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Todos os dias somos bombardeados por imagens iconofágicas que seduzem, atraem, sugam
atenções. Imagens que na maioria das vezes estão relacionadas a estilos de vida
inacessíveis, entretanto, evangelizados pela troca da mais valia do trabalho. Imagens-
mensagens que ilustram, endossam sonhos de status de bens intangíveis, beleza, riqueza,
prosperidade, viabilizados pelo dinheiro.

A grande maioria dessas imagens se utiliza de mulheres para realizar tal feito. De filmes de
Hollywood a bonecas Barbie - hoje não mais exclusivamente loiras e alvas [1] - existe um
comando zero que mixa algumas leis rígidas da estética: pele brilhante, cabelos sedosos,
magreza, cinturas e pernas finas, quadril e seios grandes (CAMBRIDGE DOCUMENTARY
FILMS, 2010).

E cada vez mais, um número maior de jovens mulheres belas se submetem a procedimentos
para modificarem suas aparências em busca de externalizar o "eu" perfeito. Um caso que
exemplifica a "tendência": Heidi Montag atriz de 23 anos. "I'm living in my skin, and I look
in the mirror and it's my career and my life, and you only have one. So, I want to take
advantage of everything and be the best me, in and out, every way" (NUDD, 2010).

Aspirante a cantora, Heidi estampou a capa da revista People de fevereiro de 2010 com suas
dezenas de procedimentos para, segundo ela, revelar o "the best me" (GARCIA, 2010).


                     "Heidi Montag antes e depois"




                                                                        GARCIA, 2010




Na busca desse arquétipo mais-que-perfeito, muitas mulheres "trocam de identidade",
alteram sua forma natural, construindo avatares daquilo que acreditam que podem ser. Uma
busca constante, por vezes, alimentada na cultura fragmentada vigente em raízes plásticas
enterradas, que certas vezes levam à escolhas equivocadas que contrariam o self de algo
mais profundo. Um cenário de ilusões no qual se acredita que o dinheiro pode preencher
vazios e edificar vidas.

Muitas dessas mulheres, também acreditam que suas "belezas sempre intactas" vão
proporcionar fama. Fama que lhes rendera reconhecimento, aceitação e no final do ciclo
dinheiro para comprar coisas, comprar sonhos [ver 2].

O velho truque de se deixar seduzir pela tal "Carruagem Dourada", por degraus ilusórios, da
escadaria de um castelo que não existe. Afinal há algo na fome que nos priva o raciocínio e
cria seres funcionais-superficiais [ver 3 e 4]. Mulheres que desaparecem, se perdem em suas
imagens privando-se de alimento, afeto, relacionamentos.

Mas, o que desapereceu? Os instintos, a conexão com o intuitivo herdado de gerações
ancestrais, de mulheres selvagens conectadas com a natureza, com sua própria natureza.


                   Na Floresta




                                                                        GIBRAN, 2010



"Quando se ignora a natureza selvagem da mulher e a julgamos pelo que ela aparenta ser,
pode-se vir a ter uma grande surpresa, pois, quando a natureza primitiva da mulher emerge
das profundezas e começa a se afirmar, é freqüente que ela tenha interesses, sentimentos e
idéias muito diferentes dos que manifestava antes" (ESTÉS, 1992).

Assim as mulheres, nós mulheres, nos perdemos em meio aos ciclos. Afinal já não os
reconhecemos. São os novos ritos de passagem sob um vazio de significados dos anseios
femininos, dos movimentos que criam e morrem. A estudante Geyse Arruda - conhecida
como a "garota de vestido rosa da UNIBAN" - vivenciou esses ritos [ver 5].

Da menina com curvas acentuadas e roupinhas curtas, passou para mulher repaginada,
financiada por uma proposta solidária de mutirão, de clientes de um salão de cabeleireiro de
luxo. Seis mulheres ratearam o valor de sua transformação o equivalente a R$ 32 mil reais
em 'solidariedade' [ver 6].

Ainda, muitas mulheres passaram a conciliar com suas rotinas práticas físicas que tem
resultado em modificações corporais latentes. Atividades que lhes exigem disciplina na
alimentação e nos treinos [ver 7]. Tais mulheres também desaparecem, na sua figura frágil
que precisa ser acolhida e protegida para um arquétipo guerreiro e não brutalizado.


