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canto um refrão triste. 
pelo chão resquícios 
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de impossíveis probabilidades 
originadas no útero 
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* * *
ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia. 
carrego comigo o hiato das impossibilidades 
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encarnação de vazios, deixo para trás 
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* * *
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* * 
*
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* * *
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* * *
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* * *
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os loucos não mentem. 
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  • 1.
  • 2. canto um refrão triste. pelo chão resquícios de uma noite insone, pelas paredes sinais de impossíveis probabilidades originadas no útero da minha descrença, no coração das minhas fraquezas, entre a demência e a dormência. algumas certezas precisam ser sacrificadas. os sorrisos já se foram, carregam o peso de um pretérito interminável. insustentável leveza. muito passado, escasso presente, nenhum futuro. * * *
  • 3. vivo recolhendo coisas pelas ruas, reunindo minhas humanas incertezas abortadas de meu coração vazio que não entende coisa alguma de nada. na alma toca um blues por aqueles que se foram em infelizes destinos excomungados nas encruzilhadas do tempo. vejo a festa e o contentamento que fugazes escaparam de minhas mãos e se esvaneceram em olhares confusos, em alegrias provisórias. procuro o significado de estar vivo somente para encontrar absolutas verdades ocultas em antros de mentiras declaradas. nesta busca insana encontro realidades concretas que abstratas me sentenciam, me deserdam. de que me servem as certezas paridas de em algum momento de lucidez? sou apenas um peregrino mendigando o alívio de retóricos venenos. * * *
  • 4. escura bruma que a noite produz, o vazio neste bar perdido em uma rua perdida. minhas lembranças mais secretas são estrelas caídas de um céu sem piedade. querendo ou não sou parte deste drama que a vida usa para dar um sentido mais trágico ao cotidiano. como quem aguarda os passos intermináveis das horas, destilo silêncios, respiro surpresas, fantasiando meus impossíveis e recolhendo meus absurdos. não há mais motivo ou propósito, estou sobre um campo minado à deriva pelas esquinas dos meus próprios desvarios. sílabas mortas, frases rotas, monólogos que pronuncio ou mesmo que calo envoltos nas pétalas aveludadas das flores da ilusão. abro meus olhos cansados com esforço e sinto um peso no ar, nas chamas
  • 5. das minhas fomes. desassossegos, abandonos indiferentes aos mendigos que comem lixo nas praças. tristeza com hálito de ribaltas antigas de um teatro em ruínas, abandonado a segredos densos, alcovas gélidas onde perambulam anjos deserdados. alimento dragões nestas noites de junho, subverto a pauta do desejo, bebo a doce violência que escorre pelas ruas. sou como o silêncio que habita a cidade, desato nós, silencio desordens, ouço os rios, dobro o riso, as blusas como se dobrasse o tempo. surpreendo os vazios, escuto gemidos, recorto os versos de qualquer santidade. despertenço, desinvento a palavra amor. * * *
  • 6. ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia. carrego comigo o hiato das impossibilidades e a carga dos desenganos que fazem da noite de sábado um proscênio solitário. encarnação de vazios, deixo para trás pontos de interrogação e concluo que há muita incerteza nos caminhos que se abrem à minha frente. dialogo comigo mesmo, danço a coreografia dos absurdos, réquiem inevitável de um futuro que nunca existirá, passos em terra de ninguém. na praça dos consolos inúteis distribuo a piedade que só os miseráveis são merecedores, na minha andança sem fim recebo do passado arrepios, os sorrisos compartilhados são a véspera dos desassossegos futuros. ando sem rumo por ruas movimentadas tentando olhar dentro dos olhos das minhas verdades e sentindo a batida do martelo dos remorsos que só as escolhas erradas trazem. fragmentos de promessas espalhadas pelo chão, vestígios pelos muros
