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UNIVERSIDADE TIRADENTES
REALIDADE BRASILEIRA E REGIONAL




    DANIEL SIMÕES CALDAS
    ISAAC BUZZOLA CHÊNE
       ISIS GUIMARÃES
      CAIO GÓES SANTOS
        JOSÉ ALBERTO




    RELATÓRIO DE PESQUISA

  IDENTIDADE CULTURAL




            Aracaju
           Março, 2012
2




“Meu barco, cerca de meio-dia, abriu também suas asas e voou gracioso e veloz, rio
acima, em cujas margens iam se desenrolando cenários simples e magníficos. Na
larga curva, logo a noroeste de Penedo, aparece primeiro a pequena Boacica, com
uma bonita capela no cimo de uma colina e mais adiante, na margem plana do lado
direito, a de Sergipe, surge entre a verdura a pequena povoação de Nossa Senhora da
Saúde, mais um grupo de casas espalhadas do que propriamente uma aldeia. Nas
margens, e mais frequentemente ainda nas ilhas verdes inteiramente planas, pastam
cavalos e bovinos… Veem-se aí pequenos arrozais, aparentemente no meio da água,
sobretudo nas calmas enseadas do rio, como pequenos lagos muitas vezes ligados ao
rio apenas por uma estreita entrada. Às margens dessas enseadas, a maior parte das
vezes, vê-se um casal, no meio das várzeas verdes, com pequenos rebanhos de
bovinos; tudo parece pobre, humilde e, contudo, ameno e aprazível.”

                                                               Robert Avé-Lallemant
3



                                      SUMÁRIO



1. OBJETIVO DE PESQUISA...............................................04

2. DESENVOLVIMENTO .....................................................05

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................08

REFERÊNCIAS ......................................................................09
4



1. OBJETIVO DE PESQUISA




           Esta pesquisa tem o intuito de apresentar aos alunos do curso de Jornalismo,
Publicidade e também a pessoas interessadas, um pouco mais sobre o Artesão Naval (Mestre)
Bruno Procópio Neto e seu trabalho. Para a elaboração deste trabalho, nosso principal
método foi a pesquisa em campo e em referências bibliográficas recomendadas pela
professora Henriete Cabral. Conhecer o artesão, seu trabalho, sua história e procurar se
aprofundar mais nos meios que construíram a identidade artística deste senhor.




           Num primeiro momento, nosso grupo ainda não havia tido nenhum contato com o
artista, nem com seu trabalho. Então marcamos um encontro para uma conversa informal e
que, no final das contas, acabou se tornando uma entrevista. Para nossa surpresa, ao conhecer
o Mestre Bruno, notamos que havia algo peculiar no seu trabalho e na sua vida como artesão
naval. Sua humildade foi o que mais nos cativou e que realmente gerou interesse em pesquisar
mais a fundo sobre sua história, pois, ao prestar atenção na vida deste homem, percebemos
que há uma relação íntima com a carpintaria, especificamente com a fabricação de barcos,
desde os seus seis anos de idade.
5



2. DESENVOLVIMENTO




            Encontramos apenas um texto sobre o Mestre Bruno, escrito há alguns anos atrás
pelo Jornalista Paulo Lima, em 2004. É uma pequena narrativa sobre sua visita ao artesão
Bruno. No texto e como nos conta o Sr. Bruno, é um homem que veio da roça, de Escurial,
um povoado próximo a Nossa Senhora de Lourdes, região do baixo São Francisco, em
Sergipe. Seu pai, agricultor, nunca havia tido relação alguma com a fabricação de barcos ou
carpintaria em si, apenas uma pequena canoa que usava para pescar.




