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NOVELA DA 
MINHA VIDA 
(Profissional) 
Miguel Santos 
30 CAPITULOS INÉDITOS 
Historia real e descontraída de um cidadão, que se dedicou à Comunicação, atuando em Jornais, Rádios e Televisões em Pernambuco.
CAPITULO DE APRESENTAÇÃO 
Escrever um livro ou uma auto-biografia, mesmo autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça. Até porque escrever sobre mim mesmo tem um ar de pieguismo ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos.... 
Mas, com o advento dessa poderosa maquina que é a 
Informática e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam a fazer um livro digital. Você lê uma vez e joga fora a mídia, para não ocupar espaço na sua estante. 
Como um ser aposentado decidi, então, aproveitar a maioria das minhas horas vagas para escrever essas linhas, que são, antes de tudo, fragmentos interessantes, curiosos, e até mesmo gozados da minha vida profissional, que se não foi tão significativa o foi de grandes e imorredouras emoções. 
Não levem em conta os nomes de amigos e colegas não citados na narrativa. Afinal, numa tarefa como essa fica muito difícil a gente lembrar de tudo e de todos. 
.Posso garantir que se trata de uma obra que não vai interessar aos estudantes de Comunicação, mas, que, certamente, vai deixar “água na boca” nos companheiros que, mesmo de longe, vão relembrar alguns dos momentos por mim vividos e aqui narrados. 
Miguel Santos 
Jornalista/Radialista (com muito orgulho)
CAPITULOS 
01 - Rádio no sangue 
02 - Bibi Ferreira e eu 
03 - Novo Rádio 
04 - Jornais & Jornais 
05 - Linha virada 
06 - Ultima Hora 
07 - As Revistas 
08 - TVU: 27 anos no batente 
09 - Carnaval pela TVU 
10 - O Repórter 
11 - Verdade ou Mentira ? 
12 - Elefante e confusão 
13 - Minha estréia no Cinema 
14 - Meu Bairro é o Maior 
15 - Guina: quanta saudade ! 
16 - Show do Homem com “H” 
17 - Meu encontro com Lula 
18 - Mister John 
19 - Luiz Gonzaga – o Rei do Baião 
20 - Roberto Carlos em três atos 
21 - Claudia Barroso e Garin 
22 - O mundo que conheci 
23 - Artista é quase isso... 
24 - Sustos no ar 
25 - Atritos com Celebridades 
26 - Dominguinhos e Calheiros 
27 - Colegas e Amigos 
28 - Campanhas Políticas 
29 - Eventos produzidos 
30 - Linha do Tempo
Capitulo 1 RADIO NO SANGUE 
Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só 
existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube. Tinha um aditivo a mais: meu tio-padrinho era outro que gostava e conhecia muita gente que atuava em rádio. Lembro que ele costumava contratar um verdadeiro serviço de alto-falante que era instalado no amplo terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu primo. Eu comandava o show, fazia brincadeiras com os coleguinhas, uns cantavam, outros aplaudiam e eu era quem falava ao microfone. Por volta dos 12 anos de idade, freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos domingos, à tarde, para assistir ao programa comandado por Ernane Seve e sua secretária de palco, Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família. 
Fui crescendo e meu padrinho alimentava a idéia de que eu deveria 
ser um locutor de rádio. Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu 
fizesse um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava 
na ladeira de São Francisco, em Olinda, mas que mantinha um estúdio 
avançado de jornalismo num prédio da Avenida Guararapes. Foi nesse estúdio que recebi as primeiras orientações do jornalista Geraldo Seabra, que era o chefe do departamento de jornalismo da Emissora. Quando começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para gravar o 
jornal-falado, que tinha sido irradiado uma hora antes. Devo ter passado 
um mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio desisti do estágio, porque 
naquela época (1957) não era qualquer um que botava a boca na “latinha”. 
Mas, o “virus” do rádio já tinha tomado conta do meu sangue. Anos depois, ingressei na Radio Capibaribe, cujos estúdios ficavam no prédio da então ”Casa Barreira”, uma loja de auto-peças na Rua Siqueira Campos e os transmissores instalados na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora. 
Rádio Capibaribe - 1961
Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras 
atividades, como a de repórter e apresentador de programas. A Jovem Cap, como está sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola radiofônica. Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu filho adotivo, Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto Schiller, tive a oportunidade de conviver com outros nomes que participaram dessa fase inaugural: Genivaldo di Pace, locutor noticiarista de grande talento; Edson Lima e Miriam Silva, Reginaldo Silva, Jocemar Ribeiro, Samir Abou Hana. Cezar Brasil e outros mais. Um dos programas que criei foi “Musicas e Personalidades” (1960/61), no qual gente famosa apontava as 
dez musicas inesquecíveis, que eram irradiadas juntamente com dados 
biográficos da pessoa focalizada. Além de escrever programas, estreei 
como repórter e comunicador, sempre com o sentido de adquirir experiência, mesmo porque na época a gente tinha que ser polivalente para 
trabalhar no rádio. 
Cícero, dono do Restaurante Samburá, de Olinda, recepcionando a direção e funcionários da Radio Capibaribe. Da esquerda para a direita: 
Humberto Pinto, Miguel Santos, Cícero, Gilberto Lins, Edson Lima e 
Miriam Silva (Ano: 1962) 
A Radio Capibaribe foi a minha primeira grande escola. Daí prá frente, o micróbio do radio não me largou mais. Quando assumi as colunas de Rádio e Televisão do Jornal do Commercio e Diario da Noite, passei quase que imediatamente a atuar também no Rádio Jornal, como produtor de um programa chamado “Disco Brinde” (1966), comandado por Nilson Lins. Depois, não parei mais: fui produtor do programa de auditório
“Festa de Brotos”, comandado por Antenor Aroxa, , em 1968. E por um longo tempo, enquanto trabalhava na TVU em um expediente, atuava no radio em outro. Como produtor de Samir Abou Hana percorri as Rádios Tamandaré, Olinda, Globo e Clube. Por ultimo, fui produtor do saudoso Paulo Marques na Radio 103-FM e na Rede Estação Sat. Rádio e Televisão sempre andaram paralelos durante praticamente toda a minha vida profissional. 
Jáder de Oliveira, apresentador do programa “Varietê”, ao me entregar premio de melhor produtor do ano de 1971, no auditório do Rádio Jornal. Nessa época, alguns veículos de comunicação e entidades 
faziam pesquisas para apurar quem eram os melhores do Radio e da TV.
AUDITORIO DO RADIO JORNAL DO COMMERCIO – PALCO E PLATEIA
Capitulo 2 BIBI FERREIRA E EU 
Um dos maiores nomes do teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava 
no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou: 
- ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar aqui conosco. Você vai nos dar 
uma grande ajuda ao nosso espetáculo.” 
Depois desse encontro, pensei: será que eu sou tão importante assim para receber esse elogio da maior atriz do teatro brasileiro ? 
Juntei-me ao grupo de figurantes que havia sido convocado para participar da peça “La Conchita”, uma opereta espanhola, com a qual Bibi Ferreira encerraria a temporada (de 01 a 13 de Setembro de 1956) no Recife para seguir de navio para uma turnê pela Europa . Era uma noite de sexta-feira. Na parte da manhã eu tinha ido visitar um amigo, José Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o salvador do mundo. Foi logo dizendo: 
- “Você chegou na hora certa. Esteja as seis da noite no Teatro de Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu mais detalhes.” 
Jovem aventureiro, 18 anos de idade, não fiz outra coisa. Às seis da noite lá estava eu na porta dos fundos do teatro. Guilherme me levou até o camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e uma maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia acontecendo comigo sem que eu viesse a saber, com antecipação, o que eu 
teria que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina fechada, ouvi o murmúrio 
do publico e arrisquei uma olhada pela fresta da cortina. A platéia do suntuoso teatro estava lotada. Afinal, Bibi Ferreira era um nome respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50, ela montou um repertorio com sua companhia e depois de bem sucedidas temporadas no eixo Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com elenco numeroso e uma produção de alto nível. Dentre seus maiores sucessos 
estava o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o 
ator Herval Rossano, Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco. 
Mas, como já disse, tudo parecia um sonho. 
Eu havia experimentado uma sensação um pouco parecida quando tinha apenas 8 anos de idade. Estudava no Ginásio São Luiz, e fiz parte de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio de Ponte D`uchoa. Era um numero que lembrava as noitadas juninas. Enquanto se ouvia a marchinha “Cai, Cai Balão”, eu e meus companheiros rodeavam uma fogueira cenográfica E terminava o numero fazendo uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça comprida. Emocionado, cheguei a desfilar pelo corredor do Auditório para mostrar que já era um homenzinho...
Com Bibi Ferreira foi um pouco diferente, porque a emoção foi maior, apesar de que, na primeira noite, eu realmente ia entrar em cena sem ter feito um simples ensaio e sem saber nada do que ia fazer. Eu era aquele figurante do empurrão, como caldo-de-cana, feito na hora. No primeiro 
ato, os figurantes entravam em fileira indiana pelos dois corredores da 
platéia até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos dadas a dois companheiros, terminando por participar de uma dança de roda. Saímos 
do palco e retornamos no ato seguinte. Aí , o cenário era um típico cabaré, com homens e mulheres fumando, bebendo, se beijando e se abraçando, numa autêntica orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava 
enchendo a cara (a bebida era guaraná). Em dado momento, uma das figurantes vinha me fazer caricias e sentava no meu colo. Rolavam simultaneamente outras cenas semelhantes. A figurante que estava sentada no meu colo sussurrou no meu ouvido: 
- “Agora, você vai me empurrar. Vou cair no chão e vou sair de cena. Você fica e toma mais um copo com raiva de mim. Faz parte da cena. Vai, me empurra !” 
Eu dei um empurrão prá valer na moça e realmente ela se esparramou 
no chão e saiu blasfemando... Isso acontecia entre o grupo de figurantes – 
(Na minha mesa estavam Leda Alves, Cely, Edmilson Catunda e eu). Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no movimento cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura e uma 
das pessoas mais influentes do Estado. 
Tudo isso, minha gente, foi muito difícil para mim, porque tudo acontecia como uma grande surpresa. Nas demais noites, ficou mais perfeito o meu desempenho artístico. Já havia aprendido tudo na difícil noite da estréia. 
Lembro que acabada a nossa participação, alguns figurantes, como eu, corríam para o camarim, para retirar a maquilagem, mudar de roupa e, então, seguíamos para a porta principal do teatro para que o publico nos vissem mais de perto.. Vaidade de artista. Afinal, éramos coadjuvantes de Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro que numa das noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me reconhecer, uma mocinha apontou prá mim e disse: 
- ”Foi esse cara que empurrou aquela moça no chão... Você não tem vergonha na cara, não ?” 
Desapareceria de cena ali um grande ator frustrado. Vilão e canastrão, que nunca mais quis saber de subir num palco de teatro.
FOTO HISTORICA 
FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO TEATRO 
DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956). NA MESA, LEDA 
ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA. NA ÉPOCA, ESTAVA 
COM 18 ANOS DE IDADE. 
Capitulo 3 NOVO RADIO 
A Televisão havia chegado com gosto de gás. Será que vai acabar com 
o rádio ? Era a preocupação de muitos radialistas. Até porque muita gente 
boa migrou imediatamente para o novo veiculo. O interesse pelas novelas 
radiofônicas foi diminuindo, os cantores davam preferência à TV e o rádio sentiu a necessidade de um impulso para sobreviver (alguns pensavam assim). 
Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio 
jogava ao ar uma programação inovadora apelidada de “novo rádio”. A
estreia foi numa segunda-feira, 26 de abril de 1965. 
Eu trabalhava como editor de rádio e televisão nos dois jornais da Empresa – o Jornal do Commercio e e Diário da Noite – e acompanhei de perto todas as providencias para o lançamento da nova programação. O gerente geral do Radio Jornal era o Sr. Luiz Felipe Vieira e o gerente de programação, Abérides Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista: 
“A nova programação é o começo de uma série de iniciativas visando a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio, como fator de progresso de um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se adaptar aos novos 
tempos.” 
Uma caravana de consagrados artistas nacionais, entre os quais 
Erasmo Carlos, Sergio Murilo, Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o 
lançamento da nova programação, realizando apresentações nos programas ”Praça da Alegria”, comandado por Walter Spencer, no sábado, à tarde, e “Varietê”, sob o comando de Jáder de Oliveira, no domingo, á noite. 
A equipe de produtores do “novo rádio” era formada por Aldemar Paiva, Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes, Ivan Soares, Medeiros Cavalcanti, Wladimir Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel Barbosa. 
Integrei essa valorosa equipe como coordenador do “Disco Brinde”, apresentado de segunda a sexta-feira, as duas da tarde, sob o comando de Nilson Lins. O programa realizava testes de conhecimentos musicais entre os ouvintes e distribuía discos entre os premiados, numa parceria com a Fábrica de Discos Rozenblit. 
Outros programas se notabilizaram nessa fase do Radio Jornal, 
Como o “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com produção de Manoel 
Barbosa e participação do elenco de rádio-teatro, interpretando casos registrados nas delegacias policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da 
Retreta”; Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do Almoço”, aos 
domingos; Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do Cotidiano” e era da consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9 da noite, 
enquanto os programas esportivos tinham mais ou menos o mesmo espaço que ocupam no rádio de hoje. O discotecário na época era o Eraldo Mendonça. Lembro que ele foi enviado ao sul do país, para adquirir os mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para
facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O departamento de radio-jornalismo era comandado pelo competente jornalista Artur Malheiros e o espaço físico foi ampliado para receber mais 
maquinas de escrever e redatores. 
Ano seguinte – 1966 – Antenor Aroxa foi contratado para conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à tarde, substituindo 
Walter Spencer. Passei, então, à exercer a atividade de produtor de programas de auditório, experiência que me levou a fazer a mesma coisa na 
Televisão. 
O superintendente da Empresa Jornal do Commercio, dr. Paulo Pessoa de Queiroz, ao meu lado. Momento em que a TV e o Rádio Jornal eram 
homenageadas na cidade de Vitoria de Santo Antão (1968)
Capitulo 4 
JORNAIS & JORNAIS 
Sempre gostei de escrever. Quando estudava no Ginásio São Luiz 
criei um jornalzinho manuscrito, que passava de mão em mão, divulgando eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo os coleguinhas do segundo período do curso colegial. 
Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional de Seguros de Vida, em 1958, editei o jornal ”O Timoneiro”, este já 
produzido em uma gráfica. Circulava internamente, com exemplares distribuídos entre funcionários, corretores e médicos da empresa. 
Ainda em 1958 comecei a colaborar com a “Folha do Povo”, um jornal criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação ocupava duas salas no Edifício Vieira da Cunha, na Rua Floriano Peixoto 
E aí pude desenvolver todos os meus desejos de ser um jornalista completo. 
Comecei escrevendo uma coluna sobre o Rádio (ainda não existia a Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma das quais 
denunciava a retirada de corpos ainda em estado de decomposição no 
Cemitério de Casa Amarela. 
A reportagem gerou notas de esclarecimento 
por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os jornais da cidade. Como o jornal apoiava o Governo pensei que fosse afastado, mas recebi parabéns não só porque o jornal faturou a nota oficial como porque a matéria era verdadeira e ganhou repercussão.
Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser 
revisor (um episodio dessa época faz parte de outro artigo deste trabalho). Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda hoje é na Rua do Imperador. 
Já existia a Televisão e passei a editar uma coluna sobre as atividades desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador. 
Experimentei vários pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos. Afinal, comecei mesmo num jornal comunista e queria esconder o meu 
nome verdadeiro. Fui até Francis, um colunista de discos fonográficos. 
Foi a partir de 1963 que efetivamente passei a ser jornalista profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste trabalho. 
Em 1965 fui chamado pelo gerente geral do Radio e da TV, Sr. 
Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão mantidas pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite (vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer o que era feito nas Emissoras pertencentes à Empresa. Portanto, um jornalismo parcial, que não me agradava. Mas, tive a felicidade de merecer o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento obsessivo pelo zelo, pelo respeito e pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam ter pela Empresa do “dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por todos. Não é piada, mas houve um caso em que um funcionário foi pedir um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe havia falecido e o Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a morte de sua mãe”. E negou o adiantamento. Pois esse dirigente de quem todos tinham medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das oficinas do Jornal, a fazer a diagramação das colunas, arrumando os textos linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da montagem da coluna um gráfico tirava uma prova a gente fazia 
a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente artesanal levava pelo menos uma hora e era feito pela manhã (para a edição do “Diário da Noite”, que circulava à tarde) e à tarde (para a edição do “Jornal do Commercio” que circulava no dia seguinte). O sr. Vieira e o gerente de 
programação do Radio Jornal aprovaram a minha indicação para coordenar 
o programa “Disco Brinde”, comandado por Nilson Lins. 
Posso assegurar que o sr.Vieira foi um dos que contribuíram 
para que eu conquistasse um espaço no jornalismo pernambucano, ampliando meus horizontes em relação também ao rádio.
Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi publicada no dia 15 de outubro de 1965.
Capitulo 5 
LINHA VIRADA 
Foi Fernando Spencer, que escrevia uma coluna de cinema na Folha do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem me informou que havia uma vaga de revisor no Diário de Pernambuco. Depois de um teste, ingressei no secular Diário exercendo uma função extinta no jornalismo de hoje. Naquele tempo, o texto original escrito pelo redator ia para as oficinas gráficas e o linotipista transformava o texto em linhas gravadas no chumbo quente da linotipo. Essa nova impressão seguia em forma de uma prova, juntamente com o texto original, para ser cotejado pelo revisor. A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar 
se havia algum erro. Assinalado algum erro, o material era devolvido para que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o meio-campo entre 
a redação e a oficina gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém 
da redação. Ao sair do jornal, encontrava na calçada Antonio Camelo, 
Joezil Barros, Gladstone Vieira Bello e outros nomes da cúpula do jornal. 
Comecei no primeiro turno do expediente da revisão, no período da tarde. Como todo principiante cheio de orgulho por estar trabalhando no maior jornal do Nordeste do Brasil naquela época, iniciei revisando textos sem maior importância, como, por exemplo, os anúncios classificados, os roteiros de cinema, teatro, anúncios fúnebres, matérias avulsas, etc. Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava de ler e escrever. Não foi difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui transferido com excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã. A família protestou, mas naquela época não havia a insegurança que domina as ruas nos dias de hoje. Saia do jornal, na Praça da Independência, seguia pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos Correios tomava o ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de Parnamirim. Trabalhar no período em que o jornal fechava a edição era da maior responsabilidade. Matérias mais importantes passavam pelas minhas mãos, como, por exemplo, a crônica de professor Aníbal Fernandes, o editorial do jornal, as chamadas de capa, inclusive as legendas das fotos que ilustravam a primeira pagina. Uma certa noite, com a cabeça pesada pelo sono, aconteceu o que eu considerei a minha primeira grande tragédia 
profissional. Deixei passar uma linha virada na primeira pagina. A linha de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E na capa do jornal, nem se fala. Ao entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo: - “Tem um aviso aqui prá você se dirigir à Superintendência.”. 
E o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o dr. Fernando Chateaubriand, filho de Assis Chateaubriand, o todo
poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de jornais e emissoras de rádio e televisão do Pais. 
A secretaria me anunciou e eu entrei na sala como se estivesse carregando um saco de 50 quilos na cabeça. Encontrei atrás de um amplo birô de madeira de lei um cidadão de quase dois metros de altura, que foi logo perguntando: 
- O senhor foi o revisor disso aqui ? - e apontou para o jornal na 
mesa, com um circulo vermelho no texto, onde se encontrava a fatídica linha virada. Não havia outra resposta, já sabendo por antecipação que estava demitido sumariamente. 
- “Fui eu, sim senhor.” 
- “Por que isso aconteceu ?” – quis saber o “todo poderoso”. 
- “Estava muito cansado, o sono me pegou.” – confessei. 
Aí, veio a grande surpresa. Dr. Fernando olhou prá mim, acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo de vida que sigo até hoje: - “Sabia que quando está revisando o jornal o senhor é mais importante do que eu, que sou o superintendente ?” 
Respondi que não sabia. Ele apertou a minha mão e se despediu assim: - “Procure superar o sono e você será um vencedor na vida. Vá em frente e que isso jamais se repita.” - O saco de 50 quilos que parecia carregar despencou da minha cabeça, mas da minha memória esse fato 
jamais se apagou. 
Secular prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência. 
Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo Amaro.
Capitulo 6 ULTIMA HORA 
Em 1963, um ano antes da Revolução Militar de 64, eu ingressava no 
Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de 
Goiana, na Boa Vista. Para mim, uma escola de jornalismo de alto nível, 
Independente de sua linha política, já que apoiava Miguel Arraes, tido como defensor do regime comunista. Minha coluna de estréia foi publicada no domingo, 11 de agosto de 10963. 
O diretor era Mucio Borges da Fonseca. O editor geral: Ronildo 
Maia Leite. Na chefia do departamento fotografico, Clodomir Bezerra. 
Assumi a editoria de rádio e televisão. Escrevia uma coluna que não 
ultrapassava um quarto de pagina. Diariamente. Dava noticias, fofocas e 
entrevistas curtas com gente que atuava nos meios de comunicação. 
Tudo dentro do ritmo dinâmico do jornal que primava por matérias 
polemicas, linguagem objetiva e direta, evitando os clichês costumeiros 
dos demais periódicos. Recordo de um fato que não se passou comigo, 
mas que me impressionou bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não 
me recordo, foi designado para fazer a cobertura de uma procissão no 
centro da cidade. Recomendação do editor: 
- “Não quero fotos de andor, nem de padre, nem de freira. Quero uma foto expressiva para ilustrar matéria de primeira página. Se vire.”. 
E o fotografo saiu da redação com uma preocupação na cabeça. Durante toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia uma parte do andor, ou um padre ou uma freira. Não sabia mais o que fazer para atender o pedido do editor. Já retornando à redação, avistou uma criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse rezando. Tacou o dedo no clique da máquina. Foi essa a expressiva foto ; primeira pagina do jornal. 
Essas provocações eram comuns na redação. O obvio não era o ideal. 
As inovações eram bem aproveitadas. Uma linha de matéria redacional 
poderia dar uma manchete de oito colunas, como aconteceu comigo. 
Certa feita, escrevi na coluna: 
- “FPF vai proibir o vídeo-tape do futebol”. 
Foram só essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me foi confidenciado por um diretor de Televisão, porque na época o futebol era gravado para exibição na noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no dia seguinte, lá estava a frase em letras garrafais de canto a canto da pagina, encabeçando a minha coluna. A repercussão foi grande, mas graças a Deus ninguém contestou a nota. Se não, eu estaria sumariamente
demitido. 
Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade 
Nua); Lula Carlos (Bola na Rede); Celso Marconi (Cinema); Wilton de
Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves (Luzes da Cidade), entre outros. 
Sem querer ser redundante, fiquei na Ultima Hora até a sua ultima hora, 10 horas da manhã do dia 1 de abril de 64. Entreguei minha matéria na redação e me preparava para sair, Ronildo Maia Leite fez o pedido: 
- “Quando você chegar no centro da cidade, observe se há algum 
movimento do Exercito e liga prá gente.” 
