Paulo Franchetti na            pelos concretistas Augusto e Haroldo de
apresentação, o Arcadismo, embora não        Campos (1929-2003) a partir da década
tenha recebido a fortuna crítica e a         de 60 do século passado, e Gonçalves
recepção entusiasmada com que o              Dias (1823-1864), autor da antológica
Barroco tem sido contemplado nos             ―Canção do exílio‖ e de alguns dos mais
últimos anos, já pode ser visto de modo      importantes poemas da lírica indianista
mais favorável. Além disso, o próprio        brasileira.
movimento       de     constituição    de
agremiações intelectuais, as famosas         Reúne ainda Luís Gama (1830-1882), com
academias, diz o professor, ―parece mais     suas sátiras aos comportamentos, tipos e
simpático, quando se considera que o uso     situações de sua época, Bernardo
dos pseudônimos e a valorização do           Guimarães (1825-1884), com sua poesia
talento como único requisito para            erótica e, às vezes, até pornográfica,
admissão dos membros encenavam, na           Álvares de Azevedo (1831-1952), com sua
sociedade estratificada do século XVIII, o   fina e sepulcral poesia, Laurindo Rabelo
ideal de uma aristocracia de espírito e      (1826-1864), com sua poesia satírica e
não de sangue‖.                              fescenina, Casimiro de Abreu (1839-1860),
                                             com sua lírica de tons suaves, Castro
Para isso, muito contribuíram os recentes    Alves (1847-1871), com seus versos
estudos de Jorge Ruedas de la Serna,         grandiloqüentes em favor dos escravos,
Vania Pinheiro Chaves, Ivan Teixeira,        Fagundes Varela (1841-1875), com seus
Alcir Pécora, Melânia Silva de Aguiar,       poemas religiosos uns, amorosos outros,
Sérgio Alcides, Ronald Polito, Joaci         de inspiração regional ou sertaneja,
Pereira Furtado, José Ramos Tinhorão,        Juvenal Galeno (1836-1931), com seus
Luís André Nepomuceno e, se permitem         versos    francamente     populares,   e
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                   17

Junqueira Freire (1832-1855), com seus        que essa geração ocupou na sociedade
poemas de monge atormentado.                  de seu tempo que a ela se deve a criação
                                              da Academia Brasileira de Letras, como
IV                                            lembra Pedro Marques na sua
                                              introdução.

C   om seleção e notas de Pedro
    Marques, Antologia da poesia
parnasiana brasileira apresenta poemas
                                              Se muitas vezes os modernistas atacaram
                                              sem medidas o parnasianismo, isso se deu
de 14 poetas, entre consagrados e outros      por conta da necessidade que tinham de
menos conhecidos do grande público,           oferecer alternativas para o que
mas não menos representativos do              consideravam fórmulas gastas dos
parnasianismo. Entre os consagrados,          parnasianos. Mas nunca deixaram de
estão Olavo Bilac (1865-1918) e Machado       reconhecer a importância histórica do
de Assis (1839-1908), cuja produção como      movimento.
poeta acabou abafada pelo êxito de
seus romances da última fase. Entre os        V
menos afamados, estão Luís Delfino
(1834-1910), B.Lopes (1859-1916) e
Francisca Júlia (1870-1920), única mulher
entre os poetas reunidos.
                                              C   om seleção e notas da professora
                                                  Francine Ricieri, doutora em Teoria e
                                              História Literária na área de Literatura
                                              Brasileira pela Unicamp, Antologia da
Lembra Franchetti na apresentação que         poesia simbolista e decadente brasileira
o parnasianismo, em seu grande                reúne nove poetas de um movimento
momento, ocupou lugar proeminente             que, ao não alcançar a repercussão do
em jornais, revistas, conferências públicas   parnasianismo, agrupa nomes ainda
e saraus burgueses, atraindo grande           pouco conhecidos do público. Diz a
público para a poesia, o que, aliás, nunca    organizadora em aprofundado estudo
haveria de se repetir, guardadas as           introdutório à guisa de prefácio que esses
devidas proporções no tempo. É de             poetas, como jamais pretenderam servir
ressaltar ainda que, desde os primeiros       à causa nacional, ―foram usualmente
tempos do Brasil independente, a              representados        como       alienados,
literatura esteve comprometida com as         desenraizados, fúteis, irracionalistas,
questões vitais da nação, tendo assumido      incompreensíveis, colonizados‖.
a bandeira da causa abolicionista.
                                              Seja como for, como observa Franchetti
Encerrada a questão da abolição da            na apresentação, a poesia simbolista
escravatura — embora a situação dos           reserva muitas surpresas ―e a leitura
ex-escravos nunca tenha efetivamente          desta antologia por certo ajudará a
preocupado o governo e as classes             reverter a idéia de desinteresse que se
dirigentes –, e estabelecida a República,     colou à produção simbolista‖. Para que
desapareceram os grandes temas épicos.        esta frase não fique aqui assim um tanto
Assim, a poesia refluiu a um exclusivo        solta, é de lembrar que Franchetti, autor
cultivo artístico, calcado em movimentos      de As aves que aqui gorjeiam — a poesia
europeus posteriores ao Romantismo.           do Romantismo ao Simbolismo (Lisboa,
                                              Cotovia, 2005), navega por estas águas
Embora fique clara a influência do            com mão de mestre, como diria Massaud
movimento francês, os parnasianos             Moisés.
brasileiros procuraram um caminho
próprio, o que explica o fato de terem        Missal e Broquéis, publicados no Rio de
caído no gosto da população ou pelo           Janeiro em 1893, por Cruz e Sousa (1861-
menos daquele público letrado que se          1898),   teriam    sido    a   primeira
interessava pelas coisas do espírito. Com     manifestação em livro no Brasil do
certeza, tal foi a importância do lugar       Simbolismo ou Decadentismo. Por isso,
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                          18

além de peças de Cruz e Sousa, que           Por isso, seria aceitável que alguns
abrem o volume, a organizadora               especialistas viessem a questionar a sua
recolheu poemas de Alphonsus de              exclusão, mas a verdade é que o estudo
Guimaraens (1870-1921), B.Lopes (1859-       introdutório de Francine Ricieri é tão
1916), Eduardo Guimaraens (1892-1928),       bem embasado e didático e suas
Maranhão Sobrinho (1879-1915), Pedro         extensas      notas    de    leitura    tão
Kilkerry (1885-1917), Da Costa e Silva       esclarecedoras que essa se torna uma
(1885-1950), Emiliano Perneta (1866-1921)    tarefa extremamente difícil e ingrata.
e Alceu Wamosy (1895-1923). É de notar       _______________________
que B.Lopes aparece aqui também              Antologia da Poesia Barroca Brasileira,
porque sua poesia tanto tem traços           157 Págs., 2007
parnasianos como simbolistas.                Antologia da Poesia Árcade Brasileira,
                                             126 Págs., 2007
Desses, o mais visível nos dias de hoje é    Antologia      da     Poesia     Romântica
Da Costa e Silva, em razão do trabalho       Brasileira, 286 Págs., 2007
de resgate de sua poesia encetado por        Antologia      da    Poesia     Parnasiana
seu filho, o poeta Alberto da Costa e        Brasileira, 227 Págs., 2007
Silva, ex-presidente da Academia             Antologia da Poesia Simbolista E
Brasileira de Letras, que tratou de          Decadente Brasileira, 223 Págs., 2008
republicar a produção do pai, embora         Apresentação De Paulo Franchetti. São
Alphonsus de Guimaraens e Emiliano           Paulo:          Companhia           Editora
Perneta também sejam frequëntemente          Nacional/Lazuli Editora.
lembrados em estudos acadêmicos.             Site: http://www.editoranacional.com.br/
                                             E-mail: editoras@ibep-nacional.com.br
Outro bem conhecido seria Augusto dos
Anjos (1884-1914), cuja poesia apresenta
recursos e temas relacionados à poesia
simbolista, mas a organizadora preferiu
deixá-lo de fora da antologia,
                                             A    delto Gonçalves é doutor em Literatura
                                                  Portuguesa pela Universidade de São Paulo
                                                  e autor de Gonzaga, um Poeta do
                                             Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999),
argumentando que incluí-lo seria             Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada,
fornecer do poeta ―uma visão que não         1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage
condiz com a linha peculiar e tão            – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-
                                             mail: adelto@unisanta.br
característica em que sua poesia se
definiu‖. Até porque a produção de           Fonte:
Augusto dos Anjos guarda igualmente          Literatura sem fronteiras

traços parnasianos e até mesmo pré-
modernistas.
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011           19




                                      Trovas
                                   Tema: Paciência

        Ante as agruras da vida,                    no altar do seu coração…
    que nos chegam com freqüência,              ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
        a conduta mais contida                             BAURU/SP
        é seguir com paciência.                   ―Quando a dor chega a seu lar
         HÉLIO PEDRO SOUZA                           paciência é uma virtude
              NATAL/RN                                 que se deve cultivar
                                                    com amor em plenitude!‖
      A Paciência é uma virtude                     SÔNIA DITZEL MARTELO
      que, junto à perseverança,                      PONTA GROSSA/PR
     de nós, afasta a inquietude,
     e traz de volta a esperança!                    Quem pratica a paciência,
    DELCY RODRIGUES CANALLES                           como virtude na vida
         PORTO ALEGRE/ RS                               supera toda ciência
                                                     vence a mais perversa lida.
      Só com paciência se alcança                        WILTON DI CARLI
        o que se espera da vida.                         GUARULHOS/SP
       Siga com mais esperança
         a cada meta vencida!                        Paciência tem limite,
     LEONILDA YVONNETI SPINA                        eu sempre pensei assim;
            LONDRINA/PR                              embora não acredite,
                                                   nosso amor chegou ao fim.
   Dá-me, Deus, com certa urgência,                   NEIVA FERNANDES
       a graça que aqui rabisco:                 CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ
      dez por cento da paciência
     que puseste em São Francisco!                     A virtude da paciência
    HUMBERTO RODRIGUES NETO                           nos traz equilíbrio e paz
             PIRITUBA/SP                              ao evitar a imprudência
                                                       de uma atitude fugaz.
         Motorista, paciência…                          ALFREDO BARBIERI
      Calma lá, meu companheiro!                            TAUBATÉ/SP
      Não se esqueça: competência
     nem sempre é chegar primeiro!                    Um desafio na vida
     ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS                         é vencer tribulações
             MARINGÁ/PR                            e a paciência nos convida
                                                       a refrear emoções.
