SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
Baixar para ler offline
Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras
São Francisco do Conde (BA) | v.1, nº Especial | p.78-92 | dez. 2021
Análise do papel da mulher na poesia de Agostinho Neto (1922-1979) à
luz de teorias psicanalíticas
Fátima Sampaio Fernandes
https://orcid.org/0000-0001-7167-9952
Resumo: Neste artigo, pretendo tratar a problemática da presença da figura da mãe, em geral, e
da Mãe África, em particular, na poesia de Agostinho Neto. Quanto à metodologia utilizada, esta
pesquisa se baseou na análise da obra Trilogia Poética: Sagrada esperança, Renúncia
Impossível, Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009 da autoria de Agostinho
Neto, à luz de teorias psicanalíticas respeitantes à relação com o progenitor, nomeadamente o
complexo de Édipo. A análise permitiu perceber uma relação muito próxima do sujeito poético com
a mãe, metáfora de um continente violado por um pai-outro, o colono. É ao filho, sujeito poético,
que cabe a função de salvar a mãe e substituir o pai na liderança da nação. Da pesquisa se
conclui que a Grande Mãe África foi libertada pelos seus filhos, heróis e sábios, como António
Agostinho Neto tão bem cantou na sua poesia, onde encontramos toda a complexidade da relação
mãe/filho, da relação do homem com a terra, da relação do homem com o seu passado, da
relação do poeta com o seu legado, da relação do homem com a sua história e com as
expectativas e responsabilidades que recaem sobre ele.
Palavras-chave: Mãe; Mãe África; Complexo de Édipo; Colonização
Analysis of the role of women in the poetry of Agostinho Neto (1922-1979) in the light of
psychoanalytic theories
Abstract: In this article, I intend to deal with the issue of the presence of the mother figure, in
general, and Mother Africa, in particular, in the poetry of Agostinho Neto. As for the methodology
used, this research was based on the analysis of the book Poetic Trilogy: Sagrada Esperança,
Renunciation Impossível, Dawning, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009 by Agostinho
Neto, in the light of psychoanalytic theories concerning the relationship with the parent, namely the
Oedipus complex. The analysis allowed us to perceive a very close relationship between the poetic
subject and the mother, a metaphor for a continent violated by a father-other, the colonist. It is the
son, a poetic subject, who is responsible for saving the mother and replacing the father in the
leadership of the nation. From the research it is concluded that the Great Mother Africa was freed
by her children, heroes and sages, as António Agostinho Neto sang so well in his poetry, where we
find all the complexity of the mother/son relationship, of the relationship between man and the
earth, of the man's relationship with his past, the poet's relationship with his legacy, man's
relationship with his history and with the expectations and responsibilities that fall on him.
Keywords: Mom; Mother Africa; Oedipus complex; Colonization

