O documento resume a vida e obra de Euclides da Cunha, jornalista e escritor brasileiro que ficou conhecido por seu livro "Os Sertões" sobre a Guerra de Canudos. Em 3 frases:
Euclides nasceu no Rio de Janeiro em 1866 e cresceu em meio a instabilidades familiares. Formou-se engenheiro militar e foi correspondente do jornal O Estado de São Paulo, ocasião em que viajou para Canudos e presenciou a guerra, o que inspirou seu livro épico "
1. A Paz é Dourada – versão em português
A Paz é Dourada
Leila Richers
Era uma vez um menino chamado Euclides que vivia na Fazenda Saudade.
Quando ele tinha três anos, o Leto escravo da fazenda,
voltou da guerra do Paraguai.
Euclides nem percebeu quando o Leto passou em direção
a senzala, seguido por Abelão.
Foi um dia muito estranho aquele.
Ficou para sempre na memória do menino Euclides.
Teste de elenco
Escolha de Euclides criança.
Alimento há muito o sonho de uma viagem ao Acre.
Leila Richers
Era uma vez o sonho de um filme de ficção inspirado na vida e obra desse menino que cresceu
poeta, engenheiro, militar, jornalista e escritor. Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em 1866 em
Cantagalo, no interior da então província do Rio de Janeiro.
Seu pai, Manoel Rodrigues Pimenta da Cunha, era guarda livros das fazendas de café que haviam se
alastrado pelo vale do rio Paraíba do Sul. Sua mãe, Eudóxia Moreira da Cunha, era filha de um
pequeno fazendeiro da região.
No ano de nascimento de Euclides, dois fatos particularmente geravam inquietações no vale. Um se
relacionava às primeiras crises do café, com a progressiva perda da fertilidade dos solos locais e o
outro, era a guerra do Paraguai, que já durava dois longos anos.
Com a morte da mãe, o pai de Euclides abandona a Fazenda Saudade. Deixa a filha Adélia de um
ano, na fazenda de uma tia nas proximidades e Euclides na casa de outra tia, em Teresópolis.
Ele então cresce pelas casas de parentes, ora em Teresópolis, ora em São Fidélis, ora em Salvador
na casa dos avós e finalmente no Rio de Janeiro, onde pulando de colégio em colégio, na mais
estranha instabilidade, chega a Escola Militar da Praia Vermelha.
Osvaldo Galotti
A avó paterna de Euclides da Cunha era descendente de tapuia e ele frisava isso, misto de celta,
tapuia e grego. Ele aprendeu álgebra da maneira de mais alto nível na época, com o professor
Trompowsky. Outra coisa que influiu muito, que ele aprendeu na Escola Militar e que influenciou
demais na vida e na obra dele, foi geopolítica, matéria que na Escola Militar se estudava muito. E se
nós percebermos “Os Sertões” é geopolítica. A viagem dele ao Alto Purus é geopolítica. Quer dizer: a
geografia considerada sob um ponto de vista político, de melhorar a situação do povo.
2. A Paz é Dourada – versão em português
Tv Globo – Leilane Neubarth
O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, é o maior épico brasileiro. Conta a história da guerra de
Canudos. Mas, “Os Sertões” é chamado dos livros difíceis. Pouquíssima gente leu. E como livro, o
próprio Euclides também é um desconhecido. Agora, aqui vai uma pergunta: Como é que um
homem que se preocupou tanto com as caras e com as cores do Brasil pode ser um anônimo? Bom,
estão tentando explicar isso na Academia Brasileira de Letras. Lá começou a Semana Euclidiana,
com uma missão, tirar Euclides do limbo, popularizar Euclides. E uma das formas é o filme
“Fronteiras”, de Noilton Nunes, que começa a ser rodado em outubro. Esse filme vai falar de
Euclides.
Walnice Galvão
No ginásio ele fazia sonetos tendo como tema os grandes nomes da revolução francesa, como
Robespierre, Danton, Marrat e Saint Juste.
