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scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 
Controvérsias científicas ou negação da ciência? 
A agnotologia e a ciência do clima 
José Correa Leite 
Merchants of doubt. How a handful of scientists obscured the truth 
on issues from tobacco smoke to global warming 
Naomi Oreskes & Eric M. Conway 
Bloomsbury 
New York, 2010, 368 págs. 
Na medida em que se torna determinante da dinâmica da economia e da política, a tec-nociência 
passa a mediar as definições e as tomadas de decisão sobre um número cres-cente 
de questões. Ela se torna um campo de batalha de interesses contraditórios, onde 
o avanço do conhecimento científico amiúde questiona diretamente os poderes estabe-lecidos. 
Como a ciência fornece as bases para os discursos mais legítimos da sociedade, 
aqueles que são questionados por ela têm que reagir contrapondo argumentos e teo-rias 
supostamente científicos, mesmo quando não o sejam. O caso da relação entre o 
hábito de fumar e o aumento da incidência de câncer é o exemplo clássico, mas a indução 
da ignorância ou da dúvida sobre temas onde já existe um consenso científico tornou-se 
uma prática comum na sociedade atual. A leitura de Mooney (2005) e Michaels (2008) 
permite pôr em discussão dezenas de tópicos de conflito nas mais variadas áreas. 
Assim, as controvérsias escalam até ganharem a conotação de uma verdadeira guerra 
cultural no caso da emissão dos gases de efeito estufa, os quais, segundo indicação da 
própria ciência, produzem o aquecimento global (impacto negado ou questionado pe-las 
indústrias de combustível fóssil e de geração de energia em termoelétricas). 
Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, cunhou um 
termo para designar o estudo da negação da ciência com vistas a produzir a dúvida ou a 
ignorância – em oposição ao estudo do conhecimento pela epistemologia –, a saber, 
agnotology, que podemos traduzir por agnotologia (do grego agnosis, não conhecimento). 
O propósito da agnotologia seria “promover o estudo da ignorância, desenvolvendo ferra-mentas 
para compreender como e porque várias formas de conhecimento não ‘emergi-ram’, 
ou desapareceram, ou foram retardadas ou negligenciadas por longo tempo, para 
melhor ou para pior, em vários pontos da história” (Proctor & Schiebinger, 2008, p. vii). 
http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662014000100009 179
a reposicionar a forma como são tratados os debates e as controvérsias na ciência do 
clima. Há um amplo acordo entre os cientistas sobre as raízes antropogênicas do atual 
aquecimento global. O estudo de Cook e colaboradores, citado por Benestad (2013, 
p. 454), analisou os resumos de 12 mil artigos sobre o tema, constatando que 97% de-les 
tinha localizado nenhum trabalho que se contrapusesse ao reconhecimento das causas 
humanas do aquecimento global recente (25% deles, estudos de metodologia ou de 
paleoclimatologia, não se posicionavam sobre o tema). Mas as pesquisas de opinião 
mostram um enorme hiato entre esse consenso e a forma como a população trata o 
assunto, em especial nos Estados Unidos, onde Doran e Zimmerman (2009) infor-mam 
aquecimento global tem causas antropogênicas e que apenas 47% acreditam que exista 
um consenso na comunidade científica sobre isso. 
e cultural ampla, que tem como objetivo obscurecer a informação e a compreensão da 
população sobre o tema, do mesmo modo que a indústria do tabaco criou, durante meio 
século, dúvidas sobre as pesquisas científicas que estabeleciam a conexão entre o ta-baco 
por três décadas, na autoridade de um pequeno grupo de cientistas. 
1 O ataque ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, 
a estratégia do tabaco e os mercadores da dúvida 
Naomi Oreskes, historiadora da ciência da Universidade de Harvard, e Eric Conway, 
historiador vinculado ao Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, retraçam, em 
Merchants of doubt, sete disputas envolvendo a ciência nos Estados Unidos, revelando 
gradualmente os nexos entre os diferentes processos de negação da ciência por cien-tistas 
do relatório, intitulado “Detecção da mudança climática e atribuição de causas”. Frede-rick 
– acusou Santer, no jornal Wall Street, de ter modificado arbitrariamente a redação fi-nal 
180 
José Correa Leite 
Merchants of doubt é um livro que, pondo-se na perspectiva da agnotologia, ajuda 
apoiam o consenso expresso nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mu-dança 
Climática (Intergovernamental Panel on Climate Change – IPCC). Uma década an-tes, 
um estudo dos resumos de 928 artigos, conduzido por Naomi Oreskes (2004), não 
acerca de pesquisas que apontam que apenas 52% da população acredita que o 
Essa ignorância não é fruto do acaso, mas resultado de uma intervenção política 
e o câncer. E, no caso dos Estados Unidos, essa intervenção esteve concentrada, 
de renome. Os autores partem em sua narrativa, na introdução da obra, do ata-que 
sofrido por Benjamin Santer, um cientista do clima, depois da divulgação do se-gundo 
relatório do IPCC em 1995. Santer foi o responsável por fechar o oitavo capítulo 
Seitz – antigo presidente da National Academy of Sciences (NAS) entre 1962 e 1969 
do capítulo para ressaltar a responsabilidade humana no aquecimento global. 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
Seguiram-se muitos outros artigos acusatórios de Seitz e seus associados, sempre ata-cando 
Santer por fraude, principalmente em veículos empresariais. Ele, porém, ape-nas 
incorporou em seu texto final as contribuições que surgiram no processo de revi-são 
por seus pares da versão anterior do capítulo, característica normal no processo 
de produção científica contemporâneo, fato bem conhecido por Seitz e outros críticos 
do IPCC, mas ignorado em seus ataques pelos jornais. Os principais responsáveis pelo 
IPCC, a Associação Meteorológica Americana e, por fim, um grupo de 40 climatolo-gistas 
de destaque enviaram cartas ao jornal Wall Street em defesa de Santer, mas o jor-nal 
só publicou discretos extratos delas, enquanto dava destaque às acusações. Trata-va- 
se não de uma controvérsia científica, mas de um ataque político às conclusões do 
Anos depois, Santer descobriu que dois dos seus mais agressivos acusadores, 
Fredrick Seitz e Fred Singer, tinham estado à frente de um programa organizado pela 
indústria do tabaco para desacreditar as evidências científicas ligando o fumo ao cân-cer, 
onde aplicavam a antiga estratégia do setor de “manter a controvérsia viva” para 
safar-se dos processos judiciais e adiar a adoção de medidas restritivas ao fumo, a mes-ma 
estratégia que eles aplicavam para evitar restrições à emissão de carbono frente ao 
A “estratégia do tabaco” era empregar cientistas para levantarem dúvidas sobre 
a relação entre o hábito de fumar e os riscos para a saúde. A extensa pesquisa de Oreskes 
e Conway localizou o núcleo dos executores dessa estratégia no Instituto George C. 
Marshall, constituído em 1984. Seus fundadores eram três físicos aposentados, 
Frederick Seitz (1911-2008), Robert Jastrow (1925-2008) e William Nierenberg (1919- 
2000). Como Siegfried (Fred) Singer (1924), outro expoente da “estratégia do tabaco”, 
eles exerceram funções de destaque no período da guerra fria. 
Os quatro físicos aposentados são os principais “mercadores da dúvida”, manten-do 
fortes vínculos com os círculos conservadores (Bush pai os chamou de “meus cien-tistas”) 
e com o mundo empresarial. Foram responsáveis durante mais de duas déca-das 
pela tática de “manter a controvérsia viva”, repetindo-a em sucessivos debates, 
sem levar em consideração o consenso científico que se constituía sobre as temáticas. 