é a Diretora da Biblioteca da Academia BAI e Professora de Comunicação do ISAF/Academia BAI. É a
Coordenadora de Teatro do ISAF e a Coordenadora do Consultório de Psicologia do ISAF/Academia BAI,
aqui em Luanda, Angola. Tem um doutoramento em Literatura Portuguesa Contemporânea pela
Universidade de Varsóvia, na Polônia, concluído em 2002, e duas licenciaturas: a primeira em ensino de
Português e Inglês, pela UTAD, em Portugal, e a segunda em Psicologia da Saúde pela ULA, em Angola.
É autora de várias obras poéticas e de banda desenhada; cocoordena a rubrica Consultório de Psicologia
da Rádio LAC e é responsável pela rubrica "Bem-estar Mental" do Jornal Mercado. Email:
ffernandes359@gmail.com
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
79
Analyse du rôle des femmes dans la poésie d'Agostinho Neto (1922-1979) à la lumière des
théories psychanalytiques
Résumé: Dans cet article, j'entends traiter la question de la présence de la figure maternelle, en
général, et de la Mère Afrique, en particulier, dans la poésie d'Agostinho Neto. Quant à la
méthodologie utilisée, cette recherche s'est basée sur l'analyse du livre Trilogie poétique : Sagrada
Esperança, Renonciation Impossível, Dawning, Luanda : União dos Escritores Angolanos, 2009
par Agostinho Neto, à la lumière des théories psychanalytiques concernant la relation avec le
parent, à savoir le complexe d' Odipe. L'analyse nous a permis de percevoir une relation très
étroite entre le sujet poétique et la mère, métaphore d'un continent violé par un père-autre, le
colon. C'est le fils, sujet poétique, qui est chargé de sauver la mère et de remplacer le père à la
direction de la nation. De la recherche, il est conclu que la Grande Mère Afrique a été libérée par
ses enfants, héros et sages, comme António Agostinho Neto l'a si bien chanté dans sa poésie, où
l'on retrouve toute la complexité de la relation mère/fils, de la relation entre l'homme et la terre, du
rapport de l'homme à son passé, du rapport du poète à son héritage, du rapport de l'homme à son
histoire et aux attentes et responsabilités qui lui incombent
Mots-Clés: Maman; Mère Afrique ; Complexe d'Oedipe; La colonisation
Introdução
Iniciamos o debate discutindo que a teoria psicanalítica data do séc.XIX, por meio
de estudos de um neurologista austríaco, Sigmund Freud que a partir da teoria conseguiu
descrever a etiologia de transtornos mentais para além de explicar a motivação humana.
Falando sobre a periodização de psicanálise, Zimerman (2007) divide-a em três:
psicanálise ortodoxa, psicanálise clássica e psicanálise contemporânea. Segundo o autor,
A psicanálise contemporânea, por sua vez, prioriza os vínculos –
emocionais e relacionais – de amor, ódio e conhecimento, que
permanentemente permeiam a dupla analítica. O modelo utilizado para
essa inter-relação analítica guarda semelhança (o que não quer dizer
igualdade) com aquele que caracteriza a primitiva relação da mãe com o
seu bebê, e vice-versa; assim, os psicanalistas atribuem uma importância
bastante mais significativa à influência da mãe real, no psiquismo da
criança. (ZIMERMAN, 2007, p.64).
A mulher, na poesia de Agostinho Neto, é representada como a companheira
amorosa (Lemba, do poema “Caminho do mato” – “caminho das flores/ flores do amor”); a
mulher embriagada e em busca de feitiço para prender o marido (em “Sábado nos
musseques”); a quitandeira que vende laranjas e que se vende (em “Quitandeira”); mas é,
acima de tudo, com muito maior frequência, prevalência, simbolismo e importância, a
mulher “Mãe” (assim mesmo, tantas vezes, com letra maiúscula).
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
80
É esta figura que trazemos hoje para análise e reflexão: a figura da mãe na poesia
de Agostinho Neto… e, porque se impôs na nossa análise, a figura do filho também!
Afinal, a relação mãe/filho é uma das relações mais profundas, complexas e definidoras
na psique de um indivíduo.
Vamos, pois, unir literatura e psicanálise na leitura da mãe na poesia de Agostinho
Neto, tanto numa perspectiva junguiana do arquétipo universal da Grande Mãe, como
numa visão freudiana de relação mãe/filho pessoal, individual, edipiana. Se a poesia de
Agostinho Neto carrega sentimentos de luta, de amor, de paz e harmonia social que pode
ser interpretada como mecanismo de defesa na qual Freu analisou. Freud valorizou,
sobretudo, o mecanismo defensivo da repressão (a defesa mais evidente nas pacientes
histéricas de que ele tratava), além de outras presentes nos quadros paranóides, como a
projeção, na psicopatologia das fobias e neuroses obsessivas, como deslocamento,
anulação, isolamento e formação reativa. (ZIMERMAN, 2007, p.65).
O conceito “mãe” traz-nos, desde logo, imagens, sensações, noções, recordações,
lembranças, angústias, alegrias, uma pontada no coração, talvez. Isto porque a palavra
está carregada de significados e simbolismo. Pensamos na nossa mãe, quer a tenhamos
conhecido, quer não, pensamos na nossa experiência individual, enquanto filhos,
enquanto mães, mas também nos apercebemos de que essa palavra carrega muito mais
que a nossa experiência individual, talvez até muito mais que a experiência humana (as
memórias “pré-humanas”, que Jung refere). Ora bem, “Carl Jung explica a recorrência
destes «fantasmas» vindos dos primórdios da existência humana como sendo arquétipos,
imagens que passam de geração em geração, que ultrapassam barreiras geográficas e
culturais, através (…) [do] inconsciente colectivo (…) [onde] se encontram as grandes
imagens primordiais, «as imagens humanas universais e originárias» [Jung, 1987, apud
Fernandes, 2006]” (FERNANDES, 2006).
Explicam-nos Catiana dos Santos e Sílvio Paradiso (2020) que “a ideia de mãe
sempre permeou a sociedade humana, criada e fortalecida através de um imaginário
coletivo e social, quiçá, consciente e inconsciente. Tal ideia, com o passar das eras, foi se
estabelecendo enquanto um arquétipo, desdobrando-se em ideias como «Grande Mãe» e
«Mãe-Terra». O continente africano assumiu metaforicamente a roupagem dessas
«mães», transformando-se na «Mãe África» (…) [figura recorrente] na cultura africana e
afro-diaspórica”.
Carl Jung debruçou-se sobre o arquétipo da Grande Mãe, apresentando-o como
um dos grandes modelos – atemporais, universais, pertencentes a um inconsciente
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
81
coletivo partilhado por todos os seres humanos, em todos os períodos – passados até nós
de geração em geração, desde tempos imemoriais.
Carl Jung também refere os arquétipos masculinos, nomeadamente o Herói, o Pai,
o Sábio, que são muito distintos da Grande Mãe, que gera, que cria, que nutre, que
alimenta, que cuida, que protege, mas também que devora os filhos (não permitindo o seu
crescimento e afastamento), e que espera, que sofre, que chora (se os filhos se afastam).
Os arquétipos materializam-se em símbolos, e é aí que reconhecemos e
identificamos os arquétipos. A Terra é um símbolo deste arquétipo da Grande Mãe, tal
como o é África, o princípio de tudo, o berço da humanidade, o local onde surgiu o
primeiro homem, a Grande Mãe de toda a humanidade, de todos os homens. África das
riquezas, da terra fértil, das minas cheias de ouros e diamantes, África-mulher, fecunda,
que gera, que frutifica, que nutre, que dá, que distribui.
Pires Laranjeira (1995, apud SANTOS E PARADISO) diz-nos: “a África se mitifica
como o grande continente de esplendorosas civilizações de onde irradiam para a diáspora
de todo o mundo e cuja terra se constitui na grande mater da raça negra e por isso são
comuns na poesia africana as expressões Mãe-África, Mãe-Terra e Mãe Negra”.
Atemporal e universal, o conceito de “Grande Mãe” é particularmente visível e explícito na
poesia de Neto, onde Mãe, África e Terra surgem recorrentemente interligadas.
África é Terra, território cultural e também político, que deverá ser reconquistado,
recuperado; e África é mãe, uma noção maior que a de território ou fronteiras desenhadas
no solo ou no papel, é a mãe que levou ao colo, que amamentou, que cantou, que
ensinou a dançar, que murmurou cânticos, que matou o mosquito, que lavou a ferida, é a
mãe dos poemas de Agostinho Neto1
:
Meia-noite na quitanda
(…)
Sá Domingas
Ela vende na quitanda à meia-noite
que o filho
está na estrada
precisa de cem mil réis
para pagar o imposto
O sol deixa Sá Domingas
1
Todos os poemas aqui citados foram retirados de NETO, Agostinho, Trilogia Poética: Sagrada esperança,
Renúncia Impossível, Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009. Todos os sublinhados
dos poemas apresentados neste artigo são meus.
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
82
na quitanda
e ela deixa o luar
Um tostão
dois tostões
três tostões
que o coração de Sá Domingas
sofre mais do que o corpo na quitanda.
Na obra de Zimerman (2007, p.104) desenvolve-se uma discussão profunda sobre
a “normalidade e patogenia da função materna”. Nas nove condições maternas
destacamos apenas três: (i) “Ser provedora das necessidades básicas do filho (de
sobrevivência física e psíquica: alimentos, agasalho, calor, amor, contato físico, etc.)”; (ii)
“A função de a mãe conter as aludidas cargas de identificações projetivas está sendo
reconhecida como a fundamental para a estruturação sadia da criança” e (iii) “presença
continuada da mãe que entende e atende essas necessidades básicas do bebê vai
propiciar para a criança um senso de continuidade, baseada na prazerosa sensação de
que ela continua a existir” (ZIMERMAN, 2007, p.104, grifos do autor).
A Mãe presta-se a todos os sacrifícios, em prol do bem-estar do seu filho. A Mãe,
na poesia de Neto, é a mãe que representa todas as mães; é a mãe negra, que carrega o
maior sofrimento de todos, o de ver o seu filho a ser levado ou a ter de partir contra a
vontade, o sofrimento de assistir, impotente, ao mal que é feito aos seus filhos:
SÁBADO NOS MUSSEQUES
(…)
Ansiedade
nas mães aos gritos
à procura dos filhos desaparecidos
(…)
Na mãe
que pergunta ao adivinho
se a filhinha se salvará
da pneumonia
na cubata
de velhas latas esburacadas
(…)
A Mãe que busca os seus filhos, aos gritos, é uma memória da terra, dos animais,
faz parte da memória de todos quantos povoam o planeta, e o seu grito ultrapassa o
tempo e todos os espaços e todas as espécies, dilacerante, angustiante, primitivo,
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
83
sagrado, divino. Essa memória resulta de uma educação. Para Jolibert (2010, p.16) “o
ponto de partida do pensamento de Freud sobre a educação situa-se na confluência de
dois questionamentos: um questionamento biológico e um questionamento histórico.” É
nesse questionamento historio onde se registra a memória que é fundamental para
compreender o passado e poderá perspectivar o futuro.
Há cientistas que defendem a inexistência do presente. O presente se torna
passado o tempo todo. Desta forma “a história individual infantil é marcante e seus traços
subsistem, indeléveis, no homem adulto. Essa primeira intuição foi sistematizada por
Freud em seus trabalhos iniciais ao rejeitar sucessivamente a explicação nervosa dos
transtornos mentais e ao refutar a suposição da neurose pela hereditariedade”
(JOLIBERT, 2010, p.16, grifos do autor).
Entretanto, analisando a presença da mãe na poesia de Agostinho Neto à luz de
Freud e do complexo de Édipo – Édipo que mata o seu pai, Laio, em combate, e casa
com Jocasta, sua mãe, sem saber – não poderíamos deixar de observar o papel deste
filho, o sujeito poético dos poemas de Agostinho Neto. Vejamos:
ADEUS À HORA DA LARGADA
Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis
Mas a vida
matou em mim essa mística esperança
Eu já não espero
sou aquele por quem se espera
Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
84
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz eléctrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos
Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura
Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.
Cá temos o filho do complexo de Édipo da mitologia grega e de Freud: o filho que
se apaixona pela mãe, por quem morrerá, se necessário for, e que lutará contra o pai,
para assumir a soberania, o destino. O filho que partiu “em busca de luz”, “em busca de
vida”, e que representa agora a esperança (“Sou eu, minha Mãe/ a esperança”). Como
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
85
Édipo, obrigado a afastar-se de sua mãe, o poeta também foi afastado para outro
continente, mas agora regressa a casa, para assumir a liderança da mesma.
Se a mãe é África, o pai será a Europa, potência colonizadora, violadora, invasiva,
violenta, estupradora:
ASSIM CLAMAVA, ESGOTADO
Não direi nada
Nunca fiz nada contra a vossa pátria
Mas vós apunhalastes a nossa
(…)
Contra este pai, que “apunhalaste a nossa [Mãe/ Pátria]”, o filho insurgir-se-á, para
salvar a mãe, para o substituir, para assumir o comando da nação. Essa ideia foi
expressa com veemência por Klein (1991 e 2002). Klein descobriu que a ansiedade
suscitada por essas primitivas relações de objeto pode exercer um a constante influência
nas posteriores e na forma do complexo de Édipo. Klein concluiu que o conflito entre
agressividade e libido, bem conhecido a partir da análise de adultos, provou ser muito
mais intenso nos estádios primitivos do desenvolvimento. Por outro lado, Klein notou que
não só a ansiedade (de acordo com a última teoria de Freud a respeito de ansiedade) é
devida mais à ação da agressividade do que à da libido, bem como que era
primariamente contra a agressividade e a ansiedade que as defesas eram erguidas.
(SEGAL, 1975, p.14). Vejamos o exemplo a seguir que demonstra as relações agressivas
entre o colonizado e o colono. Observa-se o desequilíbrio do bem estar entre os europeus
e africanas e há um clamor de liberdade. Vejamos os versos:
NA PELE DO TAMBOR
As mãos violentas insidiosamente batem
no tambor africano
e a pele percutida solta-me tam-tams gritantes
de sombras atléticas
à luz vermelha do fogo de após trabalho
Esmago-me da pele batida do tambor africano
vibro em sanguinolentas deturpações de mim mesmo
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
86
à vontade das percussões alcoólicas
sobre a pele esticada do meu cérebro
Onde estou eu? Quem sou eu?
Vibro no couro pelado do tambor festivo
em europas sorridentes de farturas e turismos
sobre a fertilização do suor negro
nas áfricas envelhecidas pela vergonha de serem áfricas
nas áfricas renovadas do brilho firme do sol e da transformação
sedosa e explosiva do universo
dentro do movimento de mim mesmo na vibração ritmada
da pele cerebral do tambor africano
ritmada para o esforço de dançar a dança suave das palmeiras
Vibro
em áfricas humanas de sons festivos e confusos
(que línguas pronunciais em mim irmãos
que não vos entendo neste ritmo?)
Nunca me pensei tão pervertido
ó impureza criminosa dos séculos coloniais
(que história é essa da lebre e da tartaruga
que contas neste novo ritmo de fogueira
à noite
minha avozinha de pele negra de África?)
Mas não tão longe nem tão pervertido
quanto as vibrações
da pele do meu cérebro
esticada no tambor das minhas mãos
pela África humana
(…)
Há, nos versos que acabamos de apresentar, uma luta interna: no interior do
sujeito poético, enquanto indivíduo, e no interior da sua comunidade, do seu povo, do seu
país, do continente africano: “que história é essa da lebre e da tartaruga (…) minha
avozinha de pele negra de África?”. África aparece subjugada pela narrativa colonial
secular (já na voz da “avozinha”), do “outro”, desse pai colonial estuprador de um
continente feminino, materno, Mãe África. A colonização torna-se mais perversa quando
transparece, apropriada, no discurso dos próprios africanos.
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
87
A resposta será encontrada pelo sujeito poético na “minha África (…) continente que
nasce fora dos abismos escurecidos da negação”:
(…)
As mãos entrelaçadas sobre mim
em gozo de vida em gargalhadas em alegrias
de lagos libertados por amplos verdes
para os mares
dão-me o tom da minha África
dos povos negros do continente que nasce
fora dos abismos escurecidos da negação
ao lado de ritmos de dedos congestionados
sobre a pele envelhecida do tambor
dentro do qual vivo e vibro e clamo:
AVANTE!
Esta é uma luta que se impõe no processo de autonomização do indivíduo, do
homem e de um povo! Como a psicanálise nos ensina, esse caminho é duro, cheio de
dor, luta, sacrifícios, mas imparável. O corte com o pai, a rivalidade, agudiza-se mais
ainda quando a figura paterna é a de uma entidade opressora, subjugadora, que toma a
“Mãe” pela força, pela violência. Só o filho a poderá salvar, com uma nova narrativa,
buscada n’ “o tom da minha África/ dos povos negros”, no tom, na voz de um continente
que insiste em levantar-se “fora dos abismos escurecidos da negação”, na voz genuína de
quem conhece a sua origem e celebra as suas raízes, feita de rimos, tambores,
gargalhadas, verdes e mares.
A esperança de libertação, de recuperação da essência materna, da alma deste
povo, é trazida pelo homem, “aquele por quem se espera”. O filho homem, o guerreiro que
vai em busca de liberdade:
CONFIANÇA
(…)
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
mereço o meu pedaço de pão.
Ou mesmo:
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
88
AQUI NO CÁRCERE
(…)
Aqui no cárcere
a raiva contida no peito
espero pacientemente
o acumular das nuvens
ao sopro da História
Ninguém
Impedirá a chuva.
O filho surge como aquele que resgatará a Mãe, a salvará, recuperando a sua
dignidade e a sua grandeza, resgatando a sacralidade da terra, da “Mãe África”:
À RECONQUISTA
Não te voltes demasiado para ti mesma
Não te feches no castelo das lucubrações infinitas
Das recordações e sonhos que podias ter vivido
Vem comigo África de calças de fantasia
desçamos à rua
e dancemos a dança fatigante dos homens
o batuque simples das lavadeiras
ouçamos o tam-tam angustioso
enquanto os corvos vigiam os vivos
esperando que se tornem cadáveres
vem comigo África dos palcos acidentais
descobrir o mundo real
onde os milhões se irmanam na mesma miséria
atrás das fachadas de democracia de cristianismo de igualdade
Vem comigo África de colchões de molas
e reentremos na casinha de latas esquecidas no musseque da Boavista
até onde já nos empurram
ao nos quebrarem as casas de meia água de Cayette
e à volta de fogo consolador das nossas aspirações mais justas
examinaremos a injustiça inoculada no sistema vivo em que giramos.
Vem comigo África de colchões de esmola
regressemos à nossa África
onde temos um pedaço da nossa carne calcado sob as botas dos magala
– a nossa África
Vem comigo África do jitterburg
até a terra até o homem até o fundo de nós
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
89
ver quando de ti e de mim faltou
quanto da África esqueceu
e morreu na nossa pele mal coberta sob o fato emprestado
pelo mais miserável dos ex-fidalgos
Não chores África dos que partiram
olhemos claros para os ombros encurvados do povo que desce a calçada
negro negro de miséria negro de frustração negro de ânsia
e dêmos-lhes o coração
entreguemo-nos
através da fome da prostituição das cubatas esfuracadas
das chanfalhadas dos cipaios
através dos muros das prisões através da Grande Injustiça
Ninguém nos fará calar
Ninguém nos poderá impedir
O sorriso dos nossos lábios não é agradecimento pela morte
com que nos matam.
Vamos com toda a Humanidade
Conquistar o nosso mundo e a nossa Paz.
O sujeito poético é Édipo Rei, e é também o filho que se afasta da Mãe
devoradora, o lado sombrio do arquétipo junguiano, que não permite o crescimento do
filho. [Neumann (1995, apud Olsen, 2018) explica que o arquétipo da Grande Mãe é “uma
das fases no desenvolvimento progressivo do ego”, onde temos a criança pequena que a
mãe cuida e alimenta, da qual o ego se irá separando e o indivíduo assumindo autonomia.
Assistimos à regressão quando indivíduo é tentado a regressar à libido, que sempre
acompanha os efeitos arquetípicos da Grande Mãe]. É preciso independência, heroísmo,
para se trilhar um caminho autônomo, como faz o sujeito poético de Neto.
Para terminar, recordemos o poema “Havemos de voltar”, de Agostinho Neto, onde
o filho anuncia a salvação da Mãe do jugo imperial e o regresso ao seio da mesma, Mãe
Terra, Mãe África, Mãe Angola, riquíssima, fértil, imensa, plena, sagrada:
HAVEMOS DE VOLTAR
Às casas, às nossas lavras
às praias, aos nossos campos
havemos de voltar
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
90
às nossas terras
vermelhas do café
brancas do algodão
verdes dos milharais
havemos de voltar
às nossas minas de diamantes
ouro, cobre, de petróleo
havemos de voltar
Aos nossos rios, nossos lagos
Às montanhas, às florestas
Havemos de voltar
À frescura da mulemba
às nossas tradições
aos ritmos e às fogueiras
havemos de voltar
À marimba e ao quissangue
ao nosso carnaval
havemos de voltar
À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
Havemos de voltar
Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente
A Grande Mãe África foi libertada pelos seus filhos, heróis e sábios, como António
Agostinho Neto tão bem cantou na sua poesia, onde encontramos toda a complexidade
da relação mãe/filho, da relação do homem com a terra, da relação do homem com o seu
passado, da relação do poeta com o seu legado, da relação do homem com a sua história
e com as expectativas e responsabilidades que recaem sobre ele.
Como pudemos ver, a poesia de Agostinho Neto canta, reiteradamente, a figura da
Mãe, que representa a sua pátria e, de forma mais alargada, o continente africano.
Violada pelo colono, Mãe África viu os seus filhos arrancados do seu seio, escravizados,
subjugados, exilados, torturados, mortos. Mesmo longe, os filhos podiam ouvir o pranto
angustiado da sua mãe, da sua terra, violentada, usada e explorada pelo outro, o colono,
a figura patriarcal por excelência. Ao filho só lhe resta a luta armada, o regresso à terra,
para matar/derrotar/expulsar o pai e ocupar o lugar de chefe legítimo da sua nação, nova
e soberana. Como Édipo Rei, o sujeito poético luta com o pai e ocupa, finalmente, depois
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
91
de séculos de opressão, o lugar inevitável ao lado de sua mãe, governando a terra, o
reinado que lhe pertence por direito, e do qual havia sido afastado, rejeitado, largado para
morrer.
Na poesia de Agostinho Neto, assistimos ao filho que se faz homem e que
regressa para governar, não deixando nunca de assegurar ao seu povo e à sua sofrida
Mãe Pátria de que nada, mesmo nada, o poderá parar, já que “Ninguém impedirá a
chuva”!
Referências
FERNANDES, Fátima. A bruxa e a poesia, Luanda: Chá de Caxinde, 2006.
FREUD, Sigmund. Um caso de histeria, três ensaios sobre sexualidade e outros trabalhos
(1901-1905), Rio de Janeiro: Imago, 1969.
FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos, Porto Alegre: L&PM Editores, 2012.
JOLIBERT, Bernard. Sigmund Freud. Trad. Elaine Teresinha Dal Mas Dias. Recife:
Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4683.pdf>. Acesso em: 22 dez.
2021.
KLEIN, M.. Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991.
KLEIN, Melanie. O gênio feminino: a vida, a loucura, as palavras Tomo II. Rio de Janeiro:
Rocco, 2002.
NETO, António Agostinho. Trilogia Poética: Sagrada Esperança, Renúncia Impossível,
Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009.
OLSEN, Monique (2018), Grande Mãe, 2018. Disponível em:
https://www.ligajunguiana.co.br/post/grande-mãe. Acesso em: 15 dez. 2021.
RODRIGUES, José Paz. Agostinho Neto, poeta, médico e importante político angolano.
15 jan.2020. (Fonte da Foto). Disponível em: <https://pgl.gal/agostinho-neto-poeta-
medico-politico-angolano/>. Acesso em: 22 dez. 2021.
SANTOS, Catarina Sampaio dos; PARADISO, Sílvio Ruiz, “A África-mãe, a Mãe Angola: o
arquétipo materno na poesia de Agostinho Neto, Viriato da Cruz e Alda Lara”, Revista
África e Africanidades – Ano XII – n.º 33, Fev. 2020.
SEGAL, Hanna. Introdução À Obra De Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago Editora
LTDA, 1975. Disponível em: <https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/introducao-a-obra-
de-Melanie-Klein.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2021.
Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto...
92
ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre:
Artmed, 2007. Disponível em: <https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/Zimerman-
Fundamtnos-psicanaliticos.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2021.
Recebido em: 11/10/2021
Aceito em: 23/12/2021
Para citar este texto (ABNT): FERNANDES, Fátima Sampaio. A mulher na poesia de Agostinho
Neto. Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São
Francisco do Conde (BA), vol.1, nº Especial, p.78-92, dez.2021.
Para citar este texto (APA): Fernandes, Fátima Sampaio. (2021, dez.). A mulher na poesia de
Agostinho Neto. Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco
do Conde (BA), 1 (Especial): 78-92.
Njinga & Sepé: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbach
Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbachArtigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbach
Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbachCarlos Magalhães
 
