SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Baixar para ler offline
O GRANDE MISTÉRIO DO TGV - a jogada de Sócrates
As verdades vêm sempre ao de cima
Numa negociata obscura com a srª Merkle, Sócrates preservaria a sua imagem à custa de uma obra
megalómana que o país hoje não precisa, e que seria adjudicada a uma empresa alemã (Siemens).
Sócrates, desesperado, condena a oposição...porque esta lhe estragou a jogada !


Por isso se justifica o rancor com que Sócrates gritava: “nós não precisamos de nenhuma ajuda
externa” – “eu não governarei com o FMI”
Um contributo para a compreensão de algumas acções.




O GRANDE MISTÉRIO DO TGV – A jogada de Sócrates

Porque será que Sócrates mantém esta insistência obsessiva no TGV?
Quando quase toda a gente, desde o analfabeto ao catedrático, reconhece a impossibilidade financeira
de o construir, e depois de se provar tecnicamente que será uma rede deficitária, porque continua
Sócrates a insistir?


Será que Sócrates é um visionário, e todos nós uns pobres ignorantes?
Ou será que há outras razões, talvez impositivas e condicionadoras, que só Sócrates sabe, e que não
pode confessar a ninguém?


A megalomania das grandes obras tem sido uma obsessão quase permanente de quem passa pelo Poder.
É assim desde a Antiguidade, e é gene que ainda empesta o cromossoma do político actual. A vontade
de deixar para a posteridade, algo de perene que perpetue o seu construtor, é uma vaidade com que os
poderosos sempre tentaram iludir a morte - a inevitabilidade terrível do desaparecimento.


Como os seus antecessores, é por isso natural que Sócrates quisesse deixar obra visível que o
recordasse.


Daí não me espantar que tenha avançado, de uma assentada, com um conjunto de grandes
investimentos, como o TGV, a 3ª travessia do Tejo e um Aeroporto construído em terrenos de M.
Jamais.


Mas desde os dias fulgurantes do estado de graça de Sócrates, até aos dias pedintes de hoje, vai muito
tempo, e muita coisa aconteceu desde então.
Vamos aos factos.


Em Março de 2005, Sócrates é empossado pela primeira vez como Primeiro-Ministro, gozando de uma
maioria absoluta na Assembleia.


O TGV já então fazia parte do programa de Governo, que previa o seu início nessa legislatura, se bem
que entre Porto e Lisboa, ligação que muito mais tarde foi alterada para Poceirão / Caia.


Esta obra era há muito uma bandeira de Sócrates, de tal modo que dela fez propaganda anos antes,
levando-a depois até ao referido programa de Governo.


Sobre a matéria, vejamos o que dizia então o Presidente da Multinacional Alemã Siemens, Sr. Heinrich
von Pierer. Considerava o TGV em Portugal como um "projecto fantástico", afirmando "querer ser
nosso parceiro nesse projecto". Estas declarações foram produzidas em Munique, para um grupo de
jornalistas portugueses (Novembro de 2003).


Entretanto, a coisa ficou por ali.


Contudo, iam-se agravando as condições económicas do país. Sócrates não consegue reduzir um grama
na adiposidade do Estado, e vê as despesas aumentarem. As suas deslocações, juntamente com Teixeira
dos Santos, a Bruxelas, são quase semanais. O facto é que, segundo ele, traz sempre boas notícias e,
permanentemente interrogado sobre o TGV, mantém-se irredutível: é para ir para a frente.
Lembro que, estranhamente, e por motivos ainda muito mal explicados, o Dr.Campos e Cunha
(primeiro ministro das Finanças a ser escolhido por Sócrates), afasta-se logo após ter proferido
declarações onde reconhecia a indisponibilidade financeira da execução de uma obra como o TGV e o
Aeroporto.
Contudo, a velha história das garantias de que grande parte do financiamento vinha da UE, mantiveram
Sócrates com argumentos para prosseguir. Campos e Cunha é que não ficou mais. Ele sabia porquê.