Re-estética Feminina




REVISTA ÉPOCA, 2010



A ausência dos sentimentos mais profundos de uma mudança mais complexa extingui
continuamente a luz do belo-invisível. Uma forma dolorosa de vida latente, que apresenta-se
fugaz e cruel. Ciborgues reféns da estética que obedecem um sistema de valores tão
desprovido de vida que sofrem uma perda extrema de vínculo com a alma" (ESTÉS,
1992).

Do outro lado, faz-se necessário conhecer os arquétipos do self, do novo feminino. E, assim
recordar os instintos ancestrais, afiá-los, trazer à luz a intuição, os elos perdidos que foram
colocados a venda em prateleiras vulgares da nossa sociedade, inventar novos mitos [ver
8].
Trata-se de construção e adaptação de corpos, almas, avatares. O raqueamento do "eu" de
mulheres ciborgues: "é uma questão de ficção e experiência vivida que muda o que conta
como a experiência das mulheres no século XX" (HARAWAY, 2010).


O poder do corpo e o PODER no corpo: possibilidades

Podemos considerar o corpo um sensor instintivo, uma rede de informações. Através
do corpo enviamos mensagens pelas quais comunicamo-nos com o mundo. Através da
comunicação entre os sistemas do corpo entramos em contato com a nossa verdadeira
história. A mulher plastificada, sacrificada, pede socorro. Clama por atenção por ignorar
aquilo que desconhece.

Nossas ancestrais eram consideradas belas não pelos seios siliconados ou pelo baixo peso
que faz as mulheres, por assemelharem-se aos cabides, sentirem-se melhores em suas
roupas caras. As mulheres que nos antecederam, e que ainda guardamos instintivamente na
memória do inconsciente, valorizavam o poder cultural no corpo em detrimento do poder do
corpo - que torna-se cada vez mais raro.

Sentiam-se – e eram – atraentes pelas formas, avantajadas ou não, através das quais
reconheciam-se mulheres; pelo modo de sorrir e caminhar; pelo movimento discreto dos
quadris; pela leveza e intimidade de seus corpos com a dança, e, principalmente, por serem
conscientes de que com esses corpos, que hoje poderiam ser considerados “imperfeitos”,
eram seres criadores, capazes de gerar e nutrir vidas ou multiplicarem-se através da arte.

No mundo contemporâneo que, sobretudo nas metrópoles, nos afasta cada vez mais daquilo
que convencionou-se denominar “natureza” – as paisagens, rios, plantas e animais - , as
mulheres afastaram-se também da natureza feminina. Atravessamos o “Ser ou não ser”
shakespeareano, para vivermos de acordo com o “Parecer ser”, que rege a sociedade atual.

As mulheres mutiladas e/ou sacrificadas em nome do poder do corpo ignoram que, mesmo
distantes da floresta, permanecem árvores. Seremos sempre nutridas pelas vozes de nossas
ancestrais, sábias, que viveram em corpos semelhantes àqueles que nos definem como
mulheres - e que deveriam transformar-se com o tempo e a experiência, não como
experimento.

Caberá às árvores, hoje dolorosamente esculpidas em formas ressequidas de valores e
desprovidas de flores e frutos - que lhe dariam, além da beleza real e suas idiossincrasias,
a utilidade - adaptarem-se ao meio em que vivemos. Silenciosas, nossas raízes suplicam por
cuidado enquanto exploram as profundezas do solo ainda fértil.

Tornando-se consciente do poder que existe no corpo, do poder que é nutrido pelas
lembranças instintivas e ancestrais, a mulher estará diante da possibilidade de tornar-se
senhora de si. A natureza feminina, mesmo relegada, não nos abandona. A árvore que somos
espera ser força e folhagens verdes. Pretende ser sombra acolhedora e sementes para as
gerações que nos sucederão.

