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Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011
Delineamento de estudos científicos
Aristides Schier da Cruz
Outline of scientific studies
Professor Adjunto da Disciplina de Pediatria da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR). Doutor em Medicina e Mestre em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNI-
FESP) – Escola Paulista de Medicina (EPM)
INTRODUÇÃO À METODOLOGIA CIENTÍFICA
Residência Pediátrica 2011;1(2):11-4.
A ciência médica progride a passos largos nos últimos
70 anos, com volume de publicações científicas que cresce
ano após ano. Os conhecimentos na área da saúde humana
avolumam-se. A disponibilidade de evidências científicas nas
diversas áreas médicas melhora a competência dos profissio-
nais. Hoje, a medicina é cada vez mais baseada em evidências
e cada vez menos na fantasia ou na tendenciosa “experiência
pessoal das autoridades da área da saúde”, que imperaram
por mais de 2000 anos.
No último século, tornou-se natural o surgimento da
metodologia na realização da pesquisa científica. Uma vez que
um profissional da saúde faz uma observação científica, ou
se encontra curioso a respeito de uma ideia científica, surge
um objetivo: divulgar a observação, ou realizar um estudo
que permita encontrar uma resposta. Em seguida, torna-se
necessário fazer o delineamento da pesquisa, ou seja, escolher
um dos modelos tradicionais de estudo científico.
É estimulante para os profissionais curiosos e compe-
tentes realizar estudos científicos. Cada pesquisa tem o poten-
cial de contribuir com um novo conhecimento a respeito de
incidência, prevalência, etiologia, fatores de risco e proteção,
manifestações,fisiopatogenia,métodosdiagnósticos,métodos
profiláticos, terapêuticos, de reabilitação, prognóstico.
Em ordem hierárquica crescente de complexidade, as
publicações científicas aparecem na seguinte sequência de
modelos de pesquisa1
: 1) Relato de Caso; 2) Estudo Transver-
sal; 3) Estudo Caso-Controle; 4) Estudo de Coorte; 5) Ensaio
Clínico Randomizado; 6) Revisão Sistemática e Metanálise. O
pesquisador deve adotar um destes modelos. A escolha do
delineamento não é baseada na facilidade, na personalidade
audaciosa do pesquisador, na estrutura da instituição. É basea-
daemalgunsdetalhesbásicos,taiscomo:objetivodotrabalho,
pois para cada objetivo há um modelo ideal; viabilidade, pois
nem sempre o ideal é viável; simplicidade, sempre que for
possível encontrar as respostas desejadas com um modelo
de pesquisa menos complexo.
Neste artigo, são expostas as indicações e caracterís-
ticas de cada modelo de estudo científico. As descrições são
exemplificadas com citações de pesquisas originais publicadas
nos últimos exemplares do Jornal de Pediatria [J Pediatr (Rio
J)], periódico médico publicado pela Sociedade Brasileira de
Pediatria.
1. RELATO DE CASO
É um dos modelos mais simples de divulgação de
observações clínicas. Conforme a finalidade do autor, é pra-
ticamente insubstituível. Presta-se para divulgar uma doença
desconhecida ou pouco conhecida – divulgação inicial –, ou
novas ideias sobre manifestações clínicas, diagnóstico, manejo
ou reações adversas ao tratamento em doenças já conhecidas.
Se no ano 2010 o corpo editorial de um periódico médico
não teria interesse em publicar o relato de um caso de úlcera
duodenal por H. pylori, uma vez que se trata de uma condição
clínica bastante conhecida, o interesse nesta publicação certa-
mente teria sido grande 23 anos antes, quando os primeiros
casos estavam sendo descritos. No entanto, em 2010, a revista
médica pode demonstrar interesse em publicar o relato de
um caso resistente ao esquema tríplice tradicional para er-
radicação do H. pylori e que após aplicação de um esquema
tríplice alternativo desenvolveu colite pseudomembranosa
grave e foi a óbito.
O relato de caso tem a vantagem de que pode ser es-
crito em poucos dias. Rapidamente, encontra-se pronto para
ser enviado para divulgação em congressos médicos ou em
revistas científicas.
A história da Medicina é repleta de exemplos de relatos
de caso que revolucionaram o conhecimento médico. Como
exemplo, em 1953 Bickel e colaboradores publicaram uma
série de casos de fenilcetonúria. Sugeriram que uma dieta
pobre em fenilalanina iniciada nos primeiros meses de vida
pode prevenir o retardo mental nos portadores deste erro ina-
to do metabolismo. A fenilcetonúria era descrita desde 1934,
mas não havia uma proposta de tratamento efetivo até 1953.
Relato de caso no J Pediatr (Rio J): Salvador S, Ribei-
ro R, Winckler MI, Ohlweiler L, Riesgo R. Neurotoxocaríase
infantil com acometimento cerebral, cerebelar e periférico
simultâneo: relato de caso e revisão da literatura. J Pediatr
(Rio J). 2010;86(6):531-4.2
RESIDÊNCIAPEDIÁTRICA
RP_1(2).indb 11 19/08/2011 08:37:59
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Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011
2. ESTUDO TRANSVERSAL
Éummodelodepesquisasimplesnoseudelineamento,
empregado para determinar incidências, prevalências, asso-
ciação entre variáveis e até mesmo a acurácia de método de
diagnóstico ou de rastreamento. Como exemplos, pode-se
avaliar a incidência de infecções respiratórias no inverno em
pré-escolares matriculados em uma creche, a prevalência de
parasitoses intestinais em uma comunidade, a validade do
anticorpo antitransglutaminase tecidual IgA como teste de
rastreamento para doença celíaca em um ambulatório de es-
pecialidade, a intensidade da atividade física em adolescentes
normais, com sobrepeso e com obesidade.
