A Guerra Fria foi um período de forte polarização ideológica entre o capitalismo liderado pelos EUA e o socialismo liderado pela URSS, que dividiu o mundo em blocos e resultou em disputas geopolíticas globais por mais de 40 anos, até o colapso da União Soviética em 1989.
1. GUERRA FRIA
Para se compreender o período que
ficou conhecido como Guerra Fria,
período este que vai de 1945 a 1989,
é necessário, inicialmente, conhecer
alguns fatos que se desenrolaram
logo após o fim da Segunda Guerra
Mundial, em 1945.
É sabido que, antes mesmo do segundo conflito mundial estourar, no ano de
1939, já haviam acentuadas posições ideológicas em toda a Europa e em várias
regiões do mundo. Essas ideologias consistiam, principalmente, em
nacionalismos exacerbados de viés autoritário, como o fascismo e o nazismo, e
o comunismo stalinista, também de viés autoritário, sendo que ambos tinham a
característica de serem coletivistas – isto é: interessava, sobretudo, a
coletividade social, em detrimento do individualismo, que era marca do
liberalismo clássico do século XIX (outra ideologia que ainda vigorava neste
período, sobretudo na Inglaterra e nos Estados Unidos).
Em que consistia a polarização: Capitalismo x Socialismo?
Para derrotar o avanço do nazismo, os países que representavam a tradição
política liberal (EUA e Inglaterra, sobretudo) uniram-se, momentaneamente, com
o comunismo soviético, ainda que as posições ideológicas de ambos os lados
fossem radicalmente opostas. Finda a Segunda Guerra, essas frentes
ideológicas passaram a delimitar “zonas” (geográficas) de influência em várias
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regiões do mundo. A União Soviética, então liderada por Josef Stálin, cujo poder
central estava em Moscou, comandou
o chamado “bloco socialista”, que
dominava toda a Europa Oriental, parte
da Ásia e, a partir de 1959, exerceu
influência na América Central, por meio
de Cuba, que sofreu um processo
revolucionário de orientação comunista
sob a liderança de Fidel Castro. Os
Estados Unidos, por sua vez, lideraram
o chamado “bloco capitalista”, que se
tornou hegemônico na Europa Ocidental (sobretudo através dos planos de
reconstrução dos países devastados pela guerra), no Continente Americano e
no Japão – já que a China, no Extremo Oriente, havia também passado por um
processo revolucionário e tornado-se comunista no fim da década de 1940.
Entretanto, malgrada a realidade desta oposição, é necessário que se faça
algumas ressalvas quanto às denominações “capitalista” e “socialista” (ou
comunista). Essas palavras podem indicar diferenças entre perspectivas sobre
sistemas econômicos e concepções políticas.
No primeiro caso, o sistema capitalista é considerado a forma avançada e
sistemática da economia de mercado, que se pauta pela valorização da
propriedade privada, pela livre inciativa individual, pelas trocas econômicas com
o mínimo de intervenção estatal, pelas taxações de preço determinadas pelo
próprio mercado e por vários outros fatores inerentes ao mercado. O sistema
socialista, do ponto de vista econômico, encara a produção econômica a partir
da compreensão marxista da mais-valia e da teoria da exploração.
Na crítica comunista dirigida aos teóricos liberais e defensores da economia de
mercado, os trabalhadores seriam explorados pelos patrões capitalistas através
da venda de sua força de trabalho na relação de produção. Era necessário,
portanto, que as bases do sistema capitalista fossem radicalmente
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transformadas para que a desigualdade entre classes desaparecesse – a
propriedade privada e o livre mercado, pautado pelo empreendedorismo, seriam
empecilhos para esta perspectiva igualitarista do comunismo. A revolução
comunista (levada a cabo na Rússia por Lênin e os bolcheviques) “aceleraria” a
instituição desta perspectiva.
A grande crítica que economistas liberais fazem à concepção econômica
socialista consiste em ressaltar a impossibilidadede um sistema econômico sem
mercado, haja vista que, para que se tente instituir o sistema econômico
igualitarista, é necessário que o estado controle e planeje toda a economia e,
para tanto, deve controlar e restringir as liberdades individuais também,
prejudicando o sistema político democrático.
A polarização da Guerra Fria, então, era marcada por essas duas concepções
complexas. Sem contar a presença de várias mesclas de concepções
econômicas como o “Estado do Bem-Estar Social”, a “social-democracia”, a
“esquerda trabalhista”, dentre outros que misturavam ideias de liberdade
econômica e igualitarismo socialista.
A Alemanha dividida, Berlim e o Muro como símbolo da Guerra Fria.
