SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
Não é difícil reconhecer Maitê Schineider. De grandes olhos
azuis e cabelos pretos, não é somente pela beleza que ela chama
atenção: possuí uma sensibilidade extremamente transparente.
Presidente da ONG União Brasileira deTransexuais,e vice-presi-
dente do Núcleo dos Direitos Humanos do Movimento Pro-Pa-
raná,Maitê é vista,nos últimos anos,em cima de um trio elétrico,
animando as pessoas e convidando-as a participar da Parada da
Diversidade, evento realizado há cinco anos em Curitiba. Mas ela
não tem somente estes méritos para se destacar perante toda uma
sociedade que ainda é repleta de discriminação e preconceitos.
Hoje, com 33 anos, Maitê não se considera homossexual
e, sim, uma transexual. A diferença é que ela nasceu com uma
identidade de gênero diferente da que lhe foi imposta:uma cabeça
de mulher em um corpo perfeito de homem. Complicado? Nem
tanto. O transexual é enquadrado junto com a travesti na identi-
dade de gêneros diversas, diferente das que teve de nascimento.
A orientação sexual destes dois gêneros pode variar entre homo,
bi, heterossexual e ainda as assexuadas (não tem atuação sexual).
Desde criança, Maitê já sabia que era uma criança diferente
daquela que a família queria: nasceu Alexandre, ganhou roupas
azuis, bolas, carrinhos. E ainda se dava ao luxo de escolher quais
brinquedos queria, pois era o irmão do meio, tendo um outro
irmão mais velho, e uma irmã mais nova. Como criança inocente,
que não conhece a malícia adulta da clara distinção de sexos, é
claro que preferia brincar de fazer chazinho com a irmã.
Em relação à família,o pai sempre deixou claro que condenava
tudo quanto é tipo de homem que aparecia de tanga comemoran-
do o carnaval na televisão:“Ele dizia que tinha que colocar esses
homens no paredão e exterminar.E eu ficava com os olhos arrega-
lados de medo!”,lembra-se.Com 16 anos,começou a freqüentar
uma boate gay – e lembra-se que eram tempos complicados,pois a
maioria dos estabelecimentos eram escondidos – e claro,por ironia
do destino,uma amiga do irmão que acabou a vendo,contou para
o irmão,que contou para o pai.Este último veio tomar satisfações
e antes de responder, o então adolescente Alexandre pensou:“O
que eu tenho a perder? Se eu falar que fui, que era eu, vou levar
um tabefe na cara,e vou perder um quarto que tenho na casa dos
meus pais, vou ser mandado embora, vou começar minha vida. E
eu só tinha 16 anos.Não tinha nada construído mesmo”. Acabou
falando a verdade e, surpresa, viu que o pai aceitou compreensi-
velmente. E ainda hoje é seu maior anjo protetor.
O resto da família se fechou totalmente, recriminando o pai
com frases do estilo “você está apoiando esta sem-vergonhice,
incentivando que isso continue, isso não é correto.” A mãe foi a
principal pessoa contraria.“E eu achei que seria a principal a favor.
Ela falou que tinha vergonha de andar comigo na rua. E nesse
‘tenho vergonha’, é como se tivesse uma faca cortado o cordão
umbilical”,explica. A partir deste momento,ficaram 10 anos sem
se falar, desde os 16 até os 26 anos de idade.
Sensibilidade
ExtremaPOR a.baldini fotos a.baldini, KASS GRACIELA E WWW.CASADAMAITE.COM
A Parada da
Diversidade de
Curitiba teve a
concentração
em frente à
Universidade
FederaldoParaná
em 2005, com
umtotalde60mil
participantes.
Osorganizadores
do evento
esperam, para
esteano,umtotal
de70milpessoas.
social
36 2006 / 05/06
A REAPROXIMAÇÃO PELA WEB
	