A força que existe nas raízes que nos torna árvores frondosas é como um tesouro que
precisa, e quer, ser encontrado; um tesouro que não é fácil ou óbvio como cirurgias, dietas e
exercícios, mas que, por ter valor inestimável, acaba revelando, e transmitindo, o que há de
melhor em todas nós.
Notas


[1] http://30ealguns.com.br/2010/02/barbies-negras/
[2] http://srtabia.com/2010/02/mulher-e-midia-salario-twitess-edredon-etc/
[3] http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2152/o-duro-caminho-de-sabrina-sato-rumo-fama
[4] http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2152/sabrina-sato-300-000-reais-por-mes-com-ar-de-eterna-bobinha
[5] http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/12/01/a-transformacao-de-geisy/
[6] http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/12/16/geisy-arruda-ganhou-cirurgia-de-r-32-mil/comment-
page-64/
[7] http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI121559-15228,00-A+BELEZA+DA+FORCA.html
[8] http://imaginarios.net/dpadua/?p=254



Referências Bibliográficas


CAMBRIDGE DOCUMENTARY FILMS. Killing us Softly. 1987. Disponível em http://www.tv-
links.eu/display.php?data=Mjg3NDQ0. Acessado em 20 de janeiro de 2010.

ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres Que Correm Com os Lobos: Mitos E Historias do
Arquétipo da Mulher Selvagem. Coleção Arco do Tempo. 9ª Edição. Editora Rocco: Rio
de Janeiro, 1992.

GARCIA, Jennifer. PEOPLE MAGAZINE: Heidi Montag: Addicted to Plastic
Surgery.Publicado em 13 de janeiro 2010. Disponível em http://www.people.com/people/
article/0,,20336472,00.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010.

GIBRAN, Khalil Gibran. Na Floresta. Publicado em 20 de agosto 2009. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=4gIwWMMgURY. Acessado em 11 de fevereiro de 2010.

HARAWAY, Donna. A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism
in the Late Twentieth Century. in Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of
Nature. Rotledge: New York, 1991, p.149-181. Disponível em http://www.stanford.edu/
dept/HPS/Haraway/CyborgManifesto.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010.

NUDD, Tim. PEOPLE MAGAZINE: Heidi Montag: My Surgeries Aren't an Addiction.
Publicado em 19 de janeiro 2010. Disponível em http://www.people.com/people/article/
0,,20337744,00.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010.

REVISTA ÉPOCA. A Beleza da Força. Publicado em 12 de fevereiro 2010. Disponível em
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI121711-17445,00.html. Acessado em
15 de fevereiro de 2010.

