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Economia
24 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 02 DE JUNHO DE 2019
MURILLO BARBOSA PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE TERMINAIS PORTUÁRIOS PRIVADOS
PrivatizaçãodaCodesa
vaiatrairinvestimentos
Tipo de desestatização
a ser adotado está em
estudo e o Estado pode
se fortalecer como
polo exportador,
segundo especialista
Fernando Bianchi
A
desestatização da Compa-
nhia Docas do Espírito San-
to (Codesa) vai atrair inves-
timentos para o setor portuário no
Espírito Santo, e o complexo da
Barra do Riacho, em Aracruz, é o
que tem maior potencial de desen-
volvimento com a medida.
A avaliação é do presidente da
Associação de
Terminais Por-
tuários Priva-
dos (ATP), Mu-
rillo Barbosa,
que na última
semana reuniu-
se em Vitória
com empresá-
rios do setor
portuário e re-
presentantes do governo para ava-
liar os impactos da desestatização
daCodesaparaosoperadorespor-
tuários privados do Estado.
O governo, por meio do Banco
Nacional do Desenvolvimento
(BNDES), já escolheu as empresas
responsáveis pelos estudos, com
custo de R$ 1,9 milhão, que defini-
rão qual modelo de desestatização
é mais adequado para a Codesa.
Segundo Barbosa, para o porto
deBarradoRiacho,quehojeopera
somente com terminais privados,
a melhor saída seria a privatização
total. O complexo movimenta,
principalmente, celulose, gás e
combustíveis.
“Defendemos que Barra do Ria-
cho seja transformado em um
complexoportuárioprivado.ACo-
desa hoje não presta nenhum ser-
viçolá,quemfaztudosãoostermi-
nais privados”, disse Barbosa.
A TRIBUNA – Como foi a visita
ao Estado?
MURILLO BARBOSA – Quere-
mossaberqualvaiseroprocesso,e
que os possíveis acordos e contra-
tos existentes hoje entre a admi-
nistração da Codesa e os terminais
de uso privado (TUPs) sejam res-
peitadosemumprocessodepossí-
vel concessão ao setor privado.
Há várias possibilidades sendo
estudadas, como vender, colocar
ações à venda e concessão total. De
136 milhões de toneladas que o Es-
tado movimentou no ano passado,
130milhõesforamdentrodetermi-
nais de uso privado, e não no porto
da Codesa. Aproximadamente 100
milhões foram da Vale, mas esses
outros 30 milhões foram movi-
mentados em terminais privados.
O modelo da Codesa depois será
replicado em outros portos do
Brasil, que também estão dentro
da área de por-
tos públicos.
> Quais são
os desafios da
desestatização
para o Estado?
O E s p í r i t o
Santo tem uma
vocação portuá-
ria muito gran-
de, está nas proximidades dos
camposdepetróleo,temprodução
própria, a ferrovia Vitória a Minas,
várias coisas que facilitam ser um
polo exportador e importador.
Tem um eixo rodoviário muito
importante, que é a BR-101. A rodo-
via é uma alternativa, mas o que o
portoprecisamesmoédeumalinha
férrea para atender a esses projetos
todos. A ferrovia Vitória-Rio seria
uma alternativa, mesmo que seja
feita por trechos. O martelo ainda
nãofoibatidopelogoverno,mases-
sanecessidadeéindiscutível.
> Por que o porto de Barra do
Riacho é mais atrativo para a
iniciativa privada?
Hoje, não há nenhum arrenda-
mento estabelecido, só tem TUPs.
Defendemos que Barra do Riacho
seja transformado em um comple-
xo portuário privado. Seria uma
grande experiência.
A Codesa hoje não presta ne-
nhum serviço lá, quem faz tudo
são os terminais privados, então,
por que não continuamos neste
modelo? Quem faz a manutenção
dos balizamentos lá são os TUPs.
O Porto de Vitória pode ter outro
modelo de concessão, mas em
Barra do Riacho defendemos o
terminal totalmente privado.
> Quais são as principais difi-
culdades do modelo público?
Você tem de fazer um processo
licitatório para arrendar uma área
do porto. Em alguns países da Eu-
ropa, isso não é nem preciso. Mas
vamosadmitirqueénecessáriofa-
zer licitação, porque é uma área
pública. Mas é preciso fazer licita-
ção até para comprar papel, coisas
paraodiaadia,entãoaautoridade
portuária não tem flexibilidade
nenhuma para operar.
As autoridades portuárias têm
muita dificuldade, por exemplo,
para fazer um processo de draga-
gem. Lutam atrás de dinheiro, e
quando conse-
guem, iniciam
um processo de
licitação.