Com o apoio do pai, Maitê começou a se
descobrir devagar: a primeira relação sexual foi
com 18 anos, quando estava bem definida na ca-
beça o queria, quem era e como queria seguir a
vida. Mas como toda pessoa, precisava trabalhar:
tinha boa aparência,simpatia,conseguia destacar-se
nas entrevistas de emprego. Mas na hora de levar
os documentos para o contrato de trabalho, era
sempre negado.“Sempre me diziam que iriam ligar,
e o telefone nunca tocava”.Então,o pai lhe deu um
computador.Começou a ganhar dinheiro digitando
teses e trabalhos escolares até que, em 1997, foi
apresentada à internet:“Fui para o chat, comecei
a descobrir páginas, saber das coisas sem ir para
a biblioteca e sem tomar chuva” E foi pela troca
de e-mails com pessoas que ela conheceu pela
rede,respondendo as curiosidades de sua própria
história,que decidiu montar um site pessoal.Com
o tempo, as perguntas começaram a ir mais além:
dúvidas em relação a este ou aquele problema,
conselhos, entre outros. No começo, respondia
e-mail por e-mail, ia atrás de respostas para os in-
ternautas.Começaram a se aproximar profissionais
como médicos e especialistas no assunto e,logo o
site se transformou em um portal direcionado para
o assunto, que trata não somente de sexualidade,
mas também de identidade, descobertas, entrete-
nimento e diversão.“É para a pessoa se sentir em
casa mesmo, permitindo que ela se abra, mesmo
que não queira estar se identificando”.
Lá pelo o ano de 2000,a mãe de Maitê ganhou
um computador.Logicamente,como todo coração
de mãe que ama, acessou o endereço virtual da
filha e começou a conhecer melhor a transexual
que tinha na web a história da sua vida como um
livro aberto. Depois de muitos acessos, começou
a conhecer realmente quem era a pessoa que
criou, que não se corrompeu com valores que
julgava errados e que, ainda por cima, ajudava as
pessoas.Claro que uma leve mágoa ainda habitava
no pensamento da senhorita Schineider de olhos
azuis, mas nada que uma boa conversa, pedido
de desculpas e lágrimas resolvessem. E ainda foi
além: a mãe de Maitê queria ajudá-la de alguma
forma. Então tiveram a idéia de criar uma seção
no site chamada “MãeVirtual”, na qual ela a ajuda
responder dúvidas de outros pais e anônimos que
tiveram o mesmo problema de discriminação que
ela teve no passado. Faz tanto sucesso, hoje, que
conta com a ajuda de mais quatro mães.
O site é um sucesso. Maitê o desenvolve so-
zinha e passa 14 horas na frente do computador,
respondendo mais de 200 e-mails por dia. Em seu
portal, é possível achar conteúdo claro sobre pais
que têm medo de diálogo com seus filhos,além de
“mostrar que é possível existir felicidade mesmo
remando contra uma sociedade que ainda discri-
mina muito,que é muito preconceituosa e que isso
tudo pode acontecer com qualquer
um”, complementa.
OS PROJETOS
PESSOAIS
	
