Para comemorar o aniversário de Fortaleza, o Sistema Verdes Mares sugeriu uma troca de afetos, por meio da qual pessoas que têm fortes histórias com a cidade, expressam sentimentos, acumulam memórias e contam as historias de si erguidas em espaços da cidade. São narrativas enviadas de presente à capital cearense
1. Larissa Viana, 35 anos, Arquiteta Urbanista
Nasceu em Cedro (CE)
Mora em São Paulo (SP) há 6 anos
Morou em Fortaleza por 15 anos
Fortaleza, mulher, te contar, esses dias aconteceu algo muito inusitado, eu dei um rolezão,
como se diz por aqui na terra da garoa, por tuas ruas. O rolê, infelizmente, teve que ser pelo
Google Street View.
Tudo começou porque fiquei tentando lembrar onde fica um prédio que gosto muito da
arquitetura, a sede da Anatel, um projeto do arquiteto Delberg Ponce de Leon, e não
lembrei. Perguntei às amigas que responderam: “na Virgílio Távora”. Isso me deu uma
tristeza, mulher, uma angústia mesmo. Morei uns dez anos nessa tua avenida, como poderia
não lembrar? Apertou meu coração essa falta de orientação em ti, que é quase minha cidade.
Lembrei de uma vez que te visitei de última hora para resolver uma burocracia, era meio de
2015, peguei o carro de uma amiga emprestado e entrei numa contramão, sem saber, claro.
Na minha época essa mesma rua era mão dupla. Lembro da sensação de desespero de estar
na contramão e, depois de conseguir sair, te ouvi dizer: “bem doida que eu vou ficar do jeito
que tu deixou. Te orienta, mulher”. Ri sozinha aqui em casa lembrando desse dia.
Aí resolvi abrir o Street View e começar pela Avenida Senador Virgílio Távora, minha
última e mais longa morada aí contigo, Edifício Status, modernista, acho que foi teu
primeiro residencial com elevador panorâmico, também do arquiteto Delberg Ponde de
Leon.
Fui subindo, sentido mar-sertão, se fosse ao contrário seria descendo, né, mulher? Cheguei
ao prédio da Anatel. No fim da Virgílio Távora virei à direita, peguei a Pontes Vieira que
continua como Treze de Maio, e fui a caminho da casa dos meus avós paternos, no Bairro de
Fátima. Como você sabe, eu morei um tempo com eles e eles já morreram. A casa foi vendida
e hoje tá pintada com esse verde feio, mas, como você deve lembrar, antes ela era bege e de
portão e grades brancas. Nessa casa tenho infinitas lembranças da minha infância e
adolescência, tanto de férias, quanto de morada. Sorri e chorei olhando pra ela.
Depois passei na Antônio Sales, porque quando criança, quando ainda morava em Cedro, eu
adorava a Praça da Imprensa. Minha tia materna mora desde sempre muito perto da
Praça e quando eu ia passear aí e dormia na casa dela eu adorava o brilho
das antenas e me perguntava por que dessa torre não ser tão famosa quanto a torre de
Paris.
Segui pro centro, cheguei na Praça dos Leões – Lions, saudades demais. Aliás, esse foi
outro choque. Um dia que fui de férias te visitar, era meio de 2016, marquei com meu amigo
2. de guerra Márcio de encontrar na Lions e ele me dizendo, por telefone, o exato local onde
estaria me esperando e eu, sem entender nada, pensando: “oxi, esse gato tá é doido, quando
chegar lá vou ver todo mundo de conhecido e encontrá-lo rapidamente”. Mais uma vez você
me mandou prestar atenção na vida dizendo: “te orienta, tu ainda não entendeu que as coisas
mudaram e a Lions agora é lotada de ‘vetim’ cabeça de gelo”.
Depois passei pela Catedral neogótica, com construção iniciada em 1938, mas concluída
apenas em 1978, onde eu sempre passava com amigos de trabalho e de vida, quando
trabalhávamos ali perto e íamos almoçar no centro. Eu sempre corria com os pombos “como
a Natasha da novela Vamp” e ouvia sempre de algum amigo: “vai, doida, teu mal é fome”.