            O primeiro encontro de Bruno com a marcenaria foi aos seis anos, ajudando o pai
na manutenção de seu barco. Isso gerou certo interesse nele pela madeira. Aos doze já fazia
cadeiras, mesas, móveis ainda simples, porém de boa qualidade. Conta-nos que, como naquela
época não havia todo o maquinário para dar suporte, ele teve que desenvolver suas próprias
técnicas para fabricar suas peças. Este interesse em fabricar os objetos de madeira, desde a
infância, pode ser visto em sua qualidade de serviço e produto, e em sua própria fala. Muito
humilde nas palavras, Bruno guarda certa prepotência pelo fato de ser considerado o melhor
artesão naval da região. Considerado até pela própria Petrobrás que o reconheceu e fez um
pedido de 62 barcos de pesca de uma vez só. Bruno conta também que aos 15 anos começou a
fabricar miniaturas de barcos apenas por diversão, ou, de vez em quando, canoas para cumprir
serviço, normalmente encomendas de amigos. Fabricava barcos com cerca de seis a oito
metros de comprimento. Nessa época não produzia, necessariamente, para vender, apenas
pelo gosto de fazer.




            Um fato interessante de citar é que em nenhum momento de sua história o Mestre
Bruno fala de uma relação do trabalho com a pescaria, ou com qualquer tipo de atividade
naval, apenas usava como transporte. Haviam outras fontes de renda da família e não existia
necessidade de dinheiro naquele momento. Porém, com o passar do tempo, as pessoas da
região começaram a notar seus trabalhos artesanais e a fazer pedidos na cidade em que estava
e na capital (principalmente). Ele escutou as sugestões e buscou levar a ideia à frente. No
começo fazia apenas canoas, nas quais ele utilizava para fazer serviços fretados para clientes
6



em Aracaju. Ele ia para a capital, o cliente fornecia o material, o barco era fabricado e, então,
Bruno voltava para Escurial. A demanda começou a ficar maior e maior, e isto o fez, em
1980, mudar para Aracaju onde até hoje trabalha e vive no Bairro Industrial ao lado da
Orlinha, em um pequeno estaleiro, com alguns assistentes.




            Crescendo seu conhecimento e desenvolvendo novas técnicas, junto a novas
ferramentas, Bruno não apenas fabrica canoas como também faz reforma de grandes
embarcações de madeira, barcos de corrida e, seu principal produto, os barcos de pesca
motorizados. Mas, quais relações com a cultura da região podem ser notadas nos trabalhos do
Mestre? Para responder a essa questão, é preciso entender um pouco da região onde o artesão
cresceu. Pensamos em algumas hipóteses buscando encontrar referências históricas.
Começamos pelo próprio rio São Francisco.




            No alto São Francisco o homem pouco tem a ver com o rio, pois ele não tem ali
grande importância econômica. Suas águas não são usadas na irrigação, como em outras
regiões, já que chove bastante o ano todo. Pedras e corredeiras impedem a navegação. A
pesca comercial é incipiente, pois o rio, ali, não possui volume para abrigar grandes
cardumes. Por tudo isso, esses habitantes não criaram qualquer identidade mais marcante em
relação ao rio. Isso prova que uma parte do Rio não há uma identidade marcante com pesca
ou economia diante da situação ou do modo que o rio deságua nesse trecho.



                        A pesca artesanal sempre prevaleceu no baixo curso do rio São Francisco,
                        persistindo ao longo de décadas até a construção da barragem de Xingó, em
                        1994. Após essa data, rompeu-se definitivamente a distinção entre pesca de
                        lagoa e pesca de rio. A distinção era observada tanto em termos de espécies
                        pescadas como de tipos de artefatos utilizados e também para distinguir o
                        tipo de pescador. (ALMEIDA, Maria Geralda; RATTS, Alecsandro JP (Orgs). 2003. p. 121)




            A cultura de pesca em Sergipe não era e não é tão forte. Participava da economia
do estado, mas em particular. A pesca nada mais era que um modo de vida daquela região do
7



intermediário até a foz do Rio São Francisco. Os homens pescavam para ter o que comer, para
sobreviver. De certo que após a construção da barragem de Xingó esse tipo de atividade se
rompeu.




