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Caros Leitores,
Diretora de Redação: Romina Miranda Cerchiaro
Nesta edição, além dos artigos especiais de nossos Direção de Arte: Butterfly Publicações
colunistas – Marco Leite, Marília Teixeira Martins e Padre Jornalista Responsável: Romina Miranda Cerchiaro
- MTb 49.130
Haroldo, vamos acompanhar a vivência de um conse-
Gerente de Negócios: Humberto Fröhls
lheiro em dependência química, figura tão importante
nas comunidades terapêuticas, vamos conhecer melhor
Anônimos é uma publicação da Butterfly Publicações Ltda -
EXPEDIENTE
as nuances da dependência química feminina, através da
EDITORIAL
Libélula Publicações
entrevista com uma especialista, vamos refletir sobre os Redação, Administração e Publicidade:
Princípios de Amor-Exigente, sobre os 12 Passos e sobre Av. Gal. Ataliba Leonel, 2087 - Cj. 02 - Santana - 02033-010 -
o Amor. São Paulo - SP Telefones: (11) 2901.0048 e 2373.0577
Mas, nosso alerta na matéria de capa, é para que pos- contato@revistaanonimos.com.br
samos aprender a olhar para a nossa família como um sis- www.revistaanonimos.com.br
tema, onde o comportamento de um afeta o do outro, Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores,
onde a relação entre as partes é o que deve ser olhado e não correspondendo necessariamente à opinião deste periódico.
cuidado. Para isso, alguns questionamentos são propos- Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias pu-
tos no sentido de oferecer possibilidades de mudanças de blicadas sem consentimento prévio e por escrito da revista
Anônimos.
partir para a ação, de transformar a realidade da família
em algo melhor. A Libélula Publicações não se responsabiliza pelo conteúdo dos
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Boa leitura! sobre os produtos e serviços aqui anunciados.
A redação
05 CAPA
O Sistema Familiar 12 VIVÊNCIA DA RECUPERAÇÃO
Minha vida como conselheiro
06 14
SUMÁRIO
COLUNA DO MARCO 12 PRINCÍPIOS
Só o amor, não se separa Pais e filhos não são iguais
12 PASSOS
08 ENTREVISTA
Entre elas 15 A hora é essa
ESPIRITUALIDADE
09 COLUNA DO PADRE HAROLDO
Sonhos 17 O amor
10 COLUNA DA MARILIA
“Amar demais” Amor ou desamor?
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O Sistema Familiar
CAPA
Por Romina Miranda Cerchiaro
Na grande maioria das famílias de dependentes quími- mesmos, a cuidar de suas mudanças para então se fortale-
cos há um grande paradoxo. Por um lado, a culpa. “Onde cerem para fazer mais pelos filhos. Conforme se aprofun-
foi que eu errei?”, pensa a mãe. “Se eu tivesse feito dife- darem nestes questionamentos positivos, sendo honestos
rente”, reflete o pai. Com estes questionamentos errôneos em suas avaliações, poderão encontrar a libertação da culpa,
e totalmente atrelados ao passado (e passado a gente não e entender que a pedra que jogam no lago farão ondas em
muda!), os familiares ficam paralisados e não conseguem toda a sua extensão.
agir para ajudar o filho dependente de drogas. E é quando o sistema se organiza – e ele sempre se orga-
Por outro lado, afirmam que quem precisa de tratamen- niza – de forma saudável e equilibrada que as mudanças
to é somente o filho, que o problema é dele. “Para que eu positivas começam a acontecer. Neste contexto, todos
vou a um grupo se o doente é ele?”, pensa a mãe. “O pro- reconhecem os seus limites, os seus recursos. E todos
blema é dele e não meu!”, pensa o pai. Esta postura de crescem com os erros, acertos, rumo à qualidade de vida.
negação faz com que a família se ausente do momento em
Questionamentos proativos:
que o filho mais precisa de apoio: quando está perdido.
*Aceito meu filho como ele é ou quero impor minha
O que muitas famílias que vivem este paradoxo não
herança cultural a ele?
enxergam é o sistema familiar. Não há um filho, se não
*Permito que o meu filho ultrapasse os limites do
houver um pai e uma mãe. E nem uma mãe ou um pai respeito comigo? Tenho mostrado a ele quais são estes
se não houver um filho. Como quando jogamos um ape- limites?
dra em um lago, as nossa ações reverberam em toda a *Reconheço as minhas necessidades? E a do outro?
família, afetando a todos. Isso não quer dizer culpa, mas, *Reconheço e aceito as diferenças em minha família?
sim, responsabilidade e, principalmente, mostra que *Tenho consciência da importância do meu exemplo
existe uma relação entre eles e é ela – a relação - que pre- na vida do meu filho?
cisa ser olhada e cuidada. *Posso exigir aquilo que não dou? Tenho feito isto?