Oquesetemafazeréumlevantamentodedados.Após
a seleção da amostra (sadios, portadores de alguma doença),
aplica-se um questionário, ou se realiza algum exame com-
plementar. Nem sempre são estudos meramente descritivos,
com determinação de incidências e prevalências. Apesar da
simplicidade no delineamento, este modelo de estudo permite
a realização de análise estatística rica, às vezes da mais alta
complexidade, inclusive com análise de regressão logística e
multivariada.Pormeiodeavaliaçõescruzadas,permiteestudar
eventuais fatores de risco e diferenças sóciobiológicas entre os
portadoresenãoportadoresdacaracterísticaoudoagravoque
se busca pesquisar. Trabalha com o cálculo da razão de chance
(odds ratio – OR) e, em alguns casos, da razão de prevalência
(RP), calculada do mesmo modo que o risco relativo (RR).
Surpreendentemente, um estudo transversal pode
ser retrospectivo, quando faz levantamento de dados de
prontuários. Exemplos: revisão de prontuários dos pacientes
internados com derrame pleural em um hospital ou em um
município nos últimos três anos; revisão dos prontuários dos
casos de hipotireoidismo congênito que frequentaram o am-
bulatório de endocrinologia pediátrica nos últimos 10 anos.
Estudo transversal no J Pediatr (Rio J): Steluti J, Martini
LA, Peters BSE, Marchioni DML. Folato, B6 e B12 na adoles-
cência: níveis séricos, prevalência de inadequação de ingestão
e alimentos contribuintes. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):43-9.3
Romanelli MTN, Fraga AMA, Morcillo AM, Tresoldi
AT, Baracat ECE. Fatores associados ao óbito em lactentes
após eventos com aparente risco de morte (apparent life-
threatening event, ALTE). J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):516-9.4
3. ESTUDO CASO-CONTROLE
Modelo de pesquisa de fácil execução, utilizado para
avaliação de possíveis fatores de risco ou proteção. São com-
parados dois grupos: um grupo de portadores de um agravo
de saúde (casos) e um grupo comparável de indivíduos não
portadores do referido agravo (controles). A escolha dos
participantes do grupo controle é um detalhe importante, na
tentativa de que os dois grupos sejam razoavelmente homogê-
neos. Podem ser indivíduos da população geral (provenientes
de condições sócio-ambientais semelhantes às do grupo de
casos), ou parentes dos casos, ou portadores de uma doença
diferente da dos casos. É preenchido um questionário para
cada participante, no qual se avaliam diversos potenciais
fatores de risco do passado e presente. Calcula-se, então, a
proporção de expostos aos fatores de risco ou proteção nos
dois grupos.
Uma grande vantagem é a possibilidade de avaliar
diversos potenciais fatores de risco ou proteção ao mesmo
tempo. Outra vantagem é que permite o estudo de doenças
raras (não haveria como encontrar um número razoável de
portadores em uma amostra da população geral ou em uma
comunidade), nas quais os portadores se encontram concen-
trados em centros de referência para estas doenças. Trabalha
com o cálculo da razão de chance (odds ratio – OR), podendo
atingir, conforme os objetivos e riqueza de resultados, alto
nível de complexidade na análise estatística. Na maioria das
vezes, os casos são obtidos de uma revisão retrospectiva de
prontuários de um ambulatório ou hospital, situação que
comumente gera um banco de dados com falhas de preen-
chimento, pela falta de planejamento prévio. Mas pode ser
um estudo planejado com antecedência e adequada precisão
metodológica.
Como exemplo, um pesquisador avalia em uma re-
gião metropolitana um grupo de adolescentes com doença
inflamatória intestinal (casos) e outro grupo sem a doença
(controles). Em seguida, avalia por questionário a exposição
a diversos potenciais fatores de risco sócio-ambientais e
biológicos do presente e do passado. Conclui que a doença
inflamatória intestinal está associada a melhores condições
de higiene ambiental e dos alimentos e menor exposição a
infecções na infância.
Estudo caso-controle no J Pediatr (Rio J): Ramos CLJ,
Barros HMT, Stein AT, Costa JSD. Fatores de risco que con-
tribuem para envenenamento pediátrico. J Pediatr (Rio J).
2010;86(5):435-40.5
4. ESTUDO DE COORTE
Modelo de pesquisa de difícil execução, utilizado para
avaliar possíveis fatores de risco ou de proteção (exemplo: a
prática de atividade física melhora o lipidograma?) e também
de métodos preventivos, tais como vacinas, ou o prognóstico
de certas situações (exemplo: prematuridade extrema au-
menta a chance de sequela neurológica?). Um grande número
de participantes forma uma coorte, que é acompanhada por
algum tempo, meses, anos ou décadas. Dentro desta coorte,
são divididos em dois grupos, os expostos e os não expostos
à situação de risco ou proteção avaliada. Ao final, avalia-se
a incidência dos desfechos (doença, sequela, morte, etc.)
nos dois grupos e o resultado é analisado estatisticamente.
Geralmente, é um estudo prospectivo e o acompanhamento
deve ser pelo tempo suficiente para que o desfecho possa se
instalar em um número razoável de participantes.
Como exemplo, digamos que um pesquisador envolva
todos os adolescentes matriculados no ensino médio de um
RP_1(2).indb 12 19/08/2011 08:37:59
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Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011
município em uma pesquisa para avaliar se depressão é fator
de risco para suicídio. Aplica um questionário que permite
classificar cada participante em depressivo ou não depressivo.