Jovem, sem muito conhecimento dos rumos da política, não soube 
avaliar o dramático significado daquele pedido. Naquela mesma manhã 
não cheguei a dobrar a Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel 
Borba, andando porque não tinha carro. Os caminhões carregados de soldados do Exercito seguiam em direção ao jornal para empastelá-lo. 
Segundo Ronildo Maia Leite: - “Ultima Hora era um jornal que nada temia e pagou caro pela ousadia.” 
Fim melancólico de uma verdadeira escola de jornalismo, criada por Samuel Wayner, onde aprendi muito convivendo com gente que realmente sabia fazer jornal. 
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Capitulo 7 AS REVISTAS 
Não me perguntem como nem por que, mas o certo é que assumi a 
tarefa de ser representante-correspondente da já extinta Revista do Radio, 
que na época era a publicação semanal segunda colocada em vendas em todo o Brasil (a primeira era a Revista “O Cruzeiro”). A Revista do Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e tinha como secretário de redação Borelli Filho. As duas paginas centrais eram ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”, onde os artistas mais consagrados eram visados pelas fofocas e disse-me-disse. Aliás, nessa época só existia o rádio e a Nacional do Rio era a mais poderosa Emissora do País, cujo “cast” reunia os maiores nomes da musica brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais o que revelava a Madrinha do Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba chegava a empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas. 
A coluna que escrevia era “Rádio de Pernambuco”. A matéria era enviada pelos correios, razão por que existia a preocupação de mantê-la mais atualizada possível porque chegava na redação da revista com alguns dias de atraso. Eram pequenas notas sobre o rádio que se fazia em Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as fofocas, etc), com uma ou duas fotos no máximo. Era minha tarefa tambem promover a revista nos meios de comunicação. Sempre que 
era autorizado pela Editora distribuía exemplares nas portarias dos programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal. Quando esteve 
no Recife, Anselmo Domingos me convidou para trabalhar na sede da 
Revista, no Rio de Janeiro, mas o apego à família e a minha própria idade 
(pouco mais de 20 anos) me impediram de seguir outro rumo na vida. 
Foi nessa época que a Televisão surgiu e fui convidado para atuar na Revista TVlandia, que nascia como um guia de programação semanal das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação circulou no dia 19 
de junho de 1961, com a foto de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava uma pagina sobre o Radio. Outros colaboradores: Hilton Marques (hoje 
produtor do programa de Jô Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz Mendonça, fundador do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém; 
Renato Melo, produtor de TV, entre outros. A revista era dirigida pelo publicitário Oliveira Junior e por Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia 
de registros de marcas e patentes. Rildo Uchoa integrava a direção cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as fotos. 
Os artistas que mais figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi, 
Arlete Sales, Nair Silva, Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal. 
Depois de alguns meses de circulação, assumi a editoria geral da Revista, 
que era editada pela Gráfica Ilha, que funcionava no bairro de São José.
Quatro meses depois de circular gratuitamente, TVlandia passou a ser vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais, 
um marco na historia dos periódicos que existiram até hoje em Pernambuco. 
Capa da Primeira Edição da Revista TVLANDIA (1961) 
A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como César Brasil. Outra equipe foi formada: Adel Barros na gerencia 
geral e os colaboradores Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino, Emanoel Rodrigues e outros. A TVlandia viveu até meados de 
1963, quando foi criada a Canal, outra revista tipo de bolso, com o mesmo 
objetivo. Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e Fernanda Simões, 
com secretaria de Miguel Santos e uma equipe de colaboradores de peso: 
Dias da Silva, famoso psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os 
jornalistas Romildo Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de criada, mudou de direção. Assumiram o publicitário Waldir Machado e 
o artista plástico Wellington Virgolino, com a colaboraação editorial de 
Fenando Spencer, Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando Bastos. Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma tiragem média de 
dois mil exemplares semanais e uma boa aceitação por parte do publico.
NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA REVISTA CANAL 
Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio.
Capitulo 8 
TVU – 27 ANOS NO BATENTE 
A placa ainda existe na recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade 
de ampliar os horizontes da Educação e de elevar o nível da Cultura do povo do Nordeste e do Brasil, foi instalada esta primeira Televisão Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco. Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da Educação e Cultura: Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof. Murilo Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de Lemos. Coordenador Geral da TV-Universitaria: Prof. Manoel Caetano Queiroz de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.” 
Integravam o quadro dos primeiros diretores: José da Costa Porto (diretor administrativo); Nédio Cavalcanti (diretor técnico); Jorge José Barros de Santana (diretor de produção); Milton Baccarelli (diretor de tele- teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho (diretor de programação). Havia 
também um núcleo de Musica, dirigido por Rafael Garcia. Na TVU nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra Armorial. 
Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de Carvalho, uma das pessoas que mais contribuiu para o meu desenvolvimento profissional. Comecei como produtor de programas culturais. O primeiro tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou em abril de 1969, lembrando uma enciclopédia em vídeo. Um dos programas de maior repercussão, do qual participei junto com Sergio Kyrilllos, foi “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Em convenio com a Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma competição cultural com a participação das escolas. Para evitar a disputa antipedagógica Escola x Escola, a briga era alunos x alunas. Meninos contra as meninas, disputando quem acertava mais perguntas sobre conhecimentos gerais. Nessa linha cultural, integrei a equipe de produção do programa “A Alma 
Encantadora das Ruas”. Durante 8 anos fui o produtor do programa “João Alberto Informal”, apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí 
a coordenação da equipe esportiva que gravava os jogos do campeonato e 
cheguei a participar como repórter da inauguração dos estádios estaduais 
de João Pessoa e Campina Grande, 
Em 1971, a OEA – Organização dos Estados Americanos – patrocinou o Projeto Multinacional de Televisão Educativa, com o propósito de promover o intercambio de técnicos entre os países que desenvolviam tecnologias educativas. Fui escolhido para representar o Brasil, juntamente com a companheira Ivanise Palermo. Designados para as cidades do México (D.F) e Bogotá, Colômbia, participamos da experiencia durante dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.
Professor e alunos do Curso de Radio Educativo – Porto Alegre - RS 
ATVU me proporcionou outras viagens. Participei de um Curso de 
Radio Educativo, patrocinado pelo Prontel – Programa Nacional de 
Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação Educacional 
Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor da BBC, de Londres, prof. John Volden e teve como local um centro educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão, na região 
metropolitana de Porto Alegre. 
Ainda como representante da direção da TVU participei de várias 
reuniões de dirigentes de Emissoras Educativas do Brasil. Esses encontros 
ocorriam todos os anos sempre numa capital diferente – Rio de Janeiro, 
São Paulo, Porto Alegre, Terezina, Fortaleza, Manaus. 
Durante 27 anos exerci várias atividades no Canal 11. Depois de 
ingressar como produtor, fui repórter, apresentador de programas, 
chefe do departamento de jornalismo e vice-diretor, quando resolvi me
aposentar em 1992. 
Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo cumprimentado por 
dirigente do MEC. Na foto, o dr. Francisco Dário Mendes da Rocha, Diretor Geral do Canal 11 e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE. 
Com as colegas Wanda Phaelante e Alice Rolim.
A NOITE É DO 11 
Comandado pelo saudoso apresentador José Maria Marques, o programa “A Noite é do 11” reunia estudantes da rede de ensino do Estado.. Como diretor do programa, contei com a valiosa colaboração do companheiro Sérgio Kyrillos e a participação de toda a equipe técnica da TVU. 
.
RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO 
Foram companheiros de todas as horas na TV-Universitária. 
O saudoso Rui Cabral se notabilizou com o quadro “Cadeira de Engraxate”, na TV-Jornal, chegando a entrevistar o então Presidente da Republica, Juscelino Kubstchek. Maranhão, experiente professor universitário na área da Comunicação Social, advogado e escritor, foi diretor administrativo e de Jornalismo do Canal 11. Tivemos alguns “pegas”, mas todos imbuídos da vontade de fazer o melhor pela Primeira Televisão Educativa do Brasil.
Capitulo 9 
CARNAVAL PELA TVU 
Na década de 70 o folião se divertia, preferencialmente, de duas maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar iam aos clubes sociais (Português, Internacional, Cabanga, Sport, Nautico, etc.) onde as grandes atrações eram as orquestras contratadas para tocarem nas quatro noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson Ferreira, Guedes Peixoto, José Menezes, Clovis Pereira, Duda, etc. A outra forma, mais popular, era assistir, no centro da cidade, aos desfiles das agremiações carnavalescas, que recebiam subvenções da prefeitura para ajudar nas exibições perante o publico. Algumas agremiações chagavam a arrastar grandes torcidas ao espetáculo. Entre elas estavam o Clube das Pás, Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria do Ritmo, Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José, Banhistas do Pina, Caboclinhos Sete Flechas, e tantas outras. Local dos desfiles: Avenida Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico. 
A TV-Universitária tinha uma programação voltada para a educação e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval, a TVU se notabilizava ao transmitir os dois grandes bailes pré- carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os desfiles das agremiações. Tanto nas quatro noites como no desfile das campeães a Emissora fazia o registro de tudo, conquistando uma audiência realmente invejável. Participei desse trabalho, exercendo as atividades de apreserntador e repórter, e ainda cheguei a comandar um programa na noite da quarta-feira de Cinzas, intitulado “Balanço do Carnaval”, reunindo jornalistas, radialistas, dirigentes de agremiações e da Comissão Organizadora do Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e negativos dos festejos. Esse programa conseguia movimentar os carnavalescos, que 
Sempre o aguardava com certa ansiedade. 
Não posso deixar de reconhecer que fazia tudo com muito entusiasmo e empolgação . Era um torcedor inveterado, que lutava pelo 
engrandecimento do Carnaval mais popular, aquele que nascia na 
alma da gente humilde dos bairros mais proletários da cidade. Infelizmente, a violência e o custo de vida foram modificando hábitos e 
costumes do nosso povo. Os desfiles das agremiações já não despertam 
o interesse da população, poucos são os bailes carnavalescos e já não 
existem frevos como antigamente. 
Sem ser saudosista demais, acho que o Carnaval mudou para pior, 
lamentavelmente.
Programa “Balanço do Carnaval” - TVU 
Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show.
Capitulo 10 O REPORTER 
Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o privilegio de ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape portátil, mais conhecido por mini-tape, que substituía as câmeras de filmagem em 16 milimetros. O filme cinematográfico era mais caro e 
mais complicado. Exigia laboratório para revelar as filmagens feitas. 
O material era editado para tirar as falhas e o editor tinha que redigir o texto de acordo com o tempo útil do filme finalizado . No caso do mini- tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o repórter podia fazer a narração e/ou a entrevista simultaneamente com a captção das imagens, como acontece hoje em dia. 
O primeiro vídeo-tape portátil adquirido pela TV-U consistia em 
uma câmera e um gravador, que fazia a gravação em fita magnética. 
Prático porque quando não precisava de edição a matéria era transmitida imediatamente. 
Com a mobilidade do VT portátil fiz algumas matérias inéditas. 
Por exemplo: mostrar todo o funcionamento do tradicional farol 
de Olinda. Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar na área onde 
a enorme lâmpada gira durante a noite orientando os navios que passam 
pela costa pernambucana. Foi preciso autorização do Comando da Base 
Naval para a realização da reportagem. 
Outra matéria cheia de lances emocionantes foi o acompanhamento 
da Buscada de Itamaracá, num barco meio rústico, que exigiu muito equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar agitado quase jogou o câmera e 
o seu equipamento no mar. Mas, conseguimos realizar a proeza a tempo 
de exibir o vídeo no programa “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. 
Quando o novo comandante do Segundo Comando Aéreo foi realizar 
a sua primeira visita à Base Aérea de Natal (RN), o mini-tape o acompanhou. Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de 
apresentação do novo comandante e retornamos ao Recife. Na volta, o 
piloto achou por bem sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o 
intestino pela boca... 
Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”, que existia em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, em 1995. 
Estava com a pauta da manhã voltada para a chegada no aeroporto do então 
Ministro da Educação, Paulo Renato Souza Matéria recomendada até pela TV-Educativa, do Rio de Janeiro. 
No exato momento em que uma Emissora de Rádio divulgou a ocorrência, que matou sete operários e deixou mais de dez feridos, seguí
para o local, mesmo contrariando a minha equipe que achava mais importante a chegada do Ministro. Com a câmera postada na frente da fábrica, fiz a “cabeça” da matéria (repórter em primeiro plano da 
ocorrência) registrando ao fundo a passagem das ambulâncias conduzindo as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar o Ministro e gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto. 
Quando cheguei na redação levei uma bronca do meu chefe, Luiz 
Maranhão Filho, alegando que havia me arriscado muito e, contrariando a 
pauta, poderia ter perdido a entrevista com o Ministro, que era muito mais 
importante. 
As duas matérias foram enviadas, naquele tempo via Embratel, para a edição nacional do Jornal da TV-Educativa, que era transmitido para todo o Brasil. E a surpresa foi quando o jornal abriu com a matéria da explosão da fábrica. A entrevista com o Ministro foi exibida no ultimo bloco do jornal. Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o município de Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em 2013, fazendo novas vitimas. 
Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971, 
Cinegrafista Jairito e o repórter Miguel Santos..
Capitulo 11 
VERDADE OU MENTIRA ? 
Polemico, irreverente, ousado, destemido, “Verdade ou Mentira” foi um programa que se notabilizou na TV nordestina no ano de 1980. Ninguém até hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas conhecidas da sociedade. Foi noticia nos grandes jornais e nas revistas nacionais de maior circulação, como a “Veja” e “Isto É”. Toda semana repercutia nas paginas dos jornais com comentários favoráveis e contraditórios em torno dos personagens que enfrentavam inquisidores corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber o que
era verdade e o que era mentira em relação aos fatos mais contestadores da vida dos entrevistados. 
O programa considerado de mais “baixo nível” foi com o babalorixá Pai Edu. Um telespectador chegou a escrever na secção ”Cartas`a Redação”, do Jornal do Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num programa de televisão, tendo à sua frente pessoas ilustres como jornalista, advogado, pastor evangélico, sociólogo e parapsicólogo, ofendeu, de maneira gritante, não apenas a dignidade da sociedade, mas o nome do próprio Deus e de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou daqueles homens ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor que fizeram tremer os céus e a Terra.” 
Outro debate que deu repercussão no Brasil inteiro foi com a deputada Aracy Nejaim, ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim. Na Revista “Veja” o caso foi relatado assim: 
“PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA EX-MULHER NA TV. – 
O Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da 
cidade para evitar que o eleitorado local assistisse a uma entrevista da sua ex-mulher Aracy Alves de Souza, no programa “Verdade ou Mentira”, da TV-Jornal do Comercio do Recife. No programa Aracy contou a historia de sua convivência com Nejaim. Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy acusou o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar pensões alimentícias.” - A matéria ocupou uma pagina inteira da Revista. 
Na “Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX- MULHER” - a Revista também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com fotografias do casal. 
Eu fazia a produção do programa, com supervisão de Jorge José e apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por volta das 
11 da noite. Havia sempre pessoas que se recusavam a partiripar do programa pelo impacto que ele causava na sociedade. Lembro que tentei levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira” o polemico atacante Dario Maravilha, que jogava pelo Sport. Ele foi incisivo: - “Meu caro, esse programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...” e revelou quanto 
queria em dinheiro para participar. O programa não tinha verba para isso e 
Dario não foi “saco de pancadas” no programa. 
Outras participações surpreendentes, foram a jornalista Fátima Bahia, o delegado de policia João Acioly, o vereador Brás Batista, o diretor do DETRAN Walter Benjamin, o “rei do melaço” Gileno de Carli, o professor Abdias do Nascimento, que chegou a revelar que o Brasil era o país mais racista do mundo e terminou abandonando o programa diante das duras perguntas dos entrevistadores, entre eles o antropólogo Roberto Mota. 
Até hoje, não houve um programa de Televisão em Pernambuco que
conseguisse superar a popularidade do “Verdade ou Mentira”. A TV- Cultura, de São Paulo, mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da 
ousada, corajosa e polemica atração da TV-Jornal. De saudosa memória... 
Pagina da Revista “Isto é”
Capitulo 12 ELEFANTE E CONFUSÃO 
Como produtor-executivo do “Programa Jota Ferreira”, transmitido ao 
vivo do estúdio-auditorio da TV-Jornal, enfrentei varias situações inusitadas. Programa de grande audiência nas tardes dos sábados, sempre 
com o auditório lotado, a atração tinha o formato de variedades, com quadros de calouros, participação de artistas de passagem pelo Recife e outras atrações, que preenchiam três horas de duração. Era um programa completo dentro de suas limitações, com quadro próprio de bailarinas, grupo musical com 7 musicos e tudo que um programa de variedades exigia. Pelas pesquisas, em muitos sábados o programa superava a audiência do inesquecível Chacrinha, que mantinha um programa .semelhante na Rede Globo. 
Eu ficava comandando os passos de Jota Ferreira posicionado diante 
dele no espaço entre o palco e a platéia. Usava um interfone para me comunicar com a suíte e o operador do som. Tinha dois bons auxiliares: Zuca Show e Wilson Silva, este ultimo coordenava os ensaios dos calouros do programa, no meio da semana. 
Os artistas do sul do País, que viam ao Recife, invariavelmente, participavam do programa para divulgação de seus shows e de seus discos. 
A produção se encarregava também de buscar atrações e uma delas fui encontrar em um circo de categoria internacional que fazia temporada na cidade. Após assistir ao espetáculo a direção do circo pediu que eu escolhesse um dos números para apresentar no programa, em troca da promoção da temporada. Optei pelo elefante que fazia malabarismos. Sabia que não haveria qualquer problema de espaço físico para que o animal adentrasse ao palco, porque as instalações da TV Jornal permitiam grandes montagens. 
O elefante chegou com o seu domador na hora marcada. Na ampla 
area da cenografia do Canal 2, onde são montados e guardados os cenários dos programas, fizemos um pequeno ensaio. Jota subiria no elefante e daria uma volta pelo palco. Quando Jota anunciou o elefante do circo e este entrou em cena o au ditório veio abaixo. E quando Jota foi pego pela tromba e jogado no dorso do animal houve até desmaios de algumas ”fanzocas” diante da coragem do apresentador do programa. 
Eufórico e emocionado, Jota procurou no final do programa o fotografo “Lambe-Lambe”, como era conhecido, que costumeiramente fotografava tudo o que acontecia no programa para depois vender copias das fotos entre os artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse para o fotógrafo: 
- “Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”
Aí, veio a resposta de “Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir: 
- “Seu Jota, a máquina estava sem filme. Eu esqueci de carregar. 
Nessa época, não havia ainda a fotografia digital e Jotinha deixou 
de guardar para sempre o inesquecível momento em que passeou no dorso do gigantesco animal... 
Uma realização que marcou a historia do programa foi o 
“Campeonato das Feirinhas”, reunindo representações das feirinhas típicas 
que funcionavam nos bairros do Recife criadas pela Prefeitura, na administração do Prefeito Gustavo Krause. Os bairros se agitavam e 
havia uma concorrência muito saudável entre os feirantes. 
A audiência do programa era tão consagradora, que permitiu que fosse realizado um grande show comemorativo do primeiro aniversário no no Geraldão, em 1981, com casa lotada e a presença de consagrados nomes do cenário artístico nacional. 
Outro fato inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um 
programa. Eu estava passando o nome do próximo cantor, através de uma 
“dália” (uma cartolina com o nome que eu mostrava para Jota anunciar – não existia ainda o ponto eletrônico), quando observei uma agitação entre as bailarinas. As tapadeiras que compunham o cenário também balançavam. Não havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do comum nos bastidores. Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do 
cantor e apresentei outra, na qual estava escrito “Chama intervalo”. 
Quando os comerciais começaram a ser exibidos corri para saber o 
que estava acontecendo. Era Zuca com um revolver na mão, correndo 
atrás de um calouro que havia se insinuado para pegar na coxa de uma 
das bailarinas. O corre-corre pelos estreitos corredores dos bastidores apavorou todo mundo. Gritei para Zuca e ele me atendeu: 
-“O cabra safado merecia um tiro na testa.” 
Acalmei Zuca, ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir aquele 
programa que poderia ter dado oportunidade de Jota noticiar mais um 
crime como repórter policial em pleno auditório do Canal 2. 
Ainda bem que tudo terminou em paz.
Momento de homenagem no Programa Jota Ferreira. Na foto, Zuca, a bailarina Dalva e o comandante do programa.
Capitulo 13 MINHA ESTREIA NO CINEMA 
Minha primeira e também ultima participação no Cinema foi algo que me surpreendeu, do mesmo jeito como foi minha atuação ao lado da estrelissima Bibi Ferreira no teatro. 
O cineasta Jarbas Barbosa, irmão do Velho Guerreiro Chacrinha, veio 
filmar aqui no Recife “Juventude e Ternura”, o longa-metragem que marcava a estréia de Wanderléa - Rainha da Jovem Guarda - no cinema. 
A cantora estava no auge da fama, com várias musicas nas paradas de sucesso. Eu trabalhava na TV-Jornal do Commercio, na área administrativa, e fui encarregado de dar apoio ao evento. Jarbas queria que a estrela Wanderléa, fosse recebida por uma multidão no aeroporto. 
Queria também uma apresentação especial do programa “Bossa 2”, comandado por José Maria Marques, onde ela faria uma participação como cantora consagrada pelo publico jovem. Havia também no roteiro do filme cenas nas praias de Boa Viagem e Candeias e na recepção do Grande Hotel. Durante uma semana fizemos ampla divulgação dos eventos e tudo saiu como o cineasta desejou: multidão no aeroporto, auditório lotado e eu fazendo das tripas coração para que toda a equipe de filmagem transitasse livremente nas áreas escolhidas para as tomadas de cena. Foi produzida uma audição especial do programa “Bossa 2”, que era comandado pelo saudoso José Maria Marques. Além das cenas no auditório, com Wanderléa 
cantando acompanhada de conjunto musical e bailarinas e sendo delirantemente aplaudida pelo público do auditório, foram feitas cenas nos 
controles de áudio-e-video, onde o ator Anselmo Duarte, aparece exigindo 
um melhor enquadramento na imagem da cantora, já que ele interpreta no 
filme o papel de empresário de Wanderléa. 
“Juventude e Ternura” é um filme romântico e musical por excelência. Produzido por “JB Produções Cinematográficas Ltda.”, com 
direção do competente cineasta Aurélio Teixeira, fotografia de José Rosa e 
direção musical de Erlon Chaves. No elenco, além do consagrado galã Anselmo Duarte, participam Enio Gonçalves, Bobby de Carlo, entre outros. 
Fiquei o tempo todo colaborando com o diretor do filme e na 
cena em que Wanderléa concedia uma entrevista coletiva no hall do 
Grande Hotel Jarbas pediu: 
- Miguel arranja por aí dois ou três repórteres para participar da cena. 
Você mesmo será um deles. Bote paletó e gravata e vá pro hotel. Lembro que convidei Hélio de Oliveira, que era o produtor do “Bossa 2”, para dar 
uma de repórter também. 
Nunca pensei que um dia seria protagonista de um filme nacional,
Botei o terno e segui para o hotel. Luzes.... câmeras.... ação. Todos a postos, após um rápido ensaio, e tudo saiu de primeira. A “avant premiere” do filme no dia 20 de abril de 1968, teve como patronesse dona Lotinha Pessoa de Queiroz, que doou toda a renda da bilheteria do Cinema 
São Luiz para a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer. 
