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Profª. Sissa Jacoby
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Los relojes blandos
La persistencia de la memoria – Salvador Dalí, 1931
Me he hecho en estas piedras, aquí he forjado mi personalidad,
he descubierto mi amor, he pintado mi obra, he construido mi
casa. No me puedo separar de este cielo, de este mar, de estas
rocas, estoy unido para siempre a Port Lligat donde he definido
todas mis verdades más sinceras y mis raíces. Sólo en este lugar
me siento como en casa; en cualquier otro estoy de paso. No es
únicamente un sentimiento, sinó una realidad psíquica,
biológica‐surrealista. Me siento atado por un verdadero cordón
umbilical a la totalidad que vive en esta tierra.
SALVADOR DALÍ
DALÍ, S. (2003). Obra completa. Barcelona; [Figueres] : Ediciones Destino ; Fundació Gala‐Salvador
Dalí, v. I, Textos Autobiográficos 2, p. 462.
Recordar es saberse morir, es buscar una cómoda y ordenada
postura para la muerte, esa muerte que ha de llegar precisa
como un verso de Goethe, indefectible lo mismo que el cauteloso
fin del amor […] El que sufre, según nos dijo Cicerón, tiene
memoria. […]
La gente, sin embargo, teme a las memorias como teme al
testamento o a la confesión. […] No es el miedo a la muerte lo
que frena las plumas: es el miedo a la vida, el miedo a volver
sobre los pasos ya andados. […]
Los libros de memorias, si acres y desabridos, son también
aleccionadores y morales, a veces incluso con sobrada crueldad.
Los libros de memorias han de ser – suelen ser – un tratado de
consciente humildad, un compendio de desnuda, de descarnada
sinceridad.
Camilo José Cela, Prólogo en forma de aparente divagación. La rosa. 2011, p. 11-13-15.
Tres de enero de 2012, exactamente un año
después del día en el que empezaste a escribir tu
último libro ya concluido diario de invierno. Una
cosa era escribir sobre tu cuerpo, el catálogo de
los múltiplos golpes y placeres experimentados
por tu ser físico, y otra explorar tu mente tal como
la recuerdas de tu infancia, que sin duda será una
tarea más difícil: quizá imposible. Te sientes, sin
embargo, impelido a intentarlo. No porque te
consideres un objeto de estudio raro o
excepcional, sino precisamente porque no lo eres,
porque de ti mismo piensas que eres como
cualquiera, como todo el mundo.
Paul Auster, El informe del interior, 2013, p. 10
Nossa primeira experiência é, de modo notável, uma desaparição.
Momentos antes éramos um todos indiviso, todo o ser estava inseparável
de nós; então somos impelidos a nascer, tornamo-nos um pequeno
fragmento que deverá esforçar-se, doravante, para não sofrer reduções
cada vez maiores, para afirmar-se perante o mundo adverso extremamente
amplo, no qual por termos deixado nossa plenitude, caímos – agora
despojados – como num vazio.
Assim, vivencia-se primeiramente como que algo já passado, uma rejeição
do presente; a primeira “recordação” – assim a chamaríamos mais tarde –
é, ao mesmo tempo, um choque, uma decepção pela perda daquilo que
não é mais, e alguma coisa de um saber que se vai desenvolvendo, de uma
certeza de que ainda teria que ser.
Este é o problema da primeira infância. É também o de toda a primitiva
humanidade, pois nela continua a manifestar-se um sentimento de
dependência do universo, ao lado das experiências da crescente
conscientização: como uma poderosa lenda de participação inalienável à
onipotência.
Lou Andreas Salomé em Minha vida, 1985 [1931-1932], p. 9
O sentimento de estar ligada por laços
fraternais aos homens foi para mim, pelo
fato de eu ser no círculo familiar a caçula e
a única filha, tão evidente, que ele se
irradiou continuamente a todos os homens
do mundo; em qualquer época, sempre me
pareceu que um irmão se escondia em cada
um dos homens que encontrei. Mas isso
estava ligado ao próprio caráter de meus
cinco irmãos [...] Ainda que minha infância
se tenha desenrolado numa solidão cheia
de fantasmas, ainda que todo o meu
pensamento e minha aspiração tenha-se
rompido com a tradição familiar e causado
escândalo, o relacionamento com meus
irmãos permaneceu imutável [...]