Maitê estudou a vida inteira
em um colégio tradicionalíssimo de
Curitiba.Tentou Odontologia e não
passou, depois, tentou Direito na
Faculdade de Direito de Curitiba,
onde cursou 2 anos e meio, mas
trancou. “A faculdade era muito
conservadora. Eu tinha uma turma
maravilhosa, que me entendia, mas
com professores extremamente
cruéis,que não aceitavam me chamar
de Maitê porque na chamada estava
Alexandre.Acabei fazendo vestibular
em Letras na Federal e fui levando as
duas juntas. Mas como as faculdades
exigiam muito,e eu estava começan-
do a descobrir experiências pessoais
como namorar, acabei parando.”
Mas para quem pensa que ela
nada fez para crescer pessoalmente,
engana-se. Começou a trabalhar
como voluntária, ajudando pessoas
que sofreram o que ela passou,sendo
totalmente solidária, intercedendo
de maneira construtiva e positiva
nos projetos sociais de ONGs e
partidos políticos.“Então eu comecei
a ver que era disso que eu gostava,
pois não precisava de títulos para
ser alguém”.
A PARADA DA
DIVERSIDADE
Maitê interpretando a
prostitutaLudmillanapeça“O
Santo”, de
Edson Bueno.
Abaixo, Maitê e Beto Kaiser
naParadadaDiversidadede
2004 cujo tema foi a paz.
3705/06 / 2006
Um grande evento não é construído sozinho.A Parada da Diversidade
começou a ser realizada em Curitiba há cinco anos, organizada pela ONG
Impar 28 de Junho.A idéia não era somente fazer uma parada gay,pois o Impar
não atende somente os homossexuais, mas também negros, catadores de
papel,mulheres,ciganos,índios,entre outras minorias.A idéia é reunir todos
os que são discriminados pela sociedade e que sejam inseridos nesta forma
de protesto, na qual todas as bandeiras são levantadas para que a imprensa
os notem,nem que seja durante um único dia.“Há muito mais coisas que nos
unem do que nos separam e,nessa lógica,temos lutas semelhantes,um único
ideal de igualdade”, relata Maitê, que começou a convidar o povo na rua em
2000, juntamente com Beto Kaiser, presidente do Impar, sobre um salto alto
enorme e sob a clássica chuva de Curitiba. Uma grande vitória: mesmo de
capuzes, guarda-chuvas e até mesmo molhados, conseguiram sensibilizar 2
mil pessoas. No ano seguinte, 10 mil.
Nos anos seguintes, as pessoas já apareciam coloridas e outros movi-
mentos começaram a participar de maneira muito mais efetiva. Em 2005,
chegaram à marca de 60 mil participantes.“As pessoas não estavam ali por
causa de uma festa, de um carnaval de rua. Elas estavam representando uma
consciência de movimento, pois sabem que estavam fazendo a diferença”,
relata Maitê.“A Parada não é feita para aqueles 60 mil que estão ali - porque
estes são os felizardos, que já conseguem, mesmo com máscara, ou então
escondidos no canto da rua, estar presente e levantando o braço, dizendo
“estou com vocês, faço parte disso”.Todos que fazem a parada pensam nos
milhões que não podem estar lá por causa da sociedade,família,religião,medos
e preconceitos internos que elas têm consigo mesmas.Quando eu olho aquela
multidão na frente, eu olho milhões de invisíveis que estão encaixotados. É
muita responsabilidade! E este espaço sempre tem que continuar”, diz .
Maitê é assim:sofreu com o preconceito (até da própria mãe),mas nunca
se colocou no papel de vítima.O fato de,anos depois,a família ter aceitado sua
posição, ter pessoas que a amam e ter uma fonte de trabalho, não a fizeram
ficar acomodada, deixando de pensar no próximo. Pelo contrário, sensibili-
zou-a ainda mais, transparecendo com grande nitidez a sede de mudanças,
batalhando por uma causa, seja ela da nobreza e grandeza que for. “Eu acho
que, quando você trata as pessoas como iguais, respeitando as diferenças de
cada uma, aí é que você conhece amigos”, revela entusiasmada.
teatro realista
Maitê também se consagra como atriz.
Sua estréia teatral foi na peça deAlexandre
Linhares,intitulada“Jesus Pra Cristo” – uma
das mais polêmicas do Festival deTeatro de
Curitiba 2005 –,na qual representou Maria
(mãe de Jesus). No fim do mesmo ano,
Maitê estreou“O Santo”,dessa vez dirigida
por Edson Bueno. A peça conta a história
do escritor Ulisses e da prostituta Ludmilla
(Maitê).O texto é repleto de sadomasoquis-
mo e fetiches sexuais, além de apresentar
desejos homoeróticos de Santo Expedito,
um dos mais reverenciados pela cultura
popular. Atualmente, Maitê é a protago-
nista de “Febre”, com direção de Gerson
Delliano, peça que fez parte do Festival de
Teatro de Curitiba deste ano. Ambientada
em uma piscina, o enredo reflete regras e
normas que disciplinam vidas e relações,
abusando do simbolismo. Conta a história
de dois irmãos que ritualizam eternamente
o enterro de sua mãe. Com a chegada de
um parente distante, as três personagens
vão revelando aos poucos seus segredos,
angústias e desejos. Maitê interpreta Isabel,
mulher viajada que percorreu o mundo e
volta para trazer o que experimentou em
terras distantes. “Ela vive tentando achar
respostas às suas perguntas e dificilmente
as encontra. A aparição de Isabel na peça
é justamente para tentar responder suas
inquietações,bem como colocar os demais
personagens a pensar e refletir seus atos
repetidos”, explica Maitê.
Cenas de“Febre”, história contada
em uma piscina.
Parada de 2005:
Maitê (de saia
vermelha) no trio
elétrico incentiva
o respeito e a
dignidade, sendo
destaquedoevento
desde 2000.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

1 cartilha movimento feminista - imprimir
1 cartilha   movimento feminista - imprimir1 cartilha   movimento feminista - imprimir
1 cartilha movimento feminista - imprimirRozeluz
 
Curso Outros Olhares: Educação Antidiscriminatória
Curso Outros Olhares: Educação AntidiscriminatóriaCurso Outros Olhares: Educação Antidiscriminatória
Curso Outros Olhares: Educação AntidiscriminatóriaNtm Gravataí
 
A menina do vale bel pesce
A menina do vale   bel pesceA menina do vale   bel pesce
A menina do vale bel pescemarcio Vieira
 
Faça Acontecer
Faça AcontecerFaça Acontecer
Faça AcontecerMulher360
 
Bel Pesce: A Menina do Vale
Bel Pesce: A Menina do ValeBel Pesce: A Menina do Vale
Bel Pesce: A Menina do ValeStartupi
 

Mais procurados (8)

1 cartilha movimento feminista - imprimir
1 cartilha   movimento feminista - imprimir1 cartilha   movimento feminista - imprimir
1 cartilha movimento feminista - imprimir
 
Curso Outros Olhares: Educação Antidiscriminatória
Curso Outros Olhares: Educação AntidiscriminatóriaCurso Outros Olhares: Educação Antidiscriminatória
Curso Outros Olhares: Educação Antidiscriminatória
 
A menina do vale bel pesce
A menina do vale   bel pesceA menina do vale   bel pesce
A menina do vale bel pesce
 
Cadê o brincar?
Cadê o brincar?Cadê o brincar?
Cadê o brincar?
 
