A pesquisadora do Polo Regional de Pindamonhangaba da APTA, Cristina Maria de Castro, concedeu as informações sobre a apresentação de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) durante a Agrishow 2017. A matéria foi publicada no jornal e site Correio Popular, em 29 de abril de 2017.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Agrishow: plantas 'discretas' em pauta
1. Jaqueline Harumi
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
jaqueline.ishikawa@rac.com.br
Batizadas na Região Metropoli-
tana de Campinas (RMC) e
presentes em feiras da Associa-
ção de Agricultura Natural de
Campinas e Região (ANC), as
plantas alimentícias chama-
das de não convencionais
(Pancs), muitas delas pouco
conhecidas, ganham espaço
na Agrishow, uma das três
principais feiras de tecnologia
agrícola do mundo, e a maior
da América Latina, que come-
ça amanhã e vai até sexta-feira
em Ribeirão Preto. Estarão ex-
postas 14 espécies do Polo Re-
gional de Pindamonhangaba
da Agência Paulista de Tecno-
logia dos Agronegócios (Apta),
que desenvolve o projeto Sobe-
rania e Segurança Alimentar
Nutricional desde 2011 para
resgate, produção e consumo
de tais plantas.
A sigla Panc foi criada em
2004 durante a elaboração do
livro Plantas Alimentícias não
Convencionais (Panc) no Bra-
sil, publicado há três anos e de
autoria do engenheiro agrôno-
mo e botânico Harri Lorenzi,
idealizador do Jardim Botâni-
co Plantarum, um centro de re-
ferência em pesquisa e conser-
vação da flora brasileira locali-
zado na cidade de Nova Odes-
sa. “São plantas que crescem
espontaneamente no local ou
foram implantadas aqui com
fins ornamentais desde o ano
de 1998, quando iniciamos a
construção do jardim, que
tem pouco mais de 4 mil espé-
cies de plantas e pelo menos
uns 10% delas podem ser con-
sumidas, ou seja, são Pancs”,
explica o botânico, que apre-
sentou 352 espécies no livro,
com informações, imagens e
receitas. “A maioria delas é na-
tiva da flora brasileiras e as de-
mais são plantas exóticas intro-
duzidas no território brasileiro
há muito tempo e já naturaliza-
das ou cultivadas aqui para vá-
rios fins”, ressalta.
Segundo a engenheira agrô-
noma Maria Elisa Von Zuben
Tassi, da ANC, a publicação de
Lorenzi desencadeou uma
maior disseminação das espé-
cies, que não são encontradas
regularmente no mercado e, as-
sim, acabam esquecidas. “Têm
surgido muitos cursos, muitas
oficinas, inclusive em setem-
bro todo ano ocorre a Semana
de Agricultura Orgânica de
Campinas, que no ano passado
e retrasado teve oficinas com o
tema. Tem aumentado a popu-
larização de alguma maneira,
mas muitas pessoas não conhe-
cem, então não dá para o pro-
dutor fazer um cultivo grande:
ele tem que ter garantia de co-
mercialização. Muitas vezes o
que tem aparecido é o vínculo
das Pancs com os chefs de cozi-
nha, com pessoas que cozi-
nham e estão dando esse valor,
resgatando esse conhecimento
tradicional” , relata.
É o caso da gastrônoma Ma-
bele Meloze, que, ao lado do
marido, o engenheiro eletricis-
ta Diogo Cortez, apostou no
cultivo das Pancs em seu sítio
em Cosmópolis em 2015, on-
de já tinham um pé de ora-pro-
nóbis há oito anos, com produ-
ção destinada apenas a alguns
clientes fiéis. “Como essa plan-
tinhas não soam muito conhe-
cidas, um ou outro se interes-
sa”, afirma Mabele, que pro-
duz ora-pro-nóbis e jambu em
meio a diversas espécies con-
vencionais. “Pensamos: va-
mos plantar uma coisa que a
gente gosta, diferente”, lem-
bra. “O jambu pica a língua,
amortece, então você coloca
ele com peixe, com frango, o
que seja, você vai comer e sen-
tir que a boca dá aquela amor-
tecida, e o pessoal gosta muito
de fazer pinga de jambu, por-
que a boca fica completamen-
te amortecida: isso faz um su-
cesso tremendo”, exemplifica.
