O documento discute a importância de se repor dentes perdidos, destacando que a ausência dentária afeta não só a estética mas também a função mastigatória, deglutição e fonação. A perda dentária progressiva pode levar a problemas oclusais e musculares que requerem abordagem multidisciplinar. O planejamento deve incluir o uso inicial de próteses para recuperar a função, seguido da colocação de implantes para próteses fixas de longo prazo.
A importância de se repor dentes perdidos – Descrição de caso - FFO
1. A Importância de se repor dentes
perdidos
Autores: Prof. Dr. Roberto C. Stegun, Mestranda Marcelli Soares de
Souza Camargo, CD Jeanne Carla Steffen
A importância da presença de dentes
suficientes para uma trituração dos
alimentos de uma forma eficiente por si só
já seria a explicação para se repor qualquer
ausência dentária ao longo da vida (Yoshino
et al. 2011).
Nesse mesmo raciocínio devemos ter em
mente as funções de cada jogo de dentes
para podermos demonstrar aos pacientes
o porquê da indicação de próteses. Porém,
nossos pacientes apenas observam a
estética, não se preocupando em geral
com a função mastigatória, deglutição e
fala, que também são afetadas (Stegun RC
2013).
Ao longo deste artigo, procuraremos dar
suporte para que mais conhecimento seja
transmitido ao paciente para uma escolha
da melhor resolução de suas necessidades.
Na parte estética, a explicação é mais
simples e evidente, mas qual a importância
dessa reposição? São basicamente duas, a
estética, já dita anteriormente, e a função
que precisa ser entendida como o corte dos
alimentos, num primeiro momento; mas,
mais importante do que o corte, é repor o
movimento anterior da mandíbula guiando
os músculos nesta direção. E qualquer
ausência dental poderá produzir um desvio
no movimento dos dentes existentes,
sobrecarregando-os no movimento e
na função de corte de alimentos. Isso
poderá produzir movimentações como
giroversão, abertura de ponto de contato
e vestibularização, o que gerará, como
possível consequência, uma perda de
posicionamentodamandíbula,projetando-a
para a frente e produzindo ainda mais
vestibularização dos dentes anteriores.
Nesses casos, a reposição simples passa
a ser complicada já que as cargas de
corte não são direcionadas para o longo
eixo do dente, em sua posição de melhor
distribuição de carga. A situação, muitas
vezes, gera a necessidade de movimentos
ortodônticos ou até, em casos mais
extremos, de exodontia para uma melhor
estética e função, tanto dos dentes quanto
da prótese reposta.
Mas quando a movimentação anterior vem
associada à perda de dentes posteriores,
a complicação pode ser ainda maior por
associar a movimentação à perda da
dimensão vertical. Fator esse que acaba
por desregular todas as funções ao mesmo
tempo e transmite cargas deletérias aos
dentes suporte e à musculatura facial.
O quadro produz, na maioria das vezes,
uma posição complexa da musculatura,
dos movimentos mandibulares, da
trituração dos alimentos, da deglutição
e da respiração, necessitando de uma
abordagem multidisciplinar (e de muita
paciência por parte do paciente) para que
a recuperação seja conseguida.
Cabe aos profissionais envolvidos fazer o
diagnóstico e, ainda, projetar ao paciente
os passos necessários para uma completa
reposição mandibular, além de resolução
com a prótese favorável à situação. Um
reposicionamento mandibular se faz
necessário num primeiro momento, seguido
de análise oclusal para se verificar como
estão as guias de protrusiva e lateralidade
e se a situação se manterá em dentes ou
numa futura prótese.
Já em relação à perda dos dentes
2. posteriores, a situação estética nem
sempre é percebida. Em alguns casos,
apenas quando as ausências são de pré-
molares superiores Mas qual o prejuízo para
o paciente quando ele perde o primeiro
molar inferior?
Além das extrusões e movimentações
dos dentes antagonistas e contíguos ao
espaço, há de se considerar a área de
perda de eficiência mastigatória, em que
o antagonista também perde a função
triturante. Considerando-se como 100%
de eficiência o fato de termos dois pré-
molares e dois molares (sem levar em conta
os terceiros molares), com a perda de um
dente perderemos ¼ da superfície triturante,
restando 75% de superfície. Esse desarranjo,
se somado à perda do segundo molar do
mesmo lado, causará uma diminuição de
50% da carga triturante, forçando uma
sobrecarga triturante, onde autores como
Fueki et al (2011) já mostraram que não é
compensada a ausência dental com maior
número de ciclos mastigatórios, dessa
forma o alimento não será completamente
triturado.