Faça Acontecer
Faça AcontecerFaça Acontecer
Faça Acontecer
 
Edicao4 web
Edicao4 webEdicao4 web
Edicao4 web
 
Bel Pesce: A Menina do Vale
Bel Pesce: A Menina do ValeBel Pesce: A Menina do Vale
Bel Pesce: A Menina do Vale
 
A meninado vale-belpesce
A meninado vale-belpesceA meninado vale-belpesce
A meninado vale-belpesce
 

Destaque

RQS 2006 - Expressões Urbanas - Especial
RQS 2006 - Expressões Urbanas - EspecialRQS 2006 - Expressões Urbanas - Especial
RQS 2006 - Expressões Urbanas - EspecialRicardo Baldini
 
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão Brasileira
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão BrasileiraRD 2014 - Receitas Alemãs na Versão Brasileira
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão BrasileiraRicardo Baldini
 
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdf
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdfAlvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdf
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdfSEDCAQUETA
 
Listadecotejofinal 160217005949
Listadecotejofinal 160217005949Listadecotejofinal 160217005949
Listadecotejofinal 160217005949Vaness Ilb
 
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE / janvier 2016
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE  / janvier 2016L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE  / janvier 2016
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE / janvier 2016contactOpinionWay
 
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...ProfessorPrincipiante
 
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo Caminho
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo CaminhoRQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo Caminho
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo CaminhoRicardo Baldini
 
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ru
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ruTargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ru
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ruTargetSummit
 
C#-MS SQL Programmer
C#-MS SQL ProgrammerC#-MS SQL Programmer
C#-MS SQL ProgrammerHarish Kumar
 
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...semrush_webinars
 
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Nikhil sai
 
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - Especial
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - EspecialRQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - Especial
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - EspecialRicardo Baldini
 

Destaque (19)

RQS 2006 - Expressões Urbanas - Especial
RQS 2006 - Expressões Urbanas - EspecialRQS 2006 - Expressões Urbanas - Especial
RQS 2006 - Expressões Urbanas - Especial
 
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão Brasileira
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão BrasileiraRD 2014 - Receitas Alemãs na Versão Brasileira
RD 2014 - Receitas Alemãs na Versão Brasileira
 
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdf
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdfAlvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdf
Alvaro ossamonrroy actividad1 2mapac.pdf
 
Bases de datos
Bases de datosBases de datos
Bases de datos
 
Maklumat pppb (1)
Maklumat pppb (1)Maklumat pppb (1)
Maklumat pppb (1)
 
Abilene Paradox
Abilene ParadoxAbilene Paradox
Abilene Paradox
 
Listadecotejofinal 160217005949
Listadecotejofinal 160217005949Listadecotejofinal 160217005949
Listadecotejofinal 160217005949
 
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE / janvier 2016
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE  / janvier 2016L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE  / janvier 2016
L'Observatoire +Simple des Indépendants et des TPE / janvier 2016
 
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...
LA INSERCION DOCENTE Y EL DESARROLLO DEL CONOCIMIENTO DEL PROFESOR EN LA UNIV...
 
10th Certificate.PDF
10th Certificate.PDF10th Certificate.PDF
10th Certificate.PDF
 
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo Caminho
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo CaminhoRQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo Caminho
RQS 2006 - Sistema Carcerário - Um Novo Caminho
 
Rosa lainez
Rosa lainezRosa lainez
Rosa lainez
 
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ru
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ruTargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ru
TargetSummit Moscow Meetip - Dmitry Krutitskiy Mail.ru
 
ITI CERTIFICATE.PDF
ITI CERTIFICATE.PDFITI CERTIFICATE.PDF
ITI CERTIFICATE.PDF
 
C#-MS SQL Programmer
C#-MS SQL ProgrammerC#-MS SQL Programmer
C#-MS SQL Programmer
 
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...
3 Steps to Turn Mobile Visitors into Customers Using Psychology and Personali...
 