Assim, a coorte inicial se divide em dois grupos: o dos depres-
sivos e o dos não depressivos. São acompanhados prospectiva-
mente e, ao final de cinco anos, constata-se que a ocorrência
de suicídio e tentativa de suicídio foi significativamente maior
entre os depressivos.
Destaca-se o fato de que não há como avaliar muitos
fatores de risco ao mesmo tempo. Mesmo assim, pode ser
grande a riqueza de dados colhidos nos grupos que se formam
dentro da coorte. Trabalha-se com o cálculo do risco relativo
(RR). É surpreendente o grande número de coortes pediátricas
criadas no Brasil nas últimas duas décadas, de maneira que
diversos estudos de coorte prospectivos estão sendo publica-
dos ou em andamento.
Estudo de coorte no J Pediatr (Rio J): Lima MC, Dantas
HF, Amorim RJM, Lira PIC. A restrição do crescimento fetal
influencia a composição corporal na idade escolar? J Pediatr
(Rio J). 2011;87(1):29-35.6
Mota DM, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS. Ava-
liação longitudinal do controle esfincteriano em uma coorte
de crianças brasileiras. J Pediatr (Rio J). 2010;86(5):429-34.7
5. ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO
Modelo de pesquisa de difícil delineamento, porém
o mais confiável para a avaliação da eficácia e efetividade de
métodos terapêuticos e profiláticos (exemplo: medicamentos,
vacinas, dietas, técnicas fisioterápicas, psicológicas, cirúrgicas).
Cada participante é submetido à randomização, ou seja, é
alocado aleatoriamente (por sorteio) no grupo que recebe o
tratamento A, ou o tratamento B (ou placebo), ou o C, caso se-
jam mais de dois grupos. A randomização gera duas vantagens
principais: 1) aumenta a chance de ocorrer homogeneidade
entre os grupos, que passam a ser semelhantes em relação às
diversas variáveis sócio-demográficas e biológicas, frequente-
mente expostas na primeira tabela dos resultados; 2) elimina
a possibilidade de alocação tendenciosa do pesquisador, que
ocorreria se este tivesse a liberdade de escolher o grupo em
que irá colocar cada participante (fenômeno que geraria viés
de seleção e heterogeneidade entre os grupos).
No final, avalia-se nos grupos a incidência dos desfe-
chos (cura, alívio, morte, seqüelas, reações adversas, etc.). Em
seguida se faz a análise estatística, que geralmente não é de
complexidade muito grande, o que contrasta com a grande
complexidade logística na execução do trabalho. Trabalha-se
com o cálculo do risco relativo (RR). Quando os grupos são
devidamente homogêneos em relação às variáveis sócio-
demográficas e biológicas, então a única diferença é o tipo de
tratamento recebido em cada grupo. Caso ocorra diferença
significativa (para melhor ou para pior) em algum desfecho
analisado, esta diferença pode ser atribuída ao tipo de trata-
mento utilizado.
Mais um recurso para eliminar vieses de tendenciosi-
dade consiste em tornar cego um dos lados (mascaramento),
ou ambos, em relação ao tipo de tratamento aplicado. Ten-
denciosidade do pesquisador ao saber a que grupo pertence
cada paciente é quando ele interpreta os desfechos subjetivos
(exemplo:intensidadedadermatite,imagemdaradiografia)de
acordo com suas crenças preconceituosas (exemplo: quando
acredita que o medicamento é favorável, tende a interpretar
a resposta clínica como favorável nos pacientes que recebem
a droga testada e desfavorável nos que recebem o placebo).
Tendenciosidade do paciente ao saber se está recebendo a
droga A, droga B, ou placebo, é quando tende a interpretar
suas reações subjetivas de acordo com suas crenças preconcei-
tuosas sobre o efeito da droga testada (exemplo: quando acre-
dita que o medicamento é benéfico, tende a interpretar seus
sintomas como “boa evolução”, quando sabe que pertence
ao grupo que recebe o medicamento, e como “má evolução”,
quando sabe que está no grupo que não recebe a medicação).
Sendo assim, um ensaio clínico randomizado pode ser duplo-
cego (o pesquisador e o paciente estão cegos), cego (apenas
o pesquisador, ou o paciente, está cego) ou aberto (tanto o
pesquisador quanto o paciente estão conscientes sobre o tra-
tamento que está sendo aplicado). É importante lembrar que
nem sempre mascarar um dos lados é viável, ou necessário
(exemplo: variáveis objetivas, como o valor da glicemia, não
podem ser alteradas pela tendenciosidade do pesquisador ou
dopaciente;seopacienteéumrecém-nascidoprematuro,não
há como ele ter consciência na UTI neonatal sobre estar no
grupo que recebe oxigênio a 35% ou no grupo a 50%).
Como exemplo de 20 anos atrás, gestantes portadoras
do vírus HIV foram randomizadas para participar do grupo
tratado com AZT ou do grupo tratado com placebo. No final,
constatou-se que a transmissão vertical do vírus HIV para os
bebês foi significativamente menor no grupo cujas gestantes
receberam AZT do que no grupo placebo.
Ensaios clínicos não randomizados ainda são bastante
executados e publicados. Seu nível de evidência deixa bastante
a desejar e necessitam, no capítulo da discussão, diversas
considerações sobre possíveis vieses sistemáticos.