Entretanto, e contra tudo e contra todos, a construção do TGV é adjudicado em Dezembro de 2009, ao
consórcio Elos (que engloba a Brisa, Soares das Costa, ACS espanhola, Grupo Lena, Bento Pedroso,
Edifer, Zagrope, Babock e Brow Lda, BCP e CGD).


Com as condições de agravamento da nossa economia, e com os sucessivos falhanços na baixa do
défice, em 2010 a UE começa a mostrar-nos sérios "cartões amarelos" e, preocupada com o destino que
as coisas levam, e, de certo modo, traumatizada com os casos de Irlanda e da Grécia, e com o
"espantalho" de que os problemas se alastrem a Espanha e a Itália (onde a dívida pública já tinha
ultrapassado em muito os 100% do PIB - actualmente está nos 120%), obriga Portugal a tomar sérias
medidas, que haviam de se traduzir no PEC1.
Este PEC1 data de Março de 2010.


Demonstrada a insuficiência dele, em Maio do mesmo ano, avança-se com o PEC2, e quatro meses
mais tarde, com o PEC3.


Sócrates continua a deslocar-se a Bruxelas assiduamente. As visitas e reuniões da praxe, mas as
reuniões com Ângela Merkle são obrigatórias.
Estranha-se que entre ambos exista como que uma cumplicidade, ou algo que leva o nosso Primeiro-
ministro a conversar, preferencialmente, com ela.


E há algo que continua um mistério: apesar das sérias restrições que os PECs impõem, dos aumentos de
impostos, da redução dos benefícios sociais, do aumento do IVA, IRS, e até da suspensão da 3ª
travessia do Tejo e do Aeroporto de Lisboa, o TGV continua intocável!


É que, mesmo adjudicado, a obra poderia ser suspensa (como foi a 3ª travessia do Tejo depois de ser
adjudicada). Mas não! Mantinha-se o TGV.


Assim, o PEC1 tem o aval da UE, 2 meses depois de adjudicarmos o TGV, e os dois PECs seguintes,
também obtêm a aprovação europeia.


A seguir à aprovação do PEC3 (Setembro de 2010), logo em Novembro do mesmo ano, a
Multinacional Siemens volta à carga.
A Multinacional afirma que possui 10 mil milhões de Euros para financiamento de TGVs, através da
sua Siemens Project Adventures (que por sua vez está ligada à Siemens Financy Services), e que iria
propor ao governo português um esquema de financiamento do TGV.


Duas perguntas: que relação existe entre a data de adjudicação do TGV (Dezembro de 2009), e a
apresentação dos PECs1, 2 e 3 (Março, Maio e Setembro de 1010)? Será que a adjudicação terá servido
de garantia para que a Srª Merkle desse o seu aval a esses PECs?
Porque uma coisa é certa: quem manda na UE é Ângela Merkle.


Ela é que manda no dinheiro, ela é a "chanceler do Euro". Durão Barroso, para todos os efeitos, é uma
figura ornamental, quando muito um Chefe de Secretaria da UE, que, como todos os outros, tem que
render vénias à poderosa Srª Merkle. E outra pergunta: qual a razão porque a Siemens veio, de seguida
(Novembro de 2010) anunciar a intenção de financiar a obra?
Entretanto, como sabemos, e com o PEC4 já avalizado por Merkle, o Governo cai. Mas o TGV não cai,
e Sócrates, antes de cair, ainda insiste. E tem razão, porque os 80 mil milhões INTERCALARES,
existiram mesmo (Fundo de Resgate Europeu) !
Seria o dinheiro para "aguentar" Sócrates até que as primeiras tranches do PEC4 chegassem.


Durão Barroso, numa resposta fugidia, disse que desconhecia essa quantia intercalar, e que tal
modalidade não estava prevista nos regulamentos da UE.


Mas o facto é que Sócrates trouxe de lá a promessa dessa garantia!


