2. 1. O gado vai pela estrada mansamente em sua rota. A resignação inconsciente das
alimárias, que caminham com as suas cabeças oscilantes, transluz na vaga doçura
dos seus olhos dilatados.
2. “Vai o gado na estrada mansamente, rota segura e limpa, chã e larga... Na vaga
doçura dos olhos dilatados transluz a inconsciente resignação das alimárias, oscilantes
as cabeças”. (Rui Barbosa)
É possível observarmos sensíveis diferenças de ordem sintática e metafórica para
a representação da caminhada dos animais em marcha lentas.
Aqui estão alguns dos recursos que possibilitam a criação de uma realidade
artística, recursos que tomam nomes genéricos de figuras, tais quais “hipérbatos” e “elipses”.
A essas palavras tomadas no seu sentido próprio, com função estilística, que conferem
maior expressividade ao enunciado, damos o nome de FIGURAS DE LINGUAGEM.
OQUE ÉISSO?
Confrontemos estes dois trechos:
5. Tomenota:
COMP
ARAÇÃO
É uma figura de palavra que
consiste em estabelecer uma
relação de aproximação entre
dois termos da oração, a fim de
destacar a semelhança entre eles.
• Ela é bela como uma flor.
• Amo-a como se ama os passarinhos.
METÁFORA
uso da palavra fora do seu sentido
original e demonstra uma
semelhança entre os seres, que
não é claramente exposta. É uma
comparação subentendida.
• Ela é uma flor.
• Minha boca é um cadeado.
CATACRESE
uso de um termo já existente e
com significação própria em
outro sentido, por falta de
palavras que expressem o que
se quer dizer. É uma metáfora
desgastada pelo uso.
• O pé da mesa quebrou.
• Ela me ligou quando passou na
boca do túnel.
6. Tomenota:
METONÍMIA
Consiste na substituição de um termo por outro, por haver certa relação externa entre eles.
A metonímia pode ser de vários tipos:
a) A parte pelo todo:Você poderia me dar uma “mãozinha?”.
b) A marca pelo produto: Compre Bombril pra mim, por favor.
c) O abstrato pelo concreto: Era difícil resistir aos encantos daquela doçura.
d) O autor pela obra: Adoro ler Lígia Fagundes Telles.
e) O instrumento pela pessoa:Ele é bom de bola.
f) O singular pelo plural: O brasileiro tenta encontrar uma saída para a crise.
g) O continente pelo conteúdo: Gostaria de comer um prato de macarrão.
7. Tomenota:
SINESTESIA
Uma espécie de metáfora que consiste na união
de impressões sensoriais diferentes.
• O cheiro doce e verde do capim trazia
recordações da fazenda, para onde nunca mais
retornou. (cheiro = sensação olfativa; doce =
sensação gustativa; verde =sensação visual)
• Um doce abraço indicava que o pai desculpara.
(doce =sensação gustativa; abraço =tátil)
PERÍFRASE/ANTONOMÁSIA
Figura de linguagem em que um termo,
socialmente conhecido, é usado no lugar do
substantivo próprio, ou seja, substitui-se um
nome próprio por uma característica que o
tornou célebre. Em geral, usa-se perífrase para
nome de lugares e antonomásia para nomes
próprios.
• Quando era pequeno, amava a Rainha dos
baixinhos (Xuxa).
• Vivemos no Planeta Água.(T
erra).
9. Tomenota:
ANTÍTESE
Consiste em realçar uma ideia ou
um conceito por meio de palavras
de sentido oposto.
• Sua pintura é suave, sua vida é
intensa.
• Nada com Deus é tudo.
• A casa que ele fazia / Sendo a sua
liberdade / Era sua escravidão
(Vinícius de Morais)
P
ARADOXOouOXÍMORO
É o encontro de ideias com
sentidos opostos. São
pensamentos que se contradizem
formando um só núcleo de
expressão, diferenciando-se desta
forma da antítese.
• “Amor é fogo que arde sem se
ver/ É ferida que dói e não se
sente”.(Camões).
• “Que seja infinito enquanto dure”.
(Vinicius de Moraes)
IRONIA
Consiste em exprimir um conceito
contrário ao que se está pensando.
• Veja que belo serviço você fez:
manchou toda a minha roupa!
• O ministro foi sutil como uma
jamanta e fino como um
hipopótamo.
10. Tomenota:
EUFEMISMO
Expressão que substitui uma
palavra cujo sentido é
desagradável.
• Ele partiu dessa para uma
melhor.(morreu)
• Minha irmã não foi tão bem na
prova.(tirou nota baixa)
DISFEMISMO
Substituição de termos normais
por outros mais vulgares.
• Na hora do boião, comeu
desbragadamente.
(boião=refeição)
• Quem é que vai querer dançar
com um pintor de rodapé?
HIPÉRBOLE
Consiste em empregar uma
expressão exagerada.
• Chorei rios de lágrimas.
• Estou esperando há séculos a
minha mulher se trocar.
11. Tomenota:
PROSOPOPEIA
Consiste em atribuir características
de seres animados a seres
inanimados ou irracionais.
• A neblina, roçando o chão, cicia,
em prece.
• “O dia mente a cor da noite / E o
diamante a cor dos olhos / Os olhos
mentem dia e noite a dor da
gente.” (O Teatro Mágico)
GRADAÇÃO
Figura de linguagem que consiste
em apresentar algo de forma
gradativa, em ordem crescente ou
decrescente.