      Não há nada que se negue                MARINA GOMES DE SOUZA VALENTE
      ao homem manso e cortês:                    BRAGANÇA PAULISTA/SP
        a paciência consegue
     muito mais do que a altivez!               Quando a dor desta existência
   RENATA PACCOLA FRISCHKORN                      torna-se um fardo pesado,
           SÃO PAULO/SP                            a Deus peço a Paciência
                                                    e na fé sigo amparado!
          É na sua deficiência,              MARIA EMÍLIA LEITÃO MEDEIROS REDI
       que o cego, na escuridão,                       PIRACICABA/SP
       acende a luz da paciência
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011           20

       Contra a grande violência                   outro amor manda endereço.
         e a total insegurança,                          CLÊNIO BORGES
         é melhor ter paciência                        PORTO ALEGRE/RS
       e uma dose de esperança,
              ILZE SOARES                            Diante de tanta violência,
            SÃO PAULO/SP                               serena, medita e ora;
                                                       espera com paciência
           Paciência teve Jó                          e vive no aqui e agora.
        que tantas dores sofreu,                          ELISA SANTOS
         perdeu tudo, ficou só                         PONTA GROSSA/PR
        mas, sua fé não morreu.
                MIFORI                                Se teu viver é exemplar,
        MOGI DAS CRUZES/SP                             com paciência e união,
                                                       tua vida há de brilhar,
     Tenha a calma de um regato,                        como uma bela lição!
        da criança a inocência;                            ARLENE LIMA
        você verá que, de fato,                            MARINGÁ/PR
       a tudo vence a paciência.
        ADAMO PASQUARELLI                                A paciência na dor
      SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP                          é virtude de alma forte.
                                                   Vislumbra tão grande Amor,
                                                      vai vencer até a morte.
    Neste mundo em que vivemos,                          ELISA ALDERANI
      de tanta pressa e aflição                        RIBEIRÃO PRETO/SP
       que paciência nós temos
       para ajudar um irmão?!                        Paciência!… Paciência!…
      DIAMANTINO FERREIRA                        Oh meu Deus, me dá um pouco…
    CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ                         Pois se dela, há carência,
                                                   fico agindo como um louco.
          Loja de conveniência,                         RAQUEL DELVAJE
         farmácia e lanchonete                           PIRACICABA/SP
          ofereçam ―Paciência‖
       em comprimido ou tablete.                   Houve pedras no caminho…
           GISLENO FEITOSA                          Em que eu tanto tropecei,
              TERESINA/PI                            com paciência e carinho,
                                                       na esperança confiei!
       Todas as dores do mundo,                CÉLIA APPARECIDA SILLI BARBOSA
     tem uma causa, uma essência.                      RIBEIRÃO PRETO/SP
     Mas, com fé e amor profundo,
       Deus nos provê Paciência!                    Paciência é uma virtude
        DILMA RIBEIRO SUERO                      que se tem, mas que se gasta
             ESTÁCIO/RJ                            quando se toma a atitude
                                                de, para alguém, dizer: – Basta!
        Paciência é um preceito               ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO
       de quem tem fé, confiança,                         PORTUGAL
         e acredita no conceito:
     ―Quem espera sempre alcança‖                    Tanta era a sua pobreza
       DECIO RODRIGUES LOPES                       com humildade e decência,
         MOGI DAS CRUZES/SP                       que, faltando o pão na mesa,
                                                     lhe sobrava a paciência.
       Tenha paciência, senhora,               OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO
        na vida tem recomeço;                              PORTUGAL
     quando um amor vai embora,
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                                        21

       Que Deus me dê paciência                         MARIA JOSÉ FRAQUEZA
          para sofrer esta dor                        FUZETA/OLHÃO/PORTUGAL
       de ver que a inconsciência
       mata e diz que é por amor!                         Se a paciência faltar
       GISELA ALVES SINFRÓNIO                        nas penas, que hão-de ser luz…
          OLHÃO/PORTUGAL                                Lembra Deus a carregar
                                                         por nós, o peso da Cruz!
       Em teus braços meu amor                       CLARISSE BARATA SANCHES
         me sinto plena e feliz,                           GÓIS/PORTUGAL
         tua paciência é calor,
        dá a minha vida matiz.                          Se na dor, por excelência,
           NORA LANZIERI                                  O amor é primordial…
      BUENOS AIRES/ARGENTINA                           Há o sofrer, com paciência,
                                                       De quem sofre d‘algum mal!
         Os avanços da ciência,                         FERNANDO REIS COSTA
        por vezes vão devagar,                           COIMBRA/PORTUGAL
          preciso ter paciência                         Um homem sem paciência,
       para uma cura aguardar…                          nem na dor tira vantagem;
        ACIOLINDA SPRANGER                                e vê na sua existência
          LAGOS/PORTUGAL                                 uma vida sem coragem!
                                                          JORGE A. G. VICENTE
       Se diz não ter paciência                                  SUIÇA
     pra ler, da Bíblia, conselhos;                     No sofrimento e na dor
         use da sua valência:                         rogo a Deus Sua clemência,
     Fale com Deus, de joelhos…                         resarei com mais fervor,
  MARIA DA CONCEIÇÃO CUSTÓDIO                           para me dar paciência…
               SANCHES                              ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO
          GOIS/PORTUGAL                                   LISBOA/PORTUGAL
        Com positiva paciência                            Paciência é virtude
         obra boa descortina,                        que no mundo pouco abunda;
      te diz a minha consciência                       hoje em qualquer latitude
      que sempre Deus ilumina.                          está quase moribunda.
   JAMIL WILLIAM PISCOYA AYALA                            EUCLIDES CAVACO
          FERREÑAFE/PERU                                       CANADÁ
         Para todo o sofrimento              Fonte:
           É preciso Paciência               Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor (Resultados da 2a. Etapa)
       Um olhar com sentimento
       A quem vive na indigência.
Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011                 22




                               Vicência Jaguaribe
                              Mas a vida...A vida não se
                                   passa a limpo
A      velha    senhora     entrou     no    escândalo dos futuros sogros, que não
compartimento que sempre lhe servira         pretendia ter filhos. Seus pais não se
de biblioteca e de gabinete. Em um           horrorizavam mais com suas opiniões e
tempo em que a maioria das mulheres se       posições fora dos eixos, conforme diziam.
dedicava às tarefas domésticas, aos          Ela fora assim desde pequena. Fazia
cuidados com os filhos e com o marido,       tudo diferente das irmãs. Não obedecia
ela passava horas naquela sala lendo e       ao horário convencional de dormir nem
escrevendo. Quando o noivo mandara           de comer, nunca se adaptou às
construir a casa onde morariam depois        imposições da escola, não gostava do
de casados, ela só fizera uma exigência:     que as outras meninas de sua idade
um aposento onde pudesse guardar seus        gostavam.     Era     um      astro   que
livros, onde pudesse isolar-se para ler e    determinava sua própria rotação, não
escrever. Nem ao menos perguntara            lhe importando se as leis da Física
quantos quartos ou quantos banheiros         mandavam ir para a direita ou para a
teria a casa, nem quisera saber o            esquerda. Diante do inexorável, os pais
tamanho da cozinha. A casa tinha             tiveram que capitular.
quintal, ficava do lado da sombra ou do
sol? Disso ela não quisera saber. Não         Ele, o marido, nunca reclamara de seus
desperdiçaria seu tempo com coisas desse     desvios do eixo da rotina. Amara-a
tipo.                                        incondicionalmente até o fim da vida.
                                             Ela lhe davaa impressão de que estava
 Puxou a cadeira do birô, sentou-se e        sempre na expectativa de que algo
aproximou o porta-retrato com uma            acontecesse. A si mesmo ele dizia que a
fotografia do dia do casamento: ela e o      mulher vivia sempre de véspera; para
noivo... não, ela e o marido. Quando         ela nunca chegava o dia D. Sabia que
tiraram aquela foto já eram marido e         escrevia muito, mas nunca conseguira
mulher, fora logo depois da cerimônia.       que ela lhe mostrasse – a ele ou a outra
Passou a mão sobre a imagem do               pessoa – os textos que produzia. Quando
marido e recordou como ele fora              entrava no gabinete e surpreendia-a
apaixonado por ela. Uma paixão que a         escrevendo, pedia-lhe permissão para ler
rotina do casamento não conseguira           o produto da vez. A resposta era sempre
esfriar. Diante do desinteresse dela pelos   a mesma:
assuntos domésticos, das horas que
roubava da convivência com ele e com          - Não, agora não. Ainda está no
os filhos para dedicar à leitura e à         rascunho, quando passar a limpo, você o
composição de seus textos, sua paciência     lerá.
era uma fonte inesgotável, que parecia
renovar-se todos os dias.                     E ele não insistia. Respeitava-a e
                                             amava-a demais para forçá-la a fazer
 Sabia não ter sido uma boa mãe. Não         qualquer coisa que a deixasse
se enquadrava nos parâmetros que             contrariada ou constrangida.
determinavam se uma mulher era uma
boa mãe. Nunca se entusiasmara com a          A velha senhora levantou-se e passou
maternidade e não escondera isso do          em revista as estantes com seus livros.
noivo. Chegara mesmo a dizer, para           Diante dos seus preferidos, parava.
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Almanaque o Voo da Gralha Azul numero 8 set out nov 2011

  • 1.
