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"Fulguras, garrida, lábaro, florão... o que significam?" Além das palavras pouco usuais, o
hino brasileiro é rico em metáforas e seu estilo parnasiano contribui para que muita gente
grande tenha dificuldade em compreender e interpretar corretamente a letra, embora
esteja claro que se trata de uma grande exaltação à "pátria amada".




De acordo com o professor de Português do Conservatório Dramático e Musical de São
Paulo, Luciano Martins, a forma do poema é rigorosamente parnasiana, porém o seu
conteúdo é romântico, inserindo-se nas propostas dessa escola literária quanto à
exaltação ufanista. "Os textos parnasianos privilegiam a beleza da forma textual. Isto
justifica as palavras rebuscadas e o fato de as frases serem montadas de modo indireto,
fazendo com que a clareza do texto fique comprometida, o que, para muita gente, causa
dificuldades de compreensão", explica o professor.
             Clique aqui para ver uma apostila com sugestões de atividades

                             Hino Nacional em Libras, aqui.

"TRADUÇÃO do Hino Nacional"
As margens tranqüilas do rio Ipiranga ouviram o grito forte de um povo heróico
e o sol da independência brilhou no céu da Pátria, em raios faiscantes, naquele momento.
Se, com nossa firmeza, conseguimos conquistar o direito à igualdade com outras nações,
agora que somos livres nosso coração desafia a própria morte.
Ó pátria amada,
adorada,
salve!
Enquanto a imagem da constelação do Cruzeiro do Sul brilhar em teu céu belo e repleto
de promessas nítidas, o sonho de amor e de esperança existirá na terra.
És grandioso desde que nascestes, és belo, és forte, um gigante destemido, e teu futuro
refletirá essa grandeza.
Terra adorada,
entre outras mil
és tu, Brasil,
ó pátria amada,
a mãe generosa dos filhos desse solo.
Pátria amada Brasil.

Parte II

Ocupando para sempre este lugar magnífico, ao som do mar e à luz do céu de azul
intenso, tu brilhas, Brasil, beleza da América, iluminado ao sol do Novo Mundo.
Teus agradáveis e lindos campos têm mais flores do que a terra mais vistosa. "Nossos
bosques têm mais vida" e "nossa vida mais amores" vivendo aqui.

(as partes em aspas são da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias)

Ó pátria amada, adorada, salve!
Brasil, que a bandeira estrelada que exibes seja símbolo de nosso amor eterno, e que o
verde e o amarelo signifiquem paz no futuro e glória no passado.
Mas se, em defesa da justiça, tiveres de ir à guerra, verás que um filho teu não foge à
luta, nem teme a própria morte quem te adora.
Terra adorada,
entre outras mil,
és tu, Brasil,
ó pátria amada,
a mãe generosa dos filhos deste solo.
Pátria amada Brasil.
A música

A melodia e a harmonia da composição também são muito complexas. Segundo o
maestro regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, Luis Gustavo Petri, a
parte musical do Hino foi composta dentro do melhor estilo do Classicismo, em 1831, pelo
compositor Francisco Manuel da Silva. Quase um século depois, em 1909, a obra
recebeu a letra de Joaquim Osório Duque Estrada, e por isso a melodia foi simplificada.
Mas, além da alteração melódica, a canção também recebeu nova tonalidade. "Quando
era apenas instrumental, o Hino era executado no tom de Si bemol. Logo que recebeu a
letra, foi transposto para Fá. Com a simplificação e a transposição da tonalidade, a
melodia do Hino, embora ainda seja bastante sofisticada, ficou mais acessível e
confortável para a maioria das pessoas. Caso estas alterações não ocorressem, apenas
um cantor lírico conseguiria cantar o Hino na versão instrumental", ressalta.
Introdução desconhecida
A parte instrumental que introduz a letra do hino também era cantada. Porém, de acordo
com o professor de língua portuguesa e literatura Márcio Fragoso, este trecho de autoria
do então presidente da província do Rio de Janeiro, nos anos de 1879 e 1880, Américo de
Moura, não foi incluída na versão oficial do hino. "É notável a diferença entre os estilos
dos dois textos. Esta parte, ao contrário do resto do hino, é mais fácil de entender, pois as
frases foram montadas na ordem direta", explica.
A musicista Anete Fernandes diz que é importante que o hino tenha uma introdução
instrumental: "É importante para que as pessoas, ao iniciarem o hino, reconheçam a nota
que deverão entrar. Se o início desta música fosse letrado com o texto de Américo Moura,
além de todos começarem a cantar no susto, a desafinação seria total. Cada um entraria
em uma nota diferente, seria um desastre. E para evitar essa confusão, só criando uma
introdução".
Espera                                         o                                        Brasil
Que                                       todos                                      cumprai
Com                                         vosso                                       dever
Eia                                    avante,                                    brasileiros,
sempre                                                                                avante!