Lou Andreas Salomé
Minha vida, 1985 [1931-1932], p. 31.
Por eso, creo ahora, ordené recuerdos, establecí
iniciaciones, reviví acontecimientos históricos de los
que fui testigo, reí – en un momento dado lloré –, y a
ratos – muchos ratos – me lo pasé en grande.
También más de una vez me escabullí discretamente
de estas páginas y, como si espiara la vida detrás de
una cortina, cedí la palabra a otros. […] Pero en la
mayoría de capítulos no tuve necesidad de forcejear
con los recuerdos. Las escenas invocadas estaban
ahí, nítidas, precisas, conmigo dentro.
Cristina Fernández Cubas, Cosas que ya no existen, 2011, p. 11-12.
Ao contrário do que atrás ficou dito, as
famílias Barata não entraram na minha
vida quando nos mudamos da rua
Cavaleiros para a rua Fernão Lopes.
Graças a uns papeis que julgava perdidos
e que providencialmente se me
apresentaram à vista, sem esperar,
quando andava à procura doutros, a
minha desorientada memória pôde reunir
e encaixar umas quantas peças que
estavam dispersas e, finalmente, colocar
o certo e o verdadeiro onde até aí haviam
reinado o duvidoso e o indeciso.
José Saramago
As pequenas memórias, 2006, p. 108.
Não tenho nenhuma memória da infância. Até os doze anos
mais ou menos, minha história se resume em poucas linhas
[...] Minha infância faz parte daquelas coisas das quais sei
que não sei grande coisa. Ela está atrás de mim, no
entanto, é o solo sobre o qual cresci, ela me pertenceu, seja
qual for minha tenacidade em afirmar que não me pertence
mais. Por muito tempo procurei afastar ou mascarar essas
evidências, encerrando-me na condição inofensiva do
órfão, do não gerado, do filho de ninguém. Mas a infância
não é nostalgia, nem terror, nem paraíso perdido, nem Tostão
de Ouro, mas talvez horizonte, ponto de
partida, coordenadas a partir das quais os eixos de minha
vida poderão encontrar seu sentido.
Georges Perec, W ou a memória da infância, 1995 [1975]
Me habían llevado al cine Gran Splendid y ahí
gané un Pomerania lanudo, de color té con
leche llamada Gabriel (hasta hoy el nombre
Gabriel me sugiere ese color). Al día siguiente,
el perro no estaba en casa. Me dijeron que lo
había soñado. Sospecho que esto debió de ser
falso, porque mi recuerdo del episodio del
perro y de la rifa no se parecen a los recuerdos
de un sueño. No volví a hablar del asunto con
mis padres. Hicieron cuanto le fue posible para
que yo no tuviera perros, pero al final se
resignaron. […] Los sueños fueron siempre
para mí muy reales: la parte de la realidad
correspondiente a la noche. A lo mejor eso
empezó cuando mis padres me dijeron que
había soñado al perro Gabriel.
Adolfo Bioy Casares, Memorias.
Infancia, adolescencia, y cómo se hace un escritor,
1999, p. 11-12
Acho que o único motivo que, nesses anos
todos, me levou a continuar escrevendo e a
publicar meus escritos foi a certeza de que
meu pai, mais do que ninguém, teria gostado
muito de ler essas páginas que ele não pôde
ler. Que nunca lerá. Esse é um dos
paradoxos mais tristes da minha vida: quase
tudo o que tenho escrito, foi escrito para
alguém que não me pode ler, e mesmo este
livro não passa de uma carta para uma
sombra. […] Quando, muitos anos mais tarde,
eu li a Carta ao pai, de Kafka, achei que
poderia escrever uma parecida, mas, ao
contrário, só com antônimos e situações
opostas.
