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Ocorrência e Tratamento de Quadros
Depressivos por Hormônios Sexuais
Artigo original por Cláudio N Soares, Jennifer Prouty e Jennifer
Poitras
O artigo apresenta estudos acerca do uso de
hormônios sexuais no tratamento de quadros
depressivos. Foram analisadas as influências
destes hormônios nas funções psíquicas (em
especial o humor e a cognição) e as
consequências da alteração dos níveis hormonais
em indivíduos ocasionada pelo envelhecimento.
Introdução
Hormônios e alterações de humor
Um dos fatores de diferenciação de gênero na
prevalência, evolução e resposta a tratamento
de transtornos mentais é o impacto hormonal
sobre as funções psíquicas. Estas diferenças
são acentuadas à medida que homens e
mulheres amadurecem sexualmente.
Um exemplo da influência hormonal na função
psíquica é o surgimento de transtornos
depressivos e ansiosos em mulheres ao
atingirem a puberdade.
Entretanto, apesar do aparente papel
desestabilizador, estudos apontam funções
terapêuticas e protetoras dos hormônios
sexuais sobre o humor e a cognição.
O uso de estrógenos foi associado à melhora dos
sintomas depressivos nos períodos pré menstruais
e no puerpério. O uso de testosterona na pós
menopausa resultou, também, em alívio de sintomas
psicológicos e proporcionou o aumento da libido em
mulheres. Porém, o tratamento não se restringe
apenas às mulheres. Um estudo sugeriu que o uso
da testosterona aliviou queixas depressivas em
homens com hipogonadismo.
Envelhecimento ovariano e
alterações de humor
No período menopausal há uma intensa flutuação dos
hormônios sexuais. Durante esta fase ocorre:
aumento de FSH e LH, diminuição da produção de
estrógenos e modificação da produção de andrógenos.
Com tantas mudanças surge maior vulnerabilidade a
transtornos psiquicos.
Estrógenos e o SNC
Há algumas décadas tem sido estudada a relação
entre os estrógenos e quadros depressivos,
reforçada pela identificação de receptores
estrógeno-específicos no SNC. Os estrógenos teriam
papel importante na síntese, na liberação e no
metabolismo de neurotransmissores como
noradrenalina, dopamina, serotonina e acetilcolina.
Os estrógenos também atuam na atividade termo-
regulatória dos centros hipotalâmicos e controle da
saciedade, do apetite e da pressão sanguínea.
Algumas situações clínicas restringem o uso de
estrógenos como reações psíquicas ao uso conjunto
de progestógenos, contraindicações à reposição
estrogênica e histórico de depressão grave que
exclua outros tratamentos não-convencionais.
Progesterona
À progesterona foi atribuído um papel negativo
sobre o humor, por surgimento de irritabilidade e
disforia. Acredita-se que estes sintomas sejam
decorrentes do papel agonista sobre os receptores
GABA. No entanto, apenas um tipo de progesterona
foi analisado (acetato de medroxiprogesterona). É
essencial o estudo devido das outras progesteronas.
Andrógenos
Os andrógenos também apresentam importante atividade
neuroprotetora e colaboram na organização e programação
dos circuitos neuronais.
Andrógenos nas mulheres: com o avanço da idade os níveis
de andrógenos reduzem significativamente.
Esta redução afeta a produção de estrógenos pelos
ovários e pelos tecidos extragonadais.
A testosterona nas mulheres é associada a traços de
comportamento agressivo e aumento da libido. Foram
descritos sintomas depressivos e ansiosos, além da redução
da libido, em mulheres com baixo nível de testosterona
após a menopausa. A reposição da testosterona traria o
alívio destes sintomas.
Ao DHEA e o DHEA-S foram atribuídos efeitos
moduladores sobre o humor (pela sua biotransformação
parcial em testosterona e estrógenos, efeitos sobre o
cortisol,
sobre os receptores GABA e por promover o aumento de
serotonina em certas regiões cerebrais.
Andrógenos nos homens: os niveis de testosterona
diminuem com a idade entre os homens. Estudos sugerem
que homens com baixas concentrações de testosterona,
quando submetidos à reposição, se beneficiam com o
aumento da densidade óssea, aumento da força muscular
e diminuição de sintomas de angina cardíaca. Há o
aumento da agressividade, mas não o aumento da libido.
Sobre o uso da testosterona no tratamento dos
sintomas depressivos, estes são preliminares e
ainda conflitantes. Os resultados negativos
podem advir de trabalhos com limitações
metodológicas.
Considerações finais
São diversas as evidências clínicas que demonstram o
importante papel dos hormônios sexuais na modulação ou
tratamento dos transtornos de humor e parece inevitável a
integração destes no arsenal terapêutico.
O psiquiatra poderá valer-se do auxílio de colegas
(ginecologistas, endocrinologistas, urologistas e clínicos
gerais) para o manejo adequado destes hormônios e otimizar
o tratamento de seus pacientes.