O s e g u n d o
colocado fatal-
mente vai en-
trar na Justiça
pedindo a para-
lisação do pro-
cesso,eascoisas
não andam nes-
sa relação do público-privado.
Porisso,oMinistériodaInfraes-
truturaestáestudandoumproces-
so para que essa gestão portuária
melhore. Hoje, o Brasil é olhado
comumcertoreceio,porquesabe-
se das dificuldades.
> O que representa a Codesa
ser escolhida como modelo das
futuras desestatizações dos
portos?
NoBrasil,osativospertencemao
Estado, a União é a grande admi-
nistradoradocondomínioeexerce
aautoridadedefiscalizaçãodentro
do porto, e a renda toda parte da
operação da iniciativa privada.
Masnorestodomundo,essaau-
toridade portuária tem uma flexi-
bilidade de operação muito gran-
de, e no Brasil não temos essa pos-
sibilidade.
Então, o governo está estudando
um processo para que os portos
públicos que nós temos passem a
apresentar uma melhor perfor-
mance, aumentando a produtivi-
dade, atraindo investimentos.
> Quais devem ser as princi-
pais mudanças?
Estão sendo
feitos estudos
paraquatropor-
tos públicos. O
de Vitória; o de
São Sebastião,
em São Paulo;
Suape, em Per-
nambuco; e Ita-
jaí, em Santa
Catarina.
Cada modelo,
a consultoria do BNDES vai defi-
nir o que é melhor. Mas o objetivo
é aumentar a competitividade, a
flexibilidade de investimentos es-
trangeiros dentro deles.
Os TUPs são um exemplo espe-
tacular e registraram um cresci-
mento expressivo nos últimos
anos, porque eles têm total liber-
dade. Isso é uma razão de atrativi-
dade muito grande.
O Ministério está procurando
um modelo que possa levar o por-
to público para uma condição de
operação parecida com a instala-
ção portuária privada.
DIVULGAÇÃO
MURILLO afirmou que o modelo de desestatização aplicado na Codesa será replicado em outros portos do Brasil
BETO MORAIS — 03/03/2019
PORTO DE
VITÓRIA: várias
possibilidades
estão sendo
estudadas,
como vender,
colocar ações
à venda e a
concessão
total. De 136
milhões de
toneladas
que o Estado
movimentou no
ano passado,
130 milhões
foram dentro
de terminais de
uso privado, e
não no porto
da Codesa
MurilloBarbosa
Diretor-presidente da Associação de
Terminais Portuários Privados (ATP),
entidade que atua em defesa do seg-
mento portuário privado no Brasil.
Murillo Barbosa exerce o cargo de di-
retor desde a criação da entidade, em
2013. Serviu à Marinha do Brasil por 42
anos, onde teve contato com o setor
portuário. Foi diretor da Agência Nacio-
nal de Transportes Aquaviários (Antaq)
entre 2006 e 2010.
“
O martelo ainda
não foi batido
pelo governo, mas a
necessidade da ferrovia
Rio-Vitória para os
portos é indiscutível
” “
No resto do
mundo, a
autoridade portuária tem
flexibilidade de operação
muito grande, e no Brasil
não temos isso
”
“
Defendemos que
Barra do Riacho
seja transformado em
um complexo portuário
privado. Seria uma
grande experiência
”
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O governo, por meio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), já escolheu as empresas responsáveis pelos estudos, com custo de R$ 1,9 milhão, que defini- rão qual modelo de desestatização é mais adequado para a Codesa. Segundo Barbosa, para o porto deBarradoRiacho,quehojeopera somente com terminais privados, a melhor saída seria a privatização total. O complexo movimenta, principalmente, celulose, gás e combustíveis. “Defendemos que Barra do Ria- cho seja transformado em um complexoportuárioprivado.ACo- desa hoje não presta nenhum ser- viçolá,quemfaztudosãoostermi- nais privados”, disse Barbosa. A TRIBUNA – Como foi a visita ao Estado? MURILLO BARBOSA – Quere- mossaberqualvaiseroprocesso,e que os possíveis acordos e contra- tos existentes hoje entre a admi- nistração da Codesa e os terminais de uso privado (TUPs) sejam res- peitadosemumprocessodepossí- vel concessão ao setor privado. Há várias possibilidades sendo estudadas, como vender, colocar ações à venda e concessão total. De 136 milhões de toneladas que o Es- tado movimentou no ano passado, 130milhõesforamdentrodetermi- nais de uso privado, e não no porto da Codesa. Aproximadamente 100 milhões foram da Vale, mas esses outros 30 milhões foram movi- mentados em terminais privados. O modelo da Codesa depois será replicado em outros portos do Brasil, que também estão dentro da área de por- tos públicos. > Quais são os desafios da desestatização para o Estado? O E s p í r i t o Santo tem uma vocação portuá- ria muito gran- de, está nas proximidades dos