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
Dc motor speed and direction contrlling using IR remote
 
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - Especial
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - EspecialRQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - Especial
RQS 2006 - Você Sabe O Que É Reciclável - Especial
 
Mapa ciclo de vida de un proyecto
Mapa ciclo de vida de un proyectoMapa ciclo de vida de un proyecto
Mapa ciclo de vida de un proyecto
 

Semelhante a A História de Sensibilidade e Luta de Maitê Schneider

Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens?
Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens? Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens?
Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens? Kerol Brombal
 
Atividades do filme
Atividades do filmeAtividades do filme
Atividades do filmeThallyane
 
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...Nathany Brito Rodrigues
 
Suicídio na adolescência
Suicídio na adolescência Suicídio na adolescência
Suicídio na adolescência Duda Grabin
 
Cartilha de Enfrentamento da Violência Doméstica
Cartilha de Enfrentamento da Violência DomésticaCartilha de Enfrentamento da Violência Doméstica
Cartilha de Enfrentamento da Violência DomésticaEliane Xavier
 
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdf
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdfNosso Lugar - Tabata Amaral.pdf
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdfssuser66a792
 
A revista pensare 01-09-2013
A revista pensare   01-09-2013A revista pensare   01-09-2013
A revista pensare 01-09-2013Elzimar Oliveira
 
A revista pensare 01-09-2013
A revista pensare   01-09-2013A revista pensare   01-09-2013
A revista pensare 01-09-2013Elzimar Oliveira
 
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptx
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptxl5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptx
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptxRenildoLima2
 
Jornal online - 2
Jornal   online - 2Jornal   online - 2
Jornal online - 2Fabio Rossi
 
Historia sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoHistoria sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoIdália Ribeiro
 
perfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queirosperfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queirosMaria_Papoila
 
cartilha sexualidade
 cartilha sexualidade cartilha sexualidade
cartilha sexualidadeSA Asperger
 
Pobres e Nojentas - número 4
Pobres e Nojentas  - número 4Pobres e Nojentas  - número 4
Pobres e Nojentas - número 4Pobres e Nojentas
 

Semelhante a A História de Sensibilidade e Luta de Maitê Schneider (20)

Dia 18 de maio
Dia 18 de maioDia 18 de maio
Dia 18 de maio
 
Bandeja a trecho
Bandeja a trechoBandeja a trecho
Bandeja a trecho
 
Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens?
Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens? Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens?
Livro Ser ou Crescer: Afinal, o que passa na cabeça desses jovens?
 
Atividades do filme
Atividades do filmeAtividades do filme
Atividades do filme
 
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...
Práticas abolicionistas em bibliotecas prisionais Ou Sugestões de critérios a...
 
Suicídio na adolescência
Suicídio na adolescência Suicídio na adolescência
Suicídio na adolescência
 
Cartilha de Enfrentamento da Violência Doméstica
Cartilha de Enfrentamento da Violência DomésticaCartilha de Enfrentamento da Violência Doméstica
Cartilha de Enfrentamento da Violência Doméstica
 
9º ano reda cem - 9.13
9º ano   reda cem - 9.13 9º ano   reda cem - 9.13
9º ano reda cem - 9.13
 
Inexistente Procurado
Inexistente ProcuradoInexistente Procurado
Inexistente Procurado
 
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdf
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdfNosso Lugar - Tabata Amaral.pdf
Nosso Lugar - Tabata Amaral.pdf
 
A revista pensare 01-09-2013
A revista pensare   01-09-2013A revista pensare   01-09-2013
A revista pensare 01-09-2013
 
A revista pensare 01-09-2013
A revista pensare   01-09-2013A revista pensare   01-09-2013
A revista pensare 01-09-2013
 
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptx
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptxl5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptx
l5-pemec-slides-formao-2019-abuso-f.pptx
 
REVISTA.pdf
REVISTA.pdfREVISTA.pdf
REVISTA.pdf
 
Jornal online - 2
Jornal   online - 2Jornal   online - 2
Jornal online - 2
 
Historia sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredoHistoria sida adriana figueiredo
Historia sida adriana figueiredo
 
perfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queirosperfil_natalia_queiros
perfil_natalia_queiros
 
cartilha sexualidade
 cartilha sexualidade cartilha sexualidade
cartilha sexualidade
 
Baleia azul
Baleia azulBaleia azul
Baleia azul
 
Pobres e Nojentas - número 4
Pobres e Nojentas  - número 4Pobres e Nojentas  - número 4
Pobres e Nojentas - número 4
 

Mais de Ricardo Baldini

RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anos
RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anosRD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anos
RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anosRicardo Baldini
 
RD 2015 - Cervejas de Inverno
RD 2015 - Cervejas de InvernoRD 2015 - Cervejas de Inverno
RD 2015 - Cervejas de InvernoRicardo Baldini
 