A visão do sistema familiar nos permite refletir sobre *Tenho coragem para tomar atitudes que causarão
pontos que nos levarão à ação, aos invés de ficarmos diva- crise?
gando na culpa. “Como está a hierarquia em minha família? *Estou preparado para enfrentar de forma positiva a
Quem manipula quem, quem controla quem?”. Poderia crise?
rever um pai. “De que maneira tenho sido um exemplo *Busco ajuda com as pessoas certas? Tenho me isolado
positivo para meu filho? Como o meu comportamento negando a situação?
afeta o dele e vice-versa”. Poderia questionar a mãe. *Em minha família buscamos ajudar uns aos outros?
Reflexões verdadeiras, livres do medo, da culpa e do jul- *Temoscumprido nossos papéis e responsabilidades ou
gamento permitem uma postura proativa que leva a família um faz demais e o outro não faz tanto?
a crescer e a se fortalecer. Sempre com o foco no todo, ou *Há equlíbrio, ajuda, cooperação?
seja, no sistema familiar – que envolve o relacionamento *Temos disciplina? Organização? Objetivos e metas?
familiar – os questionamentos continuarão fornecendo *Temos uma identidade familiar?
*Minha forma de amar está adoecida?
informações que auxiliarão na mudança.
*Tenho misturado amor com facilitação, controle ou
Com este hábito, os pais passarão a olhar mais para si
outros sentimentos negativos?
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Coluna do Marco
Só o AMOR, não se
SEPARA
Por Marco Leite
Sou uma pessoa muito hábil com as palavras e sei disso. firme e torcendo pelo outro, sabedor que minha passagem
Convocado às pressas para fechar meu artigo para a pela sua vida gerou crescimento para ambos.
Revista Anônimos, me coloquei a pensar no que fazer. Desapegos
Uso o cotidiano? Falo em recuperação? Ou em outro Em tempos de residência na Comunidade Terapêutica
assunto qualquer? Fazenda Renascer, quando um companheiro estava para
Resolvi falar de tudo um pouco - do livro presenteado deixar a casa, os demais começavam a pedir os seus
(e que não foi lido), das flores que acabam por secar, do “desapegos” – pertences pessoais – para deixar de recor-
coelho de pelúcia que se perdeu pelo caminho, do sorriso dação para quem ficava cumprindo sua caminhada.
que cessou e, por fim, falar de amor - esta palavrinha de Lembro de um abrigo lindo que eu tinha, todo verme-
quatro letras, que está caindo em desuso cada vez mais em lho, do meu time Internacional. Todos o queriam, afinal o
uma sociedade que pensa só em TER as coisas e esquece Inter acabara de ser campeão do mundo, em cima do
do SER humano, nosso maior valor. poderoso Barcelona. Acabei por deixar o casaco com um
Infelizmente somos muito carne e pouco, muito e a calça com outro.
pouco, espirituais. Saí contrariado por ter feito isso, pois tinha muita
Dia desses alguém muito caro me disse para aprender afeição por aquele agasalho e não queria me SEPARAR
a SEPARAR as coisas. Mas não consigo separar o AMOR, dele. A separação significa perder o interesse e desapagar-
ele é e foi a chave de minha volta do mundo das drogas e se, deixar de viver em comum.
do álcool. Para isso tem que haver perda de interesse e desamor,
Separar para mim, e também para qualquer dicionário, mas às vezes o SEPARAR se faz necessário, pois nem
significa desunir... sempre as coisas são como planejamos.
Como posso querer repartir, dividir, isolar, afastar? Ou Só uma coisa não devemos SEPARAR nesta vida, o
seria separar o útil do inútil? Mas, não tenho capacidade AMOR. Sem ele nos afastamos de DEUS e, com isso, os
para julgar o que é isso, pois em minha vida de recupe- perigos voltam a rondar. Para mim, que superdimensiono
ração do comportamento não existem inúteis. Eu falo isso as coisas, o valor do AMOR é grandioso e não pode ser
com propriedade, pois vi verdadeiros milagres em minha separado, pois sem ele o romantismo acaba por ser extin-
caminhada de recuperação. to.
Quando me separei da sociedade em busca de uma Aliás, pode até ser que o amor já esteja extinto e eu seja
nova vida, fui à busca da esperança de nunca mais me se- o último romântico.
parar de mim, de unir e de participar da vida das pessoas Uma abraço AMOROSO aos leitores da Revista
que me são caras. Ajudar o próximo sem interesse passou Anônimos.
a ser meu lema. E tenho conseguido isso, mas a vida nos
coloca testes neste caminho no qual os problemas se apre-
sentam, e tenho que ter a serenidade de compreender isso.
Não posso e não devo jamais separar o que é bom, http://lampiaogaucho.blogspot.com
nem fazer distinções nos momentos para isso. E mesmo
que isso aconteça, pois não depende só de mim, estarei
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Entre elas
Entrevista
A dependência química entre as mulheres tem características próprias e diferenci-
adas. Por isso, o tratamento precisa ter um olhar especial. Nesta entrevista, a Dra.
Maria das Graças Dias de Oliveira
Passaretti, do Centro Paulista de Recuperação, fala sobre o trabalho que
realiza na unidade feminina.
