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Em 2002, a Organização Mun-
dial de Saúde (OMS) declarou
em seu World Health Report,
que a alimentação insuficiente
de Frutas, Legumes e Verduras
(FLV) seria um dos dez fatores
de risco que contribuem para
a mortalidade por doenças crô-
nicas não transmissíveis. Além
disso, a Organização estimou
que o consumo diário de 400g
de FLV poderia salvar 2,7 mi-
lhões de vidas no mundo por
ano, em razão do efeito pre-
ventivo desses alimentos con-
tra o câncer, a diabetes, as
doenças cardiovasculares etc.
Diante dessa informação
surge a seguinte pergunta: co-
mo está o consumo per capita
de FLV no Brasil? É possível
ter uma ideia superficial da si-
tuação comparando-se os re-
sultados das últimas Pesquisas
de Orçamentos Familiares
(POF) do Instituto Brasileiro
de Geografia Estatística (IBGE)
realizadas em 2002 e 2008.
Sem levar em conta a distribui-
ção por classe de renda ou Re-
gião, verifica-se que o consu-
mo per capita diário do brasi-
leiro aumentou de 147g em
2002 para 153g em 2008. Mes-
mo assim, fica evidente que a
referência nacional de consu-
mo per capita de FLV ainda es-
tá muito aquém do parâmetro
recomendado pela OMS.
Se o aumento do consumo
de frutas e hortaliças é uma
questão de saúde pública, a
sua elevação aos níveis sugeri-
dos pela OMS dependerá da
criação e realização de políti-
cas públicas em segurança ali-
mentar cada vez mais eficazes.
A princípio, alguns aspectos
deverão ser considerados ain-
da mais. Por exemplo: planeja-
mento da produção agrícola,
educação alimentar e acesso ir-
restrito da população às frutas
e hortaliças, em quantidade e
qualidade. Em outras pala-
vras: uma população saudável
é consequência da política de
segurança alimentar do País, e
isso inclui uma agricultura efi-
caz não apenas em quantida-
de, mas também orientada pe-
las Boas Práticas Agrícolas
(BPA), produtora de alimentos
cada vez mais seguros.
As centrais de abastecimen-
to têm um papel fomentador
do hábito de consumo de ali-
mentos saudáveis. Isso decor-
re em razão de sua posição
consolidadora, que reúne no
mesmo espaço a agricultura e
o comércio de alimentos. Sen-
do assim, elas podem interagir
com ambos os lados da cadeia
de maneira a orientar as suas
atividades para valorizar uma
agricultura capaz de colher
produtos cada vez mais próxi-
mos ao ideal de saudabilidade
da população.
A implementação de tais
ações, no entanto, varia entre
as centrais, uma vez que as ad-
ministrações de cada unidade
dependem das diretrizes da au-
toridade pública gestora.
Nos últimos anos, a Ceasa
Campinas, administrada pela
Prefeitura Municipal, adotou
um planejamento de abasteci-
mento visando o pleno atendi-
mento dos comandos e orien-
tações mercadológicos mun-
diais (FAO/ONU e OMS), espe-
cialmente em atenção ao para-
doxo do desperdício versus fo-
me e também à segurança ali-
mentar com alimento seguro,
valorizando o comércio de ali-
mentos mais saudáveis ao con-
sumidor. O caminho é longo,
contínuo e, na prática, passa
pela orientação do agricultor
no campo, visando minimizar
o uso de agrotóxicos e aumen-
tar a segurança dos trabalhado-
res rurais que realizam as apli-
cações.
Embora o controle químico
de pragas e doenças seja regu-
lamentado e, ao mesmo tem-
po, indispensável na agricultu-
ra convencional, principalmen-
te nas FLV ainda mais suscetí-
veis, seu emprego deve ser res-
ponsável e decidido somente
mediante o diagnóstico do en-
genheiro-agrônomo. As pulve-
rizações, portanto, devem ser
realizadas com equipamentos
adequados, calibrados, com
produtos recomendados e res-
peitando integralmente a bula
que acompanha o defensivo.
