7. APRESENTAÇÃO
Essa cartilha é produto do Trabalho Final de Graduação
chamado Natal Emoldurada: Inventariando a paisagem
cultural Natalense. Ela funciona como “inventário da
paisagem cultural”, pois aqui estão guardadas e expostas
características das paisagens culturais da cidade de Natal ,
que foram encontradas após a leitura das paisagens realizada
durante seis meses com pesquisas bibliográficas,
questionários aplicados à população, e pesquisas em campo.
O objetivo geral do trabalho é propor a metodologia de
criação de um inventário da paisagem cultural natalense. Pois
o inventário é, segundo o dicionário do IPHAN, um
instrumento de identificação, valorização e proteção do
patrimônio cultural.
Esse cartilha funciona como um inventário preliminar, em
versões futuras a leitura da paisagem deve ser feita com
auxílio de outros profissionais como geógrafos, e geólogos
para que as informações sejam mais detalhadas e precisas. E
ele ainda está em construção, pois no momento só foram
apresentadas as leituras das paisagens de Praia de Ponta
Negra e da Praia da Redinha Velha, que são respectivamente
as (ZET-I e ZET-IV) , assim pretende-se ampliar o estudo para
toda a cidade.
Assim pretende-se contribuir com a preservação da
paisagem cultural de Natal. Percebe-se que Natal
vem passando por um intenso e rápido processo de
transformação na sua paisagem urbana, desse modo
esse inventário é uma forma de conhecer do que são
feitas as paisagens da cidade para que futuramente
sejam criadas medidas de proteção adequadas a
cada uma delas.
2
9. OQUEÉPAISAGEMCULTURAL?
O prercursor do termo “Paisagem Cultural” foi um geografo norte
americano chamado Carl Sauer que no século XX começou a estudar,
dentro da área da geográfica cultural, como a junção entre a cultura
humana e o ambiente natural formam a paisagem.
Com esses novos estudos a paisagem ganha um significado além do
visual, ela passa a ser formada por elementos físicos (como oceano,
morro, prédios, e ruas) e subjetivos relacionados a vivência, percepção,
sentimentos e sensações que as pessoas têm com os lugares. Desse
modo ver a paisagem “deixa de ser apenas contemplação e torna-se um
ato ativo” (Veras et. Al, 2017, p. 10).
A paisagem cultural é formada por camadas, e tem nela impressa os
valores da população, a história da cidade, também é o cenário da vida
cotidiana e o elemento de identificação de uma nação. A paisagem desse
modo tem prédio, mar, rio, e pontes, mas também tem cheiro, som, cor, e
gosto.
A UNESCO que é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura, reconhecendo a importância e todas essas
características da paisagem criou em 1992 a categoria patrimonial
“Paisagem Cultural” e as paisagens que ganham esse título tornando-se
patrimônio da humidade e devem ser preservadas. Em 2009 o IPHAN,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional criou essa categoria
aqui no Brasil, mas até hoje nenhuma paisagem brasileira recebeu o título
do Instituto.
4
11. CONHECENDONATALESUAPAISAGEM
Natal tem uma paisagem singular formada principalmente pela
composição da cultura do povo com os elementos naturais do sítio
que a cidade foi fundada: dunas, mar, rio, e mangue . Não foi atoa
que a cidade foi fundada nessa localização privilegiada, o lugar foi
escolhido para exercer a função militar de ponto estratégico para
defesa de Portugal na época da colonização. Inclusive a primeira
providência a ser executada após a chegada dos portugueses foi a
construção do Forte dos Reis Magos na margem do Rio Potengi.
A paisagem é um elemento fundamental para determinar a forma
que o território é ocupado, desde o primeiro plano urbanístico, o
Plano Cidade Nova, é pensada a relação da cidade com a
paisagem.
Hoje a cidade tem vários instrumentos que garantem a proteção
da paisagem em meio o crescimento urbano. O principal deles é o
Plano Diretor de Natal (feito em 1994 e com última revisão em
2007) que possui mecanismos como Áreas de Proteção Ambiental,
e Áreas de controle de gabarito que por meio de regulamentações
próprias objetivas proteger o valor cênico- paisagístico do lugar.
Entre as áreas de Controle de Gabarito estão as Zonas Especiais de
Interesse Turístico que abrange toda orla marítima natalense. São
a praia de ponta negra (ZET-I), via costeira (ZET-II), Praia do meio
até o forte dos reis magos (ZET- III) e Praia da Redinha ( ZET-IV).