Leila Richers
Euclides, na Escola Militar, foi colega de Cândido Rondon e de outros pacifistas que consideravam a
ciência da paz muito mais fecunda para a humanidade que a ciência da guerra.
Letreiro
“Morrer se preciso for;
matar, nunca.”
Rondon
Walnice Galvão
Euclides se tornou um ardente ativista do advento da República. A Escola Militar, onde Benjamin
Constant era professor, era um bastião de agitação política contra o Império e a favor da instauração
da República. Da república, os homens como Euclides esperavam a revolução burguesa de modelo
europeu e o fim dos privilégios. As pessoas passariam a ter direitos iguais e não mais depender de
favores dos privilegiados. Corria o ano de 1888 e um grupo de alunos combina fazer um ato de
protesto contra a monarquia, por ocasião da visita do ministro da guerra. Quando o ministro
passasse em revista a tropa, os alunos ao invés de apresentar armas ante as autoridades,
quebrariam seus sabres.
Na hora, só Euclides executou o ato de protesto, no qual tentou quebrar o seu sabre; não conseguiu e
atirou-o ao chão, aos pés do ministro.
Letreiro
3. A Paz é Dourada – versão em português
Abaixo o Império.
Viva a República.
Walnice Galvão
Esse ativismo de Euclides veio a ser a causa de sua expulsão da escola. A proclamação da República
em 15 de novembro de 1889 marca sua reabilitação. Benjamin Constant, que é o novo ministro da
guerra, reintegra Euclides no Exército e ele pode se formar como engenheiro militar, com a patente
de tenente.
Leila Richers
Euclides passa de louco a herói. Torna-se conhecido como o destemido cadete que desafiou o
império. Na primeira festa da República, na casa do major Sólon Ribeiro, o oficial de confiança do
marechal Deodoro, Euclides conhece Ana, filha do major. Apresentado a ela como o herói da Escola
Militar, Euclides, encantado com a beleza da moça, deixa nas mãos dela um bilhete que funcionaria
como um original pedido de casamento:
Letreiro
Ana, entrei aqui com a imagem da República;
saio com a sua.
Euclides
Leila Richers
Mas logo depois veio a sua primeira grande decepção com o novo governo. Quando viu a bandeira
nacional criada pelos republicanos, ficou triste e muito preocupado com o futuro do Brasil e dos
brasileiros. O lema positivista – o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim tinha
sido decapitado. O amor por princípio cortado e jogado na lata de lixo da história.
Euclides termina seus estudos na Escola Militar e parte em busca de novos caminhos, consegue
trabalho no jornal O Estado de São Paulo. Dali o destino desenha, como uma conseqüência natural,
seu encontro com os sertões de canudos.
Euclides – Breno Moroni
A viagem correu rápida num trem ruidoso e festivo, velozmente arrebatado por uma locomotiva
possante e, ao traçar essas notas rápidas no diário, não tenho sobre o dólmã nenhuma partícula de
pó.
Leila Richers
4. A Paz é Dourada – versão em português
Após a longa espera de quase um mês, em que o jornalista se preparou, recolhendo informações
sobre Canudos, Antônio Conselheiro e a região dos sertões, finalmente, no dia 31 de agosto de
1897, Euclides partiu adentrando pelo interior da Bahia. Nessa viagem, ele não perdeu um minuto
sequer. Nada lhe passou despercebido, demonstrando grande disposição para o conhecimento
científico e enorme curiosidade sobre a vida sertaneja.
As anotações sucediam-se desordenadas, procurando registrar todos os aspectos, nos mais diversos
planos: botânica, geologia, geografia, sociologia, aspectos locais da língua portuguesa, detalhes
arquitetônicos, costumes. Bastante excitado, o viajante descobriu o sertão, Ou melhor, tinha início a
invenção euclidiana de Os Sertões.
Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro
Euclides da Cunha, na qualidade de correspondente especial do jornal O Estado de São Paulo, parte
para Canudos para documentar os dias decisivos da campanha que lhe serviria de roteiro para seu
livro monumental. Monte Santo é um lugar lendário, descreve ele, imponente templo de fé, mas que
a partir da data em que lá entraram os expedicionários, ia se celebrizar como base das operações de
todas as arremetidas contra canudos. A religiosidade ingênua dos matutos ali talhou, em milhares
de degraus folheantes, em caracol, pelas ladeiras sucessivas, aquela vereda branca de sílica, longa
demais, de dois quilômetros, como se construíssem uma escada para os céus.
