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degustação exclusiva




     Os
                   Segredos
      AnAlisAr todAs
      As sAfrAs, à exceçãode
      dA primeirA, do châteAu                    Que ideia básica poderíamos alimentar quando participamos de
                                              uma degustação vertical (safras de 1992 a 2009) de um ícone como o


                                                                                                                                           revelados em degustação histórica
      de VAlAndrAud,
                                              Château de Valandraud, o primeiro “vin de garage” de st-émilion?
42    Arquétipo dos                           seus críticos, e não são poucos, costumam afirmar que a grande con-
      chAmAdos “Vins de                       centração e o uso de madeira em excesso resultam em “blockbusters”,


                                                                                                                                                                                       1994
      gArAge”, permitiu                       mais assemelhados aos vinhos do novo Mundo do que aos bordeaux
                                              clássicos (ver quadro com comentários sobre essas críticas). a rara, e tal-   de barrica, cujo corte foi feito exclusivamente para a                  em sua plenitude aromática (frutas secas,
      AVAliAr suA eVolução
                                              vez única, oportunidade de analisar lado a lado 18 safras do Château          degustação realizada em são Paulo, na Casa do Porto,       terroso, tabaco, couro e defumado) e austero, indi-
      e A VAlidAde dAs                        de Valandraud nos permitiu avaliar detalhadamente a evolução desse            importadora exclusiva do vinho para o brasil.              cando que já passou seu melhor momento. deve ser


                                                                                                                            1992
      críticAs feitAs                         vinho, em anos de diferentes características climáticas, com safras óti-                                                                 bebido agora. Tem corpo médio, taninos resolvidos e
      A esse tipo de Vinho                    mas, boas ou desfavoráveis. e compará-los a vinhos de bordeaux mais            	 	        uma das maiores surpresas da noite, por        retro-olfato de café.


                                                                                                                                                                                       1995
                                              conhecidos, degustados inúmeras vezes ao longo de muitos anos. nesse          estar inteiro, vivo, ainda com fruta, ao contrário da
      por Mario Tell e s J r .
      colaboração de arTh u r a z e v e d o
                                              tipo de degustação, a verdade sempre aparece, pois o tempo se encar-          maioria dos 1992 (inclusive Grand Crus), que já estão      	 	          um vinho “jovem”, muito frutado, floral
                                              rega de revelar todos os segredos e nuances dos vinhos, desnudando-os         completamente decadentes. aqui percebem-se os aro-         com massa tânica respeitável, textura macia, grande qua-
      e Guilher M e ve l lo so
      ilustração léo Gib r a n                aos sentidos aguçados de experientes degustadores.                            mas típicos de cedar box (caixa de charuto), com toques    lidade e fineza, confirmando ter sido, neste ano, um clássi-
                                                 a já antológica degustação foi conduzida pelo próprio Jean-luc             animais, num vinho elegante e de corpo leve a médio.       co da margem direita da Gironde. Pode ser bebido agora
                                              Thunevin, “o pai da criança”, e cada vinho foi comentado, em francês,         Corte de Merlot (70%) e Cabernet Franc (30%).              ou ser guardado por mais uma década. Grande vinho!
                                              por ninguém menos do que o sommelier campeão do mundo, o sueco
                                              andreas larsson. ou seja, ofereceu uma imagem de corpo inteiro da pro-
                                              dução do Valandraud, cujas notas de degustação o privilegiado leitor de
                                                                                                                            1993
                                                                                                                             	 	        Pleno de fruta vibrante, sustententada por
                                                                                                                            boa acidez, podendo evoluir ainda alguns anos, com cor-
                                                                                                                                                                                       1996
                                                                                                                                                                                       	 	          evoluiu mais rápido que o 1995 e, em-
                                                                                                                                                                                       bora não tenha a mesma fineza, mostra aromas mais
                                              Wine style pode conferir no texto que se segue. registre-se que só não        po médio e boa persistência final. Thunevin comentou que   evoluídos, começando a surgir o sous bois e a caixa de
                                              foi degustada a primeira safra do Valandraud, a de 1991 (da qual foram        é um dos Valandraud de que menos gosta (“tem muito         charuto. ainda tem fruta agradável, num vinho de
                                              produzidas apenas 1.500 garrafas), pelo simples motivo de que o próprio       cravo”), embora tenha recebido a maior pontuação dada      boa persistência e caráter, um pouco mais anguloso
                                              Thunevin só tem duas em sua adega. além disso, o 2009 foi uma amostra         aos vinhos de st-émilion nessa safra por robert Parker.    que o 95. Para se beber logo.
2	001
                                                                   	        Muito melhor que o 2000, com aromas             agradáveis e longa persistência. Para a adega, até
                                                                                                                                                                                        2	 009
                                                                                                                                                                                           	