6
13. AORLAMARÍTIMANATALENSE
Desde que foi reconhecido o potencial da cidade para o desenvolvimento da atividade turística a cidade voltou-se
para o mar, e vem atraindo a população e investimentos de diversos setores. A orla marítima é um espaço de lazer
que envolve diferentes atividades em diferentes horários atraindo uma diversidade de público. Acontece que ao
mesmo tempo por se tratar de paisagem e elementos da natureza, essa área torna-se frágil pois esses elementos já
estão em constante transformação natural, mas a ocupação intensa com construções e atividades humanas
aumentam o processo refletindo na paisagem. As imagens abaixo tratam do resultado de um questionário online
aplicado com 383 pessoas, como forma de entender quais são as percepções que a população de Natal tem com a
orla marítima da cidade, foram quatro fotos e cada uma corresponde à uma Zona Especial de Interesse Turístico:
ZET-I:PRAIADEPONTA NEGRA ZET-II: VIACOSTEIRA
8
17. APAISAGEMDEPONTANEGRA(ZET-I)
PONTA NEGRA
Região administrativa sul
Zona de adensamento básico
Norte: Capim Macio/Parque das Dunas
Sul: Parnamirim
Leste: Oceano Atlântico
Oeste: Neópolis
PROTEGIDA POR:
1940
Ocupação com
casas de
veraneio
2ª Guerra
Mundial
Construção dos
conjuntos
Alagamar e Ponta
Negra
1970
1980
Investimento
para impulsionar
a atividade
turística
Boom
imobiliário de
Ponta Negra
2000
Ocupação
por
pescadores,
agricultores
e Rendeiras
12
18. APAISAGEMDEPONTANEGRA(ZET-I)
O NATURAL
Além do mar os outros dois principais elementos naturais
são o Morro do Careca e Dunas associadas e o Parque das
Dunas que estão respectivamente nos limites sul e norte.
A vegetação é restinga associada a mata atlântica.
Formações rochosas chamadas de Beach Rocks são
encontradas em toda praia A topografia favorece a
formação de mirantes como acontece na Av. Roberto Freire
O Morro do careca e Dunas associadas formam uma
enseada, que permite que o morro seja visto em toda orla.
O CONSTRUÍDO
Ponta Negra é um bairro de contrastes, ao mesmo tempo
que o bairro possui a maior estrutura da cidade para receber
a atividade turística ele também mantém a Vila de
Pescadores. o espaço entre a Roberto Freire e a praia hoje
concentra restaurantes, grandes redes de hotéis e casas de
alto padrão. Na Vila de Ponta Negra as casas são menores,
as ruas mais estreitas, o traçado orgânico. Na Beira mar
destacam-se os quiosques, banheiros recentemente
construídos, guardas sóis com cores chamativas, e as pedras
que sustentam o calçadão.
13
19. APAISAGEMDEPONTANEGRA(ZET-I)
O CULTURAL
A Praia é o principal destino turístico
da capital, sua paisagem é valorizada
e usada como objeto de venda para
os setores imobiliários e turísticos,
representando também o principal
cartão postal da cidade.
A imagem da Praia também faz parte
da produção cultural da cidade como
no artesanato, artes plásticas e
literatura.
A comunidade da Vila de Ponta
Negra é um exemplo de resistência,
sendo responsável por onze
projetos sociais envolvendo música,
dança, arte e esportes, como
escolinhas de surf, de futebol, arte
de rua, além da criação do grupo
SOS Ponta Negra que é um
movimento popular socioambiental
que tem como objetivo propor um
amplo debate sobre o equilíbrio
entre o desenvolvimento e a
qualidade de vida no bairro
14
21. APAISAGEMDAREDINHAVELHA(ZET-IV)
REDINHA
Região administrativa norte
Zona de adensamento básico
Norte: Ruas Beberibe, Praia das Redes e
Baependi
Sul: Rua Nossa Senhora dos Navegantes
e com o Rio Potengi
Leste: Oceano Atlântico
Oeste: Rua Beira Rio
LOCALIZAÇÃO:
1920
Ocupação com
casas de
veraneio
Início de
Investimentos
na infraestrutura
Política de habitação nacional
BNH
(primeiras residências)
1960
Construção da Ponte
Newton Navarro
2007
Ocupação
por
pescadores,
agricultores
e Rendeiras
1950
16
22. APAISAGEMDAREDINHAVELHA(ZET-IV)
O NATURAL
A Redinha caracteriza-se por ser onde acontece o
encontro do Rio Potengi e do mar, além de ser
coberta por cordões dunares, que dividem espaço
com o verde do mangue. A área era inicialmente
coberta por dunas mas com a urbanização muitas
foram aplanando. O Rio Potengi está localizado na
margem esquerda seu estuário e o ecossistema de
manguezal importante ambiente para reprodução de
crustáceos. Além do Rio Potengi, a área também é
banhada pelo Rio Doce.
