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CORREIO DO POVO SÁBADO | 15 de março de 2014 ■ 3
caderno de sábado
■ LUIZ GONZAGA LOPES
L
uiz Ruffato é o que pode-
mos chamar de escritor
com o dom de transformar
a realidade ao seu redor.
São vários os fatores que com-
põem a sua trajetória. Filho de
mãe analfabeta e de pai semianal-
fabeto, teve todas as profissões
possíveis, de operário têxtil a tor-
neio mecânico, até que a leitura
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transformou a sua vida. Autor de
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discurso sobre os paradoxos do
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lência, baixo índice de leitura e
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guases (MG), este autor quer tam-
bém transformar a realidade dos
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jeto de supervisão literária de es-
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texto e siga até a publicação. Nes-
ta entrevista ao Caderno de Sába-
do, ele fala do projeto, que deve
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Caderno de Sábado — Fale-nos
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so em Porto Alegre, na livraria Pa-
lavraria, que chamo de “Diagnósti-
co de romance”, aprimoramento de
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mente, há seis anos, na Estação
das Letras, no Rio de Janeiro. Tra-
ta-se de uma discussão sobre difi-
culdades e impasses do escritor du-
rante o processo de escrita. Aconte-
ce que desses encontros nasceu
uma demanda específica, de acom-
panhamento dos desdobramentos
da resolução dos obstáculos. Ou se-
ja, identificado o problema do tex-
to, percebemos a necessidade de su-
pervisionar a construção do livro.
Então, o que estou oferecendo ago-
ra é um trabalho continuado e indi-
vidual: disponibilizo minha expe-
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colegas, iniciantes ou não, na prepa-
ração de um livro de ficção, seja
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ce”, Lukács diz que “a intenção
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lendo livros, fui tomando consciên-
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■ O Ecarta Musical reinicia ati-
vidades hoje, 18h, na Funda-
ção Ecarta (João Pessoa, 943),
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cuito Verão Sesc de Esportes,
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livre na Praça da Sociedade
Amigos da Praia de Torres,
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grupo mineiro contará com
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“Funky Funky Boom Boom”,
além de clássicas como “Na
Moral” e “Só Hoje”. O rock
clássico em diversas verten-
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Bar (João Alfredo, 496), hoje,
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troyers e Big Zen Voodoo
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contro Municipal de Pandei-
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coordenação é de Zé do Pan-
deiro e a realização do Festi-
val de Percussão de Porto Ale-
gre (PercPoA) e do Clube do
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Entrevista com o escritor Luiz Ruffato sobre literatura, educação e projeto de supervisão literária

  • 1. CORREIO DO POVO SÁBADO | 15 de março de 2014 ■ 3 caderno de sábado ■ LUIZ GONZAGA LOPES L uiz Ruffato é o que pode- mos chamar de escritor com o dom de transformar a realidade ao seu redor. São vários os fatores que com- põem a sua trajetória. Filho de mãe analfabeta e de pai semianal- fabeto, teve todas as profissões possíveis, de operário têxtil a tor- neio mecânico, até que a leitura de um livro russo, aos 12 anos, transformou a sua vida. Autor de “Eles Eram Muitos Cavalos” e da série “Inferno Provisório”, com cinco títulos, Ruffato proferiu du- rante a Feira de Frankfurt, em outubro passado, o contundente discurso sobre os paradoxos do Brasil, desigualdades sociais, vio- lência, baixo índice de leitura e perpetuação da ignorância por ensino precário. Natural de Cata- guases (MG), este autor quer tam- bém transformar a realidade dos escritores à sua volta, criando pro- jeto de supervisão literária de es- critores, com trabalho continuado e individual para que o iniciante ou não descubra os impasses do texto e siga até a publicação. Nes- ta entrevista ao Caderno de Sába- do, ele fala do projeto, que deve começar com os autores gaúchos, do discurso de Frankfurt, do novo livro, de adaptações ao cinema da sua obra, entre outros temas. Caderno de Sábado — Fale-nos sobre o seu projeto de supervisão literária para romances. Luiz Ruffato — Venho, há três anos, no verão, oferecendo um cur- so em Porto Alegre, na livraria Pa- lavraria, que chamo de “Diagnósti- co de romance”, aprimoramento de uma técnica que desenvolvo mensal- mente, há seis anos, na Estação das Letras, no Rio de Janeiro. Tra- ta-se de uma discussão sobre difi- culdades e impasses do escritor du- rante o