Uma parceria firmada entre
a Ceasa e o programa Aplique
Bem, da Secretaria de Agricul-
tura e Abastecimento do Esta-
do de São Paulo, criado e coor-
denado conjuntamente pelo
Instituto Agronômico de Cam-
pinas (IAC) e a empresa Arysta
LifeScience, visa levar ao pro-
dutor de FLV regional as orien-
tações sobre tecnologia de apli-
cação de defensivos agrícolas
e segurança do aplicador.
O Aplique Bem é um suces-
so nacional que comemorou
10 anos de inovações na agri-
cultura com o treinamento de
mais de 55 mil produtores ru-
rais no Brasil. Trata-se de uma
iniciativa que adotou um mo-
delo inovador para os treina-
mentos: ao invés de reunir os
agricultores numa sala de au-
la, o programa vai até eles gra-
tuitamente utilizando laborató-
rios itinerantes. Os instrutores
(agrônomos) orientam os apli-
cadores a respeito do uso cor-
reto do Equipamento de Prote-
ção Individual (EPI) e doam
um kit completo para cada
usuário. Em seguida, avaliam
todo o equipamento de pulve-
rização e verificam as corre-
ções necessárias para o me-
lhor desempenho. O treina-
mento termina com um relató-
rio de todas as recomenda-
ções e prevê um retorno à pro-
priedade após um período pa-
ra a confirmação do emprego
efetivo das instruções.
No caso da parceria entre a
Ceasa e o Aplique Bem, o pro-
cesso será contínuo, respeitan-
do-se um agendamento regu-
lar. E a expectativa dos partici-
pantes, ou seja, Ceasa, Aplique
Bem e agricultores, é que essa
iniciativa resulte em maior se-
gurança, dos alimentos, dos
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te.
Vivemos em um mundo em
constante revolução. Como
numa longa ópera, em que
personagens se erigem, caem
e se reconstroem, personifica-
dos a cada século por sucessi-
vos atores que têm o prazer e
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renas e interpretar os mais
tormentosos atos na grande
peça da vida. Nessa grande
obra, o dia de hoje abriu um
capítulo que se iniciou chuvo-
so - não de uma tempestade
relampejante e estrondosa,
mas de uma chuva fina que
desce do céu prateado, cinza
e fúlgido, molhando tudo
com uma tristeza plácida.
Cortaram a cabeça do rei.
A de Luís XVI, que levou con-
sigo toda uma forma de orga-
nização da sociedade que,
apesar de já estar há algum
tempo circulando em salões
cada vez mais restritos, no
momento final sucumbiu nu-
ma batida seca e doída. Hoje,
conosco, a história se escre-
veu com mais delicadeza, em-
bora não menos pungente,
não menos revolucionária,
dispensando a guilhotina,
mas convocando Tânato a
carregar do leito o rei enquan-
to dormia, fatigado - e Car-
men, assim, deixou-nos.
Com seus cabelos longos e
negros - posto que era rainha
e não rei e a despeito dos
anos que acumulavam -, Car-
men viveu a maior parte de
seus anos num tempo em
que a estratificação social era,
de certa forma, mais exclu-
dente que hoje em termos
comportamentais. E, de algu-
ma maneira, o mito que se
tornou, orbita esse referencial
- mas vai além dele. Ela foi
nosso expoente máximo de
elegância, de estilo, da socie-
dade e de seus valores tradi-
cionais. Cativou estilistas, to-
mou café com editores de mo-
da, caçou com a alta nobreza
britânica, festejou com artis-
tas de Hollywood e jantou
com colunáveis nova-iorqui-
nas, mostrando ao grand
monde do monde entier um
Brasil autenticamente fino.
Assim como o comparecimen-
to de Luís XVI a óperas e reci-
tais conferia-lhes imediata-
mente grande importância, a
presença de Carmen em um
evento imbuía-lhe automati-
camente de ampla notorieda-
de e garantia-lhe certeza de
sucesso.