Revista Anônimos - Quais são as questões peculiares da nação, geralmente, de forma involuntária devido à gravi-
dependência química entre as mulheres? dade da doença. As mulheres apresentam mais demandas
para tratar e requerem mais atenção da equipe terapêutica,
Dra. Maria da Graça - Carência afetiva, autoestima baixa, pois culturalmente aprenderam a serem mais “queixosas”
dificuldade em lidar com perdas em geral (pessoas, traba- e expressarem suas emoções. (No consultório, os homens
lho, situações expressas no cotidiano), preocupação exces- tem buscado mais ajuda que no passado, principalmente
siva com a imagem corporal. devido às crises conjugais, o que não ocorria anterior-
mente.)
RA - Qual a importância do relacionamento familiar e da
maternidade neste contexto? RA - Quais são os fatores que mais interferem e ajudam
a mulher a entrar em recuperação?
MGP - No caso da dependência química em indivíduos
sintomáticos, o relacionamento familiar ou a maternidade MGP - Os fatores que mais interferem na recuperação
não são fatores de proteção. A prioridade vai estar sem- são os relacionamentos com parceiros também depen-
pre voltada para as drogas. dentes químicos e a dificuldade em desligar-se emocional-
mente das antigas amizades do período de vida ativa.
RA - Quais são as comorbidades mais frequentes entre as
mulheres? RA - Quais são as principais substâncias de dependência
no público feminino?
MGP - A coexistência de duas ou mais perturbações
usuais nas mulheres dependentes pode ser a depressão, MGP - Hoje, as mulheres se tornam mais dependentes de
transtornos afetivo bipolar ou de déficit de atenção com cocaína, crack e afetaminas. E isto está relacionado princi-
hiperatividade (TDAH) , distúrbios alimentares e palmente à imagem corporal.
transtornos de personalidade.
RA - Existe uma faixa etária específica?
RA - Para suprir as necessidades emocionais e de comu-
nicação, mais presente nas mulheres do que nos homem, MGP - Não. Mas, nos últimos anos, uma questão rele-
vocês preparam mais atividades terapêuticas cotidianas. vante que vem chamando atenção é o fator idade.
Quais são elas? Diferentemente do passado, existem altos índices de mu-
lheres na fase madura (após 40 anos) sendo internadas por
MGP - As atividades do Centro Paulista de Recuperação, dependências em drogas ilícitas. Antes, nessa faixa etária,
destinadas ao público feminino, são grupos terapêuticos seu envolvimento era basicamente com medicamentos
visando autoconhecimento e monitoramento dos sin- para dormir ou álcool.
tonas, sessão de acolhimento individual, relaxa-mento e
consciência corporal, assim como atividade física. A Dra. Maria das Graças Dias de Oliveira Passaretti é
Psicóloga, Especialista em Dependência Química com
enfoque em Terapia Cognitiva Comportamental
RA - É mais difícil a mulher buscar ajuda do que o
(FMUSP), Pós-Graduada em Psicodrama e Terapia
homem? Por que? Familiar e Terapeuta de Psicotraumas (EMDR).
Coordenadora do Programa Para Tratamento de
DMG - No caso da dependência química, homens e mu- Tabagistas no CPR Centro Paulista de Recuperação.
lheres têm chegado ao tratamento em regime de inter-
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Coluna do Padre Haroldo
Sonhos
Por Padre Haroldo J. Rahm, SJ
O Mestre falou para os discípulos: “Vocês sabem fácil. Apesar das dificuldades, o sonho nos permite uma
dizer por que o pássaro canta? Um pássaro não canta vida alegre e, frequentemente, realizamos o que dese-
porque tem algo a dizer. Ele canta porque traz uma melo- jamos.
dia na garganta”. Quero dizer que além de termos uma A Divina Majestade nos dá uma vida de felici-
melodia em nossos corações, temos sonhos nas nossas dade. Faz isto o tempo todo, até mesmo em pequeníssi-
mentes/cérebro. Eu gosto de observar todas as pessoas mas coisas, como uma de nossas células. Ela cuida de nós!
sóbrias, dançando e cantando com o Divino. Algumas de nossas células nem podem ser vistas com um
Cito várias pessoas que tiveram sonhos. Cabral – 1500 microscópio. A célula é como a cidade de Nova Iorque.
– sonhou em encontrar o Oriente e ancorou em Porto Têm milhares de postos de gasolina, um sistema de trans-
Seguro, Bahia. Anchieta – 1556 – construiu uma aldeia porte e uma rede de comunicação como as linhas de tele-
para os indígenas; a qual se tornou uma das maiores e mais fone e a internet. As células importam várias matérias
importantes cidades do mundo: São Paulo. Machado de como os nutrientes e o oxigênio. Manufaturam o que é
Assis – 1857 – aperfeiçoou a literatura brasileira. Lula, necessário, e têm caminhões para retirar os resíduos. Têm
como sindicalista e metalúrgico, desejou ser Presidente e um governo muito eficiente, um líder que manda e poli-
realizou este sonho. ciamento para bloquear ações destrutivas.