processo de escrita. Aconte- ce que desses encontros nasceu uma demanda específica, de acom- panhamento dos desdobramentos da resolução dos obstáculos. Ou se- ja, identificado o problema do tex- to, percebemos a necessidade de su- pervisionar a construção do livro. Então, o que estou oferecendo ago- ra é um trabalho continuado e indi- vidual: disponibilizo minha expe- riência como escritor para auxiliar colegas, iniciantes ou não, na prepa- ração de um livro de ficção, seja uma coletânea de contos, seja um romance, esteja ele em elaboração ou mesmo em finalização. CS — Na “Teoria do Roman- ce”, Lukács diz que “a intenção fundamental determinante da for- ma do romance objetiva-se como psicologia dos heróis romanes- cos, eles buscam algo”. O que vo- cê buscará nos romancistas sele- cionados pelo projeto? Ruffato — A mim não interessa julgar os candidatos a partir de um gosto estético pré-determinado. Em minhas “terapias em grupo”, seja em Porto Alegre, no Rio de Janeiro ou em outras cidades onde ofereci eventualmente essa técnica, o que persigo é encontrar, junto com o es- critor, a forma adequada para ex- pressar conteúdos. Para mim, lite- ratura é isto: adequação entre o quê e o como. Por isso, não importa que tipo de história o autor deseja escrever, o meu esforço é no senti- do de tentar ajudá-lo a encontrar a maneira correta de fazer isso. O que procuro no escritor é isto: a sua voz. O bom escritor é aquele que, possuindo uma visão de mun- do particular, consegue falar em no- me da coletividade. Aquele que, construindo histórias a partir de ex- periências individuais, consegue to- car o outro, que se identifica e se transforma. Não citarei nomes, pois seria indelicado da minha parte, mas adianto que vivemos um dos períodos mais férteis da história da literatura brasileira. CS — Fale-nos sobre a Igreja do Livro Transformador e o exemplo pessoal de transforma- ção pelo livro, pela literatura. Ruffato — A Igreja do Livro Transformador nasceu de uma brin- cadeira. Em todas as cidades aon- de ia fazer palestras, contava que, sendo filho de mãe analfabeta e pai semianalfabeto, fui salvo pela expe- riência da leitura. Eu só entendi a precariedade da minha infância, só percebi as limitações que se im- punham ao meu futuro quando, lendo livros, fui tomando consciên- cia do meu lugar e do meu papel no mundo. Ao longo das minhas viagens fui me deparando com centenas de pessoas que me rela- tavam a mesma experiência, a de transformação de suas vidas pela leitura. Então, resolvi criar a Igre- ja do Livro Transformador. Que não é igreja, evidentemente, mas apenas um espaço virtual onde as pessoas postam seus depoimentos em vídeo, narrando qual livro as transformou e como... CS — O discurso de Frankfurt ainda repercute? Ruffato — No meu discurso apon- tei problemas que se arrastam des- de o nosso achamento. Não são ques- tões de resolução imediata. Tivesse que escolher um único ponto para, a partir dele, propor soluções claras para o Brasil, destacaria a educa- ção. Parece que há um interesse, em todos os tempos, na manutenção de um ensino péssimo, como forma de perpetuar um exército de mão de obra barata. Todos os problemas que hoje grassam no país seriam mi- nimizados se ofertássemos uma edu- cação de qualidade. Mas preferimos patinar na mediocridade... CS — Qual será o próximo li- vro e quais obras suas ganham adaptações ao cinema? Ruffato — Lanço em maio um novo romance, “Flores Artificiais”, e relanço outro, “De Mim Já Nem Se Lembra”. Todos os meus livros estão sendo publicados agora pela Companhia das Letras. Já tinha edi- tado lá “Estive em Lisboa e Lem- brei de Você”, em 2009, e no ano passado saiu a 11ª edição de “Eles Eram Muitos Cavalos”. No ano que vem, será relançado o “Inferno Pro- visório”, não mais em cinco volu- mes, mas agora em volume único. Quanto às adaptações para o cine- ma, acaba de ser rodado, em Portu- gal, um longa-metragem baseado em “Estive em Lisboa e Lembrei de Você”, pelo diretor português José Barahona. Em outubro começam as filmagens de outro longa-metragem, baseado em “O Mundo Inimigo” (um dos volumes do “Inferno Provi- sório”), com direção de José Luis Villamarin e roteiro de George Mou- ra, a mesma dupla que fez a minis- série Amores Roubados. CS — Como você analisa o mo- mento atual da literatura brasi- leira e também as questões da tradução de autores nacionais para países europeus? Ruffato — O escritor deve se preocupar em escrever seus livros. Todo o resto são acidentes. Adapta- ções para teatro ou cinema, tradu- ções, prêmios, isso tudo deve ser ob- jetivo do mercado editorial e de seus agentes... E não há receita pa- ra o sucesso. Fosse assim, teríamos milhares de Paulos Coelhos ou cen- tenas de Gracilianos Ramos... Se fossem aplicar com rigor os precei- tos ideais do que o mercado estran- geiro deseja de um autor brasileiro, eu não teria nenhum título traduzi- do... No entanto, tenho livros publi- cados em Portugal, Argentina, Méxi- co, Colômbia, Cuba, Finlândia... Na França, além da edição