A Alemanha, por ter sido o centro,
durante a Segunda Guerra, do
inimigo que se tornou comum tanto
às potências ocidentais, pautadas
pela ideologia liberal e capitalista,
quanto à União Soviética comunista
– isto é, o Nazismo –, sofreu uma
grande crise política (além da
econômica) a partir de 1945. Depois
da guerra, os EUA, França, Inglaterra
e URSS dividiram o território alemão entre eles, procurando assim estabelecer
as suas respectivas zonas de influência. Criou-se então dois Estados Alemães,
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um ocidental – aliado do “bloco capitalista” – e outro oriental – aliado do “bloco
socialista/soviético”.
A capital, Berlim, ficou do lado oriental, comunista. Porém, também foi dividida
por contar da disputa por influência ideológica. O lado ocidental de Berlim, a
partir de 1961, foi completamente circundado por um muro de três metros de
altura, feito de concreto e arame farpado, construído pelos comunistas. Esse
muro passou a impedir que as habitantes berlinenses, tanto de lado ocidental
quanto do lado oriental, pudessem transitar livremente por ambos territórios. Ao
longo dos 45 quilômetros do muro, foram montadas guaritas com soldados
armados que vigiavam o cerco constantemente. Sem dúvida, o muro de Berlim
foi o maior símbolo da Guerra Fria. E só perdeu sua função em 1989.
O muro de Berlim ficou sendo o
maior símbolo da Guerra Fria.
Sua “queda”, em 1989, marca o
fim deste período
Outras características da Guerra Fria
A criação da ONU (Organização das Nações
Unidades), em 1945, também é um dos
acontecimentos centrais da Guerra Fria. A ONU
foi criada a partir da antiga Liga das Nações.
Como entidade globalista com objetivos
variados, dentre eles, “garantir a paz” entre as
nações e promover políticas de caráter
humanitário, a ONU tem importância relevante
até os dias de hoje. Sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
promulgada em 1948, influencia constituições do mundo todo, ao longo do século
XX. O papel da ONU na Guerra Fria foi mais intenso e cheio de contrapartidas.
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A URSS, por exemplo, fez parte dela, em seu início, mas foi afastada
posteriormente.
Outros fatos importantes foram
a criação do Estado de Israel, em
1948 – que provocou uma onda de
guerras com os países vizinhos,
como Egito e Líbano, nos anos
seguintes –, os golpes de estado
na América Latina, inclusive no
Brasil, e as guerras locais,
sobretudo na Ásia e na África. Neste último ponto, destacam-se as guerras pela
descolonização de países, tanto da África quanto da Ásia. Além disso, a disputa
por zonas de influência também demandaram outras guerras locais. As mais
famosas são a Guerra do Vietnã e a Guerra das Coreias.
As técnicas de espionagem, infiltração, subversão e desinformação das
agências de inteligência da União Soviética, a KGB, e dos Estados Unidos,
a CIA, também tiveram papel significativo durante a Guerra Fria. A perseguição
a comunistas nos EUA e na América Latina, bem como a deserção de membros
da KGB e sua fuga para países ocidentais foram muito comuns neste período.
Somam-se a estes acontecimentos, outros, como as denominadas “Corrida
Espacial” e “Corrida Armamentista”.
Corrida Espacial Corrida Armamentista
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O astronauta soviético Yuri Gagarin foi o primeiro ser humano a ir para o espaço
no ano de 1961. Em 1969, astronautas americanos conseguiram ir à Lua, pisá-
la pela primeira vez, instalar equipamentos científicos e extrair amostras para
serem analisadas. Os feitos de ambas as partes da polarização ideológica da
Guerra Fria foram motivados pela rivalidade que incitava a superação
tecnológica e a conquista do espaço, sobretudo da órbita terrestre. Do mesmo
modo, o controle geopolítico das zonas de influência suscitava um
desenvolvimento progressivo de tecnologia militar. A “corrida armamentista” se
insere neste contexto, principalmente no que se refere ao armamento nuclear.
No campo cultural, o fenômeno conhecido como contracultura se tornou
notório. Exemplos como a literatura beatnos anos 1950, movimento hippie, o
rock 'n roll, a música popular de protesto, o teatro de protesto, bem como as
novas manifestações do cinema, como o Cinema Novo brasileiro, a Nouvelle
Vague (Nova Vaga, Nova Onda) francesa, o Neo Realismo italiano, dentre
outros. A revolução sexual e a força do movimento estudantil também se
tornaram evidentes nesta época. Os acontecimentos do mês de maio de 1968,
em Paris, deram a tônica disso.
Ademais, o período da Guerra Fria só se findou com o
colapso da União Soviética na década de 1980,
decorrente, sobretudo, do fracasso do planejamento
econômico estatal. Figuras como Ronald Reagan
(presidente dos EUA) e Mikhail Gorbachev, secretário-
geral do Partido Comunista Soviético, foram decisivas
para que a Guerra Fria chegasse a seu fim.