Ensaio clínico randomizado no J Pediatr (Rio J): Gomes
PB, Duarte MA, Melo MCB. Comparação da efetividade entre
polietilenoglicol 4000 sem eletrólitos e hidróxido de magnésio
no tratamento da constipação intestinal crônica funcional em
crianças. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):24-8.8
Magni AM, Scheffer DK, Bruniera P. Comportamento
dos antipiréticos ibuprofeno e dipirona em crianças febris. J
Pediatr (Rio J). 2011;87(1):36-42.9
6. REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE
Os delineamentos acima são estudos primários, que
visam de maneira original divulgar uma observação científica
ou encontrar a resposta para uma hipótese. Estudos secundá-
rios são os que resumem ou condensam as informações dos
RP_1(2).indb 13 19/08/2011 08:37:59
14
Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011
estudos primários: a) artigo de revisão; b) revisão sistemática;
c) metanálise. Diretrizes e análises econômicas também são
formas de pesquisas secundárias. Destacam-se, aqui, a revisão
sistemática e a metanálise, por estarem hierarquicamente no
topo da pirâmide das evidências científicas.
Caso algum pesquisador tenha o objetivo de avaliar
quais as evidências que já existem sobre o efeito de antiemé-
ticos no tratamento da gastroenterite aguda em crianças, ele
deverá fazer uma revisão sistemática. E revisão sistemática é
muito mais do que uma simples leitura e revisão de alguns
artigos sobre o efeito de antieméticos na gastroenterite em
crianças. Revisão sistemática é a revisão de todas as publica-
ções sobre o efeitodeantieméticosnagastroenteriteemcrian-
ças. Atualmente, há um formato padronizado e estruturado
para redigir e apresentar revisões sistemáticas, bem como um
periódico especializado na publicação deste tipo de pesquisa
(Cochrane Database Syst Rev).
Uma revisão sistemática bastante abrangente pode
culminar com a viabilidade de realizar uma metanálise. Me-
tanálise é uma síntese estatística dos resultados numéricos
de diversos estudos que avaliaram a mesma questão. Quan-
do a revisão sistemática permitiu selecionar alguns estudos
primários com metodologia razoavelmente parecida e que
apresentam os resultados de modo similar, estes artigos irão
compor a metanálise. Se a metanálise é composta por 11
artigos, e em cada um dos 11 artigos seus autores haviam
trabalhado com tamanhos amostrais limitados (72 pacientes
em um estudo, 23 em outro, 185 em outro, etc.), ao fazer a
metanálise, o tamanho da mostra aumenta bastante, o que
melhora o poder do teste estatístico de revelar o real efeito do
objeto de estudo, reduzindo os desvios casuais para a direita
ou para a esquerda. A metanálise, muito difícil para quem a
executa, do ponto de vista de leitura é de compreensão mais
fácil do que os estudos primários que a originaram. Portanto,
ninguém deve se intimidar diante de uma metanálise.
Sendo assim, revisão sistemática e metanálise repre-
sentam o topo da pirâmide da evidência científica sobre algum
temadaáreadasaúde.Permitemasseguintesdemonstrações:
1) está comprovado queo medicamento Aésignificativamente
melhor (ou pior) do que o medicamento B (ou o placebo); 2)
está comprovado que o medicamento A resulta em efeito
semelhante ao medicamento B (ou placebo); 3) até o mo-
mento, não foram feitas pesquisas suficientes para saber se
o efeito do medicamento A é igual, melhor ou pior do que o
medicamento B (ou placebo), sendo necessários mais estu-
dos. Com todo este encorpado poder da revisão sistemática
e metanálise, lamenta-se o fato de que muitos temas na área
de saúde ainda não puderam passar pelo crivo deste tipo de
pesquisa mais ampla.
Revisão sistemática e metanálise em um periódico
internacional: DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ.
Use of antiemetic agents in acute gastroenteritis: a system-
atic review and meta-analysis. Arch Pediatr Adolesc Med.
2008;162:858-65.10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
	 1.	Greenhalgh T. Como ler artigos científicos: fundamentos de medicina
baseada em evidências – tradução Ananyr Porto Fajardo. 3. ed. – Porto
Alegre: Artmed, 2008.
	 2.	Salvador S, Ribeiro R, Winckler MI, Ohlweiler L, Riesgo R. Neurotoxocaríase
infantil com acometimento cerebral, cerebelar e periférico simultâneo:
relato de caso e revisão da literatura. J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):531-4.
	 3.	Steluti J, Martini LA, Peters BSE, Marchioni DML. Folato, B6 e B12 na
adolescência: níveis séricos, prevalência de inadequação de ingestão e
alimentos contribuintes. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):43-9
	 4.	Romanelli MTN, Fraga AMA, Morcillo AM, Tresoldi AT, Baracat ECE.
Fatores associados ao óbito em lactentes após eventos com aparente
risco de morte (apparent life-threatening event, ALTE). J Pediatr (Rio J).
2010;86(6):516-9.
	 5.	Ramos CLJ, Barros HMT, Stein AT, Costa JSD. Fatores de risco que
contribuem para envenenamento pediátrico. J Pediatr (Rio J). 2010;
86(5):435-40.
	 6.	Lima MC, Dantas HF, Amorim RJM, Lira PIC. A restrição do crescimento
fetal influencia a composição corporal na idade escolar? J Pediatr (Rio J).
2011;87(1):29-35.
	 7.	Mota DM, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS. Avaliação longitudinal
do controle esfincteriano em uma coorte de crianças brasileiras. J Pediatr
(Rio J). 2010;86(5):429-34.
	 8.	Gomes PB, Duarte MA, Melo MCB. Comparação da efetividade entre po-
lietilenoglicol 4000 sem eletrólitos e hidróxido de magnésio no tratamento
da constipação intestinal crônica funcional em crianças. J Pediatr (Rio J).