Os afro-americanos e afro-brasileiros também Existem diferentes células, as quais formam
realizaram vários sonhos. Lincoln – 1865 – queria libertar desde uma girafa até uma abelha. Milhões de células são
os escravos. Martin Luther King – 1960 – destacou seu tão pequenas que podem instalar-se na ponta de um
desejo sempre repetindo “Eu tenho um sonho”. Por causa alfinete. Têm vários formatos, como discos e linhas retas.
desta ideia, dia 22 de fevereiro é feriado nos Estados As células fornecem calor para manter o corpo quente,
Unidos. Para um americano “O milagre dos milagres”, promovem eletricidade química para que ocorram os so-
politicamente falando, foi o fato de um afro-americano ser nhos e planejam completamente a vida pelo DNA.
eleito como Presidente na América do Norte. O Criador nos fornece 100 trilhões de células
A mesma chuva dá flores no jardim e espinhos no muito bem organizadas e um espírito que nos dá a vida
campo. Às vezes, os sonhos custam nossa vida, como é o eterna. Somos cidadãos de dois mundos: do terrestre por
caso de Lincoln e King, que morreram pelos seus ideais. algum tempo, e do celestial para sempre. A Divina
O fato de termos sonhos não quer dizer que o preço é Majestade nos destinou para vivermos felizes.
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Coluna da Marilia
“Amar Demais”
Amor ou Desamor?
Marília Teixeira Martins
Um pouco da História de “Frô” que o “Nhô” precisa frequentá as reunião de A.A. e con-
tinuá a fazê o tratamento que ele faz lá com o médico do
Estou em Codisburgo, Minas Gerais. O significado do hospital.
nome desta cidade no interior de Minas, vem de Cordis, E graças a Deus e debaixo de muita reza, meu “Nhô”
coração e Burgo, cidade. A cidade do coração. Do coração num bebe a um tempão. Tá guentando firme!
de muitas “Marias”, de muitos Josés”, de Dona Quita, Seu Meu pai bebia o mesmo tanto que ele, num sabe? E
Tarcísio, Seu Berto e do grande escritor João Guimarães minha mãe cuidou dele direitinho, igual eu cuido do meu
Rosa. esposo. Óia, minha vida, pra bem dizê é só cuidá dele. Eu
Debaixo de um caramanchão coberto de uma planta amo ele demais da conta e quem ama cuida, num é
exótica de nome “sapatinho-de-judia”, oriunda da Índia, mesmo?
escrevo sobre Frô (nome fictício para preservar o seu Quando minha mãe ainda vivia, ela falava que casa-
anonimato), mulher regional, casada há muitos anos com mento que é casamento só dá certo se a mulher ficá com
Seu “Nhô” (nome fictício), alcoolista em recuperação há o marido pro que dé e vié. E que, se a gente não cuidá,
pouco mais de 2 meses. vem outra e cuida.
Frô me conta um pouco de sua história de vida, de seu Por isso, tem dia que só de pensá que meu “Nhô” pode
amor e de sua dor, se dirigindo a mim ora como menina, me deixá, eu choro... às vezes, o dia inteirim, inteirim. Só
ora como mocinha ou “fia” e de vez em quando até se que eu choro pra dentro e bem escondido que é pra ele
arriscando a me chamar de senhora. num vê e nem ouvi.
* Observação: Uns meses desses pra trás, eu chorei pra dentro um
A parte inicial deste pequeno artigo foi escrita de acor- tempão e sofri de uma dor tão doída que nem vi a luz do
do com o dialeto regional, ou seja, da maneira em que a sol. Meu coração ficou numa amargura só! Foi num
pessoa fala. daqueles dias que ele bebeu demais da conta e ficou até
As primeiras palavras de Frô: “sem carreira certa”. Perdeu o caminho de casa e nunca
- Óia “fia”, vou te contá minha vida junto do meu mais chegava. Aí no final do dia eu fui atrás dos seus pas-
“Nhô” porque guardo uma grande estima pela senhora e sos e achei o caminho de volta pra ele, num sabe?
quero começá dizendo que eu amo ele demais da conta, Olha mocinha, eu num costumo ter medo de muita
num sabe? coisa nessa vida não, mas o medo mais medroso que tenho
Pois bem, a coisa que ele mais gostava de fazê na vida é de perdê o meu “Nhô”. Minha vida é assim, acunchega-
era bebê suas pinguinha, que comprava direto do fabri- da na dele.
cante. Bebia demais da conta, e nessa época eu nem briga- E agora, sem ele bebê, nossa vida vai melhorá... e
va com ele procausa disso não! Ele gostava, uai... fazê o muito! Eu amo ele demais da conta, sô!
quê, né? * Observação: Frô, ao falar isso, abre um belo sorriso
Hoje, pra bem dizê, nossa vida é uma verdadeira ma- e mostra sua boca sem nenhum dente na parte superior.
ravilha, mas já foi muito sofrida. Atualmente eu e meu *Este depoimento foi devidamente autorizado por Frô
esposo trabalhamos aqui com o Dotô. Ele é muito bão para ser publicado”.