     1997
                                                                 de frutas escuras, emolduradas por toques tostados, de-    criar juízo e integrar melhor seus elementos. Co-                       blend de duas amostras de barrica – sur-
     	 	         um ano não muito feliz, refletido num           fumados e de especiarias e cedro. na boca revela ótima     mentário de Thunevin: “depois dessa safra, achamos           preendentemente macio e com aromas de frutas escu-
     vinho mais leve, com notas herbáceas e balsâmicas           acidez, textura macia, taninos finos, corpo médio e ex-    que não teríamos nada melhor... até 2009”. Para              ras muito maduras, com toques de chocolate e bau-
     predominando sobre a fruta e o floral. os taninos não       tremo equilíbrio. agradável surpresa, em ano claramen-     larsson, “um grande vinho que está dormindo”.                nilha. na boca é “quase sólido”, um monolito, muito


                                                                                                                           2	006
     são tão finos, a fruta é menos presente, mas o equilí-      te subestimado, ao contrário do superestimado 2000.                                                                     concentrado, encorpado e longo, lembrando os gran-
                                                                                                                              	
     brio está adequado.


     1998
     	 	         o vinho especial da noite, resultado de
                                                                2002
                                                                 	 	        Fruto de mais um ano complicado, é um
                                                                 vinho marcado por fruta discreta e herbáceo, com ta-
                                                                                                                                        um vinho ao mesmo tempo intenso mas
                                                                                                                            elegante, marcado pela madeira e ainda em sua mais
                                                                                                                            tenra infância. Concentrado na medida certa, já dá certo
                                                                                                                                                                                         des 2005 na barrica. Tem futuro promissor e segundo
                                                                                                                                                                                         seu criador, é “o melhor vinho de barrica que fez até
                                                                                                                                                                                         hoje”. Manda o bom senso acreditar...
     um “grand millésime”. Muita fruta, notas florais e          ninos médios, textura rugosa e pouca concentração.         prazer ao ser bebido, graças à boa fruta e ao bom equi-


                                                                2003
     toques tostados. impressiona pela maciez, associada                                                                    líbrio entre acidez e álcool, que servem de suporte para        em conclusão, parece-nos que os Château de
     à imensa concentração, ótima acidez e longa per-            	 	        Fruto de um ano excessivamente quente,          taninos de boa textura. Para Thunevin, foi uma safra cor-    Valandraud são vinhos que demoram mais para
44
     sistência. espetacular para beber agora ou para ser         mostra fruta madura, taninos de média qualidade, leve      reta, de estilo um pouco “bourguignone”.                     atingir sua maturidade mas que, ao atingi-la, com-       45



                                                                                                                           2	007
     guardado por mais 10 a 15 anos. Corte em partes             aspereza, com adstringência final perceptível. Precisa                                                                  portam-se como os verdadeiros e grandes bordeaux,
     iguais de Merlot e Cabernet Franc.                          de mais tempo para domar os taninos. a crítica inglesa       	         é quase um Merlot (90% do corte) em pu-          distanciando-se assim do padrão dos cortes bordaleses


     1999
                                                                 Jancis robinson classificou-o como “sexy”.                 reza. boa surpresa, mostrou-se muito acessível, “quase       produzidos no novo Mundo, ao contrário de o que
     	 	         bom resultado, em ano difícil, com muita
     chuva (“clássico”, na definição irônica de Thunevin).
     Mostra aromas de frutas, carvalho bem dosado, com
                                                                2004
                                                                 	 	        safra mais fria deu origem a um vinho
                                                                 muito marcado pela madeira, com maior peso que
                                                                                                                            pronto”. Tem mais intensidade de aromas e sabores
                                                                                                                            do que o 2006, com o mesmo equilíbrio e textura ma-
                                                                                                                            cia. Percebe-se uma mudança de estilo, privilegiando
                                                                                                                                                                                         seus detratores costumam afirmar. Por outro lado, em
                                                                                                                                                                                         anos não tão prestigiados como 1992, 1993, 2001 ou
                                                                                                                                                                                         2004 revelam-se excelentes e opções muito mais dura-
     notas de couro e trufas. equilibrado, exibe boa con-        os anteriores, num estilo que lembra mais um bor-          a elegância em detrimento da potência, com deliciosos        douras do que outros Crus Classés de bordeaux.
     centração, textura macia e muito boa persistência.          deaux da margem esquerda. Potente, tem ótima aci-          sabores e longa persistência. bom sinal... Thunevin ex-         nos anos excepcionais não devem ser julgados tão


