1. Genética 12ºA - Psicologia
A evolução humana
“O mundo é muito velho e os seres humanos muito novos. Os acontecimentos importantes das nossas
vidas pessoais são medidos em anos ou períodos de tempo mais curto, a nossa vida em décadas, a
genealogia da nossa família em séculos e os factos a que se refere a história escrita em milénios. Mas
fomos precedidos por uma enorme extensão de tempo, que abarca períodos prodigiosos do passado
sobre os quais pouco sabemos – quer por não termos registos escritos, quer por termos uma real
dificuldade em apresentar a imensidão dos intervalos que mediaram entre esses períodos.”
SAGAN, C., Os dragões do Éden, Gradiva, 1985, p. 21
“O homem é um animal. Este facto elementar é ignorado em psicologia com excessiva frequência. O
homem é um organismo biológico semelhante a outros animais e, particularmente, a outros primatas,
pela sua estrutura, pelas suas funções e até pelos seus padrões de comportamento. Além disso, o homem
é um animal muito recente. O Homo Sapiens moderno apareceu há cerca de cinquenta milhares de anos
– o que não representa no calendário biológico um espaço de tempo muito grande. Se tentássemos traçar
a árvore genealógica do homem, para além de duzentas gerações, os seus antepassados começariam a
parecer-se muito pouco com os actuais seres humanos. Os primeiros antepassados do Homem
começaram a divergir de outras linhas de primatas há, aproximadamente, dois milhões de anos. Durante
a maior parte deste tempo, as forças irresistivelmente poderosas da seleção natural deram ao homem a
forma de um primata caçador e recolector de alimentos. A cultura de cereais e a domesticação de
animais, atividades que conduziram à formação de populações estáveis e, no essencial, à civilização, tal
como atualmente a conhecemos, ocorreram apenas nos últimos dez milhares de anos, muito depois de o
homem ter já alcançado plenamente a sua forma e aptidões atuais. O homem é a espécie mais
terrivelmente bem sucedida (alguns acrescentariam de „caçador carnívoro‟) que alguma vez apareceu à
face da terra, e este passado modelou o seu presente.”
THOMPSON, op. cit., p. 23
Os dois textos que te apresentámos apontam para duas conclusões: os seres humanos são muito recentes,
tendo em conta a história do mundo; os seres humanos são produto de uma evolução.
Foram as pressões do ambiente que provocaram a evolução do ser humano a partir dos primatas
superiores – a passagem da floresta para a savana obriga os nossos antepassados a descer das árvores e a
caçar, para sobreviver. As características físicas e as aptidões comportamentais têm que se adaptar ao
novo habitat: desenvolve a locomoção bípede e a postura vertical, libertando as mãos das suas funções
locomotoras; a mão transforma-se num instrumento flexível graças à oponência do polegar que permite
uma pressão mais forte e precisa.
As mãos passam a ser capazes de fabricar e utilizar utensílios e armas. Contudo, estas atividades só são
possíveis graças ao desenvolvimento do cérebro. É o cérebro que conduz a mão, que é sede de
inteligência e centro da linguagem.
São as pressões do ambiente – mudança do ecossistema – que desencadearam todo um conjunto de
transformações anatómicas que pressupõem mutações genéticas.
Para Edgar Morin, é a dialética pé–mão–cérebro que irá libertar o Homem do domínio da natureza. Na
base do processo de hominização está a adaptação ativa ao meio (práxis), isto é, o Homem modifica a
natureza e, ao transformá-la, transforma-se.
ANO LECTIVO 2011-2012
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A todo este processo é inerente o desenvolvimento de relações de cooperação que se vão concretizando
numa organização social cada vez mais complexa. A fala, o meio de comunicação entre os indivíduos, é
inerente à vida social e à própria sobrevivência da espécie. Para Edgar Morin, no processo de
hominização intervêm, de forma interativa, múltiplos fatores: ecológicos, genéticos, sociais e culturais.
As contribuições de Darwin na psicologia
A obra de Darwin trouxe várias consequências para a psicologia. Em primeiro lugar, cai definitivamente a
barreira que separava o Homem do animal – sendo o Homem produto da evolução, o seu comportamento
tem muitas semelhanças com o comportamento animal. Poderemos localizar a origem da psicologia
animal nos trabalhos de Darwin.
Em 1872, publica A expressão da emoção no Homem e nos animais. Nesta obra, Darwin propõe-se
estudar a emoção humana, tendo para o efeito recorrido a diversas fontes. Recolheu, junto de psiquiatras,
dados sobre as expressões da emotividade em doentes mentais. A partir de relatos de antropólogos de
observações feitas em povos primitivos, procura traços comuns nas expressões da emoção. Para além
disto, observa e regista os comportamentos dos seus filhos em diferentes situações: de fome, de
frustração, de agressividade. Fotografa, igualmente, pessoas em situações emocionais.
A partir de todos estes dados, procura descrever detalhadamente as expressões emotivas associadas ao
medo, à cólera, à alegria, à vergonha: postura corporal, mímica facial, movimentos característicos.
Procurou ainda comparar as manifestações da emoção nos animais – concretamente nos macacos –,
considerando que muitas delas são comuns aos seres humanos. Este estudo comparativo serviu para
confirmar as suas teorias sobre a evolução. Muitos etólogos contemporâneos retomaram esta linha de
investigação.
Para além da importância do conteúdo dos seus estudos, Darwin surge como um precursor de modernas
tendências em psicologia que valorizam o estudo do comportamento não verbal, bem como o recurso a
várias fontes de informação e a vários métodos de observação.
A importância do meio e a adaptação que provoca passaram a ser, a partir de Darwin, um tema central,
não só em psicologia, como em muitas outras ciências.
Monteiro, M., Santos, M. Psicologia, Porto: Porto Editora, pp 130-132 (adap)