Gravai           com            buril           (instrumento          de           gravação)
Os               pátrios                anais              (registros              históricos)
Do                                         vosso                                        poder
Eia                                     avante,                                   brasileiros,
sempre                                                                                avante!

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Sem                                                                             esmorecer
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Na                 guerra                     ou                  na                   paz
À                         sombra                          da                            lei,
À                                        brisa                                       gentil
O                                       lábaro                                      erguei
Do                                        belo                                       Brasil
Eia Sus, oh Sus - Sus: interjeição latina motivadora que significa "elevar", "avante", "em
frente".

Suponha trazer Joaquim Osório Duque Estrada para os dias de hoje pretendendo que ele
compreenda, de bate-pronto, a letra de uma canção de Arnaldo Antunes. É algo parecido
com a perplexidade da maioria dos brasileiros. Duque Estrada usou palavras e
versificações de seu tempo ao escrever os versos do Hino Nacional, em 1909 — embora,
mesmo na ocasião, não tenha feito a menor questão para ser popular, mais interessado
que estava em agradar os gabinetes que as ruas, segundo dizem. Disso resulta a
polêmica de hoje em dia.
Não existe uma interpretação oficial daqueles versos cheios de palavras complicadas. Há
centenas extra-oficiais. A encrenca vai desde o Arquivo Nacional até as Forças Armadas,
passando pela Maçonaria, filólogos da Universidade de São Paulo e da Universidade de
Brasília, semiólogos de institutos de variados calibres e curiosos em geral. É uma batalha
que começa nos dicionários, passa por profundos estudos sobre poesia do século 19 e
não chega a terminar.
O trecho em que o Hino diz "formoso céu, risonho e límpido", por exemplo,
aparentemente não tão deixa dúvidas. Aparentemente. Uma pesquisa mais profunda
indicará que a palavra "risonho", como foi empregada no verso, deve ser entendida como
"repleto de promessas", e não como "alegre" ou "feliz", como normalmente se faz, e com
a palavra "promessas" significando perspectivas. E "límpido", geralmente explicado como
"sem nuvens", na verdade quer dizer "nítido". Ou seja, o autor falava de um belo céu,
repleto de promessas nítidas de um futuro grandioso.
Mais complicado ainda é o famoso "Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um
filho teu não foge à luta". Uma corrente, que é a mais aceita, defende que o verso
significa "se, em defesa da justiça, tiveres de ir à guerra, verás..." Mas outra corrente
defende apaixonadamente que as palavras, de fato, significam "se levantas as armas da
violência acima da justiça, verás..." Parece pouca coisa, mas com um pouco de atenção
se pode perceber que os sentidos são opostos. A primeira fala do Brasil para outras
nações, a segunda do povo para seu próprio governo.

Se o Hino fosse um manifesto:
O Brasil agora é independente como resultado da luta dos brasileiros que equipararam
sua terra às outras nações da Terra. Somos um povo livre e confiante, que ama seu país.
Não hesitaremos em defender a liberdade conquistada, mesmo à custa de nossas vidas.
Viemos para ficar.
Desde agora e para sempre, nosso maior desejo é que haja apenas amor e esperança
em nossa terra, essa mãe generosa, e que sejamos, desse modo, uma inspiração para
todos os povos.
Este é um país que nasceu grande e está destinado a um futuro brilhante, que será
construído por nosso povo destemido com o exemplo de nosso passado glorioso.
Também a beleza do Brasil não deve nada a outros países da América, ao contrário, é
ainda mais belo.
Queremos que esta seja a pátria do amor e da paz, mas se formos levados à guerra em
defesa do que é justo, não fugiremos à luta nem temeremos a morte, porque, entre as
coisas que mais prezamos, está o nosso profundo amor pelo Brasil.