2011;87(1):24-8.
	 9.	Magni AM, Scheffer DK, Bruniera P. Comportamento dos antipiréticos ibu-
profeno e dipirona em crianças febris. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):36-42.
10.	DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ. Use of antiemetic agents in
acute gastroenteritis: a systematic review and meta-analysis. Arch Pediatr
Adolesc Med. 2008;162(9):858-65.
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Estudos científicos: delineamento e modelos de pesquisa

  • 1. 11 Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011 Delineamento de estudos científicos Aristides Schier da Cruz Outline of scientific studies Professor Adjunto da Disciplina de Pediatria da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR). Doutor em Medicina e Mestre em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (UNI- FESP) – Escola Paulista de Medicina (EPM) INTRODUÇÃO À METODOLOGIA CIENTÍFICA Residência Pediátrica 2011;1(2):11-4. A ciência médica progride a passos largos nos últimos 70 anos, com volume de publicações científicas que cresce ano após ano. Os conhecimentos na área da saúde humana avolumam-se. A disponibilidade de evidências científicas nas diversas áreas médicas melhora a competência dos profissio- nais. Hoje, a medicina é cada vez mais baseada em evidências e cada vez menos na fantasia ou na tendenciosa “experiência pessoal das autoridades da área da saúde”, que imperaram por mais de 2000 anos. No último século, tornou-se natural o surgimento da metodologia na realização da pesquisa científica. Uma vez que um profissional da saúde faz uma observação científica, ou se encontra curioso a respeito de uma ideia científica, surge um objetivo: divulgar a observação, ou realizar um estudo que permita encontrar uma resposta. Em seguida, torna-se necessário fazer o delineamento da pesquisa, ou seja, escolher um dos modelos tradicionais de estudo científico. É estimulante para os profissionais curiosos e compe- tentes realizar estudos científicos. Cada pesquisa tem o poten- cial de contribuir com um novo conhecimento a respeito de incidência, prevalência, etiologia, fatores de risco e proteção, manifestações,fisiopatogenia,métodosdiagnósticos,métodos profiláticos, terapêuticos, de reabilitação, prognóstico. Em ordem hierárquica crescente de complexidade, as publicações científicas aparecem na seguinte sequência de modelos de pesquisa1 : 1) Relato de Caso; 2) Estudo Transver- sal; 3) Estudo Caso-Controle; 4) Estudo de Coorte; 5) Ensaio Clínico Randomizado; 6) Revisão Sistemática e Metanálise. O pesquisador deve adotar um destes modelos. A escolha do delineamento não é baseada na facilidade, na personalidade audaciosa do pesquisador, na estrutura da instituição. É basea- daemalgunsdetalhesbásicos,taiscomo:objetivodotrabalho, pois para cada objetivo há um modelo ideal; viabilidade, pois nem sempre o ideal é viável; simplicidade, sempre que for possível encontrar as respostas desejadas com um modelo de pesquisa menos complexo. Neste artigo, são expostas as indicações e caracterís- ticas de cada modelo de estudo científico. As descrições são exemplificadas com citações de pesquisas originais publicadas nos últimos exemplares do Jornal de Pediatria [J Pediatr (Rio J)], periódico médico publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. 1. RELATO DE CASO É um dos modelos mais simples de divulgação de observações clínicas. Conforme a finalidade do autor, é pra- ticamente insubstituível. Presta-se para divulgar uma doença desconhecida ou pouco conhecida – divulgação inicial –, ou novas ideias sobre manifestações clínicas, diagnóstico, manejo ou reações adversas ao tratamento em doenças já conhecidas. Se no ano 2010 o corpo editorial de um periódico médico não teria interesse em publicar o relato de um caso de úlcera duodenal por H. pylori, uma vez que se trata de uma condição clínica bastante conhecida, o interesse nesta publicação certa- mente teria sido grande 23 anos antes, quando os primeiros casos estavam sendo descritos. No entanto, em 2010, a revista médica pode demonstrar interesse em publicar o relato de um caso resistente ao esquema tríplice tradicional para er- radicação do H. pylori e que após aplicação de um esquema tríplice alternativo desenvolveu colite pseudomembranosa grave e foi a óbito. O relato de caso tem a vantagem de que pode ser es- crito em poucos dias. Rapidamente, encontra-se pronto para ser enviado para divulgação em congressos médicos ou em revistas científicas. A história da Medicina é repleta de exemplos de relatos de caso que revolucionaram o conhecimento médico. Como exemplo, em 1953 Bickel e colaboradores publicaram uma série de casos de fenilcetonúria. Sugeriram que uma dieta pobre em fenilalanina iniciada nos primeiros meses de vida pode prevenir o retardo mental nos portadores deste erro ina- to do metabolismo. A fenilcetonúria era descrita desde 1934, mas não havia uma proposta de tratamento efetivo até 1953. Relato de caso no J Pediatr (Rio J): Salvador S, Ribei- ro R, Winckler MI, Ohlweiler L, Riesgo R. Neurotoxocaríase infantil com acometimento cerebral, cerebelar e periférico simultâneo: relato de caso e revisão da literatura. J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):531-4.2 RESIDÊNCIAPEDIÁTRICA RP_1(2).indb 11 19/08/2011 08:37:59