Disse-o a todos os portugueses! E disse-o porque Merkle lho havia prometido.
A não ser assim, Sócrates mentiu! Mas Sócrates não mentiu. Porque Merkle arranjaria o dinheiro. Por
isso é que ele insiste que não precisavamos de ajuda externa, porque, na verdade a ajuda da UE já
estava combinada/negociada, secretamente, com a srª Merkle. Só que não teria o rótulo do FMI, que era
aquilo que Sócrates queria evitar, para não ficar claro o seu fracasso, perante a opinião pública.
Entretanto em Portugal Sócrates actua à socapa, não procurando os acordos prévios para aprovação do
Pec, nem dando sequer informação ao Parlamento, Presidente da República e parceiros sociais. Haveria
que ser lesto e discreto para fechar o acordo com a “chanceler do EURO”.


Mas a história não se fica por aqui.


O TGV implica a compra de material, muito material, entre os quais os comboios (locomotivas e
carruagens), nada menos de 22, numa primeira fase.
Mas também a manutenção, a assistência, todo o complicadíssimo sistema hard e softwere
indispensável para o controle da rede, o aluguer de material complementar, etc., etc., etc. Um nunca
mais acabar de encargos eternos.
Para fornecimento do material, dispõem-se, à partida, três empresas capazes de cumprir com o
programa de concurso: Alstom (francesa), a Bombardier (Canadiana) e a Siemens (Alemã).


A quem adjudicar?


A Alstom francesa está metida em sérios problemas judiciais na Suiça, França e Brasil, sob a acusação
de ter subornado políticos para que lhe adjudicassem material.


A canadiana Bombardier, se bem se lembram os portugueses, fechou as fábricas na Amadora em 2004,
deixando centenas de trabalhadores no desemprego.
A Siemens alemã, tem a vantagem de possuir as máquinas mais competitivas do mercado, assentes na
plataforma Velaro, que podem atingir os 350 Km/hora, sendo o comboio mais rápido do mundo.


Esta escolha da empresa fornecedora (como o contrato de financiamento) estava nas mãos de Sócrates.
Perante este cenário, a quem acham que se deveria fazer a adjudicação?
A uma empresa com problemas judiciais, a outra que saiu de Portugal com tão triste fama, ou à alemã
Siemens, que possui uma boa máquina ferroviária e que faz parte da mesma empresa que negociaria
um financiamento com o Governo português para a execução do TGV?


Era evidente a quem adjudicar. E Sócrates tinha o poder para o fazer.
Será que o TGV era a garantia dada por Sócrates à Srª Merkle?


Para que esta avalizasse os empréstimos resultantes de sucessivos PECs, sem que Sócrates sofresse a
humilhação interna de ter que pedir a intervenção do FMI (com que prometera a pés juntos, nunca
governar? E com isso hipotecar em definitivo a sua carreira política?)


São as dúvidas que ficam, mas que um dia serão esclarecidas.


Apenas narrei factos, evidências, estabeleci uma cronologia, e tentei desvendar o complicado algoritmo
da relação entre a política e os interesses financeiros. E depois, sobre eles, como cidadão que se preza
de avisado e que não perdeu a qualidade de inferir, coloquei as minhas dúvidas.


Se isto for verdade, Sócrates seria o elo mais fraco deste acordo que lhe garantia os dinheiros com que
suportava um Estado devorador e excessivo que foi incapaz de meter na linha. Merkle, o elo mais forte
e representante da poderosíssima industria alemã.


Se calhar, Sócrates já há muito que desejaria ver-se livre do "empecilho" do TGV – porque, no fundo,
Portugal não precisa de nenhum TGV. A confirmar-se esta estratégia, aí viria mais uma obra
megalómana que mais não servia que era ajudar interesses de poderosos e fragilizar ainda mais a
debilitadas finanças do país. A confirmar-se esta negociata, cujo interesse maior dos seus dois
protagonistas, era a preservação da sua imagem política, só reconfirma o péssimo governante que tem
sido Sócrates, que sem o mínimo pejo não teria qualquer relutância em procurar a melhoria da sua
imagem política à custa do subalternizar do interesse nacional.
Neste mundo, não há almoços grátis.


