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Diversão&arte • Brasília, segunda-feira, 30 de setembro de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE • 3
Concordo que
houve avanços,
mas são muito
pequenos para que
a gente possa
bater no peito e
dizer ‘ah, somos
a 7ª economia
do mundo’”
Total de vendas, na primeira
semana, da 1ª parte de
The 20/20 experience
1MILHÃO
DE CÓPIAS
Total de visualizações
do clipe de
Take back tonigh
7,6MILHÕES
www.correiobraziliense.com.br
Confira o clipe da música
Take back the night.
MÚSICA
Justin Timberlake: novo rei do pop aposta em shows simples
O(novo)reidopop
» LUIZ PRISCO
O ano de 2013 tem tudo para
marcar um novo ciclo na indús-
tria fonográfica. Quatro anos
após a morte de Michael Jackson,
o trono do mundo pop finalmen-
te tem um forte candidato: Justin
Timberlake. Depois de perfor-
mances de tirar o fôlego noVideo
MusicAwards(VMA)enoRockin
Rio, o cantor lança, hoje, a segun-
da parte do disco The 20/20 expe-
rience e se consagra como o prin-
cipal popstar da atual geração.
Disponibilizado há uma se-
mana para audição em strea-
ming, o novo álbum é um com-
plemento ao anterior. Nele, o
cantor continua apostando na
parceria com grandes nomes da
indústria fonográfica, como os
produtores e rappers Jay-Z e
Timbaland. De acordo com Erin
Coulehan, da Rolling Stone, o
artista acertou nas escolhas do
novo trabalho. “Timberlake
canta com desejo predatório e
fantasioso em músicas como
True blood e na recentemente
lançada T.K.O, além de trazer
versos em parceria com Jay-Z,
em Murder, e com Drake, em
Cabaret”, disse o crítico.
As publicações norte-ameri-
canas especializadas em músi-
ca pop já sacramentaram o ex-
integrante do N’Sync como o
novo rei do pop. Toda a empol-
gação em torno de Justin não é
exagerada. Os números do can-
tor realmente chamam a aten-
ção: em uma semana de ven-
das, a primeira parte de The
20/20 experience vendeu quase
1 milhão de cópias.
O lançamento de hoje tam-
bém promete ter números im-
pactantes. O primeiro clipe do
disco, Take back the night, lança-
do há pouco mais de um mês, já
conta com cerca de 7,6 milhões
de visualizações no YouTube.
Usuário assíduo das redes so-
ciais, o cantor conta com 26,3
milhões de seguidores no Twit-
ter e 27 milhões no Facebook.
Semcomparações
Justin não é Michael Jackson.
No entanto, alguns elementos
que marcaram um dos maiores
astros pop de todos os tempos
estão presentes no atual rei do
pop. Timberlake também aposta
em coreografias, em uma sonori-
dade que une o R&B aos metais,
e lança videoclipes com mega-
produções (ver crítica ao lado).
Uma diferença entre os dois
popstars é a simplicidade de
Justin em suas apresentações.
Quem o viu no Rock in Rio pode
notar que o cantor dispensa a
pirotecnia nos palcos e ganha a
platéia com as músicas e a ban-
da de apoioTheTennessee Kids.
Crítica// ★★★★
Omundopopfoitomadodeas-
saltoemmarço,comolançamento
de The 20/20 experience, aclama-
do por crítica e público,flertando
comumamisturadeliciosadeR&B
e soul.Do mesmo forno é servida a
continuação.Noprimeiromomen-
to,a impressão é de que são sobras
dotrabalhoanterior.Mesmoassim,
o sabor ainda é marcante.A dan-
çanteTakebackthenightéumpri-
mor(inegávelsuadefesanolegado
pop de Michael Jackson). True
bloodeTKOconquistamfacilmen-
te.OálbumencerranaótimaNota
bad thing. Na sobremesa,a faixa
escondidaPairofwingséarrepian-
te.As cartas da música pop estão
nas mãos de Justin Timberlake.O
ouvinte não tem opção além de se
render.(Tomaz de Alvarenga,es-
pecialparaoCorreio)
Popirresistível
Justin Timberlake —
The 20/20
experience 2 of 2
RCA, 11 faixas/ US$ 10
RCA/Divulgação
Ysuyoshi Chiba/AFP - 16/9/13
>>Ponto-a-ponto LUIZRUFFATO
O escritor fala do seu novo trabalho e
lamenta o fato de o país não avançar
mais rumo a uma democracia verdadeira
UmBrasil
quepatina
» NAHIMA MACIEL
L
uiz Ruffato acaba de che-
gar de Nova Déli. Foi à ci-
dade indiana a convite do
Departamento de Portu-
guêsdeumauniversidadeeretor-
nouumtantochocadocomoque
viunaÍndia.Osnúmerossãosem-
pre superlativos nesse país de
1,23 bilhão de pessoas. Quando
aterrissou em São Paulo, Ruffato
até achou que a capital paulista
era pouco populosa se compara-
da às metrópoles indianas. Sim,
temgentedemaisnomundo,mas
isso não é necessariamente um
problema. E o escritor mineiro
aproveitou a experiência — e o
choque — para bolar o discurso
programado para a Feira do Livro
de Frankfurt, que tem abertura
marcada para o próximo dia 9 e
esteanohomenageiaoBrasil.