Com o cinema lotado, compareci à estréia para avaliar o meu desempenho. 
Eu apareço fazendo uma pergunta a Wanderléa, embora minha voz tenha sido dublada. A cena dura uns 10 a 15 segundos, mas dá prá reconhecer quem eram os personagens. Quem me conhece logo me identificou na cena. 
Matéria publicada no jornal Diário da Noite, em 20/04/1968.
Além de haver permanecido em cartaz por 15 dias no cinema São 
Luiz, alguns anos depois o filme foi exibido na Rede Globo e na TV Educativa, inclusive numa homenagem a Anselmo Duarte no dia de seu 
falecimento. Para os incrédulos ou invejosos, informo que tenho o filme inteiro, gravado em DVD e a foto abaixo é uma cena do filme. 
Miguel Santos aparece no filme entrevistando a estrela 
Wanderléa. Ao lado, o galã do cinema brasileiro, Anselmo 
Duarte, ao lado de Hélio de Oliveira. A cena foi gravada no “hall” do 
Grande Hotel, na época o mais luxuoso da cidade. 
Wanderaléa numa entrevista para o rádio.Ao meu lado o jornalista Paulo Granja.
Capitulo 14 
MEU BAIRRO É O MAIOR 
As competições realizadas pela Televisão sempre tiveram uma 
boa aceitação por parte dos telespectadores. A experiência começou 
na TVU com o programa “A Noite é do 11” e ganhou um vulto maior 
quando produzimos o “Meu Bairro é o Maior”, na TV-Jornal do 
Commercio. Antes disso, a Emissora já havia realizado um torneio semelhante envolvendo as principais cidades do interior do Estado. 
“Meu Bairro é o Maior” proporcionou uma participação ativa das lideranças comunitárias, das instituições de ensino, das agremiações sociais, enfim, de todas as pessoas que se empenhavam para que o seu bairro conquistasse o premio maior do programa, que era a construção de uma nova praça por parte da Prefeitura do Recife, que dava apoio institucional à competição. 
O programa tinha um sentido de revelar valores artísticos, dando 
oportunidades a novos cantores, compositores, dançarinos, atletas amadores, além de uma gincana de conhecimentos gerais e um show 
livre que era organizado e apresentado pelos próprios bairros disputantes. 
A comissão que julgava as tarefas era constituída por jornalistas, 
professores, universitários e outros segmentos da sociedade. Durante 
praticamente todo segundo semestre de 1973 o programa apresentou cerca 
de 24 bairros do Recife, sempre aos sábados na programação noturna do 
Canal 2, com direção de Jorge José, apresentação de José Maria Marques, 
produção de Miguel Santos e coordenação de Djalma Miranda e Marcio 
Maia. 
Como a disputa era muito acirrada em vários momentos era preciso 
a ação de agentes de segurança para conter os ânimos dos mais exaltados. 
Alguns lideres comunitários ficaram mais conhecidos nos seus bairros por 
causa da visibilidade do programa, e um deles chegou a se candidatar a vereador na eleições municipais. 
A grande final da maratona foi entre os bairros de Casa Amarela e Arruda, vencendo este ultimo numa disputa realmente muito empolgante. O prefeito do Recife em exercício, Wandenkolk Wanderley entregou o troféu ao bairro vitorioso. Em seguida, os participantes e a torcida que estavam na Televisão, saíram pela Rua do Lima até ao Arruda, proporcionando um verdadeiro Carnaval fora de época na cidade. 
Outros bairros que se destacaram na competição: Iputinga, Torre, 
Estância, Cajueiro, Tejipió, Beberibe, Casa Forte e Vila do IPSEP. 
Na página seguinte a reprodução de uma das reportagens que o Jornal do 
Commercio costumava fazer a respeito do programa.
Capitulo 15 
GUINA, QUANTA SAUDADE 
Aguinaldo Batista de Assis, pernambucano de Palmares, era um moço modesto, sempre bem humorado, corpo franzino, um tanto ou quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva, um homem de caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o 
gênio do humor nas veias e com o desejo de só fazer o bem. 
Conheci Aguinaldo Batista através do comunicador Walter Lins, na Rádio Clube. Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do Radio”, editada no Rio de Janeiro e distribuída para todo o Brasil. Eu era representante-corrrespondente e mantinha uma coluna semanal com as 
noticias do radio pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval. 
Walter Lins comandava o “Carrocel”, que era apresentado no 
pequeno auditório da Radio Clube. Dei a idéia de produzir uma revistinha carnavalesca para o programa. Ele gostou da sugestão e disse que ia me 
apresentar a Aguinaldo, ídolo do grande publico, com seus quadros humorísticos. Grande parte de sua imensa popularidade se devia ao tipo 
“Azarildo”, que ele interpretava no programa “Atrações do Meio-Dia”. 
No dia da apresentação, pensei comigo: 
- “Esse cara vai me levar na gozação”. 
Aconteceu o que eu jamais esperava. Aguinaldo apoiou a minha 
idéia, ajudou-me a passar tudo para o papel e realizamos juntos a revistinha, que teve a participação de atores, cantores, músicos e dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana seguinte. 
Daí em diante, não nos largamos mais. Ficamos amigos inseparáveis. 
Para onde um ia o outro ia também. Amigão nosso também era oJosé Augusto Branco, que ainda atua na Rede Globo morando no Rio de Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do tamanho de um elefante, Aguinaldo era admirado por todos, colegas, ouvintes, telespectadores, todos enfim. Certa feita, ele me confessou:
- “Tem uma mocinha apaixonada por mim. Ela é linda e de família rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está apaixonada apenas pelo artista. Esse namoro não pode dar certo” 
E acabou o namoro. Conheci a moça, realmente muito bonita e de 
família abastada. Mas, Aguinaldo era assim. Extremamente sincero. Não tolerava ser ingrato com ninguém. Na época em que a Empresa Jornal do Commercio atravessava dificuldades financeiras, Aguinaldo estava enfrentando também problemas semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as pessoas mais próximas dele desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos Macena num estúdio de gravação. O que fazer para ajudar Aguinaldo de uma forma que ele não desconfiasse de nada ? 
Macena inventou uma historia e deu certo: 
- “Aguinaldo, a loja Tiradentes quer um texto para vender rápido 20 
geladeiras. Aqui estão os detalhes. Faça o texto logo, porque a loja já mandou o dinheiro da produção prá voce Aqui está,” – e Macena passou 
o dinheiro da cota que fizemos prá ele. Aquinaldo acreditou. Fez o texto, 
recebeu o dinheiro e Macena gravou para dar a entender que era tudo verdade. Só assim ajudamos Aguinaldo a sair de um sufoco, sem que ele entendesse que era realmente uma ajuda. 
Aguinaldo casou-se com a nutricionista e professora, Conceição Lopes, teve um filho (Guiga) e morava na Madalena. Família feliz, que vivia na mais completa harmonia. 
No ano de 1977, Aguinaldo e Macena comandaram o programa 
“Sabado Show”, transmitido do auditório da TV-Jornal aos sábados, à 
tarde Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia no comando do programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil presepadas e 
conseguiam fazer o publico rir o tempo todo. Era, por assim dizer, um 
programa de variedades ancorado por dois excelentes comediantes. 
Doente dos rins, Aguinaldo chegou a se submeter a sessões de hemodiálise três vezes por semana. Uma batalha contra a morte. Numa das sessões o coração não resistiu. No velório do Hospital Português, fui vê-lo pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei copiosamente. Que Deus o tenha.
Capitulo 16 SHOW DO HOMEM COM “H” 
Tive o privilegio de administrar, juntamente com Jota Ferreira e Jorge José, um show para o mega-empresário Manoel Poladian. Ficamos 
responsáveis pela mídia, contatos com as autoridades, logística de transporte, hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que nos rendeu um percentual da renda liquida do espetáculo. 
Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no 
batente. É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina 
Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que tiveram shows administrados por Poladian. Na relação dos brasileiros estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal Costa, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre outros. Como empresário de faro 
aguçado e muita experiência, Poladian costuma também contratar um artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele. 
Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo “Secos & 
Molhados” para fazer carreira solo. Durante os dois primeiros anos Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela 
irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que ganharam rapidamente o gosto popular. Depois de se exibir no Anhembi, 
em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Ney trouxe suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior show do ano”, o que realmente aconteceu. O espetáculo foi realizado no dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife. Os ingressos foram disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos, que queriam embargar o show. Os empresários - Poladian, Jota 
Ferreira e eu – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos 
relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa, principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite” divulgou com certo 
sensacionalismo, os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre 
a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses 
lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações 
contratuais por parte dos empresários.
Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O Geraldão pegou o maior publico de toda a sua historia. Para mais de 20 mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos, quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia. Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado para conter a multidão. Lembro 
que logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por 
cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de 
Bombeiros estacionada ao lado. Foi nessa hora que a policia pediu para 
fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados. 
Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto e fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer. 
. No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show do Homem com H”. E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu, certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e 
causaram toda essa superlotação 
O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente compensação financeira.. 
Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o show “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na voz de Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas houve um erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes, para um publico mais refinado. O ginásio não era local para Gal. Na ânsia de voltar a ganhar muito, perdemos tudo, pelo menos o trabalhão que tivemos. 
Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço: 
- “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....” 
(Nas paginas seguintes, alguns recortes dos jornais noticiando as 
broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios 
ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos 
os jornais da época).
Capitulo 17 MEU ENCONTRO COM LULA 
Ao assumir a direção da Massangana Multimídia, a produtora de vídeo da Fundação Joaquim Nabuco, o meu amigo Jorge José Santana me convidou para participar de alguns projetos da instituição. Um desses 
projetos tinha o patrocínio da SUDENE e se destinava a ressaltar a importância dos incentivos fiscais oferecidos pela autarquia de desenvolvimento do Nordeste. Os vídeos me levaram a conhecer destacadas empresas localizadas na região, entre as quais uma industria 
de plástico no Distrito Industrial de João Pessoa, uma empresa de confecções em Natal-RN, a Raymundo da Fonte em Paulista-PE, entre 
outras. 
Mas, o projeto que mais me emocionou foi o denominado “Nomes 
que fazem a diferença”, no qual eram ressaltadas personalidades publicas que se destacaram em vários segmentos da nossa sociedade. Tive o privilegio de produzir os vídeos sobre o empresário Armando Monteiro Filho, o ex-governador Cid Feijó Sampaio e o ex-prefeito do Recife, José 
do Rego Maciel. O trabalho consistia em realizar pesquisas sobre cada um 
dos entrevistados, obter depoimentos de pessoas do seu rol de amigos, 
companheiros de trabalho e familiares, elaborar um roteiro para as entrevistas comandadas pela experiente apresentadora Carmen Peixoto e, 
finalmente, ilustrar a edição, com imagens recentes e/ou colhidas dos 
álbuns de família dos entrevistados. 
Durante toda essa minha experiência profissional fui repreendido publicamente duas vezes. A primeira quando tentei captar imagens do dr. José do Rego Maciel e família assistindo missa na Capela de Jesus Menino de Praga, existente na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem. Cheguei cedo com a equipe, instalamos a câmera, iluminação e som para a captação da missa e da presença de familiares. Na época, o filho do homenageado era o Vice-Presidente da Republica, Marco Antonio Maciel. Poucos minutos antes da missa duas viaturas da Policia Federal chegaram à Igrejinha, fazendo o cortejo de segurança do carro que conduzia o vice- presidente. E logo que ele entrou no recinto e viu o nosso “circo” armado mandou um dos seguranças solicitar delicadamente a nossa retirada do local, porque não queria que aquele momento íntimo da família fosse registrado por câmeras, luzes e tudo mais. Fiz o que foi solicitado, mas o câmera foi orientado por mim para buscar, mesmo de longe e sem a iluminação adequada, algumas imagens do dr. José do Rego Maciel ajoelhado, rezando, ao lado do filho. Essas mesmas imagens foram colocadas no vídeo e causaram a emoção tão esperada por todos nós.
A segunda repreensão foi do empresário Armando Monteiro Filho. 
Na lista que tinha sobre os seus grandes amigos estava o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a Presidente da Republica. 
Demonstrei a Jorge José a minha disposição de ir à Brasília ou à São Paulo, 
onde ele estivesse, para obter o depoimento de Lula para o documentário. 
Mas, o projeto não dispunha de verba suficiente para essa despesa. Pesquisei por onde andava Lula e, coincidentemente, ele estava agendado 
para receber uma homenagem em Petrolina e que, depois, viria para o Recife. No dia da homenagem, segui com a equipe para o Aeroporto dos 
Guararapes. Em nenhum balcão das empresas aéreas havia o registro do 
passageiro Luiz Inácio Lula da Silva. Fui bater com os costados na Infraero e lá me orientaram para procurar os hangares das empresas que se utilizam de aviões particulares. Dito e feito. No hangar da Empreiteira Queiroz Galvão confirmei a chegada de uma aeronave vinda de Petrolina com o precioso passageiro. Montei meu esquema para gravar o desembarque de Lula e logo em seguida o depoimento que ele certamente daria se referindo ao dr. Armando, mas eu não contava que o homenageado estaria também na recepção. Quando o dr. Armando me viu, foi categórico: 
- “Por favor, não fica bem essa ostentação para o nosso encontro que não é publico. É encontro muito reservado...” 
- “Dr. Armando, vamos ficar escondidos. Lula não vai notar que estamos aqui. Só depois que o senhor se retirar é que vou conversar com 
ele e explicar a nossa intenção.” – foi o que eu disse. 
Lula recebeu um forte abraço do dr. Armando ao descer do avião. 
Conversaram por um período e, em seguida, dr. Armando foi embora. 
Fui ao encontro de Lula, expliquei o que estava buscando e ele, de imediato, se propôs a dar o depoimento. Enquanto urinava no 
banheiro da sala vip ele perguntava detalhes do trabalho que eu estava 
realizando. Ainda no banheiro, trocou de camisa, penteou os cabelos 
e disse: - “Estou pronto para falar.” 
A câmera foi ligada e ele começou: 
- “A minha relação de amizade com dr. Armando Monteiro é 
uma relação, eu diria, até um pouco recente,. Primeiro, eu conhecia dr. Armando de leituras sobre o Governo João Goulart; depois eu me inteirei umn pouco mais sobre dr. Armando nas conversas com Brizola; depois euconheci um pouco mais dr. Armando nas eleições de 1994, quando ele 
era candidato a Senador , e aí eu acho que reside a interação das pessoas. 
Como é que nasceu essa nossa amizade ? Eu estava em Petrolina, nós íamos fazer um comício, eu era candidato a Presidente pelo PT, o Armando Monteiro era candidato ao Senado na chapa de Arraes, mas apoiava o
Brizola enquanto candidato a Presidente da Republica, e quando dr. Armando foi falar , o publico de Petrolina, uma parte do publico, deu uma 
vaia no dr. Armando. E vaiaram Dr. Armando porque ele falou o nome do 
Brizola, ou seja, eu era o presidenciável que estava no palanque e ele defendeu o nome do Brizola, e por isso deram uma vaia no Dr. Armando. 
Eu fiquei pensando que o Dr. Armando estava certo, ele tinha mais era que 
defender o Brizola, afinal de contas ele era o candidato do partido do Brizola, e Brizola era candidato como eu e não era pelo fato de eu estar 
naquele palanque que Dr. Armando teria que mudar e me apoiar, porque aí , com seria virar a casaca da forma mais esdrúxula possível. Foi pensando assim que eu construí no meu imaginário um respeito muito grande ao Armando Monteiro (.....) Eu tenho um profundo respeito pelo Armando, 
pelo seu passado político, mas sobretudo pelo seu caráter e pelo seu 
comportamento ético (....) e prá mim a ética é muito importante neste 
Pais onde os governantes são ladrões, onde os políticos são corruptos, 
onde delegado rouba, policial rouba, governante rouba, juiz rouba. Quando a gente encontra um homem honesto, a gente tem que estender a mão e falar: - “é com esse que eu vou”. 
O video documentário sobre Dr. Armando Monteiro Filho foi lançado no Cine-Teatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, no dia 
6 de dezembro de 2000 e foi noticia em todos os jornais. Na ultima pagina deste capitulo, reproduzo uma matéria que foi publicada na “Folha de Pernambuco”, com fotos sobre o evento. 
E sobre Dr. Cid Feijó Sampaio resta a grata satisfação de ter me aproximado de um homem que eu já admirava como governante, que lutou pelo desenvolvimento industrial de Pernambuco. Dr. Cid era um politico obstinado, impetuoso, inovador, um autentico líder empresarial e um gestor de extraordinária competência no zelo pela causa publica.
Capitulo 18 MISTER JOHN 
Houve um período - em um ano que não me recordo - que a carne bovina desapareceu do mercado. Do mercado só, não: do açougue, 
do matadouro, do frigorífico, de todo canto. Não me atrevo a explicar os motivos desse sumiço porque realmente não me lembro mais. Foi a “crise do boi”. Quem adorava saborear um churrasco, uma picanha ou mesmo uma carne moída ficou na pior. O “black-out” da carne foi geral, tanto das carnes nobres como das partes mais populares do boi. 
Foi nesse clima de total abstenção da carne bovina que os meus 
companheiros Marcos Macena e Jorge José chegaram com uma boa 
noticia: 
- “Mister John vai matar um boi na fazenda dele e convidou a gente. Vamos lá ?” - Macena fez a pergunta prá mim. Jorge José explicou: 
- “ É um amigo da gente. Ele é americano. Está há bem pouco tempo no Brasil e tem uma fazenda em Tapera”. 
Tapera chama-se hoje Bonança e fica no município de Moreno. 
Louco prá comer e levar prá casa um fardo de carne ou, pelo menos, 
um quilo, aceitei o convite dos colegas e lá fomos no carro de Jorge 
em direção à então Tapera. A conversa dos amigos era sobre Mister 
John: 
- “Como é que um cara como Mister John deixa os Estados Unidos prá vir morar nesse fim de mundo....” 
- “Mas, ele soube aplicar o dinheiro que trouxe. Tem uma 
bela fazenda, muito gado e vive feliz com a família. Isso é o que 
importa.” – complementou Macena para Jorge concluir: 
- “Mister John é um homem feliz mesmo, porque tem uma 
mulher loura muito bonita de olhos azuis como ele e duas 
crianças que são uma gracinha...” 
As opiniões de Macena e Jorge eu ouvia sem poder fazer 
um comentário, porque ainda não conhecia Mister John, embora 
estivesse cada vez mais ansioso para dar de cara com ele. 
Chegamos em Tapera. Deixamos a BR-232 para entrar numa 
rua sem pavimento, cheia de buracos. Macena explicou: 
- “Não se espante com o lugar, Miguel. A fazenda de Mister 
John é meio escondida...fica lá no alto.” – e apontou para um morro. 
Jorge dirigia o carro subindo e descendo em ruelas e becos 
tão apertados que o veiculo passava roçando os casebres. Diante de
uma casinha bem modesta de porta e janela, o carro parou. Um cara de meia idade, poucos dentes na boca, barba por fazer, rodeado de dois meninos bochudos, se aproximou e foi dizendo: 
- “Veio buscar carne, dotô” ? 
- “ gente veio, sim, Mister John...” – e com uma gargalhada 
Macena olhou prá mim. O cara não entendeu a brincadeira, mas eu 
senti na pele a gozação. Mister John não era outro senão aquele cidadão sem camisa, pitando um cigarro, que logo entrou no barraco onde morava, chamando a gente para segui-lo. No quintal, estava a “preciosidade”: pedaços de carne ensangüentada em uma bacia de banho. Ossos em outro vasilhame. Não havia muita higiene e muito menos a fiscalização da Vigilância Sanitária. Era como se estivesse ali um produto contrabandeado. Um abate de carne clandestina. O preço do quilo meus dois “muy amigos” já haviam combinado. Só que era uma venda casada. Ao levar um quilo de carne tinha-se que levar também um quilo de osso. Mister John, dirigindo-se a mim, explicou: 
- “Não pode sobrar nada. Com o osso, dotô, o sinhô faz uma sopa....” Eu concordei com ele. Só não concordei com a gozação dos dois companheiros... Mister John era uma figura de ficção criada pela imaginação fértil do excelente produtor de Televisão, Jorge José e pelo talentoso ator e locutor, Marcos Macena, duas importantes ”figuraças”, pelas quais tenho grande admiração 
Marcos Macena, talentoso locutor, ator e comediante, com quem convivi em várias oportunidades, inclusive na visita a Mister John.
Capitulo 19 LUIZ GONZAGA 
O REI DO BAIÃO 
Apesar de ter sido produtor de diversos programas de rádio e televisão, inclusive alguns de auditório, foram poucas as oportunidades 
que tive de contatos com Luiz Gonzaga – o Rei do Baião. Três momentos, 
porém, marcaram definitivamente a minha vida em relação a esse artista 
que se imortalizou como o maior divulgador da musica nordestina. 
Lembro de Gonzaga dando uma entrevista no programa de Samir 
Abou Hana na Radio Tamandaré num ano que não me recordo mais. A 
segunda oportunidade foi mais marcante. Como produtor do “Programa 
Jota Ferreira”, mantinha uma equipe de jurados para avaliar o quadro de 
calouros, que era uma das grandes atrações do programa transmitido aos 
sábados, à tarde, do auditório da TV-Jornal. Uma das juradas era Edelzuita 
Barros, uma moça muito simpática, que àquela altura era “namorada” de 
Gonzagão. Eu não sabia dessa amizade. Quando decidimos realizar um 
grande show no Geraldão para assinalar a passagem do primeiro aniversario do programa, mais de uma dezena de artistas famosos vieram do sul do pais para participar da festa. E entre eles estava “seu” Lula. 
Antes de o espetáculo começar, fui até a área destinada aos artistas para 
anotar os nomes dos que já haviam chegado e me deparei com Edelzuita, 
que, ao me ver, correu para me abraçar e me beijar como fazia sempre de 
um modo muito carinhoso e respeitoso. Não observei que Gonzagão estava 
ao lado dela com uma cara de poucos amigos. Edelzuita percebeu o clima 
e disse pro grande artista de Exu: 
- “Gonzaga, este é o produtor de Jota Ferreira, que me dá a feliz 
oportunidade de participar do programa. É um grande amigo meu” 
“Seu” Luiz apertou minha mão, mas senti que o ciúme tomava conta dele naquele momento.
Edelzuita foi o ultimo grande amor de Gonzagão. Com muita dedicação e carinho, ela acompanhou sua agonia no Hospital Santa Joana, onde ficou internado até o fim de sua vida. Como repórter da TVU, estive por mais de uma vez no hospital e entrevistei o medico que o acompanhou nos últimos momentos de sua vida. 
No dia do velório no plenário da Assembléia Legislativa, lá estava eu de novo me encontrando com Luiz Gonzaga, desta feita numa situação extremamente triste: ao lado de sua urna funerária. A TVU mostrou ao vivo as enormes filas que se formavam ao longo da Rua da Aurora e as pessoas mais ilustres que chegavam para velar o corpo do inesquecível artista. Entrevistei, na ocasião, Rosemary, Gonzaguinha, Reginaldo Rossi, Alcymar Monteiro, entre outros. Eu estava ao lado do caixão com o microfone da TV, quando chegou o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara para celebrar a missa de corpo presente. Quis ouvir alguma palavra do nosso inesquecível Arcebispo e perguntei: 
- “Dom Helder, um momento de muita dor para todos nós...?”. 
