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INTRODUÇÃO
AO ANTIGO
TESTAMENTO '
INTRODUÇÃO AO ANTIGO
TESTAMENTO
EXPEDIENTE
Presidente da IEADAM/CEADAM
Jonatas Câmara
Direção Geral da Faculdade Boas Novas
Maria José Costa Lima
Coordenação do IBADAM
Edivaldo Lopes de Lima
Secretaria
Larissa Benevides da Costa Barros
Lissa Martins Negri
Equipe Editorial
Prof. Me. Belmiro Medeiros da Costa Junior
Prof. Dra. Carla Eloiza Bavose Campos Seabra
Prof. Me. Cláudio José da Silva
Prof. Me. Daniel Barros de Lima
Prof. Me. Liliane Costa de Oliveira
Prof. Me. Miqueias Machado Pontes
Prof. Me. Reyth da Cunha Ribeiro
APRESENTAÇÃO DO CURSO MÉDIO EM TEOLOGIA
PECC - Programa de Educação Cristã Continuada
O Programa de Educação Cristã Continuada (PECC) da
Assembléia de Deus no Amazonas está fundamentado numa
visão Integral da formação de seus membros.
O PECC tem o Pr. Samuel Câmara, como seu
idealizador, homem que tem como marca a "gênesis" de
grandes projetos1, os quais se desdobram em outros tão
grandiosos quanto os projetos de origem. A educação
teológica no Amazonas traz a sua marca. Essa·convicção na
educação como investimento, o levou a desenvolver
ferramentas para o crescimento da Igreja e expansão do
reino de Deus fato este que o credencia a receber o título de
mentor do Projeto de Educação da IEADAM.
Algo inédito no Brasil, o PECC, é resultado dà parceria
das Instituições de Ensino da Assembleia de Deus, que pela
primeira vez se unem em uin mesmo projeto: a Escola Bíblica
Dominical, o Instituto Bíblico da Assembleia de Deus no
Amazonas (IBADAM), e a Faculdade Boas Novas (FBN). Esta
união nasceu com o propósito de desenvolver um projeto de
1
Como, por exemplo, o Projeto de Comunicação da Assembleia de Deus
que, por sua importância para o reino, tem matéria para vários livros,
monografias e artigos, colocando o Evangelho onde o missionário
convencional jamais levaria. O desdobramento desse projeto tem sido
inspiração para tantos outros na área, a exemplo do curso de Jornalismo
da própria Faculdade Boas Novas, que tem sido um dos cursos mais
premiados do nosso Estado, inserindo no Mercado vários profissionais
que levam consigo a marca do maior laboratório de rádio e TV da
Comunicação cristã no Norte, a RBN - Rede Boas Novas, rendendo ao Pr.
Samuel o título de Apóstolo das Comunicações.
educação integrado e continuado, não só local, mas em todo 0
país.
O PECC fecha um currículo que é sem dúvida o mais
moderno e atualizado programa de Educação Cristã da nossa
história. Ressaltamos que, ao longo dos seus quase 100 anos,
a Assembleia de Deus no Amazonas, sempre primou pelo
ensino da Palavra através da Escola Dominical, sem, contudo,
oferecer aos seus alunos um documento que comprovasse e
reconhecesse esse aprendizado.
O Programa de Educação Cristã Continuada tem como
objetivo fortalecer a Educação Cristã na Assembleia de Deus,
no Amazonas e por todo o Brasil, por meio de um programa
consistente que integre os níveis de educação já existentes
visando: formação teológica de seus líderes e membros;
formação continuada do professor na Igreja; munir os
membros da Igreja com base bíblica e teológica; capacitar
obreiros para a obra de Deus e prestar serviço de orientação
vocacional à Igreja.
Nos últimos anos da existência de nosso IBADAM,
temos entendido que a função desse instituto é servir tanto à
nossa igreja quanto à outras denominações evangélicas, no
que se refere .a formação de lideranças. Mais do que isso,
vemos claramente o propósito de sermos uma ponte
necessária para alcançar algo que, por muitas vezes na
história da Igreja, foi deixado de lado: a unidade.
O IBADAM representa uma ponte de unidade do Reino
de Deus na cidade de Manaus, um foco claramente presente
na pregação tão veemente do Pr. Jonatas Câmara que, nos
'últimos anos, tem buscado de muitas maneiras evidenciar a
importância disso para a vida de toda a Igreja de Cristo.
O IBADAM representa o Nível 2 do PECC, como curso
médio em teologia, recebendo os egressos da Escola Bíblica
Dominical que concluíram o Nível 1 (Básico em Teologia).
Sua estrutura curricular, contém 21 disciplinas, divididas em
4 módulos: Formação Bíblica, Formação Pedagógica,
Formação Ministerial, e Formação em Missões, tendo como
objetivo aprofundar os conhecimentos bíblico-teológicos
adquiridos na formação básica da Escola Bíblica Dominical.
O IBADAM serve como ponte entre a Escola Bíblica
Dominical e a Faculdade Boas Novas, uma peça fundamental
do Programa de Educação Cristã Continuada, dando
seguimento a formação teológica do aluno no nível superior.
Podemos perceber que o IBADAM deu um grande salto em
sua metodologia educacional e essa coleção de livros
teológicos representa bem esse momento. Sua estrutura
organizacional2 visa capacitar os obreiros que enfrentarão o
mundo além das limitações eclesiásticas, preparando líderes
fortes para o futuro.
Podemos afirmar que a IEADAM, em seu singular
projeto de educação, encontra-se preparada para o
enfrentamento de outros projetos de educação que
permeiam a sociedade e que estão baseados em cosmovisões
equivocadas acerca do homem e da vida, e não em Cristo
2 Caro estudante você pode acessar nos Anexos (ao final do livro) a nova
estrutura dos componentes curriculares do IBADAM, bem como os
quadros explicativos do PECC.
(Colossenses 2:8). São visões antropocêntricas que colocam
sempre o homem no centro, como a medida de todas as
coisas, destruindo assim, a visão bíblica do homem de Deus
(Gênesis 1:26-28).
Manaus, 08 de julho de 2016.
Maria José Costa Lima
(
•
()
Apresentação do Componente Curricular
Neste livro você estudará o Antigo Testamento, a
primeira porção do livro mais importante do mundo - a Bíblia
Sagrada. OAntigo Testamento fala sobre o Criador dos céus e
da terra, apresentando o relato de Seu relacionamento com o
povo que Ele escolheu para usar como instrumento por meio
do qual abençoaria o mundo: opovo de Israel
Este componente curricular está dividido em oito
aulas. A primeira contém uma introdução, que o ajudará a
descobrir por que o Antigo Testamento é uma mensagem
pessoal para sua vida. Descobrirá alguns fatos interessantes
sobre como ele tem sido preservado e transmitido para nós.
Na segunda e terceira aula você aprenderá sobre como Deus
criou a humanidade e começou a fazer-se conhecido dos
homens. Você verá como Ele chamou para Si mesmo um
povo especial, livrando-os da servidão por meio de grandes
milagres e como Ele os ensinou a adorá-Lo.
Na quarta aula você se familiarizará com a Palestina, a
terra que Deus prometeu ao Seu povo. Com o auxílio de mapas
e gráficos, entenderá suas principais características. Pois
estará acompanhando o povo de Deus, desde o seu entrar a
apossar-se dela, até, finalmente, tomarem lugar entre as
nações do mundo. Será informado sobre a magnificência e
o resplendor de que usufruíram, enquanto viveram na
obediência a Deus.
Nas aulas seguintes você verá como o povo de Deus
foi exilado de sua terra, devido a sua desobediência a Deus.
Foi um período de lamentáveis fracassos. Mas, você também
descobrirá como Deus continuou falando com lcs. E como
Deus trouxe-os de volta à sua terra, inspir ndo-os a
restaurarem e reedificarem aquilo que havia sido d struído.
Ao considerar essa fase particular da história de Israel, você
aprenderá lições valiosas sobre a importância da obediência
e sobre a possibilidade de restauração.
Este livro o ajudará não só a compreend r o Antigo
Testamento, mas até mesmo o Novo Testamento, pois o Novo
é o cumprimento do Antigo. O estudo que fizer da história do
povo de Deus fortalecerá seu próprio conhecimento acerca
dos caminhos e das palavras de Deus, bem como a sua
conduta diante dele.
Introdução ao Antigo Testamento formará a primeira
parte do seu estudo no Antigo Testamento. Frisa a história do
povo de Deus, dando atenção especial aos poderosos atos
de Deus e às palavras proféticas do Senhor acerca desses
atos. Aborda a sequencia e o significado das experiências
deste povo. Examinando o relacionamento deles com Deus,
bem como seus sucessos e fracassos. O estudante descobrirá
muitas verdades do Antigo Testamento que o ajudarão a
compreender a Bíblia, como andar com Deus, e o serviço que
Lhe deve prestar.
•
+
SUMÁRIO
AULA 1: OS CAMINHOS E AS PALAVRAS DE DEUS ..................11
1. SUPORTE PARA OANTIGO TESTAMENT0..............................11
2. DEUS DEU-NOS OANTIGO TESTAMENT0..............................14
3. NOSSA ABORDAGEM AO ESTUDO DO ANTIGO
TESTAMENT0..............................................................................................20
AULA 2: HISTÓRIA DA RAÇA HUMANA.........................................25
1. COMEÇOS NO LIVRO DEGÊNESIS ..................................................................25
2 ,. AGRANDE TRAGEDIA HUMANA...................................................30
AULA 3: INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL.....................................43
1. O CHAMADO DE ABRAÃ0................................................................43
2. UM HOMEM RESPONDE.-..................................................................................................45
3. NASCE UMA NAÇÃ0.............................................................................52
4. PREPARAÇÃO DO POVO DE DEUS...............................................58
5. OPOVO DE DEUS DUVIDA E VAGUEIA...........................................78
6. OPOVODEDEUSOUVEASINSTRUÇÕESFINAIS.................................80
AULA 4 UM LAR PARA O POVO DE DEUS......................................83
1. O LÍDER EA TERRA............................................................................83
2. LIÇÕESAPRENDIDAS NASTREVAS...................................................90
3. LUZ DADASOBREOFUTUR0............................................................................94
AULA 5: O REINO UNID0......................................................................99
1. IDEIA DE REINAD0.............................................................................99
2. OREINADO DE SAUL.........................................................................105
3. OREINADO DE DAVI.........................................................................106
4. OREINADO DE SALOMÃ0..............................................................111
SUMÁRIO
AULA 6 UM REINO DIVIDID0............................................................ 115
1. DIVISÃO DO REINO UNID0............................................................ l15
2. DESCRIÇÃO DO REINO DIVIDID0...............................................116
3. HISTÓRIA DO REINO DIVIDID0..................................................120
AULA 7 DESTRUIÇÃO E RECONSTRUÇÃO................................... 31
1. QUEDA DOS REINOS..........................................................................131
2. A EXPERIÊNCIA DO CATIVEIR0..................................................134
3. PROPÓSITO DA RESTAURAÇÃ0..................................................139
4. PROGRESSO DA RECONSTRUÇÃ0..............................................140
5. MENSAGENS AOS RESTAURADORES.......................................143
6. ÚLTIMO AVISO AO POVO DE DEUS.............................................145
AULA 8 ESCRITOS...................................................................................149
1. OS ESCRITOS E SUAS FORMAS.....................................................149
2. ESCRITOS QUE DÃO SABEDORIA................................................151
3. ESCRITOS DEVOCIONAIS................................................................155
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................162
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
AULA1
OS CAMINHOS EAS PALAVRAS DE DEUS
1. SUPORTE PARA O ANTIGO TESTAMENTO
1.1 Fontes de Revelação
O Antigo Testamento foi escrito em um período de
cerca de mil anos, desde Génesis até o profeta Malaquias.
Muitos são seus autores, os quais escreveram os textos
bíblicos a partir da revelação de Deus, porém, também
fizeram uso de documentos da época, da tradição escrita e da
tradição oral.
Tradição Oral. Antes de a história virar texto, era
passada de uma geração à outra através da tradição oral. Os
fatos do passado eram contados e recontados de pai para
filho, do sacerdote para o povo. Conforme Esequias Soares, a
tradição oral foi usada quando os escritores sagrados
ouviram relatos de outras pessoas. Deus usou seres humanos
e fatos do dia a dia na revelação, que foi gradativa ao longo da
história. Depois, usou seus servos para providenciarem o
registro desses fatos, na direção do Espírito Santo.1
Tradição Escrita. Existem outros livros que não estão
nos textos bíblicos, e que acabaram se perdendo, mas que
foram consultados pelos escritores durante a compilação do
1
SOARES, Esequias. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003, p. 19.
11
Antigo Testamento. Por exemplo, Moisés faz menção do
"livro das Guerras do SENHOR" (Nm 21.14); nos livros de
Josué e 2Samuel são citados o "livro do Reto" ou "livro de
Jaser" (Js 10. 13; 2Sm 1. 18).
Testemunhas Oculares. Muitos .escritores bíblicos
relataram fatos testemunhados, vividos e experienciados
pelos mesmos. Por exemplo, Moisés registrou o êxodo e a
peregrinação no deserto (Êx 17. 14; Nm 33. 1, 2); o autor do
livro de Josué mostra que estava presente no momento em
que o fato histórico ocorria (5. 1); o próprio Samuel ungiu os
dois primeiros reis de Israel, sendo que o mesmo é autor do
livro ·(1Sm 10. 1; 16. 13); muitos profetas relataram fatos
ocorridos com os mesmos.
Revelação Divina. Sendo Moisés o autor do livro de
Gênesis, vem então, a seguinte pergunta: como ele soube da
criação? Apenas pela revelação. A revelação divina não
mostrava apenas fatos do passado, mas também, fatos que
haveriam de ocorrer, como por exemplo, a vinda do messias
profetizada pelos profetas.
1.2 Material de Escrita.
Papiro. Era a folha de uma planta aquática muito
comum no Egito. Do cerne de seu caule se produzia um
material semelhante à folha de papel que os antigos usavam
para a escrita. Essas folhas eram confeccionadas em forma de
rolos que podiam medir até 15 metros, mas o tamanho
padrão era de 10 metros. Conforme Esequias Soares, os
prlm iros escritos da Bíblia foram feitos nesse material. Uma
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
curiosidade aqui, é que os romanos chamavam o papiro de
líber, de onde deriva a palavra "livro", e os gregos gregos
chamavam o papiro de biblion, que no plural é biblia, termo
no grego que pode ser usado tanto no singular como no
plural. Por isso é a palavra mais propícia para nos referirmos
às Escrituras, pois a Bíblia é, ao mesmo tempo um livro, como
também uma coletânea de 66 livros.
Pergaminho. Nome derivado da cidade de Pérgamo, de
onde se originou este material de escrita. Também era
chamado de couro ou Avelino. Feito de pele de <::abras,
ovelhas, cordeiros ou carneiros. Era mais resistente que o
papiro, como também mais caro.
Além destes materiais acima, Norman Geisler cita
outros, como as tabuinhas de barro, usadas por Jeremias (17.
13) e Ezequiel (4.1); as pedras, que já eram usadas na
Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação, como
por exemplo, o Código de Hamurabi, e claro, foram usadas
para a escrita de textos bíblicos (Êx 24. 12; 2. 15, 1; Dt 27.
2,3; Js 8. 31, 32); metal (Êx 28. 36; Jó 19. 24); a cera (Is 8.1;
O. 8); e os cacos de louça (óstracos), como mostra Jó 2. 8.2
Instrumentos de escrita. Dentre eles, havia o estilo,
ínstrumento em formato de pontalete triangular com
abeçote chanfrado, com que se escrevia. Era usado de modo
special para fazer entalhes em tabuinhas de barro ou de
era, sendo às vezes denominado pena pelos escritores
bíblicos (Jr 17. 1). Ocinzel era usado para fazer inscrições em
EISLER, Norman; NIX, William. Introdução bíblica: como a Bíblia
d1cgou até nós. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 131.
13
pedra (Js 8. 31, 32), Jó denomina o cinzel como pena de ferro
(19. 24). A pena era usada para escrever em papiro e em
pergaminho.
1.3 Línguas Originais
O Antigo Testamento foi escrito originalmente em
hebraico, e uma pequeníssima parte em aramaico (Esdras 4.8
- 6.18; 7. 12 - 26; Daniel 2.4 - 7.28; Jeremias 10.11 e duas
palavras em Gênesis 31. 47). Norman Geisler diz que o
hebraico encaixou-se bem nessa tarefa porque é uma língua
pictórica. Expressa-se mediante metáforas vividas e
audaciosas, capazes de desafiar e dramatizar a narrativa dos
acontecimentos. Além disso, o hebraico é uma língua pe~soal.