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Submidialogia

  • 1. Mulheres que Desaparecem Déa Paulino Flavia Cremonesi Maira Begalli Todos os dias somos bombardeados por imagens iconofágicas que seduzem, atraem, sugam atenções. Imagens que na maioria das vezes estão relacionadas a estilos de vida inacessíveis, entretanto, evangelizados pela troca da mais valia do trabalho. Imagens- mensagens que ilustram, endossam sonhos de status de bens intangíveis, beleza, riqueza, prosperidade, viabilizados pelo dinheiro. A grande maioria dessas imagens se utiliza de mulheres para realizar tal feito. De filmes de Hollywood a bonecas Barbie - hoje não mais exclusivamente loiras e alvas [1] - existe um comando zero que mixa algumas leis rígidas da estética: pele brilhante, cabelos sedosos, magreza, cinturas e pernas finas, quadril e seios grandes (CAMBRIDGE DOCUMENTARY FILMS, 2010). E cada vez mais, um número maior de jovens mulheres belas se submetem a procedimentos para modificarem suas aparências em busca de externalizar o "eu" perfeito. Um caso que exemplifica a "tendência": Heidi Montag atriz de 23 anos. "I'm living in my skin, and I look in the mirror and it's my career and my life, and you only have one. So, I want to take advantage of everything and be the best me, in and out, every way" (NUDD, 2010). Aspirante a cantora, Heidi estampou a capa da revista People de fevereiro de 2010 com suas dezenas de procedimentos para, segundo ela, revelar o "the best me" (GARCIA, 2010). "Heidi Montag antes e depois" GARCIA, 2010 Na busca desse arquétipo mais-que-perfeito, muitas mulheres "trocam de identidade", alteram sua forma natural, construindo avatares daquilo que acreditam que podem ser. Uma
  • 2. busca constante, por vezes, alimentada na cultura fragmentada vigente em raízes plásticas enterradas, que certas vezes levam à escolhas equivocadas que contrariam o self de algo mais profundo. Um cenário de ilusões no qual se acredita que o dinheiro pode preencher vazios e edificar vidas. Muitas dessas mulheres, também acreditam que suas "belezas sempre intactas" vão proporcionar fama. Fama que lhes rendera reconhecimento, aceitação e no final do ciclo dinheiro para comprar coisas, comprar sonhos [ver 2]. O velho truque de se deixar seduzir pela tal "Carruagem Dourada", por degraus ilusórios, da escadaria de um castelo que não existe. Afinal há algo na fome que nos priva o raciocínio e cria seres funcionais-superficiais [ver 3 e 4]. Mulheres que desaparecem, se perdem em suas imagens privando-se de alimento, afeto, relacionamentos. Mas, o que desapereceu? Os instintos, a conexão com o intuitivo herdado de gerações ancestrais, de mulheres selvagens conectadas com a natureza, com sua própria natureza. Na Floresta GIBRAN, 2010 "Quando se ignora a natureza selvagem da mulher e a julgamos pelo que ela aparenta ser, pode-se vir a ter uma grande surpresa, pois, quando a natureza primitiva da mulher emerge das profundezas e começa a se afirmar, é freqüente que ela tenha interesses, sentimentos e idéias muito diferentes dos que manifestava antes" (ESTÉS, 1992). Assim as mulheres, nós mulheres, nos perdemos em meio aos ciclos. Afinal já não os reconhecemos. São os novos ritos de passagem sob um vazio de significados dos anseios femininos, dos movimentos que criam e morrem. A estudante Geyse Arruda - conhecida como a "garota de vestido rosa da UNIBAN" - vivenciou esses ritos [ver 5]. Da menina com curvas acentuadas e roupinhas curtas, passou para mulher repaginada, financiada por uma proposta solidária de mutirão, de clientes de um salão de cabeleireiro de luxo. Seis mulheres ratearam o valor de sua transformação o equivalente a R$ 32 mil reais
  • 3. em 'solidariedade' [ver 6]. Ainda, muitas mulheres passaram a conciliar com suas rotinas práticas físicas que tem resultado em modificações corporais latentes. Atividades que lhes exigem disciplina na alimentação e nos treinos [ver 7]. Tais mulheres também desaparecem, na sua figura frágil que precisa ser acolhida e protegida para um arquétipo guerreiro e não brutalizado. Re-estética Feminina REVISTA ÉPOCA, 2010 A ausência dos sentimentos mais profundos de uma mudança mais complexa extingui continuamente a luz do belo-invisível. Uma forma dolorosa de vida latente, que apresenta-se fugaz e cruel. Ciborgues reféns da estética que obedecem um sistema de valores tão desprovido de vida que sofrem uma perda extrema de vínculo com a alma" (ESTÉS, 1992). Do outro lado, faz-se necessário conhecer os arquétipos do self, do novo feminino. E, assim recordar os instintos ancestrais, afiá-los, trazer à luz a intuição, os elos perdidos que foram colocados a venda em prateleiras vulgares da nossa sociedade, inventar novos mitos [ver 8].
