1. PERRONE-MOISÉS, Leyla. Flores da Escrivaninha – Ensaios. Companhia das Letras,
1990.
O trabalho da autora trata sobre a literatura comparada como disciplina, seus problemas
e suas contribuições.
A autora afirma que um estudo sobre duas ou mais literaturas nacionais faz parte da
literatura comparada, e tal estudo pode ser sobre uma obra e outra obra, um autor e
outro autor, entre outros tópicos.
Afirma também que a literatura comparada enfrenta problemas teóricos e metodológicos,
e que seus 150 anos de vida podem ser tanto um problema quanto uma vantagem.
Muito tempo = grande número de experiências e definição aproximada de seu campo de
estudo e seus métodos, além de produção de trabalhos de alta qualidade.
A definição do campo de estudo é aproximada porque é abrangente demais, tornando-se
não tão definida quanto poderia.
Muito tempo = estagnação, anacronismo, não há mais muita evolução.
Os comparatistas continuam debatendo problemas do século XIX, enquanto teorias mais
recentes exigem atualização e reformulação radical dos métodos da disciplina.
As bases da literatura comparada, no século XIX, tratam de uma história linear e
sequencial, diacrônica e causalista. Os diversos movimentos sempre seguem uma lógica
de causa e efeito.
A autora cita duas grandes propostas no século XIX. A primeira é idealizada por
Goethe: um projeto de literatura una e universal, onde todas as literaturas seriam
unificadas e que cada nação desempenharia seu próprio papel. A segunda tem Hegel
como idealizador, e encaminha a literatura para uma completude, um acabamento.
2. A autora diz que ambas as propostas pressupõem o progresso e a harmonização das
manifestações humanas. No entanto, ela discorda disso ao dizer que a arte e a literatura
não tendem a produzir harmonias e, sim, funções críticas e contestadoras.
“A literatura nasce da literatura; cada obra nova é uma continuação, por consentimento
ou contestação, das obras anteriores, dos gêneros e temas já existentes. Escrever é, pois,
dialogar com a literatura anterior e com a contemporânea.” Pg 94
Kristeva (1969) apud Perrone-Moisés diz que todo texto se constrói como um mosaico
de citações, e que todo texto é absorção e transformação de outros textos. Isso foi dito
levado em conta o estudo de Bakhtin (1929) sobre romances em que não havia mais
uma voz unificador mas, sim, várias vozes que completavam a obra.
A autora diz que estudar a intertextualidade tem como objetivo examinar a ocorrência
do novo texto, bem como os elementos que compõem a criação da nova obra.
3. CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. Série Princípios, 2012.
Segundo a autora, a literatura comparada era monopolizada por estudiosos franceses até
um pronunciamento de Wellek, em 1958, onde o mesmo disse que o comparativismo
era “uma represa estagnada”.
A autora diz que Wellek ataca as fragilidades teóricas da disciplina e a incapacidade de
ter objeto de estudo distinto e metodologia específica. Wellek também se posiciona
contra a distinção entre literatura comparada e literatura geral, afirmando que, ao
distingui-las, a literatura comparada acaba se reduzindo à análise de fragmentos sem a
possibilidade de integrá-los de forma significativa.
Assim, Wellek acredita que a disciplina tenha perdido prestígio, tenha ficado limitada,
tornando-se uma “subdisciplina” cujo campo de atuação é restrito.
Wellek sugere que os estudos de fontes e influências sejam abandonados, e que os
estudos sejam focados apenas no texto e, não, em dados exteriores. Isso seria uma
perspectiva crítica, necessária para que a literatura evitasse o factualismo exterior.
Apesar de Wellek refutar a recorrência à história, é inegável que tal recorrência é
importante no exame literário do ponto de vista da sociologia literária, como pode ser
visto na obra de Guilhermino César “O ‘brasileiro’ e o avesso de um personagem tipo”,
onde mostra uma aproximação das culturas brasileiras e portuguesas.
A literatura comprada enquanto atividade crítica não necessita excluir a parte histórica,
e pode fornecer uma base fundamental à teoria, historiografia e crítica literárias.
Ao longo dos anos, quanto mais Wellek discursava contra a ambivalência da literatura,
menos conseguia provar que sua teoria estava absolutamente certa, pois os dados, tais
quais os recolhidos na análise da obra de Guilhermino César, provavam o contrário. No
entanto, seus avisos não eram sem fundamento. Necessitava tomar-se um certo cuidado
para que a disciplina não ficasse estagnada.
A autora diz que, ao contrário de Wellek, que não fez propostas específicas para a
disciplina, Dionýz Ďurišin, um autor tcheco, formulou uma proposição metodológica
considerada inovadora por muitos. Oferece uma tipologia sistemática das relações
literárias. Sua proposição baseia-se em estabelecer classificações tipológicas utilizando
4. os estudos comparados, visando distinguir tais relações literárias entre contatos
genéticos (contatos externos como o sucesso literário e contatos internos como as
influências), podendo ser diretos ou indiretos, e relações da solidariedade tipológica
(diferenciados de acordo com a função normativa de acordo com o cunho social,
literário ou psicológico).
“As distinções entre essas relações são feitas por condições impostas pelas escolas ou
correntes literárias, pelos gêneros ou pelo modelo de um trabalho literário.” Pg 41
Carvalhal diz também que o maior mérito da tipologia de Ďurišin “é a eliminação do
conceito de influência no sentido clássico, pois o substitui pelo conceito operacional de
tipo [...] de influência.” Assim, ele consegue distinguir entre estratégias integradoras
(imitação, adaptação etc) e estratégias diferenciadoras (paródia, sátira etc).
“A proposta de Ďurišin quer prover explicações estruturais para os fenômenos literários,
quando estudados de um ponto de vista comparativo.” Pg 41
Em sua metodologia, as relações entre autores e obras deixam de ser causais e
mecânicas (como eram).