Apela diretamente ao coração e às emoções, e não apenas à
mente e à razão. É uma língua em que a mensagem é mais
sentida que meramente pensada.3
2. DEUS DEU-NOS O ANTIGO TESTAMENTO
2.1 O Antigo Testamento foi Inspirado Por Deus
De conformidade com 2 Timóteo 3.16-17, a Bíblia foi
inspirada por Deus. No idioma em que essa declaração foi
originalmente escrita, as palavras inspirada por Deus
significam "sopradas por Deus". Stanley Horton explica que
Paulo, ao escrever esta palavra, não estava dizendo que Deus
opro11 lguma característica divina nos escritores humanos
1
li 1 1li!(, 141117. p. 130.
INTRODUÇÃO AO ANTTGO TESTAMENTO
das Escrituras, ou que toda a Escritura respira um ambiente
de Deus, que fala dEle. O adjetivo grego (theopneustos) é
claramente predicativo, é usado para identificar a fonte
originária de todas as Escrituras. Deus é o Autor, em última
análise. Logo, toda a Escritura é a voz de Deus, a Palavra de
Deus.4 Quando os cristãos falam acerca da inspiração verbal
da Bíblia, querem dizer que cada palavra da Bíblia foi
soprada por Deus, não se tratando de mero esforço humano
para exprimir verdades importantes.
É evidente que Deus permitiu miraculosamente que a
natureza e a personalidade de cada escritor transparecesse
através daqueles escritos. Moisés, Isaías e Samuel, que
escreveram vários livros do Antigo Testamento, não foram
meros secretários aos quais Deus ditou Sua mensagem.
Suas próprias personalidades são reveladas em seus
escritos.
Acima de tudo, porém, sobressai-se o fato de que o
Deus soberano inspirou cada palavra das Escrituras.
Assim, o Antigo Testa mento nos oferece a própria
mensagem inspirada por Deus. A Bíblia não somente contém
a palavra de Deus; mas também é a Palavra de Deus.
tanley Horton mostra que o Antigo Testamento apresenta
xpressões como: "Falou o SENHOR a Moisés, dizendo" (Êx
4.1); "A palavra que veio a Jeremias, da parte do SENHOR,
dizendo" (Jr 11.1); "Tu, pois, ó filho do homem, profetiza... e
dize: Assim diz o SENHOR Deus" (Ez 39.1); "Assim diz o
1
11 RTON, Stanley. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
d11s Assembleias de Deus, 1996, p. 100.
15
SENHOR" (Am 2.1). Tais declarações são usadas mais de
3.800 vezes, e demonstram com clareza que os escritores
tinham consciência de estar entregando uma mensagem
autorizada da parte de Deus.5
2.2 OAntigo Testamento é a Palavra de Deus
Talvez você pergunte: "Temos razões plausíveis para
aceitar que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus?" Uma
maneira simples de responder a essa pergunta com um sim
consiste em ressaltar que Jesus Cristo, o nosso Senhor, fez
citações extraídas de vinte e dois livros do Antigo
Testamento. Além disso, o livro de Marcos tem 15 citações
do Antigo Testamento, Mateus tem 19, Lucas tem 25, Hebreu~
tem 85, e o Apocalipse tem 245. Nos demais livros do Novo
Testamento há muitas outras citações.
Esses fatos mostram que Jesus e os escritores do
Novo Testamento davam grande valor ao Antigo, e
reconheciam a autoridade do mesmo. Na Bíblia, lemos que com
frequência eles se referiam ao Antigo Testamento como "as
Escrituras", e, algumas vezes, como "a Lei" - dando a entender
os mandamentos dados por Deus ao Seu povo. Quando
encontramos essas expressões no Novo Testamento,
usualmente podemos entender que elas se referem ao que
chamamos de Antigo Testamento. Atualmente também
usamos o termo "Escrituras", embora geralmente
l'mpr •guemos essa palavra para indicar a Bíblia inteira,
vc•rsírnlo específicos ou porções da Bíblia. Devemos notar
IIC >I( 1( lN. l'>'>6. p. 99.
lt,
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
esses diferentes usos quando estamos lendo ou estudando a
Bíblia.
O Antigo Testamento relata muitos fatos históricos
sobre a nação judaica. Mas ali não há apenas história. Temos
ali uma história sagrada, mediante a qual Deus se revela ao
homem. O Antigo Testamento mostra-nos como Deus agiu
com a nação chamada Israel. Contudo, Deus não é apenas o
Deus de Israel, mas é igualmente o governante supremo de
todos os povos de todos os lugares. A verdade frisada a
seguir é muito importante:
O tema básico do Antigo Testamento é que Deus
revelou Sua natureza à humanidade mediante atos
poderosos e palavras proféticas.
O registro escrito do Antigo Testamento, conforme foi
recebido pelos judeus e pelos cristãos era considerado um
produto divino-humano, isento de erro, contendo verdades
destinadas a toda a raça humana.
2.3 OAntigo Testamento Chegou até Nós
Desde os tempos mais antigos, Deus fez os homens
guardarem um registro escrito de Suas palavras e revelações.
Os reis de Israel deviam ter uma cópia da lei de Deus (Dt 17.1-
19). A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em
hebraico, a língua falada pelo povo de Israel até o ano 500 a.C.
A partir de então, o aramaico tornou-se a língua falada na
Palestina e regiões circunvizinhas. Uma pequena porção do
Antigo Testamento foi escrita em aramaico, textos como:
Esdras 4.8-6.18; 7.12-20; Jeremias 10.11 e Daniel 2.4-7.28.
17
O material sobre o qual foi escrito o Velho Testamento
denominou-se pergaminho. Peles de animais eram usadas para
preparar esse material. Um pedaço de pergaminho, onde eram
escritos trechos bíblicos, usualmente media 25cm de largura
por 10m de comprimento. Essas tiras eram enroladas, formando
um rolo. Quando um rolo ficava gasto pelo uso, um grupo
particular de estudiosos, chamados massoretas, copiava os
textos em novos rolos, com extremo cuidado. Usualmente, os
rolos antigos eram destruídos posteriormente. Encontramos
manuscritos desse tipo desde o ano 900 d.C.
Entretanto, a descoberta de alguns manuscritos muito
mais antigos, de cerca do ano 70 d.C., foi feita em 1947, em um
lugar chamado Qumran, perto do mar Morto. Ali foram
descobertos os chamados "manuscritos do mar Morto". Eles
mostram que o Antigo Testamento que recebemos nos foi
fielmente transmitido, e merece nossa confiança e aceitação
de todo o coração!
Têm sido feitas muitas traduções do Antigo
Testamento. Nos últimos séculos antes de Cristo, eruditos
judeus prepararam uma tradução para o grego. Atradição diz
que eles foram setenta e dois tradutores, daí vem o titulo
Septuaginta, palavra grega que significa setenta, que foi dado
a essa tradução. Isso permitiu que muita gente lesse o Antigo
Testamento. Juntamente com o Antigo Testamento em
hebraico; a Septuaginta era usada no tempo do ministério
terreno de Jesus.
No final do Século IV d.C., foi feita uma tradução da Bíblia
inteira para o latim, por um erudito de nome Jerônimo. Eentão,
nos séculos XIV e XV, apareceram diversas outras traduções
18
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
em alemão, francês, italiano e inglês. Após Guilherme Tyndale,
apareceu a famosa versão inglesa "autorizada", do rei Tiago, em
1611. Aprimeira tradução do Novo Testamento em português
saiu em 1681, traduzida por João Ferreira de Almeida. A Bíblia
inteira foi impressa em 1753. Em nossos dias têm sido
preparadas muitas outras traduções. Atualmente a Bíblia é
disponível na língua falada pelo povo de praticamente todas
as regiões do mundo.
2.4 O Antigo Testamento é uma Mensagem Pessoal Para
Nós.
Abraão foi o grande homem de fé, o pai da nação de
Israel. Porém, ele não foi apenas o pai dessa nação. De acordo
com Romanos 4.11,16,24, os crentes de hoje são seus
descendentes espirituais. Esse é o fato que reveste o Antigo
Testamento de tão grande significação para nós. Ali temos
não só a revelação dos caminhos e das palavras de Deus,
mas também a história de nossos antepassados e
progenitores espirituais. Embora sejam diferentes as nossas
atuais circunstâncias, em relação às deles, as lições espirituais
que eles aprenderam aplicam-se também a nós com igual
propriedade.
O trecho de Hebreus 4.12 diz que a Palavra de Deus é
"viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e
espírito... apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração". Por ser o Antigo Testamento a Palavra de Deus,
19
ele nos dá discernimento não somente sobre a natureza de
Deus, mas também quanto à nossa. Ao estudarmos os
acontecimentos ali registrados, podemos descobrir muitas
coisas sobre nossas próprias vidas, pois mui- tas vezes
achamo-nos em situações similares àquelas encontradas por
aqueles homens e mulheres do Antigo Testamento. Deus
pode falar conosco, ao estudarmos as suas vidas e as
mensagens que Deus tinha para eles.
3. NOSSA ABORDAGEM AO ESTUDO DO ANTIGO
TESTAMENTO
3.1 Tip(!S de Escritos do Antigo Testamento
Dos 66 livros da Bíblia, 39 compõem o Antigo
Testamento, divididos em três grupos. Os primeiros dezessete
livros, de Gênesis a Ester, narram o desenvolvimento histórico
de Israel como nação, até cerca de quinhentos anos antes de
Cristo vir ao mundo. Esses são os chamados livros
históricos.
Os primeiros cinco livros históricos estão
intimamente associados à vida e ao ministério de Moisés, que
guiou os israelitas para fora do Egito. São eles: Gênesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio. Esse grupo de livros é
geralmente conhecido como o Pentateuco, nome grego que
significa "cinco vasos".
Cinco livros - Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e
Cantares de Salomão formam o segundo grupo chamado livros
poéticos. Expressam os senti- mentos, os pensamentos e as
20
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
emoções de vários povos que viveram no tempo da história
da nação de Israel. Porém, não se limitam de perto a eventos
particulares dessa nação.
Os demais dezessete livros são chamados livros
proféticos. Deus levantava profetas de vez em quando para
declararem a Sua palavra. Eles tinham uma mensagem para
sua própria geração. Todavia, com frequência também falavam
sobre eventos futuros. Os detalhes constantes nos livros
históricos são as chaves para compreendermos devidamente
a mensagem dos profetas. Por outro lado, as palavras dos
profetas ajudam o leitor a compreender as narrativas dos
livros históricos.
Lembramos aqui, que a composição do cânon do Antigo
Testamento cristão evangélico é o mesmo usado pelo cânon
h braico, que contém os mesmos 39 livros. O quadro 1 dado a
s guir, mostra o cânon do Antigo Testamento em cada uma
d ssas três divisões.
21
QUADRO 1: DIVISÕES DO ANTIGO TESTAMENTO
HISTÓRIA POESIA PROFESSIA
(Pentateuco) (Profetas Maiores)
Gênesis Jó Isaías
Êxodo Salmos Jeremias
Levítico Provérbios Lamentações
Números Eclesiastes Ezequiel
Deuteronômio Cantares Daniel
(Históricos) (Profetas Menores)
Josué Oséias
Juízes Joel
Rute Amós
1 e 2 Samuel Obadias
1 e 2 Reis Jonas
1 e 2 Crônicas Miquéias
Esdras Naum
Neemias Habacuque
Ester Sofonias
Ageu
Zacarias
Malaquias
3.2 Estudo Cronológico do Antigo Testamento
A fim de melhor pesquisarmos o Antigo Testamento,
estudaremos neste curso os livros históricos, poéticos e
proféticos segundo a chamada ordem cronológica. Em
outras palavras, a ordem de estudo acompanhará a época
em que cada livro foi escrito. Começaremos pelo livro que
fala sobre os primeiros e mais antigos acontecimentos. E
22
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
terminaremos pelo livro que fala sobre os últimos e mais
recentes eventos.
Já vimos que o tema do Antigo Testamento é a
revelação que D.eus nos faz de Sua natureza, por meio dos
acontecimentos históricos. Mas esses eventos, embora
dirigidos pelo próprio Deus, não poderiam fornecer-nos
uma revelação de Sua natureza por si mesmos. Portanto,
Deus levantou homens não somente para verem esses
acontecimentos, mas também para explicarem o que eles
revelam sobre Deus. Tais homens foram os profetas. Ver e
explicar a revelação de Deus era a tarefa dos profetas. Neste
curso, estudaremos os profetas paralelamente aos eventos
que viram e sobre os quais falaram. Estudaremos os livros
poéticos dentro do tempo em que provavelmente foram
escritos.
As palavras de Miquéias 4.2 nos fornecem um belo
tema, ao iniciarmos nosso estudo do Antigo Testamento:
"Subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de
Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas
uas veredas."
Enquanto você estuda o Antigo Testamento, espere
que Deus fale com você por meio desses livros. Ali há uma
mensagem pessoal para sua vida!
23
Questões para Estudo e Discussão
1. Exponha vários fatos sobre o conteúdo e o valor do
Antigo Testamento.
2. Faça uma lista das maneiras em que a mensagem do
Antigo Testamento aplica-se aos crentes de hoje.
3. Identifique os versículos que contêm exemplos do conteúdo de
cada uma das três principais divisões ou tipos de literatura
encontrados no Antigo Testamento.
24
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
AULA2
HISTÓRIA DA RAÇA HUMANA
1. COMEÇOSNOLIVRODEGÊNESIS
1.1 ODeus de Gênesis
Diz o trecho de Gênesis 1.1: "No princípio... Deus..."
Quem, pois, é Deus? No livro de Gênesis Ele revela-se como o
Criador divino, Aquele que sempre existiu, de eternidade a
eternidade. Paul Hoff chega a dizer que o conceito mais
importante que encontramos no relato da criação não é a
descrição do processo de criar, nem a dos detalhes acerca do
homem, por mais interessantes que sejam. Tal conceito é: há um
Deus, e por ele foram feitas todas as coisas.1
Deus não tem começo de vida e nem fim de dias.
l·:mbora Ele tenha criado todas as coisas, existe separado de
1odas as coisas. As árvores são obra das mãos de Deus, rrías
D us não é uma árvore. Deus criou o sol, mas o sol não é Deus.
Além do universo, há um ser eterno que é superior à sµa
criação. Por isso Gênesis ensina, dede o começo, que Deus é
1'111ico transcendente, pessoal e criador.
.,
A figura de Deus domina todo o capítulo 1 de Gênesis.
Af, o termo traduzido por Deus em nossas Bíblias é Elohim no
lu·braico, no plural. Porém, quando é usado para referir-se a
1)eu , a tradução é no singular, pois, nesse caso o plural é
1
IIOFF, Paul. O Pentateuco. São Paulo: Editora Vida, 2007, p. 28.
25
considerado majestático, indicando sua intensidade,
plenitude, majestade e poder infinito. Este capítulo mostra o
poder de Deus, sua majestade, transcendência. Um Deus que
opera de longe, que lança a sua palavra e o mundo vai se
organizando, saindo do caos e sendo criado.
Já no capítulo 2, Deus é chamado de Javé. Um Deus
mais pessoal, mais próximo ao homem. Neste capítulo, Deus é
descrito dentro de uma linguagem antropomórficaz, ou seja,
Javé tem atitudes e ações humanas. Ele aparece criando o
homem e a mulher mais de perto, moldando o barro ou
fazendo uma operação no homem para fazer a mulher.
Andando e conversando com ambos (homem e mulher) no
jardim. Ele não está tão longe, e precisa matar um animal para
fazer roupas para o primeiro casal. Ampliando mais esta
discussão, podemos ir um pouco mais longe e ver Noé
oferecendo um holocausto a Deus, e o mesmo sentindo o
"cheiro suave", ou seja, assim como nós, Ele sentiu o cheiro
delicioso do churrasco, daquela picanha no fogo e se agradou.
Podemos ainda falar do antropopatismo, onde Javé
tem sentimentos humanos. Javé se arrepende de ter feito a
humanidade, lembra de Noé na arca, como se houvesse
esquecido, entre outros. Lembro aqui que quando o texto
bíblico afirma que Deus se arrependeu, é simplesmente uma
forma de tentar mostrar o sentimento de tristeza que Deus
teve diante da depravação da humanidade. É certo que Ele
2
O Antropomorfismo etimologicamente .vem da junção de duas palavras
gregas: antropos (que significa homem) e mo,fê (forma ou aparência), sendo
uma figura de linguagem que atribui a Deus características e atividades
humanas. Aqui, Javé tem estas características e atitudes humanas.