Os mercadores da dúvida utilizavam suas credenciais científicas passadas para 
obscurecerem as diferenças entre as controvérsias científicas e as disputas de opinião 
na mídia. A Comissão Federal de Comunicações (FCC) tinha introduzido, em 1949, a 
“doutrina da equidade” (fairness), pela qual os veículos de radiodifusão deveriam de-dicar 
tempo à discussão de temas controversos e apresentar de maneira equilibrada as 
posições contrastadas. Essa doutrina enraizou-se na mídia estadunidense e esses cien-tistas 
181 
Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 
IPCC, que se desdobrava em um ataque pessoal à reputação de Santer. 
aquecimento global. 
recorriam a ela toda vez que queriam veicular suas posições. 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
discussão e ignora ou recusa, sem provas, o consenso científico estabelecido. James 
Hansen (2013) lamenta ter que discutir ciência com advogados que utilizam argumen-tos 
Essas controvérsias visam retardar o desdobramento do consenso científico em regu-lação 
de ceticismo. Essas controvérsias são a negação da ciência e uma maneira de afirmar 
a pseudociência travestida de ciência, remetendo para o terreno da agnotologia. 
182 
José Correa Leite 
Mas o contraditório pode representar a negação do debate científico, se a con-tradição 
não representa posições respaldadas por pesquisadores ativos nas áreas em 
de tribunal para “ganharem” a discussão. Stephen Schneider (cf. 2009, p. 203) la-menta 
a tática persistente de distorção, ataques pessoais, falsas notícias, interpreta-ções 
unilaterais pagas por lobbies e corporações “e outras violações da ética da mídia”. 
e políticas públicas, nada tendo a ver com debates científicos ou com uma postu-ra 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 
2 “A dúvida é nosso produto” 
O primeiro capítulo da obra de Oreskes e Conway mostra como a indústria do tabaco 
foi a inventora e a mais hábil praticante da estratégia de promover a dúvida quanto aos 
resultados da ciência. Estudos científicos tornaram evidente a conexão entre o fumo e 
o câncer nos anos 1950. Em 1953, a American Tobacco, Benson & Hedges, Philip Morris 
e U.S. Tobacco contrataram a firma de relações públicas Hill & Knowlton para defender 
seu produto e montaram um Comitê de Pesquisa da Indústria do Tabaco para fornecer 
argumentos que desafiassem a crescente evidência científica de que fumar prejudica-va 
a saúde. Esse comitê iniciou encontros com dirigentes da mídia norte-americana, 
forneceu-lhes estudos que desmentiam as acusações, contratou um famoso geneticista 
que sustentava que a causa do câncer era uma fraqueza genética e distribuiu folhetos 
sobre a “controvérsia do cigarro” para médicos, responsáveis pela mídia e políticos 
dos EUA. Nada menos do que 77 das 79 faculdades de medicina do país participavam 
do programa patrocinado pela indústria. 
Mas as evidências científicas acumulavam-se. Em 1964, um estudo intitulado 
“Fumo e saúde” confirmava a conexão entre fumar e a incidência de câncer. Em 1967, 
mais de dois mil estudos já reforçavam a conclusão de que fumar era prejudicial à saúde. 
Em 1969, a FCC baniu a propaganda de cigarros da televisão e do rádio. Mas a indústria 
duplicou suas despesas no apoio a médicos e hospitais, passando de US$ 50 milhões 
para US$ 100 milhões por ano. A estratégia de negar os resultados científicos continuava 
funcionando. Dos 125 processos enfrentados pela indústria entre 1954 e 1979, apenas 
nove foram a julgamento e a indústria ganhou todos. Apesar disso, a indústria do taba-co 
contratou, em 1979, Frederick Seitz para desacreditar o consenso científico que já
Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 
era esmagador. Sua estratégia de manter a controvérsia viva, questionando o nexo en-tre 
o hábito de fumar e o câncer, continuou eficaz ainda por algum tempo. 
A natureza probabilista das afirmações da epidemiologia foi trabalhada pela in-dústria 
do cigarro junto à opinião pública, mediante um hábil uso da dúvida com base 
no próprio caráter hipotético da ciência. Um executivo da indústria escreveria, em 1969, 
que “a dúvida é nosso produto”. Foi somente na virada para os anos 2000 que a indús-tria 
do tabaco foi derrotada nos tribunais, graças à divulgação de documentos internos 
e de seus próprios estudos, que mostravam os danos do cigarro à saúde, estudos que ela 
ocultou por décadas, contribuindo para a morte de milhões de pessoas. 
Seitz já tinha, então, desdobrado suas intervenções. Como mostram Oreskes e Conway 
no segundo capítulo do livro, ele concentra cada vez mais atenção, na década de 1980, 
na defesa do projeto “guerra nas estrelas”. 
Nas décadas de 1960 e 1970, a doutrina da guerra nuclear entre os estrategistas 
militares era conhecida como a da “destruição mutuamente assegurada” (MAD), que 
significava que nenhuma das duas superpotências poderia utilizar suas armas nuclea-res 
contra a outra ou provocar um incidente que levasse a seu uso. Todavia, quando 
Reagan assume a presidência dos Estados Unidos, em 1980, lança a “iniciativa de de-fesa 
estratégica” (SDI, também conhecida como “guerra nas estrelas”), visando de-senvolver 
armas a serem colocadas em órbita, capazes de destruir os mísseis inimigos 
e garantir a vitória em uma guerra nuclear. Robert Jastrow era, com Edward Teller, um 
dos campeões na defesa desse projeto, mas enfrentava uma oposição liderada por Carl 
Sagan e Hans Bette, que era majoritária na comunidade científica e que, depois do aci-dente 
na usina nuclear de Three Miles Island em 1979, estava em sintonia com um 
De nada adiantava um sistema antimísseis que abatesse 90% dos agressores, já 
que os restantes 10% eram suficientes para destruir o país. A estratégia de evitar a guerra 
através da garantia da “destruição mutuamente assegurada” continuava a ser a única 
opção racional. Contudo, a polêmica na comunidade científica girava em torno do con-ceito 
de “inverno nuclear”. As especulações que emergiram na época, segundo as quais 
o choque de um meteorito com a Terra teria extinto os dinossauros, alimentaram dis-cussões 
sobre o impacto climático de uma guerra nuclear. No Centro de Pesquisa Ames 
da NASA, cientistas utilizaram modelos de computador para calcular o impacto do uso 
de armas nucleares sobre o clima. O resultado foi a projeção de que um conflito pode- 
183 
3 Guerra nas estrelas, inverno nuclear e o Instituto Marshall 
movimento antinuclear muito ativo e disseminado. 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
ria lançar na atmosfera resíduos que cobririam o planeta e produziriam uma queda na 
temperatura de 35º C, um inverno nuclear que varreria quase toda a vida do planeta. 