Em seguida passei pela Zé Avelino relembrando meu saudoso e sempre amado, Acervo
Imaginário. Como fui feliz em tantas noites ali. Passei ainda pelo Dragão do Mar, vi de
longe o Bar do Avião. Quanto amor, quantos porres, quantos pastéis oleosos, quantas
danças livre e agarrada, quanta cantoria a plenos pulmões. Por fim desse rolezão, passei na
amada, linda, viva e pulsante Praia de Iracema, pela Rua dos Tabajaras, uma das mais
lindas que você tem e cheguei à Praia do Futuro pela Santos Dumont. Eu sempre amei essa
descida.
Uma pena que nesse passeio pelo Google não deu pra visitar outros lugares tão amados e
lembrados por mim e não deu pra ver sua luz do fim do dia, de quase todos os dias. Era
sempre esse momento que você se tornava mais luz pra mim, essa luz tão própria, de capital
que é mulher e única.
Lembro sempre dessa luz viva, potente, resistente, especialmente quando chega o inverno
aqui em São Paulo e os dias seguem cinzas e tediosos. Mas guardemos esse momento para
nosso próximo encontro, em breve, espero.
Tu sabe que eu te acho bem contraditória, né, mulher? Mas quem não é? Tu desperta em
mim sentimentos contraditórios, como costumam ser os melhores sentimentos. A gente não
desiste uma da outra e, em tempos tão difíceis e sombrios sempre me recordo de sua luz e
que você é A Fortaleza. Te amo e amo que tu tem nome de mulher, poucas capitais nesse
Brasil tem.
Fábio Gouveia, 31 anos, Microempresário
Nasceu em Mombaça (CE)
Mora em Curitiba (PR)
Morou em Fortaleza dos 13 aos 23 anos
3. Eu sinto sua falta. E também não quero voltar a ficar por aí. É uma internalização de amor
e ódio que só as experiências múltiplas causam. No fim das contas eu prefiro ter vivido essas
experiências múltiplas e sei que só pude vive-las por sua causa.
Quando eu saí do sertão central e quente você me prometeu brisa, futuro, universo. E você
cumpriu cada uma das suas promessas. Eu lutei. Sofri. Chorei. E sorri. Eu tantas vezes
acho que nunca, em nenhuma outra fase da minha vida, vou poder sorrir como quando você
me recebeu. Das pequenas coisas, das viagens de Paranjana superlotado.
De quando me ensinaram a reconhecer um ‘mala’ e correr pro outro lado da rua. De como eu
me sentia um moleque pobre ralé com todo o Iguatemi olhando torto pra minha bermuda e
chinelo. E de como eu senti orgulho uns anos depois, usando a mesma roupa, só que vindo da
faculdade e não de uma pernada para procurar estágio do CIEE ou emprego em fast food.
Eu sinto falta de como você me mostrou o outro lado de tudo. De todos.
Do medo de ser humilhado por gente rica, ao orgulho dos maravilhosos amigos que vão me
acompanhar para o resto da minha vida, e que eu certamente, só poderia encontrar aí. Eu me
ergui diante da dor da pobreza extrema. Porque você me mostrou como a beleza existe em
abundância. No rosto dos amigos, na roda de cerveja barata, nos bares do Benfica, nos
pratinhos da Gentilândia, no mata-fome de um super salgado e um copo de suco a dois reais
na frente do CEFET. Nem chamam mais de CEFET. Como mudou... Muita coisa.
Eu sinto falta até de reclamar do cheiro de urina depois de um grande show de graça na
praça do Ferreira ou no aterro. De fazer cursos de cinema no Dragão e quebrar um novo
preconceito a cada dia. Eu sou seu. Mesmo não estando seu. Mesmo nem querendo voltar a
estar seu. Porque o terror me assombra. Você me permitia andar nas madrugadas no
centro, da Praia de Iracema, cantar todo o repertório do Legião na Ponte Metálica, sem
medos. Eu sabia que ia voltar pra casa. Mesmo que fosse em Maracanaú ou no Bom
Jardim. Eu vivi em você. Eu fui plenamente jovem em você. Amei, me apaixonei, me descobri
a cada hora...e fui embora.