26
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
não se arrependeu como se arrepende o homem. Tais figuras
de linguagem (antropomorfismo e antropopatismo) são
utilizadas · com o objetivo de mostrar Deus. Um Deus
transcendente emana, rebaixando-se a uma linguagem
humana para fazer-se conhecido.
1.2 OEvento de Gênesis
A palavra criar aparece por três vezes no primeiro
capítulo do livro de Gênesis (1.1,27). Esse vocabulário é usado
para traduzir a palavra hebraica que significa "fazer algo do
nada". O fato de que Deus fez o mundo do nada é uma
indicação de que Ele tem todo o poder. Quando
compreendemos a ideia ali contida, damos o primeiro passo
importante para entender nosso relacionamento com Deus. A
Bíblia ensina-nos que é somente pela fé que sabemos que
Deus criou o mundo. O trecho de Hebreus 11.3 diz: "Pela fé
entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram
criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é
aparente."
A confiança na Palavra de Deus é a base do
relacionamento de uma pessoa com Deus, bem como de sua
experiência cristã. Sem essa fé, agra- dar a Deus é impossível.
(Hb 11.6.) Na qualidade de crentes, devemos depender da
Palavra de Deus, e não de nossa fragilidade e de nosso
conhecimento parcial, como seres humanos.
É muito mais importante entender que Deus criou tudo
do que formar uma opinião de onde ou quando os
acontecimentos da criação tiveram lugar. O autor de Gênesis,
27
por exemplo, não apresenta a cronologia dos eventos ali
relatados. Não sugere uma data sequer. Nem expõe detalhes
geográficos precisos sobre o jardim do Éden, primeiro lugar
habitado pelo homem. Essas questões não são ventiladas.
Não obstante, a verdade central é clara: Deus criou o mundo
do nada, e Sua obra criativa caracteriza-se por propósito,
desígnio e boa ordem.
Essa verdade é o fundamento e o pano de fundo de
toda a revelação restante de Deus, em uma narrativa que
gradualmente vai sendo descoberta na Bíblia.
1.3 O Homem - Obra Prima de Deus
Após darem-nos a narrativa da origem dos céus e da
terra, os capítulos iniciais de Gênesis passam imediatamente
para a descrição do homem. Sem nenhuma dúvida, o homem é
o mais importante ser de toda a criação divina. Criado à
imagem ou semelhança de Deus, ele é o centro do interesse na
revelação do propósito de Deus. Paul Hoff explica que o fato
de que os membros da Trindade falaram entre si (1.26),
indica que este foi o ato transcendental e a consumação da
obra criadora.3
Ao homem foram dadas autoridade e responsabilidade
sobre a criação. Deus tencionou que o homem governasse o
mundo (Gn 1.26,28), e para isso o pôs em um belo jardim, no
Éden. O homem era diferente de todos os animais. Essa
diferença é destacada pelos eventos descritos em Gênesis
2.18-23. O homem não encontrava companhia satisfatória
3
HOFF, 2007, p. 32.
28
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
enquanto Deus não criou Eva do próprio corpo de Adão.
Portanto, houve perfeição! Havia um reino animal e um reino
vegetal em perfeita harmonia com a humanidade, encarregada
de gerenciá-los. E Deus estava muito satisfeito!
Deus queria que a humanidade governasse a criação
terrena, mas também queria que os homens -tivessem
comunhão com Ele. Havia perfeita ordem na criação, mas
dentro do ser humano havia uma força poderosa - a sua
vontade. No princípio, o homem preferiu ter comunhão com o
seu Criador. Conforme indica o trecho de Gênesis 3.8, Deus
tinha comunhão com Seus dois amigos humanos. Que
tempos maravilhosos devem ter sido aqueles! Porém, para
que Deus e o homem tenham uma verdadeira e duradoura
comunhão, o homem deve preferir livremente essa comunhão.
Deus havia dado ao homem liberdade de escolha. Deus
não criara o homem para ser autômato, um objeto sem
vontade e sem desejos próprios, mas Deus queria que o
homem Oamasse, por escolha própria. Oresto da criação - as
estrelas, o sol, as árvores, etc. - Não têm liberdade de
escolha. Tudo o mais deve mover-se de acordo com o desígnio
determinado pelo Senhor. Mas Deus queria que o ser humano
preferisse voluntariamente fazer a Sua vontade, deleitando-se
em assim fazer.
29
2. AGRANDE TRAGÉDIA HUMANA
2.1 A Queda e Suas consequências
Dentro do ensino cristão, a desobediência de Adão e
Eva, descrita em Gênesis 3.1-7, é chamada de queda. Já vimos
qual o propósito original de Deus para a humanidade. Foi
dessa altura toda que o homem caiu.
Conforme mostram os eventos do terceiro capítulo de
Gênesis, encontramos Adão e Eva no jardim do Éden, com total
liberdade de escolha. Mas também havia outra personalidade -
Satanás. Este também fora criado com um elevado propósito.
Porém, rebelara-se contra Deus e perdera a sua posição (Lc
10.18), e agora tentava frustrar o plano de Deus, arrastando o
homem em sua atitude de rebeldia. Ele tentou Adão e Eva a
usarem sua vontade própria para agirem contra a vontade
de Deus. A questão específica envolvida era o mandamento de
Deus acerca da árvore no meio do jardim.
Não pense ser estranho que o único teste envolvia uma
árvore literal e seu fruto. Com frequência Deus testa a nossa
obediência, usando coisas simples e corriqueiras. Satanás veio
a Eva na forma de uma serpente, criatura que, naquela época,
sem dúvida, era especialmente bonita. Adão e Eva falharam
ambos diante do teste. Esse fracasso e essa desobediência
provocaram a mais crucial mudança no relacionamento entre
o homem e Deus. Esse é o mais trágico acontecimento da
história da raça humana. É referido por muitas e muitas vezes
na Bíblia (ver Romanos 5.12,18-19, por exemplo).
30
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Consideremos mais de perto o que realmente sucedeu
quando Adão e Eva pecaram. Os atos deles parecem ser
·xemplo do padrão que encontramos revelado no Novo
Testamento. Esse padrão mostra a maneira errada de
satisfazermos três desejos normais que Deus nos deu: :) o
desejo de possuir coisas; 2) o desejo de usufruir das c01sas;
3) 0 desejo de obter sucesso ou bom êxito. No trecho de I
João 2.16, a satisfação desses três desejos, !ºr~ da vontad,; de
Deus é identificada como: 1) "a concupiscenc1a da carne ; 2)
"a c~ncupiscência dos olhos"; 3) "a soberba da vida". Isso
aponta, respectivamente, para os desejos pecaminosos, o q~e
as pessoas veem e querem, e os valores do mundo nos quais
as pessoas se orgulham tanto.
Foi desse modo que nossos primeiros pais aliaram-se
a Satanás em sua rebelião contra os mandamentos de Deus.
Houve um efeito que sucedeu imediatamente a esse ato de
desobediência. Ohomem tornou-se cônscio de si mesmo, e não
de Deus. E percebeu que estava perdido. Adão e Eva tiveram
de esconder-se da santa presença de Deus e usaram folhas
para encobrir sua nudez (Gn 3.7). OSenhor Deus, porém, matou
um animal e com sua pele fez vestimentas para eles.
Avida espiritual de Adão e Eva morreu, conforme Deus
havia dito, e seus corpos físicos ficaram sob a ameaça da
morte. Foram separados de Deus - ficaram órfãos. Davidson
chama atenção para o fato de Deus andar no jardim e
perguntar: "onde estão?" interpretando que Deus buscava o
homem, não porque o homem estivesse separado de seu
31
conhecimento, mas de sua comunhão.4 Adão e Eva
preferiram abandonar a comunhão com Deus, deixando-se
controlar por Satanás. Do cume do propósito de Deus caíram
nas profundezas da servidão ao pecado.
~Deus julgou todos os que participaram na queda. A
serpente foi julgada entre todos os animais (Gn 3.14).
Estabeleceu-se a inimizade entre a serpente e a
humanidade. Mulheres e homens ficaram sujeitos ao
sofrimento, ao trabalho árduo e à morte física. A narrativa
termina com a humanidade expulsa do feliz jardim, para
que não pudessem comer da árvore da vida e viverem para
sempre em seu estado pecaminoso (Gn 3.22-24).
Quando Deus deu ao ser humano a liberdade de
escolha, Ele sabia que havia o perigo de o homem voltar-se
do bem para o mal. Porém, embora soubesse o que poderia
acontecer, Deus não mudou Seu plano. Algumas pessoas
são tentadas a imaginar que talvez Deus tivesse falhado
em Seu propósito, pois estão olhando para o mundo
coberto com as consequências do pecado. Porém, o plano
de Deus não pode falhar (Is 46.10). Deus jamais teria criado
o mundo se a obtenção da salvação que Ele dá não
ultrapassasse em muito a perda produzida pela
desobediência do homem. Deus sabia que alguns
prefeririam rejeitar voluntariamente o Seu livramento.
Essa verdade nos convence acerca de quão maravilhoso
será o futuro para aqueles que aceitarem a salvação
4
DAVIDSON, F. O novo comentário da Bíblia. Editado em português pelo
Rev. Dr. Russell P. Shedd - São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 139.
32
lNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
oferecida por Deus.
Deus prometeu a vitória final por meio do descendente
da mulher (Gn 3.15). Isso envolveu uma profecia a respeito de
Cristo, o qual viria a fim de redimir a humanidade. Não é
maravilhoso que o crente que vencer, um dia comerá daquela
árvore da vida?! Otrecho de Apocalipse 2.7 diz: "Ao que vencer,
dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do
paraíso de Deus." Quão grandiosa é a promessa para aqueles
que preferem viver para Deus e se recusam a seguir o
conselho de Satanás, aliando-se a ele em sua rebeldia!
De fato, como diz Paulo: "Ó profundidade das
riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os
seus caminhos!" (Rm 11.33). O Propósito de Deus não será
frustrado. Um dia, multidões que não poderão ser contadas,
vindas de todas as nações, povos e línguas, entoarão o hino
da salvação. (Ap 7.9-12). O eterno propósito do verdadeiro
Deus terá cumprimento!
2.2 Descendentes e Destruição - Caim, Abel e Sete
Adão e Eva, entre outros filhos, tiveram três cujos
nomes são mencionados na Bíblia: Caim, Abel e Sete. A
história de Caim e Abel, dada no quarto capítulo do Gênesis,
ilustra particularmente a condição da humanidade, após o
pecado de Adão e Eva. Caim e Abel adoraram a Deus,
trazendo cada qual a sua oferta. Osacrifício animal de Abel foi
aceito por Deus, mas a oferta de frutos da terra, trazida por
Caim, foi rejeitada.
33
Essas ofertas de Caim e Abel, no início da narrativa
bíblica, refletiram a experiência de seus pais, Adão e Eva. Da
mesma forma que Adão e Eva haviam tentado ocultar sua
nudez (encobrindo o seu pecado) com folhas de figueira,
juntadas mediante seu próprio esforço, assim também Caim
trouxe a Deus uma oferta do produto de seu trabalho na terra.
Da mesma maneira como Deus matara um animal para fazer
vestimentas para Adão e Eva, assim também Abel trouxe um
sacrifício que consistia em um animal. Deus vestira Adão e
Eva, e aceitara a oferta de Abel. Nesses primeiros
acontecimentos, Deus revelou claramente um importante
princípio: Para cobriropecadodevehaveramorte,ouamortedo
pecadorouamorte de um substituto pelo pecador.
De Adão e Caim em diante Deus aponta para a cruz de
Jesus Cristo, pois Deus deixou claro que o Salvador prometido
teria de morrer a fim de pagar a pena pelos pecados dos seres
humanos. Todo animal sacrificado no Antigo Testamento
retratava com antecedência o Senhor Jesus, como 0
verdadeiro Cordeiro de Deus (Jo 1.29). Esses sacrifícios
retratavam a morte que Jesus teria de sofrer para remover o
pecado.
Caim e Abel representavam as possíveis atitudes de
dois grupos de pessoas. Um desses grupos não vê qualquer
necessidade de um Salvador. Sentem-se suficientes em sua
própria bondade. O outro grupo sabe que está perdido, a
menos que aceitem o sacrifício que Deus proveu, em Cristo,
para expiar seus pecados.
Caim exibiu uma atitude de desobediência deliberada,
visto que Deus o advertira que o pecado tentaria dominá-lo
34
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
(Gn 4.7). Ele terminou assassinando seu irmão, Abel (Gn 4.8), e
foi expulso dali para longe da presença do Senhor (Gn 4.14). Em
Judas 11, os falsos irm~os são acusados de entrarem pelo
mesmo caminho de Caim. Parece que o "caminho de Caim"
inclui prestar culto segundo as inclinações do homem natural,
perseguir os crentes verdadeiros, recusar-se arrepender-se e
excluir a Deus de sua própria vida. Paul Hoff diz que o castigo
de tais pessoas se traduz em habitar espiritualmente na terra
de Node (errante), sem paz nem sossego.5
O trecho de Gênesis 4.17-24 descreve a história de
Caim e seus descendentes. Começaram a construir cidades,
fabricar instrumentos e criar gado. Esse foi o começo da
civilização. Os eventos e as atividades descritos nesses
versículos tiveram lugar ao longo de um extenso período de
tempo. A civilização que assim se desenvolveu possuía um
falso senso de segurança, o que se percebe na jactância de
Lameque (Gn 4.23-24), um dos descendentes de Caim.
Enquanto Caim e seus descendentes edificaram a sua
civilização, Adão e Eva tiveram outro filho. Quando este
nasceu, Eva observou: "Deus me deu outra semente em lugar
de Abel; porquanto o matou" (Gn 4.25). Abel havia sido um
homem piedoso. Se ele não tivesse sido morto, um de seus
descendentes poderia ter sido o Salvador que Deus havia
prometido. Toda- via, foi assassinado. Podemos ver que esse
homicídio foi uma tentativa de Satanás para destruir essa
possibilidade. Agora, porém, Deus dera outro filho a Adão e
Eva, Sete, e por meio de Sete, Deus cumpriria a Sua promessa. É
~ 1IOFF, 2007, p. 41.
35
interessante observar que durante a vida do filho de Sete, Enos,
as pessoas começaram a adorar invocando o nome de Deus (Gn
4.26).
Para que o plano remidor de Deus fosse concretizado,
teria de haver uma linhagem humana da qual Cristo
descendesse. Foi necessário que Deus se tomasse homem,
para que pudesse oferecer a Sua vida como pagamento ou
resgate, para restaurar o relacionamento que fora
interrompido pelo pecado, entre Ele mesmo e os homens.
Sete mostrou-se digno de encabeçar essa linhagem de
antepassados do Salvador que viria. Podemos seguir a linha
de descendência de Sete até Cristo.
2.3 ODilúvio
Em sua lista dos antepassados terrenos de Jesus, você
notou o nome de Enoque. Note como sua vida é descrita em
Gênesis 5.21-24. Compare essa descrição com aquela de
Hebreus 11.5-6. Enoque não passou pela morte! Ele viveu em
comunhão com Deus, e sua vida teve um término especial.
Deus o arrebatou!
O neto de Enoque se chamava Lameque, e o filho de
Lameque foi Noé. Durante os dias de Noé, a impiedade
começou a aumentar. Violência, malignidade e corrupção
eram abundantes. Em Gênesis 6.1-8, mostra como a
humanidade se corrompeu. Otexto inicia relatando o momento
em que a linhagem piedosa de Sete mescla-se com a linhagem
pecadora de Caim. A união dos piedosos com mulheres
incrédulas foi motivada pela atração física. Desta forma, não
J6
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
havia mais referência de devoção.
Nesta mesma época, o texto nos informa que havia
gigantes na terra. Estes gigantes eram "homens valentes e
famosos" (6.4). Apesar de estes termos parecerem ser bons, a
valentia e a fama destes gigantes eram para a perversidade.
Eram pessoas cruéis e violentas, que praticavam o mal. Estes
dois motivos parecem ser os principais motivos que levou Deus
a trazer o dilúvio sobre a terra.