     2000
                                                                 dez, taninos ainda bastante presentes, de fina tex-        plicou que nessa safra introduziu importante mudança         rapidamente quanto seus pares, necessitando de mais
     	 	         Muito fechado, parece viver momento de          tura. vai precisar de tempo, mas tem credenciais           “técnica”, com o uso de máquina, já empregada na             tempo para desabrochar e revelar suas qualidades. de-
     dormência aromática. boca no mesmo diapasão, com            para evoluir favoravelmente. Passou trinta meses em        seleção de grãos de café, que mede a densidade da uva,       vem portanto ser julgados com parâmetros próprios,
     taninos ainda por resolver e austeridade evidente. Pre-     barrica mais seis em tanque. um “trés grand vin”,          excluindo automaticamente as que têm menor densi-            diferentes de o que os habitualmente são utilizados,
     cisa de tempo. esse foi o ano em que Thunevin cobriu        na opinião de larsson.                                     dade. o objetivo é aumentar a pureza do vinho.               criando-se assim uma nova fronteira, que exigirá novas
     de plástico as ruas entre os vinhedos, para reduzir a
     absorção de água. Como a prática é proibida, o vinho
     foi desclassificado para “vin de table”. a história cor-
                                                                2005
                                                                 	 	        um “monstro” de cor púrpura, escuro e
                                                                 sem evolução, esse vinho tem grande concentração,
                                                                                                                           2	008
                                                                                                                              	         Mais intenso e encorpado, exibe aromas
                                                                                                                            intensos de frutas, com toques florais e carvalho
                                                                                                                                                                                         habilidades e conhecimentos dos degustadores.



     reu o mundo e o vinho foi vendido com o nome de             acidez elevada e taninos finos em grande quantida-         bem marcado. os finos taninos estão ainda bas-
     L´Interdit de V...........d (assim mesmo, com o nome        de. está fechado de aromas e entrando em dormên-           tante perceptíveis, com acidez e álcool equilibra-           mario@winestyle.com.br
     valandraud disfarçado). até hoje, é um dos mais Va-         cia. na boca dá uma pista de o que deve tornar-se          dos e muito boa persistência. Para larsson, é vi-            arthur@winestyle.com.br
     landraud mais procurados (e caros).                         depois de alguns anos de guarda, revelando sabores         nho para “mais de trinta anos”.                              guilherme@winestyle.com.br
Garagistas                                                      A	VIN g AN çA	DOS




                      Degustação De 18 safras Do Château De ValanDrauD Derruba mitos
                                                                                                                         por Arthur Azevedo