Héctor Abad em
A ausência que seremos, 2011, p. 22 e 24-25.
He escrito sobre mi madre, pero sé que no puedo abarcar su vida. Sé
también que mis sentimientos acerca de su vida y su muerte han ido
cambiando, porque el tiempo me ha ido dando nuevas perspectivas
desde las que veo a mi madre de forma nueva. […] Son muchas, sin
duda, las posibles omisiones que he cometido en estas páginas, pero
no quiero que este libro dedicado a mi madre se convierta en algo
inacabable. Es el momento de aceptar que, aunque el tiempo que a
partir de ahora va a transcurrir y que seguirá transformando la relación
con mi madre, lo que ya tengo en las manos me puede servir.
Ofrecérselo – a ella y a todas las personas que lo quieran leer –, hacer,
en fin, públicas mis evocaciones y reflexiones, nos ayudará a las dos.
Soledad Puértolas em Con mi madre, 2003, p. 10 e 11-12.
Põe a culpa na mãe, por não bater nele. Ao mesmo
tempo que ele se sente feliz por usar sapatos, retirar
livros na biblioteca pública e não ter que ir à escola
quando está resfriado – todas as coisas que o tornam
diferente –, ele sente raiva da mãe por não ter filhos
normais e não lhes dar uma vida normal. O pai, caso
assumisse o comando, os transformaria numa família
normal. Seu pai é normal em todos os sentidos. Ele é
grato à mãe por protegê-lo da normalidade do pai, quer
dizer, das ocasionais e ingênuas crises de raiva e das
ameaças de surra. Ao mesmo tempo tem raiva da mãe
por transformá-lo numa coisa esquisita, uma coisa que
precisa ser protegida para continuar vivendo.
J. M. Coetzee
Infância: cenas da vida na província, 2010 [1997], p. 11.
A memória é a busca da identidade, podendo-se nela remodelar
tantos os fatos vividos do passado como os fatos do futuro. Só o
presente é rígido, inflexível.
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A memória e a busca da identidade

  • 2. Los relojes blandos La persistencia de la memoria – Salvador Dalí, 1931 Me he hecho en estas piedras, aquí he forjado mi personalidad, he descubierto mi amor, he pintado mi obra, he construido mi casa. No me puedo separar de este cielo, de este mar, de estas rocas, estoy unido para siempre a Port Lligat donde he definido todas mis verdades más sinceras y mis raíces. Sólo en este lugar me siento como en casa; en cualquier otro estoy de paso. No es únicamente un sentimiento, sinó una realidad psíquica, biológica‐surrealista. Me siento atado por un verdadero cordón umbilical a la totalidad que vive en esta tierra. SALVADOR DALÍ DALÍ, S. (2003). Obra completa. Barcelona; [Figueres] : Ediciones Destino ; Fundació Gala‐Salvador Dalí, v. I, Textos Autobiográficos 2, p. 462.
  • 3. Recordar es saberse morir, es buscar una cómoda y ordenada postura para la muerte, esa muerte que ha de llegar precisa como un verso de Goethe, indefectible lo mismo que el cauteloso fin del amor […] El que sufre, según nos dijo Cicerón, tiene memoria. […] La gente, sin embargo, teme a las memorias como teme al testamento o a la confesión. […] No es el miedo a la muerte lo que frena las plumas: es el miedo a la vida, el miedo a volver sobre los pasos ya andados. […] Los libros de memorias, si acres y desabridos, son también aleccionadores y morales, a veces incluso con sobrada crueldad. Los libros de memorias han de ser – suelen ser – un tratado de consciente humildad, un compendio de desnuda, de descarnada sinceridad. Camilo José Cela, Prólogo en forma de aparente divagación. La rosa. 2011, p. 11-13-15.