Ruffato é o orador — e tam-
bém alvo de críticas que questio-
nam o porquê da escolha dos 70
autores da lista de convidados
para se apresentar na feira — e
pensou em costurar um discurso
no qual mescla a literatura e a di-
versidade de leituras possibilita-
das pela ficção.“Esse é um ponto
do meu discurso: ver o outro co-
mo inimigo ou como aquele que
dáavocêoestatutodeexistência,
porque eu só sou se você me re-
conhece. Se você não existir, eu
simplesmente não existo porque
ninguém me dá o estatuto de
gente. Mas você existir também
me incomoda profundamente. É
muito curioso isso”, diz.
A lista de 70 autores que com-
põem a comitiva oficial de convi-
dados para Frankurft foi elabora-
da pelo Ministério da Cultura,
sob curadoria do crítico Manuel
da Costa Pinto; do coordenador
de programação, Antonio Marti-
nelli; e da professora Antonieta
Cunha. Desse total, 21 vêm de
São Paulo, 12 do Rio de Janeiro e
12 de Minas Gerais (o brasiliense
Nicolas Behr é um dos convida-
dos). Entre eles, há apenas dois
negros e um índio. Os números,
admite Ruffato, refletem a reali-
dade brasileira quando se trata
de literatura. “Esses três lugares
devem significar 60% a 70% da
população brasileira. Em termos
de presença econômica, deve re-
presentaratémaisdoqueisso.Is-
so reflete muito nossa desorgani-
zação”, garante o escritor. “Por
exemplo, quantos autores negros
tem? Isso é culpa da curadoria?
De jeito nenhum. É que não tem.
Não tem porque, na nossa socie-
dade, não tem mesmo.”
Ruffato não dá muito ouvido
às outras críticas, aquelas que
questionam os nomes. “Nunca
são coisas sérias. São sempre
pessoais. Quando alguém fala
‘por que não chamaram fulano?’
na verdade queria falar ‘por que
não me chamaram?’. Acho que se
tivessem chamado 700 nomes
haveria7.000falando‘ah,chama-
ram só 700’”, avisa.
A literatura vai até bem na vi-
da do escritor. Ele trocou a edito-
ra Record pela Companhia das
Letras, que este ano começa a re-
publicar sua obra. O primeiro,
Eles eram muitos cavalos, já está
na 10ª edição. Em 2014, o autor
lança Flores artificiais, o nono ro-
mance. Dessa vez, ele avisa que
resolveu se afastar da zona de
conforto. Conhecido pelo trato
com personagens pobres e dis-
tantes da classe média que povoa
o romance contemporâneo bra-
sileiro, Ruffato vai, desta vez, es-
crever sobre a elite.
Lembranças
O novo romance é também
uma brincadeira com a noção de
autoria: o escritor aparece na
narrativa como alguém que aju-
da o personagem a escrever his-
tórias. Na ficção, o mundo ima-
ginário e o real muitas vezes se
encontram, embora com fre-
quência a realidade seja mais
umacriaçãodoautor.Ruffatoan-
da bastante impressionado com
algumas abordagens de conheci-
dos que juram serem as histórias
do mineiro memórias comparti-
lhadas. Outro dia, um colega de
escola disse ter reconhecido to-
dasaslembrançasdainfânciaem
um dos romances do escritor. Es-
se é o barato da literatura: cada
texto é um texto que depende da
experiência do leitor.
Já na vida real, Ruffato não en-
contratantobarato.Estámaispara
a desilusão.“Tenho a sensação de
queestivemosnaiminênciadedar
umpassoàfrentenosentidopolí-
tico, econômico e social no país,
masagentenãodeu.Podeserque
eu esteja equivocado — e quero
estarequivocado—,podeserque
ainda vamos dar esse passo, mas
não é o que sinto. Nem o que me
parece”, lamenta, ao se lembrar
dasmanifestaçõesdejulho.