                                   e Desmente CrítiCas preConCeituosas
     	 A	 degustação	 vertical,	 ou	 seja,	 de	 várias	       contar	 com	 a	 opinião	 mais	 que	 abalizada	 de	       de	 de	 cada	 um	 dos	 vinhos	 que,	 mesmo	 tendo	
     safras	 de	 um	 único	 vinho,	 tem	 a	 virtude	 de	      Andreas	Larsson,	sommelier	campeão	mundial	              alguns	 pontos	 em	 comum,	 evoluíram	 durante	
     colocar	em	evidência	as	sutilezas,	defeitos,	in-         pela	 Association	 de	 la	 Sommelerie	 Internatio-       os	 anos	 de	 forma	 totalmente	 diversa,	 alguns	
     consistências	e	até	mesmo	a	personalidade	de	            nale,	a	mais	respeitada	associação	do	gênero	            de	 forma	 mais	 feliz,	 outros	 nem	 tanto.	 Outro	
     seu	criador.	Poucas	vezes,	no	entanto,	se	tem	           em	todo	o	mundo.	Chamou	a	atenção	a	simplici-            fato	interessante	que	chamou	a	atenção	foi	o	
     a	 oportunidade	 de	 degustar	 todas	 (ou	 quase	        dade	com	que	Thunevin	apresentou	os	vinhos,	             sucesso	obtido	por	Thunevin	em	anos	compli-
     todas)	 as	 safras	 de	 um	 mito.	 Esse	 foi	 o	 caso	   ressaltando	defeitos	e	qualidades	de	cada	uma	           cados	 ou	 não	 tão	 incensados	 pelos	 críticos,	
     da,	podemos	dizer,	histórica	degustação	de	              das	safras	e	mostrando	como	em	Bordeaux	o	               como	foi	o	caso	de	1999,	2001,	2004,	2006,	2007	e	
     18	 safras	 do	 château de Valandraud,	 vinho	           fator	clima	tem	fundamental	importância	no	re-           2008.	Nestas	safras	se	percebe	a	mão	do	gran-
     que	 costuma	 despertar	 imensa	 polêmica,	              sultado.	Também	foi	muito	interessante	perce-            de	enólogo	na	produção	de	vinhos	saborosos,	
     opondo	críticos	intransigentes	e	defensores	             ber	as	mudanças	ocorridas	durante	esses	mui-             acessíveis,	 de	 muito	 caráter	 e	 ótima	 relação	
     apaixonados.                                             tos	 anos,	 com	 troca	 de	 terroir	 –	 as	 primeiras	   preço/qualidade.	 Antes	 que	 alguém	 proteste	
     	 Desde	sua	primeira	safra,	em	1991	(por	si-             uvas	eram	de	áreas	com	mais	areia	e,	a	partir	           contra	 essa	 última	 afirmação,	 lembramos	 que	
     nal	a	única	que	não	estava	na	degustação)	até	           de	 1999,	 foram	 utilizadas	 uvas	 de	 solo	 argilo-    o	 preço	 de	 qualquer	 vinho	 é	 determinado	 por	
     a	última,	ainda	em	barricas	(2009),	o	Valandraud	        calcário	 –	 e	 também	 no	 processo	 de	 vinifica-      fatores	 múltiplos,	 muitos	 dos	 quais	 difíceis	 de	
     vem	 sendo	 sistematicamente	 atacado	 por	 al-          ção.	 Isso	 ocorreu	 principalmente	 após	 2006,	        se	entender	e,	por	isso	mesmo,	alvo	de	polêmi-
     guns	 críticos.	 As	 acusações	 são	 as	 mais	 va-       com	 a	 entrada	 de	 Muriel	 Valandraud,	 esposa	        cas	intermináveis	e	desprovidas	de	sentido.	O	
     riadas:	moderno	demais,	estilo	“Novo	Mundo”,	            de	Jean-Luc,	no	cenário	da	vinícola,	mudando	            château de Valandraud	não	é	um	vinho	barato	
46
     superextraído,	 grosseiro,	 deselegante,	 pouco	         sutilmente	 o	 estilo	 do	 vinho,	 que	 desde	 então	    e	nem	poderia	ser,	mas	vale	cada	centavo	que	
     representativo	 de	 Bordeaux,	 anabolizado	 etc.         mostra	 mais	 elegância	 e	 delicadeza,	 como	 o	        se	paga	por	ele.	Muitos	desses	vinhos,	em	par-
     Puro	e	injustificado	preconceito.	Talvez	porque,	        próprio	Jean-Luc	faz	questão	de	frisar.                  ticular	2007	e	2008,	estão	surpreendentemente	