O comportamento que Car-
men representava ia muito
além das fronteiras do dinhei-
ro. Do mesmo modo que de-
fendia que o estilo é imortal e
que, para se vestir bem, devia-
se fugir da condição de
fashion victim, ela provou
que a finesse do portar-se es-
tava também dissociada da
posição de wealth victim.
Atravessou todos os revezes
que a vida lhe impôs em seus
anos de senioridade com o
mesmo sorriso no rosto que
exibia na juventude. Enfren-
tou a doença e os tribunais
com a cabeça erguida e lutou
pelos direitos dos debilitados,
reafirmando sua condição na-
tural de imperatriz.
O mundo em que Carmen
viveu passou por muitas revo-
luções. O glamour da alta so-
ciedade, antes frequentemen-
te venerado por classes me-
nos favorecidas, hoje é, mui-
tas vezes, visto com antipatia.
Nos processos revolucioná-
rios, inexoravelmente, muito
se agrega e muito se perde.
De fato, é inegável que revolu-
ções são necessárias para a
evolução de um povo, de um
indivíduo, de um país. Mas é
igualmente verdadeiro que
nem tudo o que é tradicional
é ruim e deve ser descartado.
E é nesse ponto que se encai-
xa o principal legado que Car-
men nos deixa. À maneira do
neto que, ao visitar a avó, es-
quece-se do ritmo frenético e
angustiante do mundo atual
e respira aliviado a serenida-
de da senhora que desconhe-
ce smartphones e redes so-
ciais, mas acolhe a família
com longas conversas em tor-
no de uma mesa e de um
bom pudim de leite. Carmen
representará para sempre a
certeza de que um mundo de
gentilezas e de classe pode
existir dentro de nós, e nos da-
rá sempre a tranquilidade de
que, apesar das turbulências
- sociais, hígidas ou financei-
ras -, a vida segue e o que im-
porta permanece. Assim co-
mo um bom soberano faz
com seu povo.
Opinião
1, 2, 3, pra frente. Os dedi-
nhos das mãos, dos pés, pe-
ga mais alguns emprestados
de quem estiver aí do seu la-
do para a conta dar certo. Po-
de contar. É bom olhar pra
frente. Às vezes muito me-
lhor do que olhar para trás.
Conta o quanto falta para vo-
cê chegar lá. No ano que
vem. No que deseja. No dia
que se sentirá em glória abso-
luta.
No caminho vá plantando
coisas boas. Não aceite pro-
vocações – tente. Não aceitar
não é ignorar, mas apenas
preparar pra comer o prato
frio depois, saboreando até
os ossos. Cada segundo que
passa é para a frente: é mais,
temos de pensar, ao contrá-
rio de imaginar um tempo
que passa e se escoa.
A vida não é foguete que a
gente lança para o espaço na-
quela expectativa da tensa
contagem regressiva. A gente
a conta das mais variadas for-
mas. Como contamos os de-
graus de uma escada que des-
cemos ou subimos, os quilô-
metros que nos farão chegar
ao destino. Vivemos contan-
do tudo. Então que seja para
o progresso. Pensamento oti-
mista para crer que a terra
sob nossos pés pode parar
com essa tremedeira que es-
cangalhou nossos planos re-
centes. Precisaremos fazer
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Não é para menos que se
demonstra que há matemáti-
ca em tudo. A existência é
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que vamos resolvendo em
busca de desvendar as incóg-
nitas. Pensa se não. Algumas
equações são tão intrincadas
que ficam sem solução até o
fim, mesmo que você diaria-
mente se pergunte o que foi
que calculou errado, quais va-
lores usou, onde cruzou os fa-
tores. Quem somou, quem
subtraiu, quem dividiu. No
amor essas são as maiores va-
riáveis.