O artigo que apresentava esses resultados, assinado por Sagan e outros, tornou-se foco 
de um debate nacional. Estudos posteriores no Centro Nacional de Pesquisas Atmos-féricas 
C, mas a física aumentou a probabilidade da hipótese do inverno nuclear. 
para combater o que considerava ambientalistas pacifistas manipulados pelos sovié-ticos. 
travar o debate contra os defensores da ideia do inverno nuclear. Oreskes e Conway 
afirmam que esse episódio dá início ao movimento contrário à ciência dos conserva-dores 
à importância da ciência e da tecnologia para o progresso e a defesa nacional, mesmo 
em temas como o meio-ambiente, sendo que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e 
a moderna legislação ambiental do país foram criadas pela administração Nixon. Mas, 
para os falcões da guerra fria, isso se rompe, nos anos 1980, em duas frentes. De um 
lado, quando a maior parte dos cientistas, que já tinham questionado o envolvimento 
no Vietnã, passam a colocar em questão a nova política frente à URSS. De outro lado, 
com as crescentes políticas de regulação, principalmente ambiental, que buscavam 
solucionar problemas criados pelo livre mercado em um momento em que o neolibe-ralismo 
4 Chuva ácida, buraco na camada de ozônio e fumantes passivos 
Um contencioso estava em curso com o Canadá sobre as chuvas ácidas que atingiam as 
florestas canadenses (tema do terceiro capítulo do livro). Essas chuvas provinham das 
emissões de dióxido de enxofre das usinas termoelétricas dos EUA, segundo era indi-cado 
painel de pares que deveria apresentar o parecer final sobre o assunto – oito dos de-mais 
Engenharia; o nono indicado pela Casa Branca era Fred Singer. Na década de 1960, 
Singer tinha sido um ambientalista, mas na década de 1980 sua posição valorizava an-tes 
fizeram crer que o painel estava dividido em seus pontos de vista, ainda que a ampla 
maioria considerasse que alguma medida tinha de ser tomada para conter a emissão de 
dióxido de enxofre das termoelétricas, que as amostras de água de chuva colhidas evi-denciavam 
184 
José Correa Leite 
em Boulder, no Colorado, apontaram para uma queda menor, entre 10º C e 20º 
É nesse contexto que Jastrow lança a iniciativa do Instituto George C. Marshall 
Seus apoiadores recorreriam aos mesmos métodos da indústria do cigarro para 
norte-americanos. Até o governo Reagan, havia um consenso bipartidário quanto 
retomava a ideologia do estado mínimo e valorizava a desregulamentação. 
até mesmo pela NAS. O governo Reagan apontou Nierenberg para coordenar o 
nove membros do painel seriam indicados pela NAS e pela Academia Nacional de 
de tudo a inovação tecnológica impulsionada pelo livre mercado. Nierenberg e Singer 
ser a fonte das chuvas ácidas. Além disso, a Casa Branca reescreveu o rela- 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
tório do painel com o aval de Nierenberg. Ele não reconhecia a necessidade da instala-ção 
de filtros nas usinas, pois isso encarecia a geração de energia e reduzia a rentabili-dade 
das empresas. O argumento era, novamente, que existiam dúvidas sobre a relação 
O quarto capítulo trata do debate em torno do buraco na camada de ozônio. Em 
setembro de 1976, um painel da NAS confirmou a relação entre a emissão de cloro-fluorcarbonos 
(CFCs) e a degradação da camada de ozônio, abrindo uma discussão 
ampla sobre a necessidade de proibir o uso dos CFCs, cuja utilização começou a ser 
rapidamente reduzida nos EUA. Quando um buraco na camada de ozônio sobre a Antár-tida 
foi descoberto em 1985, uma convenção patrocinada pela ONU propôs uma restri-ção 
global ao uso dos CFCs, levando à assinatura do Protocolo de Montreal em 1987, 
revisto em 1990 para banir qualquer emissão na atmosfera. Mas não sem a objeção de 
Singer, então cientista-chefe do Departamento de Transportes. Ele afirmava inicial-mente 
que o buraco era um problema temporário, e, depois, que seria causado pelo 
resfriamento da estratosfera em virtude de uma variabilidade natural do clima, não 
exigindo nenhuma regulação da produção de CFCs. A intervenção de Singer visava 
desconstruir a ideia de que havia uma posição da comunidade científica sobre o tema, 
mas aqui até mesmo a multinacional Du Pont aceitou a posição e abandonou a produ-ção 
de CFCs. Ainda assim, quando, em 1995, Molina e Crutzen ganharam o Nobel de 
química por essa descoberta, Singer escreveu que se tratava de uma “declaração políti-ca”. 
A opinião pública sueca até mesmo apoiaria uma “hipotética taxa sobre o carbono 
para reverter um aquecimento do clima global que ainda não foi detectado (...). Sinte-ticamente, 
o país está tomado de uma histeria ambiental coletiva” (Singer apud Oreskes 
Voltando ao tema do tabaco, no quinto capítulo da obra, Oreskes e Conway lem-bram 
que a EPA divulgou, em 1992, um relatório sobre “os efeitos na saúde respirató-ria 
do fumo passivo”, atribuindo três mil mortes de câncer do pulmão por ano ao fumo 
passivo, bem como o agravamento dos casos de bronquite, pneumonia e asma de cen-tenas 
de milhares de crianças. Uma nova frente de luta abria-se para os fabricantes de 
cigarros. Fred Singer empreende a resposta da indústria do tabaco através de um ata-que 
sistemático à EPA. Ele e Fred Seitz encabeçam uma campanha de denúncia de uma 
ciência que afirmam estar baseada no exagero, na distorção e na fraude, e a qual cor-responderia, 
de fato, a quase toda a ciência ambiental e a boa parte da epidemiologia 
e da saúde pública, que prescreviam medidas de regulação estatal, para eles sinônimo 
de socialismo. 
Os “mercadores da dúvida” usam o grau de incerteza presente em todo estudo esta-tístico 
para questionar qualquer conclusão que questione as práticas da livre iniciativa. 
185 
Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 
entre a poluição das usinas e as chuvas ácidas. 
& Conway, 2010, p. 133). 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
5 Organizar o atraso da resposta na questão do clima 
No capítulo 6, Oreskes e Conway lembram o alerta, dado por Roger Revelle em 1965 e 
apoiado nas medições de Keeling, para uma possível elevação da temperatura da Terra 
pelas emissões de dióxido de carbono. Seu relatório afirmava que “pelo ano 2000 ha-verá 
poderão ocorrer” (p. 170). Nos anos 1970, modelos climáticos, alimentados por dados 
de satélites, já confirmavam essas previsões. 
quantidade de CO2 na atmosfera, teríamos um aumento de temperatura entre 1,5º C e 
4º C, provavelmente de 3º C. Se as emissões fossem maiores, provavelmente o aumen-to 
de temperatura seria maior do que 3º C. Quando isso ocorreria? Não se podia ofere-cer 
oceanos; eles poderiam funcionar como sumidouro de calor por várias décadas. 
e Conway denominam de “organizar o atraso”. Foram encomendados dois estudos para 
a NAS. O primeiro, liderado pelo economista Thomas Schelling e com a participação 
de Nierenberg, apresentou suas conclusões em abril de 1980. “Face às incertezas, con-trovérsias 
mais baixo possível (...) Hoje não conhecemos o suficiente sobre a maioria destas ques-tões” 
186 
José Correa Leite 
25% mais CO2 na nossa atmosfera do que no presente [e] isso modificará o equilí-brio 
térmico da atmosfera tão extensamente que mudanças marcantes no clima (...) 
A NAS conduziu, em 1977, um estudo para rever o estado da discussão. Encabe-çado 
por Jule Charney, do MIT, ele se apoiou em um modelo climático de três dimen-sões 
construído por Syukuro Manabe e James Hansen, mostrando que se dobrasse a 
uma resposta segura, porque isso dependeria de quanto calor fosse absorvido pelos 
As conclusões perturbadoras para os políticos deram origem à tática que Oreskes 
e vínculos complexos envolvendo a questão do dióxido de carbono, e a pos-sibilidade 
de que algumas das maiores incertezas sejam reduzidas em uma década, pa-rece 
à maioria de nós que a ênfase de médio prazo deve ser na pesquisa, com o perfil político 
(p. 175). Esse trabalho foi duramente criticado pelo chefe do escritório de pes-quisa 
climática da NAS, que publicou o artigo “Energia e clima: problema para hoje, 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 
não para amanhã”. 