  • 2. Revista Literária ―O Voo da Gralha Azul‖ n0. 8 – Paraná, setembro/outubro/novembro 2011 Idealização, seleção e edição: José Feldman Contatos, sugestões, colaborações: pavilhaoliterario@gmail.com voodagralhaazul@gmail.com http://singrandohorizontes.blogspot.com Endereço para correspondencia: Rua das Mangueiras, 296-A Cep.87080-680 Maringá/PR Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!! Prezado Leitor Este almanaque não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado. Por que o Voo da Gralha Azul? A Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. Ao leitor, novos conhecimentos. Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração. Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos, José Feldman
  • 3. SUMÁRIO ACADEMIAS ESTANTE DE LIVROS ACADEMIA CAMPINENSE DE LETRAS ......................................... 155 ANTONIO BRÁS CONSTANTE Hoje é seu Aniversário! "Prepare-se".......................................122 ADEMAR MACEDO ÁTILA JOSÉ BORGES Matando o Porco. Eu Contos .....................................................166 MENSAGENS POÉTICAS N. 399 BRANQUINHO DA FONSECA Uma Trova Nacional ................................................................ 163 O Barão ..................................................................................... 43 Uma Trova Potiguar ................................................................ 164 CAROLINA RAMOS Uma Trova Premiada ............................................................... 164 Lançamento do Livro de Poesias ―Destino‖ ................................. 3 Uma Trova de Ademar ............................................................. 164 GUIMARÃES ROSA ...E Suas Trovas Ficaram ......................................................... 164 7 Contos do Livro Primeiras Histórias Estrofe do Dia .......................................................................... 164 Sorôco, sua mãe, sua filha ........................................................ 74 Soneto do Dia .......................................................................... 164 A menina de lá .......................................................................... 75 Os irmãos Dagobé ...................................................................... 76 BIOGRAFIAS Pirlimpsiquice........................................................................... 77 Fatalidade ................................................................................. 78 Abílio César Borges ...................................................................29 Substância................................................................................. 79 Adalcinda Camarão ....................................................................25 A partida do audaz navegante ................................................... 80 Adelto Gonçalves .......................................................................18 ISABEL FURINI (ORGANIZADORA) Anderson Braga Horta ............................................................. 142 Passageiros do Espelho (Antologia de Contos) ..........................164 Antonio Brás Constante ............................................................ 122 JOÃO UBALDO RIBEIRO Antônio Cândido da Silva ...........................................................67 O Sorriso do Lagarto.................................................................168 Branquinho da Fonseca .............................................................45 JOSÉ MARINS (ORGANIZADOR) Carlos Reverbel ..........................................................................88 A brisa é você: Mini contos.......................................................101 Cláudio Batista Feitosa ...............................................................69 LYA LUFT Emilia Pardo Barzón ............................................................... 137 A Asa Esquerda do Anjo ............................................................ 89 Fernando Campanella .............................................................. 154 MARIO QUINTANA Glorinha Rattes ........................................................................ 134 80 anos de poesia ...................................................................... 72 Jardel Estevão Barbosa Silva ................................................... 150 Jussára C. Godinho ....................................................................59 FOLCLORE Lafcádio Hearn ―Koizumi Yakumo‖............................................86 Laurindo Rabelo ........................................................................48 O Amigo da Onça ......................................................................145 Lya Luft ......................................................................................90 Natália Correia ........................................................................ 101 HAICAIS Nilton da Costa Teixeira ........................................................... 130 Nilton Manoel.............................................................................10 NILTON MANOEL Raul de Leoni .......................................................................... 160 Poesia Magica (haicais)................................................................ 5 Valdeck Almeida de Jesus .........................................................96 Victor Giudice ......................................................................... 125 MENSAGEM CINEMA ARISTÓTELES ONASSIS Talvez ........................................................................................ 1 Obras de Shakespeare no Cinema ............................................. 120 O ESCRITOR COM A PALAVRA CURIOSIDADES DE NOSSA LÍNGUA A. A. DE ASSIS VÍCIOS DE LINGUAGEM A Moça do Jipe .......................................................................... 27 Tautologia ................................................................................ 147 ALBERTO PACO Uma Estranha Mulher ...............................................................162 ENTREVISTA ANTONIO BRÁS CONSTANTE A Partida Do Homem Mais Veloz Do Mundo ..............................118 IALMAR PIO SCHNEIDER Contos da Delegacia Brasil ........................................................121 O Homem atrás do escritor, o Escritor atrás do homem .............55 Mamãe, a Professora Sumiu!.....................................................110 Uma Feira de Doces para Alimentar o Pensamento .................... 81 ANTÔNIO CÂNDIDO DA SILVA Bar do Zizi ................................................................................ 66
  • 4. APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA Ode à água ...............................................................................142 Celulares ....................................................................................52 ARTHUR RIMBAUD ARTHUR RIMBAUD O barco ébrio ...........................................................................104 Aurora — XXII ....................................................................... 106 Vogais ......................................................................................105 ARTUR DE AZEVEDO Minha boêmia (Fantasia) ..........................................................105 A Ama-Seca ................................................................................12 BRANQUINHO DA FONSECA A "Não-me-toques!‖ ..................................................................32 Naufrágio .................................................................................. 42 CAROLINA RAMOS Arquipélago das sereias ............................................................ 42 Do Cotidiano ................................................................................ 2 Castanheiros, irmãos… .............................................................. 42 CINTIAN MORAES FERNANDO CAMPANELLA A diferença entre Viver Bem e Viver Melhor ...............................93 Ao vento ...................................................................................151 DIEGO OLIVEIRA Ninféias ....................................................................................152 Um Minuto ............................................................................... 102 Luz cadente ..............................................................................152 EMILIA PARDO BAZÁN Refabulando .............................................................................152 Oito Nozes ................................................................................ 135 Capela dos ossos .......................................................................152 FERNANDO CAMPANELLA La Campanella ..........................................................................152 Conversa de Compadres ............................................................ 150 A media luz ..............................................................................153 HUMBERTO DE CAMPOS Alquimia ..................................................................................153 A Rosa Azul ................................................................................. 4 Olhos ........................................................................................153 O Filósofo ...................................................................................40 Tua beleza................................................................................153 INGLÊS DE SOUSA Consummatum .........................................................................153 A Quadrilha de Jacob Patacho ....................................................59 Frutos da terra .........................................................................153 JARDEL ESTEVÃO BARBOSA SILVA Pássaros ...................................................................................154 O Perfume ................................................................................ 148 GLORINHA RATTES J.B.XAVIER Desabafo ...................................................................................133 A Espera .....................................................................................11 Espelho ....................................................................................133 JORGE LUIS BORGES Exemplo de vida.......................................................................133 O Outro .................................................................................... 106 O que fica .................................................................................134 JUSSARA C. GODINHO Sublime amor .........................................................................134 Meninos de rua ..........................................................................51 JUSSARA C GODINHO LAFCÁDIO HEARN Amor, sentimento estranho ....................................................... 59 A Promessa ................................................................................83 LAURINDO RABELO LUIS FERNANDO VERÍSSIMO ―O que fazes, ó minh’alma?‖ .................................................... 46 Metamorfose............................................................................. 123 Dois impossíveis ........................................................................ 47 MIGUEL FALABELLA LYA LUFT Saudade .....................................................................................97 Canção na plenitude .................................................................. 82 NILTO MACIEL NATÁLIA CORREIA Vou ser herói, Maria ..................................................................31 ―A defesa do poeta‖ ................................................................. 98 OTTO MELANDER Fiz um conto para me embalar .................................................. 99 A Mulher e o Cachorro ................................................................70 Auto retrato .............................................................................. 99 PETRUS ALPHONSUS Queixa das almas jovens censuradas ......................................... 99 Humor do Século XII ................................................................ 144 Ode à paz .................................................................................100 SAMUEL CASTIEL JR. A alma......................................................................................100 Noturnas ....................................................................................68 Falavam me de amor ................................................................100 VICÊNCIA JAGUARIBE NILTON DA COSTA TEIXEIRA Mas a vida...A vida não se passa a limpo ....................................22 A fonte luminosa ......................................................................132 VICTOR GIUDICE PADRE CELSO DE CARVALHO O Arquivo ................................................................................. 124 A lenda dos caminhos ..............................................................102 Soneto .....................................................................................103 POESIAS Diamantina em serenata ...........................................................103 RAUL DE LEONI .............................................................................. ADALCINDA CAMARÃO A hora cinzenta ........................................................................158 Bom dia, Belém ..........................................................................24 Argila .......................................................................................158 Espaço-tempo .............................................................................25 Decadência ...............................................................................158 ANDERSON BRAGA HORTA Transubstanciação ...................................................................158 Salmo para Célia ..................................................................... 139 Desconfiando ............................................................................159 A tartaruga............................................................................... 140 ― Almas desoladoramente frias…‖ ...........................................159 Sísifo ........................................................................................ 141 Crepuscular ..............................................................................159 Rio ........................................................................................... 141 Unidade ....................................................................................159 (A)mar(o) ................................................................................. 141 Pudor .......................................................................................159 Ciranda .................................................................................... 141 Prudência .................................................................................160
  • 5. Aos que sonham ....................................................................... 160 JUSSARA C. GODINHO SAMUEL CASTIEL JR. Trovas ....................................................................................... 52 Flor Tropical .............................................................................67 NILTON DA COSTA TEIXEIRA VALDECK ALMEIDA DE JESUS Trovas dispersas ......................................................................132 A vida pulsa ..............................................................................95 NILTON MANOEL (SP) Coração de pedra ........................................................................95 Trovas ....................................................................................... 10 Cicatrizes ...................................................................................95 TROVAS Tema: Paciência ........................................................................ 19 SOPA DE LETRAS TROVAS EM IMAGEM A. A. de Assis (PR) ..................................... 12,18, 35, 89, 104, 110 ADELTO GONÇALVES Ademar Macedo (RN) ................................................................. 55 Cinco séculos de poesia brasileira ..............................................15 Alberto Paco (PR) ...................................................................... 95 FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL ...............................................50 Austregésilo de Miranda Alves (BA) ........................................... 41 Dáguima Verônica (MG) ............................................................. 66 Élbea Priscila de Souza e Silva (SP)........................................... 15 TROVAS Francisco Pessoa Reis (CE) ............................................................. Hermoclydes S. Franco (RJ) ...................................................... 21 A. A. DE ASSIS Nemésio Prata Crisóstomo (CE) .............................................. 9, 31 Tábua de Trovas ........................................................................35 Wagner Marques Lopes (MG) ...................................... 5, 27, 50, 70 BAÚ DE TROVAS WALDIR NEVES Nova Friburgo 1960 ................................................................. 111 Trovas ......................................................................................177 ELIANA RUIZ JIMENEZ XVII JOGOS FLORAIS DE CURITIBA Trova-Legenda (Participe!) ....................................................... 175 Regulamento ............................................................................174 Trovas de 9 a 15 de outubro .................................................... 176 IALMAR PIO SCHNEIDER Trovas ........................................................................................58 Este Almanaque não pode ser comercializado em hipótese alguma. Caso assim o desejar, deve-se contatar o/s autor/es para obter autorização. Respeite os Direitos do Autor.