• “Mais dez, mais cem, mais mil e
mais um bilião, uns cingidos de luz,
outros ensanguentados.” (Machado
de Assis)
• “O trigo... nasceu, cresceu, espigou,
amadureceu, colheu-se.” (Padre
Antônio Vieira)
APÓSTROFE
Invocação ou interpelação que
se faz a alguém. Função
semelhante a do vocativo.
• “Pai, afasta de mim esse cálice,
Pai” (Chico Buarque de
Holanda)
• “Ó mar salgado, quanto do teu
sal / São lágrimas de Portugal.”
(Fernando Pessoa)
13. Tomenota:
HIPÉRBATOouANÁSTROFE
Alteração da ordem normal da
frase ou do enunciado, provocando
a inversão dos termos da oração.
• “Entre as nuvens do amor ela
dormia” (Álvaro de Azevedo);
• “Ouviram do Ipiranga as margens
plácidas / De um povo heroico o
brado retumbante, / E o sol da
liberdade, em raios fúlgidos, /
Brilhou no céu da pátria nesse
instante. (hino nacional brasileiro).
ELIPSE
Omissão de uma palavra ou mais,
identificável pelo contexto.
• “Na terra, tanta guerra, tanto
engano, tanta necessidade
aborrecida.” (Luís de Camões) (elipse
do verbo haver);
• À direita da estrada, sol, à esquerda,
chuva.(elipse do verbo estar);
• "Na rua deserta, nenhum sinal de
bonde." (Clarice Lispector). (elipse do
verbo haver).
ZEUGMA
Figura de sintaxe que consiste em
suprimir ou ocultar palavras
expressas anteriormente e que se
encontram subentendidas.
• “As quaresmas abriam a flor
depois do carnaval, os ipês em
junho.” (Rachel de Queiroz);
• "Levou seu retrato, / seu trapo,/
seu prato, / que papel! / Uma
imagem de São Francisco e um
bom disco de Noel" (Chico
Buarque).
14. Tomenota:
PLEONASMO
Figura de redundância ou
repetição; usado para dar mais
ênfase.
• “E rir meu riso e derramar meu
pranto.” (Vinícius de Moraes);
• "Olhei até ficar cansado/ De ver
os meus olhos no espelho”(Titãs);
• A ele resta-lhe a boa
oportunidade de provar sua
inocência.
ASSÍNDETO
Ausência de conjunção entre termos
ou orações.
• “Se o estúpido negar – insisto, falo,
discuto...” (Aluísio Azevedo);
• O cantor interpretava a canção, o
público vaiava. Ele insistia, o público
continuava. Ele parou, quebrou o
violão, saiu do palco.
POLISSÍNDETO
Repetição constante de uma
conjunção coordenativa entre
orações.
• Penso com os olhos e com os
ouvidos / E com as mãos e os
pés / E com o nariz e a boca.
(Fernando Pessoa)
• E falei, e gritei, e tentei, e
gesticulei e pedi ajuda, mas
ninguém parou para socorrer o
gato acidentado.
15. Tomenota:
ANÁFORA
Repetição de uma ou mais
palavras com posição fixa.
• “Vi os navios irem e
voltarem. / Vi os infelizes
irem e voltarem. / Vi os
homens obesos dentro do
fogo. / Vi ziguezagues na
escuridão.” (Jorge de Lima)
• “Ou se tem chuva e não se
tem sol / Ou se tem sol e
não se tem chuva” (Cecília
Meireles)
ANACOLUTO
Consiste na figura de
linguagem que quebra a
estrutura lógica da oração.
• Meu filho, não admito que
falem mal dele.
• Umas moedas velhas
caídas no fundo da gaveta,
nós descobrimos o seu
valor depois que o
colecionador as quis
comprar.
SILEPSE
Concordância feita com a ideia que se quer
transmitir – e não com os termos que aparecem
na oração.Há três tipos de silepse:
Gênero:
“Quanto a gente é novo, gosta de fazer bonito.”
(Guimarães Rosa);
Vossa Excelência ficou cansado com o discurso.
Número:
“O pobre povo da terra viviam quase como
índios.” (Rachel de Queiroz);
A família do réu procurou advogado e queriam
saber se ele poderia ficar em liberdade durante
o processo.
Pessoa:
“Em geral, os professores caímos nessa”. (Lucas
Gambarini);
Os brasileiros somos muito crédulos.
17. Tomenota:
som
ALITERAÇÃO
Repetição de um
consonantal.
• “Velho vento vagabundo! / No teu
rosnar sonolento / Leva ao longe
este lamento.” (Cruz e Souza);
• “Pedro Pedreiro penseiro
esperando o trem/ Manhã parece,
carece de esperar também/ Para
o bem de quem tem bem de
quem não tem vintém”.(Chico
Buarque);
ASSONÂNCIA
Consiste na repetição ordenada
de sons vocálicos idênticos.
• "Sou um mulato nato no sentido
lato mulato democrático do
litoral" (Caetano Veloso);
• “Rua / torta / Lua / morta / Tua /
porta” (Cassiano Ricardo).
ONOMATOPEIA
É uma figura de linguagem
que consiste na utilização de
uma palavra especial para
representar um som específico.
• Às cinco da manhã o galo
cantou:cocoricóóóóó.
• “Passa, tempo, tic-tac / Tic-tac,
passa, hora”. (Vinicius de
Moraes)