     desde	 seu	 lançamento,	 o	 Valandraud	 tenha	           	 Em	Bordeaux,	as	mudanças	climáticas	se	                prontos	 para	 ser	 bebidos,	 o	 que	 atribuímos	 a	
     sido	elogiado	por	Parker,	sendo	inúmeras	vezes	          refletem	 diretamente	 no	 vinho.	 Thunevin	 fez	        mudança	no	estilo	e	na	vinificação.	
     escolhido	como	o	melhor	vinho	da	safra.	Talvez	          uma	 brincadeira,	 dizendo	 não	 existir	 safra	         	 Se	em	anos	difíceis	Thunevin	consegue	óti-
     por	ter	a	assessoria	de	Michel	Rolland;	ou,	ain-         ruim	na	região.	Quando	o	clima	não	ajuda,	a	             mos	 resultados,	 imagine	 o	 que	 ele	 é	 capaz	 de	
     da,	talvez	por	seu	criador,	o	irreverente,	inquieto	     safra	 se	 torna	 “clássica”,	 “muito	 clássica”;	       fazer	 em	 anos	 extraordinários	 como	 1995,	 1996,	
     e	inovador	Jean-Luc	Thunevin,	não	pertencer	a	           e,	 quando	 ajuda,	 “grande	 safra”,	 “safra	 da	        1998	 (esta	 a	 grande	 safra	 da	 margem	 direita),	
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     dado	 a	 menor	 importância	 a	 seus	 detratores.        essa	 última	 classificação	 com	 2000,	 2005	 e	        grande	 opulência	 e	 caráter,	 profundos,	 ricos	 e	
     	 Aliás,	Thunevin	deixa	bem	claro	que	o	mo-              2009	(e	em	“off”	2010).                                  complexos	e	a	anos-luz	de	sua	
     vimento	garagista	nasceu	da	absoluta	falta	de	           	 Brincadeiras	 à	 parte,	 os	 vinhos	 ilustram	 a	      maturidade	 plena.	 Só	 os	 pa-
     dinheiro	 de	 seus	 componentes,	 que	 faziam	 o	        tese	com	rara	clareza,	mostrando-se	por	intei-           cientes	serão	recompensados.
     vinho	 de	 forma	 minimalista,	 simplesmente	 por	       ro,	 às	 vezes	 com	 indiscutível	 caráter,	 intensa	    	 Para	 Larsson,	 é	 nas	 sa-
     não	 dispor	 de	 recursos	 para	 produzir	 vinhos	       concentração	 de	 frutas,	 taninos	 aveludados,	         fras	mais	difíceis	que	o	ver-
     com	alta	tecnologia.	Thunevin	se	diverte	con-            aromas	 inconfundíveis	 e	 elegância	 ímpar;	 ou	        dadeiro	artista	se	revela	e	
     tando	 que	 seus	 vinhos	 eram	 produzidos	 com	         então	 com	 taninos	 mais	 duros,	 fruta	 contida,	      essa	é	a	razão	do	grande	
     uvas	desengaçadas	à	mão,	por	não	dispor	do	              toque	 vegetal	 e	 menos	 profundidade.	 Seja	           respeito	 que	 demonstra	
     equipamento	 adequado	 e	 que	 hoje,	 os	 pro-           como	 for,	 em	 toda	 a	 série	 fica	 muito	 evidente	   pelo	 trabalho	 de	 Thune-
     dutores	 mais	 ricos,	 e	 com	 tudo	 à	 disposição,	     o	caráter	bordalês	dos	vinhos,	que	mesmo	em	             vin.	De	nossa	parte,	con-
     orgulham-se	de	fazer	o	desengaço	manual,	tal	            anos	“clássicos”	não	negam	sua	origem.                   cordamos	integralmente,	
     e	qual	era	feito	nos	primórdios	do	Valandraud.           	 Uma	 das	 críticas	 mais	 contundentes	 ao	            como	 ficou	 claramente	
     	 Com	 todos	 esses	 argumentos	 em	 pauta	 e	           château de Valandraud	foi	totalmente	desmen-             demonstrado	 nessa	 de-
     destituídos	 de	 qualquer	 tipo	 de	 preconceitos,	      tida	 na	 degustação:	 a	 de	que	 todos	 os	 vinhos	     gustação	histórica.	
     fomos	 para	 a	 degustação	 do	 Valandraud	 pre-         são	 iguais,	 sem	 personalidade.	 Só	 quem	 não	
     parados	para	tudo.	Afinal,	não	é	sempre	que	se	          entende	de	vinhos,	ou	está	movido	por	segun-
     tem	a	oportunidade	de	ouvir	do	próprio	criador	          das	(e	inconfessáveis)	intenções,	poderia	dizer	
     de	um	vinho	as	nuances	de	cada	safra	e	ainda	            semelhante	 asneira.	 Ficou	 patente	 a	 identida-