E só fui embora porque é do seu feitio esse olhar para além das ondas. E mesmo assim
receber bem, abrir os braços e acender a luz em cada retorno. Mesmo que tanto me digam e
queiram me convencer do quanto você se degradou. Ou do quanto te degradaram. Eu tenho
uma menina hoje. E confesso meu medo de andar com ela pelos lugares que eu morro de
vontade de andar com ela. E não há um dia em que eu não queira mostrar o lugar em que o
papai foi extremamente feliz. Não há uma gota de sangue dela, ou meu, que não pulse o
Ceará, Fortaleza...Obrigado por me fazer forte e me lembrar dessa força. Eu sinto falta de
vocês.
4.
Samuel Giaretta, 31 anos, Analista de contratos internacionais
Nasceu em Getúlio Vargas (RS)
Mora em Londres, Inglaterra
Morou em Fortaleza e largou a cidade há dois anos
Fortaleza, minha amada!Perdoe esse “cearúcho” por ter se afastado momentaneamente.
Prometo que continuarei voltando aos teus braços de tempos em tempos, assim como já
voltei duas vezes desde que parti, menos de dois anos atrás. Me desculpe, mas neste quesito
sou poliamoroso. Mas você sabe que parte do meu coração sempre será reservado pra ti.
Nenhuma das outras que já ocuparam meu coração me brindaram tua LUZ, tuas praias e
um sol como o teu, um clima tão generoso e uma brisa do mar tão agradável. Água de coco,
cajú, cajá, siriguela, sapoti, graviola. Pastel com caldo de cana. Baião de dois, carne de sol,
paçoca, tapioca. Nem vou falar dos peixes. Pra parar de me torturar. Foram tantos meio
dias na Praça do Ferreira, caminhadas na beira em finais de tarde, momentos prazerosos
no Dragão do Mar, praia do futuro, no Benfica, na Varjota, e tantos outros.
Saibas que você segue em minha cabeça. Sinto falta da tua LUZ. Sei que às vezes sofres
com os problemas, com a falta de recursos, com suas contradições, você sabe que nossa
relação não era só flores, mas saibas também que tantos outros amores que eu já tive,
podiam até ter mais recursos econômicos e estrutura que você, mas não tinham tua alma, tua
alegria, teu encanto, teu brilho, enfim, tua LUZ.
Nem tua luta diária para superar os problemas, teu dom de fazer humor, teu sorriso
escancarado. Porque o que faz uma cidade é a vida que há nela. A LUZ da alma, da
espontaneidade e da grandeza de espírito que emana das pessoas, do mais humilde ao mais
privilegiado.
Melizza Machado de Souza Carvalho Luzardo, 43 anos, Advogada
Nasceu em Fortaleza
Mora na Nova Zelândia, há 15 anos
Fortaleza, terra da Luz! Luz que ilumina meu sorriso e minha alma todas a vezes que vou te
visitar. Minha alma cheia de lembranças de minha infância querida no Eusébio rodeado de
árvores frutíferas, com gosto de família e regado aos sons dos pássaros cantando!
5. Ah Fortaleza ! Tu guardas tantas lembranças! Tantas férias perto do Mar maravilhoso e
renovador de energia! Família completa cheia de alegria! Como éramos felizes! Que benção
de Deus ter vivido e crescido com uma família maravilhosa em uma cidade maravilhosa!
Passeios na praia do Futuro, cada mergulho um banho que lava a alma ! O Sol brilhante
nos lembrando o quanto somos iluminados de termos sido escolhidos para fazermos parte
dessa Luz!
Cidade iluminada que guarda em seu seio nossas raizes! Orgulho de ser parte da terra de
Iracema! Saudades eternas de minha terra!
Camille Machado, 44 anos, Socióloga
Nasceu em Fortaleza
Mora na Espanha, desde 2004
Fortaleza querida,
Quando me fui...