  • 6. 1 ARISTÓTELES ONASSIS Mensagem Talvez algumas pessoas queiram o meu mal. TALVEZ Mas irei continuar plantando a semente da fraternidade por onde passar. Talvez eu venha a envelhecer rápido demais. Mas lutarei para que cada dia tenha valido a pena. Talvez eu fique triste ao concluir que não consigo seguir o ritmo da música. Talvez eu sofra inúmeras desilusões no decorrer de Mas então, farei que a música siga o compasso dos meus minha vida. passos. Mas farei que elas percam a importância diante dos gestos de amor que encontrei. Talvez eu nunca consiga enxergar um arco-íris. Mas aprenderei a desenhar um, nem que seja dentro do Talvez eu não tenha forças para realizar todos os meus meu coração. ideais. Mas jamais irei me considerar um derrotado. Talvez hoje eu me sinta fraco. Mas amanhã irei recomeçar, nem que seja de uma Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda. maneira diferente. Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão. Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias. Talvez um dia o sol deixe de brilhar. Mas terei a consciência que os verdadeiros ensinamentos Mas então irei me banhar na chuva. já estão gravados em minha alma. Talvez um dia eu sofra alguma injustiça. Talvez eu me deprima por não ser capaz de saber a letra Mas jamais irei assumir o papel de vítima. daquela música. Mas ficarei feliz com as outras capacidades que possuo. Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos. Mas terei humildade para aceitar as mãos que se Talvez eu não tenha motivos para grandes estenderão em minha direção. comemorações. Mas não deixarei de me alegrar com as pequenas Talvez numa dessas noites frias, eu derrame muitas conquistas. lágrimas. Mas não terei vergonha por esse gesto. Talvez a vontade de abandonar tudo torne-se a minha companheira. Talvez eu seja enganado inúmeras vezes. Mas ao invés de fugir, irei correr atrás do que almejo. Mas não deixarei de acreditar que em algum lugar alguém merece a minha confiança. Talvez eu não seja exatamente quem gostaria de ser. Mas passarei a admirar quem sou. Talvez com o tempo eu perceba que cometi grandes Porque no final saberei que, mesmo com incontáveis erros. dúvidas, eu sou capaz de construir uma vida melhor. Mas não desistirei de continuar trilhando meu caminho. E se ainda não me convenci disso, é porque como diz Talvez com o decorrer dos anos eu perca grandes aquele ditado: “ainda não chegou o fim” amizades. Porque no final não haverá nenhum “talvez” e sim a Mas irei aprender que aqueles que realmente são meus certeza de que a minha vida valeu a pena e eu fiz o verdadeiros amigos nunca estarão perdidos. melhor que podia.
  • 7. 2 Carolina Ramos Do Cotidiano Fim de tarde. Friozinho abelhudo penetrava Disfarçou, fingindo não vê-lo. Foi puxado pela por onde quer que lhe fosse permitido entrar, manga. encolhendo ombros e aconchegando corpos. – Moço, me dá um dinheirinho? Tô cum fome. Pressa. Pressa de voltar para casa. De rever a esposa, os filhos, os entes queridos. Pressa de Era tudo que não queria ouvir! Engoliu a trocar os sapatos pela comodidade dos chinelos saliva que o reflexo, condicionado à chegada velhos, das meias de lã, ma maioria das vezes do hamburger, lhe fizera crescer na boca. furadas no dedão. Pressa de sumir dentro do pijama quentinho. De saborear o jantar – Hoje não, meu filho…Não tenho trocado. – fumegante e depois esparramar-se na Procurou ignorar a presença incômoda do poltrona, frente à TV para cochilar e falar mal menino, saboreando, com os olhos, a iguaria, dela. cujo aroma lhe excitava as glândulas salivares. Apertou o hamburger com volúpia, fazendo o Fim de tarde fria. Noite a insinuar-se, mais fria ―catchup‖ escorrer pelas bordas. Chegou a ainda. abrir a boca para a primeira mordida, não consumada. Sem esposa, nem filhos, sem aquela pressa que movia tantas pernas, Reginaldo caminhava Ao seu lado, o garoto permanecia fascinado sem motivação maior, arrastando os passos pelo petisco fumegante, entre fritas e folhas de até a lanchonete mais próxima, menos cheia alface. de gente descompromissada, como ele, e, portanto, menos tumultuada pelo vozerio das Reginaldo engoliu em seco. Tivesse dinheiro no massas. bolso e tudo estaria resolvido. O remorso antecipou-se à consumação, importunando-o Roído de fome, passou a perna por sobre a mais do que a própria fome. Pensou em divir o banqueta redonda, repousando os cotovelos pitéu. Lambuzou-se todo! Os olhos do garoto no balcão de formica. Consultou os bolsos. Eles continuavam, gulosos, namorando o é que ditavam o pedido. Os apelos do hamburger. estômago eram secundários. Fim de mês. Minguava, no fundo da algibeira, a carteira Capitulou. Pediu um saquinho de papel e murcha. Não dava para muito. E, justamente encheu-o de batatas fritas. Embrulhou o naquele início frio de uma noite que prometia hamburger num guardanapo e entregou-o, ser gélida, sentia uma fome de cão vadio! inteiro, à fome que se estampava na carinha esquálida. E achou que seria pouco! – Um hamburger com fritas. Ah… e um cafezinho pingado. Alegria e surpresa coloriram a face ´pálida do menino que balbuciou qualquer coisa – Bebida? ininteligível e disparou porta afora, temeroso de possível arrependimento. Lembrou-se da carteira murcha. Sobraram para Reginaldo, desapontamento e – Não…obrigado. Só o cafezinho. frustração total! Aguardou, impaciente. Perdera o jantar! A fome continuava firme. E a fuga precipitada roubava-lhe, ainda, a Chegaram juntos: – o hamburger e o garoto modesta satisfação do espetáculo de olhos tristes. Seis ou sete anos, no máximo. proporcionado pela sua renúncia. Queria ver
  • 8. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 3 morrer a fome do guri! Fome a ser morta por a mãe, maltrapilha, e com mais duas crianças, ele! Morte da qual não se arrependeria, sua finada refeição. jamais! Direito seu! O sorriso do menino foi, sem dúvida, o que de Contentou-se com o cafezinho morno e duas mais gratificante recebera da vida! fritas sobradas no prato. E enfrentou novamente a noite, mais fria do que antes, A caminho da modesta vaga que ocupava, ignorando os reclamos do estômago vazio. numa casa de cômodos, esqueceu-se da fome. Chegou mesmo a envergonhar-se dela!. Meio quarteirão adiante, uma surpresa. Fonte: Sentado na calçada, encostado à parede, o RAMOS, Carolina. Interlúdio: contos.SP: EditorAção, abril 1993. mesmo garoto, olhos menos tristes, dividia com Carolina Ramos Lançamento do Livro de Poesias ―Destino‖, em 23 de Novembro
  • 9. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 4 Humberto de Campos A Rosa Azul O comendador Luiz de Faria acabava de fechar os olhos à velha marquesa de São Justino, adoçando-lhe o O comendador interrompeu um momento a narrativa, recostou-se na almofada, e continuou: momento da morte com a noticia alvissareira e mentirosa da completa regeneração do seu A sua paciência de jardineiro era absorvida, neto, o estudante Guilherme de Araújo, entretanto, por uma idéia, que era um sonho: quando o encontrei à porta da casa funerária, encontrar a rosa azul das legendas do Oriente, à espera do seu automóvel. Abalado, ainda, de que tivera noticia, uma noite, ao ler os pela emoção daquele instante, em que tivera poemas latinos dos velhos monges medievais. de lançar mão de uma falsidade para Para isso, casava ele as sementes, os brotos, perfumar o último sopro de uma vida de fundia os enxertos, combinando as terras, com virtudes e sofrimentos, o antigo par do reino que as cobria, e as águas, com que as regava, português aceitou um lugar no meu ―taxi‖, e esperando, ansioso, o aparecimento, no topo confessou-me, em viagem: da haste, do sonhado botão azul! Ao fim de setenta anos de experiências e sonhos, em que - A mentira, meu amigo, é, às vezes, uma se lhe misturavam na imaginação as chagas necessidade. Aquela de que me socorri há vermelhas de Cristo e as manchas celestes da meia hora, para suavizar a morte de uma sua rosa encantada, surgiu, afinal, no santa, de uma senhora cuja maior esperança coroamento de um galho de roseira, um botão consistia no futuro de um neto que se azul, como o céu. Centenário e curvado, o desgarrara do lar, era tão necessária como a velhinho não resistiu à emoção; adoeceu, e, do prior da Cartuxa para alegrar a agonia conduzido à cela, ajoelhou-se diante do daquele célebre monge do Bussaco. Crucificado, pedindo-lhe, entre soluços pungentes, que, como prêmio à santidade da Eu olhei, interrogativamente, o meu sua vida, não lhe cerrasse os olhos sem que eles companheiro de viagem, e ele, percebendo a vissem, contentes, o desabrochar da sua rosa ignorância, indagou, com admiração: azul. - Não conhece, então, a lenda da rosa azul? Uma nova pausa, e o meu companheiro tornou: À minha afirmativa, que lhe pareceu estranha, o comendador apoiou as mãos robustas no - Em volta do santo velhinho, no catre do castão de ouro da bengala, e contou: mosteiro, todos choravam, compungidos. E foi, então, que, divulgada de boca em boca, foi a - No Mosteiro da Cartuxa, no Bussaco, em noticia ter a um convento das proximidades, Portugal, vivia, em séculos que já se foram, um onde jazia, orando e sonhando, uma linda piedoso e santo monge, cuja vida se consumia, infanta de Portugal. Moça e formosa, e, além inteira, entre a oração e as rosas. Jardineiro da de formosa e moça, – fidalga e portuguesa, alma e das flores, passava ele as manhãs de compreendeu a pequenina freira, no jardim joelhos, no silencio da nave, aos pés de um do seu sonho, o valor daquela ilusão, e correu Cristo crucificado, e as tardes, no pequeno à sua cela, consumindo toda uma noite a jardim da ordem, curvado diante das roseiras, fazer, com os seus dedos de neve, uma viçosa que ele próprio plantava e regava. flor de seda azul, que perfumou, ela própria, com essência de gerânio. E no dia seguinte, pela manhã, morria no seu catre, sorrindo entre lágrimas de alegria, por ter nas mãos
  • 10. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 5 tremulas, por um milagre do céu, a sua rosa - Feliz, meu amigo, aquele que morre, como azul! esse monge e a marquesa, apertando nas mãos a rosa, mesmo mentirosa, de uma roseira O ―taxi‖ parava no meio-fio da calçada, o de que cuidou toda a vida. comendador acrescentou, estendendo-me a mão agradecida: Fonte: Domínio Público Nilton Manoel Poesia Magica (haicais) 1 7 Chove… Noite longa! Música na rua! Insone faço barquinhos O caminhão passa e vejo e a aurora não chega. meu fogão sem gás! 2 8 No céu estrelado, Menino de rua, a bola redonda, agita, - dorme e sonha à porta da igreja -, o dia das bruxas. sem família e escola. 3 9 É noite. Os barulhos Dois corpos inertes. são tantos… e um pernilongo, Sangue escorrendo no chão! deixa-me acordado. Há droga no crime? 4 10 Muro antigo, os bichos, Na estreita calçada, movimentam-se, com medo o bípede e o quadrúpede, de uma lagartixa. desfilam na corrente. 5 11 Famintos de espaço, Calça desbotada, cupins, mudam de lugar, rasgada, cós baixo… é a moda! nas tábuas da mesa, Quanta mulher linda! 6 12 Na cômoda antiga, Rua descalça: um jornaleiro de louça! - o povo clama e reclama, O guri se foi. e o prefeito? Viaja!