Na Agrishow, estarão expos-
tos, além de ora-pro-nóbis,
araruta, cúrcuma, carás, em
forma de tubérculos, e capu-
chinha, peixinho-da-horta, ma-
jor-gomes, serralha, azedinha,
caruru, taioba, chuchu de ven-
to, bertalha e vinagreira, plan-
tados em vasos. “A principal
preocupação não é só abordar
a parte técnica, mas fazer um
resgate e valorização, porque
estão ligadas à nossa história e
nossa cultura alimentar”, res-
salta a pesquisadora da Apta
responsável pelo projeto Sobe-
rania e Segurança Alimentar
Nutricional, Cristina Maria de
Castro, que vê nas Pancs uma
importante fonte de renda pa-
ra os produtores rurais familia-
res por serem facilmente culti-
vadas e terem valor agregado.
O Programa Nacional de Ali-
mentação Escolar (Pnae), por
exemplo, paga 30% a mais pa-
ra produtos orgânicos do que
para convencionais. “A Lei Mu-
nicipal 16.140 também prevê a
introdução progressiva de ali-
mentos orgânicos ou de base
agroecológica na alimentação
escolar no município de São
Paulo. A ideia é inserir alimen-
tos saudáveis, ricos em nu-
trientes e livres de resíduos
químicos na merenda esco-
lar”, afirma.
Mais saudável
O “criador” das Pancs, Harri
Lorenzi, frisa que elas ganham
força na necessidade de supri-
mento equilibrado de nutrien-
tes em nosso organismo.
“Com a industrialização e a
modernização de nossas vi-
das, o cardápio de opções ali-
mentares vem sendo reduzido
drasticamente, com pouco
mais de meia dúzia de plantas
sendo consumidas no dia a
dia da maioria da população”,
lembra. “O importante para as
pessoas é saber quais plantas
podem ser consumidas sem
risco para suas saúde, mas o
mais importante é saberem
que dispõem desta opção para
variar o seu cardápio alimen-
tar sem gastar com a sua ob-
tenção uma vez que estão pre-
sentes em todos os lugares, li-
vres para serem coletadas”, es-
clarece.
A pesquisadora da Apta con-
sidera bons exemplos para
consumo caruaru e ora-pro-
nóbis. “O caruru é um indica-
dor de terra boa, parente da
quinua, que é uma coisa chi-
que que todo mundo come,
dos Andes, que valorizam a
cultura deles. O caruru é uma
espécie espontânea, presente
no Brasil nas hortas e riquíssi-
mo em ferro. Como a parte de
grãos é menor, comemos as fo-
lhas refogadas, como se fosse
um espinafre, que tem aproxi-
madamente 6mg de ferro em
cada 100g e tem espécies de ca-
ruru que podem ter 200%
mais ferro”, explica. “Ora-pro-
nóbis é um cactus que possui
folhas riquíssimas em proteí-
nas: 25% são proteína. É co-
nhecido como 'carne de po-
bre', carne vegetal. Além da
proteína, é rico em ferro e cál-
cio. O sabor lembra um espina-
fre”, completa.
Para a popularização das
Pancs, Cristina está semestral-
mente presente em feiras pelo
Estado com chef de cozinha
para elaboração e ensino de re-
ceitas, realiza palestras e im-
planta hortas demonstrativas
em escolas.
“O que a gente come hoje
em dia virou um combinado
de vazio nutricional, com qua-
se nenhum nutriente, e uma
combinação de substâncias
que não alimentam, que são
conservantes, acidulantes e
aromatizantes, que colocam
para dar cor, aroma e sabor, e
nutrientes que nós temos na
natureza. Além disso, há alta
presença de açúcares, sal e
gorduras, o que tem levado ao
aparecimento de muitas doen-
ças. Antigamente a gente se
alimentava para ter saúde e
atualmente a gente está se ali-
mentando e ficando doente”,
afirma.
Menino consome
bala com veneno
Vinagreira,
usada para
colorir
alimentos,
mas
também
para fazer
chás,
bebidas e
até doces
Com várias
finalidades
medicinais,
a bertalha
não
deve ser
consumida
crua e é
fonte de
vitaminas
Ora-pro-nó
bis, que é
usada em
forma de
salada, mas
também
como
refogado e
até cerca
natural
Agrishow: plantas ‘discretas’ em pauta
Circula pelo WhatsApp um áu-
dio em que uma mulher afir-
ma que um menino está inter-
nado na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) de um hospital
porque teria chupado uma ba-
la com veneno tipo chumbi-
nho. O doce foi dado por um
adolescente que está partici-
pando do jogo Baleia Azul. Dar
balas com veneno a crianças é
uma das etapas da compe-
tição. “É verdade. Está no
meu plantão. É gravíssi-
mo”, diz a voz feminina. A
gravação tem sido divulgada
com dizeres informando que o
caso teria ocorrido em Jagua-
riúna. De acordo com o áudio,
o menino estava brincando
em frente à casa dele com um
irmão quando ganhou a bala.