           Podemos então dizer que o Sr. Bruno é um artista por natureza. Uma peça única
na nossa sociedade, pois ele possui duas características que o diferencia de um barqueiro
comum e o torna um ser único no segmento: O talento e a paixão pelo fazer. Na nossa
conversa, ele nos mostra seu primeiro trabalho artesanal relacionado a embarcações1. Uma
miniatura de barco de pesca com todos os detalhes perfeitamente construídos. Pena que estava
um pouco quebrado por conta das crianças que ele emprestou para brincar. De qualquer
forma, a estrutura principal ainda estava intacta. Era uma peça de extremo valor para ele, pois
guardava ali o sentimento de carinho pelo trabalho que faz. Este mesmo apego é visto em suas
criações, como por exemplo: nas cores que são utilizadas para a pintura do barco após a
primeira etapa do processo de fabricação. Normalmente cores quentes e chamativas, em que,
de longe, é possível ver que a embarcação se destaca nas águas, dando uma beleza particular à
região.




           Um outro ponto interessante em relação ao processo de personalização das peças.
No fundo dos barcos mais comuns, há sempre uma pequena pintura feita a mão, sendo que,
estas não são feitas pelo mestre Bruno, mas por um de seus assistentes, no qual não
conhecemos. É interessante notar que esta pintura que nós vimos em particular, pode ser
interpretada como a representação de um sentimento conjunto dos homens que possuem uma
relação afetiva com as águas. Era exibida uma cena, como uma fotografia. Um rio, azul claro,
com, ao fundo, morros e árvores. Mais para perto da perspectiva do leitor, um terreno
acinzentado, provavelmente representando as terras de Sergipe, um terreno de terra preta e
areia. Estas cores mais neutras foram postas aí para ressaltar a cor forte e alaranjada do céu,
onde há pássaros, voando para o horizonte. É um entardecer no rio. Talvez o artista que
desenhou isso não tenha conhecimento consciente da obra que produziu, porém para os olhos
mais treinados, percebe-se que ali está representado o sentimento mútuo de relação íntima
com as águas. Natural de se ver o “drama” desta cena em comerciais, filmes ou histórias.
Quase como um “estereótipo sentimental” da relação Homem x Águas.
8



3. CONSIDERAÇÕES FINAIS



            O mestre Bruno Procópio Neto continua em sua mesma situação: construindo seus
barcos por prazer, e recebendo por isso. Ele foi desalojado no seu ponto original para o local
onde ele reside sua profissão, por conta da construção da nova Orla. Encontra-se em um
balcão próximo a mesma no bairro Industrial. Apesar de estar muito bem de vida graças aos
seus trabalhos, ele não mudou seu modo de viver nem seu estilo de vida desde que chegou a
Aracaju. O mestre Bruno, humilde em suas palavras, é conhecido por todos e considerado o
melhor artesão naval da região.




            Identidade cultural é um conjunto de relações sociais e patrimônios simbólicos
historicamente compartilhados que estabelece o significado de determinados valores entre os
membros da sociedade. Assim como o artesão Bruno, existem vários outros artistas
manifestando seus talentos seja ele na música, em textos literários, grupos de dança e entre
outras mais ricas informações existentes em nosso estado. Nossa pesquisa não tem a intenção
de terminar por aqui e sim mostrar que existem artistas, como o mestre Bruno, que vivem e
ganham a vida a partir de suas próprias raízes culturais. Fabricando peças, produtos, enfim,
cultura da maneira mais tradicional possível: com as mãos e a paixão.




 “A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também
  tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca
                compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.”


                                                                                     Auguste Rodin
9



                                    REFERÊNCIAS




ALMEIDA, Maria Geralda; RATTS, Alecsandro JP (Orgs). Geografia: Leituras Culturais.
Editora Alternativa, 2003. 280 p.


Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco – Canoa de Tolda [acesso em 2012 Mar
20]. Disponível em: http://canoadetolda.org.br/?page_id=9


Balaio de Notícias – Reportagem: Carpinteiro das águas. Webjornal - Quinzenal - Edição 46 -
Aracaju, 4 a 11 de janeiro de 2004 [acesso em 2012 Mar 22]. Disponível
em: http://www.sergipe.com.br/balaiodenoticias/reportagema46.htm

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Mestre Bruno Pocópio Neto - Identidade Cultural - Texto

  • 1. UNIVERSIDADE TIRADENTES REALIDADE BRASILEIRA E REGIONAL DANIEL SIMÕES CALDAS ISAAC BUZZOLA CHÊNE ISIS GUIMARÃES CAIO GÓES SANTOS JOSÉ ALBERTO RELATÓRIO DE PESQUISA IDENTIDADE CULTURAL Aracaju Março, 2012
  • 2. 2 “Meu barco, cerca de meio-dia, abriu também suas asas e voou gracioso e veloz, rio acima, em cujas margens iam se desenrolando cenários simples e magníficos. Na larga curva, logo a noroeste de Penedo, aparece primeiro a pequena Boacica, com uma bonita capela no cimo de uma colina e mais adiante, na margem plana do lado direito, a de Sergipe, surge entre a verdura a pequena povoação de Nossa Senhora da Saúde, mais um grupo de casas espalhadas do que propriamente uma aldeia. Nas margens, e mais frequentemente ainda nas ilhas verdes inteiramente planas, pastam cavalos e bovinos… Veem-se aí pequenos arrozais, aparentemente no meio da água, sobretudo nas calmas enseadas do rio, como pequenos lagos muitas vezes ligados ao rio apenas por uma estreita entrada. Às margens dessas enseadas, a maior parte das vezes, vê-se um casal, no meio das várzeas verdes, com pequenos rebanhos de bovinos; tudo parece pobre, humilde e, contudo, ameno e aprazível.” Robert Avé-Lallemant
  • 3. 3 SUMÁRIO 1. OBJETIVO DE PESQUISA...............................................04 2. DESENVOLVIMENTO .....................................................05 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................08 REFERÊNCIAS ......................................................................09
  • 4. 4 1. OBJETIVO DE PESQUISA Esta pesquisa tem o intuito de apresentar aos alunos do curso de Jornalismo, Publicidade e também a pessoas interessadas, um pouco mais sobre o Artesão Naval (Mestre) Bruno Procópio Neto e seu trabalho. Para a elaboração deste trabalho, nosso principal método foi a pesquisa em campo e em referências bibliográficas recomendadas pela professora Henriete Cabral. Conhecer o artesão, seu trabalho, sua história e procurar se aprofundar mais nos meios que construíram a identidade artística deste senhor. Num primeiro momento, nosso grupo ainda não havia tido nenhum contato com o artista, nem com seu trabalho. Então marcamos um encontro para uma conversa informal e que, no final das contas, acabou se tornando uma entrevista. Para nossa surpresa, ao conhecer o Mestre Bruno, notamos que havia algo peculiar no seu trabalho e na sua vida como artesão naval. Sua humildade foi o que mais nos cativou e que realmente gerou interesse em pesquisar mais a fundo sobre sua história, pois, ao prestar atenção na vida deste homem, percebemos que há uma relação íntima com a carpintaria, especificamente com a fabricação de barcos, desde os seus seis anos de idade.
  • 5. 5 2. DESENVOLVIMENTO Encontramos apenas um texto sobre o Mestre Bruno, escrito há alguns anos atrás pelo Jornalista Paulo Lima, em 2004. É uma pequena narrativa sobre sua visita ao artesão Bruno. No texto e como nos conta o Sr. Bruno, é um homem que veio da roça, de Escurial, um povoado próximo a Nossa Senhora de Lourdes, região do baixo São Francisco, em Sergipe. Seu pai, agricultor, nunca havia tido relação alguma com a fabricação de barcos ou carpintaria em si, apenas uma pequena canoa que usava para pescar. O primeiro encontro de Bruno com a marcenaria foi aos seis anos, ajudando o pai na manutenção de seu barco. Isso gerou certo interesse nele pela madeira. Aos doze já fazia cadeiras, mesas, móveis ainda simples, porém de boa qualidade. Conta-nos