com a gente, que só cê vendo! Deixa a gente morá ali no E esta é a história de “Frô”, do Seu Nhô” e do senti-
quartinho e a gente só precisa cuidá das coisa e da casa mento que ela chama de amor, apesar da dor.
dele, nóis fazemos isso bom grado! Ah, e tem mais: sou Minhas considerações
fichada e ele nunca atrasa nosso pagamento. Mas, já avisou Frô, assim como milhares de codependentes é mais
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VIVÊNCIAS DA RECUPERAÇÃO
Vivências
Minha vida como conselheiro
Estou completando neste ano de 2012, oito anos de No decorrer do trabalho, foram surgindo as opor-
atuação na área da dependência química. Antes desse tunidades de nos capacitarmos na área, através de cursos,
tempo, não me imaginava nesse trabalho. Tudo começou como o de capacitação em dependência química. A partir
por um impulso cristão. Como cristão católico, partici- daí, comecei a desempenhar o trabalho de conselheiro em
pante do movimento da Renovação Carismática Católica, dependência química. Hoje, passados oitos anos nessa
no ano de 2004, resolvi dar um passo em minha vida, que atividade, percebo a importância do conhecimento técni-
na época parecia uma loucura. Não só as pessoas, mas até co-científico a respeito das consequências do uso abusivo
eu mesmo pensava assim. No entanto existia dentro de e da dependência de drogas, no atendimento aos usuários
mim, primeiro, um desejo de servir a Deus, e servi-lo, aju- e também às suas famílias.
dando aqueles que mais estivessem necessitando de ajuda. O conselheiro em dependência química é um profis-
No ano de 2004, resolvemos iniciar uma Associação, uma sional habilitado, através de um curso de capacitação ou de
entidade juridicamente constituída, que pudesse oferecer aconselhamento em dependência química. Em muitos
essa ajuda, de maneira especial, aos dependentes químicos casos, dependentes que deixaram as drogas e passaram por
e às suas famílias. Todo esse desejo nasceu em nosso um processo de recuperação e vivem em sobriedade, tor-
coração, porque nos deparávamos nos encontros de nam-se conselheiros e exercem em instituições esta
jovens, com as situações de uso abusivo e dependência de função, no entanto, não são somente os que já passaram
drogas. Eu e minha esposa, Maria do Carmo, (na época, pela experiência do uso de alguma droga que podem
éramos namorados ainda), deixamos nosso emprego para exercer esta função. É claro que ter passado pela experiên-
nos dedicarmos à entidade, que recebeu o nome de cia pode ser um fator que ajude e muito no entendimento
Associação da Divina Misericórdia, com o apoio e suporte do problema, mas não é primordial. É o meu caso, por
do movimento da RCC. Começamos bem leigamente, ape- exemplo. Eu não passei pela experiência do uso de drogas
nas com o grande desejo de ajudar, e é claro, acreditando ilícitas e nem lícitas. Como relatei no início deste artigo,
na experiência espiritual como um grande instrumento de minha experiência foi outra e hoje percebo nitidamente
libertação e recuperação das drogas. este acontecimento e o envolvimento neste trabalho em
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minha vida, como um chamado de Deus. Portanto, o conse- permitir que aquele que chega à instituição ou ao programa de
lheiro em dependência química é, a meu ver, em primeiro recuperação, sinta-se valorizado, amado, respeitado como pes-
lugar, alguém chamado, vocacionado, ou seja, poderíamos soa, como ser humano, portanto, o acolhimento, a forma
dizer que é aquela pessoa com o perfil para exercer tal ativi- como se acolhe esta pessoa dependente, conta muito em todo
dade, depois, ele precisa ser alguém capacitado, ter conheci- o trabalho. Foi o que me perguntaram numa ocasião em que
mento técnico-científico da doença da dependência química, eu participava de uma entrevista numa emissora de rádio
não basta só querer ajudar, é necessário ter formação, estudo, local: “Como chegar, como se aproximar do usuário de dro-
preparo para isso. O conselheiro geralmente atua em insti- gas? Não dá medo? Como você aborda o usuário sem saber a
tuições de atendimento a usuários de drogas, em comu- reação que ele terá?”
nidades terapêuticas, centros e programas de recuperação; é Então a resposta que eu dei foi exatamente essa: é pre-
um profissional que pode trabalhar junto a uma equipe de ciso olhar para o usuário de drogas, além do seu uso abusivo,
outros profissionais, no processo de recuperação daqueles além da doença da dependência química, além dos problemas
que iniciam um tratamento em busca da sobriedade. A função pessoais, familiares e sociais por ele causados em decorrência
do conselheiro envolve o atendimento direto aos dependentes do uso, e enxergar a pessoa, o ser humano com potencial de
químicos, podendo trabalhar na orientação e no acompa- mudança, uma pessoa que talvez esteja naquela situação por
nhamento dos dependentes químicos. Essa é a experiência não haver ainda encontrado alguém preparado para ajudá-lo a
que eu tenho, de poder estar no contato direto com os sair. Para isso, contribui muito a fé, a experiência espiritual.