  • 2. 12 Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011 2. ESTUDO TRANSVERSAL Éummodelodepesquisasimplesnoseudelineamento, empregado para determinar incidências, prevalências, asso- ciação entre variáveis e até mesmo a acurácia de método de diagnóstico ou de rastreamento. Como exemplos, pode-se avaliar a incidência de infecções respiratórias no inverno em pré-escolares matriculados em uma creche, a prevalência de parasitoses intestinais em uma comunidade, a validade do anticorpo antitransglutaminase tecidual IgA como teste de rastreamento para doença celíaca em um ambulatório de es- pecialidade, a intensidade da atividade física em adolescentes normais, com sobrepeso e com obesidade. Oquesetemafazeréumlevantamentodedados.Após a seleção da amostra (sadios, portadores de alguma doença), aplica-se um questionário, ou se realiza algum exame com- plementar. Nem sempre são estudos meramente descritivos, com determinação de incidências e prevalências. Apesar da simplicidade no delineamento, este modelo de estudo permite a realização de análise estatística rica, às vezes da mais alta complexidade, inclusive com análise de regressão logística e multivariada.Pormeiodeavaliaçõescruzadas,permiteestudar eventuais fatores de risco e diferenças sóciobiológicas entre os portadoresenãoportadoresdacaracterísticaoudoagravoque se busca pesquisar. Trabalha com o cálculo da razão de chance (odds ratio – OR) e, em alguns casos, da razão de prevalência (RP), calculada do mesmo modo que o risco relativo (RR). Surpreendentemente, um estudo transversal pode ser retrospectivo, quando faz levantamento de dados de prontuários. Exemplos: revisão de prontuários dos pacientes internados com derrame pleural em um hospital ou em um município nos últimos três anos; revisão dos prontuários dos casos de hipotireoidismo congênito que frequentaram o am- bulatório de endocrinologia pediátrica nos últimos 10 anos. Estudo transversal no J Pediatr (Rio J): Steluti J, Martini LA, Peters BSE, Marchioni DML. Folato, B6 e B12 na adoles- cência: níveis séricos, prevalência de inadequação de ingestão e alimentos contribuintes. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):43-9.3 Romanelli MTN, Fraga AMA, Morcillo AM, Tresoldi AT, Baracat ECE. Fatores associados ao óbito em lactentes após eventos com aparente risco de morte (apparent life- threatening event, ALTE). J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):516-9.4 3. ESTUDO CASO-CONTROLE Modelo de pesquisa de fácil execução, utilizado para avaliação de possíveis fatores de risco ou proteção. São com- parados dois grupos: um grupo de portadores de um agravo de saúde (casos) e um grupo comparável de indivíduos não portadores do referido agravo (controles). A escolha dos participantes do grupo controle é um detalhe importante, na tentativa de que os dois grupos sejam razoavelmente homogê- neos. Podem ser indivíduos da população geral (provenientes de condições sócio-ambientais semelhantes às do grupo de casos), ou parentes dos casos, ou portadores de uma doença diferente da dos casos. É preenchido um questionário para cada participante, no qual se avaliam diversos potenciais fatores de risco do passado e presente. Calcula-se, então, a proporção de expostos aos fatores de risco ou proteção nos dois grupos. Uma grande vantagem é a possibilidade de avaliar diversos potenciais fatores de risco ou proteção ao mesmo tempo. Outra vantagem é que permite o estudo de doenças raras (não haveria como encontrar um número razoável de portadores em uma amostra da população geral ou em uma comunidade), nas quais os portadores se encontram concen- trados em centros de referência para estas doenças. Trabalha com o cálculo da razão de chance (odds ratio – OR), podendo atingir, conforme os objetivos e riqueza de resultados, alto nível de complexidade na análise estatística. Na maioria das vezes, os casos são obtidos de uma revisão retrospectiva de prontuários de um ambulatório ou hospital, situação que comumente gera um banco de dados com falhas de preen- chimento, pela falta de planejamento prévio. Mas pode ser um estudo planejado com antecedência e adequada precisão metodológica. Como exemplo, um pesquisador avalia em uma re- gião metropolitana um grupo de adolescentes com doença inflamatória intestinal (casos) e outro grupo sem a doença (controles). Em seguida, avalia por questionário a exposição a diversos potenciais fatores de risco sócio-ambientais e biológicos do presente e do passado. Conclui que a doença inflamatória intestinal está associada a melhores condições de higiene ambiental e dos alimentos e menor exposição a infecções na infância. Estudo caso-controle no J Pediatr (Rio J): Ramos CLJ, Barros HMT, Stein AT, Costa JSD. Fatores de risco que con- tribuem para envenenamento pediátrico. J Pediatr (Rio J). 2010;86(5):435-40.5 4. ESTUDO DE COORTE Modelo de pesquisa de difícil execução, utilizado para avaliar possíveis fatores de risco ou de proteção (exemplo: a prática de atividade física melhora o lipidograma?) e também de métodos preventivos, tais como vacinas, ou o prognóstico de certas situações (exemplo: prematuridade extrema au- menta a chance de sequela neurológica?). Um grande número de participantes forma uma coorte, que é acompanhada por algum tempo, meses, anos ou décadas. Dentro desta coorte, são divididos em dois grupos, os expostos e os não expostos à situação de risco ou proteção avaliada. Ao final, avalia-se a incidência dos desfechos (doença, sequela, morte, etc.) nos dois grupos e o resultado é analisado estatisticamente. Geralmente, é um estudo prospectivo e o acompanhamento deve ser pelo tempo suficiente para que o desfecho possa se instalar em um número razoável de participantes. Como exemplo, digamos que um pesquisador envolva todos os adolescentes matriculados no ensino médio de um RP_1(2).indb 12 19/08/2011 08:37:59
