[1] O documento discute a evolução da publicidade de automóveis no Brasil, dividida em três etapas: educacional, construção do inimigo, e entretenimento atual. [2] Também aborda exemplos históricos controversos de propagandas que desafiaram leis de segurança e meio ambiente. [3] Por fim, analisa o uso contínuo de belas mulheres nas propagandas atuais e os limites éticos na sugestão de comportamentos ilegais.

1. E STA D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 2 8 D E S E T E M B R O D E 2 0 0 8
2 CLASSIFICADOSVEÍCULOS
ROLIMÃ
ROGER REGIS/REPRODUÇÃO BOB WOLFERSON/VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO
ULTRAPASSADO RESPEITO O protesto do
PELA RAZÃO ministro precede o que é
O simbólico cabelo de considerado um marco
Grace Jones estampou a importante da
publicidade do Citroën publicidade. De acordo
CX no início da década com o chefe do
de 1970 (foto). No lugar Departamento de
do penteado quadrado Comunicação e professor
que a diva usava, foram de semiótica e criação da
moldadas as formas do UFMG, Carlos Mendonça,
CX e escrito apenas no final da década de
“220km/h”, com uma 1980, as leis cidadãs
interrogação. Feixes de começaram a vigorar no
luz mostrando a idéia Brasil e, com isso, a
de velocidade, posição do consumidor
reforçada pelo olhar foi modificada. Assim, os
andrógino de Grace, fabricantes têm de FAMA O uso de belas mulheres na publicidade atual ainda é
completavam a continuar prometendo o válido, mas permite interpretações diferentes. A recente
imagem. À época, a que prometiam, mas propaganda do Volkswagen Gol exibiu a supermodel Gisele
ousadia gerou necessitam respeitar as Bündchen ao lado de Sylvester Stallone (foto). Pela lógica de
protestos do então leis de proteção ao meio mercado vigente, é claro que uma modelo do quilate de
ministro dos ambiente, aos limites de Gisele não se deixaria seduzir pelo popular Gol. Entretanto, a
transportes francês, velocidade e a segurança. VW une a beleza da modelo a sua fama, junto com a de
devido ao apelo à Stallone, para reforçar uma idéia antiga de que uma
velocidade proposto. personalidade usa aquele veículo.
EVOLUÇÃO A publicidade
P.A.R.C. - ARCHIV EDITION/REPRODUÇÃO de automóveis no Brasil
pode ser considerada
recente, pois a indústria
tem pouco mais de 50 CERTEZA No passado, a
REPRODUÇÃO DO ARUIVO DO CLUBE DO FUSCA DE POÇOS DE CALDAS
anos, enquanto a mesma Volkswagen se
publicidade de fato valeu de táticas diferentes
começou no país no para vender seu então
início do século passado. modelo popular. Ao
Mendonça divide a observar as campanhas do
evolução em três grandes Fusca (fotos), vê-se uma
etapas. A primeira é alusão às qualidades do
educacional, pois foi besouro, que deixa passar
paralela à revolução uma certeza de que aquele
industrial nacional e tem modelo não falha nunca.
como mote ensinar o Frases como: “O que você
cidadão a usar os pensaria em levar a um
produtos. A segunda lugar que não tem água e
trabalha a construção do está cheio de crateras?”, e a
inimigo e as maneiras de imagem do Fusca
lidar com a concorrência. estacionado na Lua ou
A terceira e atual trata a “Aplique num negócio que
publicidade e não quebra”, com a foto da
propaganda como lateral do Fusca. Há
entretenimento, sendo também outras como
que algumas tecnologias “Buracos, voltei” e “Dura
usadas para ajudar na até acabar”.
venda de produtos é
empregada em outras
mídias, como o cinema e
vice-versa. O professor da
UFMG ressalta que os ERRO Para Mendonça, quando um fabricante vai além dos
DETALHE Alguns elementos, entretanto, são associados ao carro desde que a roda foi momentos são limites da lei e exibe publicidade que mostra ou sugere
colocada no eixo. As mulheres nas peças publicitárias acendem a chama da potência superados, mas alguma transposição da lei, como o Citroën CX voando no
e fazem sucesso em variadas formas. Desde uma antiga imagem produzida pela Audi continuam existindo, cabelo de Grace Jones, falta do uso de segurança, incentivo
(foto), onde uma modelo loira nua deita na areia, com a perna esquerda pois a evolução de uma à violência ou desrespeito ao meio ambiente, o único
sensualmente dobrada e esconde as partes com um chapéu. Ao fundo, como um época para outra não motivo que justifica tais atitudes atualmente é alguma
detalhe, está o carro, essencial para a construção do cenário. esgota os argumentos falha. “Publicitário não é artista, pois trabalha para o
da anterior. mercado”, explica.
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