Por Francisco Gouveia, Eng.º


Outras noticias surgirão, para esclarecer a necessidade de indeminizar por tão elevado montante
solicitado as empresas portuguesas, pela rescisão do contrato.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a O GRANDE MISTÉRIO DO TGV - A jogada secreta de Sócrates e Merkel

Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitosAdivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitosDo outro lado da barricada
 
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)GRAZIA TANTA
 
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGAL
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGALComissão de Trabalhadores / TAP PORTUGAL
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGALSoproLeve
 
Portugal é assim
Portugal é assimPortugal é assim
Portugal é assimAJ Reis
 
MST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentesMST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentespr_afsalbergaria
 
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVERO
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVEROMETRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVERO
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVEROPLANORS
 
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCM
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCMPré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCM
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCMGrupo Parlamentar do PSD
 
O processo de privatização do sector público de transportes
O processo de privatização do sector público de transportesO processo de privatização do sector público de transportes
O processo de privatização do sector público de transportesSoproLeve
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...GRAZIA TANTA
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3GRAZIA TANTA
 
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...GRAZIA TANTA
 
Economia Portuguesa em Risco de Isolamento
Economia Portuguesa em Risco de IsolamentoEconomia Portuguesa em Risco de Isolamento
Economia Portuguesa em Risco de IsolamentoCláudio Carneiro
 
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca GRAZIA TANTA
 
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizado
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizadoPortugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizado
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizadoGRAZIA TANTA
 
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em Plenário
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em PlenárioFCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em Plenário
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em PlenárioGrupo Parlamentar do PSD
 
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...Maria Paiva
 

Semelhante a O GRANDE MISTÉRIO DO TGV - A jogada secreta de Sócrates e Merkel (20)

Rombo de Monteiro
Rombo de MonteiroRombo de Monteiro
Rombo de Monteiro
 
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitosAdivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
Adivinhem quem tramou a caixa geral depósitos
 
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
O outono do nosso descontentamento está aí (política e economia em Portugal)
 
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGAL
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGALComissão de Trabalhadores / TAP PORTUGAL
Comissão de Trabalhadores / TAP PORTUGAL
 
O caso Siemens e Alstom
O caso Siemens e AlstomO caso Siemens e Alstom
O caso Siemens e Alstom
 
Portugal é assim
Portugal é assimPortugal é assim
Portugal é assim
 
MST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentesMST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentes
 
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVERO
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVEROMETRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVERO
METRÔ DE PORTO ALEGRE: EX MINISTRO DOS TRANSPORTES CLORALDINO SEVERO
 
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCM
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCMPré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCM
Pré-Balanço da Comissão de Inquérito Parlamentar à FCM
 
O processo de privatização do sector público de transportes
O processo de privatização do sector público de transportesO processo de privatização do sector público de transportes
O processo de privatização do sector público de transportes
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
 
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...
O estado vai passar a cobrar as dívidas aos concessionários privados das port...
 
Economia Portuguesa em Risco de Isolamento
Economia Portuguesa em Risco de IsolamentoEconomia Portuguesa em Risco de Isolamento
Economia Portuguesa em Risco de Isolamento
 
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
 
Analise ematum-final
Analise ematum-finalAnalise ematum-final
Analise ematum-final
 
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizado
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizadoPortugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizado
Portugal, os “mercados” e o empobrecimento generalizado
 
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em Plenário
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em PlenárioFCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em Plenário
FCM - Comissão de Inquérito - Apresentação do Relatório Final em Plenário
 
à Espera
à Esperaà Espera
à Espera
 
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...
NEGÓCIO VEM (Manutenção Brasil) ARRUÍNA TAP. Lucros da TAP para tapar buracos...
 