usuários e dependentes que procuram a instituição onde atuo, Hoje não tenho dúvida nenhuma que a experiência espiritual,
e poder estar acompanhando cada caso, auxiliando e dando religiosa, a espiritualidade em si, é um fator primordial na
pistas ao dependente químico, no processo de recuperação. E recuperação e na conquista da sobriedade. Como disse, no
isso é muito importante, o conselheiro é aquele que dá “pis- meu relato de como comecei nesse trabalho, no início havia
tas”, ou seja, aquele que ajuda o dependente químico a dar uma disposição, um impulso cristão, como católico e prati-
passos, aponta caminhos. No dia-a-dia dos atendimentos, cante da fé, depois tive a oportunidade de adquirir o conhe-
cada vez mais tenho percebido o quanto a minha função cimento técnico, e agora percebo que as duas dimensões no
como conselheiro é não a de dar uma resposta ou uma processo de recuperação precisam caminhar lado a lado, uma
solução pronta, mas a de ajudar, seja o dependente químico, não deve sobrepor a outra e nem uma deve excluir a outra. O
seja a sua família, a construir essa solução, construir juntos, conhecimento nos leva a entender o tema e a derrubarmos os
caminhar juntos. É evidente que há momentos em que o con- preconceitos com relação a ele e a espiritualidade, a fé, é o que
selheiro precisará dizer e apontar claramente o que deve ser nos faz ter um olhar misericordioso, que nos faz ver além do
feito, a partir do seu conhecimento e experiência, até para evi- problema, que já nos faz enxergar a restauração acontecendo,
tar as recaídas durante o tratamento. Outro papel importante mesmo quando ela ainda parece distante, que nos faz acredi-
é o de orientação e acompanhamento da família. Todos que tar que uma pessoa tem sempre a possibilidade de mudança,
atuamos na área sabemos que a família e os que circundam o de começar a trilhar uma vida nova. Aliado à determinação e
dependente químico e possuem laços afetivos com ele, ao desejo de mudança, daquele que quer deixar o mundo das
acabam por vivenciar a chamada co-dependência (os compor- drogas, faz-se necessária a presença e a atuação desse, que eu
tamentos e sintomas decorrentes da preocupação e do con- considero mais que um profissional, mas um vocacionado a,
vívio com um membro da família dependente). O conselheiro como conselheiro em dependência química, fazer acontecer
em dependência química pode atuar muito nessa realidade, na prática, uma frase que alguns grupos de apoio costumam
tendo em conta que a família também precisa passar pela colocar junto à oração da serenidade: “Eu seguro minha mão
recuperação. Agradeço a Deus a graça de neste tempo ter essa na sua, uno meu coração ao seu, para juntos podermos fazer
experiência de poder ajudar na recuperação de várias pessoas aquilo que sozinho eu não consigo”.
e famílias. Em nossa entidade temos um grupo de apoio se-
manal para os dependentes químicos e familiares; tenho a
oportunidade de coordenar esse grupo junto com mais duas
pessoas; ali naquele espaço também posso colocar meu co-
nhecimento como ferramenta e como ajuda para os que lá Anderson Luiz Amaral Gomes
participam. Acima de tudo, é importante dizer, que para qual- Conselheiro em Dependência Química
quer profissional da área da dependência química, inclusive na Associação da Divina Misericórdia
para o conselheiro, é necessário que se estabeleça entre as (entidade de atendimento a
duas partes, conselheiro e dependente ou família, uma relação dependentes químicos e familiares),
de estreita confiança. O conselheiro em dependência química em São João Nepomuceno.
é aquela pessoa que deve ter sensibilidade aos problemas
decorrentes do uso abusivo de drogas; não pode ter precon-
ceitos com relação ao dependente químico ou à família, deve
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Pais e filhos não são iguais
12 Princípios
Por Márcia Camacho da Silva Cordér
Coordenadora do Subgrupo Frutos do Amor-Exigente
A discussão e reflexão deste 4º princípio básico “Pais e um jeito diferente. O grupo favorece essa reflexão sem-
filhos não são iguais”, chega ao subgrupo Frutos do anal de como estou lidando com a educação do meu filho?
Amor-Exigente com uma certa resistência por parte de Estou fazendo prevenção? Desejo fazer diferente na
alguns jovens. Mas à medida que vão se conscientizando família que estou formando? Que modelo de pai quero ser
e percebendo que pais e filhos tem suas diferenças, até por para o meu filho? Estes questionamentos o ajudam a
conta do choque de gerações e viverem em épocas dife- planejar uma recuperação pautada dentro de valores que
rentes. O olhar para aquela atitude dos pais em assumir o até então estavam esquecidos e adormecidos pelo uso e
seu “papel” desenvolvendo a “função” de orientar, enca- abuso de drogas.
minhar e cobrar, promovendo assim, o bem estar da Na adicção o jovem vem de uma convivência com seus
família, vai mudando de ótica, ou melhor, o jovem vai pares, ou seja, prefere a companhia dos iguais, aqueles que
olhando diferente para a situação familiar que provoca se identificam com o mesmo tipo de lazer, rejeitando
tanto conflito. assim, o diferente por não compartilhar da mesma ideia.