Ele encerrou a entrevista sem começar, Disse apenas: 
- “O momento é de silencio e prece, meu filho”. 
E fiquei com a cara no chão. 
Instantes depois, o corpo de Luiz Gonzaga seguiu numa viatura do Corpo de Bombeiros para o aeroporto militar, onde um avião o levou 
para Exu, sua ultima morada.
Capitulo 20 ROBERTO CARLOS EM TRÊS ATOS 
A primeira vez foi quando o Rei da Jovem Guarda ainda despontava com o seu primeiro sucesso: “Calhambeque”. Eu era assistente da Supervisão Administrativa da TV-Jornal. Naquela época, o organograma da Emissora era dividido por supervisões – a Administrativa, a Artística, a 
Técnica. Eu fazia parte da administrativa, tendo como meu chefe o inesquecivel Mayerber de Carvalho, de quem guardo muitas lembranças e de quem sou profundamente grato por ter me orientado nos primeiros anos das minhas atividades no Radio e na Televisão. 
Voltando a Roberto Carlos. Ele tinha vindo participar do programa “Noite de Black-tie”, o super-programa de auditório dos sábados comandado por Luiz Geraldo. A supervisão administrativa ocupava uma sala ao lado do gabinete da superintendência e nessa noite, além do Superintendente da Empresa JC, Paulo Pessoa Queiroz, estava também o fundador F. Pessoa de Queiroz, então Senador da Republica, e alguns familiares, inclusive alguns adolescentes netos do grande empresário de comunicação. Além de cuidar da burocracia da Supervisão Administrativa, eu me ocupava também de dar assistência ao Superintendente, quando ele lá estava em seu gabinete. Nessa noite, terminada a apresentação de Roberto Carlos no palco-auditorio, que era o Estúdio A do Canal 2, dr. Pessoa fez o pedido: 
- Peça pro Roberto vir até aqui para que meus netos possam cumprimentá-lo” - saí, então, como uma bala pelos corredores da Emissora até encontrar Roberto Carlos já dentro do carro estacionado na porta lateral de acesso ao estúdio onde havia se apresentado. Fui direto ao assunto, sem passar pelo seu empresário: 
- ”Roberto, o senador F. Pessoa de Queiroz gostaria de cumprimentá-lo.” 
Roberto foi atencioso, mas respondeu que estava muito cansado e que receberia, sim, o senador mas no hotel onde estava hospedado. 
Voltei com o sentimento de ter fracassado na missão que me havia sido 
confiada, mas como sempre fui uma pessoa que entendia os sentimentos 
das pessoas, principalmente de um cantor que, pór ter sofrido um acidente,
tinha ainda dificuldades de andar e até de subir lances de escadas como teria que fazer para chegar ao gabinete do Senador, transmiti o recado de Roberto, informando que ele o aguardava no hotel. 
Dr. Pessoa juntou a família, e mais que depressa rumou para o Hotel São Domingos, na época o melhor existente no centro do Recife. Lá, Roberto Carlos recebeu os netinhos e familiares do homem forte da comunicação em Pernambuco e então Senador da Republica. 
O segundo ato dos meus três encontros com Roberto Carlos foi no então Hotel Othon Palace, em Boa Viagem. Já era considerado um grande ídolo do Brasil. Tanto que a imprensa foi convocada para.uma entrevista coletiva. Compareci na condição de produtor executivo do “Programa Samir Abou Hana”, da Radio Tamandaré, líder de audiência na época. Dois fatos marcaram esse meu segundo encontro com Roberto Carlos. O primeiro deles ocorreu já no finzinho da entrevista. Tinha sido encarregado por Samir de obter algo que eu próprio não esperava que fosse conseguir. Mas, engatei o pedido inusitado para o meio do ano: 
- “Roberto, grava uma mensagem de Natal para os ouvintes da Radio Tamandaré” 
Lembro que Roberto deu uma gostosa gargalhada: 
- “Mas, bicho, mensagem de Natal em pleno mês de maio ?” 
A “risadagem” tomou conta da sala inteira. Os puxa-sacos queriam agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a todos: 
- “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este ano ao Recife e esta é a oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou atendê-lo, cara. Prepara o gravador. E mandou ver uma mensagem de Natal exclusiva para a Radio Tamandaré e ainda emendou com outra para o Fim do ano. 
Samir agradeceu a minha valiosa conquista e a Tamandaré teve o privilegio de irradiar uma mensagem natalina personalíssima naquele ano 
na voz do não menos consagrado ídolo de todos os brasileiros. 
Nessa mesma coletiva, eu fui mais longe. Quando RC se preparava para 
sair, novamente lhe indaguei: 
- “Daria prá você cumprimentar um companheiro que está no estúdio, nesse momento, fazendo um programa com suas musicas ?” 
- “Pois, não. Liga prá ele, cara “ 
Imaginem o sufoco. Um telefone extensão na sala vip do hotel para eu ligar para a central técnica da Radio. Fiz primeiro o contato com a telefonista do hotel, que imediatamente me colocou em contato com Biu Montanha, o operador da central da Radio Tamandaré. Biu não quis acreditar no que eu dizia. Chamou o saudoso Rui Cabral, que era o
produtor de Ednaldo Santos, que estava no estúdio realmente comandando um programa entremeado de musicas do rei RC. Convencer Rui que eu estava com RC diante de mim e que ele ia falar ao vivo com Ednaldo Santos foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Rui não queria acreditar. Pensava que era uma das minhas brincadeiras. 
Até que de tanto insistir, ele mandou Biu “linkar” a linha com o estúdio. 
Quando Ednaldo Santos (fã ardoroso de Roberto) disse, sem acreditar: 
- “Parece que o Roberto Carlos está na linha...”. 
Roberto cortou: 
- “Estou sim, Ednaldo Santos. Boa tarde, bicho.” 
Ednaldo quase cai da cadeira. Foi um papo de quase meia hora. Roberto em pé, os assessores cobrando-lhe o fim do telefonema, e Roberto 
no maior papo com Ednaldo Santos. Para o querido comunicador que hoje atua no Radio Jornal, foi uma das maiores emoções de sua vida. 
O terceiro e ultimo ato dos meus encontros com Roberto Carlos se deu no Geraldão. Samir Abou Hana, líder de audiência já na Radio Globo, tinha uma entrevista agendada com o idolo em seu camarim no proprio Geraldão, onde realizaria um grande show de casa lotada. RC chega sempre muito cedo aos locais onde se apresenta para se ambientar, passar o som, fazer um pequeno ensaio, e até relaxar antes do espetáculo. Nessa tarde, chegamos por volta das 4 horas.Eu também trabalhava no Jornalismo da TV-Universitaria e apoveitando o momento achei que podia também gravar uma ,entrevista para a TVU e uma equipe foi escalada também para o local. 
Fim da entrevista gravada por Samir fiz o pedido a Roberto: 
- “Podemos gravar uma mensagem para a primeira Televisão Educativa do Brasil ?,” 
Roberto foi sincero. Estava ali muito à vontade, de cara limpa, e que preferia que a entrevista fosse dada antes do show. E aí foi que eu passei a 
admirar o grande artista. Ele mesmo produziu a entrevista como se fosse um editor de jornalismo. E explicou como tudo deveria acontecer: 
- “Você chega na porta aqui do camarim, dá uma batidinha, eu abro, você conversa comigo aqui na porta, eu me despeço e subo aquela escada 
como se fosse para o palco. Você, então, edita a minha imagem já no palco e começando o show. Tá legal assim, cara ?” 
Tava mais do que legal. E foi assim que aconteceu. Uma matéria elaborada pela imaginação do excepcional artista.
Capitulo 21 CLAUDIA & GARIN 
A cantora Claudia Barroso, ainda com uma certa projeção no cenário musical brasileiro, resolveu vir trabalhar no Recife como apresentadora de um programa de auditório. Fez contrato com a TV-Jornal em 1979. Fui, então, indicado para produzir o programa. Mas, tanto ela como o marido, o empresário José Roberto, talvez não tivesse confiança no meu trabalho. 
Na semana da estréia do programa, eles convidaram Humberto Garin, diretor do setor musical do SBT para dar uma olhada no meu trabalho. 
Veio ao Recife, leu o roteiro do programa e acompanhou o ensaio. Depois, disse para Claudia: 
- “A produção do programa está bem entregue. Não sei o que vim fazer aqui.” – e teceu elogios ao meu trabalho. 
O programa estreou e seguiu seu rumo, sem maiores complicações. 
Só que o marido de Claudia era um fascinado pela mulher. Achava-a a estrela maior da Televisão brasileira. E caiu no mercado publicitário para vender as cotas do programa, cotas que custavam mais caras que as inserções no Jornal Nacional, da Rede Globo. O mercado publicitário não 
reagiu favoravelmente e o programa começou a definhar pelo lado economico. Meu cachê estava atrasado três meses quando eu senti que o mesmo acontecia em relação ao pagamento do contratado firmado com a Televisão. Nesse ínterim, o casal, que tinha ainda a companhia da filha de Claudia e o marido, deixava o Hotel São Domingos, onde estava hospedado para ir morar num apartamento de cobertura do dono do hotel, que ficava na Av. Agamenon Magalhães, próximo do Hospital da Restauração. Pelo menos, o hoteleiro se livrava da diária com alimentação no hotel. 
Foi quando a TV não agüentou mais o prejuízo e cancelou o programa, que, por sinal, tinha razoável audiência. O meu prejuízo não foi 
maior porque recebi umas letras promissórias para descontar mensalmente 
de uma loja de confecções. Sabendo da situação, o lojista se aproveitou para não me pagar em dinheiro. Virou permuta e eu reforcei meu guarda- roupa com ternos, calças, camisas, cuecas, etc. 
Claudia Barroso em foto recente
Uma coisa valeu: a amizade com Humberto Garin. Meses depois do cancelamento do “Programa Claudia Barroso”, Garin me pediu para 
indicar dois cantores amadores entre os muitos que participavam dos quadros de calouros dos programas da TV. Teria que ser um casal para 
participar de uma disputa em São Paulo. Tratava-se da sequencia “A Mais 
Bela Voz do Brasil” do programa comandado por Jota Silvestre no SBT. 
Convoquei, então, Ivan Sales e Valdete Tavares, efetivamente dois excelentes cantores que ainda não haviam assumido o profissionalismo. 
Segui com eles para a capital paulista. Era uma segunda-feira. E tudo foi 
muito rapidinho. Chegamos pela manhã. À tarde, os cantores já ensaiavam 
com a grande orquestra do maestro Milani. Lembro que em dado momento 
Jota Silvestre, que assistia ao ensaio, disse baixinho pro maestro: 
- “Essa dupla de Pernambuco vai ganhar e aí não vai dar...” 
O antipático apresentador se referia ao fato de que a jogada do programa era que os artistas de Pernambuco perdessem para os cantores do Rio de Janeiro e os dois representantes cariocas enfrentariam, na 
grande final, os cantores de São Paulo. Ainda havia por cima a questão de que o programa não era exibido no Recife. 
O risonho (só no vídeo) Jota Silvesre anunciou Ivan Sales e o garoto 
começou a cantar houve de tudo: o m icrofone falhou, a orquestra atrasou, 
mas a platéia aplaudiu assim mesmo. A mesma coisa aconteceu com a 
Valdete. No fim, a comissão julgadora (já devidamente preparada) deu a 
vitoria aos dois cantores cariocas. Nos bastidores, todos os jurados foram 
unânimes em afirmar que os pernambucanos foram melhores que os 
cariocas. Sandra de Sá, uma das juradas, chegou a se desculpar: 
- “Vocês foram maravilhosos. Só que o resultado já estava escrito, sabe como é, né ?” 
Manhã do dia seguinte, ao sairmos do hotel no Largo do Arouche para um passeio pelo centro da cidade, várias pessoas pararam a gente para 
se referirem ao resultado desastroso da competição. 
Mas, o publico não entende esses macetes, porque na TV o que importa mesmo é a audiência... Garin prometeu mandar o vídeo-tape do 
programa. Estou aguardando até hoje....
Capitulo 22 O MUNDO QUE CONHECÍ 
Conheci o México City e Bogotá (Colômbia), simultaneamente. 
Passei um mês em cada uma, no ano de 1971. Escolhido para representar 
a TV-Universitária no projeto de intercambio das televisões educativas 
da America Latina, patrocinado pela OEA – Organização dos Estados 
Americanos, participei de um estágio de observação nas duas capitais. Juntamente com a saudosa companheira de trabalho, Ivanise Palermo. 
Aprendemos muito pouco durante a viagem, porque em matéria de 
comunicação o Brasil sempre foi bastante avançado e criativo. O que 
restou da viagem foi o turismo que fizemos. Nos finais de semana, dentro 
da programação traçada, tive o privilegio de conhecer pontos turísticos 
inesquecíveis. O México, chamada de “Cidade dos Palácios”, possui monumentos arquitetônicos suntuosos, como o Museu de Antropologia, 
que a pessoa leva pelo menos dois dias para conhecer o acervo de peças 
arquologicas, artesanais e folclóricas do país; a Catedral do México, o Palácio Nacional, o Palácio de Belas Artes; a Praça das Três Culturas; a Cidade Universitária; o Estádio Azteca, onde o Brasil se sagrou tri- campeão na Copa do Mundo de 1970; e a Torre Latimo-americana, com 47 andares, de onde se pode ver toda a Grande Capital; estivemos também em Xochimilco, onde barcos decorados com flores circulam por canais atraindo turistas; e a fantástica Praça das Pirâmides Aztecas, em San Juan de Teotihuacán. 
Uma coisa não me agradou: a culinária mexicana, muito carregada 
na pimenta. Outra coisa que atrapalha é a altitude. México fica há quase 
800 metros acima do nível do mar. Quem não está preparado se cansa logo 
nos primeiros passos. 
Encontrei Bogotá em crise política intensa. Muito pouca segurança 
nas ruas. No segundo dia, os jornais noticiaram a morte de passageiros e do motorista de um ônibus que trafegava pelo centro da cidade e foi alvo da ação de terroristas. Os recepcionistas do hotel onde estava hospedado me aconselhavam sempre a não sair sozinho, principalmente à noite. Fui proibido até de atravessar a rua para comprar cigarros. Mas, apesar de tudo, tive a oportunidade de assistir a uma tourada, na principal praça 
de touros da cidade. Não gostei dos trejeitos do toureiro, mas ele 
ganhou a parada para o touro e foi muito ovacionado pela torcida. Ambos saíram carregados: o toureiro pelo triunfo alcançado. O touro porque morreu em praça publica. O espetáculo lembra as épocas remotas em que leões devoravam seres humanos para alegria do povo.. Ainda em Bogotá, conheci o Salto de Tequendama, uma queda dágua muito parecida com a que existe na cidade de Canela (RS), 
A cascata tem 140 metros de altura, há pouco mais de 40 quilometros da
Capital. Na primeira vez, só ouvimos o som da água caindo,. Um forte nevoeiro escondeu de nossos olhos essa beleza da Natureza. No dia seguinte, o tempo continuava nublado, mas não existia o nevoeiro e conseguimos visualizar o maravilhoso espetáculo. 
Durante um curso de radio educativo, realizado no Rio Grande do 
Sul, reunindo profissionais de todo o país, ocorreu a chance de pisar em 
outro solo estrangeiro. Era um fim de semana majs longo – o feriado de 
8 de dezembro caiu na sexta-feira e os companheiros mais abastados e que 
moravam em Estados próximos decidiram causar inveja na gente, os “matutos” do norte-nordeste. Eles decidiram passar o fim de semana em Buenos Aires e como a nossa grana (já era o finzinho do curso, que durou 25 dias), não dava para vôos mais altos, resolvemos participar de um pacote turístico até Montevidéu, com passagens pelas praias de Punta Del Leste e Piriápolis. Participaram da excursão meu conpanheiro pernambucano Washington França, um amazonense e um cearense. Saímos as 7 da noite do centro de Porto Alegre e as 7 da manhã estávamos 
em Montevidéu. O passeio foi maravilhoso. Conhecemos Punta Del Leste, famoso laneário do litoral uruguaio e outras regiões litorâneas. Ficamos num hotel 3 estrelas no centro da cidade e conhecemos os pontos turísticos no mesmo ônibus da nossa viagem. Chegamos de volta a Porto Alegre as 7 da manhã da segunda-feira. Para quem não tinha grana pra gastar em Buenos Aires a gente se contentou com Montevidéo. 
Por duas vezes estive nos Estados Unidos, precisamente em Orlando e Miami, acompanhado por Samir Abou Hana, que já conhecia o caminho. Orlando é um verdadeiro sonho. Depois que Walt Disney decidiu fazer dela o lar de Mickey e seus amigos e criar a Walt Disney World, a cidade transformou-se uma metrópole que recebe milhões de visitantes de todo o mundo. Os parques temáticos são atrações obrigatórias, onde os sonhos e a ficção se tornam realidade: Universal Studios, Walt Disney Magic, Epcot Center, MGM Studios, entre outros. Ficamos hospedados no Hotel Holiday in, na International Drive, a principal avenida do centro turistico de Orlando a poucas quadras do Wet`n Wild, o melhor parque aquático das Américas. 
Um desses centros de diversão mais procurados é a Universal Studios, onde são apresentadas tecnologias de efeitos especiais de filmes consagrados, como “King Kong”, “”Tubarão”, “Terremoto”, no meio dos 
quais nos tornamos personagens vivos. Um dos que mais nos atraíram foi 
A criação de Stephen Spielberg. Dentro de um barco umas 10 a 15 
Pessoas saem num passeio pela replica do Porto de Amity, momento em que surge um enorme tubarão branco de 3 toneladas de puro terror. Ondas
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  • 1. NOVELA DA MINHA VIDA (Profissional) Miguel Santos 30 CAPITULOS INÉDITOS Historia real e descontraída de um cidadão, que se dedicou à Comunicação, atuando em Jornais, Rádios e Televisões em Pernambuco.
  • 2. CAPITULO DE APRESENTAÇÃO Escrever um livro ou uma auto-biografia, mesmo autorizada, nunca havia passado pela minha cabeça. Até porque escrever sobre mim mesmo tem um ar de pieguismo ou de esnobismo ou de exibicionismo e outros ismos.... Mas, com o advento dessa poderosa maquina que é a Informática e sua tecnologia maravilhosa, me aconselharam a fazer um livro digital. Você lê uma vez e joga fora a mídia, para não ocupar espaço na sua estante. Como um ser aposentado decidi, então, aproveitar a maioria das minhas horas vagas para escrever essas linhas, que são, antes de tudo, fragmentos interessantes, curiosos, e até mesmo gozados da minha vida profissional, que se não foi tão significativa o foi de grandes e imorredouras emoções. Não levem em conta os nomes de amigos e colegas não citados na narrativa. Afinal, numa tarefa como essa fica muito difícil a gente lembrar de tudo e de todos. .Posso garantir que se trata de uma obra que não vai interessar aos estudantes de Comunicação, mas, que, certamente, vai deixar “água na boca” nos companheiros que, mesmo de longe, vão relembrar alguns dos momentos por mim vividos e aqui narrados. Miguel Santos Jornalista/Radialista (com muito orgulho)
  • 3. CAPITULOS 01 - Rádio no sangue 02 - Bibi Ferreira e eu 03 - Novo Rádio 04 - Jornais & Jornais 05 - Linha virada 06 - Ultima Hora 07 - As Revistas 08 - TVU: 27 anos no batente 09 - Carnaval pela TVU 10 - O Repórter 11 - Verdade ou Mentira ? 12 - Elefante e confusão 13 - Minha estréia no Cinema 14 - Meu Bairro é o Maior 15 - Guina: quanta saudade ! 16 - Show do Homem com “H” 17 - Meu encontro com Lula 18 - Mister John 19 - Luiz Gonzaga – o Rei do Baião 20 - Roberto Carlos em três atos 21 - Claudia Barroso e Garin 22 - O mundo que conheci 23 - Artista é quase isso... 24 - Sustos no ar 25 - Atritos com Celebridades 26 - Dominguinhos e Calheiros 27 - Colegas e Amigos 28 - Campanhas Políticas 29 - Eventos produzidos 30 - Linha do Tempo
  • 4. Capitulo 1 RADIO NO SANGUE Com uns 10 anos de idade já era um ouvinte fascinado pelo rádio. Só existiam duas Emissoras – Radio Jornal do Commercio e Radio Clube. Tinha um aditivo a mais: meu tio-padrinho era outro que gostava e conhecia muita gente que atuava em rádio. Lembro que ele costumava contratar um verdadeiro serviço de alto-falante que era instalado no amplo terreno em volta de sua casa nos aniversários do meu primo. Eu comandava o show, fazia brincadeiras com os coleguinhas, uns cantavam, outros aplaudiam e eu era quem falava ao microfone. Por volta dos 12 anos de idade, freqüentava o auditório do Radio Jornal, nos domingos, à tarde, para assistir ao programa comandado por Ernane Seve e sua secretária de palco, Cacilda Lanuza, levado por uma moça amiga da família. Fui crescendo e meu padrinho alimentava a idéia de que eu deveria ser um locutor de rádio. Quando fiz meus 18 anos, ele conseguiu que eu fizesse um estágio na recém inaugurada Radio Olinda, cuja sede ficava na ladeira de São Francisco, em Olinda, mas que mantinha um estúdio avançado de jornalismo num prédio da Avenida Guararapes. Foi nesse estúdio que recebi as primeiras orientações do jornalista Geraldo Seabra, que era o chefe do departamento de jornalismo da Emissora. Quando começava “A Voz do Brasil”, eu entrava no estúdio para gravar o jornal-falado, que tinha sido irradiado uma hora antes. Devo ter passado um mês inteiro fazendo isso, até que eu próprio desisti do estágio, porque naquela época (1957) não era qualquer um que botava a boca na “latinha”. Mas, o “virus” do rádio já tinha tomado conta do meu sangue. Anos depois, ingressei na Radio Capibaribe, cujos estúdios ficavam no prédio da então ”Casa Barreira”, uma loja de auto-peças na Rua Siqueira Campos e os transmissores instalados na Rua Coronel Urbano de Sena, no bairro da Campina do Barreto, onde estão hoje os estúdios da Emissora. Rádio Capibaribe - 1961
  • 5. Comecei na Radio Capibaribe como produtor, mas exerci outras atividades, como a de repórter e apresentador de programas. A Jovem Cap, como está sendo chamada hoje, foi a minha primeira escola radiofônica. Dirigida pelo Sr. Arnaldo Moreira Pinto e seu filho adotivo, Humberto Pinto, com direção técnica do engenheiro alemão Otto Schiller, tive a oportunidade de conviver com outros nomes que participaram dessa fase inaugural: Genivaldo di Pace, locutor noticiarista de grande talento; Edson Lima e Miriam Silva, Reginaldo Silva, Jocemar Ribeiro, Samir Abou Hana. Cezar Brasil e outros mais. Um dos programas que criei foi “Musicas e Personalidades” (1960/61), no qual gente famosa apontava as dez musicas inesquecíveis, que eram irradiadas juntamente com dados biográficos da pessoa focalizada. Além de escrever programas, estreei como repórter e comunicador, sempre com o sentido de adquirir experiência, mesmo porque na época a gente tinha que ser polivalente para trabalhar no rádio. Cícero, dono do Restaurante Samburá, de Olinda, recepcionando a direção e funcionários da Radio Capibaribe. Da esquerda para a direita: Humberto Pinto, Miguel Santos, Cícero, Gilberto Lins, Edson Lima e Miriam Silva (Ano: 1962) A Radio Capibaribe foi a minha primeira grande escola. Daí prá frente, o micróbio do radio não me largou mais. Quando assumi as colunas de Rádio e Televisão do Jornal do Commercio e Diario da Noite, passei quase que imediatamente a atuar também no Rádio Jornal, como produtor de um programa chamado “Disco Brinde” (1966), comandado por Nilson Lins. Depois, não parei mais: fui produtor do programa de auditório
  • 6. “Festa de Brotos”, comandado por Antenor Aroxa, , em 1968. E por um longo tempo, enquanto trabalhava na TVU em um expediente, atuava no radio em outro. Como produtor de Samir Abou Hana percorri as Rádios Tamandaré, Olinda, Globo e Clube. Por ultimo, fui produtor do saudoso Paulo Marques na Radio 103-FM e na Rede Estação Sat. Rádio e Televisão sempre andaram paralelos durante praticamente toda a minha vida profissional. Jáder de Oliveira, apresentador do programa “Varietê”, ao me entregar premio de melhor produtor do ano de 1971, no auditório do Rádio Jornal. Nessa época, alguns veículos de comunicação e entidades faziam pesquisas para apurar quem eram os melhores do Radio e da TV.