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio públicoPoemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio públicoLinTrab
 
Rosangela mantolvani
Rosangela mantolvaniRosangela mantolvani
Rosangela mantolvaniliterafro
 
Modulo 1 conhecendo a literatura pronto
Modulo 1 conhecendo a literatura prontoModulo 1 conhecendo a literatura pronto
Modulo 1 conhecendo a literatura prontostuff5678
 
Maria helena de_ moura_arias
Maria helena de_ moura_ariasMaria helena de_ moura_arias
Maria helena de_ moura_ariasGladis Maia
 
Literatura no ENEM
Literatura no ENEMLiteratura no ENEM
Literatura no ENEMYasmin Matos
 
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...Elaine Teixeira
 
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 Recontarhistoriasereinventarmemorias Recontarhistoriasereinventarmemorias
RecontarhistoriasereinventarmemoriasNegrafrancis Francis
 
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria feminina
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria femininaVestígios do folhetim em dois romances de autoria feminina
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria femininaPantanal Editoral
 
07 artigo marcia_froehlich
07 artigo marcia_froehlich07 artigo marcia_froehlich
07 artigo marcia_froehlichEquipemundi2014
 

Mais procurados (19)

Mayombe
MayombeMayombe
Mayombe
 
4180 13908-1-pb
4180 13908-1-pb4180 13908-1-pb
4180 13908-1-pb
 
Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbach
Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbachArtigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbach
Artigos livres 23.3_memorias_de_emilia_mail_marques_azevedo_samara_roggenbach
 
Mayombe
MayombeMayombe
Mayombe
 
APOSTILA DE LITERATURA
APOSTILA DE LITERATURAAPOSTILA DE LITERATURA
APOSTILA DE LITERATURA
 
Mayombe
MayombeMayombe
Mayombe
 
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio públicoPoemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público
Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público
 
Revista literatas edição 10
Revista literatas   edição 10Revista literatas   edição 10
Revista literatas edição 10
 
Rosangela mantolvani
Rosangela mantolvaniRosangela mantolvani
Rosangela mantolvani
 
Modulo 1 conhecendo a literatura pronto
Modulo 1 conhecendo a literatura prontoModulo 1 conhecendo a literatura pronto
Modulo 1 conhecendo a literatura pronto
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Maria helena de_ moura_arias
Maria helena de_ moura_ariasMaria helena de_ moura_arias
Maria helena de_ moura_arias
 
Kandjimbo
KandjimboKandjimbo
Kandjimbo
 
Literatura no ENEM
Literatura no ENEMLiteratura no ENEM
Literatura no ENEM
 
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...
Da contribuição nebrijiana à variante linguística: castelhano e espanhol uma ...
 
11176 42038-1-pb
11176 42038-1-pb11176 42038-1-pb
11176 42038-1-pb
 
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 Recontarhistoriasereinventarmemorias Recontarhistoriasereinventarmemorias
Recontarhistoriasereinventarmemorias
 
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria feminina
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria femininaVestígios do folhetim em dois romances de autoria feminina
Vestígios do folhetim em dois romances de autoria feminina
 
07 artigo marcia_froehlich
07 artigo marcia_froehlich07 artigo marcia_froehlich
07 artigo marcia_froehlich
 

Semelhante a Análise do papel da mulher na poesia de Agostinho Neto (1922-1979) à luz de teorias psicanalíticas

RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62
RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62
RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62Michel Itakura
 
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividadeUFMA Universidade Federal do Maranhão
 
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espanca
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espancaDissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espanca
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espancaletraefel
 
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...REVISTANJINGAESEPE
 
Mitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaMitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaLígia Lima
 
A criança é performer
A criança é performer  A criança é performer
A criança é performer piaprograma
 
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 16385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1Cristiano Souza
 
Wole soyinka e o ciclo da existência
Wole soyinka e o ciclo da existênciaWole soyinka e o ciclo da existência
Wole soyinka e o ciclo da existênciatyromello
 
Aula 1 A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicação
Aula 1   A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicaçãoAula 1   A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicação
Aula 1 A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicaçãoFábio Fonseca de Castro
 
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)Diego Penha
 
GêNeros LiteráRios
GêNeros LiteráRiosGêNeros LiteráRios
GêNeros LiteráRioshsjval
 
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdams
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdamsCriando nossos mitos: a perspectiva de McAdams
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdamsGiba Canto
 
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660Leandro (Inpes-Uscs)
 

Semelhante a Análise do papel da mulher na poesia de Agostinho Neto (1922-1979) à luz de teorias psicanalíticas (20)

RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62
RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62
RPC inovando com o uso de celulares em reportagens p. 57-62
 
Fp
FpFp
Fp
 
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
505. fenomenologia da literatura de auto ajuda financeira e subjetividade
 
Alteridade e filosofia
Alteridade e filosofiaAlteridade e filosofia
Alteridade e filosofia
 
Mitos e-ritos
Mitos e-ritosMitos e-ritos
Mitos e-ritos
 
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espanca
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espancaDissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espanca
Dissertação vozes femininas a polifonia arquetípica em florbela espanca
 
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...
Negritude, nação e retratos da mãe África em poemas de Noémia de Sousa e Agos...
 
Mitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto cremaMitos e ritos roberto crema
Mitos e ritos roberto crema
 
A criança é performer
A criança é performer  A criança é performer
A criança é performer
 
Praxis e Poesis: ações humanas, demasiado humanas
Praxis e Poesis: ações humanas, demasiado humanasPraxis e Poesis: ações humanas, demasiado humanas
Praxis e Poesis: ações humanas, demasiado humanas
 
Familia psicopedagogia-e-pos-modernidade
Familia psicopedagogia-e-pos-modernidadeFamilia psicopedagogia-e-pos-modernidade
Familia psicopedagogia-e-pos-modernidade
 
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 16385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1
6385442 teoria-antropologica-do-imaginario 1
 
Wole soyinka e o ciclo da existência
Wole soyinka e o ciclo da existênciaWole soyinka e o ciclo da existência
Wole soyinka e o ciclo da existência
 
Aula 1 A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicação
Aula 1   A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicaçãoAula 1   A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicação
Aula 1 A fenomenologia e o horizonte da pesquisa em comunicação
 
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
O cinema como lembrança encobridora (Psicanálise, História e Cinema)
 
GêNeros LiteráRios
GêNeros LiteráRiosGêNeros LiteráRios
GêNeros LiteráRios
 
14170
1417014170
14170
 
Jose flavio 2
Jose flavio 2Jose flavio 2
Jose flavio 2
 
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdams
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdamsCriando nossos mitos: a perspectiva de McAdams
Criando nossos mitos: a perspectiva de McAdams
 
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660
Dialnet o brincar-umapercepcao-3694660
 

Mais de REVISTANJINGAESEPE

Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (Cuanhama
Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (CuanhamaAntologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (Cuanhama
Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (CuanhamaREVISTANJINGAESEPE
 
Enraizando Sonhos, Silene Capensis
Enraizando Sonhos, Silene CapensisEnraizando Sonhos, Silene Capensis
Enraizando Sonhos, Silene CapensisREVISTANJINGAESEPE
 
Registros sobre mulheres surdas na História
 Registros sobre mulheres surdas na História Registros sobre mulheres surdas na História
Registros sobre mulheres surdas na HistóriaREVISTANJINGAESEPE
 
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...REVISTANJINGAESEPE
 
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...REVISTANJINGAESEPE
 
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...REVISTANJINGAESEPE
 
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em Angola
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em AngolaDinâmica das formas de tratamento no português veiculado em Angola
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em AngolaREVISTANJINGAESEPE
 
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...REVISTANJINGAESEPE
 
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...REVISTANJINGAESEPE
 
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em Ciwutee
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em CiwuteeEstratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em Ciwutee
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em CiwuteeREVISTANJINGAESEPE
 
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em Moçambique
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em MoçambiqueEnsino bilíngue e escrita da língua portuguesa em Moçambique
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em MoçambiqueREVISTANJINGAESEPE
 
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...REVISTANJINGAESEPE
 
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...REVISTANJINGAESEPE
 
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de Angola
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de AngolaAspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de Angola
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de AngolaREVISTANJINGAESEPE
 
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...REVISTANJINGAESEPE
 
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)REVISTANJINGAESEPE
 

Mais de REVISTANJINGAESEPE (16)

Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (Cuanhama
Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (CuanhamaAntologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (Cuanhama
Antologia de Poesia moderna em Oshikwanyama (Cuanhama
 
Enraizando Sonhos, Silene Capensis
Enraizando Sonhos, Silene CapensisEnraizando Sonhos, Silene Capensis
Enraizando Sonhos, Silene Capensis
 
Registros sobre mulheres surdas na História
 Registros sobre mulheres surdas na História Registros sobre mulheres surdas na História
Registros sobre mulheres surdas na História
 
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...
A concepção, o tratamento e divulgação de notícias para a comunidade surda na...
 
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...
Reflexão sobre as dificuldades de ensino/aprendizagem do português em context...
 
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...
La dramatización, una técnica para el desarrollo de las habilidades sociales ...
 
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em Angola
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em AngolaDinâmica das formas de tratamento no português veiculado em Angola
Dinâmica das formas de tratamento no português veiculado em Angola
 
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...
A Influência do Cokwe na colocação de pronomes clíticos no português falado p...
 
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...
Fonologia prosódica do xiChangana: Uma análise do tom, sua propagação e restr...
 
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em Ciwutee
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em CiwuteeEstratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em Ciwutee
Estratégias de concordância de sintagmas nominais complexos em Ciwutee
 
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em Moçambique
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em MoçambiqueEnsino bilíngue e escrita da língua portuguesa em Moçambique
Ensino bilíngue e escrita da língua portuguesa em Moçambique
 
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...
A instituição do português como a única língua de ensino-aprendizagem na Guin...
 
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...
Descripción del gentilicio en las lenguas de Senegal: con ejemplos del mancañ...
 
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de Angola
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de AngolaAspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de Angola
Aspectos socio-históricos dos povos !kung (khoisan) de Angola
 
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...
Écriture représentative de l ‘héroïne «Tahoser» dans Le roman de la momie de ...
 
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)
Trajetória político de António Agostinho Neto (1947-1975)
 

Último

JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - DissertaçãoMaiteFerreira4
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdfAna Lemos
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 

Último (20)

JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
análise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertaçãoanálise de redação completa - Dissertação
análise de redação completa - Dissertação
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdfA QUATRO MÃOS  -  MARILDA CASTANHA . pdf
A QUATRO MÃOS - MARILDA CASTANHA . pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 

Análise do papel da mulher na poesia de Agostinho Neto (1922-1979) à luz de teorias psicanalíticas