Mais de Edgar Castelo

Tensão Arterial explicada
Tensão Arterial explicadaTensão Arterial explicada
Tensão Arterial explicadaEdgar Castelo
 
Vitorino Moreira fFernandes
Vitorino Moreira fFernandesVitorino Moreira fFernandes
Vitorino Moreira fFernandesEdgar Castelo
 
Salão de inventores de genebra 2014
Salão de inventores de  genebra   2014  Salão de inventores de  genebra   2014
Salão de inventores de genebra 2014 Edgar Castelo
 
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack Soifer
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack SoiferTÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack Soifer
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack SoiferEdgar Castelo
 
A sexta guerra de independência
A sexta guerra de independênciaA sexta guerra de independência
A sexta guerra de independênciaEdgar Castelo
 
How to 3D draw a slingshot Part 1
How to 3D draw a slingshot Part 1How to 3D draw a slingshot Part 1
How to 3D draw a slingshot Part 1Edgar Castelo
 
Instructions for your ElastomatiK
Instructions for your ElastomatiKInstructions for your ElastomatiK
Instructions for your ElastomatiKEdgar Castelo
 
O reino do_faz_de_conta
O reino do_faz_de_contaO reino do_faz_de_conta
O reino do_faz_de_contaEdgar Castelo
 
Como se forma um paradigma
Como se forma um paradigmaComo se forma um paradigma
Como se forma um paradigmaEdgar Castelo
 
Explicação da crise
Explicação da criseExplicação da crise
Explicação da criseEdgar Castelo
 

Mais de Edgar Castelo (20)

Tensão Arterial explicada
Tensão Arterial explicadaTensão Arterial explicada
Tensão Arterial explicada
 
Vitorino Moreira fFernandes
Vitorino Moreira fFernandesVitorino Moreira fFernandes
Vitorino Moreira fFernandes
 
Salão de inventores de genebra 2014
Salão de inventores de  genebra   2014  Salão de inventores de  genebra   2014
Salão de inventores de genebra 2014
 
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack Soifer
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack SoiferTÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack Soifer
TÉCNICOS DE 22 ANOS ACOMPANHAM A TROIKA *Jack Soifer
 
Direita x esquerda
Direita x esquerdaDireita x esquerda
Direita x esquerda
 
A sexta guerra de independência
A sexta guerra de independênciaA sexta guerra de independência
A sexta guerra de independência
 
How to 3D draw a slingshot Part 1
How to 3D draw a slingshot Part 1How to 3D draw a slingshot Part 1
How to 3D draw a slingshot Part 1
 
A formiguinha
A formiguinhaA formiguinha
A formiguinha
 
Apelo nacional
Apelo nacionalApelo nacional
Apelo nacional
 
Ps jamais!
Ps jamais! Ps jamais!
Ps jamais!
 
Obesidade mental
Obesidade mentalObesidade mental
Obesidade mental
 
Obesidade mental
Obesidade mentalObesidade mental
Obesidade mental
 
Instructions for your ElastomatiK
Instructions for your ElastomatiKInstructions for your ElastomatiK
Instructions for your ElastomatiK
 
A máfia socrática
A máfia socráticaA máfia socrática
A máfia socrática
 
A máfia socrática
A máfia socráticaA máfia socrática
A máfia socrática
 
Compare
CompareCompare
Compare
 
O reino do_faz_de_conta
O reino do_faz_de_contaO reino do_faz_de_conta
O reino do_faz_de_conta
 
Novos sinais
Novos sinaisNovos sinais
Novos sinais
 
Como se forma um paradigma
Como se forma um paradigmaComo se forma um paradigma
Como se forma um paradigma
 