  • 7. AUDITORIO DO RADIO JORNAL DO COMMERCIO – PALCO E PLATEIA
  • 8. Capitulo 2 BIBI FERREIRA E EU Um dos maiores nomes do teatro brasileiro abriu o camarim que ocupava no Teatro de Santa Izabel e muito humildemente me cumprimentou: - ”Oi, Miguel. Muito obrigada por estar aqui conosco. Você vai nos dar uma grande ajuda ao nosso espetáculo.” Depois desse encontro, pensei: será que eu sou tão importante assim para receber esse elogio da maior atriz do teatro brasileiro ? Juntei-me ao grupo de figurantes que havia sido convocado para participar da peça “La Conchita”, uma opereta espanhola, com a qual Bibi Ferreira encerraria a temporada (de 01 a 13 de Setembro de 1956) no Recife para seguir de navio para uma turnê pela Europa . Era uma noite de sexta-feira. Na parte da manhã eu tinha ido visitar um amigo, José Francisco, e o irmão dele, Guilherme, me recebeu como se eu fosse o salvador do mundo. Foi logo dizendo: - “Você chegou na hora certa. Esteja as seis da noite no Teatro de Santa Izabel para participar da peça da Bibi. Não falte. E não deu mais detalhes.” Jovem aventureiro, 18 anos de idade, não fiz outra coisa. Às seis da noite lá estava eu na porta dos fundos do teatro. Guilherme me levou até o camarim dos figurantes e me meteram uma roupa meio extravagante e uma maquiagem da qual fazia parte até um bigode pintado de preto. Tudo isso ia acontecendo comigo sem que eu viesse a saber, com antecipação, o que eu teria que fazer no palco. Lá pras tantas, cortina fechada, ouvi o murmúrio do publico e arrisquei uma olhada pela fresta da cortina. A platéia do suntuoso teatro estava lotada. Afinal, Bibi Ferreira era um nome respeitado e consagrado no cenário teatral brasileiro. Na década de 50, ela montou um repertorio com sua companhia e depois de bem sucedidas temporadas no eixo Rio-São Paulo, saiu viajando pelo Brasil com elenco numeroso e uma produção de alto nível. Dentre seus maiores sucessos estava o espetáculo do qual participei, ao lado do então marido de Bibi, o ator Herval Rossano, Wanda Marchetti e Francisco Dantas no elenco. Mas, como já disse, tudo parecia um sonho. Eu havia experimentado uma sensação um pouco parecida quando tinha apenas 8 anos de idade. Estudava no Ginásio São Luiz, e fiz parte de um grupo teatral infantil que inaugurou o teatro-auditorio do colégio de Ponte D`uchoa. Era um numero que lembrava as noitadas juninas. Enquanto se ouvia a marchinha “Cai, Cai Balão”, eu e meus companheiros rodeavam uma fogueira cenográfica E terminava o numero fazendo uma roda no palco. Foi quando usei a minha primeira calça comprida. Emocionado, cheguei a desfilar pelo corredor do Auditório para mostrar que já era um homenzinho...
  • 9. Com Bibi Ferreira foi um pouco diferente, porque a emoção foi maior, apesar de que, na primeira noite, eu realmente ia entrar em cena sem ter feito um simples ensaio e sem saber nada do que ia fazer. Eu era aquele figurante do empurrão, como caldo-de-cana, feito na hora. No primeiro ato, os figurantes entravam em fileira indiana pelos dois corredores da platéia até alcançar o palco. Lá estava eu de mãos dadas a dois companheiros, terminando por participar de uma dança de roda. Saímos do palco e retornamos no ato seguinte. Aí , o cenário era um típico cabaré, com homens e mulheres fumando, bebendo, se beijando e se abraçando, numa autêntica orgia. Lá estava eu sentado a uma mesa, fazendo que estava enchendo a cara (a bebida era guaraná). Em dado momento, uma das figurantes vinha me fazer caricias e sentava no meu colo. Rolavam simultaneamente outras cenas semelhantes. A figurante que estava sentada no meu colo sussurrou no meu ouvido: - “Agora, você vai me empurrar. Vou cair no chão e vou sair de cena. Você fica e toma mais um copo com raiva de mim. Faz parte da cena. Vai, me empurra !” Eu dei um empurrão prá valer na moça e realmente ela se esparramou no chão e saiu blasfemando... Isso acontecia entre o grupo de figurantes – (Na minha mesa estavam Leda Alves, Cely, Edmilson Catunda e eu). Talvez, Leda Alves nem se lembre mais disso. Afinal, ela se destacou no movimento cultural, chegando a ser Secretaria de Cultura e uma das pessoas mais influentes do Estado. Tudo isso, minha gente, foi muito difícil para mim, porque tudo acontecia como uma grande surpresa. Nas demais noites, ficou mais perfeito o meu desempenho artístico. Já havia aprendido tudo na difícil noite da estréia. Lembro que acabada a nossa participação, alguns figurantes, como eu, corríam para o camarim, para retirar a maquilagem, mudar de roupa e, então, seguíamos para a porta principal do teatro para que o publico nos vissem mais de perto.. Vaidade de artista. Afinal, éramos coadjuvantes de Bibi Ferreira - a maior estrela do teatro brasileiro. Lembro que numa das noites, quando eu estava todo empolgado vendo o publico me reconhecer, uma mocinha apontou prá mim e disse: - ”Foi esse cara que empurrou aquela moça no chão... Você não tem vergonha na cara, não ?” Desapareceria de cena ali um grande ator frustrado. Vilão e canastrão, que nunca mais quis saber de subir num palco de teatro.
  • 10. FOTO HISTORICA FOTO HISTORICA DA MINHA ESTREIA NO TEATRO DE SANTA IZABEL COM BIBI FERREIA (1956). NA MESA, LEDA ALVES, EU, CELY E EDMILSON CATUNDA. NA ÉPOCA, ESTAVA COM 18 ANOS DE IDADE. Capitulo 3 NOVO RADIO A Televisão havia chegado com gosto de gás. Será que vai acabar com o rádio ? Era a preocupação de muitos radialistas. Até porque muita gente boa migrou imediatamente para o novo veiculo. O interesse pelas novelas radiofônicas foi diminuindo, os cantores davam preferência à TV e o rádio sentiu a necessidade de um impulso para sobreviver (alguns pensavam assim). Cinco anos depois do advento da TV, o Radio Jornal do Commercio jogava ao ar uma programação inovadora apelidada de “novo rádio”. A
  • 11. estreia foi numa segunda-feira, 26 de abril de 1965. Eu trabalhava como editor de rádio e televisão nos dois jornais da Empresa – o Jornal do Commercio e e Diário da Noite – e acompanhei de perto todas as providencias para o lançamento da nova programação. O gerente geral do Radio Jornal era o Sr. Luiz Felipe Vieira e o gerente de programação, Abérides Nicéas. O Sr. Vieira disse, numa entrevista: “A nova programação é o começo de uma série de iniciativas visando a satisfação do nosso publico ouvinte. O radio, como fator de progresso de um Estado ou de um País, tem de se aperfeiçoar e se adaptar aos novos tempos.” Uma caravana de consagrados artistas nacionais, entre os quais Erasmo Carlos, Sergio Murilo, Wanderléa e Rosemary, veio abrilhantar o lançamento da nova programação, realizando apresentações nos programas ”Praça da Alegria”, comandado por Walter Spencer, no sábado, à tarde, e “Varietê”, sob o comando de Jáder de Oliveira, no domingo, á noite. A equipe de produtores do “novo rádio” era formada por Aldemar Paiva, Nelson Pinto, Thalma de Oliveira, Alberto Lopes, Ivan Soares, Medeiros Cavalcanti, Wladimir Calheiros, Geraldo Silva, e Manoel Barbosa. Integrei essa valorosa equipe como coordenador do “Disco Brinde”, apresentado de segunda a sexta-feira, as duas da tarde, sob o comando de Nilson Lins. O programa realizava testes de conhecimentos musicais entre os ouvintes e distribuía discos entre os premiados, numa parceria com a Fábrica de Discos Rozenblit. Outros programas se notabilizaram nessa fase do Radio Jornal, Como o “Cidade Nua”, apresentado ao meio-dia com produção de Manoel Barbosa e participação do elenco de rádio-teatro, interpretando casos registrados nas delegacias policiais; Nelson Pinto produzia “No Tempo da Retreta”; Medeiros Cavalcanti fazia o “Almanaque do Almoço”, aos domingos; Thalma de Oliveira escrevia “Retalhos do Cotidiano” e era da consagrada Janete Clair a novela “O Renegado”, exibida as 9 da noite, enquanto os programas esportivos tinham mais ou menos o mesmo espaço que ocupam no rádio de hoje. O discotecário na época era o Eraldo Mendonça. Lembro que ele foi enviado ao sul do país, para adquirir os mais recentes lançamentos fonográficos e todos os demais discos necessários para atualizar a discoteca, além de uma nova estrutura para
  • 12. facilitar o atendimento imediato das solicitações dos ouvintes. O departamento de radio-jornalismo era comandado pelo competente jornalista Artur Malheiros e o espaço físico foi ampliado para receber mais maquinas de escrever e redatores. Ano seguinte – 1966 – Antenor Aroxa foi contratado para conduzir o programa “Festa de Brotos”, aos sábados, à tarde, substituindo Walter Spencer. Passei, então, à exercer a atividade de produtor de programas de auditório, experiência que me levou a fazer a mesma coisa na Televisão. O superintendente da Empresa Jornal do Commercio, dr. Paulo Pessoa de Queiroz, ao meu lado. Momento em que a TV e o Rádio Jornal eram homenageadas na cidade de Vitoria de Santo Antão (1968)
  • 13. Capitulo 4 JORNAIS & JORNAIS Sempre gostei de escrever. Quando estudava no Ginásio São Luiz criei um jornalzinho manuscrito, que passava de mão em mão, divulgando eventos esportivos e culturais e algumas fofocas envolvendo os coleguinhas do segundo período do curso colegial. Quando comecei a trabalhar na Sul America – Companhia Nacional de Seguros de Vida, em 1958, editei o jornal ”O Timoneiro”, este já produzido em uma gráfica. Circulava internamente, com exemplares distribuídos entre funcionários, corretores e médicos da empresa. Ainda em 1958 comecei a colaborar com a “Folha do Povo”, um jornal criado para apoiar os movimentos do Partido Comunista. A redação ocupava duas salas no Edifício Vieira da Cunha, na Rua Floriano Peixoto E aí pude desenvolver todos os meus desejos de ser um jornalista completo. Comecei escrevendo uma coluna sobre o Rádio (ainda não existia a Televisão) e, em seguida, fiz diversas matérias avulsas, uma das quais denunciava a retirada de corpos ainda em estado de decomposição no Cemitério de Casa Amarela. A reportagem gerou notas de esclarecimento por parte da Secretaria de Saúde da Prefeitura do Recife em todos os jornais da cidade. Como o jornal apoiava o Governo pensei que fosse afastado, mas recebi parabéns não só porque o jornal faturou a nota oficial como porque a matéria era verdadeira e ganhou repercussão.
  • 14. Foi nesse período que ingressei no Diário de Pernambuco para ser revisor (um episodio dessa época faz parte de outro artigo deste trabalho). Ainda como colaborador, escrevi para o Diário da Manhã, dirigido pelo jornalista Heleno Gouveia, cuja sede ainda hoje é na Rua do Imperador. Já existia a Televisão e passei a editar uma coluna sobre as atividades desenvolvidas no radio e na TV. Mas, como simples colaborador. Experimentei vários pseudônimos antes de assumir o Miguel Santos. Afinal, comecei mesmo num jornal comunista e queria esconder o meu nome verdadeiro. Fui até Francis, um colunista de discos fonográficos. Foi a partir de 1963 que efetivamente passei a ser jornalista profissional atuando na Ultima Hora, um jornal também de cunho político, sobre o qual dedico um espaço maior em outro artigo deste trabalho. Em 1965 fui chamado pelo gerente geral do Radio e da TV, Sr. Luiz Felipe Vieira, para assumir a editoria das colunas de rádio e televisão mantidas pelo Jornal do Commercio (matutino) e Diario da Noite (vespertino). As colunas serviam apenas para noticiar, destacar e enaltecer o que era feito nas Emissoras pertencentes à Empresa. Portanto, um jornalismo parcial, que não me agradava. Mas, tive a felicidade de merecer o apoio e a confiança do Sr. Luiz Felipe Vieira, gerente geral do Rádio e TV-Jornal. De temperamento forte e comportamento obsessivo pelo zelo, pelo respeito e pela responsabilidade que todos os funcionários deveriam ter pela Empresa do “dr. Pessoa”, o Sr, Vieira era visto com maus olhos por todos. Não é piada, mas houve um caso em que um funcionário foi pedir um “vale” - um adiantamento de salário - porque a mãe havia falecido e o Sr. Vieira teria dito: - “A Empresa não tem nada a ver com a morte de sua mãe”. E negou o adiantamento. Pois esse dirigente de quem todos tinham medo era uma pessoa afável comigo. Foi quem me ensinou, dentro das oficinas do Jornal, a fazer a diagramação das colunas, arrumando os textos linotipados expostos em calandras e os clichês (fotos). Depois da montagem da coluna um gráfico tirava uma prova a gente fazia a revisão e autorizava a publicação. Esse trabalho puramente artesanal levava pelo menos uma hora e era feito pela manhã (para a edição do “Diário da Noite”, que circulava à tarde) e à tarde (para a edição do “Jornal do Commercio” que circulava no dia seguinte). O sr. Vieira e o gerente de programação do Radio Jornal aprovaram a minha indicação para coordenar o programa “Disco Brinde”, comandado por Nilson Lins. Posso assegurar que o sr.Vieira foi um dos que contribuíram para que eu conquistasse um espaço no jornalismo pernambucano, ampliando meus horizontes em relação também ao rádio.
  • 15. Uma das colunas produzidas para o “Diário da Noite”. Esta foi publicada no dia 15 de outubro de 1965.
  • 16. Capitulo 5 LINHA VIRADA Foi Fernando Spencer, que escrevia uma coluna de cinema na Folha do Povo, onde eu colaborava também com uma coluna sobre o rádio, quem me informou que havia uma vaga de revisor no Diário de Pernambuco. Depois de um teste, ingressei no secular Diário exercendo uma função extinta no jornalismo de hoje. Naquele tempo, o texto original escrito pelo redator ia para as oficinas gráficas e o linotipista transformava o texto em linhas gravadas no chumbo quente da linotipo. Essa nova impressão seguia em forma de uma prova, juntamente com o texto original, para ser cotejado pelo revisor. A tarefa consistia em comprovar as duas versões e observar se havia algum erro. Assinalado algum erro, o material era devolvido para que a linha em chumbo fosse corrigida. O revisor era o meio-campo entre a redação e a oficina gráfica. Eu, pelo menos, quase não conhecia ninguém da redação. Ao sair do jornal, encontrava na calçada Antonio Camelo, Joezil Barros, Gladstone Vieira Bello e outros nomes da cúpula do jornal. Comecei no primeiro turno do expediente da revisão, no período da tarde. Como todo principiante cheio de orgulho por estar trabalhando no maior jornal do Nordeste do Brasil naquela época, iniciei revisando textos sem maior importância, como, por exemplo, os anúncios classificados, os roteiros de cinema, teatro, anúncios fúnebres, matérias avulsas, etc. Sempre tive maior aptidão pelas letras. Gostava de ler e escrever. Não foi difícil a tarefa. Ao me desenvolver no trabalho, fui transferido com excelente vantagem financeira para o turno da noite – das 7 a 1 da manhã. A família protestou, mas naquela época não havia a insegurança que domina as ruas nos dias de hoje. Saia do jornal, na Praça da Independência, seguia pela Avenida Guararapes e na calçada do prédio dos Correios tomava o ônibus-corujão em direção à minha casa no bairro de Parnamirim. Trabalhar no período em que o jornal fechava a edição era da maior responsabilidade. Matérias mais importantes passavam pelas minhas mãos, como, por exemplo, a crônica de professor Aníbal Fernandes, o editorial do jornal, as chamadas de capa, inclusive as legendas das fotos que ilustravam a primeira pagina. Uma certa noite, com a cabeça pesada pelo sono, aconteceu o que eu considerei a minha primeira grande tragédia profissional. Deixei passar uma linha virada na primeira pagina. A linha de texto foi impressa de cabeça prá baixo. Erro imperdoável. E na capa do jornal, nem se fala. Ao entrar no elevador, o ascensorista foi logo dizendo: - “Tem um aviso aqui prá você se dirigir à Superintendência.”. E o elevador me deixou no terceiro andar. O superintendente era o dr. Fernando Chateaubriand, filho de Assis Chateaubriand, o todo
  • 17. poderoso fundador dos Diários Associados, na época a maior cadeia de jornais e emissoras de rádio e televisão do Pais. A secretaria me anunciou e eu entrei na sala como se estivesse carregando um saco de 50 quilos na cabeça. Encontrei atrás de um amplo birô de madeira de lei um cidadão de quase dois metros de altura, que foi logo perguntando: - O senhor foi o revisor disso aqui ? - e apontou para o jornal na mesa, com um circulo vermelho no texto, onde se encontrava a fatídica linha virada. Não havia outra resposta, já sabendo por antecipação que estava demitido sumariamente. - “Fui eu, sim senhor.” - “Por que isso aconteceu ?” – quis saber o “todo poderoso”. - “Estava muito cansado, o sono me pegou.” – confessei. Aí, veio a grande surpresa. Dr. Fernando olhou prá mim, acreditou talvez na minha sinceridade, e deu um exemplo de vida que sigo até hoje: - “Sabia que quando está revisando o jornal o senhor é mais importante do que eu, que sou o superintendente ?” Respondi que não sabia. Ele apertou a minha mão e se despediu assim: - “Procure superar o sono e você será um vencedor na vida. Vá em frente e que isso jamais se repita.” - O saco de 50 quilos que parecia carregar despencou da minha cabeça, mas da minha memória esse fato jamais se apagou. Secular prédio do Diário de Pernambuco, na Praça da Independência. Atualmente, o Jornal tem nova sede no bairro de Santo Amaro.
  • 18. Capitulo 6 ULTIMA HORA Em 1963, um ano antes da Revolução Militar de 64, eu ingressava no Jornal Ultima Hora, edição Nordeste, cuja sede ficava na Rua Visconde de Goiana, na Boa Vista. Para mim, uma escola de jornalismo de alto nível, Independente de sua linha política, já que apoiava Miguel Arraes, tido como defensor do regime comunista. Minha coluna de estréia foi publicada no domingo, 11 de agosto de 10963. O diretor era Mucio Borges da Fonseca. O editor geral: Ronildo Maia Leite. Na chefia do departamento fotografico, Clodomir Bezerra. Assumi a editoria de rádio e televisão. Escrevia uma coluna que não ultrapassava um quarto de pagina. Diariamente. Dava noticias, fofocas e entrevistas curtas com gente que atuava nos meios de comunicação. Tudo dentro do ritmo dinâmico do jornal que primava por matérias polemicas, linguagem objetiva e direta, evitando os clichês costumeiros dos demais periódicos. Recordo de um fato que não se passou comigo, mas que me impressionou bastante. Um fotografo do jornal, cujo nome não me recordo, foi designado para fazer a cobertura de uma procissão no centro da cidade. Recomendação do editor: - “Não quero fotos de andor, nem de padre, nem de freira. Quero uma foto expressiva para ilustrar matéria de primeira página. Se vire.”. E o fotografo saiu da redação com uma preocupação na cabeça. Durante toda a procissão fez dezenas de fotos, mas em todas aparecia uma parte do andor, ou um padre ou uma freira. Não sabia mais o que fazer para atender o pedido do editor. Já retornando à redação, avistou uma criancinha fantasiada de anjo, com as mãos postas como se estivesse rezando. Tacou o dedo no clique da máquina. Foi essa a expressiva foto ; primeira pagina do jornal. Essas provocações eram comuns na redação. O obvio não era o ideal. As inovações eram bem aproveitadas. Uma linha de matéria redacional poderia dar uma manchete de oito colunas, como aconteceu comigo. Certa feita, escrevi na coluna: - “FPF vai proibir o vídeo-tape do futebol”. Foram só essas cinco palavras, sem maiores comentários. O fato me foi confidenciado por um diretor de Televisão, porque na época o futebol era gravado para exibição na noite do mesmo dia. Quando abri o jornal no dia seguinte, lá estava a frase em letras garrafais de canto a canto da pagina, encabeçando a minha coluna. A repercussão foi grande, mas graças a Deus ninguém contestou a nota. Se não, eu estaria sumariamente
  • 19. demitido. Eram colunistas do jornal: Marcel (Sociedade); M. Barbosa (Cidade Nua); Lula Carlos (Bola na Rede); Celso Marconi (Cinema); Wilton de
  • 20. Souza (Artes plásticas), Carlos Garcia (Economia), Stelio Gonçalves (Luzes da Cidade), entre outros. Sem querer ser redundante, fiquei na Ultima Hora até a sua ultima hora, 10 horas da manhã do dia 1 de abril de 64. Entreguei minha matéria na redação e me preparava para sair, Ronildo Maia Leite fez o pedido: - “Quando você chegar no centro da cidade, observe se há algum movimento do Exercito e liga prá gente.” Jovem, sem muito conhecimento dos rumos da política, não soube avaliar o dramático significado daquele pedido. Naquela mesma manhã não cheguei a dobrar a Visconde de Goiana em direção à Avenida Manoel Borba, andando porque não tinha carro. Os caminhões carregados de soldados do Exercito seguiam em direção ao jornal para empastelá-lo. Segundo Ronildo Maia Leite: - “Ultima Hora era um jornal que nada temia e pagou caro pela ousadia.” Fim melancólico de uma verdadeira escola de jornalismo, criada por Samuel Wayner, onde aprendi muito convivendo com gente que realmente sabia fazer jornal. |
  • 21. Capitulo 7 AS REVISTAS Não me perguntem como nem por que, mas o certo é que assumi a tarefa de ser representante-correspondente da já extinta Revista do Radio, que na época era a publicação semanal segunda colocada em vendas em todo o Brasil (a primeira era a Revista “O Cruzeiro”). A Revista do Radio era dirigida pelo jornalista Anselmo Domingos e tinha como secretário de redação Borelli Filho. As duas paginas centrais eram ocupadas pelos “Mexericos da Candinha”, onde os artistas mais consagrados eram visados pelas fofocas e disse-me-disse. Aliás, nessa época só existia o rádio e a Nacional do Rio era a mais poderosa Emissora do País, cujo “cast” reunia os maiores nomes da musica brasileira. A Revista promovia concursos, entre os quais o que revelava a Madrinha do Radio e a disputa entre as cantoras Marlene e Emilinha Borba chegava a empolgar meio mundo, com comentários em todas as rodas. A coluna que escrevia era “Rádio de Pernambuco”. A matéria era enviada pelos correios, razão por que existia a preocupação de mantê-la mais atualizada possível porque chegava na redação da revista com alguns dias de atraso. Eram pequenas notas sobre o rádio que se fazia em Pernambuco (novos programas, os artistas que mais se destacavam, as fofocas, etc), com uma ou duas fotos no máximo. Era minha tarefa tambem promover a revista nos meios de comunicação. Sempre que era autorizado pela Editora distribuía exemplares nas portarias dos programas de auditório da Radio Clube e Radio Jornal. Quando esteve no Recife, Anselmo Domingos me convidou para trabalhar na sede da Revista, no Rio de Janeiro, mas o apego à família e a minha própria idade (pouco mais de 20 anos) me impediram de seguir outro rumo na vida. Foi nessa época que a Televisão surgiu e fui convidado para atuar na Revista TVlandia, que nascia como um guia de programação semanal das TVs Jornal e Clube. A primeira publicação circulou no dia 19 de junho de 1961, com a foto de capa da atriz. Floriza Rossi. Eu assinava uma pagina sobre o Radio. Outros colaboradores: Hilton Marques (hoje produtor do programa de Jô Soares); o saudoso ator e diretor teatral Luiz Mendonça, fundador do espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém; Renato Melo, produtor de TV, entre outros. A revista era dirigida pelo publicitário Oliveira Junior e por Geraldo Mayrink, que tinha uma agencia de registros de marcas e patentes. Rildo Uchoa integrava a direção cuidando da publicidade e a Acê Filmes, de Alcir Lacerda, criava as fotos. Os artistas que mais figuravam nas capas: Heloisa Helena, Floriza Rossi, Arlete Sales, Nair Silva, Penha Maria, Nel Blue, Geraldo Liberal. Depois de alguns meses de circulação, assumi a editoria geral da Revista, que era editada pela Gráfica Ilha, que funcionava no bairro de São José.