Fonte: Artigo de Victor Gomes para o JornaldaOrla
***
O significado oculto por trás das palavras do Hino Nacional Brasileiro
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  • 2. "Fulguras, garrida, lábaro, florão... o que significam?" Além das palavras pouco usuais, o hino brasileiro é rico em metáforas e seu estilo parnasiano contribui para que muita gente grande tenha dificuldade em compreender e interpretar corretamente a letra, embora esteja claro que se trata de uma grande exaltação à "pátria amada". De acordo com o professor de Português do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, Luciano Martins, a forma do poema é rigorosamente parnasiana, porém o seu conteúdo é romântico, inserindo-se nas propostas dessa escola literária quanto à exaltação ufanista. "Os textos parnasianos privilegiam a beleza da forma textual. Isto justifica as palavras rebuscadas e o fato de as frases serem montadas de modo indireto, fazendo com que a clareza do texto fique comprometida, o que, para muita gente, causa dificuldades de compreensão", explica o professor. Clique aqui para ver uma apostila com sugestões de atividades Hino Nacional em Libras, aqui. "TRADUÇÃO do Hino Nacional" As margens tranqüilas do rio Ipiranga ouviram o grito forte de um povo heróico
  • 3. e o sol da independência brilhou no céu da Pátria, em raios faiscantes, naquele momento. Se, com nossa firmeza, conseguimos conquistar o direito à igualdade com outras nações, agora que somos livres nosso coração desafia a própria morte. Ó pátria amada, adorada, salve! Enquanto a imagem da constelação do Cruzeiro do Sul brilhar em teu céu belo e repleto de promessas nítidas, o sonho de amor e de esperança existirá na terra. És grandioso desde que nascestes, és belo, és forte, um gigante destemido, e teu futuro refletirá essa grandeza. Terra adorada, entre outras mil és tu, Brasil, ó pátria amada, a mãe generosa dos filhos desse solo. Pátria amada Brasil. Parte II Ocupando para sempre este lugar magnífico, ao som do mar e à luz do céu de azul intenso, tu brilhas, Brasil, beleza da América, iluminado ao sol do Novo Mundo. Teus agradáveis e lindos campos têm mais flores do que a terra mais vistosa. "Nossos bosques têm mais vida" e "nossa vida mais amores" vivendo aqui. (as partes em aspas são da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias) Ó pátria amada, adorada, salve! Brasil, que a bandeira estrelada que exibes seja símbolo de nosso amor eterno, e que o verde e o amarelo signifiquem paz no futuro e glória no passado. Mas se, em defesa da justiça, tiveres de ir à guerra, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme a própria morte quem te adora. Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil, ó pátria amada, a mãe generosa dos filhos deste solo. Pátria amada Brasil. A música A melodia e a harmonia da composição também são muito complexas. Segundo o maestro regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos, Luis Gustavo Petri, a parte musical do Hino foi composta dentro do melhor estilo do Classicismo, em 1831, pelo compositor Francisco Manuel da Silva. Quase um século depois, em 1909, a obra recebeu a letra de Joaquim Osório Duque Estrada, e por isso a melodia foi simplificada. Mas, além da alteração melódica, a canção também recebeu nova tonalidade. "Quando era apenas instrumental, o Hino era executado no tom de Si bemol. Logo que recebeu a letra, foi transposto para Fá. Com a simplificação e a transposição da tonalidade, a melodia do Hino, embora ainda seja bastante sofisticada, ficou mais acessível e confortável para a maioria das pessoas. Caso estas alterações não ocorressem, apenas um cantor lírico conseguiria cantar o Hino na versão instrumental", ressalta. Introdução desconhecida