  • 3. 13 Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011 município em uma pesquisa para avaliar se depressão é fator de risco para suicídio. Aplica um questionário que permite classificar cada participante em depressivo ou não depressivo. Assim, a coorte inicial se divide em dois grupos: o dos depres- sivos e o dos não depressivos. São acompanhados prospectiva- mente e, ao final de cinco anos, constata-se que a ocorrência de suicídio e tentativa de suicídio foi significativamente maior entre os depressivos. Destaca-se o fato de que não há como avaliar muitos fatores de risco ao mesmo tempo. Mesmo assim, pode ser grande a riqueza de dados colhidos nos grupos que se formam dentro da coorte. Trabalha-se com o cálculo do risco relativo (RR). É surpreendente o grande número de coortes pediátricas criadas no Brasil nas últimas duas décadas, de maneira que diversos estudos de coorte prospectivos estão sendo publica- dos ou em andamento. Estudo de coorte no J Pediatr (Rio J): Lima MC, Dantas HF, Amorim RJM, Lira PIC. A restrição do crescimento fetal influencia a composição corporal na idade escolar? J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):29-35.6 Mota DM, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS. Ava- liação longitudinal do controle esfincteriano em uma coorte de crianças brasileiras. J Pediatr (Rio J). 2010;86(5):429-34.7 5. ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO Modelo de pesquisa de difícil delineamento, porém o mais confiável para a avaliação da eficácia e efetividade de métodos terapêuticos e profiláticos (exemplo: medicamentos, vacinas, dietas, técnicas fisioterápicas, psicológicas, cirúrgicas). Cada participante é submetido à randomização, ou seja, é alocado aleatoriamente (por sorteio) no grupo que recebe o tratamento A, ou o tratamento B (ou placebo), ou o C, caso se- jam mais de dois grupos. A randomização gera duas vantagens principais: 1) aumenta a chance de ocorrer homogeneidade entre os grupos, que passam a ser semelhantes em relação às diversas variáveis sócio-demográficas e biológicas, frequente- mente expostas na primeira tabela dos resultados; 2) elimina a possibilidade de alocação tendenciosa do pesquisador, que ocorreria se este tivesse a liberdade de escolher o grupo em que irá colocar cada participante (fenômeno que geraria viés de seleção e heterogeneidade entre os grupos). No final, avalia-se nos grupos a incidência dos desfe- chos (cura, alívio, morte, seqüelas, reações adversas, etc.). Em seguida se faz a análise estatística, que geralmente não é de complexidade muito grande, o que contrasta com a grande complexidade logística na execução do trabalho. Trabalha-se com o cálculo do risco relativo (RR). Quando os grupos são devidamente homogêneos em relação às variáveis sócio- demográficas e biológicas, então a única diferença é o tipo de tratamento recebido em cada grupo. Caso ocorra diferença significativa (para melhor ou para pior) em algum desfecho analisado, esta diferença pode ser atribuída ao tipo de trata- mento utilizado. Mais um recurso para eliminar vieses de tendenciosi- dade consiste em tornar cego um dos lados (mascaramento), ou ambos, em relação ao tipo de tratamento aplicado. Ten- denciosidade do pesquisador ao saber a que grupo pertence cada paciente é quando ele interpreta os desfechos subjetivos (exemplo:intensidadedadermatite,imagemdaradiografia)de acordo com suas crenças preconceituosas (exemplo: quando acredita que o medicamento é favorável, tende a interpretar a resposta clínica como favorável nos pacientes que recebem a droga testada e desfavorável nos que recebem o placebo). Tendenciosidade do paciente ao saber se está recebendo a droga A, droga B, ou placebo, é quando tende a interpretar suas reações subjetivas de acordo com suas crenças preconcei- tuosas sobre o efeito da droga testada (exemplo: quando acre- dita que o medicamento é benéfico, tende a interpretar seus sintomas como “boa evolução”, quando sabe que pertence ao grupo que recebe o medicamento, e como “má evolução”, quando sabe que está no grupo que não recebe a medicação). Sendo assim, um ensaio clínico randomizado pode ser duplo- cego (o pesquisador e o paciente estão cegos), cego (apenas o pesquisador, ou o paciente, está cego) ou aberto (tanto o pesquisador quanto o paciente estão conscientes sobre o tra- tamento que está sendo aplicado). É importante lembrar que nem sempre mascarar um dos lados é viável, ou necessário (exemplo: variáveis objetivas, como o valor da glicemia, não podem ser alteradas pela tendenciosidade do pesquisador ou dopaciente;seopacienteéumrecém-nascidoprematuro,não há como ele ter consciência na UTI neonatal sobre estar no grupo que recebe oxigênio a 35% ou no grupo a 50%). Como exemplo de 20 anos atrás, gestantes portadoras do vírus HIV foram randomizadas para participar do grupo tratado com AZT ou do grupo tratado com placebo. No final, constatou-se que a transmissão vertical do vírus HIV para os bebês foi significativamente menor no grupo cujas gestantes receberam AZT do que no grupo placebo. Ensaios clínicos não randomizados ainda são bastante executados e publicados. Seu nível de evidência deixa bastante a desejar e necessitam, no capítulo da discussão, diversas considerações sobre possíveis vieses sistemáticos. Ensaio clínico randomizado no J Pediatr (Rio J): Gomes PB, Duarte MA, Melo MCB. Comparação da efetividade entre polietilenoglicol 4000 sem eletrólitos e hidróxido de magnésio no tratamento da constipação intestinal crônica funcional em crianças. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):24-8.8 Magni AM, Scheffer DK, Bruniera P. Comportamento dos antipiréticos ibuprofeno e dipirona em crianças febris. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):36-42.9 6. REVISÃO SISTEMÁTICA E METANÁLISE Os delineamentos acima são estudos primários, que visam de maneira original divulgar uma observação científica ou encontrar a resposta para uma hipótese. Estudos secundá- rios são os que resumem ou condensam as informações dos RP_1(2).indb 13 19/08/2011 08:37:59