que, como naquela época não havia todo o maquinário para dar suporte, ele teve que desenvolver suas próprias técnicas para fabricar suas peças. Este interesse em fabricar os objetos de madeira, desde a infância, pode ser visto em sua qualidade de serviço e produto, e em sua própria fala. Muito humilde nas palavras, Bruno guarda certa prepotência pelo fato de ser considerado o melhor artesão naval da região. Considerado até pela própria Petrobrás que o reconheceu e fez um pedido de 62 barcos de pesca de uma vez só. Bruno conta também que aos 15 anos começou a fabricar miniaturas de barcos apenas por diversão, ou, de vez em quando, canoas para cumprir serviço, normalmente encomendas de amigos. Fabricava barcos com cerca de seis a oito metros de comprimento. Nessa época não produzia, necessariamente, para vender, apenas pelo gosto de fazer. Um fato interessante de citar é que em nenhum momento de sua história o Mestre Bruno fala de uma relação do trabalho com a pescaria, ou com qualquer tipo de atividade naval, apenas usava como transporte. Haviam outras fontes de renda da família e não existia necessidade de dinheiro naquele momento. Porém, com o passar do tempo, as pessoas da região começaram a notar seus trabalhos artesanais e a fazer pedidos na cidade em que estava e na capital (principalmente). Ele escutou as sugestões e buscou levar a ideia à frente. No começo fazia apenas canoas, nas quais ele utilizava para fazer serviços fretados para clientes
  • 6. 6 em Aracaju. Ele ia para a capital, o cliente fornecia o material, o barco era fabricado e, então, Bruno voltava para Escurial. A demanda começou a ficar maior e maior, e isto o fez, em 1980, mudar para Aracaju onde até hoje trabalha e vive no Bairro Industrial ao lado da Orlinha, em um pequeno estaleiro, com alguns assistentes. Crescendo seu conhecimento e desenvolvendo novas técnicas, junto a novas ferramentas, Bruno não apenas fabrica canoas como também faz reforma de grandes embarcações de madeira, barcos de corrida e, seu principal produto, os barcos de pesca motorizados. Mas, quais relações com a cultura da região podem ser notadas nos trabalhos do Mestre? Para responder a essa questão, é preciso entender um pouco da região onde o artesão cresceu. Pensamos em algumas hipóteses buscando encontrar referências históricas. Começamos pelo próprio rio São Francisco. No alto São Francisco o homem pouco tem a ver com o rio, pois ele não tem ali grande importância econômica. Suas águas não são usadas na irrigação, como em outras regiões, já que chove bastante o ano todo. Pedras e corredeiras impedem a navegação. A pesca comercial é incipiente, pois o rio, ali, não possui volume para abrigar grandes cardumes. Por tudo isso, esses habitantes não criaram qualquer identidade mais marcante em relação ao rio. Isso prova que uma parte do Rio não há uma identidade marcante com pesca ou economia diante da situação ou do modo que o rio deságua nesse trecho. A pesca artesanal sempre prevaleceu no baixo curso do rio São Francisco, persistindo ao longo de décadas até a construção da barragem de Xingó, em 1994. Após essa data, rompeu-se definitivamente a distinção entre pesca de lagoa e pesca de rio. A distinção era observada tanto em termos de espécies pescadas como de tipos de artefatos utilizados e também para distinguir o tipo de pescador. (ALMEIDA, Maria Geralda; RATTS, Alecsandro JP (Orgs). 2003. p. 121) A cultura de pesca em Sergipe não era e não é tão forte. Participava da economia do estado, mas em particular. A pesca nada mais era que um modo de vida daquela região do