Filosoficamente, multipli-
camos menos do que devería-
mos, e somamos muito timi-
damente. Deram agora de
querer emplacar o dividir,
mas isso acaba não levando
a lugar nenhum, porque so-
mos um só conjunto buscan-
do intersecções. Não há pro-
babilidade de dar certo.
Os números nos rodeiam,
nos norteiam. Nos desnor-
teiam quando estamos de-
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cados juros e correções. Nos
alegraram quando foram no-
tas boas, que ainda sou do
tempo do 0 a 10, nada de A,
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Era nota precisa, também
bem diferente dessas notas
que a gente vê jurado dando
na tevê, que todo mundo ga-
nha com decimal e sempre
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Neste mundo que busca
destrinchar tudo, quem anda
bem por cima é o percen-
tual. Tudo é percentual – es-
ses dias mesmo soltaram ro-
jões e fogos de artifício com
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nomia do País. Isso é que é
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um pouco, para a nossa posi-
tiva contagem progressiva.
No futebol! Não tem jogo
que a gente consiga assistir
sossegado sem que os locuto-
res fiquem que nem matra-
cas falando em percentuais,
citando números que decidi-
damente não farão a menor
diferença na partida. Quan-
tos chutes, quantos ponta-
pés, quantas vezes um time
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litam muito isso, esses cálcu-
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Pena que a gente não ve-
nha com um botãozinho de
apertar e a resposta do tem-
po aparecer. Abastecemos
nossas vidas continuamente
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no.
O melhor é pensar nele
avançando, sempre de forma
que seja esplêndido e sur-
preendente. Inusitado. Se
quiser contar quanto falta pa-
ra as coisas que já sabe, aí
tem lugar que responde rápi-
do: http://www.contadorde-
dias.com.br/.
Você só tem de inserir a
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ber quantos dias, quantas se-
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tagem. Bom para acalmar a
ansiedade. Matematicamen-
te.
CARMEN MAYRINK VEIGA
Contagem
progressiva
De reis e revoluções
Editor: Rui Motta rui@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br
marli gonçalves
I I Marli Gonçalves é jornalista
Segurança alimentar
RICARDO MUNHOZ E
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Segurança alimentar

  • 1. Em 2002, a Organização Mun- dial de Saúde (OMS) declarou em seu World Health Report, que a alimentação insuficiente de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) seria um dos dez fatores de risco que contribuem para a mortalidade por doenças crô- nicas não transmissíveis. Além disso, a Organização estimou que o consumo diário de 400g de FLV poderia salvar 2,7 mi- lhões de vidas no mundo por ano, em razão do efeito pre- ventivo desses alimentos con- tra o câncer, a diabetes, as doenças cardiovasculares etc. Diante dessa informação surge a seguinte pergunta: co- mo está o consumo per capita de FLV no Brasil? É possível ter uma ideia superficial da si- tuação comparando-se os re- sultados das últimas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) realizadas em 2002 e 2008. Sem levar em conta a distribui- ção por classe de renda ou Re- gião, verifica-se que o consu- mo per capita diário do brasi- leiro aumentou de 147g em 2002 para 153g em 2008. Mes- mo assim, fica evidente que a referência nacional de consu- mo per capita de FLV ainda es- tá muito aquém do parâmetro recomendado pela OMS. Se o aumento do consumo de frutas e hortaliças é uma questão de saúde pública, a sua elevação aos níveis sugeri- dos pela OMS dependerá da criação e realização de políti- cas públicas em segurança ali- mentar cada vez mais eficazes. A princípio, alguns aspectos deverão ser considerados ain- da mais. Por