Se houver ainda ausência da
mesma magnitude do lado
oposto, a perda para cada lado
será da ordem de 50%. Como os
movimentos de trituração são
individuais, por lado, quando a
língua deslocar o bolo alimentar
de um lado para o outro, se
mantém a perda. A consequência
é uma deficiência no tamanho do
bolo alimentar a ser deglutido e
digerido, obrigando a mudanças
no padrão gastrointestinal ou,
ainda, uma modificação no padrão
alimentar.
A Organização Mundial de Saúde
preconiza um número de 20 dentes
(Nguyen et al. 2011) como padrão
a ser buscado pelas sociedades
menos desenvolvidas. Contudo,
uma discussão a respeito de como
esta distribuição se faz para que possamos
ter superfícies triturantes para que a função
seja mantida numa condição favorável,
como é preconizada pelos adeptos do
arco encurtado [Kayser, AF(1981); Walter
et al (2010); Wolfart et al (2012)]. Eles
sugerem o acompanhamento das perdas
com a manutenção de controle dos dentes
remanescentes e das condições gerais do
indivíduo em relação ao sistema digestório.
No gráfico 1 está a sequência de perdas ao
longo da vida de indivíduos e a progressão
dessas perdas. Percebe-se alguns picos
de perdas, situações em que o cirurgião-
dentistadeverátermaioratençãoparaevitar
a continuidade dos desarranjos e orientar
o paciente sobre suas consequências.
Deve-se fazer um planejamento de longo
prazo dos problemas a serem evitados,
dando condições de reposição em diversas
fases de tratamento. Isso parecerá viável
ao paciente se ele for bem orientado, em
cada fase de reposição, chegando-se até à
reposição com implantes. Da mesma, forma
o gráfico 1 orienta sobre os períodos em que
se deve ter maior controle e manutenção
dos pacientes.
Gráfico 1 – Sequência de perdas dentárias individuais e períodos de pico.
3. As reposições poderão se iniciar com
próteses removíveis bem planejadas,
recuperando as ausências, ajustando o
padrão oclusal, retomando os movimentos
mandibulares de protrusiva e lateralidade,
com consequente equilíbrio muscular e,
ainda, ganhando eficiência mastigatória
com o aumento de superfícies triturantes.
O uso de próteses temporárias ou
provisórias acabam por desviar o plano de
tratamento por serem confeccionadas sem
os padrões de estabilidade e função dadas
pelas estruturas metálicas, gerando dores,
movimentações inadequadas da prótese e
deglutições atípicas (figura 1).
Dentro do planejamento integrado, a
resolução pode passar pela confecção de
uma prótese removível (figura 2), com
posterior colocação de implantes sob a
prótese até a integração e possibilidade
de colocação de coroas unitárias ou
próteses fixas. Proporcionando, assim, um
tratamento continuado, com melhoria da
qualidade de vida e expansão das técnicas
de reabilitação.
Com um custo mais baixo, esta primeira
prótese auxiliará no reestabelecimento
do equilíbrio oclusal (figura 3) e dos
movimentos mandibulares, recuperando o
tônusmuscular,aestéticaeafunção.Prepara-
se, assim, dentro de um planejamento já
estabelecido, a instalação de implantes
sob a prótese, em número suficiente para
posterior eliminação da prótese removível
e construção de coroas ou próteses fixas.
Elas serão confeccionadas já numa situação
oclusal e de maior conhecimento sobre o
paciente. Da mesma forma, em casos de
extremidade livre, o uso de apenas um
implante o mais distal possível e colocação
de encaixes do tipo bola já melhoram a
qualidade de retenção da prótese, gerando
maior estabilidade.
Este tipo de planejamento proporcionará
ao paciente e profissional uma interrelação
direta na busca de qualidade de vida, com
aumento do equilíbrio oclusal, muscular e
da eficiência mastigatória na trituração dos
alimentos com melhora de deglutição e
digestão.
Gráfico 1 – Sequência de perdas dentárias individuais e períodos de pico.
Figura 2 – Uso da própria prótese no restabelecimento do equilíbrio oclusal.
Figura 3 – Plano oclusal restabelecido com prótese removível.
4. Referências
Bibliográficas
Fueki K, Yoshida E, Igarashi Y. A structural equation model to
investigate the impact of missing occlusal units on objective
masticatory function in patients with shortened dental arches.
J Oral Rehabil. 2011;38(11):810-7.
Kayser AF. Shortened dental arches and oral function. J Oral
Rehabil. 1981;8:457-62.
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population-acombinedquantitativeandqualitativeclassification
system analysis. Int J Prosthodont. 2011 Jan-Feb;24(1):30-7.
Stegun RC. Perdas dentárias e sua influência na estética e
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Walter MH, Weber A, Marré B, Gitt I, Gerss J, Hannak W, et
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