Deus, então agrada-se de Noé. Durante cento e vinte
anos, Deus advertiu a todos, por intermédio de Noé, de que
destruiria o mundo com um dilúvio. Contudo, somente Noé
encontrou graça diante de Deus, mantendo com o Senhor um
relacionamento aceitável. Era justo e reto (6.9), uma pessoa
de conduta irrepreensível, di integridade moral e espiritual
no meio de uma geração perversa. Era um pregador da justiça
(2Pe 2.5).
Deus ordenou a Noé que construísse um grande
navio (também é chamado arca). Noé obedeceu,
construindo-o segundo . as proporções determinadas por
Deus. Os cientistas modernos concordam que um flutuante
como aquele que Noé construiu poderia enfrentar o mar,
tendo espaço suflciente para toda a forma de vida que
deveria ser poupada. Ao construir a arca, Noé exerceu fé em
uma palavra dita por Deus que ele não era capaz de
compreender segundo o raciocínio humano. Segundo lemos
em Hebreus 11.7, Noé foi "divinamente avisado das coisas
que ainda se não viam".
Noé, sua esposa, seus três filhos e as três esposas
37
destes, bem como pequena representação de cada espec1e
animal e de aves, entraram na arca, conforme Deus havia
ordenado. Então Deus enviou o dilúvio. O mundo foi julgado
por Deus, e a raça humana pecaminosa foi inteiramente
destruída. Durante cerca de um ano, Noé e seus familiares,
bem como todas as criaturas que haviam sido preservadas,
tiveram de permanecer na arca. Depois as águas baixaram, e à
humanidade foi dada uma segunda oportunidade.
2.4 Um Novo Começo
Noé deu início à nova civilização ao edificar um altar,
oferecendo sobre o mesmo muitos holocaustos. Então Deus
estabeleceu uma aliança ou promessa com Noé, acerca do
futuro de Seu relacionamento com a humanidade. O ato
divino mostra-nos que o propósito final de Deus é julgar o
mundo. Esse propósito visa a restauração do homem à
comunhão com Deus.
Conforme Raymond Dillard, o dilúvio dá um gigantesco
passo para trás no processo de criação. As águas retornam o
mundo a um estado que pode ser descrito como "sem forma e
vazio" (Gn 1.2). Em outras palavras, há uma reversão na
criação. Noé e sua família representam uma ligação com a
ordem da antiga criação,·enquanto a linguagem da aliança
com Noé (9.1-7) ecoa a linguagem de Gênesis 1- 2, de modo a
mostrar que Noé significa, de fato, um novo começo.6
Depois que Noé e sua família estabeleceram-se na terra,
6
DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo:
Vida Nova, 2006, p. 53.
38
rNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
teve lugar um incidente registrado em Gênesis 9.20-27. Esse
incidente mostra que até mesmo um homem justo como Noé
pode ser tentado e cair em pecado. Também revela o caráter
dos três filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé. Cão tratou seu pai
desrespeitosamente, enquanto que Sem e Jafé mostraram
respeito para com ele. Amaldição da profecia de Noé caiu sobre
Canaã, filho de Cão (vs. 25-27). Séculos mais tarde, as tribos
cananéias reunidas foram devidamente castigadas, quando os
israelitas ocuparam suas terras.
O trecho de Gênesis 10.1-32 descreve os lugares onde
estabeleceram- se os descendentes de Noé. Atualmente, os
cientistas que estudam a história da humanidade vão
descobrindo mais e mais evidências de que essa descrição é
correta. Essa é a única explicação adequada que temos de
como os povos vieram a viver nos lugares que ocupam no
mundo.
O gráfico abaixo alista os três filhos de Noé, seus
filhos e diversas formas por seus descendentes. Os filhos de
Jafé estabeleceram-se na área dos mares Negro e Cáspio, e dai
para oeste até a Espanha (Gn 10.2-5). É possível que os
povos germânicos descendam deles (Asquenas?).
Três dos filhos de Cão foram para a África (vs. 6-14).
Posteriormente, espalharam-se para o norte, para a terra de
Sinear e para a Assíria, e construíram cidades como Nínive,
Babel, e Acade. Canaã, o quarto filho de Cão, estabeleceu-se às
margens do mar Mediterrâneo, desde Sidom até Gerar, perto
de Gaza. Os cananeus usavam uma linguagem semelhante à dos
descendentes de Sem, embora fossem descendentes de Cão.
39
Os descendentes de Sem ocuparam a área ao norte do
golfo Pérsico (vs. 21-31). São conhecidos como semitas. Elão,
Assur e Arã são nomes de lugares associados aos semitas.
O mapa abaixo mostra a área geral onde se
estabeleceram os descendentes de Jafé, Cão e Sem.
2.5 Abraão e Seus Descendentes
A partir deste ponto, o Espírito Santo estreita nosso
foco de atenção em direção aos semitas (Gn 11.10-32). Há uma
árvore genealógica com dez gerações, da família de Sem,
terminando na família de Terá, que migrou da cidade de Ur
para Harã. Abrão, cujo nome foi mais tarde mudado para
Abraão, pertencia a essa família. Abraão é o exemplo de um
homem que vivia conforme a revelação divina da criação,
segundo nos é revelado em Salmos 19. Deus cumpriu Sua
promessa feita a Abraão, e o guiou "de fé em fé" (Rm 1.17). Os
descendentes de Abraão - tanto os naturais quanto os
espirituais ocupam o centro do interesse divino por todo o
restante da Bíblia. Esses são chamados de povo de Deus.
40
lNTRODUÇÃó'.AO ANTIGO TESTAMENTO
Questões para Estudo e Discussão
1. Descreva os eventos da criação, da queda e do dilúvio,
além de explicar a significação dos mesmos.
2. Identifique os antepassados de Abraão e diga por qual
motivo Abraão é uma figura importante.
3. Diga quais lições espirituais podemos extrair das vidas de
Caim,AbeleSete.
41
42
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
AULA3
INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
1. O CHAMADO DE ABRAÃO
Embora os tempos fossem tenebrosos e os homens
fossem idólatras, Deus era fiel! Deus continuou tratando com
a humanidade.
Deve ter havido algum testemunho da verdade no
coração de Abrão. É possível que a mensagem da natureza, o
primeiro testemunho de Deus (ver Salmo 19), tenha
despertado o seu coração para buscar a Deus. Sabe- mos
apenas que a chamada de Deus veio a Abrão antes de sua
família migrarde UrparaHarã (At 7.2).
"Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra e da tua
parentela e da casa de teu pai, para a terraque eu te mostrarei.
E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e
engrandecerei o teu nome e tu serás uma bênção. E
abençoarei os que te abençoarem. E amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da
terra" (Gn12.1-3).
O texto acima mostra algumas características em relação
às promessas que Deus fez a Abrão:
Em primeiro lugar, seu chamado seria pela fé. A começar
por sua saída da terra de Ur, pois Abraão saiu de sua terra "sem
saber para onde ia" (Hb 11.8). Deus o manda sair da sua terra
com a seguinte informação: "para a terra que te mostrarei". Até
43
este momento Deus não diz a Abraão que seria a terra de Canaã.
A partir daí, as experiências .de Abraão, do princípio ao fim,
caracterizar-se-iam pela fé.
Em segundo lugar, a promessa feita a Abraão consistia
em algo que o mesmo deveria dar. A frase "... e tu serás uma
bênção", mostra esta realidade. Ofato é que as promessas feitas
por Deus nunca consiste em bênçãos egoístas, em que apenas a
pessoa chamada desfrutará. Consiste em bênçãos que devem
alcançar o próximo, as pessoas que estão ao meu redor. Nunca
ficam apenas comigo.
Em terceiro lugar, a promessa consistia em algo que
Abraão receberia em uma época que já estaria morto. Conforme
Paul Hoff, as transcendentais promessas feitas a Abraão e a seus
descendentes são três: Herdariam a terra de Canaã; Chegariam
a ser uma grande nação; Por meio dele, todas as linhagens da
terra seriam abençoadas.1 No momento em que estas três
promessas se cumpriram, Abraão já estava morto. As
promessas de Deus não se acabam quando morremos, mas
abrangem nossa descendência, nossos filhos, netos, bisnetos,
etc. Seria uma visão limitada, pensar que no momento em que
morremos, as promessas de Deus são enterradas juntamente
conosco.
Os acontecimentos que se seguiram mostram a
importância da fé de um homem. Primeiramente uma família,
depois uma tribo, uma nação, e, finalmente, o próprio mundo
foi afetado pela fé de Abraão, que o levava a seguir a Deus.
1
HOFF, 2007, p. 58.
44
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
2. UM HOMEM RFSPONDE
2.1 AViagemdeAbraão
Abrão respondeu à chamada de Deus para ele deixar a
segurança de sua nativa cidade de Ur. Otrecho de Hebreus 11.8
afirma que ele "saiu sem saber para onde ia". Deus, porém,
prometera a Abrão um lugar melhor, e ele ficou esperando
ansiosamente pelo cumprimento dessa promessa. Ele
esperava encontrar a cidade que fora planejada e edificada
por Deus. A cidade dotada de alicerces permanentes (Hb
11.10).
Abrão primeiramente migrou por 970 quilômetros
para o norte, ao longo do rio Eufrates, até Harã, cidade muito
parecida com Ur. Aparentemente ele hesitou em sua resolução
de cumprir a vontade de Deus, pois esperou até a morte de
Terá, antes de obedecer plenamente ao Senhor. Mas então ele
partiu de Harã e viajou por 650 quilômetros, para o oeste e
para o sul, entrando na terra de Canaã, até um lugar
denominado Siquém.
De acordo com Gênesis 12.7-8, por duas vezes Abrão
erigiu um altar. Isso era uma correspondência pessoal,
expressando adoração ao verdadeiro Deus do céu. E isso
também era um testemunho para as comunidades idólatras
onde ele vivia. Desfrutava de uma tão íntima comunhão com
Deus que recebeu um nome incomum.
45
2.2 As Provas de Abraão
Os Cinco Primeiros Testes
Estudaremos agora a jornada espiritual de Abrão.
Importa muito mais compreender essa jornada do que saber
os nomes dos lugares por onde Abrão viajou. No trecho de
Neemias 9.7-8 há uma palavra profética que explica a jornada
espiritual de Abrão:
"Tu és Senhor, o Deus, que elegeste a Abrão, e o
tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão. E
achaste o seu coração fiel perante ti, e fizeste com ele o
concerto... e confirmaste as tuas palavras, porquanto és
justo".
Se usarmos essa palavra profética como esboço da
experiência de Abrão, descobriremos que ali são descritos
quatro acontecimentos principais: 1) Deus escolheu Abrão:
2) Deus mudou o nome de Abrão para Abraão; 3) Deus viu
que Abraão Lhe era fiel; e 4) Deus estabeleceu uma aliança
com Abraão e cumpriu a Sua promessa. Esses quatro
eventos centrais correspondem a diversos capítulos do livro
de Gênesis.
A chamada de Abrão está registrada em Gênesis 12. Em
Gênesis 15.7-21, há a descrição da aliança de Deus com Abrão.
Os capítulos doze e dezesseis de Gênesis relatam um importante
período no relacionamento de Abrão com Deus. Revela cinco
testes específicos mediante os quais Deus viu que Abraão
Lhe era fiel. No idioma original do Antigo Testamento, a palavra
viu significa explorar completamente. A fidelidade de Abrão foi
trazida à superfície. Todos os aspectos dessa fidelidade foram
46
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
postos em evidência. Gênesis 17 descreve a ocasião quando o
nome de Abrão foi mudado para Abraão, quando Deus
confirmou a Sua aliança com ele.
Estudaremos os testes ou provas a que Abrão foi
submetido, em Gênesis 12-16, mais detalhadamente, porque
esses capítulos relatam provas que também podemos
experimentar em nossas vidas. Estude cuidadosamente o
gráfico a seguir. Leia as Escrituras referidas. Esse gráfico
mostra os cinco testes que Abrão experimentou, antes da
aliança com ele ser confirmada.
Observemos que o último desses testes envolveu
alguma demora. Vinte e quatro anos se haviam passado,
desde que Abrão se estabelecera na terra de Canaã e ele e Sarai
não tinham qualquer esperança de poderem gerar um filho,
segundo os recursos meramente humanos. Abrão havia
considerado nomear Eliezer, seu servo de Damasco, como
seu herdeiro (Gn 15.2-4). A sugestão de Abrão provavelmente
mostra que isso era um costume daquela época, porém, Deus
rejeitou tal sugestão.
Deus prometera um filho a Abrão e Sarai, e
acrescentou que através desse filho, seus descendentes
tornar-se-iam tão numerosos quanto as estrelas do céu.
Abrão creu em Deus (Gn 15.6), e essa foi a base ein que ele foi
aceito por Deus. O trecho de Romanos 4.3 diz que tal fé foi a
base de toda a retidão de Abrão diante de Deus.
Oquadro a seguirtambém envolve um exercício. As duas
últimas colu- nas foram deixadas em branco para você
preenchê-las. As três primeiras colunas fornecem-nos as
47
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
OTeste Final
Restava ainda um teste para Abraão, em seu
relacionamento com Deus. Foi o teste crucial e culminante.
Abraão teve de apelar para algo acima de sua capacidade
humana de raciocínio, a fim de declarar a Isaque que o
próprio Deus proveria um cordeiro para ser sacrificado. A
disposição de Abraão em sacrificar seu filho demonstrou
tanto a sua obediência quanto sua fé fundamentada em Deus.
Deus Pai não apenas proveu um carneiro para o sacrifício,
mas também confirmou Sua promessa a Abraão. Em Gênesis
22.16-17, lemos que Deus lhe disse: "Deveras te abençoarei, e
grandissimamente multiplicarei a tua semente como as
estrelas dos céus, e como a areia do mar...".
2.3 Os Descendentes de Abraão
Temos estudado a vida de Abraão com muitos
detalhes devido ao fato de que ele simboliza as
verdadeiras questões envolvidas na fé. Embora não
possamos fazer outro tanto acerca da vida de cada
descendente de Abraão, pelo menos podemos aprender
muitas coisas sobre eles.
O diagrama abaixo chama-se árvore genealógica e
mostra as relações entre os descendentes de Abraão. As linhas
mais fortes exibem os membros da família sobre as quais a
Bíblia mais relata. Por exemplo, o diagrama indica que Terá
tinha três filhos: Harã, Abraão e Naor. Sob os nomes de cada
um deles figuram os nomes de seus descendentes. Todavia,
alguns desses descendentes casaram-se com outros
49
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
OTeste Final
Restava ainda um teste para Abraão, em seu
relacionamento com Deus. Foi o teste crucial e culminante.
Abraão teve de apelar para algo acima de sua capacidade
humana de raciocínio, a fim de declarar a Isaque que o
próprio Deus proveria um cordeiro para ser sacrificado. A
disposição de Abraão em sacrificar seu filho demonstrou
tanto a sua obediência quanto sua fé fundamentada em Deus.
Deus Pai não apenas proveu um carneiro para o sacrifício,
mas também confirmou Sua promessa a Abraão. Em Gênesis
22.16-17, lemos que Deus lhe disse: "Deveras te abençoarei, e
grandissimamente multiplicarei a tua semente como as
estrelas dos céus, e como a areia do mar...".
2.3 Os Descendentes de Abraão
Temos estudado a vida de Abraão com muitos
detalhes devido ao fato de que ele simboliza as
verdadeiras questões envolvidas na fé. Embora não
possamos fazer outro tanto acerca da vida de cada
descendente de Abraão, pelo menos podemos aprender
muitas coisas sobre eles.
O diagrama abaixo chama-se árvore genealógica e
mostra as relações entre os descendentes de Abraão. As linhas
mais fortes exibem os membros da família sobre as quais a
Bíblia mais relata. Por exemplo, o diagrama indica que Terá
tinha três filhos: Harã, Abraão e Naor. Sob os nomes de cada
um deles figuram os nomes de seus descendentes. Todavia,
alguns desses descendentes casaram-se com outros
49
descendentes, de tal modo que também estão ligados por
linhas. Rebeca, neta de Naor, casou-se com Isaque, filho de
Abraão e Sara. Raquel e Lia, bisnetas de Naor, casaram-se com
Jacó, neto de Abraão.
DESCENDENns DE ABRAÃO
Terã
1 Abr~
Hj'ãc...A....,-a-,,),---.(Sa.,..T-ra""")-..,..,(~=-T~-,a)
Ló Ismael Is ue Midiã, etc.