Nunca pensei que chegaria , nunca acreditei nesse momento. A vida muda e nao piensas.
Acordas um bom dia olhando para tras, para o caminho que marcaram os teus pés... Envia
beijos por mim, Fortaleza, com saudade para todos os que voltarei a encontar. Tantas
lembranças tenho contigo... Nao chore por mim, minha amiga... Que somente fique todos os
nossos sonhos e todas as nossas lembranças... para lembrar, como esse perfume de mar e o
doce cheiro da minha infancia . Quando me fui de ti , Fortaleza, de minha terra, da minha
familia. De ti, que me viu nascer, que me viu crescer...Quando me fui, nao sabia, o tamanho
do amor que sinto por ti.
Minha Fortaleza querida , mesmo com tanta saudade, estou feliz e quando nos
encontrarmos de novo, brindaremos com sabor a coco a magica de estar contigo.
Te amo.
Vitor Carvalho, 16 anos , Estudante
Nasceu em São Miguel (RN)
Mora em São Miguel (RN)
Não morei em Fortaleza, passei um período de férias, mas foi o suficiente para me
apaixonar.
6. Minha Fortaleza, cidade querida que escolhi para ser a minha, meu lar. Fortaleza, tu és
uma cidade de grande receptividade, e por mais que eu esteja longe, eu me recordo de todos
os bons momentos vividos, desde aquele primeiro ano em que estive aí, lembra que cheguei aí
em julho de 2015 para passar apenas uma semana?
Desde aquela primeira vez na cidade, onde aos poucos fui conhecendo tudo que tinha de
melhor, eu senti em mim a identificação com o povo, com a terra e tudo que há nela. Como
posso esquecer da primeira vez que fui a feirinha da beira mar, da primeira vez que conheci a
arte da cidade?
Eu lembro do primeiro ano novo que passei na praia de Iracema, em 2016. São tantos
momentos, ô Fortaleza, que mal cabem nesta carta. Fortaleza, tu és minha Luz, aquela luz
trazida dos olhos da bela Iracema, a Virgem dos lábios de mel. Fortaleza, tu és a Luz da
minha esperança, a esperança de um sonhador em ficar de vez morando na cidade. De não
mais lhe deixar. Tenho tantas memórias marcantes que me enchem de felicidade,
ô Fortaleza. E foi justamente a tua luz que me deixou apaixonado por ti e pelos bairros que
eu passava.
O bairro do Mucuripe é o mais inesquecível, pois é sempre iluminado, e foi o primeiro bairro
onde eu fiquei, com uma vista encantadora do mar, e é assim Fortaleza que me lembro
sempre de ti, com a beleza do teu verde mar. Tua luz, Fortaleza, é a gratidão, a felicidade,
luz no sentido de tudo que é bom, da iluminação da noite na escuridão. A Luz do sol quente
que não faz o povo parar de trabalhar, de se divertir. O mais marcante é a garra e a
coragem do povo cearense, do bom humor que o fortalezense tem. Então, Fortaleza, receba
minha homenagem e profunda admiração, não sou seu filho nativo, mas o filho que te acolheu
como se fosse da cidade, com o DNA cearense que escorre pelas minhas veias. Saiba que
logo em breve estarei aí para matar essa saudade.
Feliz 293 anos. Com saudade, agradecimento e gratidão: Vítor Carvalho.
Roberta Mesquita Sjöholm
Mora na Suécia
Minha querida terra da luz,
Espero que esteja tudo bem com você e com seu povo. Por aqui os dias estão bem melhores e
mais quentes e a neve está quase indo embora para a chegada da tão esperada primavera.
7. O último outono foi muito longo e tivemos dias com somente 3 horas de claridade. São nesse
dias escuros, chuvosos que mais sinto falta da sua luz. Luz que enche meus olhos de lágrimas
ao relembrar o nascer e o pôr-do-sol que aí acontece quase na mesma hora.
O cheiro de pipoca nos calçadões da beira-mar, água de coco geladinha, os hippies vendendo
suas artes, o carinha metido a músico tocando Legião Urbana na ponte metálica e eu alí há
vinte anos atrás cantando baixinho e olhando as ondas do mar baterem nas pedras.