camposdepetróleo,temprodução própria, a ferrovia Vitória a Minas, várias coisas que facilitam ser um polo exportador e importador. Tem um eixo rodoviário muito importante, que é a BR-101. A rodo- via é uma alternativa, mas o que o portoprecisamesmoédeumalinha férrea para atender a esses projetos todos. A ferrovia Vitória-Rio seria uma alternativa, mesmo que seja feita por trechos. O martelo ainda nãofoibatidopelogoverno,mases- sanecessidadeéindiscutível. > Por que o porto de Barra do Riacho é mais atrativo para a iniciativa privada? Hoje, não há nenhum arrenda- mento estabelecido, só tem TUPs. Defendemos que Barra do Riacho seja transformado em um comple- xo portuário privado. Seria uma grande experiência. A Codesa hoje não presta ne- nhum serviço lá, quem faz tudo são os terminais privados, então, por que não continuamos neste modelo? Quem faz a manutenção dos balizamentos lá são os TUPs. O Porto de Vitória pode ter outro modelo de concessão, mas em Barra do Riacho defendemos o terminal totalmente privado. > Quais são as principais difi- culdades do modelo público? Você tem de fazer um processo licitatório para arrendar uma área do porto. Em alguns países da Eu- ropa, isso não é nem preciso. Mas vamosadmitirqueénecessáriofa- zer licitação, porque é uma área pública. Mas é preciso fazer licita- ção até para comprar papel, coisas paraodiaadia,entãoaautoridade portuária não tem flexibilidade nenhuma para operar. As autoridades portuárias têm muita dificuldade, por exemplo, para fazer um processo de draga- gem. Lutam atrás de dinheiro, e quando conse- guem, iniciam um processo de licitação. O s e g u n d o colocado fatal- mente vai en- trar na Justiça pedindo a para- lisação do pro- cesso,eascoisas não andam nes- sa relação do público-privado. Porisso,oMinistériodaInfraes- truturaestáestudandoumproces- so para que essa gestão portuária melhore. Hoje, o Brasil é olhado comumcertoreceio,porquesabe- se das dificuldades. > O que representa a Codesa ser escolhida como modelo das futuras desestatizações dos portos? NoBrasil,osativospertencemao Estado, a União é a grande admi- nistradoradocondomínioeexerce aautoridadedefiscalizaçãodentro do porto, e a renda toda parte da operação da iniciativa privada. Masnorestodomundo,essaau- toridade portuária tem uma flexi- bilidade de operação muito gran- de, e no Brasil não temos essa pos- sibilidade. Então, o governo está estudando um processo para que os portos públicos que nós temos passem a apresentar uma melhor perfor- mance, aumentando a produtivi- dade, atraindo investimentos. > Quais devem ser as princi- pais mudanças? Estão sendo feitos estudos paraquatropor- tos públicos. O de Vitória; o de São Sebastião, em São Paulo; Suape, em Per- nambuco; e Ita- jaí, em Santa Catarina. Cada modelo, a consultoria do BNDES vai defi- nir o que é melhor. Mas o objetivo é aumentar a competitividade, a flexibilidade de investimentos es- trangeiros dentro deles. Os TUPs são um exemplo espe- tacular e registraram um cresci- mento expressivo nos últimos anos, porque eles têm total liber- dade. Isso é uma razão de atrativi- dade muito grande. O Ministério está procurando um modelo que possa levar o por- to público para uma condição de operação parecida com a instala- ção portuária privada. DIVULGAÇÃO MURILLO afirmou que o modelo de desestatização aplicado na Codesa será replicado em outros portos do Brasil BETO MORAIS — 03/03/2019 PORTO DE VITÓRIA: várias possibilidades estão sendo estudadas, como vender, colocar ações à venda e a concessão total. De 136 milhões de toneladas que o Estado movimentou no ano passado, 130 milhões foram dentro de terminais de uso privado, e não no porto da Codesa MurilloBarbosa Diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados (ATP), entidade que atua em defesa do seg- mento portuário privado no Brasil. Murillo Barbosa exerce o cargo de di- retor desde a criação da entidade, em 2013. Serviu à Marinha do Brasil por 42 anos, onde teve contato com o setor portuário. Foi diretor da Agência Nacio- nal de Transportes Aquaviários (Antaq) entre 2006 e 2010. “ O martelo ainda não foi batido pelo governo, mas a necessidade da ferrovia Rio-Vitória para os portos é indiscutível ” “ No resto do mundo, a autoridade portuária tem flexibilidade de operação muito grande, e no Brasil não temos isso ” “ Defendemos que Barra do Riacho seja transformado em um complexo portuário privado. Seria uma grande experiência ” QUEM É