O segundo estudo foi dirigido por Nierenberg, e diferente dos demais estudos da 
NAS, não foi coletivo, mas dividido em dois blocos, cinco capítulos dos cientistas na-turais 
(que reafirmaram as posições do relatório de Jule Charney) e dois capítulos so-bre 
emissões e impactos climáticos de economistas (que foram na linha do relatório 
Schelling). Por decisão de Nierenberg, os capítulos de abertura e conclusão foram os 
dos economistas, neutralizando o impacto do relatório, divulgado em 1983. 
A discussão só foi reaberta em 1988, de um lado com a criação do IPCC, formado 
para monitorar o buraco na camada de ozônio e, de outro lado, com a declaração de 
James Hansen de que o aquecimento global antropogênico tinha começado. Hansen 
testemunha no congresso norte-americano com ampla cobertura da mídia e o tema do
aquecimento global volta a atrair a atenção também dos mercadores da dúvida. Com o 
colapso da URSS, o Instituto Marshall decide dirigir suas baterias contra os ambien-talistas 
“alarmistas”. Ele divulga um contrainforme para a Casa Branca em que não nega 
o aquecimento global, mas culpa uma variação natural do Sol por isso. Ainda assim, o 
novo presidente dos EUA, George Bush, enviou seu secretário de estado, James Baker, 
para a reunião inaugural do IPCC, em 1989. Em maio de 1990, o IPCC divulgou o pri-meiro 
relatório sobre o tema, envolvendo em sua elaboração mais de 300 cientistas de 
25 países. Sua conclusão foi que o uso irrestrito de combustíveis fósseis produzirá 
uma taxa de aumento da temperatura média global durante o próximo século de 0.3º C 
por década, maior do que o visto nos últimos 10.000 anos. O IPCC também afirma-va 
que o peso disso era muito maior do que o das variações na temperatura do Sol. 
Nierenberg insistia que a temperatura em 2100 não seria mais do que 1º C maior, como 
afirmou no Congresso Mundial do Petróleo, em 1991. Mas isso não impediu que 
Bush comparecesse à Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em 1992 e firmasse a Conven-ção 
das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (apenas uma declaração de inten-ções, 
mas significativa). 
Nesse momento, a narrativa de Oreskes e Conway retorna ao tema da divulgação do 
segundo relatório do IPCC, em 1995, e do ataque a Ben Santer. Na elaboração do rela-tório 
final, durante a plenária com os representantes dos governos e os lobbies, para 
lançar o segundo relatório do IPCC acordou-se a seguinte formulação no sumário: “o 
equilíbrio das evidências sugere que há uma influência humana discernível sobre o 
clima” (p. 205). Isso representava uma consolidação do consenso na comunidade dos 
cientistas do clima. Já vimos as consequências disso para Santer. Mas a contundência 
com que os negacionistas retrucaram e consolidaram uma posição nos EUA dão razão a 
Hansen e Schneider. 
Um sétimo capítulo é dedicado ao ataque revisionista contra Rachel Carson, quase 
meio século depois da denúncia da bióloga contra o surgimento de “primaveras silen-ciosas” 
conduzir ao banimento do uso do DDT. Os fundamentalistas de mercado ata-cam 
Carson, a fundadora do ambientalismo como movimento político, afirmando 
que o uso do DDT era seguro e sua proibição foi uma tragédia para os países pobres. 
Ao criticarem Raquel Carson, os conservadores pretendiam atingir o ecologismo em 
conjunto. Do mesmo modo que a chuva ácida, o fumo passivo, o buraco no ozônio e o 
aquecimento global, o DDT impõe enormes custos externos à sociedade através da des-truição 
de ecossistemas e sua proibição evidencia falhas do mercado, que exigem a in- 
187 
Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 
6 O neoliberalismo e as mudanças climáticas 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
tervenção governamental. Mas reconhecer que os subprodutos da civilização indus-trial 
conhecimento não são as da democracia, mas aquelas que permitem trabalhar a partir 
das evidências. “Manter a controvérsia” ou “manter o debate vivo” pode ser e tem sido 
transformado na negação da ciência. Muitos outros temas podem ser levantados, como 
o debate de fundamentalistas religiosos contra a teoria da evolução, a relação entre 
HIV e AIDS, o impacto dos agrotóxicos ou dos transgênicos sobre a saúde e o ambiente, 
o uso de células tronco etc. Criaram-se inúmeros “boletins, revistas e jornais – inclu-indo 
patrocinadas pela indústria podiam ser difundidos, publicados e, então, citados como 
se fossem independentes” (p. 243). Mas isso é, normalmente, o embate de um simula-cro 
188 
José Correa Leite 
estão destruindo o ambiente global é inaceitável para os falcões da guerra fria. 
No final, os autores lembram que, embora a liberdade de imprensa seja funda-mental 
para a democracia, a fragmentação da opinião pública nivela as diferentes po-sições, 
embora elas não tenham todas o mesmo valor. Isso não ajuda a fortalecer a cons-ciência 
pública. E, no caso das questões de mérito científico, as regras da produção de 
jornais com revisão explícita pelos pares – nos quais os resultados de pesquisas 
da ciência contra a ciência, não uma controvérsia científica. Os cientistas, cujo tra-balho 
é analisado por Oreskes e Conway, trouxeram para dentro das disputas científi-cas 
as práticas dos escritórios de advocacia, das relações públicas e da publicidade, bem 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 
como das campanhas políticas (cf. p. 274). 
O epílogo da obra de Oreskes e Conway intitula-se “Uma nova visão da ciência”. 
Os autores mostram que os mercadores da dúvida foram bem sucedidos porque a visão 
hegemônica da ciência, difundida pela mídia, é falsa. 
Merchants of doubt é uma importante contribuição para o debate em torno das 
questões do clima e do aquecimento global. Embora não tenhamos focado a atenção 
nisso, há, naturalmente, muitas controvérsias científicas reais nesse terreno comple-xo. 
Mas o primeiro passo para podermos adentrar por esse território é mapearmos 
quais controvérsias colocam-se no terreno da ciência e quais estão fora dele, reme-tendo 
para a agnotologia. 
Agradecimentos. A resenha aqui publicada faz parte da pesquisa viabilizada pela bolsa de pós-doutorado da Fapesp 
junto ao Projeto Temático 2011/51614-3, “Gênese e significado da tecnociência: Das relações entre ciência, tecnologia 
e sociedade”. 
José Correa Leite 
Faculdade de Comunicação, 
Fundação Armando Álvares Penteado, 
São Paulo, Brasil. 
jcleite@dglnet.com.br
Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 
Scientific controversies or denial of science? 
189 
scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 
Agnotology and climate science 
referências bibliográficas 
Benestad, R.E. et al. Agnotology: learning from mistakes. Earth System Dynamics Discussion, 4, p. 451- 
505, 2013. Disponível em: <www.earth-syst-dynam-discuss.net/4/451/2013/ doi:10.5194/esdd-4- 
451-2013>. Acesso em: 20 jan. 2014. 
Doran, P. T. & Zimmerman, M. K. Examining the scientific consensus on climate change. Eos, Transactions 
American Geophysical Union, 90, p. 22-3, 2009. 
Hansen, J. Tempestades de meus netos. Mudanças climáticas e as chances de salvar a humanidade. São Paulo: 
Senac, 2013. 
Houghton, J. T.; Jenkins, G. J. & Ephraim, J. J. (Ed.). Intergovernmental panel on climate change, climate 
change: the IPCC scientific assessment. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. (IPCC1). Dis-ponível 
em: <http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_first_assessment_1990_ 
wg1.shtml>. Acesso em: 20 jan. 2014. 