Explicação da crise
Explicação da criseExplicação da crise
Explicação da crise
 

O GRANDE MISTÉRIO DO TGV - A jogada secreta de Sócrates e Merkel

  • 1. O GRANDE MISTÉRIO DO TGV - a jogada de Sócrates As verdades vêm sempre ao de cima Numa negociata obscura com a srª Merkle, Sócrates preservaria a sua imagem à custa de uma obra megalómana que o país hoje não precisa, e que seria adjudicada a uma empresa alemã (Siemens). Sócrates, desesperado, condena a oposição...porque esta lhe estragou a jogada ! Por isso se justifica o rancor com que Sócrates gritava: “nós não precisamos de nenhuma ajuda externa” – “eu não governarei com o FMI” Um contributo para a compreensão de algumas acções. O GRANDE MISTÉRIO DO TGV – A jogada de Sócrates Porque será que Sócrates mantém esta insistência obsessiva no TGV? Quando quase toda a gente, desde o analfabeto ao catedrático, reconhece a impossibilidade financeira de o construir, e depois de se provar tecnicamente que será uma rede deficitária, porque continua Sócrates a insistir? Será que Sócrates é um visionário, e todos nós uns pobres ignorantes?
  • 2. Ou será que há outras razões, talvez impositivas e condicionadoras, que só Sócrates sabe, e que não pode confessar a ninguém? A megalomania das grandes obras tem sido uma obsessão quase permanente de quem passa pelo Poder. É assim desde a Antiguidade, e é gene que ainda empesta o cromossoma do político actual. A vontade de deixar para a posteridade, algo de perene que perpetue o seu construtor, é uma vaidade com que os poderosos sempre tentaram iludir a morte - a inevitabilidade terrível do desaparecimento. Como os seus antecessores, é por isso natural que Sócrates quisesse deixar obra visível que o recordasse. Daí não me espantar que tenha avançado, de uma assentada, com um conjunto de grandes investimentos, como o TGV, a 3ª travessia do Tejo e um Aeroporto construído em terrenos de M. Jamais. Mas desde os dias fulgurantes do estado de graça de Sócrates, até aos dias pedintes de hoje, vai muito tempo, e muita coisa aconteceu desde então. Vamos aos factos. Em Março de 2005, Sócrates é empossado pela primeira vez como Primeiro-Ministro, gozando de uma maioria absoluta na Assembleia. O TGV já então fazia parte do programa de Governo, que previa o seu início nessa legislatura, se bem que entre Porto e Lisboa, ligação que muito mais tarde foi alterada para Poceirão / Caia. Esta obra era há muito uma bandeira de Sócrates, de tal modo que dela fez propaganda anos antes, levando-a depois até ao referido programa de Governo. Sobre a matéria, vejamos o que dizia então o Presidente da Multinacional Alemã Siemens, Sr. Heinrich von Pierer. Considerava o TGV em Portugal como um "projecto fantástico", afirmando "querer ser nosso parceiro nesse projecto". Estas declarações foram produzidas em Munique, para um grupo de jornalistas portugueses (Novembro de 2003). Entretanto, a coisa ficou por ali. Contudo, iam-se agravando as condições económicas do país. Sócrates não consegue reduzir um grama na adiposidade do Estado, e vê as despesas aumentarem. As suas deslocações, juntamente com Teixeira dos Santos, a Bruxelas, são quase semanais. O facto é que, segundo ele, traz sempre boas notícias e, permanentemente interrogado sobre o TGV, mantém-se irredutível: é para ir para a frente.