Euclides – Carlos Minc
O homem, de fato, assumiu em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de
desertos. Atacou a fundo a terra. esterilizou-a, feriu-a, degradou-a e deixou-a aqui e ali, para sempre,
estéreis, vazias, tristonhas. Imaginem-se o resultado de semelhantes processos aplicados sem
variantes, no decorrer dos séculos.
Euclides – Antônio Grassi
Fez-se talvez o deserto. Mas, podemos extingui-lo ainda corrigindo o passado. E a tarefa não é
insuperável. Abarreirados os vales inteligentemente escolhidos, em pontos intervalados por toda a
extensão do território sertanejo, numerosos e pequeninos açudes, uniformemente distribuídos,
teriam naturalmente no correr dos tempos a influência moderadora de um mar interior, de
importância extrema.
Euclides – Noilton Nunes
Que pelas estradas ora abertas à passagem dos batalhões gloriosos, que por essas estradas
amanhã silenciosas e desertas, siga depois da luta, modestamente um herói anônimo, sem triunfos
ruidosos, mas que será o verdadeiro vencedor: o mestre escola.
Euclides
5. A Paz é Dourada – versão em português
O sertanejo é antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênico do
litoral. A sua aparência entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica
impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
Euclides – Quim Negro
O planalto central do Brasil desce dos litorais do sul em escarpas inteiriças, altas e abruptas;
assoberba os mares e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas.
Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro
O centro da vida era Canudos e o de Canudos era o rio Vaza Barris, explica o ensaísta euclidiano
Olimpio de Souza Andrade. E prossegue, hoje não mais podemos ver a cidadela primitiva. Dela
quase nada restou. Tudo se esfacelando sob terríveis combates entre as tropas do governo e os
fanáticos de Conselheiro. Numa das partes altas da cidadela famosa encontrava-se a igreja nova,
que assim ficou ao final da luta. Só ruínas. Uma idéia dantesca do que foi aquilo tudo para os dois
lados da refrega. Um tremendo equívoco como mais tarde se reconheceu.
Euclides – Noilton Nunes
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história. Resistiu até o esgotamento completo,
expugnado palmo a palmo na precisão integral do termo. Caiu ao entardecer quando caíram seus
últimos defensores, que todos morreram. eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma
criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. Forremo-nos de descrever os
seus últimos momentos. Nem poderíamos fazê-lo. Essa página imaginamo-la sempre
profundamente emocionante e trágica. Mas, cerramo-la vacilante e sem brilhos, como quem vinga
uma montanha altíssima. No alto, a par de uma perspectiva maior, a vertigem. Ademais não
desafiaria a incredulidade do futuro a narrativa de pormenores em que se amostrassem mulheres
precipitando-se nas fogueiras dos próprios lares, abraçadas aos filhos pequeninos.
Leila Richers
Mas, afinal que livro é esse? O que ele conta de tão importante que permaneceu no imaginário
nacional? O foco central do livro é a guerra de Canudos que ocorreu nos sertões da Bahia. Foram
quatro anos de um dos mais cruéis e sangrentos conflitos ocorridos no início da república brasileira.
O arraial de Canudos surgiu em 1893 numa fazenda abandonada às margens do rio Vaza Barris. Sua
população formava uma congregação religiosa sob a liderança do beato Antônio Conselheiro.
Leitora
Vestia túnica de azulão. Tinha a cabeça descoberta e empunhava um bordão. Os cabelos crescidos
sem nenhum trato a cair sobre os ombros. As barbas grisalhas, mais para brancas. Os olhos fundos
raramente levantados para fitar alguém.