E o mar? O mar é o que mais sinto falta e como sinto... Saio iluminada e de alma lavada
depois de um mergulho nas ondas da praia do Futuro. Praia onde meus avós, meus pais, eu e
meus irmãos, o primeiro banho de mar do meu esposo no Brasil esposo e onde minhas filhas
já banharam.
Saudades da luz, dos abraços apertados, dos risos alto, do churros com doce de leite e
principalmente da minha família, do melhor de mim, que ficaram ai do outro lado do mundo,
mas sempre perto do coração.
Grattis på födelsedagen Fortaleza!
Fabiano Custodio Silva Sakamoto, 37 anos , operário
Nasceu em Porto Alegre (RS)
Mora em Ogaki, Japão
Morou por 12 anos em Fortaleza
Vivian Nathália Sakamoto Silva, 36 anos, operária
Nasceu em São Paulo (SP)
Mora em Ogaki, Japão
Morou por 9 anos em Fortaleza
Olá querida Fortaleza,
Quanto tempo! Para sermos mais precisos, nos encontramos pela última vez há um ano,
lembras? Na ocasião, tivemos a honra de te apresentar ao herdeiro da nossa história,
uma história de amor que se iniciou dentro de ti. Cidade de sol e luz, com calor intenso que
aquece os corações dos que em ti se encontram. Cenário perfeito para pessoas se
apaixonarem, não é mesmo?
Foi muito prazeroso e gratificante mostrar a ele lugares teus que contém um pouco de nós,
a começar pela porta de entrada e saída de muitos, o aeroporto internacional Pinto
Martins, o qual num dia, foi palco da nossa despedida, de ti, dos parentes, amigos, ou seja,
um pedaço de nós ficou contigo.
8.
Depois, mais tarde, mostramos um pouco da avenida Godofredo Maciel, que também,
por tantas vezes transitamos enquanto em ti habitávamos, no centro, coração pulsante dos
fortalezenses, tivemos a oportunidade de apreciar um típico pastel com caldo de cana,
durante uma boa prosa sobre acontecimentos de quando por ali estivemos no passado.
E são tantas lembranças que acumulamos dentro do teu território, mas grandes e
boas recordações nos trouxe a visita ao bairro Benfica e tua orla marítima, o primeiro com
sua alma intelectual e boêmia e a segunda com sua pluralidade cultural, ponto de encontro
daqueles que te visitam. Estes, sem dúvidas, fizeram parte de muito dos nossos encontros!
Com certeza, esses dias de reencontro estarão gravados em nossas memórias, pois fostes luz
pra nossa união, pras nossas vidas, nos acolhendo, nos ensinando e nos enchendo de força e
coragem nos tempos em que fizemos parte da tua história.
E hoje, tão distantes, nos encontramos cheios de saudade, esperançosos e ansiosos por um
novo encontro. Um grande abraço, te amamos Fortaleza.
Luciana Linard Silva Malveira, 40 anos, servidora pública federal
Nasceu em Juazeiro do Norte (CE)
Mora em São Luís (MA)
Morou em Fortaleza por 22 anos
Minha Fortaleza. Cheguei para morar em fevereiro de 1989, prestes a completar 11 anos de
idade. A mais nova de três irmãos, todos vindo de Juazeiro do Norte, liderados por nossa
mãe, já falecida, em busca de uma boa escola e de um futuro promissor. Deu certo.
A primeira morada foi na Rua Carlos Vasconcelos quase esquina com Antônio Sales.
Depois dessa, passamos por algumas outras até que chegássemos na derradeira, Rua da
Paz, onde meu pai reside até hoje.
Apenas eu fui embora, 22 anos depois. Ocorre que “ir embora” é algo que traz um
sentimento de chegar em casa sempre que o avião pousa.
Foi em Fortaleza que aprendi a dirigir, passei no vestibular, tirei carteira de trabalho,
perdi minha mãe, tive o primeiro filho, o primeiro emprego, construí amizades verdadeiras,
fiz cursinho, passei em 4 concursos, e fui embora. Foi aí também onde aconteceram minhas
piores derrotas, que me transformaram em quem eu sou hoje.