  • 1. Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras São Francisco do Conde (BA) | v.1, nº Especial | p.78-92 | dez. 2021 Análise do papel da mulher na poesia de Agostinho Neto (1922-1979) à luz de teorias psicanalíticas Fátima Sampaio Fernandes https://orcid.org/0000-0001-7167-9952 Resumo: Neste artigo, pretendo tratar a problemática da presença da figura da mãe, em geral, e da Mãe África, em particular, na poesia de Agostinho Neto. Quanto à metodologia utilizada, esta pesquisa se baseou na análise da obra Trilogia Poética: Sagrada esperança, Renúncia Impossível, Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009 da autoria de Agostinho Neto, à luz de teorias psicanalíticas respeitantes à relação com o progenitor, nomeadamente o complexo de Édipo. A análise permitiu perceber uma relação muito próxima do sujeito poético com a mãe, metáfora de um continente violado por um pai-outro, o colono. É ao filho, sujeito poético, que cabe a função de salvar a mãe e substituir o pai na liderança da nação. Da pesquisa se conclui que a Grande Mãe África foi libertada pelos seus filhos, heróis e sábios, como António Agostinho Neto tão bem cantou na sua poesia, onde encontramos toda a complexidade da relação mãe/filho, da relação do homem com a terra, da relação do homem com o seu passado, da relação do poeta com o seu legado, da relação do homem com a sua história e com as expectativas e responsabilidades que recaem sobre ele. Palavras-chave: Mãe; Mãe África; Complexo de Édipo; Colonização Analysis of the role of women in the poetry of Agostinho Neto (1922-1979) in the light of psychoanalytic theories Abstract: In this article, I intend to deal with the issue of the presence of the mother figure, in general, and Mother Africa, in particular, in the poetry of Agostinho Neto. As for the methodology used, this research was based on the analysis of the book Poetic Trilogy: Sagrada Esperança, Renunciation Impossível, Dawning, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009 by Agostinho Neto, in the light of psychoanalytic theories concerning the relationship with the parent, namely the Oedipus complex. The analysis allowed us to perceive a very close relationship between the poetic subject and the mother, a metaphor for a continent violated by a father-other, the colonist. It is the son, a poetic subject, who is responsible for saving the mother and replacing the father in the leadership of the nation. From the research it is concluded that the Great Mother Africa was freed by her children, heroes and sages, as António Agostinho Neto sang so well in his poetry, where we find all the complexity of the mother/son relationship, of the relationship between man and the earth, of the man's relationship with his past, the poet's relationship with his legacy, man's relationship with his history and with the expectations and responsibilities that fall on him. Keywords: Mom; Mother Africa; Oedipus complex; Colonization  é a Diretora da Biblioteca da Academia BAI e Professora de Comunicação do ISAF/Academia BAI. É a Coordenadora de Teatro do ISAF e a Coordenadora do Consultório de Psicologia do ISAF/Academia BAI, aqui em Luanda, Angola. Tem um doutoramento em Literatura Portuguesa Contemporânea pela Universidade de Varsóvia, na Polônia, concluído em 2002, e duas licenciaturas: a primeira em ensino de Português e Inglês, pela UTAD, em Portugal, e a segunda em Psicologia da Saúde pela ULA, em Angola. É autora de várias obras poéticas e de banda desenhada; cocoordena a rubrica Consultório de Psicologia da Rádio LAC e é responsável pela rubrica "Bem-estar Mental" do Jornal Mercado. Email: ffernandes359@gmail.com
  • 2. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 79 Analyse du rôle des femmes dans la poésie d'Agostinho Neto (1922-1979) à la lumière des théories psychanalytiques Résumé: Dans cet article, j'entends traiter la question de la présence de la figure maternelle, en général, et de la Mère Afrique, en particulier, dans la poésie d'Agostinho Neto. Quant à la méthodologie utilisée, cette recherche s'est basée sur l'analyse du livre Trilogie poétique : Sagrada Esperança, Renonciation Impossível, Dawning, Luanda : União dos Escritores Angolanos, 2009 par Agostinho Neto, à la lumière des théories psychanalytiques concernant la relation avec le parent, à savoir le complexe d' Odipe. L'analyse nous a permis de percevoir une relation très étroite entre le sujet poétique et la mère, métaphore d'un continent violé par un père-autre, le colon. C'est le fils, sujet poétique, qui est chargé de sauver la mère et de remplacer le père à la direction de la nation. De la recherche, il est conclu que la Grande Mère Afrique a été libérée par ses enfants, héros et sages, comme António Agostinho Neto l'a si bien chanté dans sa poésie, où l'on retrouve toute la complexité de la relation mère/fils, de la relation entre l'homme et la terre, du rapport de l'homme à son passé, du rapport du poète à son héritage, du rapport de l'homme à son histoire et aux attentes et responsabilités qui lui incombent Mots-Clés: Maman; Mère Afrique ; Complexe d'Oedipe; La colonisation Introdução Iniciamos o debate discutindo que a teoria psicanalítica data do séc.XIX, por meio de estudos de um neurologista austríaco, Sigmund Freud que a partir da teoria conseguiu descrever a etiologia de transtornos mentais para além de explicar a motivação humana. Falando sobre a periodização de psicanálise, Zimerman (2007) divide-a em três: psicanálise ortodoxa, psicanálise clássica e psicanálise contemporânea. Segundo o autor, A psicanálise contemporânea, por sua vez, prioriza os vínculos – emocionais e relacionais – de amor, ódio e conhecimento, que permanentemente permeiam a dupla analítica. O modelo utilizado para essa inter-relação analítica guarda semelhança (o que não quer dizer igualdade) com aquele que caracteriza a primitiva relação da mãe com o seu bebê, e vice-versa; assim, os psicanalistas atribuem uma importância bastante mais significativa à influência da mãe real, no psiquismo da criança. (ZIMERMAN, 2007, p.64). A mulher, na poesia de Agostinho Neto, é representada como a companheira amorosa (Lemba, do poema “Caminho do mato” – “caminho das flores/ flores do amor”); a mulher embriagada e em busca de feitiço para prender o marido (em “Sábado nos musseques”); a quitandeira que vende laranjas e que se vende (em “Quitandeira”); mas é, acima de tudo, com muito maior frequência, prevalência, simbolismo e importância, a mulher “Mãe” (assim mesmo, tantas vezes, com letra maiúscula).
  • 3. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 80 É esta figura que trazemos hoje para análise e reflexão: a figura da mãe na poesia de Agostinho Neto… e, porque se impôs na nossa análise, a figura do filho também! Afinal, a relação mãe/filho é uma das relações mais profundas, complexas e definidoras na psique de um indivíduo. Vamos, pois, unir literatura e psicanálise na leitura da mãe na poesia de Agostinho Neto, tanto numa perspectiva junguiana do arquétipo universal da Grande Mãe, como numa visão freudiana de relação mãe/filho pessoal, individual, edipiana. Se a poesia de Agostinho Neto carrega sentimentos de luta, de amor, de paz e harmonia social que pode ser interpretada como mecanismo de defesa na qual Freu analisou. Freud valorizou, sobretudo, o mecanismo defensivo da repressão (a defesa mais evidente nas pacientes histéricas de que ele tratava), além de outras presentes nos quadros paranóides, como a projeção, na psicopatologia das fobias e neuroses obsessivas, como deslocamento, anulação, isolamento e formação reativa. (ZIMERMAN, 2007, p.65). O conceito “mãe” traz-nos, desde logo, imagens, sensações, noções, recordações, lembranças, angústias, alegrias, uma pontada no coração, talvez. Isto porque a palavra está carregada de significados e simbolismo. Pensamos na nossa mãe, quer a tenhamos conhecido, quer não, pensamos na nossa experiência individual, enquanto filhos, enquanto mães, mas também nos apercebemos de que essa palavra carrega muito mais que a nossa experiência individual, talvez até muito mais que a experiência humana (as memórias “pré-humanas”, que Jung refere). Ora bem, “Carl Jung explica a recorrência destes «fantasmas» vindos dos primórdios da existência humana como sendo arquétipos, imagens que passam de geração em geração, que ultrapassam barreiras geográficas e culturais, através (…) [do] inconsciente colectivo (…) [onde] se encontram as grandes imagens primordiais, «as imagens humanas universais e originárias» [Jung, 1987, apud Fernandes, 2006]” (FERNANDES, 2006). Explicam-nos Catiana dos Santos e Sílvio Paradiso (2020) que “a ideia de mãe sempre permeou a sociedade humana, criada e fortalecida através de um imaginário coletivo e social, quiçá, consciente e inconsciente. Tal ideia, com o passar das eras, foi se estabelecendo enquanto um arquétipo, desdobrando-se em ideias como «Grande Mãe» e «Mãe-Terra». O continente africano assumiu metaforicamente a roupagem dessas «mães», transformando-se na «Mãe África» (…) [figura recorrente] na cultura africana e afro-diaspórica”. Carl Jung debruçou-se sobre o arquétipo da Grande Mãe, apresentando-o como um dos grandes modelos – atemporais, universais, pertencentes a um inconsciente