O CONSTRUÍDO
A Redinha por ser um lugar com um grande valor patrimonial, tem
suas tradições materializadas na paisagem. A padroeira da região,
nossa senhora dos navegantes, tem na beira mar, a igreja de pedras
e capelinha branca e azul em sua homenagem. Na margem do Rio
foram construídos o mercado público onde é feita e vendida a
famosa ginga com tapioca e o Redinha Clube, que foi palco de
muitas festas no passado. Mais recentemente e de impacto na
paisagem foi construído o quebra mar que serve de mirante para o
Forte dos Reis magos e a outra lado do Rio. E a ponte estaiada
Newton Navarro que pode ser vista em todo o bairro.
17
23. APAISAGEMDAREDINHAVELHA(ZET-IV)
O CULTURAL
Redinha é conhecida pela Ginga com
tapioca (prato feito com tapioca
com coco recheada com ginga
temperada e frita no óleo de dendê),
que recebeu o título de patrimônio
imaterial de Natal em 2016. Além da
Ginga, a Redinha tem outras
riquezas culturais, como o ofício da
pesca a festa da Padroeira Nossa
Senhora dos Navegantes, e o
carnaval com vários blocos
tradicionais como o bloco dos cães.
Além disso a Redinha é cenário de
várias história de autores natalenses
que vivenciaram o auge da praia nas
décadas de 1940-1970, como
Newton Navarro em Do Outro Lado
do Rio, Entre os Morros (1970) e
Vicente Serejo (1984) em Cartas
para Redinha. A Redinha também foi
a protagonista em documentários o
mais recente foi o Arredia e Tão só
do diretor Augusto Luís.
18
25. CONCLUSÃO
Temos sorte de viver em uma cidade com uma
localização privilegiada e que sempre teve a
preocupação de preservar a paisagem junto às políticas
de organização territorial. Além de toda nossa riqueza
natural temos cultura, que também faz parte da
paisagem e resiste como vimos nos elementos culturais
da Praia de Ponta Negra e da Redinha.
Propomos aqui uma nova forma de olhar a paisagem,
tentando ver o que tem além do morro, e do prédio,
procurando a vida, a história e a cultura do lugar.
Como já foi explicado, essa cartilha faz parte de um
trabalho maior que discute tudo o que foi mostrado
aqui de forma mais aprofundada, e que propõe uma
metodologia de criação de um inventário para a
paisagem cultural natalense. E ela não está finalizada, a
cidade ainda está repleta de de paisagens ricas em
afesto que devem também ser reconhecidas e
valorizadas.
20
26. REFERÊNCIAS
• BESSE, Jean-Marc. O gosto do mundo: Exercícios sobre a paisagem e a geografia. Annie Cambe (Trad.).
Rio de Janeiro: Eduerj, 2014
• CAMARGO, Gabriel V. B.; STORCHI, Maurício; NÓR, Soraya. Caminhos para a identificação da paisagem
cultural: Projeto Piloto em Santo Antônio de Lisboa, SC- Florianópolis. Anais do 3º Colóquio Ibero
Americano: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto. UFMG, 2014
• CASCUDO, Luis da Câmara. História da cidade do Natal. Natal: Ed. Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, 1980.
• INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Iphan). Carta de Bagé ou carta da
paisagem cultural. Rio Grande do Sul, 18 ago. 2007
• ______. Portaria nº 127, de 30 de abril de 2009. Estabelece a chancela da paisagem cultural brasileira.
Brasília, 2009
• NATAL. Lei nº 3.607, de 18 de novembro de 1987. Dispõe sobre os usos do solo e prescrições urbanísticas
da Zona Especial - ZET - 1, criada pela Lei nº. 3.175, de 26 de Janeiro de 1984, e dá outras providências.
Diário Oficial do Município, Natal, 18 dez. 1987
• _____. Decreto nº 5.278, de 15 de março de 1994. Declara “non edificandi” a área de terreno que
especifica, e dá outras providências. Natal, 1994.
• _____. Lei Complementar nº 82, de 21 de junho de 2007. Dispõe sobre o Plano Diretor de Natal e dá
outras providências. Natal, 2007.
• UNESCO, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization. Operational Guidelines for the
Implementation of the World Heritage Convention. Paris: World Heritage Centre, 2017. Disponível em <
http://whc.unesco.org/en/guidelines/ > Acesso em 20 jun. 2009.