exemplo: planeja- mento da produção agrícola, educação alimentar e acesso ir- restrito da população às frutas e hortaliças, em quantidade e qualidade. Em outras pala- vras: uma população saudável é consequência da política de segurança alimentar do País, e isso inclui uma agricultura efi- caz não apenas em quantida- de, mas também orientada pe- las Boas Práticas Agrícolas (BPA), produtora de alimentos cada vez mais seguros. As centrais de abastecimen- to têm um papel fomentador do hábito de consumo de ali- mentos saudáveis. Isso decor- re em razão de sua posição consolidadora, que reúne no mesmo espaço a agricultura e o comércio de alimentos. Sen- do assim, elas podem interagir com ambos os lados da cadeia de maneira a orientar as suas atividades para valorizar uma agricultura capaz de colher produtos cada vez mais próxi- mos ao ideal de saudabilidade da população. A implementação de tais ações, no entanto, varia entre as centrais, uma vez que as ad- ministrações de cada unidade dependem das diretrizes da au- toridade pública gestora. Nos últimos anos, a Ceasa Campinas, administrada pela Prefeitura Municipal, adotou um planejamento de abasteci- mento visando o pleno atendi- mento dos comandos e orien- tações mercadológicos mun- diais (FAO/ONU e OMS), espe- cialmente em atenção ao para- doxo do desperdício versus fo- me e também à segurança ali- mentar com alimento seguro, valorizando o comércio de ali- mentos mais saudáveis ao con- sumidor. O caminho é longo, contínuo e, na prática, passa pela orientação do agricultor no campo, visando minimizar o uso de agrotóxicos e aumen- tar a segurança dos trabalhado- res rurais que realizam as apli- cações. Embora o controle químico de pragas e doenças seja regu- lamentado e, ao mesmo tem- po, indispensável na agricultu- ra convencional, principalmen- te nas FLV ainda mais suscetí- veis, seu emprego deve ser res- ponsável e decidido somente mediante o diagnóstico do en- genheiro-agrônomo. As pulve- rizações, portanto, devem ser realizadas com equipamentos adequados, calibrados, com produtos recomendados e res- peitando integralmente a bula que acompanha o defensivo. Uma parceria firmada entre a Ceasa e o programa Aplique Bem, da Secretaria de Agricul- tura e Abastecimento do Esta- do de São Paulo, criado e coor- denado conjuntamente pelo Instituto Agronômico de Cam- pinas (IAC) e a empresa Arysta LifeScience, visa levar ao pro- dutor de FLV regional as orien- tações sobre tecnologia de apli- cação de defensivos agrícolas e segurança do aplicador. O Aplique Bem é um suces- so nacional que comemorou 10 anos de inovações na agri- cultura com o treinamento de mais de 55 mil produtores ru- rais no Brasil. Trata-se de uma iniciativa que adotou um mo- delo inovador para os treina- mentos: ao invés de reunir os agricultores numa sala de au- la, o programa vai até eles gra- tuitamente utilizando laborató- rios itinerantes. Os instrutores (agrônomos) orientam os apli- cadores a respeito do uso cor- reto do Equipamento de Prote- ção Individual (EPI) e doam um kit completo para cada usuário. Em seguida, avaliam todo o equipamento de pulve- rização e verificam as corre- ções necessárias para o me- lhor desempenho. O treina- mento termina com um relató- rio de todas as recomenda- ções e prevê um retorno à pro- priedade após um período pa- ra a confirmação do emprego efetivo das instruções. No caso da parceria entre a Ceasa e o Aplique Bem, o pro- cesso será contínuo, respeitan- do-se um agendamento regu- lar. E a expectativa dos partici- pantes, ou seja, Ceasa, Aplique Bem e agricultores, é que essa iniciativa resulte em maior se- gurança, dos alimentos, dos aplicadores e do meio ambien- te. Vivemos em um mundo em constante revolução. Como numa longa ópera, em que personagens se erigem, caem e se reconstroem, personifica- dos a cada século por sucessi- vos atores que têm o prazer e a