  • 4. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 81 coletivo partilhado por todos os seres humanos, em todos os períodos – passados até nós de geração em geração, desde tempos imemoriais. Carl Jung também refere os arquétipos masculinos, nomeadamente o Herói, o Pai, o Sábio, que são muito distintos da Grande Mãe, que gera, que cria, que nutre, que alimenta, que cuida, que protege, mas também que devora os filhos (não permitindo o seu crescimento e afastamento), e que espera, que sofre, que chora (se os filhos se afastam). Os arquétipos materializam-se em símbolos, e é aí que reconhecemos e identificamos os arquétipos. A Terra é um símbolo deste arquétipo da Grande Mãe, tal como o é África, o princípio de tudo, o berço da humanidade, o local onde surgiu o primeiro homem, a Grande Mãe de toda a humanidade, de todos os homens. África das riquezas, da terra fértil, das minas cheias de ouros e diamantes, África-mulher, fecunda, que gera, que frutifica, que nutre, que dá, que distribui. Pires Laranjeira (1995, apud SANTOS E PARADISO) diz-nos: “a África se mitifica como o grande continente de esplendorosas civilizações de onde irradiam para a diáspora de todo o mundo e cuja terra se constitui na grande mater da raça negra e por isso são comuns na poesia africana as expressões Mãe-África, Mãe-Terra e Mãe Negra”. Atemporal e universal, o conceito de “Grande Mãe” é particularmente visível e explícito na poesia de Neto, onde Mãe, África e Terra surgem recorrentemente interligadas. África é Terra, território cultural e também político, que deverá ser reconquistado, recuperado; e África é mãe, uma noção maior que a de território ou fronteiras desenhadas no solo ou no papel, é a mãe que levou ao colo, que amamentou, que cantou, que ensinou a dançar, que murmurou cânticos, que matou o mosquito, que lavou a ferida, é a mãe dos poemas de Agostinho Neto1 : Meia-noite na quitanda (…) Sá Domingas Ela vende na quitanda à meia-noite que o filho está na estrada precisa de cem mil réis para pagar o imposto O sol deixa Sá Domingas 1 Todos os poemas aqui citados foram retirados de NETO, Agostinho, Trilogia Poética: Sagrada esperança, Renúncia Impossível, Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009. Todos os sublinhados dos poemas apresentados neste artigo são meus.
  • 5. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 82 na quitanda e ela deixa o luar Um tostão dois tostões três tostões que o coração de Sá Domingas sofre mais do que o corpo na quitanda. Na obra de Zimerman (2007, p.104) desenvolve-se uma discussão profunda sobre a “normalidade e patogenia da função materna”. Nas nove condições maternas destacamos apenas três: (i) “Ser provedora das necessidades básicas do filho (de sobrevivência física e psíquica: alimentos, agasalho, calor, amor, contato físico, etc.)”; (ii) “A função de a mãe conter as aludidas cargas de identificações projetivas está sendo reconhecida como a fundamental para a estruturação sadia da criança” e (iii) “presença continuada da mãe que entende e atende essas necessidades básicas do bebê vai propiciar para a criança um senso de continuidade, baseada na prazerosa sensação de que ela continua a existir” (ZIMERMAN, 2007, p.104, grifos do autor). A Mãe presta-se a todos os sacrifícios, em prol do bem-estar do seu filho. A Mãe, na poesia de Neto, é a mãe que representa todas as mães; é a mãe negra, que carrega o maior sofrimento de todos, o de ver o seu filho a ser levado ou a ter de partir contra a vontade, o sofrimento de assistir, impotente, ao mal que é feito aos seus filhos: SÁBADO NOS MUSSEQUES (…) Ansiedade nas mães aos gritos à procura dos filhos desaparecidos (…) Na mãe que pergunta ao adivinho se a filhinha se salvará da pneumonia na cubata de velhas latas esburacadas (…) A Mãe que busca os seus filhos, aos gritos, é uma memória da terra, dos animais, faz parte da memória de todos quantos povoam o planeta, e o seu grito ultrapassa o tempo e todos os espaços e todas as espécies, dilacerante, angustiante, primitivo,
  • 6. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 83 sagrado, divino. Essa memória resulta de uma educação. Para Jolibert (2010, p.16) “o ponto de partida do pensamento de Freud sobre a educação situa-se na confluência de dois questionamentos: um questionamento biológico e um questionamento histórico.” É nesse questionamento historio onde se registra a memória que é fundamental para compreender o passado e poderá perspectivar o futuro. Há cientistas que defendem a inexistência do presente. O presente se torna passado o tempo todo. Desta forma “a história individual infantil é marcante e seus traços subsistem, indeléveis, no homem adulto. Essa primeira intuição foi sistematizada por Freud em seus trabalhos iniciais ao rejeitar sucessivamente a explicação nervosa dos transtornos mentais e ao refutar a suposição da neurose pela hereditariedade” (JOLIBERT, 2010, p.16, grifos do autor). Entretanto, analisando a presença da mãe na poesia de Agostinho Neto à luz de Freud e do complexo de Édipo – Édipo que mata o seu pai, Laio, em combate, e casa com Jocasta, sua mãe, sem saber – não poderíamos deixar de observar o papel deste filho, o sujeito poético dos poemas de Agostinho Neto. Vejamos: ADEUS À HORA DA LARGADA Minha Mãe (todas as mães negras cujos filhos partiram) tu me ensinaste a esperar como esperaste nas horas difíceis Mas a vida matou em mim essa mística esperança Eu já não espero sou aquele por quem se espera Sou eu minha Mãe a esperança somos nós os teus filhos partidos para uma fé que alimenta a vida Hoje somos as crianças nuas das sanzalas do mato
  • 7. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 84 os garotos sem escola a jogar a bola de trapos nos areais ao meio-dia somos nós mesmos os contratados a queimar vidas nos cafezais os homens negros ignorantes que devem respeitar o homem branco e temer o rico somos os teus filhos dos bairros de pretos além aonde não chega a luz eléctrica os homens bêbedos a cair abandonados ao ritmo dum batuque de morte teus filhos com fome com sede com vergonha de te chamarmos Mãe com medo de atravessar as ruas com medo dos homens nós mesmos Amanhã entoaremos hinos à liberdade quando comemorarmos a data da abolição desta escravatura Nós vamos em busca de luz os teus filhos Mãe (todas as mães negras cujos filhos partiram) Vão em busca de vida. Cá temos o filho do complexo de Édipo da mitologia grega e de Freud: o filho que se apaixona pela mãe, por quem morrerá, se necessário for, e que lutará contra o pai, para assumir a soberania, o destino. O filho que partiu “em busca de luz”, “em busca de vida”, e que representa agora a esperança (“Sou eu, minha Mãe/ a esperança”). Como
  • 8. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 85 Édipo, obrigado a afastar-se de sua mãe, o poeta também foi afastado para outro continente, mas agora regressa a casa, para assumir a liderança da mesma. Se a mãe é África, o pai será a Europa, potência colonizadora, violadora, invasiva, violenta, estupradora: ASSIM CLAMAVA, ESGOTADO Não direi nada Nunca fiz nada contra a vossa pátria Mas vós apunhalastes a nossa (…) Contra este pai, que “apunhalaste a nossa [Mãe/ Pátria]”, o filho insurgir-se-á, para salvar a mãe, para o substituir, para assumir o comando da nação. Essa ideia foi expressa com veemência por Klein (1991 e 2002). Klein descobriu que a ansiedade suscitada por essas primitivas relações de objeto pode exercer um a constante influência nas posteriores e na forma do complexo de Édipo. Klein concluiu que o conflito entre agressividade e libido, bem conhecido a partir da análise de adultos, provou ser muito mais intenso nos estádios primitivos do desenvolvimento. Por outro lado, Klein notou que não só a ansiedade (de acordo com a última teoria de Freud a respeito de ansiedade) é devida mais à ação da agressividade do que à da libido, bem como que era primariamente contra a agressividade e a ansiedade que as defesas eram erguidas. (SEGAL, 1975, p.14). Vejamos o exemplo a seguir que demonstra as relações agressivas entre o colonizado e o colono. Observa-se o desequilíbrio do bem estar entre os europeus e africanas e há um clamor de liberdade. Vejamos os versos: NA PELE DO TAMBOR As mãos violentas insidiosamente batem no tambor africano e a pele percutida solta-me tam-tams gritantes de sombras atléticas à luz vermelha do fogo de após trabalho Esmago-me da pele batida do tambor africano vibro em sanguinolentas deturpações de mim mesmo
  • 9. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 86 à vontade das percussões alcoólicas sobre a pele esticada do meu cérebro Onde estou eu? Quem sou eu? Vibro no couro pelado do tambor festivo em europas sorridentes de farturas e turismos sobre a fertilização do suor negro nas áfricas envelhecidas pela vergonha de serem áfricas nas áfricas renovadas do brilho firme do sol e da transformação sedosa e explosiva do universo dentro do movimento de mim mesmo na vibração ritmada da pele cerebral do tambor africano ritmada para o esforço de dançar a dança suave das palmeiras Vibro em áfricas humanas de sons festivos e confusos (que línguas pronunciais em mim irmãos que não vos entendo neste ritmo?) Nunca me pensei tão pervertido ó impureza criminosa dos séculos coloniais (que história é essa da lebre e da tartaruga que contas neste novo ritmo de fogueira à noite minha avozinha de pele negra de África?) Mas não tão longe nem tão pervertido quanto as vibrações da pele do meu cérebro esticada no tambor das minhas mãos pela África humana (…) Há, nos versos que acabamos de apresentar, uma luta interna: no interior do sujeito poético, enquanto indivíduo, e no interior da sua comunidade, do seu povo, do seu país, do continente africano: “que história é essa da lebre e da tartaruga (…) minha avozinha de pele negra de África?”. África aparece subjugada pela narrativa colonial secular (já na voz da “avozinha”), do “outro”, desse pai colonial estuprador de um continente feminino, materno, Mãe África. A colonização torna-se mais perversa quando transparece, apropriada, no discurso dos próprios africanos.