  • 22. Quatro meses depois de circular gratuitamente, TVlandia passou a ser vendida nas bancas. Uma tiragem media de 1.500 exemplares semanais, um marco na historia dos periódicos que existiram até hoje em Pernambuco. Capa da Primeira Edição da Revista TVLANDIA (1961) A partir de fevereiro de 1962 a TVlandia passou ao comando do radialista e publicitário Josenildo de Souza Leão, mais conhecido como César Brasil. Outra equipe foi formada: Adel Barros na gerencia geral e os colaboradores Ednaldo Lucena, Waldemar Garcia, Mário Sabino, Emanoel Rodrigues e outros. A TVlandia viveu até meados de 1963, quando foi criada a Canal, outra revista tipo de bolso, com o mesmo objetivo. Dirigida pelo casal de atores Jorge Ramos e Fernanda Simões, com secretaria de Miguel Santos e uma equipe de colaboradores de peso: Dias da Silva, famoso psicólogo; o teatrólogo Alfredo de Oliveira e os jornalistas Romildo Cavalcanti e Isaltino Bezerra. Um ano depois de criada, mudou de direção. Assumiram o publicitário Waldir Machado e o artista plástico Wellington Virgolino, com a colaboraação editorial de Fenando Spencer, Redomark Viana, Wilton de Souza e Fernando Bastos. Canal circulou até meados de 1965. Sempre com uma tiragem média de dois mil exemplares semanais e uma boa aceitação por parte do publico.
  • 23. NAIR SILVA FOI A CAPA INAUGURAL DA REVISTA CANAL Entrevistando Anselmo Domingos, diretor da Revista do Rádio.
  • 24. Capitulo 8 TVU – 27 ANOS NO BATENTE A placa ainda existe na recepção. Está escrito: “Com a alta finalidade de ampliar os horizontes da Educação e de elevar o nível da Cultura do povo do Nordeste e do Brasil, foi instalada esta primeira Televisão Educativa, Canal 11, pela Universidade Federal de Pernambuco. Presidente da Republica: Marechal Arthur da Costa e Silva. Ministro da Educação e Cultura: Prof. Tarso Dutra. Magnífico Reitor: Prof. Murilo Humberto de Barros Guimarães. Vice-Reitor: Prof. Jônio Santos Pereira de Lemos. Coordenador Geral da TV-Universitaria: Prof. Manoel Caetano Queiroz de Andrade. Recife, 22 de Novembro de 1968.” Integravam o quadro dos primeiros diretores: José da Costa Porto (diretor administrativo); Nédio Cavalcanti (diretor técnico); Jorge José Barros de Santana (diretor de produção); Milton Baccarelli (diretor de tele- teatro); Mayerber Loureiro de Carvalho (diretor de programação). Havia também um núcleo de Musica, dirigido por Rafael Garcia. Na TVU nasceram o Quinteto Violado e a Orquestra Armorial. Ingressei na TVU como produtor, indicado por Mayerber de Carvalho, uma das pessoas que mais contribuiu para o meu desenvolvimento profissional. Comecei como produtor de programas culturais. O primeiro tinha por titulo “Showclopedia”, que estreou em abril de 1969, lembrando uma enciclopédia em vídeo. Um dos programas de maior repercussão, do qual participei junto com Sergio Kyrilllos, foi “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Em convenio com a Secretaria Estadual de Educação era desenvolvida uma competição cultural com a participação das escolas. Para evitar a disputa antipedagógica Escola x Escola, a briga era alunos x alunas. Meninos contra as meninas, disputando quem acertava mais perguntas sobre conhecimentos gerais. Nessa linha cultural, integrei a equipe de produção do programa “A Alma Encantadora das Ruas”. Durante 8 anos fui o produtor do programa “João Alberto Informal”, apresentado pelo jornalista João Alberto Sobral. Exercí a coordenação da equipe esportiva que gravava os jogos do campeonato e cheguei a participar como repórter da inauguração dos estádios estaduais de João Pessoa e Campina Grande, Em 1971, a OEA – Organização dos Estados Americanos – patrocinou o Projeto Multinacional de Televisão Educativa, com o propósito de promover o intercambio de técnicos entre os países que desenvolviam tecnologias educativas. Fui escolhido para representar o Brasil, juntamente com a companheira Ivanise Palermo. Designados para as cidades do México (D.F) e Bogotá, Colômbia, participamos da experiencia durante dois meses, de 18 de março a 11 de maio de 1971.
  • 25. Professor e alunos do Curso de Radio Educativo – Porto Alegre - RS ATVU me proporcionou outras viagens. Participei de um Curso de Radio Educativo, patrocinado pelo Prontel – Programa Nacional de Teleducação, do MEC, e que foi executado pela Fundação Educacional Padre Landell de Moura, FEPLAN. O curso foi ministrado pelo produtor da BBC, de Londres, prof. John Volden e teve como local um centro educacional mantido pelos Irmãos Marista, em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. Ainda como representante da direção da TVU participei de várias reuniões de dirigentes de Emissoras Educativas do Brasil. Esses encontros ocorriam todos os anos sempre numa capital diferente – Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Terezina, Fortaleza, Manaus. Durante 27 anos exerci várias atividades no Canal 11. Depois de ingressar como produtor, fui repórter, apresentador de programas, chefe do departamento de jornalismo e vice-diretor, quando resolvi me
  • 26. aposentar em 1992. Como diretor de Jornalismo da TVU, sendo cumprimentado por dirigente do MEC. Na foto, o dr. Francisco Dário Mendes da Rocha, Diretor Geral do Canal 11 e o vice-reitor Armando Samico, da UFPE. Com as colegas Wanda Phaelante e Alice Rolim.
  • 27. A NOITE É DO 11 Comandado pelo saudoso apresentador José Maria Marques, o programa “A Noite é do 11” reunia estudantes da rede de ensino do Estado.. Como diretor do programa, contei com a valiosa colaboração do companheiro Sérgio Kyrillos e a participação de toda a equipe técnica da TVU. .
  • 28. RUI CABRAL E LUIZ MARANHÃO FILHO Foram companheiros de todas as horas na TV-Universitária. O saudoso Rui Cabral se notabilizou com o quadro “Cadeira de Engraxate”, na TV-Jornal, chegando a entrevistar o então Presidente da Republica, Juscelino Kubstchek. Maranhão, experiente professor universitário na área da Comunicação Social, advogado e escritor, foi diretor administrativo e de Jornalismo do Canal 11. Tivemos alguns “pegas”, mas todos imbuídos da vontade de fazer o melhor pela Primeira Televisão Educativa do Brasil.
  • 29. Capitulo 9 CARNAVAL PELA TVU Na década de 70 o folião se divertia, preferencialmente, de duas maneiras: os que tinham mais dinheiro para gastar iam aos clubes sociais (Português, Internacional, Cabanga, Sport, Nautico, etc.) onde as grandes atrações eram as orquestras contratadas para tocarem nas quatro noites de Carnaval comandadas pelos maestros Nelson Ferreira, Guedes Peixoto, José Menezes, Clovis Pereira, Duda, etc. A outra forma, mais popular, era assistir, no centro da cidade, aos desfiles das agremiações carnavalescas, que recebiam subvenções da prefeitura para ajudar nas exibições perante o publico. Algumas agremiações chagavam a arrastar grandes torcidas ao espetáculo. Entre elas estavam o Clube das Pás, Estudantes de São José, Gigantes do Samba,. Galeria do Ritmo, Vassourinhas, Lenhadores, Bloco Batutas de São José, Banhistas do Pina, Caboclinhos Sete Flechas, e tantas outras. Local dos desfiles: Avenida Dantas Barreto, num trecho próximo ao Pátio de São Pedro, onde eram montados palanques para as autoridades e arquibancadas para o publico. A TV-Universitária tinha uma programação voltada para a educação e a cultura e práticamente 80% era produção local. No Carnaval, a TVU se notabilizava ao transmitir os dois grandes bailes pré- carnavalescos – Bal- Masque e Baile Municipal e os desfiles das agremiações. Tanto nas quatro noites como no desfile das campeães a Emissora fazia o registro de tudo, conquistando uma audiência realmente invejável. Participei desse trabalho, exercendo as atividades de apreserntador e repórter, e ainda cheguei a comandar um programa na noite da quarta-feira de Cinzas, intitulado “Balanço do Carnaval”, reunindo jornalistas, radialistas, dirigentes de agremiações e da Comissão Organizadora do Carnaval, quando eram analisados os fatos positivos e negativos dos festejos. Esse programa conseguia movimentar os carnavalescos, que Sempre o aguardava com certa ansiedade. Não posso deixar de reconhecer que fazia tudo com muito entusiasmo e empolgação . Era um torcedor inveterado, que lutava pelo engrandecimento do Carnaval mais popular, aquele que nascia na alma da gente humilde dos bairros mais proletários da cidade. Infelizmente, a violência e o custo de vida foram modificando hábitos e costumes do nosso povo. Os desfiles das agremiações já não despertam o interesse da população, poucos são os bailes carnavalescos e já não existem frevos como antigamente. Sem ser saudosista demais, acho que o Carnaval mudou para pior, lamentavelmente.
  • 30. Programa “Balanço do Carnaval” - TVU Miguel Santos,Jader de Oliveira e Zuca Show.
  • 31. Capitulo 10 O REPORTER Quando ocupava a função de repórter na TV Universitária tive o privilegio de ser um dos primeiros repórteres a utilizar o vídeo-tape portátil, mais conhecido por mini-tape, que substituía as câmeras de filmagem em 16 milimetros. O filme cinematográfico era mais caro e mais complicado. Exigia laboratório para revelar as filmagens feitas. O material era editado para tirar as falhas e o editor tinha que redigir o texto de acordo com o tempo útil do filme finalizado . No caso do mini- tape, o custo era menor, não havia muita dificuldade para editar e o repórter podia fazer a narração e/ou a entrevista simultaneamente com a captção das imagens, como acontece hoje em dia. O primeiro vídeo-tape portátil adquirido pela TV-U consistia em uma câmera e um gravador, que fazia a gravação em fita magnética. Prático porque quando não precisava de edição a matéria era transmitida imediatamente. Com a mobilidade do VT portátil fiz algumas matérias inéditas. Por exemplo: mostrar todo o funcionamento do tradicional farol de Olinda. Fui talvez o primeiro repórter de TV e chegar na área onde a enorme lâmpada gira durante a noite orientando os navios que passam pela costa pernambucana. Foi preciso autorização do Comando da Base Naval para a realização da reportagem. Outra matéria cheia de lances emocionantes foi o acompanhamento da Buscada de Itamaracá, num barco meio rústico, que exigiu muito equilíbrio e sangue frio da equipe. O mar agitado quase jogou o câmera e o seu equipamento no mar. Mas, conseguimos realizar a proeza a tempo de exibir o vídeo no programa “A Noite é do 11”, comandado por José Maria Marques. Quando o novo comandante do Segundo Comando Aéreo foi realizar a sua primeira visita à Base Aérea de Natal (RN), o mini-tape o acompanhou. Viajamos num avião militar, documentamos a cerimônia de apresentação do novo comandante e retornamos ao Recife. Na volta, o piloto achou por bem sobrevoar o litoral num vôo rasteiro. Quase botei o intestino pela boca... Mais dramática foi a explosão da “Fábrica de Pólvora Elephant”, que existia em Pontezinha, no Cabo de Santo Agostinho, em 1995. Estava com a pauta da manhã voltada para a chegada no aeroporto do então Ministro da Educação, Paulo Renato Souza Matéria recomendada até pela TV-Educativa, do Rio de Janeiro. No exato momento em que uma Emissora de Rádio divulgou a ocorrência, que matou sete operários e deixou mais de dez feridos, seguí
  • 32. para o local, mesmo contrariando a minha equipe que achava mais importante a chegada do Ministro. Com a câmera postada na frente da fábrica, fiz a “cabeça” da matéria (repórter em primeiro plano da ocorrência) registrando ao fundo a passagem das ambulâncias conduzindo as vitimas. Terminado o trabalho, voltei a tempo de alcançar o Ministro e gravar a coletiva de imprensa na sala vip do aeroporto. Quando cheguei na redação levei uma bronca do meu chefe, Luiz Maranhão Filho, alegando que havia me arriscado muito e, contrariando a pauta, poderia ter perdido a entrevista com o Ministro, que era muito mais importante. As duas matérias foram enviadas, naquele tempo via Embratel, para a edição nacional do Jornal da TV-Educativa, que era transmitido para todo o Brasil. E a surpresa foi quando o jornal abriu com a matéria da explosão da fábrica. A entrevista com o Ministro foi exibida no ultimo bloco do jornal. Essa mesma fábrica de pólvora foi transferida para o município de Barreiros, na Mata Sul do Estado, e voltou a explodir em 2013, fazendo novas vitimas. Reportagem na Base Aérea de Natal (RN), em 1971, Cinegrafista Jairito e o repórter Miguel Santos..
  • 33. Capitulo 11 VERDADE OU MENTIRA ? Polemico, irreverente, ousado, destemido, “Verdade ou Mentira” foi um programa que se notabilizou na TV nordestina no ano de 1980. Ninguém até hoje conseguiu fazer algo igual, envolvendo pessoas conhecidas da sociedade. Foi noticia nos grandes jornais e nas revistas nacionais de maior circulação, como a “Veja” e “Isto É”. Toda semana repercutia nas paginas dos jornais com comentários favoráveis e contraditórios em torno dos personagens que enfrentavam inquisidores corajosos, que não mediam esforços em fazer colocações para saber o que
  • 34. era verdade e o que era mentira em relação aos fatos mais contestadores da vida dos entrevistados. O programa considerado de mais “baixo nível” foi com o babalorixá Pai Edu. Um telespectador chegou a escrever na secção ”Cartas`a Redação”, do Jornal do Commercio: -“O babalorixá Pai Edu, entrevistado num programa de televisão, tendo à sua frente pessoas ilustres como jornalista, advogado, pastor evangélico, sociólogo e parapsicólogo, ofendeu, de maneira gritante, não apenas a dignidade da sociedade, mas o nome do próprio Deus e de seu filho Jesus Cristo. O “infame” babalorixá zombou daqueles homens ilustres que o entrevistaram, num cinismo e falta de pudor que fizeram tremer os céus e a Terra.” Outro debate que deu repercussão no Brasil inteiro foi com a deputada Aracy Nejaim, ex-esposa do então prefeito de Caruaru, Drayton Nejaim. Na Revista “Veja” o caso foi relatado assim: “PREFEITO CASSA ENTREVISTA DA EX-MULHER NA TV. – O Prefeito de Caruaru mandou desligar a estação repetidora de televisão da cidade para evitar que o eleitorado local assistisse a uma entrevista da sua ex-mulher Aracy Alves de Souza, no programa “Verdade ou Mentira”, da TV-Jornal do Comercio do Recife. No programa Aracy contou a historia de sua convivência com Nejaim. Depois de chamá-lo de “safado”, Aracy acusou o prefeito de “caloteiro”, por ele haver se recusado a pagar pensões alimentícias.” - A matéria ocupou uma pagina inteira da Revista. Na “Isto é” a manchete foi esta: “PREFEITO CENSURA SUA EX- MULHER” - a Revista também dedicou uma pagina ao fato, ilustrada com fotografias do casal. Eu fazia a produção do programa, com supervisão de Jorge José e apresentação de José Maria Marques. Ia ao ar aos domingos, por volta das 11 da noite. Havia sempre pessoas que se recusavam a partiripar do programa pelo impacto que ele causava na sociedade. Lembro que tentei levar para a cadeira do “Verdade ou Mentira” o polemico atacante Dario Maravilha, que jogava pelo Sport. Ele foi incisivo: - “Meu caro, esse programa está dando muito Ibope. Só vou por tanto. ...” e revelou quanto queria em dinheiro para participar. O programa não tinha verba para isso e Dario não foi “saco de pancadas” no programa. Outras participações surpreendentes, foram a jornalista Fátima Bahia, o delegado de policia João Acioly, o vereador Brás Batista, o diretor do DETRAN Walter Benjamin, o “rei do melaço” Gileno de Carli, o professor Abdias do Nascimento, que chegou a revelar que o Brasil era o país mais racista do mundo e terminou abandonando o programa diante das duras perguntas dos entrevistadores, entre eles o antropólogo Roberto Mota. Até hoje, não houve um programa de Televisão em Pernambuco que
  • 35. conseguisse superar a popularidade do “Verdade ou Mentira”. A TV- Cultura, de São Paulo, mantem o “Roda Viva”, mas não chega aos pés da ousada, corajosa e polemica atração da TV-Jornal. De saudosa memória... Pagina da Revista “Isto é”
  • 36. Capitulo 12 ELEFANTE E CONFUSÃO Como produtor-executivo do “Programa Jota Ferreira”, transmitido ao vivo do estúdio-auditorio da TV-Jornal, enfrentei varias situações inusitadas. Programa de grande audiência nas tardes dos sábados, sempre com o auditório lotado, a atração tinha o formato de variedades, com quadros de calouros, participação de artistas de passagem pelo Recife e outras atrações, que preenchiam três horas de duração. Era um programa completo dentro de suas limitações, com quadro próprio de bailarinas, grupo musical com 7 musicos e tudo que um programa de variedades exigia. Pelas pesquisas, em muitos sábados o programa superava a audiência do inesquecível Chacrinha, que mantinha um programa .semelhante na Rede Globo. Eu ficava comandando os passos de Jota Ferreira posicionado diante dele no espaço entre o palco e a platéia. Usava um interfone para me comunicar com a suíte e o operador do som. Tinha dois bons auxiliares: Zuca Show e Wilson Silva, este ultimo coordenava os ensaios dos calouros do programa, no meio da semana. Os artistas do sul do País, que viam ao Recife, invariavelmente, participavam do programa para divulgação de seus shows e de seus discos. A produção se encarregava também de buscar atrações e uma delas fui encontrar em um circo de categoria internacional que fazia temporada na cidade. Após assistir ao espetáculo a direção do circo pediu que eu escolhesse um dos números para apresentar no programa, em troca da promoção da temporada. Optei pelo elefante que fazia malabarismos. Sabia que não haveria qualquer problema de espaço físico para que o animal adentrasse ao palco, porque as instalações da TV Jornal permitiam grandes montagens. O elefante chegou com o seu domador na hora marcada. Na ampla area da cenografia do Canal 2, onde são montados e guardados os cenários dos programas, fizemos um pequeno ensaio. Jota subiria no elefante e daria uma volta pelo palco. Quando Jota anunciou o elefante do circo e este entrou em cena o au ditório veio abaixo. E quando Jota foi pego pela tromba e jogado no dorso do animal houve até desmaios de algumas ”fanzocas” diante da coragem do apresentador do programa. Eufórico e emocionado, Jota procurou no final do programa o fotografo “Lambe-Lambe”, como era conhecido, que costumeiramente fotografava tudo o que acontecia no programa para depois vender copias das fotos entre os artistas, convidados e as pessoas do auditório. Jota disse para o fotógrafo: - “Quero copias de todas as fotos em que apareço com o elefante.”
  • 37. Aí, veio a resposta de “Lambe-Lambe”, que Jota não queria ouvir: - “Seu Jota, a máquina estava sem filme. Eu esqueci de carregar. Nessa época, não havia ainda a fotografia digital e Jotinha deixou de guardar para sempre o inesquecível momento em que passeou no dorso do gigantesco animal... Uma realização que marcou a historia do programa foi o “Campeonato das Feirinhas”, reunindo representações das feirinhas típicas que funcionavam nos bairros do Recife criadas pela Prefeitura, na administração do Prefeito Gustavo Krause. Os bairros se agitavam e havia uma concorrência muito saudável entre os feirantes. A audiência do programa era tão consagradora, que permitiu que fosse realizado um grande show comemorativo do primeiro aniversário no no Geraldão, em 1981, com casa lotada e a presença de consagrados nomes do cenário artístico nacional. Outro fato inusitado aconteceu já nos últimos instantes de um programa. Eu estava passando o nome do próximo cantor, através de uma “dália” (uma cartolina com o nome que eu mostrava para Jota anunciar – não existia ainda o ponto eletrônico), quando observei uma agitação entre as bailarinas. As tapadeiras que compunham o cenário também balançavam. Não havia dúvida de que estava acontecendo algo fora do comum nos bastidores. Imediatamente, troquei a “dália” com o nome do cantor e apresentei outra, na qual estava escrito “Chama intervalo”. Quando os comerciais começaram a ser exibidos corri para saber o que estava acontecendo. Era Zuca com um revolver na mão, correndo atrás de um calouro que havia se insinuado para pegar na coxa de uma das bailarinas. O corre-corre pelos estreitos corredores dos bastidores apavorou todo mundo. Gritei para Zuca e ele me atendeu: -“O cabra safado merecia um tiro na testa.” Acalmei Zuca, ele esfriou a cabeça e seguimos para concluir aquele programa que poderia ter dado oportunidade de Jota noticiar mais um crime como repórter policial em pleno auditório do Canal 2. Ainda bem que tudo terminou em paz.