6. A Paz é Dourada – versão em português
Roberto Ventura
A região é até hoje um lugar de muitos conflitos de terra. Há um movimento de sem terras, conflitos
com fazendeiros, ou com proprietários de terras da região. A questão levantada por Antônio
Conselheiro continua até hoje e aliás, do mesmo jeito que há um culto a Euclides da Cunha em São
José do Rio Pardo, há um culto a Conselheiro em Canudos que todo ano se realiza em novembro.
Marcelo Rubens Paiva
Canudos não existe mais, está debaixo d’água, né?
Roberto Ventura
Existe a chamada Nova Canudos...
Leila Richers
Euclides fala em Os Sertões: “Estamos condenados à civilização. ou progredimos ou
desaparecemos”. Esta frase mostra toda a angustia que Euclides vivia naquele momento. O que ele
enxerga? Ele vê um grupo de sertanejos, uma população que ele vai aprendendo a admirar e reflete:
Para se fazer o progresso, para se chegar à civilização é preciso extinguir esses grupos? É preciso
acabar com eles?
Coro de soldados Canudos foi destruída. Viva a República Viva! Coro feminino Canudos não se
rendeu.Canudos não se rendeu.
Leila Richers
Em 1898 um anos depois de terminada a guerra, Euclides é designado pela Superintendência de
Obras do Estado de São Paulo para reconstruir uma ponte de ferro que tombara durante uma
enchente em São José do Rio Pardo no interior do estado. Muda-se para lá com Ana e os dois filhos.
Como o trabalho da ponte exigia presença permanente ele ergue perto do canteiro de obras, uma
pequena cabana de tábuas velhas e telhado de zinco, debaixo de uma paineira. O tempo que lhe
sobra desse trabalho é dedicado a escrever sobre o que presenciara no interior da Bahia. Recebe o
apoio de intelectuais da região como o do prefeito da cidade, Francisco Escobar, que coloca sua
biblioteca particular à disposição do engenheiro Euclides. São três anos simultaneamente
comandando os trabalhos para a reconstrução da ponte e a criação do livro.
Euclides – Noilton Nunes
7. A Paz é Dourada – versão em português
Acredito no futuro estabelecimento de uma perfeita solidariedade universal envolvendo por inteiro a
humanidade. Precisamos de uma forte arregimentação de vontades e de uma sólida convergência
de esforços para essa grande transformação indispensável. Porque seu triunfo é inevitável.
Garantem-no as leis positivas da sociedade que criarão o reinado tranqüilo das ciências e das artes.
Fontes de um capital maior, indestrutível e crescente, formado pelas melhores conquistas do espírito
e do coração.
Como é forte essa alavanca, a idéia, que levanta sociedades inteiras; derriba tiranias seculares. A
idéia que nos orienta tem o atributo característico das grandes verdades: é simples. Estudá-la é uma
operação que requer mais que as fantasias da imaginação; a frieza do raciocínio. Analisá-la dia a dia
é uma operação idêntica a análise da luz. A idéia é a moeda do futuro. A idéia é a moeda do futuro.
Leila Richers
Ao final de 1901, Euclides dá por terminadas as duas grandes obras: a ponte foi reerguida e está
finalmente pronto o livro vingador.
“Os Sertões” tornou-se um clássico e Euclides da Cunha passou a figurar ao lado de Machado de
Assis como um dos grandes escritores Nomes da literatura brasileira.
Emmanuel Cavalcanti
Esta fatalidade inexorável. De fato os seus ciclos, por que o são, no rigorismo técnico do termo,
abrem-se e encerram-se com um ritmo notável que recordam o desdobramento de uma lei natural
ainda ignorada. “Os Sertões” a obra magnânima da literatura em português; da literatura universal. É
o Brasil que palpita. Força completa de um dos maiores escritores da humanidade. Nascido no
estado do Rio de Janeiro, essa glória infinda das letras humanas, do grande texto brasileiro para o
mundo.
Leila Richers
O sucesso de “Os Sertões” é tão grande que o livro conta com mais de 30 edições em português e já
foi traduzido para diversos idiomas. Mas, será que passados cem anos ele conserva sua atualidade?