standard, meus livros estão em edição de bol- so e são adotados em liceus... Na Itália, tive livro que vendeu uma edi- ção em um mês... Na Alemanha meus livros alcançaram três edi- ções em um ano... Nos Estados Uni- dos serei publicado este ano pela AmazonCrossing, braço editorial da Amazon.com... Tenho mais de 10 convites anuais para participar de festivais e feiras do livro no exte- rior... Minha literatura contraria todas as fórmulas do que os agen- tes dizem que o mercado estrangei- ro deseja... CS — Como você avalia a polí- tica do Ministério da Cultura pa- ra o livro e a leitura? Ruffato — Há um esforço sério no sentido de abastecer as bibliote- cas escolares com títulos os mais di- versos. As compras são transparen- tes, e um número bastante expressi- vo de especialistas é consultado. Pa- ra mim, a questão é de outra natu- reza. É importante que os livros es- tejam presentes nas estantes das es- colas — e têm estado. Mas é impor- tante também que os estudantes te- nham uma educação de qualidade que os incentive a buscar esses li- vros — e isso não está acontecen- do... Os livros estão disponíveis, mas os alunos não têm interesse em lê-los... Precisamos, além do acesso, despertar o desejo da leitu- ra... Mas isso só adviria de uma educação de qualidade, o que, infe- lizmente, não existe... CS — Sobre os autores gaú- chos. Você tem lido ou trocado ideias com algum? Ruffato — O RS sempre foi um dos grandes celeiros da literatura brasileira. Durante boa parte do sé- culo XX, fomentado pela Livraria e Editora Globo, houve aqui um nú- mero considerável de autores de ex- pressão nacional, e cito, apenas no âmbito da prosa de ficção, J. Simões Lopes Neto, ainda no sécu- lo XIX, os fundamentais Dyonélio Machado e Erico Verissimo, na pri- meira metade do século XX, e Moacyr Scliar, Tabajara Ruas, Luiz Antonio Assis Brasil, Sergio Fara- co, Caio Fernando Abreu e Luis Fernando Verissimo, na segunda metade, entre muitíssimos outros. No século XXI, alimentados pelas oficinas literárias, os gaúchos vêm dominando o cenário nacional: Al- tair Martins, Cíntia Moscovich, Amílcar Bettega Barbosa, Luís Au- gusto Fischer, Paulo Scott, Michel Laub, Manoela Sawitski, Daniel Ga- lera, Daniel Pellizzari, Carol Bensi- mon, Monique Reveillion, Ana Ma- riano, Luisa Geissler, Helena Ter- ra... Para se ter uma ideia, fui convi- dado a organizar uma antologia pa- ra a Éditions Métailié, a ser publica- da na França em 2015, e, dos 25 au- tores que escolhi, seis são gaúchos – o maior número dentre todos. ■ O Ecarta Musical reinicia ati- vidades hoje, 18h, na Funda- ção Ecarta (João Pessoa, 943), com show da soprano Elisa Machado e do acordeonista Matheus Kleber. Eles exploram a liberdade que a música de câmara permite em suas inter- pretações e mesclam o canto lírico com um instrumento que, no Brasil, é utilizado em mani- festações artísticas populares. A dobradinha desmistificar pos- síveis entendimentos de que os estilos são incompatíveis e aproxima diferentes públicos à música erudita. O programa é composto por canções brasilei- ras e francesas do século XX, homenageando compositores como Heitor Villa-Lobos, Cláu- dio Santoro, Alberto Costa, Tom Jobim, Gabriel Faurè, Jules Massenet e Francis Poulenc. ■ Após apresentação na Capi- tal o Jota Quest fecha o Cir- cuito Verão Sesc de Esportes, hoje, às 21h, com show ao ar livre na Praça da Sociedade Amigos da Praia de Torres, em Torres. O repertório do grupo mineiro contará com canções do novo álbum “Funky Funky Boom Boom”, além de clássicas como “Na Moral” e “Só Hoje”. O rock clássico em diversas verten- tes será a tônica do Graffiti Bar (João Alfredo, 496), hoje, às 22h, na Capital. Entre som autoral e eclético e covers as bandas Eletroacordes, Des- troyers e Big Zen Voodoo apresentam seus repertórios em show curtos, com sorteio de CDs, camisetas e livros. Ingressos no local. ■ A Casa de Cultura Mario Quintana (Andradas, 736) se- dia hoje, às 16h, na Sala C2, o 2º Pandeiraço Popular – En- contro Municipal de Pandei- ros, que prestará homenagem ao músico Giba Giba, falecido na Capital em 3 de fevereiro último, e que participou da primeira edição do evento. A coordenação é de Zé do Pan- deiro e a realização do Festi- val de Percussão de Porto Ale- gre (PercPoA) e do Clube do Pandeiro da Capital. Às 19h, no Auditorium Tasso Corrêa do Instituto de Artes da Ufrgs (Senhor dos Passos, 248), será realizado o recital do violonista e professor in- glês Stanley Yates. No programa da noite, esta- rão as músicas de composito- res como Antonio Vivaldi, Fernando Sor, John Dowland, Ernesto Cordero e Ferdinan- do Carulli. O erudito e o popular Rock’n’roll para fechar o verão O violonista e o pandeiraço “ ‘Procuronoescritorasuavoz’ADRIANA VICHY / DIVULGAÇÃO / CP O bom escritor é aquele que, possuindo uma visão de mundo particular, consegue falar em nome da coletividade. Ruffato lança em maio um novo romance: ‘Flores Artificiais’ Em entrevista, Luiz Ruffato fala sobre supervisão a autores, novo livro e Frankfurt LITERATURA