A maior diferença entre pais e filhos é a das funções e Aceitar e respeitar as diferenças é peça fundamental
dos papéis. É importante que essas funções sejam bem para um bom relacionamento e crescimento na busca da
claras e bem definidas e quem é quem nessas relações. É sobriedade. A sugestão desse princípio de que pais e filhos,
uma relação de autoridade que nasce da responsabilidade professor e aluno, patrão e empregado, marido e mulher
paterna e materna. Os pais assumindo essa autoridade, não são iguais, vem facilitar a compreensão de que as
automaticamente estão indicando e oferecendo caminhos diferenças nos enriquecem e nos ajudam conviver melhor
de segurança e amadurecimento a seus filhos. com o outro. Lógico que todos esses personagens que citei
Um jovem do grupo compôs uma música com os doze acima tem seus defeitos, suas limitações, mas a intenção é
princípios básicos do AE em ritmo de rap, e na estrofe de querer acertar, mesmo errando muitas vezes. Crescer é
desse 4º princípio ele diz assim: “Chegou a parte casca, aceitar desafios. Ninguém está livre de desafios.
casca dura de encarar, filho querer mandar, hum!!! Não dá. No grupo iniciamos esse exercício já na espiritualidade
Mas olha aí querido pai o que eu tenho pra falar, não é pluralista, aceitando o outro independente de sua crença,
com imposição que tudo vai mudar.” sua cor ou raça, condição social, time de futebol, enfim,
O programa do AE auxilia muito nessa definição trans- isso nos possibilita a abrir a nossa mente e quebrar pre-
parente de deveres e direitos de ambos os lados, preparan- conceitos.
do a pessoa para uma adaptação e adequação em outras A troca de experiência nas partilhas auxilia numa nova
áreas da vida como trabalho, escola, lazer. Enfim, quando forma de se relacionar com o diferente respeitando o seu
o jovem começa compreender e aceitar essas diferenças, ponto de vista. O grupo na verdade, é o treino para jogar
ele com certeza não terá dificuldades de respeitar normas sério e com habilidade na vida familiar e social. No entan-
em qualquer ambiente que se encontre. to, é preciso ter muita calma e paciência para readaptar
Hoje, os filhos estão vivendo uma realidade diferente esses novos conceitos na nova vida de sobriedade.
de seus pais, apesar de atingirem idade de emancipação, Mas é gratificante e motivador perceber mudanças na
continuam morando na casa de seus pais e aí devem esta- vida de cada participante do grupo, fazendo reparações
belecer as regras da boa convivência. Vamos analisar! com suas famílias. A experiência de uma vida nova,
Como desejo ser independente e ditar as regras se ainda agradável e com sobriedade cria um clima de serenidade
não quero abrir mão das mordomias de ter uma mãe necessária para corrigir os desvios de rota. Correção esta
serviçal, um pai que continua sendo o provedor do lar, ou que se fará sem agressividade, sem imposição, sem dramas
até situações em que só há um provedor? Refletimos no desnecessários, sem vítimas ou sentimentos culpa.
grupo que os lucros e os custos dessa dinâmica familiar É fundamental que pais e filhos se reconheçam dife-
devem ser bem administrados. Normalmente, o jovem rentes, não enquanto gente, mas enquanto funções e
consciente dessa condição ele costuma “baixar a bola”, responsabilidades diferentes. Se entendam e se cuidem no
como costumamos dizer, e respeita as normas para o bom processo de crescimento em todas as dimensões: físico-
relacionamento familiar. biológica, mental, emocional, espiritual, social e profis-
Interessante observar, que muitos jovens já estão sional. Todas essa dimensões são importantes para uma
vivendo essa condição de pai e, portanto, exercendo essa qualidade de vida de todo o ser humano.
autoridade sobre os seus filhos, na maioria das vezes de
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A hora é essa
12 Passos
“Fizemos minucioso e destemido
inventário moral de nós mesmos.”
Nada mais sugestivo ao autoconhecimento do que fazer Estamos lá, olhando, tomando coragem, e ele nos espera.
um inventário de si. O que tem de positivo, negativo, qua- Vamos detalhar o passado, o presente, a nossa vida, a
lidades, defeitos, erros, acertos. O quarto passo de nossa história. Vamos olhar sem culpa, sem medo. Vamos
Alcoolicos Anônimos faz este convite. “Venha saber mais colocar no papel tudo aquilo que ficou guardado nos
sobre você”, mas ele alerta “Detalhadamente e sem medo”. porões de nossa alma e que nos fez tão mal durante todo
Não há mais espaço para o autoengano, para julgamentos tempo.
desnecessários, para autopiedade, para desonestidade. Isso Vamos nos libertar do que não nos serve mais e deixar
tudo fica no passado e agora se abre a possibilidade de nos o caminho livre para construir o novo, semear a terra para
olharmos, de saber quem somos, de admitir nossos erros, colher outros frutos, mais saudáveis, mais limpos, mais
de listar tudo sobre nós. Literalmente. férteis.