  • 4. Tres de enero de 2012, exactamente un año después del día en el que empezaste a escribir tu último libro ya concluido diario de invierno. Una cosa era escribir sobre tu cuerpo, el catálogo de los múltiplos golpes y placeres experimentados por tu ser físico, y otra explorar tu mente tal como la recuerdas de tu infancia, que sin duda será una tarea más difícil: quizá imposible. Te sientes, sin embargo, impelido a intentarlo. No porque te consideres un objeto de estudio raro o excepcional, sino precisamente porque no lo eres, porque de ti mismo piensas que eres como cualquiera, como todo el mundo. Paul Auster, El informe del interior, 2013, p. 10
  • 5. Nossa primeira experiência é, de modo notável, uma desaparição. Momentos antes éramos um todos indiviso, todo o ser estava inseparável de nós; então somos impelidos a nascer, tornamo-nos um pequeno fragmento que deverá esforçar-se, doravante, para não sofrer reduções cada vez maiores, para afirmar-se perante o mundo adverso extremamente amplo, no qual por termos deixado nossa plenitude, caímos – agora despojados – como num vazio. Assim, vivencia-se primeiramente como que algo já passado, uma rejeição do presente; a primeira “recordação” – assim a chamaríamos mais tarde – é, ao mesmo tempo, um choque, uma decepção pela perda daquilo que não é mais, e alguma coisa de um saber que se vai desenvolvendo, de uma certeza de que ainda teria que ser. Este é o problema da primeira infância. É também o de toda a primitiva humanidade, pois nela continua a manifestar-se um sentimento de dependência do universo, ao lado das experiências da crescente conscientização: como uma poderosa lenda de participação inalienável à onipotência. Lou Andreas Salomé em Minha vida, 1985 [1931-1932], p. 9
  • 6. O sentimento de estar ligada por laços fraternais aos homens foi para mim, pelo fato de eu ser no círculo familiar a caçula e a única filha, tão evidente, que ele se irradiou continuamente a todos os homens do mundo; em qualquer época, sempre me pareceu que um irmão se escondia em cada um dos homens que encontrei. Mas isso estava ligado ao próprio caráter de meus cinco irmãos [...] Ainda que minha infância se tenha desenrolado numa solidão cheia de fantasmas, ainda que todo o meu pensamento e minha aspiração tenha-se rompido com a tradição familiar e causado escândalo, o relacionamento com meus irmãos permaneceu imutável [...] Lou Andreas Salomé Minha vida, 1985 [1931-1932], p. 31.
  • 7. Por eso, creo ahora, ordené recuerdos, establecí iniciaciones, reviví acontecimientos históricos de los que fui testigo, reí – en un momento dado lloré –, y a ratos – muchos ratos – me lo pasé en grande. También más de una vez me escabullí discretamente de estas páginas y, como si espiara la vida detrás de una cortina, cedí la palabra a otros. […] Pero en la mayoría de capítulos no tuve necesidad de forcejear con los recuerdos. Las escenas invocadas estaban ahí, nítidas, precisas, conmigo dentro. Cristina Fernández Cubas, Cosas que ya no existen, 2011, p. 11-12.
  • 8. Ao contrário do que atrás ficou dito, as famílias Barata não entraram na minha vida quando nos mudamos da rua Cavaleiros para a rua Fernão Lopes. Graças a uns papeis que julgava perdidos e que providencialmente se me apresentaram à vista, sem esperar, quando andava à procura doutros, a minha desorientada memória pôde reunir e encaixar umas quantas peças que estavam dispersas e, finalmente, colocar o certo e o verdadeiro onde até aí haviam reinado o duvidoso e o indeciso. José Saramago As pequenas memórias, 2006, p. 108.