1
Naor
T
MÓABITASI AJBES MEDl~NITAS
1
Rebeca
Betuel
I
AMONITAS
Esaú
1
EOOMITAS
Jacó
T
1
Raquel
1
T
12 filhos
T
ISRAELITAS
Labão .
1
Lia
T
Você está lembrado dos três propósitos com que Deus
escolheu um povo? (ver a introdução à lição). O terceiro
desses propósitos era contar com uma linhagem por meio da
qual viesse Jesus Cristo, o Redentor. O trecho de Gênesis 24-
50 relata as vidas de três descendentes de Abraão: Isaque,
Jacó e José.
lsaque
A história da vida de Isaque parece ser obscurecida
pelas vidas de seu pai, Abraão, e de seu filho, Jacó. No entanto,
ele foi um elo importante no plano de Deus. Abraão cuidou
para que ele não se casasse com alguma mulher cananéia.
Eliezer, servo de Abraão, seguiu as instruções de Abraão e trouxe
para Isaque uma esposa dentre a parentela de Abraão, na
50
INTRODUÇÃO AO ANTTGO TESTAMENTO
Mesopotâmia (Gn 24). Deus confirmou Sua aliança com Isaque (Gn
26.5). Por meio de Isaque, as promessas de Deus foram
transmitidas a seu filho Jacó.
Jacó
Apesar de suas falhas, Jacó deu valor à bênção divina
envolvida na aliança. Ele parecia entusiasmado com a promessa
divina acerca de uma nação por meio da qual seria abençoado o
mundo. Enquanto lemos a sua história, vemos que ele precisou
experimentar as consequências do seu pecado, conforme
sucede a todos os homens. Deus o testou e castigou,
produzindo em sua vida a grandeza. Deus o tratava como a um
filho (Hb 12.5-8).
Finalmente, o nome de Jacó, que significa enganador,
foi mudado para Israel, que significa "príncipe diante de Deus"
(Gn 32.28). Esse foi o nome pelo qual deveria ser chamado o
povo escolhido de Deus - os israelitas. Os doze filhos de
Jacó foram os cabeças das doze tribos que vieram a ser a
nação de Israel (Gn 49).
José
A história de José mostra-nos que ele foi uma grande e
bela personalidade entre aqueles que lemos na Bíblia. A
narrativa ilustra a providência de Deus, que também podemos
experimentar. José foi vendido como escravo ao Egito, quando
tinha dezessete anos. Aos trinta anos, tornou-se segundo
governante do Egito. Dez anos mais tarde, seu pai, Jacó, e o
resto da família, entraram no Egito, quando houve um
período de muita fome em todo o crescente fértil. A família
51
totalizava setenta pessoas. Por causa de José, Faraó (rei do
Egito) permitiu que eles se estabelecessem na terra de Gósen,
a leste de onde o rio Nilo desemboca no mar Mediterrâneo. A
região era apropriada para eles, como criadores de ovelhas.
Ali aumentaram muito em número, riquezas e influência.
Lemos em Gênesis 15.13-16 que Deus dissera a
Abraão que os seus descendentes passariam muitos anos
como estrangeiros, em outra terra. Por esse motivo, o livro de
Gênesis parece encerrar-se com uma derrota para o povo de
Deus. O quadro final é o de um sepultamento (Gn 50.26).
Contudo, Deus sabia que os israelitas teriam de crescer em
sua força e aumentar em seus números, para que pudessem
conquistar e entrar na posse da terra da promissão. Também
teriam de ser impedidos de misturar-se por casamento com
os cananeus, resguardando-se da adoração idólatra que
havia em Canaã. Durante o tempo que eles estiveram no
Egito, quão maravilhosamente Deus fortaleceu as forças e a
determinação de Seu povo!
3. NASCE UMA NAÇÃO
3.1 Servidão e Escravatura
Assim como o livro de Gênesis narra as muitas falhas
do homem, o livro de Êxodo descreve a poderosa história
sobre como Deus se apressa em socorrer ao homem. O Êxodo
é o grande livro da redenção - palavra que significa comprar
de volta ou resgatar da servidão ou cativeiro.
O próprio nome do livro significa saída. Os capítulos
52
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
1mc1a1s relatam um dos períodos mais excitantes e
dramáticos da história do povo de Deus: como Deus lhes deu
uma saída, libertando-os do poder de um dos mais poderosos
monarcas daquela época - o Faraó do Egito.
Ao começar o Livro de Êxodo, lemos sobre o período
negro em que a esperança do povo de Deus acerca de uma
terra prometida estava mais fraca. José morrera aos cento e dez
anos de idade. Muitos anos se passaram após a morte de José.
O Faraó não era mais dos reis "Hicsos" (governantes
estrangeiros do Egito - XV e XVI dinastias, conforme Maneto,
sacerdote historiador do século III a.C.), outro havia
assumido o seu lugar. Este novo comandante (egípcio nativo)
não conheceu a José e não tinha nenhum parentesco com os
israelitas (Ex 1.7-11)
Os israelitas, que muito haviam aumentado em número
e riquezas, ficavam debaixo de suspeita. Foram reduzidos à
mais humilhante servidão. Para eles, aquele foi um tempo difícil.
Contudo, despertou neles os seus sonhos então quase
esquecidos... a promessa de Canaã... a esperança de serem o
povo especial de Deus.
É até mesmo possível que os israelitas nunca tivessem
saído do Egito para a terra prometida, se tivessem vivido
confortável e prosperamente no Egito. Mas Deus não pensava
que o conforto deles harmonizava-se com os seus melhores
interesses. Deus queria desenvolver o caráter e o senso de
utilidade dos israelitas. Deus tem um propósito similar para
nós - pois somos, igualmente, Seu povo. Nunca devemos
olvidar desse propósito.
53
O povo de Deus fora fortalecido e a esperança lhes fora
infundida, medi- ante uma vida dura. Foram assim preparados
para os passos seguintes, dentro do propósito divino de serem
usados como testemunhas do Senhor.
3.2 Redenção e Livramento
Deus Seleciona um Homem
Quando estudamos o plano de Deus para a
humanidade; percebemos que isso sempre envolve um
homem ou uma mulher escolhidos. Isso aconteceu quando
Deus tirou os israelitas do Egito. Nos últimos e cansativos
anos da servidão de Israel, nasceu um filho a um casal da
tribo de Levi. Faraó havia ordenado que todos os meninos
nascidos aos israelitas teriam de ser sacrificados. Esse menino,
porém, foi escondido por sua mãe durante algum tempo, até
que, não mais podendo ocultá-lo, colocou-o em uma cestinha
deixada a boiar pelas águas do rio Nilo.
O menino foi encontrado pela filha de Faraó, que lhe
deu o nome de Moisés, palavra que significa retirar, porque
ela o havia retirado de dentro da água. Por meio da
intervenção da irmã mais velha de Moisés, a própria mãe do
menino foi trazida para cuidar dele. Os eventos da vida de
Moisés levam-nos a deduzir que sua mãe lhe ensinou coisas
sobre seu povo e sobre o Deus vivo, que ele jamais foi capaz
de esquecer.
Após seus primeiros anos de vida, sob os cuidados de
sua mãe, Moisés foi criado na corte do rei. Dispunha das
54
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
vantagens das riquezas e da civilização egípcia. Aprendeu
muito durante os quarenta anos que passou no palácio de
Faraó. Contudo, nunca deixou de identificar-se com seu povo,
os israelitas, embora não da maneira correta (Êx 2.11-16).
Moisés era imperfeito, como qualquer um de nós. Deus
precisou levá-lo ao deserto de Midiã, para ele entrar na
segunda grande fase de sua educação, onde viveu durante os
próximos quarenta anos.
Finalmente, quando Moisés tinha oitenta anos de
idade, apareceu-lhe o Deus eterno. Diante da sarça ardente,
no deserto de Midiã, Deus lhe disse: "Eu sou o Deus de teu
pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó" (Êx
3.6). Assim Deus vinculou-se às promessas feitas dentro da
aliança estabelecida com os patriarcas. Deus disse a Moisés o
que o Seu P.lano incluía para a vida de Moisés (Êx 3.1-4,17).
Durante os úl.timos quarenta anos de vida, portanto, Moisés
guiou o povo de Deus do Egito até à terra prometida.
Moisés escreveu o Pentateuco (os cinco primeiros
livros d.a Bíblia). Seu treinamento no Egito, juntamente com
suas experiências espirituais, deram-lhe a capacidade
necessária para realizar aquela importante tarefa.
Deus Liberta os Israelitas
.Libertar o povo de Deus das mãos de um Faraó
dotado de imenso poder, parecia uma tarefa impossível. O
domínio egípcio muito se expandira, estendendo-se do Egito à
Palestina, e daí até a região a oeste do rio Eufrates.
Moisés pediu a Faraó que desse liberdade ao povo de
55
Deus. A resposta de Faraó, mostra-nos em poucas palavras a
sua atitude. Ele preferiu o clássico: "Quem é o Senhor cuja voz
eu ouvirei, para deixar ir Israel?" (Êx 5.2). Deus apoiou o
pedido de Moisés com pragas sobrenaturais. As primeiras
nove pragas foram semelhantes aos desastres naturais que
algumas vezes ocorriam no vale do rio Nilo - peixes mortos,
enxames de rãs mortas, piolhos e moscas, insetos e
pestilência, úlcera nas pessoas e saraivada. A última das dez
pragas foi um juízo contra todos os deuses do Egito (Êx 12.12).
Lemos que a princípio Faraó manteve-se intransigente,
ou conforme diz a Bíblia, ele endureceu o coração. Deus o
tornou obstinado, ou conforme diz o hebraico, firmou seu
coração. Isso permite-nos ver que Deus somente confirmou
aquilo que o próprio Faraó já havia resolvido.
Voluntariamente, Faraó tomou a decisão de resistir, e Deus o
conservou nessa atitude, para Sua própria glória. As pragas
demonstraram o poder do Deus de Israel, tanto para os
egípcios como para os israelitas. Cada praga trouxe uma maior
manifestação do poder sobrenatural de Deus.
Finalmente, Deus enviou a décima praga. Seus
resultados foram tão radicais que os egípcios insistiram em
que os israelitas deixassem imediatamente o Egito (Êx 12.33).
Os israelitas partiram imediatamente, levando consigo
as riquezas do Egito. Dirigiram-se para o mar Vermelho. Esse
era o caminho mais direto para Canaã. Através da concorrida
estrada costeira, que era usada como rota comercial e militar,
eles poderiam ter chegado a Canaã em duas sema- nas. Deus,
porém, preferiu conduzi-los na direção do mar Vermelho.
Lembremo-nos que os israelitas eram uma massa
56
rNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
desorganizada de ex- escravos. Eram fatores muito
importantes o tempo e a oportunidade de se unificarem. Deus
não queria que eles voltassem ao Egito. Portanto, ainda faria
mais um ato miraculoso. Tal ato produziria um tremendo efeito
entre os egípcios: eles saberiam quem é o Senhor (Êx 14.4).
Deus conduzia o povo mediante uma coluna de nuvem
durante o dia, e por uma coluna de fogo durante a noite;
Deus mesmo se manifestava nessa coluna. Quando os egípcios
mudaram de parecer e vieram atrás dos israelitas, Deus
mudou a posição da nuvem gloriosa para detrás de Seu povo,
postando-se entre os israelitas e os egípcios. Deus usou um
forte vento oriental para abrir caminho pelo mar, e os israelitas
atravessaram em seco. E à distância observaram o exército
egípcio sendo coberto pelas águas do mar, quando tentavam
seguir pelo mesmo caminho. Deus livrou o Seu povo!
Os israelitas ainda tinham muito para aprender. Havia
disciplina e castigo. Havia provisões miraculosas e lições
sobre liderança. Mas uma nação nasceu em um dia...
nasceu à base do sangue derramado... engat.inhando
como uma criança para aprender a pôr-se de pé e aprender o
propósito de sua existência. Contudo, aquele era o povo de
Deus.
57
4. PREPARAÇÃO DO POVO DE DEUS
4.1 Preparação do povo de Deus
Para o povo de Israel, o seu êxodo ou saída do Egito
foi um dos maiores acontecimentos de sua experiência. Os
escritores do Antigo Testamento aludiram ao mesmo por
muitas e muitas vezes. O mapa abaixo mostra a rota dessa
jornada, representada por uma linha interrompida. Quando
estiver lendo sobre a viagem deles, encontre nesse mapa
cada localidade mencionada. (Leia Êxodo 15-19.)
Depois que os israelitas partiram do Egito, viajaram
através da península do Sinai, por determinação divina. (A
península do Sinai é a região entre o mar Vermelho, a oeste, e
o golfo de Acaba, a leste).
Depois que Deus derrotou os egípcios com Seu grande
poder, houve um tempo de louvor triunfal (Êx 15). Seguiu-se
uma caminhada de três dias pelo deserto de Sur. Em Mara, a
água amarga se fez potável por meio de um milagre (Êx
15.25). Então os israelitas mudaram rumo para o sul, e
acamparam-se em Elim.
No deserto de Sim, Deus providenciou miraculosamente
o maná para eles. Maná significa Que é isto?, no idioma dos
hebreus. Era um alimento misterioso, nutritivo e concentrado,
que seria o alimento diário do povo de Israel, até encontrarem a
terra de Canaã. Foram supridas codornizes em abundância,
quando os israelitas desejaram comer carne, como comiam no
Egito.
Três coisas importantes sucederam em Refidim: 1)
58
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Deus proveu uma fonte que jorrava água, quando Moisés feriu
a rocha com a sua vara; 2) o exército amalequita bateu em
retirada, derrotado, enquanto Moisés orava pelo exército de
Israel; e 3) Moisés seguiu o conselho de seu sogro, nomeando
anciãos para que o ajudassem a cumprir seus muitíssimos
deveres.
Em menos de três meses, os israelitas chegaram ao
monte Sinai (também chamado Horebe). Haveriam de
acampar-se ali por quase um ano, onde teriam de aprender
qual seria seu destino e o propósito divino para suas vidas.
4.2 A Lei de Deus e os Seus Propósitos
Um ano vivendo em um acampamento nas cercanias do
monte Sinai foi o suficiente para o povo com quem Deus
entrara em aliança tornar-se uma nação. Em primeiro lugar,
foi-lhe dado o decálogo ' eque significa as leis ou
mandamentos). Conforme Raymond Dillard o primeiro evento
de maior significação no Sinai foi a entrega da Lei. O relato
começa com uma exibição impressionante da presença de Deus.
Ele surge na montanha entre fumaça e fogo (Êx 19. 16-19). A
montanha se torna em espaço santo por causa de sua presença.2
Então foram promulgadas leis especificas para uma
vida santificada. E também foi erigido um lugar de habitação
para Deus estar entre o povo, e para ali O adorarem. Esse
lugar foi chamado tabernáculo ou tenda da presença do Senhor. ·
Além disso, foi organiza- do o sacerdócio, as ofertas foram
ordenadas, e tiveram início as festas e as estações. Em suma,
2
DILLARD, 2006, p. 64.
59
Israel estava sendo preparado para servir com eficácia a
Deus.
Durante séculos, os israelitas sabiam que seus
antepassados - Abraão, Isaque e Jacó - tinham firmado uma
aliança com Deus. Agora, o mesmo Deus estava se revelando a
eles. O poder divino não era algo que outros tinham sentido;
mas tornava-se uma experiência de suas próprias vidas. Eles
viram pessoalmente os milagres do Senhor!
No Sinai, Israel preparou-se durante três dias para que
a sua aliança para com Deus fosse firmada. Deus revelou o
decálogo, os outros preceitos e normas relativas às festas
sagradas. Deus falou com o povo do meio do fogo e da nuvem.
Aarão, dois de seus filhos e setenta anciãos lideraram o povo
nas ofertas queimadas. Depois que Moisés leu o livro da
aliança, o povo respondeu, aceitando as leis. Então a aliança
foi selada mediante o sangue dos animais sacrificados. A
condição imposta por essa aliança era a obediência. Os
membros daquela nação poderiam per- der seus direitos sob a
aliança, por meio da desobediência.