Durante o processo da jornada dos 12 Passos, muitos Não há como ter o novo sem abrir mão do velho. Não
estacionam no quarto. Porque? Quem passa por ele não há como mudar de vida sem nos libertar do que nos amar-
escapa de olhar para si, e isto é o que normalmente mais ra à dor. Não há como avançar sem se conhecer, afinal,
negamos. Olhamos para tudo, para todos, cuidados de quem caminha e caminhará sempre conosco na jornada da
tudo, de todos, fugimos de nós mesmos porque a dor é vida somos nós mesmos. Como posso levar para a tra-
profunda, é dificil olhar e saber que é preciso agir, se mo- jetória de uma vida toda alguém que eu não conheço, não
dificar. Assim, muitos continuam estacionados no quarto perdoo, não amo?
passo. A hora é essa!
Mas, o programa espiritual dos 12 Passos não sugere
tempo, nem nos obrigada a avançar sem querer ou poder.
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Espiritualidade
O amor
Por Romina Miranda Cerchiaro
"Eu poderia falar todas as línguas que são faladas na terra e até emanam o que possuem de melhor, dividindo suas expe-
no céu, mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam como o riências, partilhando o seu amor. A roda, o fluxo do amor
som de um gongo ou como o barulho de um sino.” (I Coríntios 13. começa a fluir, a esperança se renova, a vida se revela na
1-13) sua mais bela expressão de amor: o amor desinteressado,
Um dia me perguntaram quando eu sentia a espirituali- livre, amor de doação, de salvação.
dade. Não tinha nada Coisas boas aconte-
pronto sobre isto em cem, soluções apare-
minha mente, mas, na- cem, tudo é me-lhor do
turalmente, a resposta os que são tocados pela mensagem,
“... que no momento ante-
saiu de meus lábios. resplandecem em gratidão e emanam o rior. Laços se estreitam,
“Quando se manifesta o amizades se renovam,
fluxo do amor e, em que possuem de melhor, dividindo suas possibilidades apare-
minha concepção, isso cem. Tudo se deve à luz
acontece quando entro
experiências, partilhando o seu amor”... do amor, daquele que
em estado de doação ao não se confunde com
outro,a serviço a Deus”. doença, com expectativa
Nas atividades de voluntariado, levando a minha expe- ou facilitação. Daquele que não cobra, não impõe e só per-
riência como esperança para outras pessoas, a espirituali- doa. Amor que transforma, que resgata, que é fiel e
dade floresce. São ditas as palavras certas, no momento paciente. Amor que está lá no fundo, guardado, preserva-
certo, para as pessoas certas. Em contrapartida, os que são do, que resiste às dores, decepções, dificuldades.
tocados pela mensagem, resplandecem em gratidão e Em nossos grupos, muitas pessoas falam sobre o
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momento em que conseguiram separar o amor da doença, quando resgatam a essência do amor: “Amar aos outros
em que perceberam o que era obsessão, o que era con- como a ti mesmo”, ou seja, aprendem a cuidar de si para
trole, e o que ficou após a libertação destes “sintomas”. depois olhar, amar e cuidar do outro.
Muitos pais, no ápice da adicção ativa de seus filhos, E, para que possamos refletir ainda mais sobre o poder
chegam a pensar que desistiram deles. Não suportam mais do amor, com as citações bíblicas:
conviver com a dor, com as expectativas frustradas, com
os sonhos destruídos. Desistir parece mais fácil. Mas não “Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança
é. Quando se comprometem com a recuperação de si mes-
e paciência. O amor é eterno.
mos e passam a entender a doença do filho e a mudar
comportamentos, conseguem entrar em contato com o Existem mensagens espirituais, porém elas durarão pouco. Existe
amor. Saem do cen- o dom de falar línguas
tro do problema e estranhas, mas acabará
passam a enxergá-lo logo. Existe o conheci-
de fora. Enxergam mento, mas também ter-
também as dores
dos outros, as maiores
“...Amor que transforma, que minará.
Pois os nossos dons de
que as suas. Se fort-
alecem com as cam- resgata, que é fiel e paciente”... conhecimento e as nossas
mensagens espirituais
inhadas de seus
são imperfeitos. Mas
iguais. E assim dão
vazão ao amor, reco- quando vier o que é per-
nhecem que ele estava escondido atrás da dor, mas que feito, então o que é
nunca deixou de estar lá. Vivo, forte, firme e transfor- imperfeito desaparecerá.
mador. Portanto, agora existem estas três coisas: a fé, a espe-rança e o
E é ele, somente ele, o amor, que tem o poder de trans- amor.
formar, de resgatar. Dependentes se recuperam quando Porém, a maior delas é o amor.” (ICoríntios 13.8-13).
passam a amar a si mesmos, e familiares ajudam aos seus