Houghton, J. T. et al. (Ed.). Intergovernmental panel on climate change, climate change: the science of climate 
change. Contributions by working group 1 to the second IPCC assessment report. Cambridge: Cambridge 
University Press, 1996. (IPCC2). Disponível em: <http://www.ipcc.ch/ipccreports/sar/wg_I/ipcc_sar_ 
wg _I_full_report.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2014. 
Michaels, D. Doubt is their product: how industry’s assault on science threatens your health. London: Oxford 
University Press, 2008. 
Mooney, C. The republican war on science. New York: Basic Books, 2005. 
Oreskes, N. The scientific consensus on climate change. Science, 306, p. 1686, 2004. 
Proctor, R. N. & Schiebinger, L. (Ed.). Agnotology: the making and unmaking of ignorance. Palo Alto: 
Stanford University Press, 2008. 
Schneider, S. H. Science as contact sport: inside the battle to save Earth’s climate. Washington: National 
Geographic, 2009.

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A agnotologia e a negação da ciência no debate climático

  • 1. scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima José Correa Leite Merchants of doubt. How a handful of scientists obscured the truth on issues from tobacco smoke to global warming Naomi Oreskes & Eric M. Conway Bloomsbury New York, 2010, 368 págs. Na medida em que se torna determinante da dinâmica da economia e da política, a tec-nociência passa a mediar as definições e as tomadas de decisão sobre um número cres-cente de questões. Ela se torna um campo de batalha de interesses contraditórios, onde o avanço do conhecimento científico amiúde questiona diretamente os poderes estabe-lecidos. Como a ciência fornece as bases para os discursos mais legítimos da sociedade, aqueles que são questionados por ela têm que reagir contrapondo argumentos e teo-rias supostamente científicos, mesmo quando não o sejam. O caso da relação entre o hábito de fumar e o aumento da incidência de câncer é o exemplo clássico, mas a indução da ignorância ou da dúvida sobre temas onde já existe um consenso científico tornou-se uma prática comum na sociedade atual. A leitura de Mooney (2005) e Michaels (2008) permite pôr em discussão dezenas de tópicos de conflito nas mais variadas áreas. Assim, as controvérsias escalam até ganharem a conotação de uma verdadeira guerra cultural no caso da emissão dos gases de efeito estufa, os quais, segundo indicação da própria ciência, produzem o aquecimento global (impacto negado ou questionado pe-las indústrias de combustível fóssil e de geração de energia em termoelétricas). Robert Proctor, historiador da ciência da Universidade de Stanford, cunhou um termo para designar o estudo da negação da ciência com vistas a produzir a dúvida ou a ignorância – em oposição ao estudo do conhecimento pela epistemologia –, a saber, agnotology, que podemos traduzir por agnotologia (do grego agnosis, não conhecimento). O propósito da agnotologia seria “promover o estudo da ignorância, desenvolvendo ferra-mentas para compreender como e porque várias formas de conhecimento não ‘emergi-ram’, ou desapareceram, ou foram retardadas ou negligenciadas por longo tempo, para melhor ou para pior, em vários pontos da história” (Proctor & Schiebinger, 2008, p. vii). http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662014000100009 179
  • 2. a reposicionar a forma como são tratados os debates e as controvérsias na ciência do clima. Há um amplo acordo entre os cientistas sobre as raízes antropogênicas do atual aquecimento global. O estudo de Cook e colaboradores, citado por Benestad (2013, p. 454), analisou os resumos de 12 mil artigos sobre o tema, constatando que 97% de-les tinha localizado nenhum trabalho que se contrapusesse ao reconhecimento das causas humanas do aquecimento global recente (25% deles, estudos de metodologia ou de paleoclimatologia, não se posicionavam sobre o tema). Mas as pesquisas de opinião mostram um enorme hiato entre esse consenso e a forma como a população trata o assunto, em especial nos Estados Unidos, onde Doran e Zimmerman (2009) infor-mam aquecimento global tem causas antropogênicas e que apenas 47% acreditam que exista um consenso na comunidade científica sobre isso. e cultural ampla, que tem como objetivo obscurecer a informação e a compreensão da população sobre o tema, do mesmo modo que a indústria do tabaco criou, durante meio século, dúvidas sobre as pesquisas científicas que estabeleciam a conexão entre o ta-baco por três décadas, na autoridade de um pequeno grupo de cientistas. 1 O ataque ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a estratégia do tabaco e os mercadores da dúvida Naomi Oreskes, historiadora da ciência da Universidade de Harvard, e Eric Conway, historiador vinculado ao Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, retraçam, em Merchants of doubt, sete disputas envolvendo a ciência nos Estados Unidos, revelando gradualmente os nexos entre os diferentes processos de negação da ciência por cien-tistas do relatório, intitulado “Detecção da mudança climática e atribuição de causas”. Frede-rick – acusou Santer, no jornal Wall Street, de ter modificado arbitrariamente a redação fi-nal 180 José Correa Leite Merchants of doubt é um livro que, pondo-se na perspectiva da agnotologia, ajuda apoiam o consenso expresso nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mu-dança Climática (Intergovernamental Panel on Climate Change – IPCC). Uma década an-tes, um estudo dos resumos de 928 artigos, conduzido por Naomi Oreskes (2004), não acerca de pesquisas que apontam que apenas 52% da população acredita que o Essa ignorância não é fruto do acaso, mas resultado de uma intervenção política e o câncer. E, no caso dos Estados Unidos, essa intervenção esteve concentrada, de renome. Os autores partem em sua narrativa, na introdução da obra, do ata-que sofrido por Benjamin Santer, um cientista do clima, depois da divulgação do se-gundo relatório do IPCC em 1995. Santer foi o responsável por fechar o oitavo capítulo Seitz – antigo presidente da National Academy of Sciences (NAS) entre 1962 e 1969 do capítulo para ressaltar a responsabilidade humana no aquecimento global. scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 3. Seguiram-se muitos outros artigos acusatórios de Seitz e seus associados, sempre ata-cando Santer por fraude, principalmente em veículos empresariais. Ele, porém, ape-nas incorporou em seu texto final as contribuições que surgiram no processo de revi-são por seus pares da versão anterior do capítulo, característica normal no processo de produção científica contemporâneo, fato bem conhecido por Seitz e outros críticos do IPCC, mas ignorado em seus ataques pelos jornais. Os principais responsáveis pelo IPCC, a Associação Meteorológica Americana e, por fim, um grupo de 40 climatolo-gistas de destaque enviaram cartas ao jornal Wall Street em defesa de Santer, mas o jor-nal só publicou discretos extratos delas, enquanto dava destaque às acusações. Trata-va- se não de uma controvérsia científica, mas de um ataque político às conclusões do Anos depois, Santer descobriu que dois dos seus mais agressivos acusadores, Fredrick Seitz e Fred Singer, tinham estado à frente de um programa organizado pela indústria do tabaco para desacreditar as evidências científicas ligando o fumo ao cân-cer, onde aplicavam a antiga estratégia do setor de “manter a controvérsia viva” para safar-se dos processos judiciais e adiar a adoção de medidas restritivas ao fumo, a mes-ma estratégia que eles aplicavam para evitar restrições à emissão de carbono frente ao A “estratégia do tabaco” era empregar cientistas para levantarem dúvidas sobre a relação entre o hábito de fumar e os riscos para a saúde. A extensa pesquisa de Oreskes e Conway localizou o núcleo dos executores dessa estratégia no Instituto George C. Marshall, constituído em 1984. Seus fundadores eram três físicos