O documento descreve como Armando Vara foi nomeado para uma posição de liderança na Caixa Geral de Depósitos pelo então primeiro-ministro José Sócrates e como usou essa posição para aprovar grandes empréstimos para projetos problemáticos que resultaram em grandes perdas para o banco. A lista dos maiores devedores da Caixa é dominada por esses projetos, incluindo um em Sines no valor de 476 milhões de euros com 214 milhões em imparidades.
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Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
1. Adivinhem quem tramou a Caixa Geral Depósitos!
É só gente ilustre.
Bom artigo sintetizado, mas que já não surpreende ninguém mais esta
denúncia da colegiada acção que leva este país ao caos e continuará a
manter incólumes esses ícones da imparcialidade e doação total no peculiar
modo de servir a nação...
São mesmo 'marcos da nossa história contemporânea!...
Qual será a dimensão do mausoléu a edificar para que os portugueses nunca
os esqueçam?
Gente fina!
Mas não têm o exclusivo da vigarice e do oportunismo!
José Sócrates foi eleito primeiro-ministro em Março de 2005.
Três meses e meio depois (Agosto de 2005) correu com o
anterior presidente da Caixa Geral Depósitos, que não chegou a
aquecer o lugar (Vítor Martins, 10 meses no cargo), e nomeou
Armando Vara administrador, com a responsabilidade de gerir as
participações financeiras da CGD em várias empresas
estratégicas.
Sete meses depois, a comunicação social anunciava que os seus
poderes haviam sido “reforçados”.
Cito o PÚBLICO de 9 de Março de 2006: “Armando Vara assumiu
agora as direcções de particulares e de negócios das regiões de
Lisboa e do Sul, assim como a direcção de empresas da zona Sul.
Entre as suas competências estão ainda a coordenação das
participações financeiras do banco público, EDP (4,78%), PT
(4,58%), PT Multimédia (1,27%), BCP (2,11%) e Cimpor (1,55%).”
Vara permaneceu três anos como administrador da Caixa Geral
de Depósitos, até sair em 2008 para a vice-presidência do
2. Millenium BCP, com o dobro do salário, o sucesso que se
conhece e um pedido de licença sem vencimento para poder
continuar nos quadros da Caixa.
Ainda em representação da CGD, Vara foi administrador não-
executivo da PT, desempenhando um papel decisivo na oposição
à OPA da Sonae em 2006, devido aos poderes mágicos da golden
share.
Justiça lhe seja feita: não se pode dizer que a CGD tenha sido um
tacho para Armando Vara.
Foi muito pior do que isso: a Caixa transformou-se num imenso
caldeirão onde os mais variados interesses se foram servir,
cabendo a Vara decidir quem enchia a gamela.
(Ouvido no âmbito da Operação Marquês a propósito do
empreendimento de Vale do Lobo, Armando Vara recusou tal
ideia, tendo declarado que estas decisões nunca eram aprovadas
por uma só pessoa, mas por um colectivo da CGD.)
E que gamelas encheu a Caixa nos últimos anos?
O Correio da Manhã teve acesso a uma auditoria recente e
revelou a lista dos maiores credores do banco.
A lista está ordenada por exposição ao risco de crédito, mas eu
prefiro ordená-la pelas imparidades já registadas – e aí o cenário
é simultaneamente desolador e esclarecedor.
No topo da lista está o grupo Artlant, que tencionava construir
em Sines um daqueles megaprojectos PIN pelos quais o
engenheiro Sócrates se pelava: uma “unidade industrial de
escala mundial” para a produção de 700.000 toneladas/ano de
um componente do poliéster, que levaria à “consolidação
do cluster petroquímico da região de Sines”, segundo um
3. comunicado do Conselho de Ministros de Junho de 2007.
José Sócrates chegou a lançar a primeira pedra em Março de
2008 e agora cabe-nos a nós apanhar os calhaus: 476 milhões de
dívida, 214 milhões em imparidades.
Em segundo lugar (imparidades: 181 milhões; exposição: 271
milhões) estão as Auto-estradas Douro Litoral.
São 79 quilómetros adjudicados em Dezembro de 2007 e cada
milímetro de alcatrão deve hoje três euros e meio à CGD – ou
seja, a mim e a si, caro leitor.
Em terceiro vem o famoso empreendimento de Vale do Lobo, o
tal com o qual o Ministério Público está a tentar agarrar José
Sócrates, e que tem uma astronómica dívida de 283 milhões
(imparidades: 138 milhões).
Segue-se um grupo imobiliário espanhol que não conheço (Reyal
Urbis), mas que fiquei com muita vontade de conhecer, e dois
nossos velhos conhecidos: o grupo Espírito Santo e o grupo Lena,
todos com dívidas acima dos 200 milhões.
Digam-me: com uma lista destas, alguém se espanta por a Caixa
estar a precisar de quatro mil milhões? Eu não.