Tarcísio Padilha
O livro “Os Sertões” continua a representar hoje a chamada “bíblia da nacionalidade”. A ele devemos
o conhecimento maior do Brasil pelos brasileiros. Isto é dizer pois, que a sua figura é um
monumento.
sua obra “Os Sertões” é a catedral das nossas letras.
Antonio Houaiss
8. A Paz é Dourada – versão em português
Mas, um homem que abriu os horizontes do Século XX para a língua portuguesa no Brasil e
possivelmente para a língua portuguesa na lusofonia. Para mim, ele é um dos grandes usuários da
língua portuguesa em todos os tempos.
Gerardo Mello Mourão
Parece oportuno dizer duas palavras sobre o significado de cultura e civilização. Vamos tratar de
Euclides como fundador da cultura brasileira. Duas palavras sobre cultura e civilização para deixar
claro que uma obra e um homem podem fundar uma cultura.
Leandro Tocantins
O Ministério da Cultura devia ter como patrono Euclides da Cunha. Porque foi Euclides da Cunha
quem primeiro se rebelou contra nosso colonato intelectual. Há uma frase em que ele diz que
estamos acostumados a pensar em inglês, alemão e francês. Foi um homem que rejeitou todas as
viagens que se lhe ofereceram para a Europa... E ele mesmo dizia: a minha grande vontade, a minha
grande aspiração é ir ao Acre
Eduardo Portella
Esse livro se intitula “Contrastes e Confrontos”. Ele procura entender a diferença. Procura andar pelo
Brasil como uma espécie de engenheiro nômade e compreender estes diferentes brasis. E
evidentemente as suas conexões latino americanas
Adelino Brandão
Ele discute o problema do Acre onde os Estados Unidos e a Bolívia fizeram um trato para criar um
caso bélico com o Brasil e no momento em que esse conflito se estabelecesse os Estados Unidos
encampariam a causa da Bolívia. Forneceriam armas, exército e munição para conquistar o acre,
que então seria uma terra de ninguém. E ele denunciou esse problema e esse problema continuou
existindo através da república.
José Celso Martinez Correa
Na escritura da “Terra”, tem uma sensualidade, tem exatamente uma sensualidade de língua uma
verbosidade que se percebe se é lido coro. Aliás, é pena. Se nós tivéssemos aqui vários exemplares
de “Os Sertões” a gente ia fazer uma experiência erótica deliciosa. Nós íamos começar lambendo a
terra brasileira, íamos entrar pelos meandros dela, pelas curvaturas, pelas cavernas... íamos fazer
uma experiência de delírio imenso.
Austregésilo de Athayde
9. A Paz é Dourada – versão em português
A primeira república, aquela que o povo assistiu bestificado, proclamar-se, e que era a república dos
sonhos de Euclides da Cunha durou relativamente pouco quanto aos seus ideais. Os ideais dos
homens que fizeram a sua propaganda e conseguiram levar Deodoro da Fonseca, sem saber muito
bem o que estava fazendo, a proclamar o novo regime, destruindo a monarquia.
Fernando Campos
E é nesse momento que surge um livro violento, selvagem, descobrindo o Brasil. Dizendo não é isso
que é o Brasil. E me parece que é esse o momento de se pegar Euclides
e através de Euclides, se redescobrir o Brasil.
Letreiro
Evento promovido pelo filme Samba enredo “Os Sertões” de Edeor de Paula marcados pela própria
natureza o nordeste do meu Brasil.
Oh, solitário sertão de sofrimento e solidão a terra é seca mal se pode cultivar morrem as plantas e
falta o ar a vida é triste nesse lugar sertanejo é forte supera a miséria sem fim sertanejo homem
forte dizia o poeta assim foi num século passado no interior da bahia
Leila Richers
Quando recebe das mãos de Machado de Assis a comunicação do seu ingresso para a Academia
Brasileira de Letras, no rol dos grandes literatos da nação, Euclides agradecido, declara: Euclides
Leila Richers
Não sei de nenhum posto mais elevado nesse país. Aquele que souber articular bem as palavras
e tenha no estilo, a contextura unida, nítida e impoluta dos cristais e souber citar com clareza seus
sentimentos, terá todo o poder.