  • 3. Lembro que, estranhamente, e por motivos ainda muito mal explicados, o Dr.Campos e Cunha (primeiro ministro das Finanças a ser escolhido por Sócrates), afasta-se logo após ter proferido declarações onde reconhecia a indisponibilidade financeira da execução de uma obra como o TGV e o Aeroporto. Contudo, a velha história das garantias de que grande parte do financiamento vinha da UE, mantiveram Sócrates com argumentos para prosseguir. Campos e Cunha é que não ficou mais. Ele sabia porquê. Entretanto, e contra tudo e contra todos, a construção do TGV é adjudicado em Dezembro de 2009, ao consórcio Elos (que engloba a Brisa, Soares das Costa, ACS espanhola, Grupo Lena, Bento Pedroso, Edifer, Zagrope, Babock e Brow Lda, BCP e CGD). Com as condições de agravamento da nossa economia, e com os sucessivos falhanços na baixa do défice, em 2010 a UE começa a mostrar-nos sérios "cartões amarelos" e, preocupada com o destino que as coisas levam, e, de certo modo, traumatizada com os casos de Irlanda e da Grécia, e com o "espantalho" de que os problemas se alastrem a Espanha e a Itália (onde a dívida pública já tinha ultrapassado em muito os 100% do PIB - actualmente está nos 120%), obriga Portugal a tomar sérias medidas, que haviam de se traduzir no PEC1. Este PEC1 data de Março de 2010. Demonstrada a insuficiência dele, em Maio do mesmo ano, avança-se com o PEC2, e quatro meses mais tarde, com o PEC3. Sócrates continua a deslocar-se a Bruxelas assiduamente. As visitas e reuniões da praxe, mas as reuniões com Ângela Merkle são obrigatórias. Estranha-se que entre ambos exista como que uma cumplicidade, ou algo que leva o nosso Primeiro- ministro a conversar, preferencialmente, com ela. E há algo que continua um mistério: apesar das sérias restrições que os PECs impõem, dos aumentos de impostos, da redução dos benefícios sociais, do aumento do IVA, IRS, e até da suspensão da 3ª travessia do Tejo e do Aeroporto de Lisboa, o TGV continua intocável! É que, mesmo adjudicado, a obra poderia ser suspensa (como foi a 3ª travessia do Tejo depois de ser adjudicada). Mas não! Mantinha-se o TGV. Assim, o PEC1 tem o aval da UE, 2 meses depois de adjudicarmos o TGV, e os dois PECs seguintes, também obtêm a aprovação europeia. A seguir à aprovação do PEC3 (Setembro de 2010), logo em Novembro do mesmo ano, a Multinacional Siemens volta à carga.
  • 4. A Multinacional afirma que possui 10 mil milhões de Euros para financiamento de TGVs, através da sua Siemens Project Adventures (que por sua vez está ligada à Siemens Financy Services), e que iria propor ao governo português um esquema de financiamento do TGV. Duas perguntas: que relação existe entre a data de adjudicação do TGV (Dezembro de 2009), e a apresentação dos PECs1, 2 e 3 (Março, Maio e Setembro de 1010)? Será que a adjudicação terá servido de garantia para que a Srª Merkle desse o seu aval a esses PECs? Porque uma coisa é certa: quem manda na UE é Ângela Merkle. Ela é que manda no dinheiro, ela é a "chanceler do Euro". Durão Barroso, para todos os efeitos, é uma figura ornamental, quando muito um Chefe de Secretaria da UE, que, como todos os outros, tem que render vénias à poderosa Srª Merkle. E outra pergunta: qual a razão porque a Siemens veio, de seguida (Novembro de 2010) anunciar a intenção de financiar a obra? Entretanto, como sabemos, e com o PEC4 já avalizado por Merkle, o Governo cai. Mas o TGV não cai, e Sócrates, antes de cair, ainda insiste. E tem razão, porque os 80 mil milhões INTERCALARES, existiram mesmo (Fundo de Resgate Europeu) ! Seria o dinheiro para "aguentar" Sócrates até que as primeiras tranches do PEC4 chegassem. Durão Barroso, numa resposta fugidia, disse que desconhecia essa quantia intercalar, e que tal modalidade não estava prevista nos regulamentos da UE. Mas o facto é que Sócrates trouxe de lá a promessa dessa garantia! Disse-o a todos os portugueses! E disse-o porque Merkle lho havia prometido. A não ser assim, Sócrates mentiu! Mas Sócrates não mentiu. Porque Merkle arranjaria o dinheiro. Por isso é que ele insiste que não precisavamos de ajuda externa, porque, na verdade a ajuda da UE já estava combinada/negociada, secretamente, com a srª Merkle. Só que não teria o rótulo do FMI, que era aquilo que