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Degustação revela evolução do Château de Valandraud

  • 1. degustação exclusiva Os Segredos AnAlisAr todAs As sAfrAs, à exceçãode dA primeirA, do châteAu Que ideia básica poderíamos alimentar quando participamos de uma degustação vertical (safras de 1992 a 2009) de um ícone como o revelados em degustação histórica de VAlAndrAud, Château de Valandraud, o primeiro “vin de garage” de st-émilion? 42 Arquétipo dos seus críticos, e não são poucos, costumam afirmar que a grande con- chAmAdos “Vins de centração e o uso de madeira em excesso resultam em “blockbusters”, 1994 gArAge”, permitiu mais assemelhados aos vinhos do novo Mundo do que aos bordeaux clássicos (ver quadro com comentários sobre essas críticas). a rara, e tal- de barrica, cujo corte foi feito exclusivamente para a em sua plenitude aromática (frutas secas, AVAliAr suA eVolução vez única, oportunidade de analisar lado a lado 18 safras do Château degustação realizada em são Paulo, na Casa do Porto, terroso, tabaco, couro e defumado) e austero, indi- e A VAlidAde dAs de Valandraud nos permitiu avaliar detalhadamente a evolução desse importadora exclusiva do vinho para o brasil. cando que já passou seu melhor momento. deve ser 1992 críticAs feitAs vinho, em anos de diferentes características climáticas, com safras óti- bebido agora. Tem corpo médio, taninos resolvidos e A esse tipo de Vinho mas, boas ou desfavoráveis. e compará-los a vinhos de bordeaux mais uma das maiores surpresas da noite, por retro-olfato de café. 1995 conhecidos, degustados inúmeras vezes ao longo de muitos anos. nesse estar inteiro, vivo, ainda com fruta, ao contrário da por Mario Tell e s J r . colaboração de arTh u r a z e v e d o tipo de degustação, a verdade sempre aparece, pois o tempo se encar- maioria dos 1992 (inclusive Grand Crus), que já estão um vinho “jovem”, muito frutado, floral rega de revelar todos os segredos e nuances dos vinhos, desnudando-os completamente decadentes. aqui percebem-se os aro- com massa tânica respeitável, textura macia, grande qua- e Guilher M e ve l lo so ilustração léo Gib r a n aos sentidos aguçados de experientes degustadores. mas típicos de cedar box (caixa de charuto), com toques lidade e fineza, confirmando ter sido, neste ano, um clássi- a já antológica degustação foi conduzida pelo próprio Jean-luc animais, num vinho elegante e de corpo leve a médio. co da margem direita da Gironde. Pode ser bebido agora Thunevin, “o pai da criança”, e cada vinho foi comentado, em francês, Corte de Merlot (70%) e Cabernet Franc (30%). ou ser guardado por mais uma década. Grande vinho! por ninguém menos do que o sommelier campeão do mundo, o sueco andreas larsson. ou seja, ofereceu uma imagem de corpo inteiro da pro- dução do Valandraud, cujas notas de degustação o privilegiado leitor de 1993 Pleno de fruta vibrante, sustententada por boa acidez, podendo evoluir ainda alguns anos, com cor- 1996 evoluiu mais rápido que o 1995 e, em- bora não tenha a mesma fineza, mostra aromas mais Wine style pode conferir no texto que se segue. registre-se que só não po médio e boa persistência final. Thunevin comentou que evoluídos, começando a surgir o sous bois e a caixa de foi degustada a primeira safra do Valandraud, a de 1991 (da qual foram é um dos Valandraud de que menos gosta (“tem muito charuto. ainda tem fruta agradável, num vinho de produzidas apenas 1.500 garrafas), pelo simples motivo de que o próprio cravo”), embora tenha recebido a maior pontuação dada boa persistência e caráter, um pouco mais anguloso Thunevin só tem duas em sua adega. além disso, o 2009 foi uma amostra aos vinhos de st-émilion nessa safra por robert Parker. que o 95. Para se beber logo.
  • 2. 2 001 Muito melhor que o 2000, com aromas agradáveis e longa persistência. Para a adega, até 2 009 1997 de frutas escuras, emolduradas por toques tostados, de- criar juízo e integrar melhor seus elementos. Co- blend de duas amostras de barrica – sur- um ano não muito feliz, refletido num fumados e de especiarias e cedro. na boca revela ótima mentário de Thunevin: “depois dessa safra, achamos preendentemente macio e com aromas de frutas escu- vinho mais leve, com notas herbáceas e balsâmicas acidez, textura macia, taninos finos, corpo médio e ex- que não teríamos nada melhor... até 2009”. Para ras muito maduras, com toques de chocolate e bau- predominando sobre a fruta e o floral. os taninos não tremo equilíbrio. agradável surpresa, em ano claramen- larsson, “um grande vinho que está dormindo”. nilha. na boca é “quase sólido”, um monolito, muito 2 006 são tão finos, a fruta é menos presente, mas o equilí- te subestimado, ao contrário do superestimado 2000. concentrado, encorpado e longo, lembrando os gran- brio está adequado. 