Nelson Pereira dos Santos
Todo ano nós íamos para São José do Rio Pardo. Discutíamos Os Sertões. Conheci o Glauber, que
também foi muito influenciado pelo Euclides. "Os Sertões", a obra "Os Sertões" está nos
fundamentos do Cinema Novo.
Breno Moroni
10. A Paz é Dourada – versão em português
A estrutura desse filme é uma estrutura de cinema mais que novo. É contemporâneo. O nosso
contemporâneo é um contemporâneo de crises, um momento de austeridade no país. Essa
produção não é uma produção rica. Ela está sendo feita com recortes. É uma colcha de retalhos.
Erick Sanz
O filme atinge espaços dentro da população que muitas vezes os próprios livros e a própria literatura
não atinge. Nesse sentido, sendo um filme inclusive com censura livre, para todas as faixas etárias
eu acredito que ele possa divulgar, possa atingir maior número de pessoas.
Joel Bicalho Tostes
Isso vai servir profundamente para difundir o euclidianismo, difundir São José do Rio Pardo,
Cantagalo e todos os locais onde ele viveu.
Luiz Antônio Chacra
Nós temos uma equipe da pesada. Entre eles nós temos o Régis Monteiro que é um dos maiores
cenógrafos do nosso cinema. Tem mais de 60 longa metragens, grandes títulos, como era gostoso o
meu francês, ganga zumba...
Locutor da rádio de São José do Rio Pardo
Hoje é um dia muito especial porque hoje a cidade comemora os 83 anos da nossa ponte, da ponte
de Euclides da Cunha e para esta festa da ponte mais uma vez estão aqui muitos convidados na
cidade
Leila Richers
Em São José do Rio Pardo onde Euclides escreveu “Os Sertões” acontece sem interrupções
anualmente desde 1912, um culto a esse homem e à sua obra prima. O ritual de celebração desse
culto foi elevado a categoria de festa oficial da cidade e do estado de São Paulo, tornando-se um
modelo, um exemplo notável de invenção de uma tradição no Brasil.
Os rio-pardenses consideram a cidade berço do livro monumento nacional e conseguiram em 1982,
permissão da família para guardar para sempre os restos mortais do escritor.
Regina Abreu
Ele comparava Canudos com o movimento que havia ocorrido na França, há muitos anos atrás na
região da Vendéa. Um movimento contra revolucionário da revolução francesa. Então ele, quando vai
11. A Paz é Dourada – versão em português
a Canudos, quando ele volta, quando vem para São José e pensa sobre tudo aquilo que ele viveu,
decide dar o nome de “Os Sertões”.
Noilton Nunes
O filme é baseado nesse personagem aqui. Chama-se fronteiras porque tenta atravessar esse
período que saí do final da monarquia e entra no começo da república. É muito semelhante ao que
estamos vivendo hoje. Nós estamos passando por um momento difícil da história do Brasil e
entrando numa nova república.
Euclides – Noilton Nunes
Não é essa a República dos nossos sonhos. A República pela qual lutamos. As nossas elites
estão cegas aos quadros reais das nossas vidas. Vivemos em pleno colonato espiritual. Hoje no
Brasil, quem tem consciência, quem estuda, quem pensa, é cada vez mais enxotado pelos
medíocres que passam por nós, nos afrontam e ocupam os melhores postos de decisão.
Transformaram nosso país num purgatório onde a brutalidade e a violência viraram rotinas, naturais,
normais. É a imbecilidade triunfante. O amor por princípio não faz parte mesmo da nossa bandeira.
Nós jogamos fora a sensibilidade, a educação, a polidez. Estamos nos condenando cotidianamente à
barbárie. nosso futuro e o futuro do Brasil como nação é uma incógnita.
Embaixador Arnaldo Carrilho
Em 1989, 35 milhões de eleitores brasileiros votaram em Fernando Collor. Uma das maiores
vergonhas históricas do Brasil. Precisamos ter bem em mente isso. Com relação ao cinema esse
homem foi de uma brutalidade total fechando no peito a Embrafilme. E ao extinguir um órgão
público cria o nada, cria o deserto.