  • 11. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 6 13 26 No escuro da rua, Um tiro no escuro. alguém corre e agita a mão, A estrela sai de cartaz ao táxi que passa. e a platéia chora. 14 27 Na grama verdinha Boteco de esquina, a perereca faz cooper o pai ausente, acredita e assusta a madame. que, a família, é chope. 15 28 No verão há menos Brisa leve. Velas fofoqueiros que, no inverno.; aromáticas nos ares… o sorvete acalma! Rituais diversos. 16 29 A ágil libélula, Na ausência da lua, voa e sobrevoa, a fonte. namorados de esquina, da praça da escola. se esquecem do mundo. 17 Na praça, a menina, 30 namora, entre belas flores. Na manhã de Sol, É um buquê de sonhos! a libélula descansa, 18 num varal de roupas. Em céu de bons ventos 31 e a meninada feliz, Campo Santo, a brisa solta pipa e canta. da madrugada, clareia, 19 idéias macabras. A mosca chateia, 32 o corpo suado do chapa, Delicia de vida! na usina de açúcar. Quando há cravo e canela, 20 o arroz é doce. Deitados na grama 33 da praça, um casal namora Cheia de cupins, e, o Sol nem se foi. morre aos poucos, a figueira, 21 da praça sem nome. Na fria manhã, 34 o entregador de jornal, Sopa quente… as letras traz notícias de ontem. do macarrão, revelam-me 22 palavras e idéias. Em banca de feira, 35 o preço do feijão jalo, A cigarra canta vende mais arroz. na palmeira sem parar 23 e nem todos a ouve. Friagem na rua, 36 sob a marquise, o homem só, No xaxim do alpendre, põe jornais no tênis. a samambaia desfolha, 24 folhinhas no chão. Na estreita calçada, 37 portões, folhagem, floreiras… Saudade: – mão única.; pedestres, na rua! campas, estátuas, fantasmas. 25 Desfecho da vida. Na coleta, o lixo, 38 nem pesa na mão sofrida, Na areia macia, do rapaz cansado. a juventude faz festa, com as ondas do mar.
  • 12. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 7 39 52 Fogos de fim de ano Céus azuis. Planícies! e, o poeta, cheio de versos, Cidades. Sonhos. Poder. sonha com bonança. Quadros sociais. 40 53 Venta e chove forte , Sete de setembro. vejo da vidraça, na rua, Independência ou morte. Sorte. os ônibus lotados. Um bem-te-vi canta. 41 54 Real na pele, É carnaval. Festa o rico chupa sorvete, do povo que sonha e sua e o pobre gelinho.= em paz com alegria. 42 55 Natal! Luzes… lojas… Os flocos dengosos Sonhos… Novas esperanças! do algodão caem no chão… e o homem só, esmola! Tapetes plumosos. 43 56 Na falha da folha O poeta olha o céu, da goiabeira, o sol crava, Sonha, sonha, sonha e sonha… lâminas de luz. Desperta e escreve! 44 57 Máscaras, confetes, A inveja lateja pelas ruas quanto samba! na alma abatida e sem calma. Carnaval é festa! Espinhos daninhos. 45 58 O homem com a pá, Primavera, festa cava a cova e guarda os restos. da natureza. A beleza Com o fim vive a vida. está da alma da gente. 46 59 No xaxim de areia, Na mata, o perfume, a robusta samambaia revela os mistérios lindos quer dengo sem dengue. que a natureza tem. 47 60 Cantigas, bandeiras, Nos galhos secos, batatas, quentões, fogueiras… as aves pintam a tarde, é junho na roça. e o canto é saudade. 48 61 No fogão de lenha, Há uva na parreira o gosto do bom café, e o néctar de cada cacho tem casa de campo. tornam-me um eterno. 49 62 Chapéus de lã, ventos Na rua o homem só de frente fria, caem não pesa na minha consciência. folhas secas no chão. Virou postal. 50 63 A lua cheia e redonda, Saudade é a avenida toma conta das estrelas.; dos que vão antes de mim! e o poeta, versa. E eu vou pra onde. 51 64 Na folha branquinha, Na rua do empório, consoantes e vogais, em dias de promoção, ondeiam meus sonhos. o povo faz fila .
  • 13. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 8 65 78 A velha senhora, Sentado no chão, entra no mercado, na farmácia… o menino, sem destino, Não ri nem chora. mastiga um filão. 66 79 O sapo coaxa, Lua baça, esfria! no lago da fazenda, É frente fria na gente em noite estrelada. e rua vazia. 67 80 Os campos se vão Como a vida é bela! e as aves silvestres ficam, Fartura! Há arroz com mistura. mais urbanizadas. Viva a mortadela. 68 81 No verde minguado Venta. É primavera.; de aves e animais, os homens, perfume em todos os lares, lume plantam mais cinzas… de nova quimera. 69 82 Escureceu e o campo No pé de abacate, revela as luzes singelas o bem-te-vi canta bem… de mil pirilampos. Um cachorro late. 70 83 Luzes estelares Queimada de cana! de abril… sutil poesia Venta e a palha atormenta em todos os lares. o fim de semana! 71 84 Na lã do chapéu Tarde sossegada, De leve flocos de neve na rede, eu mato a sede Invernam meu céu. com limonada. 72 85 Junho. A lua brilha. Em noite de vento Na roça qualquer palhoça tem sempre o vulto de alguém faz fogo e quadrilha. procurando alento. 73 86 Comédia medonha, A beira do rio o salário do operário, verde e robusto o arbusto não paga o que sonha. balança macio. 74 87 Tapete de flores, Rua longa, fria, no chão a emoção muito pó… O homem vai só, de perfuma em cores. sem lar, na agonia! 75 88 Na clara manhã Pobre e sem afeto, canta um galo e numa planta nada de novo para o povo, salta e salta a rã… sem terra e sem teto. 76 89 Na porta da firma, O mínimo vem! por salário, o operário, O salário do operário, faz greve e se afirma. faz sofrer? Amém! 77 90 Fim de tarde… o Sol Escura noite. O céu movimenta-se e inventa estrelado me vê calado as cores do arrebol. com sonhos ao léu.
  • 14. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 9 91 faz formas no chão. No sótão, guardados 99 dos antigos da família, Magro o gato persa, dão vida aos cupins. no canto da sala, embala, 92 muita conversa. Na rua devassa, 100 cenas constantes, obscenas, Sentadas no chão assustam quem passa. crianças batem mansas 93 figuras com a mão. Na quadra de esporte 101 a bola rola, rola e enrola, Chove forte e o rio o atleta sem sorte. de baixa borda transborda. 94 e a vida num fio. Férias escolares 102 nas noites de lua, a rua, Pula, corcoveia… têm bolas nos ares. no embalo pára o cavalo e o peão, na areia. 95 103 Folhas no chão. Flor branca e bela. Grilos. Sombras. Espantalhos visão de impacto o cacto mexem com a visão.; de minha janela. 96 104 Na gaiola, canta Rua molhada, o canário e o hinário, a parada brusca de um fusca, é encanto e vida traz confusão danada. 97 105 O grão de feijão, Balcão de perfumes. descobre, na mesa do pobre, Rosa Maria, formosa, que é ouro-tesouro. é meiguice e ciúmes. 98 Seca, mansamente, Fonte: cai a folha e o vento lento Usina de Letras
  • 15. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 10 Nilton Manoel Trovas 1 e geme sem dor com ela! Quem tem vida vive atento pêlos caminhos que enfrenta; 9 brinda as farpas do momento Solteiro? – Querida! Ó vida com chocolate e pimenta. de prazeres… sonhos tantos! Casados? ? Os nós da lida, 2 cegam os reais encantos!? O chifre em terra rachada em bucolismo infernal, 10 é o adorno que traça a estrada No lirismo de meu povo da carência de água e sal. sonho e tenho sempre fé que num dia de sol novo 3 será plena a paz.. de pé! Florestas? – Quero espigões! e a fauna toda enjaulada! 11 … e a moda de altos portões, Enfim dono dos saberes esconde a noite estrelada. da vida, em música e dança, 4 concluo que, o fim dos seres Depois dos cinqüenta, creio, é o limite da esperança. tudo é lucro e coerência; homem que não faz rodeio, 12 sabe o que vale a existência. Corre-se tanto, mas tanto, pelo pódio e sua glória que, o enfim é o fúnebre pranto, 5 de um troféu ao fim da história! Homem é o que sabe ser companheiro, amigo e irmão; 13 Quem preza o Bem, sabe ter Quando há morte programada da vida toda a emoção. pelos quadrantes da terra, homens que não valem nada 6 sentem paz plantando guerra. Meu pai, exemplo perfeito de luta e vitalidade; 14 ao partir, por ser direito, Cavalgando sem rodeios deixou sincera saudade. por galáxias estreladas, o poeta, em seus anseios 7 tece trovas requintadas. Quando o homem é Homem não chora, enfrenta as farpas da vida, vence a fauna hostil com a flora tornando a estrada florida. 8 Nilton Manoel O amante da Filomena, se encontra o ex-marido dela, treme tanto de dar pena… N ilton Manoel Teixeira, capricorniano de 3 de janeiro, nasceu em Ribeirão Preto-SP, onde vive.