  • 38. Momento de homenagem no Programa Jota Ferreira. Na foto, Zuca, a bailarina Dalva e o comandante do programa.
  • 39. Capitulo 13 MINHA ESTREIA NO CINEMA Minha primeira e também ultima participação no Cinema foi algo que me surpreendeu, do mesmo jeito como foi minha atuação ao lado da estrelissima Bibi Ferreira no teatro. O cineasta Jarbas Barbosa, irmão do Velho Guerreiro Chacrinha, veio filmar aqui no Recife “Juventude e Ternura”, o longa-metragem que marcava a estréia de Wanderléa - Rainha da Jovem Guarda - no cinema. A cantora estava no auge da fama, com várias musicas nas paradas de sucesso. Eu trabalhava na TV-Jornal do Commercio, na área administrativa, e fui encarregado de dar apoio ao evento. Jarbas queria que a estrela Wanderléa, fosse recebida por uma multidão no aeroporto. Queria também uma apresentação especial do programa “Bossa 2”, comandado por José Maria Marques, onde ela faria uma participação como cantora consagrada pelo publico jovem. Havia também no roteiro do filme cenas nas praias de Boa Viagem e Candeias e na recepção do Grande Hotel. Durante uma semana fizemos ampla divulgação dos eventos e tudo saiu como o cineasta desejou: multidão no aeroporto, auditório lotado e eu fazendo das tripas coração para que toda a equipe de filmagem transitasse livremente nas áreas escolhidas para as tomadas de cena. Foi produzida uma audição especial do programa “Bossa 2”, que era comandado pelo saudoso José Maria Marques. Além das cenas no auditório, com Wanderléa cantando acompanhada de conjunto musical e bailarinas e sendo delirantemente aplaudida pelo público do auditório, foram feitas cenas nos controles de áudio-e-video, onde o ator Anselmo Duarte, aparece exigindo um melhor enquadramento na imagem da cantora, já que ele interpreta no filme o papel de empresário de Wanderléa. “Juventude e Ternura” é um filme romântico e musical por excelência. Produzido por “JB Produções Cinematográficas Ltda.”, com direção do competente cineasta Aurélio Teixeira, fotografia de José Rosa e direção musical de Erlon Chaves. No elenco, além do consagrado galã Anselmo Duarte, participam Enio Gonçalves, Bobby de Carlo, entre outros. Fiquei o tempo todo colaborando com o diretor do filme e na cena em que Wanderléa concedia uma entrevista coletiva no hall do Grande Hotel Jarbas pediu: - Miguel arranja por aí dois ou três repórteres para participar da cena. Você mesmo será um deles. Bote paletó e gravata e vá pro hotel. Lembro que convidei Hélio de Oliveira, que era o produtor do “Bossa 2”, para dar uma de repórter também. Nunca pensei que um dia seria protagonista de um filme nacional,
  • 40. Botei o terno e segui para o hotel. Luzes.... câmeras.... ação. Todos a postos, após um rápido ensaio, e tudo saiu de primeira. A “avant premiere” do filme no dia 20 de abril de 1968, teve como patronesse dona Lotinha Pessoa de Queiroz, que doou toda a renda da bilheteria do Cinema São Luiz para a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer. Com o cinema lotado, compareci à estréia para avaliar o meu desempenho. Eu apareço fazendo uma pergunta a Wanderléa, embora minha voz tenha sido dublada. A cena dura uns 10 a 15 segundos, mas dá prá reconhecer quem eram os personagens. Quem me conhece logo me identificou na cena. Matéria publicada no jornal Diário da Noite, em 20/04/1968.
  • 41. Além de haver permanecido em cartaz por 15 dias no cinema São Luiz, alguns anos depois o filme foi exibido na Rede Globo e na TV Educativa, inclusive numa homenagem a Anselmo Duarte no dia de seu falecimento. Para os incrédulos ou invejosos, informo que tenho o filme inteiro, gravado em DVD e a foto abaixo é uma cena do filme. Miguel Santos aparece no filme entrevistando a estrela Wanderléa. Ao lado, o galã do cinema brasileiro, Anselmo Duarte, ao lado de Hélio de Oliveira. A cena foi gravada no “hall” do Grande Hotel, na época o mais luxuoso da cidade. Wanderaléa numa entrevista para o rádio.Ao meu lado o jornalista Paulo Granja.
  • 42. Capitulo 14 MEU BAIRRO É O MAIOR As competições realizadas pela Televisão sempre tiveram uma boa aceitação por parte dos telespectadores. A experiência começou na TVU com o programa “A Noite é do 11” e ganhou um vulto maior quando produzimos o “Meu Bairro é o Maior”, na TV-Jornal do Commercio. Antes disso, a Emissora já havia realizado um torneio semelhante envolvendo as principais cidades do interior do Estado. “Meu Bairro é o Maior” proporcionou uma participação ativa das lideranças comunitárias, das instituições de ensino, das agremiações sociais, enfim, de todas as pessoas que se empenhavam para que o seu bairro conquistasse o premio maior do programa, que era a construção de uma nova praça por parte da Prefeitura do Recife, que dava apoio institucional à competição. O programa tinha um sentido de revelar valores artísticos, dando oportunidades a novos cantores, compositores, dançarinos, atletas amadores, além de uma gincana de conhecimentos gerais e um show livre que era organizado e apresentado pelos próprios bairros disputantes. A comissão que julgava as tarefas era constituída por jornalistas, professores, universitários e outros segmentos da sociedade. Durante praticamente todo segundo semestre de 1973 o programa apresentou cerca de 24 bairros do Recife, sempre aos sábados na programação noturna do Canal 2, com direção de Jorge José, apresentação de José Maria Marques, produção de Miguel Santos e coordenação de Djalma Miranda e Marcio Maia. Como a disputa era muito acirrada em vários momentos era preciso a ação de agentes de segurança para conter os ânimos dos mais exaltados. Alguns lideres comunitários ficaram mais conhecidos nos seus bairros por causa da visibilidade do programa, e um deles chegou a se candidatar a vereador na eleições municipais. A grande final da maratona foi entre os bairros de Casa Amarela e Arruda, vencendo este ultimo numa disputa realmente muito empolgante. O prefeito do Recife em exercício, Wandenkolk Wanderley entregou o troféu ao bairro vitorioso. Em seguida, os participantes e a torcida que estavam na Televisão, saíram pela Rua do Lima até ao Arruda, proporcionando um verdadeiro Carnaval fora de época na cidade. Outros bairros que se destacaram na competição: Iputinga, Torre, Estância, Cajueiro, Tejipió, Beberibe, Casa Forte e Vila do IPSEP. Na página seguinte a reprodução de uma das reportagens que o Jornal do Commercio costumava fazer a respeito do programa.
  • 43.
  • 44. Capitulo 15 GUINA, QUANTA SAUDADE Aguinaldo Batista de Assis, pernambucano de Palmares, era um moço modesto, sempre bem humorado, corpo franzino, um tanto ou quanto feio de aparência, mas uma alma boa, compreensiva, um homem de caráter como poucos, apesar de ter sido um humorista. Nasceu com o gênio do humor nas veias e com o desejo de só fazer o bem. Conheci Aguinaldo Batista através do comunicador Walter Lins, na Rádio Clube. Havia feito uma entrevista com Walter para a “Revista do Radio”, editada no Rio de Janeiro e distribuída para todo o Brasil. Eu era representante-corrrespondente e mantinha uma coluna semanal com as noticias do radio pernambucano. Era uma época próxima do Carnaval. Walter Lins comandava o “Carrocel”, que era apresentado no pequeno auditório da Radio Clube. Dei a idéia de produzir uma revistinha carnavalesca para o programa. Ele gostou da sugestão e disse que ia me apresentar a Aguinaldo, ídolo do grande publico, com seus quadros humorísticos. Grande parte de sua imensa popularidade se devia ao tipo “Azarildo”, que ele interpretava no programa “Atrações do Meio-Dia”. No dia da apresentação, pensei comigo: - “Esse cara vai me levar na gozação”. Aconteceu o que eu jamais esperava. Aguinaldo apoiou a minha idéia, ajudou-me a passar tudo para o papel e realizamos juntos a revistinha, que teve a participação de atores, cantores, músicos e dançarinos e causou tanto sucesso que foi repetida na semana seguinte. Daí em diante, não nos largamos mais. Ficamos amigos inseparáveis. Para onde um ia o outro ia também. Amigão nosso também era oJosé Augusto Branco, que ainda atua na Rede Globo morando no Rio de Janeiro. Sempre magrinho, mas com um coração do tamanho de um elefante, Aguinaldo era admirado por todos, colegas, ouvintes, telespectadores, todos enfim. Certa feita, ele me confessou:
  • 45. - “Tem uma mocinha apaixonada por mim. Ela é linda e de família rica., Eu sou feio e pobre. Certamente ela está apaixonada apenas pelo artista. Esse namoro não pode dar certo” E acabou o namoro. Conheci a moça, realmente muito bonita e de família abastada. Mas, Aguinaldo era assim. Extremamente sincero. Não tolerava ser ingrato com ninguém. Na época em que a Empresa Jornal do Commercio atravessava dificuldades financeiras, Aguinaldo estava enfrentando também problemas semelhantes. Não dizia a ninguém, mas as pessoas mais próximas dele desconfiavam. Aguinaldo era sócio de Marcos Macena num estúdio de gravação. O que fazer para ajudar Aguinaldo de uma forma que ele não desconfiasse de nada ? Macena inventou uma historia e deu certo: - “Aguinaldo, a loja Tiradentes quer um texto para vender rápido 20 geladeiras. Aqui estão os detalhes. Faça o texto logo, porque a loja já mandou o dinheiro da produção prá voce Aqui está,” – e Macena passou o dinheiro da cota que fizemos prá ele. Aquinaldo acreditou. Fez o texto, recebeu o dinheiro e Macena gravou para dar a entender que era tudo verdade. Só assim ajudamos Aguinaldo a sair de um sufoco, sem que ele entendesse que era realmente uma ajuda. Aguinaldo casou-se com a nutricionista e professora, Conceição Lopes, teve um filho (Guiga) e morava na Madalena. Família feliz, que vivia na mais completa harmonia. No ano de 1977, Aguinaldo e Macena comandaram o programa “Sabado Show”, transmitido do auditório da TV-Jornal aos sábados, à tarde Eu fazia a produção e muitas vezes me perdia no comando do programa, porque os dois saiam do roteiro, inventavam mil presepadas e conseguiam fazer o publico rir o tempo todo. Era, por assim dizer, um programa de variedades ancorado por dois excelentes comediantes. Doente dos rins, Aguinaldo chegou a se submeter a sessões de hemodiálise três vezes por semana. Uma batalha contra a morte. Numa das sessões o coração não resistiu. No velório do Hospital Português, fui vê-lo pela ultima vez. Ao invés de rir de suas presepadas, chorei copiosamente. Que Deus o tenha.
  • 46. Capitulo 16 SHOW DO HOMEM COM “H” Tive o privilegio de administrar, juntamente com Jota Ferreira e Jorge José, um show para o mega-empresário Manoel Poladian. Ficamos responsáveis pela mídia, contatos com as autoridades, logística de transporte, hospedagem no Hotel Quatro Rodas, em Olinda, trabalho que nos rendeu um percentual da renda liquida do espetáculo. Para quem não conhece, Manoel Poladian está há mais de 50 anos no batente. É difícil citar um grande artista nacional ou internacional que não tenha trabalhado com ele. Sarah Vaughan, Julio Iglesias, Ray Charles, Tina Turner, Liza Minelli, Sting, são algumas celebridades da musica que tiveram shows administrados por Poladian. Na relação dos brasileiros estão Roberto Carlos, Rita Lee, Elis Regina, Gal Costa, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Maria Bethania, entre outros. Como empresário de faro aguçado e muita experiência, Poladian costuma também contratar um artista antes de ser sucesso, investe na carreira colocando-o nos melhores espaços da mídia e quando o mesmo atinge o estrelato começa, então, a ganhar dinheiro, muito dinheiro, com ele. Foi assim com Ney Matogrosso, recém-saído do grupo “Secos & Molhados” para fazer carreira solo. Durante os dois primeiros anos Poladian consolidou a imagem de Ney como um novo fenômeno, pela irreverencia e erotismo de sua coreografia em cena, cantando musicas que ganharam rapidamente o gosto popular. Depois de se exibir no Anhembi, em São Paulo, no Canecão e Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, Ney trouxe suas plumas e paetês e seus trejeitos para o palco do Geraldão com a citação em todos os anúncios e matérias em jornais que seria “o maior show do ano”, o que realmente aconteceu. O espetáculo foi realizado no dia 15 de outubro de 1981 e agitou o Recife. Os ingressos foram disputados a peso de ouro uma semana antes do evento. Ocorreram problemas sérios com a Ordem dos Músicos e o Sindicato dos Músicos, que queriam embargar o show. Os empresários - Poladian, Jota Ferreira e eu – fomos todos parar na policia para prestar esclarecimentos relacionados aos contratos com o artista e os músicos do show. A imprensa, principalmente o jornal vespertino “Diário da Noite” divulgou com certo sensacionalismo, os acontecimentos, tanto as informações positivas sobre a expectativa do publico para o show como, e principalmente, para esses lances que envolviam um pretenso descumprimento das obrigações contratuais por parte dos empresários.
  • 47. Superados esses problemas, surgiram outros bem mais graves. O Geraldão pegou o maior publico de toda a sua historia. Para mais de 20 mil pessoas, gente apinhada por todo canto, enquanto pelo menos 5 mil ficaram nas cercanias do Ginásio sem poder entrar, causando tumultos, quebra-quebra, todo tipo de vandalismo que deu muito trabalho à Policia. Até o Batalhão de Cavalaria foi chamado para conter a multidão. Lembro que logo cedo uma mulher, que havia sofrido um mal súbito, foi içada por cabos de aço da arquibancada para uma viatura do resgate do Corpo de Bombeiros estacionada ao lado. Foi nessa hora que a policia pediu para fechar os portões do Geraldão, porque não cabia mais ninguém. O povo queria entrar à força e alguns portões do Ginásio foram danificados. Nessa hora um medo tomou conta de mim. Saí de perto do tumulto e fui tomar uma cervejinha num barzinho, onde fiquei observando tudo à distancia com muito receio de que o pior poderia acontecer. . No dia seguinte, o então jornal vespertino Diário Noite publicou como manchete principal: “Tapas, Roubos e Feridos no Show do Homem com H”. E foi o que realmente aconteceu. O que não se previu, certamente, foi a ação dos cambistas, que venderam ingressos falsificados e causaram toda essa superlotação O que importa é que aprendemos muito e ganhamos uma excelente compensação financeira.. Dois meses depois, o mesmo Poladian quis bancar com a gente o show “Festa do Interior”, titulo da musica que tocava em todo o canto na voz de Gal Costa. O mesmo grupo local achou que ia se repetir o mesmo sucesso de publico do show de Ney. Topamos a parada, mas houve um erro de logística. O show daria mais certo se fosse no Teatro Guararapes, para um publico mais refinado. O ginásio não era local para Gal. Na ânsia de voltar a ganhar muito, perdemos tudo, pelo menos o trabalhão que tivemos. Fica aqui, para encerrar, a opinião de um empresário que conheço: - “Bancar show é um perde-ganha pior que jogar no bicho....” (Nas paginas seguintes, alguns recortes dos jornais noticiando as broncas verificadas durante o evento. Claro que as paginas de elogios ao espetáculo não estão aqui publicadas porque foram muitas e em todos os jornais da época).
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  • 51. Capitulo 17 MEU ENCONTRO COM LULA Ao assumir a direção da Massangana Multimídia, a produtora de vídeo da Fundação Joaquim Nabuco, o meu amigo Jorge José Santana me convidou para participar de alguns projetos da instituição. Um desses projetos tinha o patrocínio da SUDENE e se destinava a ressaltar a importância dos incentivos fiscais oferecidos pela autarquia de desenvolvimento do Nordeste. Os vídeos me levaram a conhecer destacadas empresas localizadas na região, entre as quais uma industria de plástico no Distrito Industrial de João Pessoa, uma empresa de confecções em Natal-RN, a Raymundo da Fonte em Paulista-PE, entre outras. Mas, o projeto que mais me emocionou foi o denominado “Nomes que fazem a diferença”, no qual eram ressaltadas personalidades publicas que se destacaram em vários segmentos da nossa sociedade. Tive o privilegio de produzir os vídeos sobre o empresário Armando Monteiro Filho, o ex-governador Cid Feijó Sampaio e o ex-prefeito do Recife, José do Rego Maciel. O trabalho consistia em realizar pesquisas sobre cada um dos entrevistados, obter depoimentos de pessoas do seu rol de amigos, companheiros de trabalho e familiares, elaborar um roteiro para as entrevistas comandadas pela experiente apresentadora Carmen Peixoto e, finalmente, ilustrar a edição, com imagens recentes e/ou colhidas dos álbuns de família dos entrevistados. Durante toda essa minha experiência profissional fui repreendido publicamente duas vezes. A primeira quando tentei captar imagens do dr. José do Rego Maciel e família assistindo missa na Capela de Jesus Menino de Praga, existente na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem. Cheguei cedo com a equipe, instalamos a câmera, iluminação e som para a captação da missa e da presença de familiares. Na época, o filho do homenageado era o Vice-Presidente da Republica, Marco Antonio Maciel. Poucos minutos antes da missa duas viaturas da Policia Federal chegaram à Igrejinha, fazendo o cortejo de segurança do carro que conduzia o vice- presidente. E logo que ele entrou no recinto e viu o nosso “circo” armado mandou um dos seguranças solicitar delicadamente a nossa retirada do local, porque não queria que aquele momento íntimo da família fosse registrado por câmeras, luzes e tudo mais. Fiz o que foi solicitado, mas o câmera foi orientado por mim para buscar, mesmo de longe e sem a iluminação adequada, algumas imagens do dr. José do Rego Maciel ajoelhado, rezando, ao lado do filho. Essas mesmas imagens foram colocadas no vídeo e causaram a emoção tão esperada por todos nós.
  • 52. A segunda repreensão foi do empresário Armando Monteiro Filho. Na lista que tinha sobre os seus grandes amigos estava o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, então pré-candidato a Presidente da Republica. Demonstrei a Jorge José a minha disposição de ir à Brasília ou à São Paulo, onde ele estivesse, para obter o depoimento de Lula para o documentário. Mas, o projeto não dispunha de verba suficiente para essa despesa. Pesquisei por onde andava Lula e, coincidentemente, ele estava agendado para receber uma homenagem em Petrolina e que, depois, viria para o Recife. No dia da homenagem, segui com a equipe para o Aeroporto dos Guararapes. Em nenhum balcão das empresas aéreas havia o registro do passageiro Luiz Inácio Lula da Silva. Fui bater com os costados na Infraero e lá me orientaram para procurar os hangares das empresas que se utilizam de aviões particulares. Dito e feito. No hangar da Empreiteira Queiroz Galvão confirmei a chegada de uma aeronave vinda de Petrolina com o precioso passageiro. Montei meu esquema para gravar o desembarque de Lula e logo em seguida o depoimento que ele certamente daria se referindo ao dr. Armando, mas eu não contava que o homenageado estaria também na recepção. Quando o dr. Armando me viu, foi categórico: - “Por favor, não fica bem essa ostentação para o nosso encontro que não é publico. É encontro muito reservado...” - “Dr. Armando, vamos ficar escondidos. Lula não vai notar que estamos aqui. Só depois que o senhor se retirar é que vou conversar com ele e explicar a nossa intenção.” – foi o que eu disse. Lula recebeu um forte abraço do dr. Armando ao descer do avião. Conversaram por um período e, em seguida, dr. Armando foi embora. Fui ao encontro de Lula, expliquei o que estava buscando e ele, de imediato, se propôs a dar o depoimento. Enquanto urinava no banheiro da sala vip ele perguntava detalhes do trabalho que eu estava realizando. Ainda no banheiro, trocou de camisa, penteou os cabelos e disse: - “Estou pronto para falar.” A câmera foi ligada e ele começou: - “A minha relação de amizade com dr. Armando Monteiro é uma relação, eu diria, até um pouco recente,. Primeiro, eu conhecia dr. Armando de leituras sobre o Governo João Goulart; depois eu me inteirei umn pouco mais sobre dr. Armando nas conversas com Brizola; depois euconheci um pouco mais dr. Armando nas eleições de 1994, quando ele era candidato a Senador , e aí eu acho que reside a interação das pessoas. Como é que nasceu essa nossa amizade ? Eu estava em Petrolina, nós íamos fazer um comício, eu era candidato a Presidente pelo PT, o Armando Monteiro era candidato ao Senado na chapa de Arraes, mas apoiava o
  • 53. Brizola enquanto candidato a Presidente da Republica, e quando dr. Armando foi falar , o publico de Petrolina, uma parte do publico, deu uma vaia no dr. Armando. E vaiaram Dr. Armando porque ele falou o nome do Brizola, ou seja, eu era o presidenciável que estava no palanque e ele defendeu o nome do Brizola, e por isso deram uma vaia no Dr. Armando. Eu fiquei pensando que o Dr. Armando estava certo, ele tinha mais era que defender o Brizola, afinal de contas ele era o candidato do partido do Brizola, e Brizola era candidato como eu e não era pelo fato de eu estar naquele palanque que Dr. Armando teria que mudar e me apoiar, porque aí , com seria virar a casaca da forma mais esdrúxula possível. Foi pensando assim que eu construí no meu imaginário um respeito muito grande ao Armando Monteiro (.....) Eu tenho um profundo respeito pelo Armando, pelo seu passado político, mas sobretudo pelo seu caráter e pelo seu comportamento ético (....) e prá mim a ética é muito importante neste Pais onde os governantes são ladrões, onde os políticos são corruptos, onde delegado rouba, policial rouba, governante rouba, juiz rouba. Quando a gente encontra um homem honesto, a gente tem que estender a mão e falar: - “é com esse que eu vou”. O video documentário sobre Dr. Armando Monteiro Filho foi lançado no Cine-Teatro da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, no dia 6 de dezembro de 2000 e foi noticia em todos os jornais. Na ultima pagina deste capitulo, reproduzo uma matéria que foi publicada na “Folha de Pernambuco”, com fotos sobre o evento. E sobre Dr. Cid Feijó Sampaio resta a grata satisfação de ter me aproximado de um homem que eu já admirava como governante, que lutou pelo desenvolvimento industrial de Pernambuco. Dr. Cid era um politico obstinado, impetuoso, inovador, um autentico líder empresarial e um gestor de extraordinária competência no zelo pela causa publica.