Carlos Alberto de Mattos
O cinema bra Beto Brasiliensesileiro está vivendo um momento de fronteira. Fronteira entre um
modelo que faliu inapelavelmente; um modelo de embrafilme; castas, vícios, privilégios e um
modelo que está sendo talhado à faca, aqui e agora, quente e que a gente não sabe o que é. o que
vai ser. Esse ciclo “Cineasta do Mês”, uma iniciativa da Corisco Filmes e do Centro Cultural Banco do
Brasil com o apoio do Jornal do Brasil. A gente está começando esse ciclo hoje com Noilton Nunes.
Noilton Nunes
Euclides da Cunha foi fazer a demarcação das fronteiras entre o Brasil e o Peru. E é uma parte mais
desconhecida do trabalho dele. Ele fez essa expedição como engenheiro.
12. A Paz é Dourada – versão em português
Filme “Euclides da Cunha” de Humberto Mauro
A serviço do Itamaraty, ele chefiou a expedição de reconhecimento do Alto Purus. Publicaria anos
depois um relatório sobre sua missão e vários outros trabalhos de igual importância sobre a sua
aventura na Amazônia.
Noilton Nunes
Começou a escrever vários artigos sobre a Amazônia e livros, não chegando a terminar o grande livro
que ele esperava fazer sobre a Amazônia: Um Paraíso Perdido.
Tv Globo – Leilane Neubarth
Mas, você sabe quem era Euclides? Euclides era um estradeiro. Sonhava em ir ao Acre. Não queria
Paris, queria o Acre. Indo de barco, como um proeiro levando atrás a bandeira. Euclides preferia os
atoleiros ao palácio de Versailles. Sonhava nos sertões. Viajar, viajar, viajar até chegar no coração do
Acre. Mas, o segredo desse templo, Euclides não conheceu. Não provou o Daime, a Ayuasca
alucinógenos que trariam talvez a antevisão para escrever um outro épico como “Os Sertões”.
Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho
Sem sombra de dúvidas é a maior área em litígio no mundo. Há trinta anos era uma inóspita terra de
ninguém. Nossos caboclos cearenses, em busca das seringueiras, as desbravaram. Conquistaram
essas remotas terras de fronteiras bem antes dos bolivianos e dos peruanos.
Euclides – Breno Moroni
Senhor ministro, nós sabemos que não é só por causa de umas árvores que estas terras estão sendo
cobiçadas. Além do látex capaz de cobrir todas as rodas dos automóveis do mundo inteiro, há
também inúmeras riquezas minerais e as plantas que serão as novas fontes de energia e os
remédios do futuro. O conflito é inevitável. Se o brilho das baionetas falar mais alto do que o debate
diplomático, teremos uma guerra mais terrível do que a do Paraguai e mais complexa do que a de
Canudos.
Barão do Rio Branco – Arnaldo Carrilho
Esta comissão tem muitos objetivos. Primeiramente evitar uma guerra absurda com o Peru. O
senhor é jornalista, escritor consagrado, engenheiro formado pela Escola Militar, realizou obras de
vulto, a ponte sobre o Rio Pardo é um trabalho exemplar.
Euclides – Breno Moroni
13. A Paz é Dourada – versão em português
Ponha-se no meio lugar, Aninha. Sabes que alimento há muito o sonho dessa viagem. Não agüento
mais essa agitação estéril da vida na capital. Se continuar aqui, nada mais produzirei de duradouro.
A Amazônia me fascina. Sei que encontrarei por lá o tema do meu novo livro. É a última página a
escrever-se do Gênesis. Um Paraíso Perdido Imagina, s’Aninha, um outro mundo possível brotando
no meio da floresta, Numa terra cobiçada por todo mundo. Sigo em missão de paz. O barão me
nomeou chefe da expedição. Chefe.
Noilton Nunes
Na Amazônia nós descobrimos uma comunidade, Isso há mais de dez anos,