♡fim♡

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Ocorrência e Tratamento de Quadros Depressivos por Hormônios Sexuais [POWERPOINT]

  • 1. Ocorrência e Tratamento de Quadros Depressivos por Hormônios Sexuais Artigo original por Cláudio N Soares, Jennifer Prouty e Jennifer Poitras
  • 2. O artigo apresenta estudos acerca do uso de hormônios sexuais no tratamento de quadros depressivos. Foram analisadas as influências destes hormônios nas funções psíquicas (em especial o humor e a cognição) e as consequências da alteração dos níveis hormonais em indivíduos ocasionada pelo envelhecimento. Introdução
  • 3. Hormônios e alterações de humor Um dos fatores de diferenciação de gênero na prevalência, evolução e resposta a tratamento de transtornos mentais é o impacto hormonal sobre as funções psíquicas. Estas diferenças são acentuadas à medida que homens e mulheres amadurecem sexualmente.
  • 4. Um exemplo da influência hormonal na função psíquica é o surgimento de transtornos depressivos e ansiosos em mulheres ao atingirem a puberdade. Entretanto, apesar do aparente papel desestabilizador, estudos apontam funções terapêuticas e protetoras dos hormônios sexuais sobre o humor e a cognição.
  • 5. O uso de estrógenos foi associado à melhora dos sintomas depressivos nos períodos pré menstruais e no puerpério. O uso de testosterona na pós menopausa resultou, também, em alívio de sintomas psicológicos e proporcionou o aumento da libido em mulheres. Porém, o tratamento não se restringe apenas às mulheres. Um estudo sugeriu que o uso da testosterona aliviou queixas depressivas em homens com hipogonadismo.
  • 6. Envelhecimento ovariano e alterações de humor No período menopausal há uma intensa flutuação dos hormônios sexuais. Durante esta fase ocorre: aumento de FSH e LH, diminuição da produção de estrógenos e modificação da produção de andrógenos. Com tantas mudanças surge maior vulnerabilidade a transtornos psiquicos.
  • 7. Estrógenos e o SNC Há algumas décadas tem sido estudada a relação entre os estrógenos e quadros depressivos, reforçada pela identificação de receptores estrógeno-específicos no SNC. Os estrógenos teriam papel importante na síntese, na liberação e no metabolismo de neurotransmissores como noradrenalina, dopamina, serotonina e acetilcolina.
  • 8. Os estrógenos também atuam na atividade termo- regulatória dos centros hipotalâmicos e controle da saciedade, do apetite e da pressão sanguínea. Algumas situações clínicas restringem o uso de estrógenos como reações psíquicas ao uso conjunto de progestógenos, contraindicações à reposição estrogênica e histórico de depressão grave que exclua outros tratamentos não-convencionais.
  • 9. Progesterona À progesterona foi atribuído um papel negativo sobre o humor, por surgimento de irritabilidade e disforia. Acredita-se que estes sintomas sejam decorrentes do papel agonista sobre os receptores GABA. No entanto, apenas um tipo de progesterona foi analisado (acetato de medroxiprogesterona). É essencial o estudo devido das outras progesteronas.
  • 10. Andrógenos Os andrógenos também apresentam importante atividade neuroprotetora e colaboram na organização e programação dos circuitos neuronais. Andrógenos nas mulheres: com o avanço da idade os níveis de andrógenos reduzem significativamente. Esta redução afeta a produção de estrógenos pelos ovários e pelos tecidos extragonadais.
  • 11. A testosterona nas mulheres é associada a traços de comportamento agressivo e aumento da libido. Foram descritos sintomas depressivos e ansiosos, além da redução da libido, em mulheres com baixo nível de testosterona após a menopausa. A reposição da testosterona traria o alívio destes sintomas. Ao DHEA e o DHEA-S foram atribuídos efeitos moduladores sobre o humor (pela sua biotransformação parcial em testosterona e estrógenos, efeitos sobre o cortisol,
  • 12. sobre os receptores GABA e por promover o aumento de serotonina em certas regiões cerebrais. Andrógenos nos homens: os niveis de testosterona diminuem com a idade entre os homens. Estudos sugerem que homens com baixas concentrações de testosterona, quando submetidos à reposição, se beneficiam com o aumento da densidade óssea, aumento da força muscular e diminuição de sintomas de angina cardíaca. Há o aumento da agressividade, mas não o aumento da libido.
  • 13. Sobre o uso da testosterona no tratamento dos sintomas depressivos, estes são preliminares e ainda conflitantes. Os resultados negativos podem advir de trabalhos com limitações metodológicas.
  • 14. Considerações finais São diversas as evidências clínicas que demonstram o importante papel dos hormônios sexuais na modulação ou tratamento dos transtornos de humor e parece inevitável a integração destes no arsenal terapêutico. O psiquiatra poderá valer-se do auxílio de colegas (ginecologistas, endocrinologistas, urologistas e clínicos gerais) para o manejo adequado destes hormônios e otimizar o tratamento de seus pacientes.