  • 4. Trata-se de construção e adaptação de corpos, almas, avatares. O raqueamento do "eu" de mulheres ciborgues: "é uma questão de ficção e experiência vivida que muda o que conta como a experiência das mulheres no século XX" (HARAWAY, 2010). O poder do corpo e o PODER no corpo: possibilidades Podemos considerar o corpo um sensor instintivo, uma rede de informações. Através do corpo enviamos mensagens pelas quais comunicamo-nos com o mundo. Através da comunicação entre os sistemas do corpo entramos em contato com a nossa verdadeira história. A mulher plastificada, sacrificada, pede socorro. Clama por atenção por ignorar aquilo que desconhece. Nossas ancestrais eram consideradas belas não pelos seios siliconados ou pelo baixo peso que faz as mulheres, por assemelharem-se aos cabides, sentirem-se melhores em suas roupas caras. As mulheres que nos antecederam, e que ainda guardamos instintivamente na memória do inconsciente, valorizavam o poder cultural no corpo em detrimento do poder do corpo - que torna-se cada vez mais raro. Sentiam-se – e eram – atraentes pelas formas, avantajadas ou não, através das quais reconheciam-se mulheres; pelo modo de sorrir e caminhar; pelo movimento discreto dos quadris; pela leveza e intimidade de seus corpos com a dança, e, principalmente, por serem conscientes de que com esses corpos, que hoje poderiam ser considerados “imperfeitos”, eram seres criadores, capazes de gerar e nutrir vidas ou multiplicarem-se através da arte. No mundo contemporâneo que, sobretudo nas metrópoles, nos afasta cada vez mais daquilo que convencionou-se denominar “natureza” – as paisagens, rios, plantas e animais - , as mulheres afastaram-se também da natureza feminina. Atravessamos o “Ser ou não ser” shakespeareano, para vivermos de acordo com o “Parecer ser”, que rege a sociedade atual. As mulheres mutiladas e/ou sacrificadas em nome do poder do corpo ignoram que, mesmo distantes da floresta, permanecem árvores. Seremos sempre nutridas pelas vozes de nossas ancestrais, sábias, que viveram em corpos semelhantes àqueles que nos definem como mulheres - e que deveriam transformar-se com o tempo e a experiência, não como experimento. Caberá às árvores, hoje dolorosamente esculpidas em formas ressequidas de valores e desprovidas de flores e frutos - que lhe dariam, além da beleza real e suas idiossincrasias, a utilidade - adaptarem-se ao meio em que vivemos. Silenciosas, nossas raízes suplicam por cuidado enquanto exploram as profundezas do solo ainda fértil. Tornando-se consciente do poder que existe no corpo, do poder que é nutrido pelas lembranças instintivas e ancestrais, a mulher estará diante da possibilidade de tornar-se senhora de si. A natureza feminina, mesmo relegada, não nos abandona. A árvore que somos espera ser força e folhagens verdes. Pretende ser sombra acolhedora e sementes para as gerações que nos sucederão. A força que existe nas raízes que nos torna árvores frondosas é como um tesouro que precisa, e quer, ser encontrado; um tesouro que não é fácil ou óbvio como cirurgias, dietas e exercícios, mas que, por ter valor inestimável, acaba revelando, e transmitindo, o que há de melhor em todas nós.
  • 5. Notas [1] http://30ealguns.com.br/2010/02/barbies-negras/ [2] http://srtabia.com/2010/02/mulher-e-midia-salario-twitess-edredon-etc/ [3] http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2152/o-duro-caminho-de-sabrina-sato-rumo-fama [4] http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2152/sabrina-sato-300-000-reais-por-mes-com-ar-de-eterna-bobinha [5] http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/12/01/a-transformacao-de-geisy/ [6] http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7/2009/12/16/geisy-arruda-ganhou-cirurgia-de-r-32-mil/comment- page-64/ [7] http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI121559-15228,00-A+BELEZA+DA+FORCA.html [8] http://imaginarios.net/dpadua/?p=254 Referências Bibliográficas CAMBRIDGE DOCUMENTARY FILMS. Killing us Softly. 1987. Disponível em http://www.tv- links.eu/display.php?data=Mjg3NDQ0. Acessado em 20 de janeiro de 2010. ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres Que Correm Com os Lobos: Mitos E Historias do Arquétipo da Mulher Selvagem. Coleção Arco do Tempo. 9ª Edição. Editora Rocco: Rio de Janeiro, 1992. GARCIA, Jennifer. PEOPLE MAGAZINE: Heidi Montag: Addicted to Plastic Surgery.Publicado em 13 de janeiro 2010. Disponível em http://www.people.com/people/ article/0,,20336472,00.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010. GIBRAN, Khalil Gibran. Na Floresta. Publicado em 20 de agosto 2009. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4gIwWMMgURY. Acessado em 11 de fevereiro de 2010. HARAWAY, Donna. A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and Socialist-Feminism in the Late Twentieth Century. in Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. Rotledge: New York, 1991, p.149-181. Disponível em http://www.stanford.edu/ dept/HPS/Haraway/CyborgManifesto.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010. NUDD, Tim. PEOPLE MAGAZINE: Heidi Montag: My Surgeries Aren't an Addiction. Publicado em 19 de janeiro 2010. Disponível em http://www.people.com/people/article/ 0,,20337744,00.html. Acessado em 19 de fevereiro de 2010. REVISTA ÉPOCA. A Beleza da Força. Publicado em 12 de fevereiro 2010. Disponível em http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI121711-17445,00.html. Acessado em 15 de fevereiro de 2010.