aposentados, Frederick Seitz (1911-2008), Robert Jastrow (1925-2008) e William Nierenberg (1919- 2000). Como Siegfried (Fred) Singer (1924), outro expoente da “estratégia do tabaco”, eles exerceram funções de destaque no período da guerra fria. Os quatro físicos aposentados são os principais “mercadores da dúvida”, manten-do fortes vínculos com os círculos conservadores (Bush pai os chamou de “meus cien-tistas”) e com o mundo empresarial. Foram responsáveis durante mais de duas déca-das pela tática de “manter a controvérsia viva”, repetindo-a em sucessivos debates, sem levar em consideração o consenso científico que se constituía sobre as temáticas. Os mercadores da dúvida utilizavam suas credenciais científicas passadas para obscurecerem as diferenças entre as controvérsias científicas e as disputas de opinião na mídia. A Comissão Federal de Comunicações (FCC) tinha introduzido, em 1949, a “doutrina da equidade” (fairness), pela qual os veículos de radiodifusão deveriam de-dicar tempo à discussão de temas controversos e apresentar de maneira equilibrada as posições contrastadas. Essa doutrina enraizou-se na mídia estadunidense e esses cien-tistas 181 Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima IPCC, que se desdobrava em um ataque pessoal à reputação de Santer. aquecimento global. recorriam a ela toda vez que queriam veicular suas posições. scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 4. discussão e ignora ou recusa, sem provas, o consenso científico estabelecido. James Hansen (2013) lamenta ter que discutir ciência com advogados que utilizam argumen-tos Essas controvérsias visam retardar o desdobramento do consenso científico em regu-lação de ceticismo. Essas controvérsias são a negação da ciência e uma maneira de afirmar a pseudociência travestida de ciência, remetendo para o terreno da agnotologia. 182 José Correa Leite Mas o contraditório pode representar a negação do debate científico, se a con-tradição não representa posições respaldadas por pesquisadores ativos nas áreas em de tribunal para “ganharem” a discussão. Stephen Schneider (cf. 2009, p. 203) la-menta a tática persistente de distorção, ataques pessoais, falsas notícias, interpreta-ções unilaterais pagas por lobbies e corporações “e outras violações da ética da mídia”. e políticas públicas, nada tendo a ver com debates científicos ou com uma postu-ra scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 2 “A dúvida é nosso produto” O primeiro capítulo da obra de Oreskes e Conway mostra como a indústria do tabaco foi a inventora e a mais hábil praticante da estratégia de promover a dúvida quanto aos resultados da ciência. Estudos científicos tornaram evidente a conexão entre o fumo e o câncer nos anos 1950. Em 1953, a American Tobacco, Benson & Hedges, Philip Morris e U.S. Tobacco contrataram a firma de relações públicas Hill & Knowlton para defender seu produto e montaram um Comitê de Pesquisa da Indústria do Tabaco para fornecer argumentos que desafiassem a crescente evidência científica de que fumar prejudica-va a saúde. Esse comitê iniciou encontros com dirigentes da mídia norte-americana, forneceu-lhes estudos que desmentiam as acusações, contratou um famoso geneticista que sustentava que a causa do câncer era uma fraqueza genética e distribuiu folhetos sobre a “controvérsia do cigarro” para médicos, responsáveis pela mídia e políticos dos EUA. Nada menos do que 77 das 79 faculdades de medicina do país participavam do programa patrocinado pela indústria. Mas as evidências científicas acumulavam-se. Em 1964, um estudo intitulado “Fumo e saúde” confirmava a conexão entre fumar e a incidência de câncer. Em 1967, mais de dois mil estudos já reforçavam a conclusão de que fumar era prejudicial à saúde. Em 1969, a FCC baniu a propaganda de cigarros da televisão e do rádio. Mas a indústria duplicou suas despesas no apoio a médicos e hospitais, passando de US$ 50 milhões para US$ 100 milhões por ano. A estratégia de negar os resultados científicos continuava funcionando. Dos 125 processos enfrentados pela indústria entre 1954 e 1979, apenas nove foram a julgamento e a indústria ganhou todos. Apesar disso, a indústria do taba-co contratou, em 1979, Frederick Seitz para desacreditar o consenso científico que já
  • 5. Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima era esmagador. Sua estratégia de manter a controvérsia viva, questionando o nexo en-tre o hábito de fumar e o câncer, continuou eficaz ainda por algum tempo. A natureza probabilista das afirmações da epidemiologia foi trabalhada pela in-dústria do cigarro junto à opinião pública, mediante um hábil uso da dúvida com base no próprio caráter hipotético da ciência. Um executivo da indústria escreveria, em 1969, que “a dúvida é nosso produto”. Foi somente na virada para os anos 2000 que a indús-tria do tabaco foi derrotada nos tribunais, graças à divulgação de documentos internos e de seus próprios estudos, que mostravam os danos do cigarro à saúde, estudos que ela ocultou por décadas, contribuindo para a morte de milhões de pessoas. Seitz já tinha, então, desdobrado suas intervenções. Como mostram Oreskes e Conway no segundo capítulo do livro, ele concentra cada vez mais atenção, na década de 1980, na defesa do projeto “guerra nas estrelas”. Nas décadas de 1960 e 1970, a doutrina da guerra nuclear entre os estrategistas militares era conhecida como a da “destruição mutuamente assegurada” (MAD), que significava que nenhuma das duas superpotências poderia utilizar suas armas nuclea-res contra a outra ou provocar um incidente que levasse a seu uso. Todavia, quando Reagan assume a presidência dos Estados Unidos, em 1980, lança a “iniciativa de de-fesa estratégica” (SDI, também conhecida como “guerra nas estrelas”), visando de-senvolver armas a serem colocadas em órbita, capazes de destruir os mísseis inimigos e garantir a vitória em uma guerra nuclear. Robert Jastrow era, com Edward Teller, um dos campeões na defesa desse projeto, mas enfrentava uma oposição liderada por Carl Sagan e Hans Bette, que era majoritária na comunidade científica e que, depois do aci-dente na usina nuclear de Three Miles Island em 1979, estava em sintonia com um De nada adiantava um sistema antimísseis que abatesse 90% dos agressores, já que os restantes 10% eram suficientes para destruir o país. A estratégia de evitar a guerra através da garantia da “destruição mutuamente assegurada” continuava a ser a única opção racional. Contudo, a polêmica na comunidade científica girava em torno do con-ceito de “inverno nuclear”. As especulações que emergiram na época, segundo as quais o choque de um meteorito com a Terra teria extinto os dinossauros, alimentaram dis-cussões sobre o impacto climático de uma guerra nuclear. No Centro de Pesquisa Ames da NASA, cientistas utilizaram modelos de computador para calcular o impacto do uso de armas nucleares sobre o clima. O resultado foi a projeção de que um conflito pode- 183 3 Guerra nas estrelas, inverno nuclear e o Instituto Marshall movimento antinuclear muito ativo e disseminado. scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 6. ria lançar na atmosfera resíduos que cobririam o planeta e produziriam uma queda na temperatura de 35º C, um inverno nuclear que varreria quase toda a vida do planeta. O artigo que apresentava esses resultados, assinado por Sagan e outros, tornou-se foco de um debate nacional. Estudos posteriores no Centro Nacional de Pesquisas Atmos-féricas C, mas a física aumentou a probabilidade da hipótese do inverno nuclear. para combater o que considerava ambientalistas pacifistas manipulados pelos sovié-ticos. travar o debate contra os defensores da ideia do inverno nuclear. Oreskes e Conway afirmam que esse episódio dá início ao movimento contrário à ciência dos conserva-dores à importância da ciência e da tecnologia para o progresso e a defesa nacional, mesmo em temas como