  • 10. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 87 A resposta será encontrada pelo sujeito poético na “minha África (…) continente que nasce fora dos abismos escurecidos da negação”: (…) As mãos entrelaçadas sobre mim em gozo de vida em gargalhadas em alegrias de lagos libertados por amplos verdes para os mares dão-me o tom da minha África dos povos negros do continente que nasce fora dos abismos escurecidos da negação ao lado de ritmos de dedos congestionados sobre a pele envelhecida do tambor dentro do qual vivo e vibro e clamo: AVANTE! Esta é uma luta que se impõe no processo de autonomização do indivíduo, do homem e de um povo! Como a psicanálise nos ensina, esse caminho é duro, cheio de dor, luta, sacrifícios, mas imparável. O corte com o pai, a rivalidade, agudiza-se mais ainda quando a figura paterna é a de uma entidade opressora, subjugadora, que toma a “Mãe” pela força, pela violência. Só o filho a poderá salvar, com uma nova narrativa, buscada n’ “o tom da minha África/ dos povos negros”, no tom, na voz de um continente que insiste em levantar-se “fora dos abismos escurecidos da negação”, na voz genuína de quem conhece a sua origem e celebra as suas raízes, feita de rimos, tambores, gargalhadas, verdes e mares. A esperança de libertação, de recuperação da essência materna, da alma deste povo, é trazida pelo homem, “aquele por quem se espera”. O filho homem, o guerreiro que vai em busca de liberdade: CONFIANÇA (…) As minhas mãos colocaram pedras nos alicerces do mundo mereço o meu pedaço de pão. Ou mesmo:
  • 11. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 88 AQUI NO CÁRCERE (…) Aqui no cárcere a raiva contida no peito espero pacientemente o acumular das nuvens ao sopro da História Ninguém Impedirá a chuva. O filho surge como aquele que resgatará a Mãe, a salvará, recuperando a sua dignidade e a sua grandeza, resgatando a sacralidade da terra, da “Mãe África”: À RECONQUISTA Não te voltes demasiado para ti mesma Não te feches no castelo das lucubrações infinitas Das recordações e sonhos que podias ter vivido Vem comigo África de calças de fantasia desçamos à rua e dancemos a dança fatigante dos homens o batuque simples das lavadeiras ouçamos o tam-tam angustioso enquanto os corvos vigiam os vivos esperando que se tornem cadáveres vem comigo África dos palcos acidentais descobrir o mundo real onde os milhões se irmanam na mesma miséria atrás das fachadas de democracia de cristianismo de igualdade Vem comigo África de colchões de molas e reentremos na casinha de latas esquecidas no musseque da Boavista até onde já nos empurram ao nos quebrarem as casas de meia água de Cayette e à volta de fogo consolador das nossas aspirações mais justas examinaremos a injustiça inoculada no sistema vivo em que giramos. Vem comigo África de colchões de esmola regressemos à nossa África onde temos um pedaço da nossa carne calcado sob as botas dos magala – a nossa África Vem comigo África do jitterburg até a terra até o homem até o fundo de nós
  • 12. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 89 ver quando de ti e de mim faltou quanto da África esqueceu e morreu na nossa pele mal coberta sob o fato emprestado pelo mais miserável dos ex-fidalgos Não chores África dos que partiram olhemos claros para os ombros encurvados do povo que desce a calçada negro negro de miséria negro de frustração negro de ânsia e dêmos-lhes o coração entreguemo-nos através da fome da prostituição das cubatas esfuracadas das chanfalhadas dos cipaios através dos muros das prisões através da Grande Injustiça Ninguém nos fará calar Ninguém nos poderá impedir O sorriso dos nossos lábios não é agradecimento pela morte com que nos matam. Vamos com toda a Humanidade Conquistar o nosso mundo e a nossa Paz. O sujeito poético é Édipo Rei, e é também o filho que se afasta da Mãe devoradora, o lado sombrio do arquétipo junguiano, que não permite o crescimento do filho. [Neumann (1995, apud Olsen, 2018) explica que o arquétipo da Grande Mãe é “uma das fases no desenvolvimento progressivo do ego”, onde temos a criança pequena que a mãe cuida e alimenta, da qual o ego se irá separando e o indivíduo assumindo autonomia. Assistimos à regressão quando indivíduo é tentado a regressar à libido, que sempre acompanha os efeitos arquetípicos da Grande Mãe]. É preciso independência, heroísmo, para se trilhar um caminho autônomo, como faz o sujeito poético de Neto. Para terminar, recordemos o poema “Havemos de voltar”, de Agostinho Neto, onde o filho anuncia a salvação da Mãe do jugo imperial e o regresso ao seio da mesma, Mãe Terra, Mãe África, Mãe Angola, riquíssima, fértil, imensa, plena, sagrada: HAVEMOS DE VOLTAR Às casas, às nossas lavras às praias, aos nossos campos havemos de voltar
  • 13. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 90 às nossas terras vermelhas do café brancas do algodão verdes dos milharais havemos de voltar às nossas minas de diamantes ouro, cobre, de petróleo havemos de voltar Aos nossos rios, nossos lagos Às montanhas, às florestas Havemos de voltar À frescura da mulemba às nossas tradições aos ritmos e às fogueiras havemos de voltar À marimba e ao quissangue ao nosso carnaval havemos de voltar À bela pátria angolana nossa terra, nossa mãe Havemos de voltar Havemos de voltar À Angola libertada Angola independente A Grande Mãe África foi libertada pelos seus filhos, heróis e sábios, como António Agostinho Neto tão bem cantou na sua poesia, onde encontramos toda a complexidade da relação mãe/filho, da relação do homem com a terra, da relação do homem com o seu passado, da relação do poeta com o seu legado, da relação do homem com a sua história e com as expectativas e responsabilidades que recaem sobre ele. Como pudemos ver, a poesia de Agostinho Neto canta, reiteradamente, a figura da Mãe, que representa a sua pátria e, de forma mais alargada, o continente africano. Violada pelo colono, Mãe África viu os seus filhos arrancados do seu seio, escravizados, subjugados, exilados, torturados, mortos. Mesmo longe, os filhos podiam ouvir o pranto angustiado da sua mãe, da sua terra, violentada, usada e explorada pelo outro, o colono, a figura patriarcal por excelência. Ao filho só lhe resta a luta armada, o regresso à terra, para matar/derrotar/expulsar o pai e ocupar o lugar de chefe legítimo da sua nação, nova e soberana. Como Édipo Rei, o sujeito poético luta com o pai e ocupa, finalmente, depois
  • 14. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 91 de séculos de opressão, o lugar inevitável ao lado de sua mãe, governando a terra, o reinado que lhe pertence por direito, e do qual havia sido afastado, rejeitado, largado para morrer. Na poesia de Agostinho Neto, assistimos ao filho que se faz homem e que regressa para governar, não deixando nunca de assegurar ao seu povo e à sua sofrida Mãe Pátria de que nada, mesmo nada, o poderá parar, já que “Ninguém impedirá a chuva”! Referências FERNANDES, Fátima. A bruxa e a poesia, Luanda: Chá de Caxinde, 2006. FREUD, Sigmund. Um caso de histeria, três ensaios sobre sexualidade e outros trabalhos (1901-1905), Rio de Janeiro: Imago, 1969. FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos, Porto Alegre: L&PM Editores, 2012. JOLIBERT, Bernard. Sigmund Freud. Trad. Elaine Teresinha Dal Mas Dias. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4683.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2021. KLEIN, M.. Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991. KLEIN, Melanie. O gênio feminino: a vida, a loucura, as palavras Tomo II. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. NETO, António Agostinho. Trilogia Poética: Sagrada Esperança, Renúncia Impossível, Amanhecer, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2009. OLSEN, Monique (2018), Grande Mãe, 2018. Disponível em: https://www.ligajunguiana.co.br/post/grande-mãe. Acesso em: 15 dez. 2021. RODRIGUES, José Paz. Agostinho Neto, poeta, médico e importante político angolano. 15 jan.2020. (Fonte da Foto). Disponível em: <https://pgl.gal/agostinho-neto-poeta- medico-politico-angolano/>. Acesso em: 22 dez. 2021. SANTOS, Catarina Sampaio dos; PARADISO, Sílvio Ruiz, “A África-mãe, a Mãe Angola: o arquétipo materno na poesia de Agostinho Neto, Viriato da Cruz e Alda Lara”, Revista África e Africanidades – Ano XII – n.º 33, Fev. 2020. SEGAL, Hanna. Introdução À Obra De Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1975. Disponível em: <https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/introducao-a-obra- de-Melanie-Klein.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2021.
  • 15. Fátima Sampaio Fernandes, A mulher na poesia de Agostinho Neto... 92 ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2007. Disponível em: <https://lotuspsicanalise.com.br/biblioteca/Zimerman- Fundamtnos-psicanaliticos.pdf>. Acesso em: 22 dez. 2021. Recebido em: 11/10/2021 Aceito em: 23/12/2021 Para citar este texto (ABNT): FERNANDES, Fátima Sampaio. A mulher na poesia de Agostinho Neto. Njinga & Sepé: Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA), vol.1, nº Especial, p.78-92, dez.2021. Para citar este texto (APA): Fernandes, Fátima Sampaio. (2021, dez.). A mulher na poesia de Agostinho Neto. Revista Internacional de Culturas, Línguas Africanas e Brasileiras. São Francisco do Conde (BA), 1 (Especial): 78-92. Njinga & Sepé: https://revistas.unilab.edu.br/index.php/njingaesape