  • 4. 14 Residência Pediátrica 1 (2) maio/agosto 2011 estudos primários: a) artigo de revisão; b) revisão sistemática; c) metanálise. Diretrizes e análises econômicas também são formas de pesquisas secundárias. Destacam-se, aqui, a revisão sistemática e a metanálise, por estarem hierarquicamente no topo da pirâmide das evidências científicas. Caso algum pesquisador tenha o objetivo de avaliar quais as evidências que já existem sobre o efeito de antiemé- ticos no tratamento da gastroenterite aguda em crianças, ele deverá fazer uma revisão sistemática. E revisão sistemática é muito mais do que uma simples leitura e revisão de alguns artigos sobre o efeito de antieméticos na gastroenterite em crianças. Revisão sistemática é a revisão de todas as publica- ções sobre o efeitodeantieméticosnagastroenteriteemcrian- ças. Atualmente, há um formato padronizado e estruturado para redigir e apresentar revisões sistemáticas, bem como um periódico especializado na publicação deste tipo de pesquisa (Cochrane Database Syst Rev). Uma revisão sistemática bastante abrangente pode culminar com a viabilidade de realizar uma metanálise. Me- tanálise é uma síntese estatística dos resultados numéricos de diversos estudos que avaliaram a mesma questão. Quan- do a revisão sistemática permitiu selecionar alguns estudos primários com metodologia razoavelmente parecida e que apresentam os resultados de modo similar, estes artigos irão compor a metanálise. Se a metanálise é composta por 11 artigos, e em cada um dos 11 artigos seus autores haviam trabalhado com tamanhos amostrais limitados (72 pacientes em um estudo, 23 em outro, 185 em outro, etc.), ao fazer a metanálise, o tamanho da mostra aumenta bastante, o que melhora o poder do teste estatístico de revelar o real efeito do objeto de estudo, reduzindo os desvios casuais para a direita ou para a esquerda. A metanálise, muito difícil para quem a executa, do ponto de vista de leitura é de compreensão mais fácil do que os estudos primários que a originaram. Portanto, ninguém deve se intimidar diante de uma metanálise. Sendo assim, revisão sistemática e metanálise repre- sentam o topo da pirâmide da evidência científica sobre algum temadaáreadasaúde.Permitemasseguintesdemonstrações: 1) está comprovado queo medicamento Aésignificativamente melhor (ou pior) do que o medicamento B (ou o placebo); 2) está comprovado que o medicamento A resulta em efeito semelhante ao medicamento B (ou placebo); 3) até o mo- mento, não foram feitas pesquisas suficientes para saber se o efeito do medicamento A é igual, melhor ou pior do que o medicamento B (ou placebo), sendo necessários mais estu- dos. Com todo este encorpado poder da revisão sistemática e metanálise, lamenta-se o fato de que muitos temas na área de saúde ainda não puderam passar pelo crivo deste tipo de pesquisa mais ampla. Revisão sistemática e metanálise em um periódico internacional: DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ. Use of antiemetic agents in acute gastroenteritis: a system- atic review and meta-analysis. Arch Pediatr Adolesc Med. 2008;162:858-65.10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Greenhalgh T. Como ler artigos científicos: fundamentos de medicina baseada em evidências – tradução Ananyr Porto Fajardo. 3. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008. 2. Salvador S, Ribeiro R, Winckler MI, Ohlweiler L, Riesgo R. Neurotoxocaríase infantil com acometimento cerebral, cerebelar e periférico simultâneo: relato de caso e revisão da literatura. J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):531-4. 3. Steluti J, Martini LA, Peters BSE, Marchioni DML. Folato, B6 e B12 na adolescência: níveis séricos, prevalência de inadequação de ingestão e alimentos contribuintes. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):43-9 4. Romanelli MTN, Fraga AMA, Morcillo AM, Tresoldi AT, Baracat ECE. Fatores associados ao óbito em lactentes após eventos com aparente risco de morte (apparent life-threatening event, ALTE). J Pediatr (Rio J). 2010;86(6):516-9. 5. Ramos CLJ, Barros HMT, Stein AT, Costa JSD. Fatores de risco que contribuem para envenenamento pediátrico. J Pediatr (Rio J). 2010; 86(5):435-40. 6. Lima MC, Dantas HF, Amorim RJM, Lira PIC. A restrição do crescimento fetal influencia a composição corporal na idade escolar? J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):29-35. 7. Mota DM, Barros AJD, Matijasevich A, Santos IS. Avaliação longitudinal do controle esfincteriano em uma coorte de crianças brasileiras. J Pediatr (Rio J). 2010;86(5):429-34. 8. Gomes PB, Duarte MA, Melo MCB. Comparação da efetividade entre po- lietilenoglicol 4000 sem eletrólitos e hidróxido de magnésio no tratamento da constipação intestinal crônica funcional em crianças. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):24-8. 9. Magni AM, Scheffer DK, Bruniera P. Comportamento dos antipiréticos ibu- profeno e dipirona em crianças febris. J Pediatr (Rio J). 2011;87(1):36-42. 10. DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ. Use of antiemetic agents in acute gastroenteritis: a systematic review and meta-analysis. Arch Pediatr Adolesc Med. 2008;162(9):858-65. RP_1(2).indb 14 19/08/2011 08:37:59