  • 9. Não tenho nenhuma memória da infância. Até os doze anos mais ou menos, minha história se resume em poucas linhas [...] Minha infância faz parte daquelas coisas das quais sei que não sei grande coisa. Ela está atrás de mim, no entanto, é o solo sobre o qual cresci, ela me pertenceu, seja qual for minha tenacidade em afirmar que não me pertence mais. Por muito tempo procurei afastar ou mascarar essas evidências, encerrando-me na condição inofensiva do órfão, do não gerado, do filho de ninguém. Mas a infância não é nostalgia, nem terror, nem paraíso perdido, nem Tostão de Ouro, mas talvez horizonte, ponto de partida, coordenadas a partir das quais os eixos de minha vida poderão encontrar seu sentido. Georges Perec, W ou a memória da infância, 1995 [1975]
  • 10. Me habían llevado al cine Gran Splendid y ahí gané un Pomerania lanudo, de color té con leche llamada Gabriel (hasta hoy el nombre Gabriel me sugiere ese color). Al día siguiente, el perro no estaba en casa. Me dijeron que lo había soñado. Sospecho que esto debió de ser falso, porque mi recuerdo del episodio del perro y de la rifa no se parecen a los recuerdos de un sueño. No volví a hablar del asunto con mis padres. Hicieron cuanto le fue posible para que yo no tuviera perros, pero al final se resignaron. […] Los sueños fueron siempre para mí muy reales: la parte de la realidad correspondiente a la noche. A lo mejor eso empezó cuando mis padres me dijeron que había soñado al perro Gabriel. Adolfo Bioy Casares, Memorias. Infancia, adolescencia, y cómo se hace un escritor, 1999, p. 11-12
  • 11. Acho que o único motivo que, nesses anos todos, me levou a continuar escrevendo e a publicar meus escritos foi a certeza de que meu pai, mais do que ninguém, teria gostado muito de ler essas páginas que ele não pôde ler. Que nunca lerá. Esse é um dos paradoxos mais tristes da minha vida: quase tudo o que tenho escrito, foi escrito para alguém que não me pode ler, e mesmo este livro não passa de uma carta para uma sombra. […] Quando, muitos anos mais tarde, eu li a Carta ao pai, de Kafka, achei que poderia escrever uma parecida, mas, ao contrário, só com antônimos e situações opostas. Héctor Abad em A ausência que seremos, 2011, p. 22 e 24-25.
  • 12. He escrito sobre mi madre, pero sé que no puedo abarcar su vida. Sé también que mis sentimientos acerca de su vida y su muerte han ido cambiando, porque el tiempo me ha ido dando nuevas perspectivas desde las que veo a mi madre de forma nueva. […] Son muchas, sin duda, las posibles omisiones que he cometido en estas páginas, pero no quiero que este libro dedicado a mi madre se convierta en algo inacabable. Es el momento de aceptar que, aunque el tiempo que a partir de ahora va a transcurrir y que seguirá transformando la relación con mi madre, lo que ya tengo en las manos me puede servir. Ofrecérselo – a ella y a todas las personas que lo quieran leer –, hacer, en fin, públicas mis evocaciones y reflexiones, nos ayudará a las dos. Soledad Puértolas em Con mi madre, 2003, p. 10 e 11-12.
  • 13. Põe a culpa na mãe, por não bater nele. Ao mesmo tempo que ele se sente feliz por usar sapatos, retirar livros na biblioteca pública e não ter que ir à escola quando está resfriado – todas as coisas que o tornam diferente –, ele sente raiva da mãe por não ter filhos normais e não lhes dar uma vida normal. O pai, caso assumisse o comando, os transformaria numa família normal. Seu pai é normal em todos os sentidos. Ele é grato à mãe por protegê-lo da normalidade do pai, quer dizer, das ocasionais e ingênuas crises de raiva e das ameaças de surra. Ao mesmo tempo tem raiva da mãe por transformá-lo numa coisa esquisita, uma coisa que precisa ser protegida para continuar vivendo. J. M. Coetzee Infância: cenas da vida na província, 2010 [1997], p. 11.
  • 14. A memória é a busca da identidade, podendo-se nela remodelar tantos os fatos vividos do passado como os fatos do futuro. Só o presente é rígido, inflexível. JORGE LUÍS BORGES