2. Essa é a última, apaixonada oração que Jesus dirige ao Pai.
Ele sabe que está pedindo a coisa pela qual o Pai mais anseia.
Com efeito, Deus criou a humanidade como sua própria
família, para compartilhar com ela todo bem, a sua mesma
vida divina.
3. O maior sonho dos pais não é que os filhos se queiram bem,
ajudando-se, vivendo unidos entre si?
4. E a maior decepção não é vê-los divididos por causa de
ciúmes ou interesses econômicos, chegando ao ponto de não
se falarem mais?
5. Também Deus sonhou desde toda a eternidade que a sua família
estivesse unida na comunhão de amor dos filhos com Ele e dos
filhos entre si.
6. A dramática narrativa bíblica das origens
nos fala do pecado e da gradual divisão da
família humana: lemos no Gênesis que Adão
acusa Eva; Caim mata seu próprio irmão
Abel; Lamec se gaba da sua vingança
desproporcional; Babel gera a
incompreensão e a dispersão dos povos...
7. O projeto de Deus parece ter fracassado.
No entanto, Deus não se dá por vencido e
continua buscando com persistência a
reunificação da própria família.
8. A história recomeça com Noé, com o chamado de Abraão,
com a formação do povo eleito; e continua, até quando Ele
decide mandar seu próprio Filho à terra, confiando-lhe a
grande missão.
9. de reunir em uma só família os filhos dispersos, recolher em
um só rebanho as ovelhas perdidas, derrubar os muros de
separação e as inimizades entre os povos para criar um único
povo novo (cf. Ef 2,14-16).
10. Deus nunca cessa de sonhar com a unidade. Por isso Jesus lhe
pede isso como o dom maior que Ele possa implorar para todos
nós: Peço-te, ó Pai,
12. Cada família traz a marca dos pais. Isso vale também para a
família criada por Deus.
13. Deus é Amor, não somente porque ama a sua criatura, mas é
Amor em si mesmo, na reciprocidade do dom e da comunhão
que existe entre cada uma das três divinas Pessoas na relação
com as outras duas.
14. E quando Deus criou a humanidade, Ele a modelou segundo
a sua imagem e semelhança e imprimiu nela a sua própria
capacidade de relação, para que cada pessoa vivesse na
doação mútua de si.
15. De fato, a frase
completa da oração de
Jesus que queremos
viver este mês diz:
“Que todos sejam um;
como tu, Pai, estás em
mim, e eu em ti, que
eles estejam em nós.”
16. O modelo da nossa unidade é nada mais nada menos que
a unidade existente entre o Pai e Jesus. Parece
impossível, de tão profunda que é.
17. No entanto ela se torna possível por causa daquele como,
que significa também porque: podemos ser unidos como
são unidos o Pai e Jesus, justamente porque Eles nos
envolvem na mesma unidade Deles, porque Eles nos doam
essa unidade.
19. É justamente essa a obra de Jesus: fazer de todos
nós uma só coisa, uma só família, um só povo, assim
como Ele é uma só coisa com o Pai. Por isso Ele se fez
um de nós, assumiu sobre si as nossas divisões e os
nossos pecados, pregando-os na cruz.
20. Ele mesmo indicou o caminho que haveria de percorrer para
levar-nos à unidade: “E quando eu for levantado da terra,
atrairei todos a mim” (Jo 12,32).
21. Como profetizou o sumo sacerdote, “Jesus iria morrer (...)
para reunir os filhos de Deus dispersos (Jo 11,52).
22. No seu mistério de morte e ressurreição, recapitulou tudo em
si (cf. Ef 1,10), restaurou a unidade rompida pelo pecado,
reconstituiu a família ao redor do Pai e nos fez novamente
irmãos e irmãs entre nós.
23. Jesus cumpriu a sua missão. Agora falta a nossa parte, a
nossa adesão, o nosso “sim” à sua oração:
25. Qual é a nossa contribuição à realização dessa oração?
26. Para começar, é assumi-la
como nossa. Podemos
emprestar a Jesus os lábios e
o coração, para que Ele
continue a dirigir essas
palavras ao Pai. E repetir todo
dia confiantes a sua oração. A
unidade é um dom do alto, que
devemos pedir com fé, sem
nos cansarmos jamais.
27. Além disso, ela deve permanecer constantemente à frente dos
nossos pensamentos e desejos. Se é esse o sonho de Deus,
queremos que seja também o nosso sonho.
28. De vez em quando, antes de qualquer decisão, de
qualquer escolha, de qualquer ação, poderíamos nos
perguntar: ela serve para construir a unidade? É a melhor
opção em vista da unidade?
29. E enfim, deveríamos correr para os lugares onde a desunião é
mais evidente, e abraçá-la, como fez Jesus. Podem ser
atritos na família ou entre pessoas que conhecemos, tensões
que se vivem no nosso bairro, desavenças no ambiente de
trabalho, na paróquia, entre as Igrejas.
30. Não fugir das discórdias e incompreensões, não ficar
indiferentes, mas levar o próprio amor, feito de
escuta, de atenção ao outro, de partilha dessa dor
que nasce daquela divisão.
31. E sobretudo viver em unidade com todos os que estão
dispostos a partilhar o ideal de Jesus e a sua oração, sem
dar peso a mal-entendidos ou a divergências de ideias.
Satisfazer-nos com o “menos perfeito em unidade” em vez
de pretender “o mais perfeito em desunião”,
32. aceitando com alegria as diferenças, ou melhor,
considerando-as uma riqueza para a unidade, uma unidade
que não deve jamais ser reduzida à uniformidade.
33. É verdade que às vezes isso nos crucificará, mas é justamente
esse o caminho que Jesus escolheu para restaurar a unidade
da família humana, o caminho que também nós queremos
trilhar com Ele.
34. Texto de Padre Fabio Ciardi OMI
Gráfica Anna Lollo em colaboração com padre Placido D’Omina (Sicília, Itália)
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«Que todos sejam um.»
(Jo 17, 21).