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das Peças
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das PeçasRQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das Peças
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das PeçasRicardo Baldini
 
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo Cheida
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo CheidaRQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo Cheida
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo CheidaRicardo Baldini
 
RQS 2006 - Entrevista com Zilda Arns
RQS 2006 - Entrevista com Zilda ArnsRQS 2006 - Entrevista com Zilda Arns
RQS 2006 - Entrevista com Zilda ArnsRicardo Baldini
 
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - Especial
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - EspecialRQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - Especial
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - EspecialRicardo Baldini
 

Mais de Ricardo Baldini (6)

RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anos
RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anosRD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anos
RD 2015 - Mestre Cervejeiro há 40 anos
 
RD 2015 - Cervejas de Inverno
RD 2015 - Cervejas de InvernoRD 2015 - Cervejas de Inverno
RD 2015 - Cervejas de Inverno
 
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das Peças
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das PeçasRQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das Peças
RQS 2006 - Gincana Ecológica na Isolada Ilha das Peças
 
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo Cheida
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo CheidaRQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo Cheida
RQS 2006 - Entrevista com Luiz Eduardo Cheida
 
RQS 2006 - Entrevista com Zilda Arns
RQS 2006 - Entrevista com Zilda ArnsRQS 2006 - Entrevista com Zilda Arns
RQS 2006 - Entrevista com Zilda Arns
 
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - Especial
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - EspecialRQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - Especial
RQS 2006 - Balanço Sobre a COP 8 MOP 3 da ONU - Especial
 