  • 7. de possibilidades impossíveis originadas no âmago das minhas covardias. ando só e por aí me perco, uso a bússola da minha inquietude, sigo as placas dos meus medos, arranco da memória uma fatia de sonhos que está guardada em um frigorífico abandonado e que quebra quando a toco, algumas coisas são tão sagradas que não podem ser tocadas. ando sem rumo, rumo ao improvável, por alamedas, atalhos, pontes e abismos que me conduzem. andanças intermináveis, pelo caminho questões sem respostas, respostas sem perguntas, coisas que não são nada, nadas que me deixam mudo, promessas que ouço do luar, das gotas da chuva que nunca choveu. estrada feita de horas e horas, o vento e suas navalhas cortam constelações ilegíveis, o espelho da finitude desfilando vácuos inefáveis como se o passado e o presente andassem de mãos dadas sorrindo e falando alto nos corredores desertos da minha intranquilidade: a sagração de um vazio
  • 8. que nega a si mesmo. ando só e sem destino sob a passarela fúnebre deste céu de possibilidades mortas e paixões cegas, enxergo a dureza dos muros, os papéis levados pelo vento e os automóveis, converso comigo mesmo em profundo silêncio, respiro a textura de um adeus que faz a alma se encolher até um canto qualquer como um detento sem ambição e sem propósitos, como quem espera por alguém que não existe. me prendo a ilusões que escapuliram de minhas mãos como se nada mais fosse possível, uma nuvem de poeira formada por escombros de promessas não cumpridas sufoca as minhas esperanças e asfixia o meu futuro e minhas escolhas absurdas. tenho uma fascinação pelas coisas que não existem mais, pegadas invisíveis pelo chão despedaçado de um caminho confuso, sonhos fatiados pela lâmina inexorável dos impossíveis, minutos perdidos e areias antigas
  • 9. de ampulhetas emperradas pela desatenção. encho a taça trincada pelo grito dos desesperados e brindo a chegada da minha própria demolição. * * *
  • 10. deslizo desnudo, sem rumo, sem prumo, aos ventos. singro, sangro sem tino, sem norte, à sina, à sorte. naufrago, calado, mudo, sempre existirão tormentas, tormentos. sinto o cheiro do que se foi, do que se espera em cada primavera, a forma perdida procura seus etcéteras nos ritmos da matéria, no fora, no dentro, em algum lugar onde o avesso do inverso insiste em ficar. agarro o grito agudo que brota
  • 11. curto da garganta. sussurro o espasmo lento de um gemido surdo. assomam as sombras insones, sortidas em meio ao escombro. * * *
  • 12. suave, reluzente; era assim que guardava tua imagem sob o mármore negro da noite. dias e quilômetros nos separavam, restaram inquietações no horizonte oblíquo das interrogações, limites projetados nas minhas mais arrogantes ambições. muita coisa mudara, delicadas esperanças, inexplicáveis emoções, minha paz desaparecia, minha calma se dissolvia, calculava tempo, distâncias, particularidades, horas a fio te imaginava sob o céu sedoso cor de cobre. a ansiedade tem nome de mulher e preta é a tarja da caixa que guarda o sono dos anestesiados. sonhos se confundem com fragmentos da realidade confusa e resquícios de amnésia, reticências do inefável. vestia-me, olhava o espelho, nas mãos as chaves, o cotidiano, a procrastinação. * * *
  • 13. o pretérito é um gigantesco oco, a vida é um sumidouro onde o destino não mede a insolvência do tempo. * * *
  • 14. na luta diária, tropeços, pedras, nuvens, ventanias, gasto meu tempo, perjuro, gasto meu grama de coragem, meu punhado de futuro. sigo com o olhar atento, como quem leva a urgência de um recado, resoluto, cumprindo algum mandado por força do insondável absoluto. entre as colunas da tarde calcinadas de lástimas, entre as paredes, descrente. um sol melancólico queima onde ninguém pode ser indulgente. entre os devassados esconderijos que busco entre a sede e a bebida se vai sem perceber um dia, um mês, um ano, toda uma vida. perdulário das horas, dos minutos, do mundo que eu não soube decifrar, troco por incerteza o ar errante e por força do hábito troco o porvir por um instante.
  • 15. dos passos em que cego me revelo, a cada queda me recobro, preservo o fogo que em mim dura, no qual forjo, sem medo ou angústia as faces da máscara futura. na treva em que me embrenho sem saber quem sou, existo. nas vertigens do alento, sobre as curvas do caminho ultrapasso a curva do momento. outro céu, outra fome, outro corte, por não saber quando parar, giro e oscilo entre penhascos, busco solução na chuva e no ar por não haver alívio para os meus ascos. * * *
  • 16. ando pelas ruas molhadas sob a noite fria. a cada passo o peso das histórias mal resolvidas e dos sonhos deixados para trás. o toque da noite é frio, futuro mutilado, metades perdidas que eu arrasto pelas ruas. ausência de cores, sonhos impossíveis, um sorriso forjado no rosto. contagem lenta e regressiva dos dias, fome infinita do destino. no túnel escuro das madrugadas as mãos geladas nos bolsos furados, contemplo sombras que gemem, ouço os lamentos do vazio, o amor em lençois encardidos. os loucos não mentem. * * *
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