Este documento discute como as mudanças climáticas afetam desproporcionalmente as mulheres, especialmente as mulheres pobres que vivem em áreas rurais. Ele destaca como as mulheres no Nordeste do Brasil e em outros países sofrem com a escassez de água e alimentos devido à seca. Também discute como as mulheres historicamente tiveram uma relação diferente com a natureza e como o feminismo deve se conectar à luta ambiental.
ArtigoDESAFIOS ENFRENTADOS PELAS MULHERES NA LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA DOMÉSTIC...
Feminismo e Mudanças Climáticas
1. Feminismo e Mudanças Climáticas – por Conceição
Amorim
flecha / janeiro 17, 2016
Foto: redes sociais
A humanidade avança a passos largos para o caos ambiental. Assustadas e
sofridas, as mulheres pobres e trabalhadoras do campo, da floresta e das
cidades são as mais penalizadas pela crise climática, que está vinculada à
crise econômica, e o aumento das injustiças sociais e ambientais. Um
exemplo disso é o aumento da responsabilidade e sobrecarga de trabalho
das mulheres para atender as necessidades básicas da família perante a falta
d’água, a falta de alimentos e, conseqüentemente, a precarização das
condições básicas de sobrevivência.
Enquanto as mulheres dos sertões do nordeste brasileiro, desde 2004, vêm
sofrendo com a longa estiagem e, muitas vezes, tendo que decidir entre
usar o parco dinheiro obtido – a duras penas com a venda de lenha ou
mesmo como recurso da bolsa família, – para comprar água ou comida, em
São Paulo, a maior cidade da America Latina, as mulheres, no ano passado,
foram obrigadas a acordar de madrugada para armazenar água, lavar roupa,
louça e acrescentar no seu orçamento, já comprometido, a compra de água
potável para beber.
As mulheres, em ilhas do Pacifico, percorrem diariamente, sozinhas, longas
distâncias para recolher água ou tomar banho nos rios quando falta água em
casa. Muitas vezes as mulheres são violentadas, no caminho, porque são
elas que devem pegar água para suas famílias, como denuncia a Anistia
2. Internacional, em relatório de 2011, sobre a falta de água na região.
Também em outros países, como na Índia, a situação é similar.
Foto: Vilarejo na Índia, Stefano Rivalli/Flicker
As mulheres nas áreas rurais de muitos países, têm sentido as conseqüência
da contaminação das águas, do desaparecimento de varias espécies vegetais
e animais, assim como dos processos migratórios contemporâneos, quando
muitos deles estão relacionados com as mudanças climáticas.
Ao longo da história da humanidade, as mulheres têm estabelecido uma
relação diferenciada com a natureza em comparação com os homens. Essa
relação se estabelece na ancestralidade humana, a partir do labor diário.
Enquanto os homens no processo de coleta de alimentos se embrenhavam
nas matas, povoadas por animais perigosos, e desenvolviam as técnicas
para matá-los, as mulheres desenvolviam as técnicas da domesticação das
plantas e animais, reproduzindo a vida animal e vegetal.
Portanto, a tendência é que, para as mulheres, o equilíbrio do meio
ambiente venha se apresentar como um fator essencial para a continuidade
da vida das espécies, concebendo, assim, a natureza como fonte de vida que
precisa ser defendida, recuperada, preservada dos ataques do
desenvolvimento, do “progresso” capitalista.
O feminismo precisa aprofundar a conexão entre a exploração da natureza
com a opressão das mulheres e definir estratégias que fortaleça e efetive as
lutas das mulheres do campo, da floresta e da cidade numa perspectiva
ecológica, intensificando sua luta pela mudança no modelo de produção
articulada com a transformação no padrão de consumo.
3. Foto: redes sociais
As profundas mudanças climáticas tendem a afetar de forma mais dura as
populações mais pobres, de áreas menos desenvolvidas, com secas,
enchentes, furacões, ondas de calor, entre outros problemas. E essas
mudanças não podem ser enfrentadas, apenas, através de medidas
domésticas e voluntárias.
A questão em pauta, hoje, exige mudanças radicais nos meios de produção,
de consumo, e contra a continua e perversa exploração da natureza, exige
enfrentar o capitalismo.
O feminismo, além de suas bandeiras históricas, precisa levantar com toda
a força a bandeira da luta ambiental. A luta contra a opressão, as
desigualdades, por direitos iguais, é, agora, a luta pela própria
sobrevivência das mulheres, ameaçadas pelas mudanças climáticas que se
agravam, bem como de toda humanidade.
Conceição Amorim é ativista feminista da Articulação das Mulheres
Brasileiras(AMB)