1998 o vinho especial da noite, resultado de 2002 Fruto de mais um ano complicado, é um vinho marcado por fruta discreta e herbáceo, com ta- um vinho ao mesmo tempo intenso mas elegante, marcado pela madeira e ainda em sua mais tenra infância. Concentrado na medida certa, já dá certo des 2005 na barrica. Tem futuro promissor e segundo seu criador, é “o melhor vinho de barrica que fez até hoje”. Manda o bom senso acreditar... um “grand millésime”. Muita fruta, notas florais e ninos médios, textura rugosa e pouca concentração. prazer ao ser bebido, graças à boa fruta e ao bom equi- 2003 toques tostados. impressiona pela maciez, associada líbrio entre acidez e álcool, que servem de suporte para em conclusão, parece-nos que os Château de à imensa concentração, ótima acidez e longa per- Fruto de um ano excessivamente quente, taninos de boa textura. Para Thunevin, foi uma safra cor- Valandraud são vinhos que demoram mais para 44 sistência. espetacular para beber agora ou para ser mostra fruta madura, taninos de média qualidade, leve reta, de estilo um pouco “bourguignone”. atingir sua maturidade mas que, ao atingi-la, com- 45 2 007 guardado por mais 10 a 15 anos. Corte em partes aspereza, com adstringência final perceptível. Precisa portam-se como os verdadeiros e grandes bordeaux, iguais de Merlot e Cabernet Franc. de mais tempo para domar os taninos. a crítica inglesa é quase um Merlot (90% do corte) em pu- distanciando-se assim do padrão dos cortes bordaleses 1999 Jancis robinson classificou-o como “sexy”. reza. boa surpresa, mostrou-se muito acessível, “quase produzidos no novo Mundo, ao contrário de o que bom resultado, em ano difícil, com muita chuva (“clássico”, na definição irônica de Thunevin). Mostra aromas de frutas, carvalho bem dosado, com 2004 safra mais fria deu origem a um vinho muito marcado pela madeira, com maior peso que pronto”. Tem mais intensidade de aromas e sabores do que o 2006, com o mesmo equilíbrio e textura ma- cia. Percebe-se uma mudança de estilo, privilegiando seus detratores costumam afirmar. Por outro lado, em anos não tão prestigiados como 1992, 1993, 2001 ou 2004 revelam-se excelentes e opções muito mais dura- notas de couro e trufas. equilibrado, exibe boa con- os anteriores, num estilo que lembra mais um bor- a elegância em detrimento da potência, com deliciosos douras do que outros Crus Classés de bordeaux. centração, textura macia e muito boa persistência. deaux da margem esquerda. Potente, tem ótima aci- sabores e longa persistência. bom sinal... Thunevin ex- nos anos excepcionais não devem ser julgados tão 2000 dez, taninos ainda bastante presentes, de fina tex- plicou que nessa safra introduziu importante mudança rapidamente quanto seus pares, necessitando de mais Muito fechado, parece viver momento de tura. vai precisar de tempo, mas tem credenciais “técnica”, com o uso de máquina, já empregada na tempo para desabrochar e revelar suas qualidades. de- dormência aromática. boca no mesmo diapasão, com para evoluir favoravelmente. Passou trinta meses em seleção de grãos de café, que mede a densidade da uva, vem portanto ser julgados com parâmetros próprios, taninos ainda por resolver e austeridade evidente. Pre- barrica mais seis em tanque. um “trés grand vin”, excluindo automaticamente as que têm menor densi- diferentes de o que os habitualmente são utilizados, cisa de tempo. esse foi o ano em que Thunevin cobriu na opinião de larsson. dade. o objetivo é aumentar a pureza do vinho. criando-se assim uma nova fronteira, que exigirá novas de plástico as ruas entre os vinhedos, para reduzir a absorção de água. Como a prática é proibida, o vinho foi desclassificado para “vin de table”. a história cor- 2005 um “monstro” de cor púrpura, escuro e sem evolução, esse vinho tem grande concentração, 2 008 Mais intenso e encorpado, exibe aromas intensos de frutas, com toques florais e carvalho habilidades e conhecimentos dos degustadores. reu o mundo e o vinho foi vendido com o nome de acidez elevada e taninos finos em grande quantida- bem marcado. os finos taninos estão ainda bas- L´Interdit de V...........d (assim mesmo, com o nome de. está fechado de aromas e entrando em dormên- tante perceptíveis, com acidez e álcool equilibra- mario@winestyle.com.br valandraud disfarçado). até hoje, é um dos mais Va- cia. na boca dá uma pista de o que deve tornar-se dos e muito boa persistência. Para larsson, é vi- arthur@winestyle.com.br landraud mais procurados (e caros). depois de alguns anos de guarda, revelando sabores nho para “mais de trinta anos”. guilherme@winestyle.com.br
  • 3. Garagistas A VIN g AN çA DOS Degustação De 18 safras Do Château De ValanDrauD Derruba mitos por Arthur Azevedo e Desmente CrítiCas preConCeituosas A degustação vertical, ou seja, de várias contar com a opinião mais que abalizada de de de cada um dos vinhos que, mesmo tendo safras de um único vinho, tem a virtude de Andreas Larsson, sommelier campeão mundial alguns pontos em comum, evoluíram durante colocar em evidência as sutilezas, defeitos, in- pela Association de la Sommelerie Internatio- os anos de forma totalmente diversa, alguns consistências e até mesmo a personalidade de nale, a mais respeitada associação do gênero de forma mais feliz, outros nem tanto. Outro seu criador. Poucas vezes, no entanto, se tem em todo o mundo. Chamou a atenção a simplici- fato interessante que chamou a atenção foi o a oportunidade de