A História de Sensibilidade e Luta de Maitê Schneider

  • 1. Não é difícil reconhecer Maitê Schineider. De grandes olhos azuis e cabelos pretos, não é somente pela beleza que ela chama atenção: possuí uma sensibilidade extremamente transparente. Presidente da ONG União Brasileira deTransexuais,e vice-presi- dente do Núcleo dos Direitos Humanos do Movimento Pro-Pa- raná,Maitê é vista,nos últimos anos,em cima de um trio elétrico, animando as pessoas e convidando-as a participar da Parada da Diversidade, evento realizado há cinco anos em Curitiba. Mas ela não tem somente estes méritos para se destacar perante toda uma sociedade que ainda é repleta de discriminação e preconceitos. Hoje, com 33 anos, Maitê não se considera homossexual e, sim, uma transexual. A diferença é que ela nasceu com uma identidade de gênero diferente da que lhe foi imposta:uma cabeça de mulher em um corpo perfeito de homem. Complicado? Nem tanto. O transexual é enquadrado junto com a travesti na identi- dade de gêneros diversas, diferente das que teve de nascimento. A orientação sexual destes dois gêneros pode variar entre homo, bi, heterossexual e ainda as assexuadas (não tem atuação sexual). Desde criança, Maitê já sabia que era uma criança diferente daquela que a família queria: nasceu Alexandre, ganhou roupas azuis, bolas, carrinhos. E ainda se dava ao luxo de escolher quais brinquedos queria, pois era o irmão do meio, tendo um outro irmão mais velho, e uma irmã mais nova. Como criança inocente, que não conhece a malícia adulta da clara distinção de sexos, é claro que preferia brincar de fazer chazinho com a irmã. Em relação à família,o pai sempre deixou claro que condenava tudo quanto é tipo de homem que aparecia de tanga comemoran- do o carnaval na televisão:“Ele dizia que tinha que colocar esses homens no paredão e exterminar.E eu ficava com os olhos arrega- lados de medo!”,lembra-se.Com 16 anos,começou a freqüentar uma boate gay – e lembra-se que eram tempos complicados,pois a maioria dos estabelecimentos eram escondidos – e claro,por ironia do destino,uma amiga do irmão que acabou a vendo,contou para o irmão,que contou para o pai.Este último veio tomar satisfações e antes de responder, o então adolescente Alexandre pensou:“O que eu tenho a perder? Se eu falar que fui, que era eu, vou levar um tabefe na cara,e vou perder um quarto que tenho na casa dos meus pais, vou ser mandado embora, vou começar minha vida. E eu só tinha 16 anos.Não tinha nada construído mesmo”. Acabou falando a verdade e, surpresa, viu que o pai aceitou compreensi- velmente. E ainda hoje é seu maior anjo protetor. O resto da família se fechou totalmente, recriminando o pai com frases do estilo “você está apoiando esta sem-vergonhice, incentivando que isso continue, isso não é correto.” A mãe foi a principal pessoa contraria.“E eu achei que seria a principal a favor. Ela falou que tinha vergonha de andar comigo na rua. E nesse ‘tenho vergonha’, é como se tivesse uma faca cortado o cordão umbilical”,explica. A partir deste momento,ficaram 10 anos sem se falar, desde os 16 até os 26 anos de idade. Sensibilidade ExtremaPOR a.baldini fotos a.baldini, KASS GRACIELA E WWW.CASADAMAITE.COM A Parada da Diversidade de Curitiba teve a concentração em frente à Universidade FederaldoParaná em 2005, com umtotalde60mil participantes. Osorganizadores do evento esperam, para esteano,umtotal de70milpessoas. social 36 2006 / 05/06
  • 2. A REAPROXIMAÇÃO PELA WEB Com o apoio do pai, Maitê começou a se descobrir devagar: a primeira relação sexual foi com 18 anos, quando estava bem definida na ca- beça o queria, quem era e como queria seguir a vida. Mas como toda pessoa, precisava trabalhar: tinha boa aparência,simpatia,conseguia destacar-se nas entrevistas de emprego. Mas na hora de levar os documentos para o contrato de trabalho, era sempre negado.“Sempre me diziam que iriam ligar, e o telefone nunca tocava”.Então,o pai lhe deu um computador.Começou a ganhar dinheiro digitando teses e trabalhos escolares até que, em 1997, foi apresentada à internet:“Fui para o chat, comecei a descobrir páginas, saber das coisas sem ir para a biblioteca e sem tomar chuva” E foi pela troca de e-mails com pessoas que ela conheceu pela rede,respondendo as curiosidades de sua própria história,que decidiu montar um site pessoal.Com o tempo, as perguntas começaram a ir mais além: dúvidas em relação a este ou aquele problema, conselhos, entre outros. No começo, respondia e-mail por e-mail, ia atrás de respostas para os in- ternautas.Começaram a se aproximar profissionais como médicos e especialistas no assunto e,logo o site se transformou em um portal direcionado para o assunto, que trata não somente de sexualidade, mas também de identidade, descobertas, entrete- nimento e diversão.“É para a pessoa se sentir em casa mesmo, permitindo que ela se abra, mesmo que não queira estar se identificando”. Lá pelo o ano de 2000,a mãe de Maitê ganhou um computador.Logicamente,como todo coração de mãe que ama, acessou o endereço virtual da filha e começou a conhecer melhor a transexual que tinha na web a história da sua vida como um livro aberto. Depois de muitos acessos, começou a conhecer realmente quem era a pessoa que criou, que não se corrompeu com valores que julgava errados e que, ainda por cima, ajudava as pessoas.Claro que uma leve mágoa ainda habitava no pensamento da senhorita Schineider de olhos azuis, mas nada que uma boa conversa, pedido de desculpas e lágrimas resolvessem. E ainda foi além: a mãe de Maitê queria ajudá-la de alguma forma. Então tiveram a idéia de criar uma seção no site chamada “MãeVirtual”, na qual ela a ajuda responder dúvidas de outros pais e anônimos que tiveram o mesmo problema de discriminação que ela teve no passado. Faz tanto sucesso, hoje, que