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  • 55. Capitulo 18 MISTER JOHN Houve um período - em um ano que não me recordo - que a carne bovina desapareceu do mercado. Do mercado só, não: do açougue, do matadouro, do frigorífico, de todo canto. Não me atrevo a explicar os motivos desse sumiço porque realmente não me lembro mais. Foi a “crise do boi”. Quem adorava saborear um churrasco, uma picanha ou mesmo uma carne moída ficou na pior. O “black-out” da carne foi geral, tanto das carnes nobres como das partes mais populares do boi. Foi nesse clima de total abstenção da carne bovina que os meus companheiros Marcos Macena e Jorge José chegaram com uma boa noticia: - “Mister John vai matar um boi na fazenda dele e convidou a gente. Vamos lá ?” - Macena fez a pergunta prá mim. Jorge José explicou: - “ É um amigo da gente. Ele é americano. Está há bem pouco tempo no Brasil e tem uma fazenda em Tapera”. Tapera chama-se hoje Bonança e fica no município de Moreno. Louco prá comer e levar prá casa um fardo de carne ou, pelo menos, um quilo, aceitei o convite dos colegas e lá fomos no carro de Jorge em direção à então Tapera. A conversa dos amigos era sobre Mister John: - “Como é que um cara como Mister John deixa os Estados Unidos prá vir morar nesse fim de mundo....” - “Mas, ele soube aplicar o dinheiro que trouxe. Tem uma bela fazenda, muito gado e vive feliz com a família. Isso é o que importa.” – complementou Macena para Jorge concluir: - “Mister John é um homem feliz mesmo, porque tem uma mulher loura muito bonita de olhos azuis como ele e duas crianças que são uma gracinha...” As opiniões de Macena e Jorge eu ouvia sem poder fazer um comentário, porque ainda não conhecia Mister John, embora estivesse cada vez mais ansioso para dar de cara com ele. Chegamos em Tapera. Deixamos a BR-232 para entrar numa rua sem pavimento, cheia de buracos. Macena explicou: - “Não se espante com o lugar, Miguel. A fazenda de Mister John é meio escondida...fica lá no alto.” – e apontou para um morro. Jorge dirigia o carro subindo e descendo em ruelas e becos tão apertados que o veiculo passava roçando os casebres. Diante de
  • 56. uma casinha bem modesta de porta e janela, o carro parou. Um cara de meia idade, poucos dentes na boca, barba por fazer, rodeado de dois meninos bochudos, se aproximou e foi dizendo: - “Veio buscar carne, dotô” ? - “ gente veio, sim, Mister John...” – e com uma gargalhada Macena olhou prá mim. O cara não entendeu a brincadeira, mas eu senti na pele a gozação. Mister John não era outro senão aquele cidadão sem camisa, pitando um cigarro, que logo entrou no barraco onde morava, chamando a gente para segui-lo. No quintal, estava a “preciosidade”: pedaços de carne ensangüentada em uma bacia de banho. Ossos em outro vasilhame. Não havia muita higiene e muito menos a fiscalização da Vigilância Sanitária. Era como se estivesse ali um produto contrabandeado. Um abate de carne clandestina. O preço do quilo meus dois “muy amigos” já haviam combinado. Só que era uma venda casada. Ao levar um quilo de carne tinha-se que levar também um quilo de osso. Mister John, dirigindo-se a mim, explicou: - “Não pode sobrar nada. Com o osso, dotô, o sinhô faz uma sopa....” Eu concordei com ele. Só não concordei com a gozação dos dois companheiros... Mister John era uma figura de ficção criada pela imaginação fértil do excelente produtor de Televisão, Jorge José e pelo talentoso ator e locutor, Marcos Macena, duas importantes ”figuraças”, pelas quais tenho grande admiração Marcos Macena, talentoso locutor, ator e comediante, com quem convivi em várias oportunidades, inclusive na visita a Mister John.
  • 57. Capitulo 19 LUIZ GONZAGA O REI DO BAIÃO Apesar de ter sido produtor de diversos programas de rádio e televisão, inclusive alguns de auditório, foram poucas as oportunidades que tive de contatos com Luiz Gonzaga – o Rei do Baião. Três momentos, porém, marcaram definitivamente a minha vida em relação a esse artista que se imortalizou como o maior divulgador da musica nordestina. Lembro de Gonzaga dando uma entrevista no programa de Samir Abou Hana na Radio Tamandaré num ano que não me recordo mais. A segunda oportunidade foi mais marcante. Como produtor do “Programa Jota Ferreira”, mantinha uma equipe de jurados para avaliar o quadro de calouros, que era uma das grandes atrações do programa transmitido aos sábados, à tarde, do auditório da TV-Jornal. Uma das juradas era Edelzuita Barros, uma moça muito simpática, que àquela altura era “namorada” de Gonzagão. Eu não sabia dessa amizade. Quando decidimos realizar um grande show no Geraldão para assinalar a passagem do primeiro aniversario do programa, mais de uma dezena de artistas famosos vieram do sul do pais para participar da festa. E entre eles estava “seu” Lula. Antes de o espetáculo começar, fui até a área destinada aos artistas para anotar os nomes dos que já haviam chegado e me deparei com Edelzuita, que, ao me ver, correu para me abraçar e me beijar como fazia sempre de um modo muito carinhoso e respeitoso. Não observei que Gonzagão estava ao lado dela com uma cara de poucos amigos. Edelzuita percebeu o clima e disse pro grande artista de Exu: - “Gonzaga, este é o produtor de Jota Ferreira, que me dá a feliz oportunidade de participar do programa. É um grande amigo meu” “Seu” Luiz apertou minha mão, mas senti que o ciúme tomava conta dele naquele momento.
  • 58. Edelzuita foi o ultimo grande amor de Gonzagão. Com muita dedicação e carinho, ela acompanhou sua agonia no Hospital Santa Joana, onde ficou internado até o fim de sua vida. Como repórter da TVU, estive por mais de uma vez no hospital e entrevistei o medico que o acompanhou nos últimos momentos de sua vida. No dia do velório no plenário da Assembléia Legislativa, lá estava eu de novo me encontrando com Luiz Gonzaga, desta feita numa situação extremamente triste: ao lado de sua urna funerária. A TVU mostrou ao vivo as enormes filas que se formavam ao longo da Rua da Aurora e as pessoas mais ilustres que chegavam para velar o corpo do inesquecível artista. Entrevistei, na ocasião, Rosemary, Gonzaguinha, Reginaldo Rossi, Alcymar Monteiro, entre outros. Eu estava ao lado do caixão com o microfone da TV, quando chegou o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara para celebrar a missa de corpo presente. Quis ouvir alguma palavra do nosso inesquecível Arcebispo e perguntei: - “Dom Helder, um momento de muita dor para todos nós...?”. Ele encerrou a entrevista sem começar, Disse apenas: - “O momento é de silencio e prece, meu filho”. E fiquei com a cara no chão. Instantes depois, o corpo de Luiz Gonzaga seguiu numa viatura do Corpo de Bombeiros para o aeroporto militar, onde um avião o levou para Exu, sua ultima morada.
  • 59. Capitulo 20 ROBERTO CARLOS EM TRÊS ATOS A primeira vez foi quando o Rei da Jovem Guarda ainda despontava com o seu primeiro sucesso: “Calhambeque”. Eu era assistente da Supervisão Administrativa da TV-Jornal. Naquela época, o organograma da Emissora era dividido por supervisões – a Administrativa, a Artística, a Técnica. Eu fazia parte da administrativa, tendo como meu chefe o inesquecivel Mayerber de Carvalho, de quem guardo muitas lembranças e de quem sou profundamente grato por ter me orientado nos primeiros anos das minhas atividades no Radio e na Televisão. Voltando a Roberto Carlos. Ele tinha vindo participar do programa “Noite de Black-tie”, o super-programa de auditório dos sábados comandado por Luiz Geraldo. A supervisão administrativa ocupava uma sala ao lado do gabinete da superintendência e nessa noite, além do Superintendente da Empresa JC, Paulo Pessoa Queiroz, estava também o fundador F. Pessoa de Queiroz, então Senador da Republica, e alguns familiares, inclusive alguns adolescentes netos do grande empresário de comunicação. Além de cuidar da burocracia da Supervisão Administrativa, eu me ocupava também de dar assistência ao Superintendente, quando ele lá estava em seu gabinete. Nessa noite, terminada a apresentação de Roberto Carlos no palco-auditorio, que era o Estúdio A do Canal 2, dr. Pessoa fez o pedido: - Peça pro Roberto vir até aqui para que meus netos possam cumprimentá-lo” - saí, então, como uma bala pelos corredores da Emissora até encontrar Roberto Carlos já dentro do carro estacionado na porta lateral de acesso ao estúdio onde havia se apresentado. Fui direto ao assunto, sem passar pelo seu empresário: - ”Roberto, o senador F. Pessoa de Queiroz gostaria de cumprimentá-lo.” Roberto foi atencioso, mas respondeu que estava muito cansado e que receberia, sim, o senador mas no hotel onde estava hospedado. Voltei com o sentimento de ter fracassado na missão que me havia sido confiada, mas como sempre fui uma pessoa que entendia os sentimentos das pessoas, principalmente de um cantor que, pór ter sofrido um acidente,
  • 60. tinha ainda dificuldades de andar e até de subir lances de escadas como teria que fazer para chegar ao gabinete do Senador, transmiti o recado de Roberto, informando que ele o aguardava no hotel. Dr. Pessoa juntou a família, e mais que depressa rumou para o Hotel São Domingos, na época o melhor existente no centro do Recife. Lá, Roberto Carlos recebeu os netinhos e familiares do homem forte da comunicação em Pernambuco e então Senador da Republica. O segundo ato dos meus três encontros com Roberto Carlos foi no então Hotel Othon Palace, em Boa Viagem. Já era considerado um grande ídolo do Brasil. Tanto que a imprensa foi convocada para.uma entrevista coletiva. Compareci na condição de produtor executivo do “Programa Samir Abou Hana”, da Radio Tamandaré, líder de audiência na época. Dois fatos marcaram esse meu segundo encontro com Roberto Carlos. O primeiro deles ocorreu já no finzinho da entrevista. Tinha sido encarregado por Samir de obter algo que eu próprio não esperava que fosse conseguir. Mas, engatei o pedido inusitado para o meio do ano: - “Roberto, grava uma mensagem de Natal para os ouvintes da Radio Tamandaré” Lembro que Roberto deu uma gostosa gargalhada: - “Mas, bicho, mensagem de Natal em pleno mês de maio ?” A “risadagem” tomou conta da sala inteira. Os puxa-sacos queriam agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a todos: - “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este ano ao Recife e esta é a oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou atendê-lo, cara. Prepara o gravador. E mandou ver uma mensagem de Natal exclusiva para a Radio Tamandaré e ainda emendou com outra para o Fim do ano. Samir agradeceu a minha valiosa conquista e a Tamandaré teve o privilegio de irradiar uma mensagem natalina personalíssima naquele ano na voz do não menos consagrado ídolo de todos os brasileiros. Nessa mesma coletiva, eu fui mais longe. Quando RC se preparava para sair, novamente lhe indaguei: - “Daria prá você cumprimentar um companheiro que está no estúdio, nesse momento, fazendo um programa com suas musicas ?” - “Pois, não. Liga prá ele, cara “ Imaginem o sufoco. Um telefone extensão na sala vip do hotel para eu ligar para a central técnica da Radio. Fiz primeiro o contato com a telefonista do hotel, que imediatamente me colocou em contato com Biu Montanha, o operador da central da Radio Tamandaré. Biu não quis acreditar no que eu dizia. Chamou o saudoso Rui Cabral, que era o
  • 61. produtor de Ednaldo Santos, que estava no estúdio realmente comandando um programa entremeado de musicas do rei RC. Convencer Rui que eu estava com RC diante de mim e que ele ia falar ao vivo com Ednaldo Santos foi um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Rui não queria acreditar. Pensava que era uma das minhas brincadeiras. Até que de tanto insistir, ele mandou Biu “linkar” a linha com o estúdio. Quando Ednaldo Santos (fã ardoroso de Roberto) disse, sem acreditar: - “Parece que o Roberto Carlos está na linha...”. Roberto cortou: - “Estou sim, Ednaldo Santos. Boa tarde, bicho.” Ednaldo quase cai da cadeira. Foi um papo de quase meia hora. Roberto em pé, os assessores cobrando-lhe o fim do telefonema, e Roberto no maior papo com Ednaldo Santos. Para o querido comunicador que hoje atua no Radio Jornal, foi uma das maiores emoções de sua vida. O terceiro e ultimo ato dos meus encontros com Roberto Carlos se deu no Geraldão. Samir Abou Hana, líder de audiência já na Radio Globo, tinha uma entrevista agendada com o idolo em seu camarim no proprio Geraldão, onde realizaria um grande show de casa lotada. RC chega sempre muito cedo aos locais onde se apresenta para se ambientar, passar o som, fazer um pequeno ensaio, e até relaxar antes do espetáculo. Nessa tarde, chegamos por volta das 4 horas.Eu também trabalhava no Jornalismo da TV-Universitaria e apoveitando o momento achei que podia também gravar uma ,entrevista para a TVU e uma equipe foi escalada também para o local. Fim da entrevista gravada por Samir fiz o pedido a Roberto: - “Podemos gravar uma mensagem para a primeira Televisão Educativa do Brasil ?,” Roberto foi sincero. Estava ali muito à vontade, de cara limpa, e que preferia que a entrevista fosse dada antes do show. E aí foi que eu passei a admirar o grande artista. Ele mesmo produziu a entrevista como se fosse um editor de jornalismo. E explicou como tudo deveria acontecer: - “Você chega na porta aqui do camarim, dá uma batidinha, eu abro, você conversa comigo aqui na porta, eu me despeço e subo aquela escada como se fosse para o palco. Você, então, edita a minha imagem já no palco e começando o show. Tá legal assim, cara ?” Tava mais do que legal. E foi assim que aconteceu. Uma matéria elaborada pela imaginação do excepcional artista.
  • 62. Capitulo 21 CLAUDIA & GARIN A cantora Claudia Barroso, ainda com uma certa projeção no cenário musical brasileiro, resolveu vir trabalhar no Recife como apresentadora de um programa de auditório. Fez contrato com a TV-Jornal em 1979. Fui, então, indicado para produzir o programa. Mas, tanto ela como o marido, o empresário José Roberto, talvez não tivesse confiança no meu trabalho. Na semana da estréia do programa, eles convidaram Humberto Garin, diretor do setor musical do SBT para dar uma olhada no meu trabalho. Veio ao Recife, leu o roteiro do programa e acompanhou o ensaio. Depois, disse para Claudia: - “A produção do programa está bem entregue. Não sei o que vim fazer aqui.” – e teceu elogios ao meu trabalho. O programa estreou e seguiu seu rumo, sem maiores complicações. Só que o marido de Claudia era um fascinado pela mulher. Achava-a a estrela maior da Televisão brasileira. E caiu no mercado publicitário para vender as cotas do programa, cotas que custavam mais caras que as inserções no Jornal Nacional, da Rede Globo. O mercado publicitário não reagiu favoravelmente e o programa começou a definhar pelo lado economico. Meu cachê estava atrasado três meses quando eu senti que o mesmo acontecia em relação ao pagamento do contratado firmado com a Televisão. Nesse ínterim, o casal, que tinha ainda a companhia da filha de Claudia e o marido, deixava o Hotel São Domingos, onde estava hospedado para ir morar num apartamento de cobertura do dono do hotel, que ficava na Av. Agamenon Magalhães, próximo do Hospital da Restauração. Pelo menos, o hoteleiro se livrava da diária com alimentação no hotel. Foi quando a TV não agüentou mais o prejuízo e cancelou o programa, que, por sinal, tinha razoável audiência. O meu prejuízo não foi maior porque recebi umas letras promissórias para descontar mensalmente de uma loja de confecções. Sabendo da situação, o lojista se aproveitou para não me pagar em dinheiro. Virou permuta e eu reforcei meu guarda- roupa com ternos, calças, camisas, cuecas, etc. Claudia Barroso em foto recente
  • 63. Uma coisa valeu: a amizade com Humberto Garin. Meses depois do cancelamento do “Programa Claudia Barroso”, Garin me pediu para indicar dois cantores amadores entre os muitos que participavam dos quadros de calouros dos programas da TV. Teria que ser um casal para participar de uma disputa em São Paulo. Tratava-se da sequencia “A Mais Bela Voz do Brasil” do programa comandado por Jota Silvestre no SBT. Convoquei, então, Ivan Sales e Valdete Tavares, efetivamente dois excelentes cantores que ainda não haviam assumido o profissionalismo. Segui com eles para a capital paulista. Era uma segunda-feira. E tudo foi muito rapidinho. Chegamos pela manhã. À tarde, os cantores já ensaiavam com a grande orquestra do maestro Milani. Lembro que em dado momento Jota Silvestre, que assistia ao ensaio, disse baixinho pro maestro: - “Essa dupla de Pernambuco vai ganhar e aí não vai dar...” O antipático apresentador se referia ao fato de que a jogada do programa era que os artistas de Pernambuco perdessem para os cantores do Rio de Janeiro e os dois representantes cariocas enfrentariam, na grande final, os cantores de São Paulo. Ainda havia por cima a questão de que o programa não era exibido no Recife. O risonho (só no vídeo) Jota Silvesre anunciou Ivan Sales e o garoto começou a cantar houve de tudo: o m icrofone falhou, a orquestra atrasou, mas a platéia aplaudiu assim mesmo. A mesma coisa aconteceu com a Valdete. No fim, a comissão julgadora (já devidamente preparada) deu a vitoria aos dois cantores cariocas. Nos bastidores, todos os jurados foram unânimes em afirmar que os pernambucanos foram melhores que os cariocas. Sandra de Sá, uma das juradas, chegou a se desculpar: - “Vocês foram maravilhosos. Só que o resultado já estava escrito, sabe como é, né ?” Manhã do dia seguinte, ao sairmos do hotel no Largo do Arouche para um passeio pelo centro da cidade, várias pessoas pararam a gente para se referirem ao resultado desastroso da competição. Mas, o publico não entende esses macetes, porque na TV o que importa mesmo é a audiência... Garin prometeu mandar o vídeo-tape do programa. Estou aguardando até hoje....
  • 64. Capitulo 22 O MUNDO QUE CONHECÍ Conheci o México City e Bogotá (Colômbia), simultaneamente. Passei um mês em cada uma, no ano de 1971. Escolhido para representar a TV-Universitária no projeto de intercambio das televisões educativas da America Latina, patrocinado pela OEA – Organização dos Estados Americanos, participei de um estágio de observação nas duas capitais. Juntamente com a saudosa companheira de trabalho, Ivanise Palermo. Aprendemos muito pouco durante a viagem, porque em matéria de comunicação o Brasil sempre foi bastante avançado e criativo. O que restou da viagem foi o turismo que fizemos. Nos finais de semana, dentro da programação traçada, tive o privilegio de conhecer pontos turísticos inesquecíveis. O México, chamada de “Cidade dos Palácios”, possui monumentos arquitetônicos suntuosos, como o Museu de Antropologia, que a pessoa leva pelo menos dois dias para conhecer o acervo de peças arquologicas, artesanais e folclóricas do país; a Catedral do México, o Palácio Nacional, o Palácio de Belas Artes; a Praça das Três Culturas; a Cidade Universitária; o Estádio Azteca, onde o Brasil se sagrou tri- campeão na Copa do Mundo de 1970; e a Torre Latimo-americana, com 47 andares, de onde se pode ver toda a Grande Capital; estivemos também em Xochimilco, onde barcos decorados com flores circulam por canais atraindo turistas; e a fantástica Praça das Pirâmides Aztecas, em San Juan de Teotihuacán. Uma coisa não me agradou: a culinária mexicana, muito carregada na pimenta. Outra coisa que atrapalha é a altitude. México fica há quase 800 metros acima do nível do mar. Quem não está preparado se cansa logo nos primeiros passos. Encontrei Bogotá em crise política intensa. Muito pouca segurança nas ruas. No segundo dia, os jornais noticiaram a morte de passageiros e do motorista de um ônibus que trafegava pelo centro da cidade e foi alvo da ação de terroristas. Os recepcionistas do hotel onde estava hospedado me aconselhavam sempre a não sair sozinho, principalmente à noite. Fui proibido até de atravessar a rua para comprar cigarros. Mas, apesar de tudo, tive a oportunidade de assistir a uma tourada, na principal praça de touros da cidade. Não gostei dos trejeitos do toureiro, mas ele ganhou a parada para o touro e foi muito ovacionado pela torcida. Ambos saíram carregados: o toureiro pelo triunfo alcançado. O touro porque morreu em praça publica. O espetáculo lembra as épocas remotas em que leões devoravam seres humanos para alegria do povo.. Ainda em Bogotá, conheci o Salto de Tequendama, uma queda dágua muito parecida com a que existe na cidade de Canela (RS), A cascata tem 140 metros de altura, há pouco mais de 40 quilometros da
  • 65. Capital. Na primeira vez, só ouvimos o som da água caindo,. Um forte nevoeiro escondeu de nossos olhos essa beleza da Natureza. No dia seguinte, o tempo continuava nublado, mas não existia o nevoeiro e conseguimos visualizar o maravilhoso espetáculo. Durante um curso de radio educativo, realizado no Rio Grande do Sul, reunindo profissionais de todo o país, ocorreu a chance de pisar em outro solo estrangeiro. Era um fim de semana majs longo – o feriado de 8 de dezembro caiu na sexta-feira e os companheiros mais abastados e que moravam em Estados próximos decidiram causar inveja na gente, os “matutos” do norte-nordeste. Eles decidiram passar o fim de semana em Buenos Aires e como a nossa grana (já era o finzinho do curso, que durou 25 dias), não dava para vôos mais altos, resolvemos participar de um pacote turístico até Montevidéu, com passagens pelas praias de Punta Del Leste e Piriápolis. Participaram da excursão meu conpanheiro pernambucano Washington França, um amazonense e um cearense. Saímos as 7 da noite do centro de Porto Alegre e as 7 da manhã estávamos em Montevidéu. O passeio foi maravilhoso. Conhecemos Punta Del Leste, famoso laneário do litoral uruguaio e outras regiões litorâneas. Ficamos num hotel 3 estrelas no centro da cidade e conhecemos os pontos turísticos no mesmo ônibus da nossa viagem. Chegamos de volta a Porto Alegre as 7 da manhã da segunda-feira. Para quem não tinha grana pra gastar em Buenos Aires a gente se contentou com Montevidéo. Por duas vezes estive nos Estados Unidos, precisamente em Orlando e Miami, acompanhado por Samir Abou Hana, que já conhecia o caminho. Orlando é um verdadeiro sonho. Depois que Walt Disney decidiu fazer dela o lar de Mickey e seus amigos e criar a Walt Disney World, a cidade transformou-se uma metrópole que recebe milhões de visitantes de todo o mundo. Os parques temáticos são atrações obrigatórias, onde os sonhos e a ficção se tornam realidade: Universal Studios, Walt Disney Magic, Epcot Center, MGM Studios, entre outros. Ficamos hospedados no Hotel Holiday in, na International Drive, a principal avenida do centro turistico de Orlando a poucas quadras do Wet`n Wild, o melhor parque aquático das Américas. Um desses centros de diversão mais procurados é a Universal Studios, onde são apresentadas tecnologias de efeitos especiais de filmes consagrados, como “King Kong”, “”Tubarão”, “Terremoto”, no meio dos quais nos tornamos personagens vivos. Um dos que mais nos atraíram foi A criação de Stephen Spielberg. Dentro de um barco umas 10 a 15 Pessoas saem num passeio pela replica do Porto de Amity, momento em que surge um enorme tubarão branco de 3 toneladas de puro terror. Ondas