O documento apresenta três textos sobre os problemas e desafios do transporte público brasileiro. O Texto I discute como o transporte individual recebeu prioridade sobre o coletivo, levando as classes de menor renda a morarem longe dos centros urbanos. O Texto II é uma imagem ilustrativa. O Texto III argumenta que as empresas de transporte coletivo defendem que a crise é de financiamento, mas na verdade é de mobilidade, privando 37 milhões de pessoas de locomoção adequada.
1. A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de
sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o
tema Problemas e Desafios do Transporte Público Brasileiro, apresentando experiência ou proposta de
ação social, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Texto I
TRANSPORTE INDIVIDUAL X COLETIVO
O automóvel individual foi prioridade dos investimentos em mobilidade urbana (e em boa parte dos
casos ainda é). Túneis, vias expressas e investimentos correlatos superaram aqueles dedicados aos
diferentes modais (como o ferroviário). Mesmo no modal rodoviário, do ponto de vista de espaço ocupado
nas vias públicas, os automóveis tiveram prioridade, na maioria das vezes, em detrimento dos ônibus.
A intensa migração, o encarecimento dos terrenos centrais, mais bem situados (levando-se em
conta o transporte deficiente), e demais fatores criaram incentivos para a configuração espacial das nossas
metrópoles: as classes de menor poder aquisitivo acabam por se concentrar nas periferias. Lá os preços
dos terrenos são menores, compensando a baixa acessibilidade e a insuficiência de infraestrutura.
Ou seja, a classe com menores condições reside distante dos locais de emprego, consumo e
entretenimento. Além disso, essa classe depende de transporte público pouco eficiente e de baixa
qualidade, pois este não foi priorizado ao longo de décadas. Mais ainda, quando membros dessa classe
conseguem obter crescimento de renda e acesso a crédito, desprivilegiados que são em sua mobilidade,
têm como principal impulso a aquisição de automóveis. Isso, por sua vez, somente agrava ainda mais o
quadro de engarrafamentos em massa das metrópoles.
Maciel, Vladimir Fernandes. Jornal Mundo Jovem. Edição nº 402, novembro de 2009, página 20. (fragmento)
Texto II
Disponível em: http://www.naopercatempo.info/wp-content/uploads/2011/04/transporte_publico.jpg. Acesso em: 02 de agosto de 2013.
Texto III
Basta dizermos que o problema está na estrutura do sistema, sem mencionarmos a mercantilização
do direito de ir e vir das pessoas, que essa mesma máfia concordará conosco. “Sim, temos um problema
grave no sistema de transporte coletivo, porque as empresas estão quebrando e são obrigadas a pedir
aumentos de tarifa às prefeituras”, é o que nos dirão. “Não temos mais como aceitar as gratuidades
socialmente desnecessárias que prefeitos populistas e irresponsáveis nos impõem”, é o que nos advertirão.
“Essa crise só se resolverá quando dedicarem 25% da CIDE para investimento em transporte urbano e
metropolitano, quando desburocratizarem nosso acesso ao BNDES e quando todos os insumos do setor
gozarem de isenção tributária”, é o que nos sugerirão, com o apoio de engenheiros, urbanistas, faculdades
e universidades, institutos de pesquisa e outros técnicos. “O setor está em crise porque não tem mais como
se financiar unicamente através da tarifa”, é o que transparece no discurso dos empresários e dos técnicos
que a eles se submetem. Trata-se de uma crise de financiamento, que, segundo eles, deve ser resolvida o
quanto antes para que o sistema volte a funcionar como deveria. Resolver esta crise significaria, então,
garantir a mobilidade da população e trazer progressivamente de volta para o sistema de transporte coletivo
urbano os cerca de 37 milhões de brasileiros que hoje são forçados a andar a pé, e apenas a pé, pelas
cidades brasileiras.
Manolo. Transporte coletivo urbano: crise de financiamento vs. crise de mobilidade. Disponível em: http://www.midiaindepen
denteorg/pt/red/2007/02/372298.shtml. Acesso em 03 de agosto de 2014 (fragmento).