As leis dadas por Deus podem ser divididas em três
categorias:
Lei Moral Regras de certo e errado
Lei Civil Regras para ao povo
Lei Cerimonial Regras de adoração
60
INTRODUÇÃO AO ANTlGO TESTAMENTO
A lei moral tinha caráter permanente. Mas muitas das
leis civis e cerimoniais foram dadas apenas por um período
limitado de tempo. Por exemplo, certos preceitos acerca da
matança de animais foram modificados quando o povo de
Israel entrou em Canaã. (Comparar . Levítico 17 com
Deuteronômio 12.20-24.) Paul Hoff afirma que as leis de Israel
colocavam a nação em absoluto contraste com as práticas das
nações ao derredor. Suas leis humanitárias, morais e religiosas,
ainda que sem alcançar os princípios do Novo Testamento,
foram infinitamente superiores às leis de outros povos.3
ALei moral
A lei moral compõe-se do decálogo, ou dez
mandamentos. A lei foi inicialmente proferida por Deus, e
então registrada em tábuas de pedra. O decálogo é
importantíssimo. A seguir damos uma breve versão dessa lei,
dadas pela primeira vez em Êxodo 20.3-17.
1. Não adorem outros deuses fora de Mim.
2. Não façam imagens de qualquer coisa para adorar.
3. Não usem Meu nome com maus propósitos.
4. Observem o sábado e conservem-no santo.
5. Respeitem o pai e a mãe de vocês.
6. Não cometam homicídio.
7. Não cometam adultério.
8. Não roubem.
9. Não acusem falsamente a ninguém.
10. Não desejem o que pertence ao próximo.
3
HOFF, 2007, p. 155.
61
As duas primeiras leis são aquelas que mostram a
natureza especial do decálogo. Elas proíbem a adoração de
ídolos e de quaisquer outros deuses. Os egípcios, aos quais
os israelitas tinham servido, adoravam a muitos deuses.
Canaã, para onde Israel estava marchando, também era terra
extremamente idólatra. Opovo de Deus tinha de ser diferente!
Precisavam mostrar devoção somente ao verdadeiro Deus.
Depois que esses mandamentos foram dados a Israel,
entretanto, os israelitas pecaram. Enquanto Moisés estava no
monte santo, fizeram um ídolo de ouro na forma de um
bezerro, e puseram-se a adorá-lo (Êx 32.1- 10). No Egito, mui
provavelmente os israelitas tinham-se aliado aos egípcios em
sua adoração ao boi Ápis, cujo ídolo tinha a forma de um boi.
Agora, no Sinai, os próprios israelitas fabricavam e estavam
adorando uma imagem semelhante. Isso demonstrou que, na
realidade, eles não haviam deixado de ser idólatras,
conforme o decálogo exigia. Este ato demonstrou a grande
necessidade de eles se separarem das práticas pagãs, como a lei
requeria.
A lei moral mostra como o homem deve viver a fim de
ser aceito por Deus. Porém, ninguém pode observar a lei moral
na íntegra! Portanto, ela mostra a pecaminosidade humana. O
propósito da lei moral inteira é o mesmo hoje em dia, tal
como na época em que foi dada aos israelitas. O Novo
Testamento ensina-nos que a lei demonstra estes pontos: a) a
santidade de Deus; b) a pecaminosidade do homem; e) a
necessidade que o homem tem da retidão de Deus (Rm 3.19-
31).
62
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Nos dias do Antigo Testamento, Deus requeria que
os homens oferecessem sacrifícios. Esses sacrifícios
cobriam simbolicamente os pecados e fracassos humanos
na observância da lei. A própria lei não tinha qualquer
provisão para quem desobedecesse. Desde que ela foi dada,
apenas um homem foi capaz de observá-la com perfeição, e
esse homem foi Jesus Cristo, o Filho de Deus. Cristo não
somente guardou a lei, mas também pagou toda a nossa
dívida pela lei quebrada, sofrendo a pena imposta pela
mesma. Essa pena era a morte. Cristo morreu a fim de
podermos viver. Ele foi o sacrifício perfeito (Hb 9.13-15; 10.1-
22; 1 Pe 1.18-20).
No Antigo Testamento, Abraão é o grande exemplo de
como Deus endireita o relacionamento das pessoas com Ele
mesmo. Deus aceitou Abraão treze anos antes dele ter sido
circuncidado (Gn 15.6), e quatrocentos e trinta anos antes de
a lei ter sido adicionada para mostrar no que consiste o
pecado (Gn 3.15-18). Portanto, paraAbraão era impossível que
ele tivesse sido aceito por haver guardado a lei.
Compreender isso era muito importante! Isso nos ajudará a
evitar pensar que os crentes de hoje em dia precisam
observar todas as leis do Antigo Testamento, a fim de serem
aceitos por Deus.
Escreveu Paulo em Romanos 3.21: "Mas agora, sem lei, se
manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos
profetas". Conforme Paulo continuou explicando, Deus
agora aceita o relacionamento dos homens com Ele, na base
do sacrifício de Cristo e da fé deles no Filho de Deus (Rm 3.22-
26). Dessa forma, podemos fazer o contraste entre: 1) o
63
monte Sinai, com seu horror, trovões e relâmpagos (Êx 19), e
2) o monte Calvário, onde se tornou possível o encontro entre
Deus e o pecador, por meio do sangue de Jesus Cristo. O
diagrama abaixo ilustra esses pontos.
Lei da Promessa de Deus
Oeterno plano de Deus, conforme já vimos, consiste em
declarar-nos justos por causa de nossa fé e confiança nEle.
Esse será sempre a aliança básica de Seu reino. Nossa justiça
jamais poderá ser adquirida por meio da lei. Todavia, a lei
continua tendo um propósito. Mostra-nos a necessidade de um
Salvador. E também nos expõe o padrão divino para o nosso
viver diário, Jesus sumariou o espírito da lei em Mateus 22.34-
40. Ele disse que deveríamos amar a Deus de todo o nosso
coração, amando ao próximo como a nós mesmos.
ALei Civil
Deus deu ao Seu povo leis que cobrem cada área da
vida diária. Essas leis são conhecidas como a lei civil. Seu
povo não deveria seguir aos maus caminhos dos egípcios e
dos cananeus. Eram necessárias leis sobre a maternidade e
a geração de filhos por causa das per- versões sexuais, da
prostituição e dos sacrifícios de crianças, peca- dos
comuns entre os cananeus. Leis proibindo o casamento
entre irmão e sua irmã também foram oficializadas, porque
isso era comum entre os egípcios. Quanto mais uma pessoa
sabe acerca das culturas do Egito e de Canaã mais fácil
torna-se compreender essas restrições da lei mosaica!
64
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
ALei Cerimonial
A lei cerimonial, ou regras de adoração, incluía
preceitos relativos ao tabernáculo, ao sacerdócio, às festas, às
ofertas e à organização do acampamento. Sua descrição
encontra-se na secção seguinte.
4.3 AOrganização Ensinada por Deus e Seu Propósito
Em todos os países é comemorada uma data na qual
os cidadãos celebram sua existência ou liberdade nacional.
Desde quando estiveram diante do monte Sinai, até hoje, os
israelitas celebram sua existência como ~m povo especial
para uso de Deus. Porém, emoção e senti- mentos
patrióticos não são suficientes, por isso Deus organizou o
Seu povo para que pudesse andar à altura do compromisso
que assumiram. Essa organização, descrita na lei cerimonial,
assumiu cinco for- mas básicas, que passaremos a examinar.
Para o crente, cada uma dessas formas assemelha-se a um
rico filão de ouro. Separada ou coletiva- mente, elas apontam
para o verdadeir9 reino de Deus. Cada uma delas fornec~-
nos ·uma ilustração (que também podemos chamar de
figura ou tipo) de Jesus, o escolhido de Deus, ou Messias,
retratando-O de alguma maneira. Essas formas têm a ver
com cinco áreas fundamentais da vida espiritual de Israel.
Além disso, ilustram verdades que aplicam, de forma
similar, às vidas dos crentes de nossos dias. Essas cinco
formas são dadas a seguir:
65
Forma de Organização Ilustração
1. Tenda da presença do 1. Deus vive entre os homens e
Senhor e seus móveis torna-se accessível a eles
2. Osacerdócio
2. Os meios dos homens
servirem a Deus
3. As ofertas
3. Os meios pelos quais os
homens adoram a Deus
4. Sistematização da vida e
4. As festas ou estações da experiência de uma pessoa
com Deus
5. Oconflito espiritual
5. Enumeração e Organização das
!tribos
Se você tivesse que preparar um estudo sobre
qualquer uma dessas aplicações, teria de escrever um livro
inteiro. Este curso oferece somente os pontos principais das
verdades ensinadas por esses itens. Talvez o Espírito Santo
venha a impeli-lo a estudá-los com maiores detalhes, por sua
própria iniciativa!
4.4 Tenda da Presença do Senhor
A tenda da presença do Senhor, ou tabernáculo, é
enfatizada em muitos capítulos da Bíblia. Por exemplo, mais
de um terço dos versículos da Epístola aos Hebreus refere-se
ao tabernáculo.
O tabernáculo foi erigido para prover uma maneira de
66
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Deus ter comunhão com Seu povo. Ele queria viver entre eles.
(Êx 25.8). Deus concedeu a Bezaleel, da tribo de Judá, e a
Aoliabe, da tribo de Dã, habilidades especiais para agirem
como artífices.
O povo de Deus foi convidado a fazer contribuições
voluntárias. Os homens trouxeram ouro e prata. Também
derrubaram acácias, fizeram tábuas e as trouxeram. As acácias
eram admiráveis no deserto, com raízes profundas que sugavam
água de filetes subterrâneos. A madeira era praticamente
indestrutível! As mulheres trouxeram tecidos e bordados. De
acordo com os trechos de Gênesis 15.14 e Êxodo 12.35-36, os
israelitas levaram consigo as riquezas do Egito. No Egito os
israelitas conseguiram o material mais valioso que foi usado na
construção do tabernáculo. Desse modo, foi construída uma
estrutura portátil da mais excelente qualidade. Por centenas
de anos continuou sendo o lugar onde o povo de Deus se
reunia e adorava.
O tabernáculo foi posto no meio de um átrio cercado
por 137m de cortinas de linho fino (A). As cortinas eram
dependuradas em pilares de bronze espaçados a cada 2,3m.
A única entrada ficava na extremidade oriental, e tinha 9m de
largura (Êx 27.9-18; 38.9-20).
Quando um israelita entrava no átrio, fazia sua oferta
sobre o altar do sacrifício, ao ar livre. Esse altar era coberto
com chapas de bronze, e era portátil, tal como os demais
móveis (Êx 27.1-8; 38.1-7). Nesse átrio também havia uma
bacia de bronze onde os sacerdotes deveriam lavar-se (Êx
30.17-21; 38.8; 40.30). Esse átrio, cujos móveis eram feitos
principalmente de bronze, representa o julgamento divino
67
contra o pecado. As ofertas feitas ali eram consumidas no
fogo.
Na metade ocidental do átrio era armado o próprio
tabernáculo. Tinha 13,7m de comprimento e 4,6m de largura.
Estava dividido em duas partes: o Lugar Santo e o Santo dos
Santos. O Lugar Santo media 9,lm por 4,6m; e o Santo dos
Santos media 4,6m, pois era quadrado. Havia somente uma
entrada, que dava para o oriente. Somente os sacerdotes
podiam entrar no Lugar Santo. Dividindo o Lugar Santo do
Santo dos Santos, havia um véu. Somente o sumo sacerdote
podia penetrar para além desse véu, e isso somente uma vez
por ano - no dia da expiação, quando os pecados eram
simbolicamente cobertos.
Na extremidade norte do Lugar Santo havia a mesa onde
os pães eram expostos. Na extremidade sul havia um candeeiro.
Defronte do véu, que dividia o Lugar Santo do Santo dos
Santos, havia o altar do incenso. Todos esses móveis eram
cobertos de ouro por dentro e por fora.
O Santo dos Santos abrigava o objeto mais sagrado da
religião de Israel: a arca da aliança. Era uma caixa feita de
madeira de acácia, recoberta por dentro e por fora de ouro
puro. Tinha 1,lm de comprimento, e 0,84m de largura e de
altura, de acordo com os trechos de Êxodo 25.10- 22 e 37.1-9.
Atampa dessa caixa chamava-se propiciatório.
Dois querubins alados, feitos de ouro batido, faziam
sombra sobre o centro do propiciatório. Esse centro
representava a presença de Deus.
Distinguindo-se das outras nações, que representavam
seus deuses por meio de ídolos, Israel não se utilizava de
68
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
qualquer objeto para representar o seu Deus. No entanto, o
propiciatório era o lugar do encontro entre Deus e o homem
(Êx 30.6), onde Ele vinha falar com ohomem (Êx 25.22; Nm 7.89).
Esse era o lugar onde, no dia da expiação, o sumo sacerdote
aspergia o sangue de um animal pelos pecados da nação de
Israel (Lv 16.14).
As tábuas de pedra, onde o decálogo fora' gravado,
foram colocadas no interior da arca (Êx 25.21; 31.18; Dt 10. 3-
5). Mais tarde, também foram postos dentro da arca um vaso
com maná e a vara de Aarão (Êx 16.32-34; Nm 17.1-11).
A construção e os móveis do tabernáculo retratam
certos aspectos de Cristo e Sua obra. Donald Turner traz um
resumo dos principais simbolismos do Tabernáculo relativo
Jesus:4
Uma só entrada - por meio de Judá. Primeiro, o altar
dos sacrifícios - Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós.
Lavatório - limpeza ou purificação produzida pela
Palavra do Senhor (João 13.8; 15.3).
Ministério no Lugar Santo - a comunhão; a luz da
Palavra; a oração.
A Cortina que ocultava a Arca de Deus, foi rasgada de
alto a baixo, quando Jesus morreu na cruz (Mateus 27.51;
Hebreus 10.19-22).
As cortinas - sua humanidade, seu sacrifício, sua
pureza e sua glória.
A arca e o Propiciatório - Deus mora com os homens,
pois Jesus Cristo era Deus em carne (João 1.14, 17, 18).
4
TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo:
Editora Batista Regular, 2004, p. 84.
69
As tábuas - madeiras do deserto coberta de ouro puro
e postas sobre bases de prata, que simbolizava o crente, que
é coberto de glória .e a justiça de Cristo, quando se firma
sobre o fundamento da morte.
Ministério no Santo Lugar e da ressurreição de Cristo.
Vestes sacerdotais - cristo virá em sua glória para
levar a cabo o plano de Deus.
Naturalmente, essas são apenas algumas das
significações espirituais que esses objetos podem
representar. Há muitos outros símbolos.
OSacerdócio
O propósito divino que Israel fosse uma nação santa
requeria uma adoração sistematizada; portanto, Deus
selecionou Aarão irmão de Moisés, para servir como sumo
sacerdote. Os quatro filhos de Aarão, Nadabe, Abiú, Eleazar e
Itamar deveriam ajudá-o como sacerdotes.
Antes da inauguração do sacerdócio oficial, o chefe
de cada casa (o patriarca) representou sua família na
adoração a Deus. Somente um sacerdote é mencionado
antes disso na Bíblia. Trata-se do misterioso
Melquisedeque, em Gênesis 14.18. Desde a Páscoa
celebrada no Egi- to, o filho primogênito de cada família
israelita passara a pertencer a Deus (Êx 13.1-2). O pecado
dos israelitas, no incidente do bezerro de ouro, levou o
Senhor a escolher os levitas (membros masculinos da tribo
de Levi) como substitutos do filho mais velho de cada
família israelita (Nm 3.5-13; 8.17).
Os sacerdotes ofereciam sacrifícios e lideravam o povo
70
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
na expiação pelo pecado (Êx 28.1-43; Lv 16.1-34). Eles
ajudavam o povo a discernir a vontade de Deus (Nm 27:21;
Dt 33.8). Eles eram os encarregados do tabernáculo e da
supervisão do mesmo, com a ajuda dos levitas.'Na qualidàde
de guardiões da lei, eles também eram os mestres da nação.
Dos sacerdotes requeria-se que Vivessem santamente
(Lv 21.l- 22.10). Tinham vestimentas especiais (Êx 28.40-43;
39.27-29), como também com o sumo sacerdote (Êx 28.4-39).
Os sacerdotes e o sumo sacerdote tiveram uma bela cerimônia
de consagração (Êx 29.1-37; 40.12-15; Lv 8.1-36). To- das essas
questões merecem estudo mais profundo, quando você tiver
tempo para fazê-lo. Agora, porém, consideraremos como elas
se aplicam às nossas vidas, como crentes que somos.
Também fomos chamados para servir a Deus. O trecho
de 1 Pedro 2.5- 9 diz-nos que os crentes hodiernos são como
os sacerdotes do Antigo Testamento, quanto a alguns
aspectos. Tal como aqueles sacerdotes, os crentes devem
viver separados do modo mundano de viver. Muita coisa
pode ser aprendida do sacerdócio vétero testamentário
sobre o que significa servir a Deus.