angústia de cantar árias se- renas e interpretar os mais tormentosos atos na grande peça da vida. Nessa grande obra, o dia de hoje abriu um capítulo que se iniciou chuvo- so - não de uma tempestade relampejante e estrondosa, mas de uma chuva fina que desce do céu prateado, cinza e fúlgido, molhando tudo com uma tristeza plácida. Cortaram a cabeça do rei. A de Luís XVI, que levou con- sigo toda uma forma de orga- nização da sociedade que, apesar de já estar há algum tempo circulando em salões cada vez mais restritos, no momento final sucumbiu nu- ma batida seca e doída. Hoje, conosco, a história se escre- veu com mais delicadeza, em- bora não menos pungente, não menos revolucionária, dispensando a guilhotina, mas convocando Tânato a carregar do leito o rei enquan- to dormia, fatigado - e Car- men, assim, deixou-nos. Com seus cabelos longos e negros - posto que era rainha e não rei e a despeito dos anos que acumulavam -, Car- men viveu a maior parte de seus anos num tempo em que a estratificação social era, de certa forma, mais exclu- dente que hoje em termos comportamentais. E, de algu- ma maneira, o mito que se tornou, orbita esse referencial - mas vai além dele. Ela foi nosso expoente máximo de elegância, de estilo, da socie- dade e de seus valores tradi- cionais. Cativou estilistas, to- mou café com editores de mo- da, caçou com a alta nobreza britânica, festejou com artis- tas de Hollywood e jantou com colunáveis nova-iorqui- nas, mostrando ao grand monde do monde entier um Brasil autenticamente fino. Assim como o comparecimen- to de Luís XVI a óperas e reci- tais conferia-lhes imediata- mente grande importância, a presença de Carmen em um evento imbuía-lhe automati- camente de ampla notorieda- de e garantia-lhe certeza de sucesso. O comportamento que Car- men representava ia muito além das fronteiras do dinhei- ro. Do mesmo modo que de- fendia que o estilo é imortal e que, para se vestir bem, devia- se fugir da condição de fashion victim, ela provou que a finesse do portar-se es- tava também dissociada da posição de wealth victim. Atravessou todos os revezes que a vida lhe impôs em seus anos de senioridade com o mesmo sorriso no rosto que exibia na juventude. Enfren- tou a doença e os tribunais com a cabeça erguida e lutou pelos direitos dos debilitados, reafirmando sua condição na- tural de imperatriz. O mundo em que Carmen viveu passou por muitas revo- luções. O glamour da alta so- ciedade, antes frequentemen- te venerado por classes me- nos favorecidas, hoje é, mui- tas vezes, visto com antipatia. Nos processos revolucioná- rios, inexoravelmente, muito se agrega e muito se perde. De fato, é inegável que revolu- ções são necessárias para a evolução de um povo, de um indivíduo, de um país. Mas é igualmente verdadeiro que nem tudo o que é tradicional é ruim e deve ser descartado. E é nesse ponto que se encai- xa o principal legado que Car- men nos deixa. À maneira do neto que, ao visitar a avó, es- quece-se do ritmo frenético e angustiante do mundo atual e respira aliviado a serenida- de da senhora que desconhe- ce smartphones e redes so- ciais, mas acolhe a família com longas conversas em tor- no de uma mesa e de um bom pudim de leite. Carmen representará para sempre a certeza de que um mundo de gentilezas e de classe pode existir dentro de nós, e nos da- rá sempre a tranquilidade de que, apesar das turbulências - sociais, hígidas ou financei- ras -, a vida segue e o que im- porta permanece. Assim co- mo um bom soberano faz com seu povo. Opinião 1, 2, 3, pra frente. Os dedi- nhos das mãos, dos pés, pe- ga mais alguns emprestados de quem estiver aí do seu la- do para a conta dar certo. Po- de contar. É bom olhar pra frente. Às vezes muito me- lhor do que olhar para trás. Conta o quanto falta para vo- cê chegar lá. No ano que vem. No que deseja. No dia que se sentirá em glória abso- luta. No caminho vá