o meio-ambiente, sendo que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e a moderna legislação ambiental do país foram criadas pela administração Nixon. Mas, para os falcões da guerra fria, isso se rompe, nos anos 1980, em duas frentes. De um lado, quando a maior parte dos cientistas, que já tinham questionado o envolvimento no Vietnã, passam a colocar em questão a nova política frente à URSS. De outro lado, com as crescentes políticas de regulação, principalmente ambiental, que buscavam solucionar problemas criados pelo livre mercado em um momento em que o neolibe-ralismo 4 Chuva ácida, buraco na camada de ozônio e fumantes passivos Um contencioso estava em curso com o Canadá sobre as chuvas ácidas que atingiam as florestas canadenses (tema do terceiro capítulo do livro). Essas chuvas provinham das emissões de dióxido de enxofre das usinas termoelétricas dos EUA, segundo era indi-cado painel de pares que deveria apresentar o parecer final sobre o assunto – oito dos de-mais Engenharia; o nono indicado pela Casa Branca era Fred Singer. Na década de 1960, Singer tinha sido um ambientalista, mas na década de 1980 sua posição valorizava an-tes fizeram crer que o painel estava dividido em seus pontos de vista, ainda que a ampla maioria considerasse que alguma medida tinha de ser tomada para conter a emissão de dióxido de enxofre das termoelétricas, que as amostras de água de chuva colhidas evi-denciavam 184 José Correa Leite em Boulder, no Colorado, apontaram para uma queda menor, entre 10º C e 20º É nesse contexto que Jastrow lança a iniciativa do Instituto George C. Marshall Seus apoiadores recorreriam aos mesmos métodos da indústria do cigarro para norte-americanos. Até o governo Reagan, havia um consenso bipartidário quanto retomava a ideologia do estado mínimo e valorizava a desregulamentação. até mesmo pela NAS. O governo Reagan apontou Nierenberg para coordenar o nove membros do painel seriam indicados pela NAS e pela Academia Nacional de de tudo a inovação tecnológica impulsionada pelo livre mercado. Nierenberg e Singer ser a fonte das chuvas ácidas. Além disso, a Casa Branca reescreveu o rela- scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 7. tório do painel com o aval de Nierenberg. Ele não reconhecia a necessidade da instala-ção de filtros nas usinas, pois isso encarecia a geração de energia e reduzia a rentabili-dade das empresas. O argumento era, novamente, que existiam dúvidas sobre a relação O quarto capítulo trata do debate em torno do buraco na camada de ozônio. Em setembro de 1976, um painel da NAS confirmou a relação entre a emissão de cloro-fluorcarbonos (CFCs) e a degradação da camada de ozônio, abrindo uma discussão ampla sobre a necessidade de proibir o uso dos CFCs, cuja utilização começou a ser rapidamente reduzida nos EUA. Quando um buraco na camada de ozônio sobre a Antár-tida foi descoberto em 1985, uma convenção patrocinada pela ONU propôs uma restri-ção global ao uso dos CFCs, levando à assinatura do Protocolo de Montreal em 1987, revisto em 1990 para banir qualquer emissão na atmosfera. Mas não sem a objeção de Singer, então cientista-chefe do Departamento de Transportes. Ele afirmava inicial-mente que o buraco era um problema temporário, e, depois, que seria causado pelo resfriamento da estratosfera em virtude de uma variabilidade natural do clima, não exigindo nenhuma regulação da produção de CFCs. A intervenção de Singer visava desconstruir a ideia de que havia uma posição da comunidade científica sobre o tema, mas aqui até mesmo a multinacional Du Pont aceitou a posição e abandonou a produ-ção de CFCs. Ainda assim, quando, em 1995, Molina e Crutzen ganharam o Nobel de química por essa descoberta, Singer escreveu que se tratava de uma “declaração políti-ca”. A opinião pública sueca até mesmo apoiaria uma “hipotética taxa sobre o carbono para reverter um aquecimento do clima global que ainda não foi detectado (...). Sinte-ticamente, o país está tomado de uma histeria ambiental coletiva” (Singer apud Oreskes Voltando ao tema do tabaco, no quinto capítulo da obra, Oreskes e Conway lem-bram que a EPA divulgou, em 1992, um relatório sobre “os efeitos na saúde respirató-ria do fumo passivo”, atribuindo três mil mortes de câncer do pulmão por ano ao fumo passivo, bem como o agravamento dos casos de bronquite, pneumonia e asma de cen-tenas de milhares de crianças. Uma nova frente de luta abria-se para os fabricantes de cigarros. Fred Singer empreende a resposta da indústria do tabaco através de um ata-que sistemático à EPA. Ele e Fred Seitz encabeçam uma campanha de denúncia de uma ciência que afirmam estar baseada no exagero, na distorção e na fraude, e a qual cor-responderia, de fato, a quase toda a ciência ambiental e a boa parte da epidemiologia e da saúde pública, que prescreviam medidas de regulação estatal, para eles sinônimo de socialismo. Os “mercadores da dúvida” usam o grau de incerteza presente em todo estudo esta-tístico para questionar qualquer conclusão que questione as práticas da livre iniciativa. 185 Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima entre a poluição das usinas e as chuvas ácidas. & Conway, 2010, p. 133). scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 8. 5 Organizar o atraso da resposta na questão do clima No capítulo 6, Oreskes e Conway lembram o alerta, dado por Roger Revelle em 1965 e apoiado nas medições de Keeling, para uma possível elevação da temperatura da Terra pelas emissões de dióxido de carbono. Seu relatório afirmava que “pelo ano 2000 ha-verá poderão ocorrer” (p. 170). Nos anos 1970, modelos climáticos, alimentados por dados de satélites, já confirmavam essas previsões. quantidade de CO2 na atmosfera, teríamos um aumento de temperatura entre 1,5º C e 4º C, provavelmente de 3º C. Se as emissões fossem maiores, provavelmente o aumen-to de temperatura seria maior do que 3º C. Quando isso ocorreria? Não se podia ofere-cer oceanos; eles poderiam funcionar como sumidouro de calor por várias décadas. e Conway denominam de “organizar o atraso”. Foram encomendados dois estudos para a NAS. O primeiro, liderado pelo economista Thomas Schelling e com a participação de Nierenberg, apresentou suas conclusões em abril de 1980. “Face às incertezas, con-trovérsias mais baixo possível (...) Hoje não conhecemos o suficiente sobre a maioria destas ques-tões” 186 José Correa Leite 25% mais CO2 na nossa atmosfera do que no presente [e] isso modificará o equilí-brio térmico da atmosfera tão extensamente que mudanças marcantes no clima (...) A NAS conduziu, em 1977, um estudo para rever o estado da discussão. Encabe-çado por Jule Charney, do MIT, ele se apoiou em um modelo climático de três dimen-sões construído por Syukuro Manabe e James Hansen, mostrando que se dobrasse a uma resposta segura, porque isso dependeria de quanto calor fosse absorvido pelos As conclusões perturbadoras para os políticos deram origem à tática que Oreskes e vínculos complexos envolvendo a questão do dióxido de carbono, e a pos-sibilidade de que algumas das maiores incertezas sejam reduzidas em uma década, pa-rece à maioria de nós que a ênfase de médio prazo deve ser na pesquisa, com o perfil político (p. 175). Esse trabalho foi duramente criticado pelo chefe do escritório de pes-quisa climática da NAS, que publicou o artigo “Energia e clima: problema para hoje, scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 não para amanhã”. O segundo estudo foi dirigido por Nierenberg, e diferente dos demais estudos da NAS, não foi coletivo, mas dividido em dois blocos, cinco capítulos dos cientistas na-turais (que reafirmaram as posições do relatório de Jule Charney) e dois capítulos so-bre emissões e impactos climáticos de economistas (que foram na linha do relatório Schelling). Por decisão de Nierenberg, os capítulos de abertura e conclusão foram os dos economistas, neutralizando o impacto do relatório, divulgado em 1983. A discussão só foi reaberta em 1988, de um lado com a criação do IPCC, formado para monitorar o buraco na camada de ozônio e, de outro lado, com a declaração de James Hansen de que o aquecimento global antropogênico tinha começado. Hansen testemunha no congresso norte-americano com ampla cobertura da mídia e o tema do