As Ofertas
A prática de oferecer ofertas a Deus não começou no
monte Sinai. Holocaustos e ofertas a Deus sem dúvida já eram
então um procedimento regular. Os registros sobre Caim, Abel e
Noé demonstram o fato. Lembremo-nos que Moisés aludiu a tais
ofertas na presença de Faraó (Êx 5.1-3; 18.12; 24.5). Mas, as leis
sacrificiais dadas no monte Sinai tiveram por finalidade prover
instruções específicas para essa forma de culto.
71
Havia cinco tipos de ofertas. Em quatro delas, havia
derramamento de sangue: 1) ofertas pelo pecado; 2) ofertas
pela culpa; 3) holocaustos, e 4) ofertas pacíficas. No quinto
tipo, ofertas de manjares, não havia derramamento de sangue.
No caso das primeiras quatro ofertas eram aceitáveis
animais limpos e mansos, como o carneiro, o bode e o boi. Aos
israelitas muitos pobres permitia-se substituí-los por
pombos.
O modo de proceder geral, quando se faziam essas
ofertas, com derramamento de sangue, era o seguinte:
1. Oisraelita apresentava o animal diante do altar.
2. Ele impunha as mãos sobre a cabeça do animal,
testificando que o mesmo era oferecido como o seu
substituto.
3. Oanimal era morto.
4. Osangue era aspergido, geralmente à base do altar.
5. O animal era queimado no todo ou em parte,
dependendo da modalidade da oferta.
Donald Turner5 e Paul Hoffo trazem uma explicação
sobre cada um destes sacrifícios e seus significados:
Holocausto. É oferecido depois da oferta pela culpa, da
oferta pelo pecado, do sacrifício pacífico e a oferta de
manjares, de modo que o pecador já está perdoado e
restaurado à comunhão com Deus. O holocausto destacava-se
entre as ofertas porque era inteiramente consumido pelo
fogo do altar, era considerado o mais perfeito dos sacrifícios.
5
TURNER, 2004, p. 91-96.
6
HOFF, 2007, p. 183-187.
72
INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
Conquanto tivesse o aspecto expiatório, representava antes
de tudo a consagração completa do ofertante, pois a vítima
era queimada inteira para o Senhor. Muitos cristãos hoje em
dia chegam até este ponto na sua vida espiritual mas não
reconhecem a responsabilidade de uma consagração de seu
ser inteiro a Deus.
Oblação ou Oferta de Manjares. Este sacrifício não
incluía sangue, mas era oferecido sempre em conexão com o
holocausto ou outro sacrifício de sangue. A palavra traduzida
por "oblação" significa em hebraico "aproximação", pois o
crente deve trazer uma oferta ao aproximar-se de Deus. Esta
oferta consistia em produtos da terra que representavam o
fruto dos labores humanos: incluíam flor de farinha, pães
asmos fritos e espigas tostadas. Uma porção pequena era
queimada sobre o altar e o restante pertencia aos sacerdotes,
salvo quando o sacerdote era o ofertante (em tal caso esse
restante era queimado). Significava a consagração a Deus dos
frutos do labor humano. O ofertante reconhecia que Deus o
havia provido com seu pão quotidiano. O ofertante entregava
o melhor que possuía, o que ensina que nossas dádivas a
Deus devem ser de alta qualidade.
Sacrifício Pacífico. .Era uma oferta completamente
voluntária. Seu traço característico residia no fato de a maior
parte do corpo do animal sacrificado ser comida pelo
ofertante e seus convidados em um banquete de amizade
entre Deus e o homem. Oferecia-se (excluindo aves) qualquer
animal limpo de ambos os sexos. Espargia-se o sangue sobre
o altar e se queimava a gordura e os rins. Assim, Deus recebia
o que se considerava a melhor parte e a mais saborosa. O
73
Introdução ao Antigo Testamento em
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  • 3. EXPEDIENTE Presidente da IEADAM/CEADAM Jonatas Câmara Direção Geral da Faculdade Boas Novas Maria José Costa Lima Coordenação do IBADAM Edivaldo Lopes de Lima Secretaria Larissa Benevides da Costa Barros Lissa Martins Negri Equipe Editorial Prof. Me. Belmiro Medeiros da Costa Junior Prof. Dra. Carla Eloiza Bavose Campos Seabra Prof. Me. Cláudio José da Silva Prof. Me. Daniel Barros de Lima Prof. Me. Liliane Costa de Oliveira Prof. Me. Miqueias Machado Pontes Prof. Me. Reyth da Cunha Ribeiro APRESENTAÇÃO DO CURSO MÉDIO EM TEOLOGIA PECC - Programa de Educação Cristã Continuada O Programa de Educação Cristã Continuada (PECC) da Assembléia de Deus no Amazonas está fundamentado numa visão Integral da formação de seus membros. O PECC tem o Pr. Samuel Câmara, como seu idealizador, homem que tem como marca a "gênesis" de grandes projetos1, os quais se desdobram em outros tão grandiosos quanto os projetos de origem. A educação teológica no Amazonas traz a sua marca. Essa·convicção na educação como investimento, o levou a desenvolver ferramentas para o crescimento da Igreja e expansão do reino de Deus fato este que o credencia a receber o título de mentor do Projeto de Educação da IEADAM. Algo inédito no Brasil, o PECC, é resultado dà parceria das Instituições de Ensino da Assembleia de Deus, que pela primeira vez se unem em uin mesmo projeto: a Escola Bíblica Dominical, o Instituto Bíblico da Assembleia de Deus no Amazonas (IBADAM), e a Faculdade Boas Novas (FBN). Esta união nasceu com o propósito de desenvolver um projeto de 1 Como, por exemplo, o Projeto de Comunicação da Assembleia de Deus que, por sua importância para o reino, tem matéria para vários livros, monografias e artigos, colocando o Evangelho onde o missionário convencional jamais levaria. O desdobramento desse projeto tem sido inspiração para tantos outros na área, a exemplo do curso de Jornalismo da própria Faculdade Boas Novas, que tem sido um dos cursos mais premiados do nosso Estado, inserindo no Mercado vários profissionais que levam consigo a marca do maior laboratório de rádio e TV da Comunicação cristã no Norte, a RBN - Rede Boas Novas, rendendo ao Pr. Samuel o título de Apóstolo das Comunicações.
  • 4. educação integrado e continuado, não só local, mas em todo 0 país. O PECC fecha um currículo que é sem dúvida o mais moderno e atualizado programa de Educação Cristã da nossa história. Ressaltamos que, ao longo dos seus quase 100 anos, a Assembleia de Deus no Amazonas, sempre primou pelo ensino da Palavra através da Escola Dominical, sem, contudo, oferecer aos seus alunos um documento que comprovasse e reconhecesse esse aprendizado. O Programa de Educação Cristã Continuada tem como objetivo fortalecer a Educação Cristã na Assembleia de Deus, no Amazonas e por todo o Brasil, por meio de um programa consistente que integre os níveis de educação já existentes visando: formação teológica de seus líderes e membros; formação continuada do professor na Igreja; munir os membros da Igreja com base bíblica e teológica; capacitar obreiros para a obra de Deus e prestar serviço de orientação vocacional à Igreja. Nos últimos anos da existência de nosso IBADAM, temos entendido que a função desse instituto é servir tanto à nossa igreja quanto à outras denominações evangélicas, no que se refere .a formação de lideranças. Mais do que isso, vemos claramente o propósito de sermos uma ponte necessária para alcançar algo que, por muitas vezes na história da Igreja, foi deixado de lado: a unidade. O IBADAM representa uma ponte de unidade do Reino de Deus na cidade de Manaus, um foco claramente presente na pregação tão veemente do Pr. Jonatas Câmara que, nos 'últimos anos, tem buscado de muitas maneiras evidenciar a importância disso para a vida de toda a Igreja de Cristo. O IBADAM representa o Nível 2 do PECC, como curso médio em teologia, recebendo os egressos da Escola Bíblica Dominical que concluíram o Nível 1 (Básico em Teologia). Sua estrutura curricular, contém 21 disciplinas, divididas em 4 módulos: Formação Bíblica, Formação Pedagógica, Formação Ministerial, e Formação em Missões, tendo como objetivo aprofundar os conhecimentos bíblico-teológicos adquiridos na formação básica da Escola Bíblica Dominical. O IBADAM serve como ponte entre a Escola Bíblica Dominical e a Faculdade Boas Novas, uma peça fundamental do Programa de Educação Cristã Continuada, dando seguimento a formação teológica do aluno no nível superior. Podemos perceber que o IBADAM deu um grande salto em sua metodologia educacional e essa coleção de livros teológicos representa bem esse momento. Sua estrutura organizacional2 visa capacitar os obreiros que enfrentarão o mundo além das limitações eclesiásticas, preparando líderes fortes para o futuro. Podemos afirmar que a IEADAM, em seu singular projeto de educação, encontra-se preparada para o enfrentamento de outros projetos de educação que permeiam a sociedade e que estão baseados em cosmovisões equivocadas acerca do homem e da vida, e não em Cristo 2 Caro estudante você pode acessar nos Anexos (ao final do livro) a nova estrutura dos componentes curriculares do IBADAM, bem como os quadros explicativos do PECC.
  • 5. (Colossenses 2:8). São visões antropocêntricas que colocam sempre o homem no centro, como a medida de todas as coisas, destruindo assim, a visão bíblica do homem de Deus (Gênesis 1:26-28). Manaus, 08 de julho de 2016. Maria José Costa Lima ( • () Apresentação do Componente Curricular Neste livro você estudará o Antigo Testamento, a primeira porção do livro mais importante do mundo - a Bíblia Sagrada. OAntigo Testamento fala sobre o Criador dos céus e da terra, apresentando o relato de Seu relacionamento com o povo que Ele escolheu para usar como instrumento por meio do qual abençoaria o mundo: opovo de Israel Este componente curricular está dividido em oito aulas. A primeira contém uma introdução, que o ajudará a descobrir por que o Antigo Testamento é uma mensagem pessoal para sua vida. Descobrirá alguns fatos interessantes sobre como ele tem sido preservado e transmitido para nós. Na segunda e terceira aula você aprenderá sobre como Deus criou a humanidade e começou a fazer-se conhecido dos homens. Você verá como Ele chamou para Si mesmo um povo especial, livrando-os da servidão por meio de grandes milagres e como Ele os ensinou a adorá-Lo. Na quarta aula você se familiarizará com a Palestina, a terra que Deus prometeu ao Seu povo. Com o auxílio de mapas e gráficos, entenderá suas principais características. Pois estará acompanhando o povo de Deus, desde o seu entrar a apossar-se dela, até, finalmente, tomarem lugar entre as nações do mundo. Será informado sobre a magnificência e o resplendor de que usufruíram, enquanto viveram na obediência a Deus. Nas aulas seguintes você verá como o povo de Deus foi exilado de sua terra, devido a sua desobediência a Deus. Foi um período de lamentáveis fracassos. Mas, você também
  • 6. descobrirá como Deus continuou falando com lcs. E como Deus trouxe-os de volta à sua terra, inspir ndo-os a restaurarem e reedificarem aquilo que havia sido d struído. Ao considerar essa fase particular da história de Israel, você aprenderá lições valiosas sobre a importância da obediência e sobre a possibilidade de restauração. Este livro o ajudará não só a compreend r o Antigo Testamento, mas até mesmo o Novo Testamento, pois o Novo é o cumprimento do Antigo. O estudo que fizer da história do povo de Deus fortalecerá seu próprio conhecimento acerca dos caminhos e das palavras de Deus, bem como a sua conduta diante dele. Introdução ao Antigo Testamento formará a primeira parte do seu estudo no Antigo Testamento. Frisa a história do povo de Deus, dando atenção especial aos poderosos atos de Deus e às palavras proféticas do Senhor acerca desses atos. Aborda a sequencia e o significado das experiências deste povo. Examinando o relacionamento deles com Deus, bem como seus sucessos e fracassos. O estudante descobrirá muitas verdades do Antigo Testamento que o ajudarão a compreender a Bíblia, como andar com Deus, e o serviço que Lhe deve prestar. • + SUMÁRIO AULA 1: OS CAMINHOS E AS PALAVRAS DE DEUS ..................11 1. SUPORTE PARA OANTIGO TESTAMENT0..............................11 2. DEUS DEU-NOS OANTIGO TESTAMENT0..............................14 3. NOSSA ABORDAGEM AO ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENT0..............................................................................................20 AULA 2: HISTÓRIA DA RAÇA HUMANA.........................................25 1. COMEÇOS NO LIVRO DEGÊNESIS ..................................................................25 2 ,. AGRANDE TRAGEDIA HUMANA...................................................30 AULA 3: INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL.....................................43 1. O CHAMADO DE ABRAÃ0................................................................43 2. UM HOMEM RESPONDE.-..................................................................................................45 3. NASCE UMA NAÇÃ0.............................................................................52 4. PREPARAÇÃO DO POVO DE DEUS...............................................58 5. OPOVO DE DEUS DUVIDA E VAGUEIA...........................................78 6. OPOVODEDEUSOUVEASINSTRUÇÕESFINAIS.................................80 AULA 4 UM LAR PARA O POVO DE DEUS......................................83 1. O LÍDER EA TERRA............................................................................83 2. LIÇÕESAPRENDIDAS NASTREVAS...................................................90 3. LUZ DADASOBREOFUTUR0............................................................................94 AULA 5: O REINO UNID0......................................................................99 1. IDEIA DE REINAD0.............................................................................99 2. OREINADO DE SAUL.........................................................................105 3. OREINADO DE DAVI.........................................................................106 4. OREINADO DE SALOMÃ0..............................................................111
  • 7. SUMÁRIO AULA 6 UM REINO DIVIDID0............................................................ 115 1. DIVISÃO DO REINO UNID0............................................................ l15 2. DESCRIÇÃO DO REINO DIVIDID0...............................................116 3. HISTÓRIA DO REINO DIVIDID0..................................................120 AULA 7 DESTRUIÇÃO E RECONSTRUÇÃO................................... 31 1. QUEDA DOS REINOS..........................................................................131 2. A EXPERIÊNCIA DO CATIVEIR0..................................................134 3. PROPÓSITO DA RESTAURAÇÃ0..................................................139 4. PROGRESSO DA RECONSTRUÇÃ0..............................................140 5. MENSAGENS AOS RESTAURADORES.......................................143 6. ÚLTIMO AVISO AO POVO DE DEUS.............................................145 AULA 8 ESCRITOS...................................................................................149 1. OS ESCRITOS E SUAS FORMAS.....................................................149 2. ESCRITOS QUE DÃO SABEDORIA................................................151 3. ESCRITOS DEVOCIONAIS................................................................155 BIBLIOGRAFIA..........................................................................................162 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO AULA1 OS CAMINHOS EAS PALAVRAS DE DEUS 1. SUPORTE PARA O ANTIGO TESTAMENTO 1.1 Fontes de Revelação O Antigo Testamento foi escrito em um período de cerca de mil anos, desde Génesis até o profeta Malaquias. Muitos são seus autores, os quais escreveram os textos bíblicos a partir da revelação de Deus, porém, também fizeram uso de documentos da época, da tradição escrita e da tradição oral. Tradição Oral. Antes de a história virar texto, era passada de uma geração à outra através da tradição oral. Os fatos do passado eram contados e recontados de pai para filho, do sacerdote para o povo. Conforme Esequias Soares, a tradição oral foi usada quando os escritores sagrados ouviram relatos de outras pessoas. Deus usou seres humanos e fatos do dia a dia na revelação, que foi gradativa ao longo da história. Depois, usou seus servos para providenciarem o registro desses fatos, na direção do Espírito Santo.1 Tradição Escrita. Existem outros livros que não estão nos textos bíblicos, e que acabaram se perdendo, mas que foram consultados pelos escritores durante a compilação do 1 SOARES, Esequias. Visão Panorâmica do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2003, p. 19. 11