“Concordo que houve avan-
ços, mas são muito pequenos pa-
raqueagente possa bater nopei-
to e dizer ‘ah, somos a 7ª econo-
mia do mundo’. Ok. Mas como is-
so se relaciona com a realidade
do país? Temos problemas com
segurança pública, saúde lazer...”
Ruffato esteve em Brasília para
participar de um debate no Sebi-
nho e conversou com o Diversão
& Arte sobre a realidade brasileira
contemporânea. O escritor —
que é torneiro mecânico e filho
de um pipoqueiro — se tornou
um dos nomes mais importantes
da produção atual e um dos pou-
cos a trazer a classe C para a lite-
ratura de hoje.
DESILUSÃOXLITERATURA
Minha desilusão não é com a
literatura. A literatura é o que me
sustenta financeiramente e afeti-
vamente. Tiramos 42 milhões de
pessoas da pobreza nos últimos
15 anos, mas não demos esse
passo à frente para pensar juntos
o que queremos do país. E como
intelectual, meu papel é de dis-
cordar mesmo.
DEMOCRACIAXFRUSTRAÇÃO
Nossos ricos continuam ri-
quíssimos, nunca estiveram tão
bem e não é à toa que não há ne-
nhumacontradiçãoentreosmui-
toricoseogovernodoPT.Nofun-
do, há um problema estrutural
mesmo. Não vai ser um governo
petista, dois governos petistas,
três governos petistas e muito
menos 50 anos de democracia
com vários governos que vão re-
solver porque os problemas es-
truturais são muito pesados e os
passos que são dados são muito
limitados. Ninguém duvida de
que o grande problema político
doBrasiléaestruturapolíticaque
herdamos da ditadura militar.To-
do mundo fala em fazer uma re-
forma política, mas ninguém faz.
E sem essa reforma, as outras não
vão acontecer porque você tem
que ficar o tempo inteiro fazendo
negociações. Negociar é da de-
mocracia, mas no Brasil não se
negocia pela democracia, se ne-
gociaporprivilégios.Porquenos-
so Congresso é tão ruim do ponto
de vista da qualidade dos políti-
cos? Porque fazer política no Bra-
sil é muito caro e as pessoas bem
intencionadas não conseguem
arrecadar dinheiro. Temos uns
pobres muito ruins também. Não
vamosfalarsódaelite.Pobresque
votam pensando em seus direitos
pessoais. Todo mundo no Brasil
pensa individualmente, ninguém
pensacoletivamente.
COLETIVOXINDIVIDUAL
Herdamos uma cultura extre-
mamente estranha que é de apro-
priação do bem público. Isso é
uma coisa da nobreza ibérica: um
desprezo profundo pelo trabalho
eapropriaçãodobempúblicopa-
ra interesse privado. Nosso inte-
resse na política é sempre no sen-
tido de se dar bem. A gente fala
muito dos americanos. Eu fui es-
critor residente em Berkley, uma
universidade com 60 mil alunos.
Andandopelauniversidadeperce-
bi hall fulano de tal, banco fulano
de tal, praça fulano de tal. São ex-
alunosque,quandocomeçarama
ganhar dinheiro pensaram“eu te-
nho que dar alguma coisa em tro-
ca”. Aqui ninguém faz isso. O cara
estuda na USP com dinheiro pú-
blico,saidelámédicoformadona
melhor universidade da América
Latina e vai ser médico cobrando
R$1.000porumaconsulta.Nunca
vai passar pela cabeça dele dar
umrealdissoparaauniversidade.
Aliás, se ele puder vai fraudar a re-
ceita.Continuamoscomamenta-
lidade de chegar aqui, pegar todo
opau-brasilelevarembora.Quan-
do se fala em corrupção, a gente
nunca lembra que todos nós so-
mos corruptos no dia a dia, seja
por omissão, seja por ação. En-
quanto não pensarmos que so-
mosumpaísequetemosquepen-
sar coletivamente, não vamos
chegaralugarnenhum.
MERCADOLITERÁRIO
O mercado ainda é muito
amador e os escritores são os
principais responsáveis porque
continuam com uma mentali-
dade de escrever por diletantis-
mo. No ano passado, o mercado
faturou 5 bilhões de dólares. Só
os escritores não ganharam di-
nheiro. É um mercado muito
pessoal. Temos poucos agentes
literários, o que torna as rela-
ções pessoais. Isso é péssimo
porque são relações de negó-
cios. É muito esquisito. Quando
você tem um agente, ele vai in-
termediar a relação. Sem agen-
te, é uma discussão pessoal. O
amadorismo é dos escritores
principalmente. É uma visão di-
letante, elitista.
Carlos Vieira/CB/D.A Press
LITERATURA