  • 16. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 11 Professor e contabilista. Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto ( Começou nos anos sessenta publicando fundador e 1º presidente), seus textos no mimeógrafo à álcool e escrevendo Clube Internacional da Boa Leitura. para jornais. Com apoio de Luiz Otávio Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana. (fundador da União Brasileira de Trovadores) Instituto Histórico e Geográfico do Distrito implantou os Jogos Florais em sua cidade e como Federal. presidente da secção ubeteana de Ribeirão Ordem dos Velhos Jornalistas. Preto, realiza eventos locais e nacionais. The International Academy of Letters of England. Na área da Literatura, esteve no União Brasileira de Escritores. Conselho Municipal de Cultura, por três gestões. Usina de Letras etc. Tem editados:-Trovas da Juventude; Cantigas do meu terreiro; Caviar, gororoba e sal Tem o título de Magnífico Trovador pela de frutas, Poesia Mágica (haicais) e folhetos de Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel ao estilo tradicional. Cordel; Pertence a: Mérito Cultural pelo Instituto Histórico e Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Geográfico de Uruguaiana, Letras. Medalha de Ouro, no I Aniversário do Academia Brasileira de Trova. Clube dos Trovadores Capixabas, Academia de Letras de Uruguaiana, Honra ao Mérito pela Ordem Brasileira Academia de Letras Fronteira Sudoeste do Rio dos Poetas da Literatura de Cordel. Grande do Sul. Mérito Cultural Pablo Neruda, em 2004 Academia Friburguense de Letras. Academia Goianiense de Letras. No http://www.movimentodasartes.com.br/ Academia Internacional de Ciências assina a coluna Trovador Humanísticas. Academia Internacional de Heráldica e Fontes: Genealogia. Usina das Letras Portal CEN Academia de Letras de Ribeirão Preto. Academia Petropolitana de Poesia. Academia Poços-caldense de Letras. Academia Ribeirãopretana de Poesia. Academia Santista de Letras. Academia Virtual Brasileira de Letras. J.B.Xavier A Espera Por sobre o banco onde eu estava sentado, pendiam galhos de chorões que Muitos bons dias dei, muito acenei para iam até o chão, mas ainda assim, por os passageiros que ansiavam por entre essa maravilhosa prisão verde, eu liberdade, por fugir da clausura de horas podia ver os ônibus que chegavam, e horas de viagens claustrofóbicas. vindos de todos os Estados do país. Sorri um riso amarelo, e acenei Coloridos, eles se misturavam num claudicante para os sorrisos das crianças, caleidoscópio maravilhoso de cores e filhos de migrantes que vinham tentar a formas,num magnífico balé de titãs. sorte na cidade grande. Mas não tive tempo de ficar triste, porque os galhos Às seis horas da manhã lá estava eu, verdes, gentilmente manipulados pela sentado num banco da pequena praça brisa da manhã, acariciaram meu rosto que havia em frente à área de ternamente, alisaram meus cabelos e desembarque do terminal rodoviário de farfalharam alegres, certamente gratos uma das maiores cidades do país. pelo sol que surgia por trás dos edifícios,
  • 17. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 12 numa promessa de um cálido banho de mim, restando apenas uma umidade em vida. meus dedos, único sinal de que ela existira e ensinara-me algo sobre a Reflexos vívidos e faiscantes lascas de luz seqüência eterna dos ciclos. transformavam as poças da chuva da noite anterior em bateias repletas de Uma brisa mais ousada veio me dar seu esfuziantes diamantes. bom dia e o galho estremeceu num frenesi de prazer, feliz pela visita bem Como garimpeiro cuidadoso, toquei vinda. uma dessas jóias que pendiam frágeis na ponta de uma delicada folhinha que Apenas por observar esse encontro balouçava suavemente à minha frente. maravilhoso, fui ungido com a bênção de ter sobre mim as lágrimas de felicidade Gentilmente ela aceitou meu convite e, do orvalho remanescente. Então um assim, de repente, eu tinha uma obra de grande e multicolorido ônibus surgiu arte na ponta dos dedos. Olhei atônito entre os demais, e, numa janela aquele universo minúsculo, aquela esfera ocasional senti, antes de ver, teu sorriso perfeita, na qual Deus faz demonstrações maravilhoso e as doces promessas de magistrais de engenharia celestial e pude amor que dele rescendiam. ver seus espelhos refletindo o mundo ao meu redor, como a lembrar-me de Olhei durante aquela pequena minha própria pequenez diante da eternidade que durou tua chegada e beleza universal. lembrando de Louis Armstrong, pensei comigo mesmo: Frágil, e com a certeza de já ter vivido o suficiente para tocar-me a alma, a Que mundo maravilhoso! pequenina gotícula chegou ao fim de Fonte: sua eternidade e desfez-se diante de http://www.jbxavier.com.br/visualizar.php?idt=4572 Artur de Azevedo A Ama-Seca a mais leve infidelidade conjugal como O Romualdo, marido de D. de roubar o sino de São Francisco de Eufêmia, era um rapaz sério, lá Paula; mas – vejam como o diabo as isso era, e tão incapaz de cometer arma! Um dia D. Eufêmia foi chamada,
  • 18. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 13 a toda a pressa, a Juiz de Fora, para ver o pai que estava gravemente enfermo, e - Boa noite. como o Romualdo não podia naquela ocasião deixar a casa comercial de que - Como se chama? era guarda-livros (estavam a dar balanço), resignou-se a ver partir a - Antonieta. senhora acompanhada pelos três meninos, o Zeca, o Cazuza, o Bibi, e a - Pode dar-me uma palavra? ama-seca deste último, que era ainda de colo. - Por que não falou no bonde? Foi a primeira vez que o Romualdo se - Era impossível… estava tanta gente… e separou da família. Custou-lhe muito, estes elétricos são tão iluminados. coitado, e mais lhe custou quando, ao cabo de uma semana, D. Eufêmia lhe - Mas o sinhô bolinou que não foi graça! escreveu, dizendo que o velho estava vamos, diga: que deseja? livre de perigo, mas a convalescença seria longa, e o seu dever de filha era - Desejo saber onde mora. ficar junto dele um mês pelo menos. - Não tenho casa minha; tou empregada O Romualdo resignou-se. Que remédio!… numa famia ali mais adiente, por siná que não stou satisfeita, e ando Durante os primeiros tempos saía do procurando outra arrumação. escritório e metia-se em casa, mas no fim de alguns dias entendeu que devia dar - Onde poderemos falar em particular? alguns passeios pelos arrabaldes, hoje este, amanhã aquele. Era um meio, - Não sei. como outro qualquer, de iludir a saudade. - Você sai amanhã à noite? Uma noite coube a vez ao Andaraí - Amanhã não, porque saí hoje, e não Grande. O Romualdo tomou o bonde do quero abusá. Leopoldo, e teve a fortuna ou a desgraça de se sentar ao lado da mulatinha mais - Então, depois de amanhã? dengosa e bonita que ainda tentou um marido, cuja mulher estivesse em Juiz de - Pois sim. Fora. - Onde a espero? Nessa noite fatal a virtude do Romualdo deu em pantanas: tencionando ele ir até - Onde o sinhô quisé. o fim da linha, como fazia todas as noites, apeou-se na Rua Mariz e Barros, - Na Praça Tiradentes, no ponto dos ali pelas alturas da Travessa de São bondes. As oito horas. Salvador. A mulata havia se apeado algumas braças antes. - Na porta do armazém do Derby? E ele viu, à luz de um lampião, o vulto - Isso! dela saltitante e esquivo, e apressou o passo para apanhá-la, o que conseguiu - Tá dito! Inté depois d‘amanhã às oito facilmente, porque, pelos modos, ela já hora. contava com isso. - Não falte! - Boa noite!
  • 19. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 14 - Não farto não! - Que homens sem-vergonha!… Não podem ver uma mulata!… No dia seguinte, o Romualdo contou a sua aventura a um companheiro de O Romualdo perturbou-se, mas escritório que era useiro e vezeiro nessas disfarçou, perguntando: cavalarias… baixas, e o camarada levou a condescendência ao ponto de confiar- - E agora? E preciso anunciar! Não lhe a chave de um ninho que tinha podemos ficar sem ama-seca! preparado adrede para os contrabandos do amor. - Já mandei o Zeca pôr um anúncio no Jornal do Brasil. Antonieta foi pontual; à hora marcada lá estava à porta do Derby, com ares de No dia seguinte, o Romualdo saiu muito quem esperava o bonde. cedo; ao voltar para casa, a primeira coisa que perguntou à senhora foi: O Romualdo aproximou-se, fez um sinal, afastou-se e ela seguiu-o… - Então? Já temos ama-seca?. . Dez dias depois, estava ele - Já; é uma mulatinha bem jeitosa, mas arrependidíssimo da sua conquista fácil, e tem cara de sapeca. Chama-se com remorsos de haver enganado D. Antonieta. Eufêmia, aquela santa! Procurava agora meios e modos de se ver livre da mulata, - Hem? Antonieta? cuja prosódia era capaz de lançar água na fervura da mais violenta paixão. - Que tens, homem? Vendo que não podia evitá-la, tomou o - Nada; não tenho nada… E jeitosa?… Romualdo a deliberação de fugir-lhe, e Tem cara de sapeca?… Manda-a uma noite deixou-a à porta do ninho, embora! Não serve! Nem quero vê-la!… esperando debalde por ele. Lembrou-se, mas era tarde, que havia prometido - Ora essa! Por quê? Olha, ela aí vem. dar-lhe uni anel, justamente nessa noite. Antonieta chegou, efetivamente, com o - Diabo! pensou ele, Antonieta vai supor Bibi ao colo; mas o Romualdo tinha que lhe fugi por causa do anel! fechado os olhos, dizendo consigo: Voltou, afinal, D. Eufêmia de Juiz de - Que escândalo!… rebenta a bomba!… Fora. Veio no trem da manhã, este diabo vai reclamar o anel!. inesperadamente, e já não encontrou o marido em casa. Mas como nada ouvisse, o mísero abriu os olhos e – oh! milagre! – era outra Estava furiosa, porque a ama-seca de Antonieta!. Bibi deixara-se ficar na estação da Barra. Podia ser que não fosse de Ele pensou, os leitores também pensaram propósito. O mais certo, porém, era o ter que fosse a mesma; não era. sido desencaminhada por um sujeito que vinha no trem a namorá-la desde Decididamente, há um Deus para os Paraíbuna. maridos que enganam as suas mulheres. Quando D. Eufêmia contou isso ao Fonte: Domínio Público marido, acrescentou indignada:
  • 20. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 15 Adelto Gonçalves Cinco séculos de poesia brasileira I O primeiro volume da série, Antologia da poesia barroca brasileira, traz poemas Os professores de Literatura Brasileira tanto do ensino médio como do ensino universitário já não de Gregório de Matos (1636-1696), Bento Teixeira (c.1561-1600), Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711) e Sebastião da Rocha precisam se preocupar tanto para Pita (1660-1738), selecionados por elaborar seus planos de ensino nem Emerson Tin, doutorando em Literatura consultar uma grande quantidade de Brasileira pela Unicamp, responsável livros nem sempre disponíveis nas também pelo prefácio, por notas bibliotecas de escolas ou mesmo de explicativas e de natureza literária, universidades públicas ou privadas. Foi contextual e lexical e por uma pequena pensando nisso que a Companhia notícia biográfica de cada autor que Editora Nacional e a Lazuli Editora ajudam a tornar cada poema mais decidiram editar uma série de cinco livros legível ao leitor pouco versado na sobre a poesia brasileira desde a produção barroca luso-brasileira. formação do País até o começo do século Não é preciso dizer que na produção XX, entregando a tarefa a uma equipe poética do período a primazia é de de jovens críticos e professores já com Gregório de Matos, o que levou o experiência em sala de aula, todos organizador da antologia a selecionar 40 ligados à Universidade Estadual de de seus poemas. Seu contemporâneo Campinas (Unicamp). Botelho de Oliveira aparece com 20 poemas, enquanto Rocha Pita, O resultado é uma edição que merece consagrado autor da História da toda a confiança do leitor e que permite América portuguesa, tem resgatada a ―pensar a história da poesia no Brasil e sua um tanto esquecida produção na suas principais linhas de força, ao longo Academia Brasílica dos Esquecidos. de cinco séculos‖, como assinala na Quem, porém, abre a antologia é Bento apresentação do primeiro dos cinco Teixeira, conhecido especialmente pelo volumes Paulo Franchetti, professor poema épico ―Prosopopéia‖, que tem titular de Teoria Literária na Unicamp, como modelo ―Os Lusíadas‖, de Luís de responsável também pela apresentação Camões (1524?-1580). dos demais livros.