  • 4. A parte instrumental que introduz a letra do hino também era cantada. Porém, de acordo com o professor de língua portuguesa e literatura Márcio Fragoso, este trecho de autoria do então presidente da província do Rio de Janeiro, nos anos de 1879 e 1880, Américo de Moura, não foi incluída na versão oficial do hino. "É notável a diferença entre os estilos dos dois textos. Esta parte, ao contrário do resto do hino, é mais fácil de entender, pois as frases foram montadas na ordem direta", explica. A musicista Anete Fernandes diz que é importante que o hino tenha uma introdução instrumental: "É importante para que as pessoas, ao iniciarem o hino, reconheçam a nota que deverão entrar. Se o início desta música fosse letrado com o texto de Américo Moura, além de todos começarem a cantar no susto, a desafinação seria total. Cada um entraria em uma nota diferente, seria um desastre. E para evitar essa confusão, só criando uma introdução". Espera o Brasil Que todos cumprai Com vosso dever Eia avante, brasileiros, sempre avante! Gravai com buril (instrumento de gravação) Os pátrios anais (registros históricos) Do vosso poder Eia avante, brasileiros, sempre avante! Servi o Brasil Sem esmorecer Com animo audaz Cumpri o dever Na guerra ou na paz À sombra da lei, À brisa gentil O lábaro erguei Do belo Brasil Eia Sus, oh Sus - Sus: interjeição latina motivadora que significa "elevar", "avante", "em frente". Suponha trazer Joaquim Osório Duque Estrada para os dias de hoje pretendendo que ele compreenda, de bate-pronto, a letra de uma canção de Arnaldo Antunes. É algo parecido com a perplexidade da maioria dos brasileiros. Duque Estrada usou palavras e versificações de seu tempo ao escrever os versos do Hino Nacional, em 1909 — embora, mesmo na ocasião, não tenha feito a menor questão para ser popular, mais interessado que estava em agradar os gabinetes que as ruas, segundo dizem. Disso resulta a polêmica de hoje em dia. Não existe uma interpretação oficial daqueles versos cheios de palavras complicadas. Há centenas extra-oficiais. A encrenca vai desde o Arquivo Nacional até as Forças Armadas, passando pela Maçonaria, filólogos da Universidade de São Paulo e da Universidade de Brasília, semiólogos de institutos de variados calibres e curiosos em geral. É uma batalha que começa nos dicionários, passa por profundos estudos sobre poesia do século 19 e não chega a terminar. O trecho em que o Hino diz "formoso céu, risonho e límpido", por exemplo, aparentemente não tão deixa dúvidas. Aparentemente. Uma pesquisa mais profunda indicará que a palavra "risonho", como foi empregada no verso, deve ser entendida como
  • 5. "repleto de promessas", e não como "alegre" ou "feliz", como normalmente se faz, e com a palavra "promessas" significando perspectivas. E "límpido", geralmente explicado como "sem nuvens", na verdade quer dizer "nítido". Ou seja, o autor falava de um belo céu, repleto de promessas nítidas de um futuro grandioso. Mais complicado ainda é o famoso "Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta". Uma corrente, que é a mais aceita, defende que o verso significa "se, em defesa da justiça, tiveres de ir à guerra, verás..." Mas outra corrente defende apaixonadamente que as palavras, de fato, significam "se levantas as armas da violência acima da justiça, verás..." Parece pouca coisa, mas com um pouco de atenção se pode perceber que os sentidos são opostos. A primeira fala do Brasil para outras nações, a segunda do povo para seu próprio governo. Se o Hino fosse um manifesto: O Brasil agora é independente como resultado da luta dos brasileiros que equipararam sua terra às outras nações da Terra. Somos um povo livre e confiante, que ama seu país. Não hesitaremos em defender a liberdade conquistada, mesmo à custa de nossas vidas. Viemos para ficar. Desde agora e para sempre, nosso maior desejo é que haja apenas amor e esperança em nossa terra, essa mãe generosa, e que sejamos, desse modo, uma inspiração para todos os povos. Este é um país que nasceu grande e está destinado a um futuro brilhante, que será construído por nosso povo destemido com o exemplo de nosso passado glorioso. Também a beleza do Brasil não deve nada a outros países da América, ao contrário, é ainda mais belo. Queremos que esta seja a pátria do amor e da paz, mas se formos levados à guerra em defesa do que é justo, não fugiremos à luta nem temeremos a morte, porque, entre as coisas que mais prezamos, está o nosso profundo amor pelo Brasil. Fonte: Artigo de Victor Gomes para o JornaldaOrla ***