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Simbolismo no Brasil - Uma Perspectiva Especular
O simbolismo no brasil assume uma postura reflexiva em relação ao
simbolismo francês, em que se tem aquele como “imitação” espelhada deste,
fato deveras inteligível a partir de certas perspectivas. No entanto o
contraponto a essa postura recai, obviamente, noutras perspectivas, como na
indicação do próprio Carlos Nejar sobre a natureza física desse espelho, uma
natureza convexa, desmaterializando-se da metáfora e materializando-se na
dificuldade comparativa entre os movimentos dos dois países (França x Brasil).
O simbolismo brasileiro tem grande influência francesa em sua base, em
seu “esqueleto”, mas sua compleição exterior é, por certo, encontrada nas
manifestações idiossincráticas brasileiras, o “macaquear” falado num poema de
Manuel Bandeira, como ressalta Nejar.
Compreende-se, a partir dessas perspectivas que esse alcunhar é,
ironicamente, mera representação simbólica, é sugestão. Mas opondo-se a
isso e ao mesmo tempo não, pode-se determinar grandes similitudes artísticas
entre os poetas como Rimbaud e Cruz e Souza, por exemplo, aquele, sendo
simbolista é envolvido numa obsessão pela cor branca, essa tonalidade
aparece em seu soneto “Voyelles” (E blanc). O artista brasileiro, por sua vez, é
deterministicamente levado a se obcecar pela mesma cor de Rimbaud, já que
Cruz e Souza, sendo negro e marginalizado por isso, pensava a cor branca
como sinônimo de ascensão par um estado de “pureza”, valor tão bem
almejado pelos artistas do movimento.
No Brasil o movimento iniciou-se em 1893 com as publicações das
obras: Missal (em prosa) e Broquéis(poesia), ambos de Cruz e Souza;
terminado em 1902. Ocorre mesclando-se com outro movimentos que
vigoravam como realismo-naturalismo, parnasianismo, esse último, aliás, fora
grande influenciador na estética dos símbolos. Assim como também há
tendências visionárias que vaticinavam o movimento moderno.
É comum considerar o caráter pouco nacional do movimento simbolista
em terras brasileiras, porém isso se deve ao fato do mesmo ter se manifestado
apenas as margens da jurisdição da elite cultural e política do país.
A degradação político-social vivida no país criou um clima oportuno para
a estética da sugestão, utilizando-se das frustações, angustias, desesperanças
que assolavam a população da época.É o surgimento do espírito decadentista,
trazendo consigo a negação do positivismo realista, o desprendimento da
razão, do acreditar que toda razão ontológica possui resolução científica. Pelo
contrário, a crença é transportada para o insolúvel das questões universais. Por
vias exteriores, fica patente o desdém pelo materialismo e, por conseguinte,
uma barreira contra o mundo.

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  • 1. Simbolismo no Brasil - Uma Perspectiva Especular O simbolismo no brasil assume uma postura reflexiva em relação ao simbolismo francês, em que se tem aquele como “imitação” espelhada deste, fato deveras inteligível a partir de certas perspectivas. No entanto o contraponto a essa postura recai, obviamente, noutras perspectivas, como na indicação do próprio Carlos Nejar sobre a natureza física desse espelho, uma natureza convexa, desmaterializando-se da metáfora e materializando-se na dificuldade comparativa entre os movimentos dos dois países (França x Brasil). O simbolismo brasileiro tem grande influência francesa em sua base, em seu “esqueleto”, mas sua compleição exterior é, por certo, encontrada nas manifestações idiossincráticas brasileiras, o “macaquear” falado num poema de Manuel Bandeira, como ressalta Nejar. Compreende-se, a partir dessas perspectivas que esse alcunhar é, ironicamente, mera representação simbólica, é sugestão. Mas opondo-se a isso e ao mesmo tempo não, pode-se determinar grandes similitudes artísticas entre os poetas como Rimbaud e Cruz e Souza, por exemplo, aquele, sendo simbolista é envolvido numa obsessão pela cor branca, essa tonalidade aparece em seu soneto “Voyelles” (E blanc). O artista brasileiro, por sua vez, é deterministicamente levado a se obcecar pela mesma cor de Rimbaud, já que Cruz e Souza, sendo negro e marginalizado por isso, pensava a cor branca como sinônimo de ascensão par um estado de “pureza”, valor tão bem almejado pelos artistas do movimento. No Brasil o movimento iniciou-se em 1893 com as publicações das obras: Missal (em prosa) e Broquéis(poesia), ambos de Cruz e Souza; terminado em 1902. Ocorre mesclando-se com outro movimentos que vigoravam como realismo-naturalismo, parnasianismo, esse último, aliás, fora grande influenciador na estética dos símbolos. Assim como também há tendências visionárias que vaticinavam o movimento moderno. É comum considerar o caráter pouco nacional do movimento simbolista em terras brasileiras, porém isso se deve ao fato do mesmo ter se manifestado apenas as margens da jurisdição da elite cultural e política do país. A degradação político-social vivida no país criou um clima oportuno para a estética da sugestão, utilizando-se das frustações, angustias, desesperanças que assolavam a população da época.É o surgimento do espírito decadentista, trazendo consigo a negação do positivismo realista, o desprendimento da razão, do acreditar que toda razão ontológica possui resolução científica. Pelo contrário, a crença é transportada para o insolúvel das questões universais. Por vias exteriores, fica patente o desdém pelo materialismo e, por conseguinte, uma barreira contra o mundo.