  • 21. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 16 II a pouca modéstia, a biografia de Tomás Antônio Gonzaga que este articulista C om seleção e notas de Pablo Simpson, o segundo volume da série, Antologia da poesia árcade brasileira, escreveu. III dedica os maiores espaços, como não poderia deixar de ser, a Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) e Tomás Antônio J á Antologia da poesia romântica brasileira, com seleção e notas de Pablo Gonzaga (1744-1810), mas também Simpson, Pedro Marques e Cristiane contempla parte da produção de Santa Escolastico Siniscalchi, é um volume mais Rita Durão (1822?-1784), Domingos encorpado, em razão mesmo da Caldas Barbosa (1738-1800), Basílio da necessidade de abranger maior número Gama (1741-1795), Alvarenga Peixoto de autores. O período, a rigor, vai de (1744-1793) e Silva Alvarenga (1749-1814). 1836, quando o poeta Gonçalves de Magalhães (1811-1882) publicou um ensaio Reúne o que de melhor produziu a na revista Niterói, editada em Paris, poesia árcade e, de certo modo, ajuda-a lançando as idéias de um programa a recuperar um lugar que nem sempre para a edificação de uma literatura lhe foi reconhecido pela crítica, genuinamente brasileira, sob a influência especialmente a da primeira metade do da natureza americana, até meados da século XX, que viu com prevenção a segunda metade do século XIX. E estilização e o apego de seus poetas a configura a presença do Romantismo em cânones não só portugueses como terras brasileiras. italianos, esquecendo-se de que, à época, o Brasil não existia como nação Além do citado Gonçalves de Magalhães, organizada e, na verdade, éramos todos o volume abrange autores díspares como portugueses. Sousândrade (1832-1902), autor de ―O Guesa Errante―, poema redescoberto Como assinala Paulo Franchetti na pelos concretistas Augusto e Haroldo de apresentação, o Arcadismo, embora não Campos (1929-2003) a partir da década tenha recebido a fortuna crítica e a de 60 do século passado, e Gonçalves recepção entusiasmada com que o Dias (1823-1864), autor da antológica Barroco tem sido contemplado nos ―Canção do exílio‖ e de alguns dos mais últimos anos, já pode ser visto de modo importantes poemas da lírica indianista mais favorável. Além disso, o próprio brasileira. movimento de constituição de agremiações intelectuais, as famosas Reúne ainda Luís Gama (1830-1882), com academias, diz o professor, ―parece mais suas sátiras aos comportamentos, tipos e simpático, quando se considera que o uso situações de sua época, Bernardo dos pseudônimos e a valorização do Guimarães (1825-1884), com sua poesia talento como único requisito para erótica e, às vezes, até pornográfica, admissão dos membros encenavam, na Álvares de Azevedo (1831-1952), com sua sociedade estratificada do século XVIII, o fina e sepulcral poesia, Laurindo Rabelo ideal de uma aristocracia de espírito e (1826-1864), com sua poesia satírica e não de sangue‖. fescenina, Casimiro de Abreu (1839-1860), com sua lírica de tons suaves, Castro Para isso, muito contribuíram os recentes Alves (1847-1871), com seus versos estudos de Jorge Ruedas de la Serna, grandiloqüentes em favor dos escravos, Vania Pinheiro Chaves, Ivan Teixeira, Fagundes Varela (1841-1875), com seus Alcir Pécora, Melânia Silva de Aguiar, poemas religiosos uns, amorosos outros, Sérgio Alcides, Ronald Polito, Joaci de inspiração regional ou sertaneja, Pereira Furtado, José Ramos Tinhorão, Juvenal Galeno (1836-1931), com seus Luís André Nepomuceno e, se permitem versos francamente populares, e
  • 22. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 17 Junqueira Freire (1832-1855), com seus que essa geração ocupou na sociedade poemas de monge atormentado. de seu tempo que a ela se deve a criação da Academia Brasileira de Letras, como IV lembra Pedro Marques na sua introdução. C om seleção e notas de Pedro Marques, Antologia da poesia parnasiana brasileira apresenta poemas Se muitas vezes os modernistas atacaram sem medidas o parnasianismo, isso se deu de 14 poetas, entre consagrados e outros por conta da necessidade que tinham de menos conhecidos do grande público, oferecer alternativas para o que mas não menos representativos do consideravam fórmulas gastas dos parnasianismo. Entre os consagrados, parnasianos. Mas nunca deixaram de estão Olavo Bilac (1865-1918) e Machado reconhecer a importância histórica do de Assis (1839-1908), cuja produção como movimento. poeta acabou abafada pelo êxito de seus romances da última fase. Entre os V menos afamados, estão Luís Delfino (1834-1910), B.Lopes (1859-1916) e Francisca Júlia (1870-1920), única mulher entre os poetas reunidos. C om seleção e notas da professora Francine Ricieri, doutora em Teoria e História Literária na área de Literatura Brasileira pela Unicamp, Antologia da Lembra Franchetti na apresentação que poesia simbolista e decadente brasileira o parnasianismo, em seu grande reúne nove poetas de um movimento momento, ocupou lugar proeminente que, ao não alcançar a repercussão do em jornais, revistas, conferências públicas parnasianismo, agrupa nomes ainda e saraus burgueses, atraindo grande pouco conhecidos do público. Diz a público para a poesia, o que, aliás, nunca organizadora em aprofundado estudo haveria de se repetir, guardadas as introdutório à guisa de prefácio que esses devidas proporções no tempo. É de poetas, como jamais pretenderam servir ressaltar ainda que, desde os primeiros à causa nacional, ―foram usualmente tempos do Brasil independente, a representados como alienados, literatura esteve comprometida com as desenraizados, fúteis, irracionalistas, questões vitais da nação, tendo assumido incompreensíveis, colonizados‖. a bandeira da causa abolicionista. Seja como for, como observa Franchetti Encerrada a questão da abolição da na apresentação, a poesia simbolista escravatura — embora a situação dos reserva muitas surpresas ―e a leitura ex-escravos nunca tenha efetivamente desta antologia por certo ajudará a preocupado o governo e as classes reverter a idéia de desinteresse que se dirigentes –, e estabelecida a República, colou à produção simbolista‖. Para que desapareceram os grandes temas épicos. esta frase não fique aqui assim um tanto Assim, a poesia refluiu a um exclusivo solta, é de lembrar que Franchetti, autor cultivo artístico, calcado em movimentos de As aves que aqui gorjeiam — a poesia europeus posteriores ao Romantismo. do Romantismo ao Simbolismo (Lisboa, Cotovia, 2005), navega por estas águas Embora fique clara a influência do com mão de mestre, como diria Massaud movimento francês, os parnasianos Moisés. brasileiros procuraram um caminho próprio, o que explica o fato de terem Missal e Broquéis, publicados no Rio de caído no gosto da população ou pelo Janeiro em 1893, por Cruz e Sousa (1861- menos daquele público letrado que se 1898), teriam sido a primeira interessava pelas coisas do espírito. Com manifestação em livro no Brasil do certeza, tal foi a importância do lugar Simbolismo ou Decadentismo. Por isso,
  • 23. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 18 além de peças de Cruz e Sousa, que Por isso, seria aceitável que alguns abrem o volume, a organizadora especialistas viessem a questionar a sua recolheu poemas de Alphonsus de exclusão, mas a verdade é que o estudo Guimaraens (1870-1921), B.Lopes (1859- introdutório de Francine Ricieri é tão 1916), Eduardo Guimaraens (1892-1928), bem embasado e didático e suas Maranhão Sobrinho (1879-1915), Pedro extensas notas de leitura tão Kilkerry (1885-1917), Da Costa e Silva esclarecedoras que essa se torna uma (1885-1950), Emiliano Perneta (1866-1921) tarefa extremamente difícil e ingrata. e Alceu Wamosy (1895-1923). É de notar _______________________ que B.Lopes aparece aqui também Antologia da Poesia Barroca Brasileira, porque sua poesia tanto tem traços 157 Págs., 2007 parnasianos como simbolistas. Antologia da Poesia Árcade Brasileira, 126 Págs., 2007 Desses, o mais visível nos dias de hoje é Antologia da Poesia Romântica Da Costa e Silva, em razão do trabalho Brasileira, 286 Págs., 2007 de resgate de sua poesia encetado por Antologia da Poesia Parnasiana seu filho, o poeta Alberto da Costa e Brasileira, 227 Págs., 2007 Silva, ex-presidente da Academia Antologia da Poesia Simbolista E Brasileira de Letras, que tratou de Decadente Brasileira, 223 Págs., 2008 republicar a produção do pai, embora Apresentação De Paulo Franchetti. São Alphonsus de Guimaraens e Emiliano Paulo: Companhia Editora Perneta também sejam frequëntemente Nacional/Lazuli Editora. lembrados em estudos acadêmicos. Site: http://www.editoranacional.com.br/ E-mail: editoras@ibep-nacional.com.br Outro bem conhecido seria Augusto dos Anjos (1884-1914), cuja poesia apresenta recursos e temas relacionados à poesia simbolista, mas a organizadora preferiu deixá-lo de fora da antologia, A delto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), argumentando que incluí-lo seria Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, fornecer do poeta ―uma visão que não 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage condiz com a linha peculiar e tão – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E- mail: adelto@unisanta.br característica em que sua poesia se definiu‖. Até porque a produção de Fonte: Augusto dos Anjos guarda igualmente Literatura sem fronteiras traços parnasianos e até mesmo pré- modernistas.