Sócrates queria evitar, para não ficar claro o seu fracasso, perante a opinião pública. Entretanto em Portugal Sócrates actua à socapa, não procurando os acordos prévios para aprovação do Pec, nem dando sequer informação ao Parlamento, Presidente da República e parceiros sociais. Haveria que ser lesto e discreto para fechar o acordo com a “chanceler do EURO”. Mas a história não se fica por aqui. O TGV implica a compra de material, muito material, entre os quais os comboios (locomotivas e carruagens), nada menos de 22, numa primeira fase. Mas também a manutenção, a assistência, todo o complicadíssimo sistema hard e softwere indispensável para o controle da rede, o aluguer de material complementar, etc., etc., etc. Um nunca mais acabar de encargos eternos.
  • 5. Para fornecimento do material, dispõem-se, à partida, três empresas capazes de cumprir com o programa de concurso: Alstom (francesa), a Bombardier (Canadiana) e a Siemens (Alemã). A quem adjudicar? A Alstom francesa está metida em sérios problemas judiciais na Suiça, França e Brasil, sob a acusação de ter subornado políticos para que lhe adjudicassem material. A canadiana Bombardier, se bem se lembram os portugueses, fechou as fábricas na Amadora em 2004, deixando centenas de trabalhadores no desemprego. A Siemens alemã, tem a vantagem de possuir as máquinas mais competitivas do mercado, assentes na plataforma Velaro, que podem atingir os 350 Km/hora, sendo o comboio mais rápido do mundo. Esta escolha da empresa fornecedora (como o contrato de financiamento) estava nas mãos de Sócrates. Perante este cenário, a quem acham que se deveria fazer a adjudicação? A uma empresa com problemas judiciais, a outra que saiu de Portugal com tão triste fama, ou à alemã Siemens, que possui uma boa máquina ferroviária e que faz parte da mesma empresa que negociaria um financiamento com o Governo português para a execução do TGV? Era evidente a quem adjudicar. E Sócrates tinha o poder para o fazer. Será que o TGV era a garantia dada por Sócrates à Srª Merkle? Para que esta avalizasse os empréstimos resultantes de sucessivos PECs, sem que Sócrates sofresse a humilhação interna de ter que pedir a intervenção do FMI (com que prometera a pés juntos, nunca governar? E com isso hipotecar em definitivo a sua carreira política?) São as dúvidas que ficam, mas que um dia serão esclarecidas. Apenas narrei factos, evidências, estabeleci uma cronologia, e tentei desvendar o complicado algoritmo da relação entre a política e os interesses financeiros. E depois, sobre eles, como cidadão que se preza de avisado e que não perdeu a qualidade de inferir, coloquei as minhas dúvidas. Se isto for verdade, Sócrates seria o elo mais fraco deste acordo que lhe garantia os dinheiros com que suportava um Estado devorador e excessivo que foi incapaz de meter na linha. Merkle, o elo mais forte e representante da poderosíssima industria alemã. Se calhar, Sócrates já há muito que desejaria ver-se livre do "empecilho" do TGV – porque, no fundo,
  • 6. Portugal não precisa de nenhum TGV. A confirmar-se esta estratégia, aí viria mais uma obra megalómana que mais não servia que era ajudar interesses de poderosos e fragilizar ainda mais a debilitadas finanças do país. A confirmar-se esta negociata, cujo interesse maior dos seus dois protagonistas, era a preservação da sua imagem política, só reconfirma o péssimo governante que tem sido Sócrates, que sem o mínimo pejo não teria qualquer relutância em procurar a melhoria da sua imagem política à custa do subalternizar do interesse nacional. Neste mundo, não há almoços grátis. Por Francisco Gouveia, Eng.º Outras noticias surgirão, para esclarecer a necessidade de indeminizar por tão elevado montante solicitado as empresas portuguesas, pela rescisão do contrato.