Rica em
vitaminas,
a serralha é
bastante
parecida
com o
espinafre e
é bastante
usada em
cozidos
AGRONEGÓCIO ||| NOVIDADES
ESTA É A VERDADE
Segundo informações do
Hospital Municipal Walter
Ferrari, o único da cidade de
Jaguariúna, nenhuma criança
deu entrada na unidade de
saúde por envenenamento
depois de ter chupado uma
bala com chumbinho. A
unidade informou também que
nenhuma pessoa foi internada
por essa razão. Ainda de
acordo o hospital, esse boato
que tem circulado pelo
WhatsApp gerou uma
enxurrada
de ligações
ao PABX da
instituição
de pessoas
em busca de
informações sobre o caso. Na
maioria dos casos, eram pais e
moradores da cidade
preocupados com o estado de
saúde do menino e com as
consequências que podem
advir da ingestão de veneno do
tipo chumbinho.
SAIBA MAIS
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Boatos na rede
Fotos: Divulgação
Variedades pouco conhecidas serão apresentadas na feira de tecnologia agrícola em Ribeirão
Maior parte tem ação
medicinal e pode ser
comida crua ou cozida
TUBÉRCULOS
Ora-pro-nóbis - Muito usada em
cercas vivas, mas suas folhas e
frutos, que são bagas amarelas e
redondas, também servem como
alimento. A planta é também
empregada para a produção de mel.
Araruta - Considerada como um
alimento de fácil digestão, a fécula
da araruta é usada no preparo de
mingaus, bolos e biscoitos.
Cúrcuma - é uma planta herbácea
originária da Índia e Indonésia e da
qual se obtém uma especiaria usada
em temperos. Sua característica
principal é a forte cor amarela.
Cará - Fonte de carboidrato, ajuda
na complementação da
alimentação dos vegetarianos.
Combina com sopas, cremes,
saladas ou carnes de panela com
molho.
EM VASOS
Capuchinha - Suas folhas apresentam sabor picante, similar ao do agrião.
Peixinho-da-horta - Da mesma família de sálvia, hortelã e manjericão. Pode ser cultivada como planta ornamental,
possui uso medicinal, é servida como chá e quando frita lembra o sabor de peixe.
Major-gomes - Usada na medicina caseira como diurético, cicatrizante e antiinfeccioso, é também consumida em
saladas e refogados.
Serralha - É comestível e rica em vitaminas A, D e E; possui um sabor amargo e paladar que lembra o espinafre. É
usada em saladas e cozidos, além de fins medicinais.
Azedinha - Fresca e picada, é ótima para saladas e sucos; quando refogada, é usada para incrementar sopas e
molhos.
Caruru - Rica em ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2 e C. Tem funções medicinais, combate infecções,
problemas hepáticos. As sementes podem ser torradas e usadas em pães e outras receitas.
Taioba - Típica da cozinha de Goiás. A folha é rica em vitamina A e amido. Alimento fundamental para as crianças,
idosos, atletas, grávidas e mulheres que amamentam.
Chuchu-de-vento - espécie de chuchu oco por dentro. Na culinária, pode ser recheado com camarão, lula, siri,
verduras ou carnes. Possui propriedades medicinais.
Bertalha - As folhas são ricas em cálcio, ferro, magnésio, manganês, potássio, sódio, zinco, fósforo, clorofila e
vitaminas A, B, B2, B5 e C. Tem bastante ácido oxálico e, portanto, seu consumo cru não é recomendável, assim
como o do espinafre comum.
Vinagreira - É usado como condimento e para colorir e dar sabor agridoce a chás e bebidas alcoólicas e
não-alcoólicas. É ideal para geleias, chutneys, molhos e conservas. As folhas jovens são importantes como erva
culinária.
A8 CORREIO POPULARA8
Campinas, domingo, 30 de abril de 2017
CIDADES