  • 24. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 19 Trovas Tema: Paciência Ante as agruras da vida, no altar do seu coração… que nos chegam com freqüência, ERCY MARIA MARQUES DE FARIA a conduta mais contida BAURU/SP é seguir com paciência. ―Quando a dor chega a seu lar HÉLIO PEDRO SOUZA paciência é uma virtude NATAL/RN que se deve cultivar com amor em plenitude!‖ A Paciência é uma virtude SÔNIA DITZEL MARTELO que, junto à perseverança, PONTA GROSSA/PR de nós, afasta a inquietude, e traz de volta a esperança! Quem pratica a paciência, DELCY RODRIGUES CANALLES como virtude na vida PORTO ALEGRE/ RS supera toda ciência vence a mais perversa lida. Só com paciência se alcança WILTON DI CARLI o que se espera da vida. GUARULHOS/SP Siga com mais esperança a cada meta vencida! Paciência tem limite, LEONILDA YVONNETI SPINA eu sempre pensei assim; LONDRINA/PR embora não acredite, nosso amor chegou ao fim. Dá-me, Deus, com certa urgência, NEIVA FERNANDES a graça que aqui rabisco: CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ dez por cento da paciência que puseste em São Francisco! A virtude da paciência HUMBERTO RODRIGUES NETO nos traz equilíbrio e paz PIRITUBA/SP ao evitar a imprudência de uma atitude fugaz. Motorista, paciência… ALFREDO BARBIERI Calma lá, meu companheiro! TAUBATÉ/SP Não se esqueça: competência nem sempre é chegar primeiro! Um desafio na vida ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS é vencer tribulações MARINGÁ/PR e a paciência nos convida a refrear emoções. Não há nada que se negue MARINA GOMES DE SOUZA VALENTE ao homem manso e cortês: BRAGANÇA PAULISTA/SP a paciência consegue muito mais do que a altivez! Quando a dor desta existência RENATA PACCOLA FRISCHKORN torna-se um fardo pesado, SÃO PAULO/SP a Deus peço a Paciência e na fé sigo amparado! É na sua deficiência, MARIA EMÍLIA LEITÃO MEDEIROS REDI que o cego, na escuridão, PIRACICABA/SP acende a luz da paciência
  • 25. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 20 Contra a grande violência outro amor manda endereço. e a total insegurança, CLÊNIO BORGES é melhor ter paciência PORTO ALEGRE/RS e uma dose de esperança, ILZE SOARES Diante de tanta violência, SÃO PAULO/SP serena, medita e ora; espera com paciência Paciência teve Jó e vive no aqui e agora. que tantas dores sofreu, ELISA SANTOS perdeu tudo, ficou só PONTA GROSSA/PR mas, sua fé não morreu. MIFORI Se teu viver é exemplar, MOGI DAS CRUZES/SP com paciência e união, tua vida há de brilhar, Tenha a calma de um regato, como uma bela lição! da criança a inocência; ARLENE LIMA você verá que, de fato, MARINGÁ/PR a tudo vence a paciência. ADAMO PASQUARELLI A paciência na dor SÃO JOSÉ DOS CAMPOS/SP é virtude de alma forte. Vislumbra tão grande Amor, vai vencer até a morte. Neste mundo em que vivemos, ELISA ALDERANI de tanta pressa e aflição RIBEIRÃO PRETO/SP que paciência nós temos para ajudar um irmão?! Paciência!… Paciência!… DIAMANTINO FERREIRA Oh meu Deus, me dá um pouco… CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ Pois se dela, há carência, fico agindo como um louco. Loja de conveniência, RAQUEL DELVAJE farmácia e lanchonete PIRACICABA/SP ofereçam ―Paciência‖ em comprimido ou tablete. Houve pedras no caminho… GISLENO FEITOSA Em que eu tanto tropecei, TERESINA/PI com paciência e carinho, na esperança confiei! Todas as dores do mundo, CÉLIA APPARECIDA SILLI BARBOSA tem uma causa, uma essência. RIBEIRÃO PRETO/SP Mas, com fé e amor profundo, Deus nos provê Paciência! Paciência é uma virtude DILMA RIBEIRO SUERO que se tem, mas que se gasta ESTÁCIO/RJ quando se toma a atitude de, para alguém, dizer: – Basta! Paciência é um preceito ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO de quem tem fé, confiança, PORTUGAL e acredita no conceito: ―Quem espera sempre alcança‖ Tanta era a sua pobreza DECIO RODRIGUES LOPES com humildade e decência, MOGI DAS CRUZES/SP que, faltando o pão na mesa, lhe sobrava a paciência. Tenha paciência, senhora, OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO na vida tem recomeço; PORTUGAL quando um amor vai embora,
  • 26. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 21 Que Deus me dê paciência MARIA JOSÉ FRAQUEZA para sofrer esta dor FUZETA/OLHÃO/PORTUGAL de ver que a inconsciência mata e diz que é por amor! Se a paciência faltar GISELA ALVES SINFRÓNIO nas penas, que hão-de ser luz… OLHÃO/PORTUGAL Lembra Deus a carregar por nós, o peso da Cruz! Em teus braços meu amor CLARISSE BARATA SANCHES me sinto plena e feliz, GÓIS/PORTUGAL tua paciência é calor, dá a minha vida matiz. Se na dor, por excelência, NORA LANZIERI O amor é primordial… BUENOS AIRES/ARGENTINA Há o sofrer, com paciência, De quem sofre d‘algum mal! Os avanços da ciência, FERNANDO REIS COSTA por vezes vão devagar, COIMBRA/PORTUGAL preciso ter paciência Um homem sem paciência, para uma cura aguardar… nem na dor tira vantagem; ACIOLINDA SPRANGER e vê na sua existência LAGOS/PORTUGAL uma vida sem coragem! JORGE A. G. VICENTE Se diz não ter paciência SUIÇA pra ler, da Bíblia, conselhos; No sofrimento e na dor use da sua valência: rogo a Deus Sua clemência, Fale com Deus, de joelhos… resarei com mais fervor, MARIA DA CONCEIÇÃO CUSTÓDIO para me dar paciência… SANCHES ANTÓNIO BOAVIDA PINHEIRO GOIS/PORTUGAL LISBOA/PORTUGAL Com positiva paciência Paciência é virtude obra boa descortina, que no mundo pouco abunda; te diz a minha consciência hoje em qualquer latitude que sempre Deus ilumina. está quase moribunda. JAMIL WILLIAM PISCOYA AYALA EUCLIDES CAVACO FERREÑAFE/PERU CANADÁ Para todo o sofrimento Fonte: É preciso Paciência Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor (Resultados da 2a. Etapa) Um olhar com sentimento A quem vive na indigência.
  • 27. Almanaque Literário ―O Voo da Gralha Azul‖ – numero 8 – set/out/nov 2011 22 Vicência Jaguaribe Mas a vida...A vida não se passa a limpo A velha senhora entrou no escândalo dos futuros sogros, que não compartimento que sempre lhe servira pretendia ter filhos. Seus pais não se de biblioteca e de gabinete. Em um horrorizavam mais com suas opiniões e tempo em que a maioria das mulheres se posições fora dos eixos, conforme diziam. dedicava às tarefas domésticas, aos Ela fora assim desde pequena. Fazia cuidados com os filhos e com o marido, tudo diferente das irmãs. Não obedecia ela passava horas naquela sala lendo e ao horário convencional de dormir nem escrevendo. Quando o noivo mandara de comer, nunca se adaptou às construir a casa onde morariam depois imposições da escola, não gostava do de casados, ela só fizera uma exigência: que as outras meninas de sua idade um aposento onde pudesse guardar seus gostavam. Era um astro que livros, onde pudesse isolar-se para ler e determinava sua própria rotação, não escrever. Nem ao menos perguntara lhe importando se as leis da Física quantos quartos ou quantos banheiros mandavam ir para a direita ou para a teria a casa, nem quisera saber o esquerda. Diante do inexorável, os pais tamanho da cozinha. A casa tinha tiveram que capitular. quintal, ficava do lado da sombra ou do sol? Disso ela não quisera saber. Não Ele, o marido, nunca reclamara de seus desperdiçaria seu tempo com coisas desse desvios do eixo da rotina. Amara-a tipo. incondicionalmente até o fim da vida. Ela lhe davaa impressão de que estava Puxou a cadeira do birô, sentou-se e sempre na expectativa de que algo aproximou o porta-retrato com uma acontecesse. A si mesmo ele dizia que a fotografia do dia do casamento: ela e o mulher vivia sempre de véspera; para noivo... não, ela e o marido. Quando ela nunca chegava o dia D. Sabia que tiraram aquela foto já eram marido e escrevia muito, mas nunca conseguira mulher, fora logo depois da cerimônia. que ela lhe mostrasse – a ele ou a outra Passou a mão sobre a imagem do pessoa – os textos que produzia. Quando marido e recordou como ele fora entrava no gabinete e surpreendia-a apaixonado por ela. Uma paixão que a escrevendo, pedia-lhe permissão para ler rotina do casamento não conseguira o produto da vez. A resposta era sempre esfriar. Diante do desinteresse dela pelos a mesma: assuntos domésticos, das horas que roubava da convivência com ele e com - Não, agora não. Ainda está no os filhos para dedicar à leitura e à rascunho, quando passar a limpo, você o composição de seus textos, sua paciência lerá. era uma fonte inesgotável, que parecia renovar-se todos os dias. E ele não insistia. Respeitava-a e amava-a demais para forçá-la a fazer Sabia não ter sido uma boa mãe. Não qualquer coisa que a deixasse se enquadrava nos parâmetros que contrariada ou constrangida. determinavam se uma mulher era uma boa mãe. Nunca se entusiasmara com a A velha senhora levantou-se e passou maternidade e não escondera isso do em revista as estantes com seus livros. noivo. Chegara mesmo a dizer, para Diante dos seus preferidos, parava.