Este documento discute a definição tradicional de conhecimento como crença verdadeira justificada e levanta objeções a esta definição. Uma hipótese alternativa é apresentada de que conhecimento é uma relação de correspondência ou adequação entre a mente e o mundo, e que conhecimento e verdade são conceitos relacionados mas distintos, com conhecimento envolvendo alguma porção de verdade.
1. O conhecimento e a racionalidade científica e tecnológica Doc.
Unidade Didáctica: Descrição e interpretação da actividade cognoscitiva
Tema: O conhecimento proposicional como crença verdadeira justificada
Objectivo Específico(s): Explicar a insuficiência da definição de conhecimento como crença verdadeira justificada.
Problematização da definição tradicional de conhecimento:
A definição tradicional de conhecimento como crença Formulação da negação da
verdadeira justificada poder-se-ia representar como uma completa definição.
sobreposição dos conceitos de conhecimento e de verdade. Podemos concluir que os
conceitos de conhecimento e
Objecções: Várias são as objecções que uma tal sobreposição verdade nada têm a ver entre
suscita: si? Podemos representá-los
como uma exclusão?
Objecção 1: Se todo o conhecimento digno desse nome tem de
ser sempre uma opinião verdadeira, então todos os nossos Esta alternativa não resiste a
conhecimentos têm de ser sempre infalíveis. Ora, muitas das nossas outras objecções.
opiniões tidas como verdadeiras revelaram-se falsas. Poderá
concluir-se que essas opiniões não eram conhecimento? Objecção 1: Se não há
verdade, então não é verdade
Objecção 2: se todo o conhecimento digno desse nome tem de que não há verdade.
ser necessariamente verdadeiro, então não pode haver progresso no
conhecimento. Ora, tem-se verificado um progresso nas nossas Objecção 2: se tudo fosse
crenças, inclusive nas crenças dos cientistas. Poderá então falso, então seria falso que
concluir-se que as nossas crenças e as crenças dos cientistas não tudo fosse falso.
eram conhecimentos?
Objecção 3: Se nada é
Objecção 3: a definição tradicional parece incorrecta (ou verdade, então pode pensar-
incompleta) por duas razões. Se “S sabe que P” sob a condição “P é se seja o que for. Morte da
verdadeiro”, então: Filosofia!
a) Qualquer razão que pudesse aduzir-se posteriormente contra
P seria falsa por princípio e deveria ser abandonada por S. Objecção 4: Se nada fosse
b) Qualquer razão que pudesse aduzir-se posteriormente a verdadeiro nem falso, não
favor de P seria redundante e desnecessária. haveria diferença entre o
conhecimento e a ignorância.
Como solucionar a contradição? Uma hipótese alternativa
Conhecer é pensar o que é: o conhecimento é uma certa relação, digamos, de conformidade, de
semelhança, de correspondência de adequação entre o espírito ou mente e o mundo ou estado
de coisas. Dizemos que conhecemos os nossos familiares, a nossa casa, a nossa rua, o nosso
bairro, a nossa cidade… o que temos no nosso espírito quando pensamos nos nossos
familiares, na nossa casa, etc., … corresponde mais ou menos, isto é, aproximadamente, ao que
existe na realidade. Não será este mais ou menos, este aproximadamente, o que distingue o
conhecimento da verdade? Acerca dos nossos familiares podemos enganar-nos. Sobre o que se
passa da nossa cidade ignoramos muitas coisas. Entre um conhecimento absoluto e uma
ignorância total, não haverá um meio termo? Conhecimento e verdade parece então que são dois
conceitos diferentes, mas solidários entre si. Nenhum conhecimento é a verdade, mas um
conhecimento que não fosse em nada verdadeiro não poderia distinguir-se de um erro, de uma
ilusão, de um delírio. Nenhum conhecimento é absoluto, mas nenhuma crença seria
conhecimento se não fosse pela parte de absoluto que ela comporta ou de que participa.