plantando coisas boas. Não aceite pro- vocações – tente. Não aceitar não é ignorar, mas apenas preparar pra comer o prato frio depois, saboreando até os ossos. Cada segundo que passa é para a frente: é mais, temos de pensar, ao contrá- rio de imaginar um tempo que passa e se escoa. A vida não é foguete que a gente lança para o espaço na- quela expectativa da tensa contagem regressiva. A gente a conta das mais variadas for- mas. Como contamos os de- graus de uma escada que des- cemos ou subimos, os quilô- metros que nos farão chegar ao destino. Vivemos contan- do tudo. Então que seja para o progresso. Pensamento oti- mista para crer que a terra sob nossos pés pode parar com essa tremedeira que es- cangalhou nossos planos re- centes. Precisaremos fazer novos cálculos. Não é para menos que se demonstra que há matemáti- ca em tudo. A existência é uma sucessão de equações que vamos resolvendo em busca de desvendar as incóg- nitas. Pensa se não. Algumas equações são tão intrincadas que ficam sem solução até o fim, mesmo que você diaria- mente se pergunte o que foi que calculou errado, quais va- lores usou, onde cruzou os fa- tores. Quem somou, quem subtraiu, quem dividiu. No amor essas são as maiores va- riáveis. Filosoficamente, multipli- camos menos do que devería- mos, e somamos muito timi- damente. Deram agora de querer emplacar o dividir, mas isso acaba não levando a lugar nenhum, porque so- mos um só conjunto buscan- do intersecções. Não há pro- babilidade de dar certo. Os números nos rodeiam, nos norteiam. Nos desnor- teiam quando estamos de- vendo, quando a eles são apli- cados juros e correções. Nos alegraram quando foram no- tas boas, que ainda sou do tempo do 0 a 10, nada de A, B, C, mais ou menos, AAA. Era nota precisa, também bem diferente dessas notas que a gente vê jurado dando na tevê, que todo mundo ga- nha com decimal e sempre entre o 9 e o 10. Neste mundo que busca destrinchar tudo, quem anda bem por cima é o percen- tual. Tudo é percentual – es- ses dias mesmo soltaram ro- jões e fogos de artifício com o crescimento de 0,1 da eco- nomia do País. Isso é que é otimismo. Bom, pelo menos um pouco, para a nossa posi- tiva contagem progressiva. No futebol! Não tem jogo que a gente consiga assistir sossegado sem que os locuto- res fiquem que nem matra- cas falando em percentuais, citando números que decidi- damente não farão a menor diferença na partida. Quan- tos chutes, quantos ponta- pés, quantas vezes um time venceu , empatou ou perdeu do outro. Quantos cuspinhos no ar. Os computadores faci- litam muito isso, esses cálcu- los com as informações inse- ridas. Pena que a gente não ve- nha com um botãozinho de apertar e a resposta do tem- po aparecer. Abastecemos nossas vidas continuamente e o caminhar se chama desti- no. O melhor é pensar nele avançando, sempre de forma que seja esplêndido e sur- preendente. Inusitado. Se quiser contar quanto falta pa- ra as coisas que já sabe, aí tem lugar que responde rápi- do: http://www.contadorde- dias.com.br/. Você só tem de inserir a data inicial e a final, para sa- ber quantos dias, quantas se- manas, o que será a sua con- tagem. Bom para acalmar a ansiedade. Matematicamen- te. CARMEN MAYRINK VEIGA Contagem progressiva De reis e revoluções Editor: Rui Motta rui@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br marli gonçalves I I Marli Gonçalves é jornalista Segurança alimentar RICARDO MUNHOZ E CLAUDINEI BARBOSA I I Ricardo Munhoz é engenheiro-agrônomo da Ceasa Campinas; Claudinei Barbosa é diretor-técnico operacional da Ceasa Campinas FELIPPE BARONE CEASA CAMPINAS I I Felippe Barone é economista “Não debato publicamente com pessoas condenadas por crime” Juiz Sérgio Moro, sobre afirmação de Lula de que a Justiça tem servido para desmoralizar a Petrobras e o Rio de Janeiro. charge opiniao@rac.com.br A2 CORREIO POPULARA2 Campinas, sábado, 9 de dezembro de 2017