  • 7. 7 intermediário até a foz do Rio São Francisco. Os homens pescavam para ter o que comer, para sobreviver. De certo que após a construção da barragem de Xingó esse tipo de atividade se rompeu. Podemos então dizer que o Sr. Bruno é um artista por natureza. Uma peça única na nossa sociedade, pois ele possui duas características que o diferencia de um barqueiro comum e o torna um ser único no segmento: O talento e a paixão pelo fazer. Na nossa conversa, ele nos mostra seu primeiro trabalho artesanal relacionado a embarcações1. Uma miniatura de barco de pesca com todos os detalhes perfeitamente construídos. Pena que estava um pouco quebrado por conta das crianças que ele emprestou para brincar. De qualquer forma, a estrutura principal ainda estava intacta. Era uma peça de extremo valor para ele, pois guardava ali o sentimento de carinho pelo trabalho que faz. Este mesmo apego é visto em suas criações, como por exemplo: nas cores que são utilizadas para a pintura do barco após a primeira etapa do processo de fabricação. Normalmente cores quentes e chamativas, em que, de longe, é possível ver que a embarcação se destaca nas águas, dando uma beleza particular à região. Um outro ponto interessante em relação ao processo de personalização das peças. No fundo dos barcos mais comuns, há sempre uma pequena pintura feita a mão, sendo que, estas não são feitas pelo mestre Bruno, mas por um de seus assistentes, no qual não conhecemos. É interessante notar que esta pintura que nós vimos em particular, pode ser interpretada como a representação de um sentimento conjunto dos homens que possuem uma relação afetiva com as águas. Era exibida uma cena, como uma fotografia. Um rio, azul claro, com, ao fundo, morros e árvores. Mais para perto da perspectiva do leitor, um terreno acinzentado, provavelmente representando as terras de Sergipe, um terreno de terra preta e areia. Estas cores mais neutras foram postas aí para ressaltar a cor forte e alaranjada do céu, onde há pássaros, voando para o horizonte. É um entardecer no rio. Talvez o artista que desenhou isso não tenha conhecimento consciente da obra que produziu, porém para os olhos mais treinados, percebe-se que ali está representado o sentimento mútuo de relação íntima com as águas. Natural de se ver o “drama” desta cena em comerciais, filmes ou histórias. Quase como um “estereótipo sentimental” da relação Homem x Águas.
  • 8. 8 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O mestre Bruno Procópio Neto continua em sua mesma situação: construindo seus barcos por prazer, e recebendo por isso. Ele foi desalojado no seu ponto original para o local onde ele reside sua profissão, por conta da construção da nova Orla. Encontra-se em um balcão próximo a mesma no bairro Industrial. Apesar de estar muito bem de vida graças aos seus trabalhos, ele não mudou seu modo de viver nem seu estilo de vida desde que chegou a Aracaju. O mestre Bruno, humilde em suas palavras, é conhecido por todos e considerado o melhor artesão naval da região. Identidade cultural é um conjunto de relações sociais e patrimônios simbólicos historicamente compartilhados que estabelece o significado de determinados valores entre os membros da sociedade. Assim como o artesão Bruno, existem vários outros artistas manifestando seus talentos seja ele na música, em textos literários, grupos de dança e entre outras mais ricas informações existentes em nosso estado. Nossa pesquisa não tem a intenção de terminar por aqui e sim mostrar que existem artistas, como o mestre Bruno, que vivem e ganham a vida a partir de suas próprias raízes culturais. Fabricando peças, produtos, enfim, cultura da maneira mais tradicional possível: com as mãos e a paixão. “A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.” Auguste Rodin
  • 9. 9 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Geralda; RATTS, Alecsandro JP (Orgs). Geografia: Leituras Culturais. Editora Alternativa, 2003. 280 p. Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco – Canoa de Tolda [acesso em 2012 Mar 20]. Disponível em: http://canoadetolda.org.br/?page_id=9 Balaio de Notícias – Reportagem: Carpinteiro das águas. Webjornal - Quinzenal - Edição 46 - Aracaju, 4 a 11 de janeiro de 2004 [acesso em 2012 Mar 22]. Disponível em: http://www.sergipe.com.br/balaiodenoticias/reportagema46.htm