degustar todas (ou quase dade com que Thunevin apresentou os vinhos, sucesso obtido por Thunevin em anos compli- todas) as safras de um mito. Esse foi o caso ressaltando defeitos e qualidades de cada uma cados ou não tão incensados pelos críticos, da, podemos dizer, histórica degustação de das safras e mostrando como em Bordeaux o como foi o caso de 1999, 2001, 2004, 2006, 2007 e 18 safras do château de Valandraud, vinho fator clima tem fundamental importância no re- 2008. Nestas safras se percebe a mão do gran- que costuma despertar imensa polêmica, sultado. Também foi muito interessante perce- de enólogo na produção de vinhos saborosos, opondo críticos intransigentes e defensores ber as mudanças ocorridas durante esses mui- acessíveis, de muito caráter e ótima relação apaixonados. tos anos, com troca de terroir – as primeiras preço/qualidade. Antes que alguém proteste Desde sua primeira safra, em 1991 (por si- uvas eram de áreas com mais areia e, a partir contra essa última afirmação, lembramos que nal a única que não estava na degustação) até de 1999, foram utilizadas uvas de solo argilo- o preço de qualquer vinho é determinado por a última, ainda em barricas (2009), o Valandraud calcário – e também no processo de vinifica- fatores múltiplos, muitos dos quais difíceis de vem sendo sistematicamente atacado por al- ção. Isso ocorreu principalmente após 2006, se entender e, por isso mesmo, alvo de polêmi- guns críticos. As acusações são as mais va- com a entrada de Muriel Valandraud, esposa cas intermináveis e desprovidas de sentido. O riadas: moderno demais, estilo “Novo Mundo”, de Jean-Luc, no cenário da vinícola, mudando château de Valandraud não é um vinho barato 46 superextraído, grosseiro, deselegante, pouco sutilmente o estilo do vinho, que desde então e nem poderia ser, mas vale cada centavo que representativo de Bordeaux, anabolizado etc. mostra mais elegância e delicadeza, como o se paga por ele. Muitos desses vinhos, em par- Puro e injustificado preconceito. Talvez porque, próprio Jean-Luc faz questão de frisar. ticular 2007 e 2008, estão surpreendentemente desde seu lançamento, o Valandraud tenha Em Bordeaux, as mudanças climáticas se prontos para ser bebidos, o que atribuímos a sido elogiado por Parker, sendo inúmeras vezes refletem diretamente no vinho. Thunevin fez mudança no estilo e na vinificação. escolhido como o melhor vinho da safra. Talvez uma brincadeira, dizendo não existir safra Se em anos difíceis Thunevin consegue óti- por ter a assessoria de Michel Rolland; ou, ain- ruim na região. Quando o clima não ajuda, a mos resultados, imagine o que ele é capaz de da, talvez por seu criador, o irreverente, inquieto safra se torna “clássica”, “muito clássica”; fazer em anos extraordinários como 1995, 1996, e inovador Jean-Luc Thunevin, não pertencer a e, quando ajuda, “grande safra”, “safra da 1998 (esta a grande safra da margem direita), chamada aristocracia de Bordeaux e nunca ter década” e “safra do século”, exemplificando 2005 e 2009. A resposta? Vinhos sublimes, de dado a menor importância a seus detratores. essa última classificação com 2000, 2005 e grande opulência e caráter, profundos, ricos e Aliás, Thunevin deixa bem claro que o mo- 2009 (e em “off” 2010). complexos e a anos-luz de sua vimento garagista nasceu da absoluta falta de Brincadeiras à parte, os vinhos ilustram a maturidade plena. Só os pa- dinheiro de seus componentes, que faziam o tese com rara clareza, mostrando-se por intei- cientes serão recompensados. vinho de forma minimalista, simplesmente por ro, às vezes com indiscutível caráter, intensa Para Larsson, é nas sa- não dispor de recursos para produzir vinhos concentração de frutas, taninos aveludados, fras mais difíceis que o ver- com alta tecnologia. Thunevin se diverte con- aromas inconfundíveis e elegância ímpar; ou dadeiro artista se revela e tando que seus vinhos eram produzidos com então com taninos mais duros, fruta contida, essa é a razão do grande uvas desengaçadas à mão, por não dispor do toque vegetal e menos profundidade. Seja respeito que demonstra equipamento adequado e que hoje, os pro- como for, em toda a série fica muito evidente pelo trabalho de Thune- dutores mais ricos, e com tudo à disposição, o caráter bordalês dos vinhos, que mesmo em vin. De nossa parte, con- orgulham-se de fazer o desengaço manual, tal anos “clássicos” não negam sua origem. cordamos integralmente, e qual era feito nos primórdios do Valandraud. Uma das críticas mais contundentes ao como ficou claramente Com todos esses argumentos em pauta e château de Valandraud foi totalmente desmen- demonstrado nessa de- destituídos de qualquer tipo de preconceitos, tida na degustação: a de que todos os vinhos gustação histórica. fomos para a degustação do Valandraud pre- são iguais, sem personalidade. Só quem não parados para tudo. Afinal, não é sempre que se entende de vinhos, ou está movido por segun- tem a oportunidade de ouvir do próprio criador das (e inconfessáveis) intenções, poderia dizer de um vinho as nuances de cada safra e ainda semelhante asneira. Ficou patente a identida-