1) O Arcadismo surgiu na segunda metade do século XVIII como uma reação contra o Barroco e propunha uma literatura mais simples e equilibrada, se inspirando na Grécia e Roma antigas.
2) No Brasil, o Arcadismo valorizava aspectos locais e tinha um tom mais nacionalista e crítico em relação à opressão portuguesa, diferentemente do movimento na Europa.
3) Cláudio Manuel da Costa é considerado o fundador do Arcadismo brasileiro com a publicação de suas Obras Poéticas em 17
1. Arcadismo 1768 - Obra:OBRAS (1768)/Autor: Cláudio Manuel da Costa
CONTEXTO HISTÓRICO
Em meados do século XVIII, a Europa passou por uma importante transformação cultural,
marcando a decadência do pensamento barroco. A burguesia inglesa e francesa, impulsionada pelo
controle do comércio ultramarino, cresceu, dominando a economia do Estado. Em contrapartida, a
nobreza e o clero, com seus ideais retrógrados, caíram em descrédito.
A ideologia burguesa culta, sustentada na crítica à velha nobreza e aos religiosos, propagou-se por
toda Europa, sobretudo na França, onde foram publicados O Espírito das Leis (1748), de
Montesquieu, e o primeiro volume da Enciclopédia (1751), que tem à frente Diderot, Montesquieu e
Voltaire. As idéias desses enciclopedistas, defensores de um governo burguês e do ideal do "bom
selvagem", de Rousseau - "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, devendo, portanto,
retornar para a natureza"-, impulsionaram o desenvolvimento das ciências, valorizando a razão
como agente propulsor do progresso social e cultural. A burguesia, em oposição ao exagero cultista
barroco, voltou-se para as questões mundanas e simples, relegando a religião a um segundo plano.
Sua arte emergente caracterizou-se pela volta à simplicidade clássica.
Esse movimento, chamado Iluminismo, espalhou-se pela Europa, influenciando Portugal. Marquês
de Pombal, ministro de D. José I, com o propósito de colocar o país em dia com o progresso
Europeu, executou a tarefa de renovação cultural, expulsando os jesuítas, em 1759. O ensino,
monopólio do clero, tornou-se então leigo. Fundaram-se escolas e academias, e Portugal passou a
respirar um clima de novidade e de mudanças na arte, ciência e filosofia.
No século XVIII, o Brasil passou por mudanças importantes: a cultura jesuítica começou a dar lugar
ao Neoclassicismo; Rio de Janeiro e Minas Gerais destacaram-se como centros de relevância
política, econômica, social e cultural; foi crescente o número de estudantes brasileiros, que se
expuseram às influências dos novos ideais e tendências, em universidades da Europa.
Conseqüentemente, o Iluminismo e os acontecimentos que abalaram a ordem política e social do
Ocidente - Independência Norte Americana e Revolução Francesa - tiveram ampla repercussão no
crescente sentimento nativista brasileiro e no descontentamento reinante, provindo da área de
mineração. Vila Rica, em Minas, foi berço dos principais acontecimentos setecentistas, surgindo os
poetas do Arcadismo e a Inconfidência.
CARACTERÍSTICAS
Nesse panorama iluminista de renovação cultural, da segunda metade do século XVIII, nasce uma
nova estética poética: O Arcadismo, também denominado Setecentimo ou Neoclassicismo, que se
posiciona contra a exuberância e problemas metafísicos do Barroco e propõe uma literatura mais
equilibrada e espontânea, buscando harmonia na pureza e na simplicidade das formas clássicas
greco-latinas. A frase latina: Inutilia truncat ("as inutilidades devem ser banidas") resume tal
posição. Outros temas clássicos são Fugere urbem ("fugir da cidade"), Locus amoenus ("local
ameno"), Carpe diem("aproveitar o momento") e Aurea mediocritas ("mediocridade do ouro"). A
teoria do "bom selvagem" de Rousseau, por sua vez, traduzem a postura árcade.
Os poetas arcádicos, angustiados com os problemas urbanos e o progresso científico, propõem a
volta à simplicidade da vida no campo e o aproveitamento do momento presente. Embora citadinos,
recriam, em seus versos, paisagens bucólicas de outras épocas, verdadeiros fingimentos poéticos,
usando pseudônimos gregos e latinos, imaginando-se pastores e pastoras amorosos, numa vida
saudável idealizada, sem luxo e em pleno contato com a natureza. A poesia árcade se realiza através
do soneto, com versos decassílabos e a rima optativa, e a tradição do épico, retomando os modelos
do Classicismo do século XVI. A estética inovadora viria posteriormente com o Romantismo, que
vai procurar criar uma nova linguagem, capaz de refletir os ideais nacionalistas, uma de suas
características essenciais.
Também chamado de Escola Mineira, o Arcadismo no Brasil segue os moldes portugueses,
resultando em uma poesia refinada que, ao se utilizar da paisagem mineira como cenário bucólico
para os pastores, valoriza as coisas da terra, revelando um forte sentimento nativista. A presença do
índio na poesia reflete o ideal do "bom selvagem" e dá ao Arcadismo brasileiro um tom diferente do
europeu. Outra característica bem distinta do Arcadismo aqui realizado é a sátira política aos
2. tempos de opressão portuguesa e da corrupção dos governos coloniais.
O Arcadismo no Brasil é estabelecido por um grupo de intelectuais e a publicação de Obras
Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa , marca o início do movimento. A atuação do grupo cessa
com o fim trágico da Inconfidência, em 1789. Há controvérsia sobre a existência da Arcádia
Ultramarina, instituída, em 1768, por Cláudio Manuel da Costa, nos moldes da Arcádia Lusitana.
Entretanto, mesmo que não tenha havido tal Academia, há evidências de que, pelo menos,
praticava-se o Arcadismo.
Dentre os poetas do Arcadismo brasileiro destacam-se Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio
Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Santa Rita Durão e Basílio da Gama.