Eu saí de Fortaleza, mas ela jamais sairá de mim. Seja pela minha memória afetiva, seja
pela família e amigos que continuam aí. Que sorte a deles.
9.
Parte da memória afetiva dos meus filhos também está sendo construída em Fortaleza. É o
lugar onde passamos todos os Natais, férias escolares e alguns feriados prolongados.
Sinto saudade de andar pela Avenida Dom Luís vendo as vitrines das lojas e pela beira mar
sentindo a brisa no rosto. Sinto falta do cearense que se reconhece e se cumprimenta pela
linguagem e tratamento peculiar, e de sua simpatia incomparável.
Fortaleza pra mim representa o progresso e a esperança de dias melhores. Foi a cidade
onde chegamos crianças, eu e meus irmãos, e nos transformamos em cidadãos de bem e
profissionais respeitáveis.
Fortaleza, te amo!
Jussara Bernardo, 34 anos, assistente social
Nasceu em Fortaleza
Mora no Recife (PE)
À Fortaleza,
Certo dia voltando para Recife percebi que vivo na saudade, ou seja, moro na saudade, pois
se estou em Fortaleza tenho saudades de quem está em Recife e a recíproca é bastante
verdadeira. Hoje meu lugar é na saudade e Fortaleza é onde guardo os meus maiores
amores, logo, minha maior saudade.
Hoje morando em Recife, Fortaleza consegue ser o que seu próprio nome significa: pois é lá
que consigo toda a força que preciso para seguir, através dos conselhos da minha mãe, do
abraço do meu pai, da amizade do meu irmão, do cheiro do meu cachorro, do bem querer das
minhas tias e da cumplicidade das minhas amigas.
Foi um amor que me guiou até Recife e paralelo a isso resolvi fazer mestrado na minha
área. Hoje tenho bastante carinho por essa cidade e sempre conheço novos lugares que vão se
tornando marcantes, mas nunca esquecerei da cidade que fez parte de quem sou. Diariamente
me perguntam: você não é daqui, não é? É de onde? E eu sorridente e orgulhosa, respondo:
Fortaleza. E sempre falo do quão especial são as pessoas de lá, além do que todos já falam
que é sobre as praias e o turismo em geral.
Não esqueceria os fins de tarde que a Praia de Iracema me proporcionou. Aquela luz no
horizonte que nos abraça quando precisamos de colo. Das noites tomando cerveja com as
amigas pelo Benfica que acolhe todas as pessoas. Dos anos maravilhosos que pude desfrutar
na UECE estudando e lutando. Na praia de Flexeiras que se tornou o meu cantinho para
fugir ou para conciliar. Nas idas a Feirinha da Beira Mar com minha mãe. E, mais recente,
10. do ritual de despedida quando volto de “casa” para Recife: o abraço em minha tia querida
sempre já me perguntando quando retorno e já dizendo que tá com saudades, o abraço do
meu pai apertado me desejando boa viagem e cuidado, o cheiro na cabeça do Frederico (meu
cachorro) e o caminho até a rodoviária com meu irmão e minha mãe. Eles ficam até eu subir
no ônibus e sempre a mesma imagem segue viagem comigo, depois do abraço demorado neles,
os dois abraçados olhando pra mim na janela e dando tchau até não enxergarem mais o
ônibus. Eu sempre escolho a mesma cadeira no ônibus para que eu possa ficar os olhando até
os últimos minutos, pois é só em Fortaleza que tenho isso.
Assim como Belchior, que sentiu que deveria sair por aí em busca de novos lugares, olhares
ou amores (em seu sentido mais amplo), saí de Fortaleza, mas a luz dos afetos, do amor,
das saudades, das lembranças e dos reencontros permanecem latente. Quando o coração
aperta escuto Belchior, faço uma ligação para minha mãe e, se nada disso resolver, é na
minha “Fortaleza” que recorro e tudo vira luz.