conta com a ajuda de mais quatro mães. O site é um sucesso. Maitê o desenvolve so- zinha e passa 14 horas na frente do computador, respondendo mais de 200 e-mails por dia. Em seu portal, é possível achar conteúdo claro sobre pais que têm medo de diálogo com seus filhos,além de “mostrar que é possível existir felicidade mesmo remando contra uma sociedade que ainda discri- mina muito,que é muito preconceituosa e que isso tudo pode acontecer com qualquer um”, complementa. OS PROJETOS PESSOAIS Maitê estudou a vida inteira em um colégio tradicionalíssimo de Curitiba.Tentou Odontologia e não passou, depois, tentou Direito na Faculdade de Direito de Curitiba, onde cursou 2 anos e meio, mas trancou. “A faculdade era muito conservadora. Eu tinha uma turma maravilhosa, que me entendia, mas com professores extremamente cruéis,que não aceitavam me chamar de Maitê porque na chamada estava Alexandre.Acabei fazendo vestibular em Letras na Federal e fui levando as duas juntas. Mas como as faculdades exigiam muito,e eu estava começan- do a descobrir experiências pessoais como namorar, acabei parando.” Mas para quem pensa que ela nada fez para crescer pessoalmente, engana-se. Começou a trabalhar como voluntária, ajudando pessoas que sofreram o que ela passou,sendo totalmente solidária, intercedendo de maneira construtiva e positiva nos projetos sociais de ONGs e partidos políticos.“Então eu comecei a ver que era disso que eu gostava, pois não precisava de títulos para ser alguém”. A PARADA DA DIVERSIDADE Maitê interpretando a prostitutaLudmillanapeça“O Santo”, de Edson Bueno. Abaixo, Maitê e Beto Kaiser naParadadaDiversidadede 2004 cujo tema foi a paz. 3705/06 / 2006
  • 3. Um grande evento não é construído sozinho.A Parada da Diversidade começou a ser realizada em Curitiba há cinco anos, organizada pela ONG Impar 28 de Junho.A idéia não era somente fazer uma parada gay,pois o Impar não atende somente os homossexuais, mas também negros, catadores de papel,mulheres,ciganos,índios,entre outras minorias.A idéia é reunir todos os que são discriminados pela sociedade e que sejam inseridos nesta forma de protesto, na qual todas as bandeiras são levantadas para que a imprensa os notem,nem que seja durante um único dia.“Há muito mais coisas que nos unem do que nos separam e,nessa lógica,temos lutas semelhantes,um único ideal de igualdade”, relata Maitê, que começou a convidar o povo na rua em 2000, juntamente com Beto Kaiser, presidente do Impar, sobre um salto alto enorme e sob a clássica chuva de Curitiba. Uma grande vitória: mesmo de capuzes, guarda-chuvas e até mesmo molhados, conseguiram sensibilizar 2 mil pessoas. No ano seguinte, 10 mil. Nos anos seguintes, as pessoas já apareciam coloridas e outros movi- mentos começaram a participar de maneira muito mais efetiva. Em 2005, chegaram à marca de 60 mil participantes.“As pessoas não estavam ali por causa de uma festa, de um carnaval de rua. Elas estavam representando uma consciência de movimento, pois sabem que estavam fazendo a diferença”, relata Maitê.“A Parada não é feita para aqueles 60 mil que estão ali - porque estes são os felizardos, que já conseguem, mesmo com máscara, ou então escondidos no canto da rua, estar presente e levantando o braço, dizendo “estou com vocês, faço parte disso”.Todos que fazem a parada pensam nos milhões que não podem estar lá por causa da sociedade,família,religião,medos e preconceitos internos que elas têm consigo mesmas.Quando eu olho aquela multidão na frente, eu olho milhões de invisíveis que estão encaixotados. É muita responsabilidade! E este espaço sempre tem que continuar”, diz . Maitê é assim:sofreu com o preconceito (até da própria mãe),mas nunca se colocou no papel de vítima.O fato de,anos depois,a família ter aceitado sua posição, ter pessoas que a amam e ter uma fonte de trabalho, não a fizeram ficar acomodada, deixando de pensar no próximo. Pelo contrário, sensibili- zou-a ainda mais, transparecendo com grande nitidez a sede de mudanças, batalhando por uma causa, seja ela da nobreza e grandeza que for. “Eu acho que, quando você trata as pessoas como iguais, respeitando as diferenças de cada uma, aí é que você conhece amigos”, revela entusiasmada. teatro realista Maitê também se consagra como atriz. Sua estréia teatral foi na peça deAlexandre Linhares,intitulada“Jesus Pra Cristo” – uma das mais polêmicas do Festival deTeatro de Curitiba 2005 –,na qual representou Maria (mãe de Jesus). No fim do mesmo ano, Maitê estreou“O Santo”,dessa vez dirigida por Edson Bueno. A peça conta a história do escritor Ulisses e da prostituta Ludmilla (Maitê).O texto é repleto de sadomasoquis- mo e fetiches sexuais, além de apresentar desejos homoeróticos de Santo Expedito, um dos mais reverenciados pela cultura popular. Atualmente, Maitê é a protago- nista de “Febre”, com direção de Gerson Delliano, peça que fez parte do Festival de Teatro de Curitiba deste ano. Ambientada em uma piscina, o enredo reflete regras e normas que disciplinam vidas e relações, abusando do simbolismo. Conta a história de dois irmãos que ritualizam eternamente o enterro de sua mãe. Com a chegada de um parente distante, as três personagens vão revelando aos poucos seus segredos, angústias e desejos. Maitê interpreta Isabel, mulher viajada que percorreu o mundo e volta para trazer o que experimentou em terras distantes. “Ela vive tentando achar respostas às suas perguntas e dificilmente as encontra. A aparição de Isabel na peça é justamente para tentar responder suas inquietações,bem como colocar os demais personagens a pensar e refletir seus atos repetidos”, explica Maitê. Cenas de“Febre”, história contada em uma piscina. Parada de 2005: Maitê (de saia vermelha) no trio elétrico incentiva o respeito e a dignidade, sendo destaquedoevento desde 2000.