  • 9. aquecimento global volta a atrair a atenção também dos mercadores da dúvida. Com o colapso da URSS, o Instituto Marshall decide dirigir suas baterias contra os ambien-talistas “alarmistas”. Ele divulga um contrainforme para a Casa Branca em que não nega o aquecimento global, mas culpa uma variação natural do Sol por isso. Ainda assim, o novo presidente dos EUA, George Bush, enviou seu secretário de estado, James Baker, para a reunião inaugural do IPCC, em 1989. Em maio de 1990, o IPCC divulgou o pri-meiro relatório sobre o tema, envolvendo em sua elaboração mais de 300 cientistas de 25 países. Sua conclusão foi que o uso irrestrito de combustíveis fósseis produzirá uma taxa de aumento da temperatura média global durante o próximo século de 0.3º C por década, maior do que o visto nos últimos 10.000 anos. O IPCC também afirma-va que o peso disso era muito maior do que o das variações na temperatura do Sol. Nierenberg insistia que a temperatura em 2100 não seria mais do que 1º C maior, como afirmou no Congresso Mundial do Petróleo, em 1991. Mas isso não impediu que Bush comparecesse à Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em 1992 e firmasse a Conven-ção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (apenas uma declaração de inten-ções, mas significativa). Nesse momento, a narrativa de Oreskes e Conway retorna ao tema da divulgação do segundo relatório do IPCC, em 1995, e do ataque a Ben Santer. Na elaboração do rela-tório final, durante a plenária com os representantes dos governos e os lobbies, para lançar o segundo relatório do IPCC acordou-se a seguinte formulação no sumário: “o equilíbrio das evidências sugere que há uma influência humana discernível sobre o clima” (p. 205). Isso representava uma consolidação do consenso na comunidade dos cientistas do clima. Já vimos as consequências disso para Santer. Mas a contundência com que os negacionistas retrucaram e consolidaram uma posição nos EUA dão razão a Hansen e Schneider. Um sétimo capítulo é dedicado ao ataque revisionista contra Rachel Carson, quase meio século depois da denúncia da bióloga contra o surgimento de “primaveras silen-ciosas” conduzir ao banimento do uso do DDT. Os fundamentalistas de mercado ata-cam Carson, a fundadora do ambientalismo como movimento político, afirmando que o uso do DDT era seguro e sua proibição foi uma tragédia para os países pobres. Ao criticarem Raquel Carson, os conservadores pretendiam atingir o ecologismo em conjunto. Do mesmo modo que a chuva ácida, o fumo passivo, o buraco no ozônio e o aquecimento global, o DDT impõe enormes custos externos à sociedade através da des-truição de ecossistemas e sua proibição evidencia falhas do mercado, que exigem a in- 187 Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima 6 O neoliberalismo e as mudanças climáticas scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014
  • 10. tervenção governamental. Mas reconhecer que os subprodutos da civilização indus-trial conhecimento não são as da democracia, mas aquelas que permitem trabalhar a partir das evidências. “Manter a controvérsia” ou “manter o debate vivo” pode ser e tem sido transformado na negação da ciência. Muitos outros temas podem ser levantados, como o debate de fundamentalistas religiosos contra a teoria da evolução, a relação entre HIV e AIDS, o impacto dos agrotóxicos ou dos transgênicos sobre a saúde e o ambiente, o uso de células tronco etc. Criaram-se inúmeros “boletins, revistas e jornais – inclu-indo patrocinadas pela indústria podiam ser difundidos, publicados e, então, citados como se fossem independentes” (p. 243). Mas isso é, normalmente, o embate de um simula-cro 188 José Correa Leite estão destruindo o ambiente global é inaceitável para os falcões da guerra fria. No final, os autores lembram que, embora a liberdade de imprensa seja funda-mental para a democracia, a fragmentação da opinião pública nivela as diferentes po-sições, embora elas não tenham todas o mesmo valor. Isso não ajuda a fortalecer a cons-ciência pública. E, no caso das questões de mérito científico, as regras da produção de jornais com revisão explícita pelos pares – nos quais os resultados de pesquisas da ciência contra a ciência, não uma controvérsia científica. Os cientistas, cujo tra-balho é analisado por Oreskes e Conway, trouxeram para dentro das disputas científi-cas as práticas dos escritórios de advocacia, das relações públicas e da publicidade, bem scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 como das campanhas políticas (cf. p. 274). O epílogo da obra de Oreskes e Conway intitula-se “Uma nova visão da ciência”. Os autores mostram que os mercadores da dúvida foram bem sucedidos porque a visão hegemônica da ciência, difundida pela mídia, é falsa. Merchants of doubt é uma importante contribuição para o debate em torno das questões do clima e do aquecimento global. Embora não tenhamos focado a atenção nisso, há, naturalmente, muitas controvérsias científicas reais nesse terreno comple-xo. Mas o primeiro passo para podermos adentrar por esse território é mapearmos quais controvérsias colocam-se no terreno da ciência e quais estão fora dele, reme-tendo para a agnotologia. Agradecimentos. A resenha aqui publicada faz parte da pesquisa viabilizada pela bolsa de pós-doutorado da Fapesp junto ao Projeto Temático 2011/51614-3, “Gênese e significado da tecnociência: Das relações entre ciência, tecnologia e sociedade”. José Correa Leite Faculdade de Comunicação, Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil. jcleite@dglnet.com.br
  • 11. Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima Scientific controversies or denial of science? 189 scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014 Agnotology and climate science referências bibliográficas Benestad, R.E. et al. Agnotology: learning from mistakes. Earth System Dynamics Discussion, 4, p. 451- 505, 2013. Disponível em: <www.earth-syst-dynam-discuss.net/4/451/2013/ doi:10.5194/esdd-4- 451-2013>. Acesso em: 20 jan. 2014. Doran, P. T. & Zimmerman, M. K. Examining the scientific consensus on climate change. Eos, Transactions American Geophysical Union, 90, p. 22-3, 2009. Hansen, J. Tempestades de meus netos. Mudanças climáticas e as chances de salvar a humanidade. São Paulo: Senac, 2013. Houghton, J. T.; Jenkins, G. J. & Ephraim, J. J. (Ed.). Intergovernmental panel on climate change, climate change: the IPCC scientific assessment. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. (IPCC1). Dis-ponível em: <http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_first_assessment_1990_ wg1.shtml>. Acesso em: 20 jan. 2014. Houghton, J. T. et al. (Ed.). Intergovernmental panel on climate change, climate change: the science of climate change. Contributions by working group 1 to the second IPCC assessment report. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. (IPCC2). Disponível em: <http://www.ipcc.ch/ipccreports/sar/wg_I/ipcc_sar_ wg _I_full_report.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2014. Michaels, D. Doubt is their product: how industry’s assault on science threatens your health. London: Oxford University Press, 2008. Mooney, C. The republican war on science. New York: Basic Books, 2005. Oreskes, N. The scientific consensus on climate change. Science, 306, p. 1686, 2004. Proctor, R. N. & Schiebinger, L. (Ed.). Agnotology: the making and unmaking of ignorance. Palo Alto: Stanford University Press, 2008. Schneider, S. H. Science as contact sport: inside the battle to save Earth’s climate. Washington: National Geographic, 2009.