  • 8. Antigo Testamento. Por exemplo, Moisés faz menção do "livro das Guerras do SENHOR" (Nm 21.14); nos livros de Josué e 2Samuel são citados o "livro do Reto" ou "livro de Jaser" (Js 10. 13; 2Sm 1. 18). Testemunhas Oculares. Muitos .escritores bíblicos relataram fatos testemunhados, vividos e experienciados pelos mesmos. Por exemplo, Moisés registrou o êxodo e a peregrinação no deserto (Êx 17. 14; Nm 33. 1, 2); o autor do livro de Josué mostra que estava presente no momento em que o fato histórico ocorria (5. 1); o próprio Samuel ungiu os dois primeiros reis de Israel, sendo que o mesmo é autor do livro ·(1Sm 10. 1; 16. 13); muitos profetas relataram fatos ocorridos com os mesmos. Revelação Divina. Sendo Moisés o autor do livro de Gênesis, vem então, a seguinte pergunta: como ele soube da criação? Apenas pela revelação. A revelação divina não mostrava apenas fatos do passado, mas também, fatos que haveriam de ocorrer, como por exemplo, a vinda do messias profetizada pelos profetas. 1.2 Material de Escrita. Papiro. Era a folha de uma planta aquática muito comum no Egito. Do cerne de seu caule se produzia um material semelhante à folha de papel que os antigos usavam para a escrita. Essas folhas eram confeccionadas em forma de rolos que podiam medir até 15 metros, mas o tamanho padrão era de 10 metros. Conforme Esequias Soares, os prlm iros escritos da Bíblia foram feitos nesse material. Uma INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO curiosidade aqui, é que os romanos chamavam o papiro de líber, de onde deriva a palavra "livro", e os gregos gregos chamavam o papiro de biblion, que no plural é biblia, termo no grego que pode ser usado tanto no singular como no plural. Por isso é a palavra mais propícia para nos referirmos às Escrituras, pois a Bíblia é, ao mesmo tempo um livro, como também uma coletânea de 66 livros. Pergaminho. Nome derivado da cidade de Pérgamo, de onde se originou este material de escrita. Também era chamado de couro ou Avelino. Feito de pele de <::abras, ovelhas, cordeiros ou carneiros. Era mais resistente que o papiro, como também mais caro. Além destes materiais acima, Norman Geisler cita outros, como as tabuinhas de barro, usadas por Jeremias (17. 13) e Ezequiel (4.1); as pedras, que já eram usadas na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação, como por exemplo, o Código de Hamurabi, e claro, foram usadas para a escrita de textos bíblicos (Êx 24. 12; 2. 15, 1; Dt 27. 2,3; Js 8. 31, 32); metal (Êx 28. 36; Jó 19. 24); a cera (Is 8.1; O. 8); e os cacos de louça (óstracos), como mostra Jó 2. 8.2 Instrumentos de escrita. Dentre eles, havia o estilo, ínstrumento em formato de pontalete triangular com abeçote chanfrado, com que se escrevia. Era usado de modo special para fazer entalhes em tabuinhas de barro ou de era, sendo às vezes denominado pena pelos escritores bíblicos (Jr 17. 1). Ocinzel era usado para fazer inscrições em EISLER, Norman; NIX, William. Introdução bíblica: como a Bíblia d1cgou até nós. São Paulo: Editora Vida, 1997, p. 131. 13
  • 9. pedra (Js 8. 31, 32), Jó denomina o cinzel como pena de ferro (19. 24). A pena era usada para escrever em papiro e em pergaminho. 1.3 Línguas Originais O Antigo Testamento foi escrito originalmente em hebraico, e uma pequeníssima parte em aramaico (Esdras 4.8 - 6.18; 7. 12 - 26; Daniel 2.4 - 7.28; Jeremias 10.11 e duas palavras em Gênesis 31. 47). Norman Geisler diz que o hebraico encaixou-se bem nessa tarefa porque é uma língua pictórica. Expressa-se mediante metáforas vividas e audaciosas, capazes de desafiar e dramatizar a narrativa dos acontecimentos. Além disso, o hebraico é uma língua pe~soal. Apela diretamente ao coração e às emoções, e não apenas à mente e à razão. É uma língua em que a mensagem é mais sentida que meramente pensada.3 2. DEUS DEU-NOS O ANTIGO TESTAMENTO 2.1 O Antigo Testamento foi Inspirado Por Deus De conformidade com 2 Timóteo 3.16-17, a Bíblia foi inspirada por Deus. No idioma em que essa declaração foi originalmente escrita, as palavras inspirada por Deus significam "sopradas por Deus". Stanley Horton explica que Paulo, ao escrever esta palavra, não estava dizendo que Deus opro11 lguma característica divina nos escritores humanos 1 li 1 1li!(, 141117. p. 130. INTRODUÇÃO AO ANTTGO TESTAMENTO das Escrituras, ou que toda a Escritura respira um ambiente de Deus, que fala dEle. O adjetivo grego (theopneustos) é claramente predicativo, é usado para identificar a fonte originária de todas as Escrituras. Deus é o Autor, em última análise. Logo, toda a Escritura é a voz de Deus, a Palavra de Deus.4 Quando os cristãos falam acerca da inspiração verbal da Bíblia, querem dizer que cada palavra da Bíblia foi soprada por Deus, não se tratando de mero esforço humano para exprimir verdades importantes. É evidente que Deus permitiu miraculosamente que a natureza e a personalidade de cada escritor transparecesse através daqueles escritos. Moisés, Isaías e Samuel, que escreveram vários livros do Antigo Testamento, não foram meros secretários aos quais Deus ditou Sua mensagem. Suas próprias personalidades são reveladas em seus escritos. Acima de tudo, porém, sobressai-se o fato de que o Deus soberano inspirou cada palavra das Escrituras. Assim, o Antigo Testa mento nos oferece a própria mensagem inspirada por Deus. A Bíblia não somente contém a palavra de Deus; mas também é a Palavra de Deus. tanley Horton mostra que o Antigo Testamento apresenta xpressões como: "Falou o SENHOR a Moisés, dizendo" (Êx 4.1); "A palavra que veio a Jeremias, da parte do SENHOR, dizendo" (Jr 11.1); "Tu, pois, ó filho do homem, profetiza... e dize: Assim diz o SENHOR Deus" (Ez 39.1); "Assim diz o 1 11 RTON, Stanley. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora d11s Assembleias de Deus, 1996, p. 100. 15
  • 10. SENHOR" (Am 2.1). Tais declarações são usadas mais de 3.800 vezes, e demonstram com clareza que os escritores tinham consciência de estar entregando uma mensagem autorizada da parte de Deus.5 2.2 OAntigo Testamento é a Palavra de Deus Talvez você pergunte: "Temos razões plausíveis para aceitar que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus?" Uma maneira simples de responder a essa pergunta com um sim consiste em ressaltar que Jesus Cristo, o nosso Senhor, fez citações extraídas de vinte e dois livros do Antigo Testamento. Além disso, o livro de Marcos tem 15 citações do Antigo Testamento, Mateus tem 19, Lucas tem 25, Hebreu~ tem 85, e o Apocalipse tem 245. Nos demais livros do Novo Testamento há muitas outras citações. Esses fatos mostram que Jesus e os escritores do Novo Testamento davam grande valor ao Antigo, e reconheciam a autoridade do mesmo. Na Bíblia, lemos que com frequência eles se referiam ao Antigo Testamento como "as Escrituras", e, algumas vezes, como "a Lei" - dando a entender os mandamentos dados por Deus ao Seu povo. Quando encontramos essas expressões no Novo Testamento, usualmente podemos entender que elas se referem ao que chamamos de Antigo Testamento. Atualmente também usamos o termo "Escrituras", embora geralmente l'mpr •guemos essa palavra para indicar a Bíblia inteira, vc•rsírnlo específicos ou porções da Bíblia. Devemos notar IIC >I( 1( lN. l'>'>6. p. 99. lt, INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO esses diferentes usos quando estamos lendo ou estudando a Bíblia. O Antigo Testamento relata muitos fatos históricos sobre a nação judaica. Mas ali não há apenas história. Temos ali uma história sagrada, mediante a qual Deus se revela ao homem. O Antigo Testamento mostra-nos como Deus agiu com a nação chamada Israel. Contudo, Deus não é apenas o Deus de Israel, mas é igualmente o governante supremo de todos os povos de todos os lugares. A verdade frisada a seguir é muito importante: O tema básico do Antigo Testamento é que Deus revelou Sua natureza à humanidade mediante atos poderosos e palavras proféticas. O registro escrito do Antigo Testamento, conforme foi recebido pelos judeus e pelos cristãos era considerado um produto divino-humano, isento de erro, contendo verdades destinadas a toda a raça humana. 2.3 OAntigo Testamento Chegou até Nós Desde os tempos mais antigos, Deus fez os homens guardarem um registro escrito de Suas palavras e revelações. Os reis de Israel deviam ter uma cópia da lei de Deus (Dt 17.1- 19). A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico, a língua falada pelo povo de Israel até o ano 500 a.C. A partir de então, o aramaico tornou-se a língua falada na Palestina e regiões circunvizinhas. Uma pequena porção do Antigo Testamento foi escrita em aramaico, textos como: Esdras 4.8-6.18; 7.12-20; Jeremias 10.11 e Daniel 2.4-7.28. 17
  • 11. O material sobre o qual foi escrito o Velho Testamento denominou-se pergaminho. Peles de animais eram usadas para preparar esse material. Um pedaço de pergaminho, onde eram escritos trechos bíblicos, usualmente media 25cm de largura por 10m de comprimento. Essas tiras eram enroladas, formando um rolo. Quando um rolo ficava gasto pelo uso, um grupo particular de estudiosos, chamados massoretas, copiava os textos em novos rolos, com extremo cuidado. Usualmente, os rolos antigos eram destruídos posteriormente. Encontramos manuscritos desse tipo desde o ano 900 d.C. Entretanto, a descoberta de alguns manuscritos muito mais antigos, de cerca do ano 70 d.C., foi feita em 1947, em um lugar chamado Qumran, perto do mar Morto. Ali foram descobertos os chamados "manuscritos do mar Morto". Eles mostram que o Antigo Testamento que recebemos nos foi fielmente transmitido, e merece nossa confiança e aceitação de todo o coração! Têm sido feitas muitas traduções do Antigo Testamento. Nos últimos séculos antes de Cristo, eruditos judeus prepararam uma tradução para o grego. Atradição diz que eles foram setenta e dois tradutores, daí vem o titulo Septuaginta, palavra grega que significa setenta, que foi dado a essa tradução. Isso permitiu que muita gente lesse o Antigo Testamento. Juntamente com o Antigo Testamento em hebraico; a Septuaginta era usada no tempo do ministério terreno de Jesus. No final do Século IV d.C., foi feita uma tradução da Bíblia inteira para o latim, por um erudito de nome Jerônimo. Eentão, nos séculos XIV e XV, apareceram diversas outras traduções 18 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO em alemão, francês, italiano e inglês. Após Guilherme Tyndale, apareceu a famosa versão inglesa "autorizada", do rei Tiago, em 1611. Aprimeira tradução do Novo Testamento em português saiu em 1681, traduzida por João Ferreira de Almeida. A Bíblia inteira foi impressa em 1753. Em nossos dias têm sido preparadas muitas outras traduções. Atualmente a Bíblia é disponível na língua falada pelo povo de praticamente todas as regiões do mundo. 2.4 O Antigo Testamento é uma Mensagem Pessoal Para Nós. Abraão foi o grande homem de fé, o pai da nação de Israel. Porém, ele não foi apenas o pai dessa nação. De acordo com Romanos 4.11,16,24, os crentes de hoje são seus descendentes espirituais. Esse é o fato que reveste o Antigo Testamento de tão grande significação para nós. Ali temos não só a revelação dos caminhos e das palavras de Deus, mas também a história de nossos antepassados e progenitores espirituais. Embora sejam diferentes as nossas atuais circunstâncias, em relação às deles, as lições espirituais que eles aprenderam aplicam-se também a nós com igual propriedade. O trecho de Hebreus 4.12 diz que a Palavra de Deus é "viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito... apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração". Por ser o Antigo Testamento a Palavra de Deus, 19
  • 12. ele nos dá discernimento não somente sobre a natureza de Deus, mas também quanto à nossa. Ao estudarmos os acontecimentos ali registrados, podemos descobrir muitas coisas sobre nossas próprias vidas, pois mui- tas vezes achamo-nos em situações similares àquelas encontradas por aqueles homens e mulheres do Antigo Testamento. Deus pode falar conosco, ao estudarmos as suas vidas e as mensagens que Deus tinha para eles. 3. NOSSA ABORDAGEM AO ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENTO 3.1 Tip(!S de Escritos do Antigo Testamento Dos 66 livros da Bíblia, 39 compõem o Antigo Testamento, divididos em três grupos. Os primeiros dezessete livros, de Gênesis a Ester, narram o desenvolvimento histórico de Israel como nação, até cerca de quinhentos anos antes de Cristo vir ao mundo. Esses são os chamados livros históricos. Os primeiros cinco livros históricos estão intimamente associados à vida e ao ministério de Moisés, que guiou os israelitas para fora do Egito. São eles: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Esse grupo de livros é geralmente conhecido como o Pentateuco, nome grego que significa "cinco vasos". Cinco livros - Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão formam o segundo grupo chamado livros poéticos. Expressam os senti- mentos, os pensamentos e as 20 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO emoções de vários povos que viveram no tempo da história da nação de Israel. Porém, não se limitam de perto a eventos particulares dessa nação. Os demais dezessete livros são chamados livros proféticos. Deus levantava profetas de vez em quando para declararem a Sua palavra. Eles tinham uma mensagem para sua própria geração. Todavia, com frequência também falavam sobre eventos futuros. Os detalhes constantes nos livros históricos são as chaves para compreendermos devidamente a mensagem dos profetas. Por outro lado, as palavras dos profetas ajudam o leitor a compreender as narrativas dos livros históricos. Lembramos aqui, que a composição do cânon do Antigo Testamento cristão evangélico é o mesmo usado pelo cânon h braico, que contém os mesmos 39 livros. O quadro 1 dado a s guir, mostra o cânon do Antigo Testamento em cada uma d ssas três divisões. 21
  • 13. QUADRO 1: DIVISÕES DO ANTIGO TESTAMENTO HISTÓRIA POESIA PROFESSIA (Pentateuco) (Profetas Maiores) Gênesis Jó Isaías Êxodo Salmos Jeremias Levítico Provérbios Lamentações Números Eclesiastes Ezequiel Deuteronômio Cantares Daniel (Históricos) (Profetas Menores) Josué Oséias Juízes Joel Rute Amós 1 e 2 Samuel Obadias 1 e 2 Reis Jonas 1 e 2 Crônicas Miquéias Esdras Naum Neemias Habacuque Ester Sofonias Ageu Zacarias Malaquias 3.2 Estudo Cronológico do Antigo Testamento A fim de melhor pesquisarmos o Antigo Testamento, estudaremos neste curso os livros históricos, poéticos e proféticos segundo a chamada ordem cronológica. Em outras palavras, a ordem de estudo acompanhará a época em que cada livro foi escrito. Começaremos pelo livro que fala sobre os primeiros e mais antigos acontecimentos. E 22 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO terminaremos pelo livro que fala sobre os últimos e mais recentes eventos. Já vimos que o tema do Antigo Testamento é a revelação que D.eus nos faz de Sua natureza, por meio dos acontecimentos históricos. Mas esses eventos, embora dirigidos pelo próprio Deus, não poderiam fornecer-nos uma revelação de Sua natureza por si mesmos. Portanto, Deus levantou homens não somente para verem esses acontecimentos, mas também para explicarem o que eles revelam sobre Deus. Tais homens foram os profetas. Ver e explicar a revelação de Deus era a tarefa dos profetas. Neste curso, estudaremos os profetas paralelamente aos eventos que viram e sobre os quais falaram. Estudaremos os livros poéticos dentro do tempo em que provavelmente foram escritos. As palavras de Miquéias 4.2 nos fornecem um belo tema, ao iniciarmos nosso estudo do Antigo Testamento: "Subamos ao monte do Senhor, e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos pelas uas veredas." Enquanto você estuda o Antigo Testamento, espere que Deus fale com você por meio desses livros. Ali há uma mensagem pessoal para sua vida! 23
  • 14. Questões para Estudo e Discussão 1. Exponha vários fatos sobre o conteúdo e o valor do Antigo Testamento. 2. Faça uma lista das maneiras em que a mensagem do Antigo Testamento aplica-se aos crentes de hoje. 3. Identifique os versículos que contêm exemplos do conteúdo de cada uma das três principais divisões ou tipos de literatura encontrados no Antigo Testamento. 24 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO AULA2 HISTÓRIA DA RAÇA HUMANA 1. COMEÇOSNOLIVRODEGÊNESIS 1.1 ODeus de Gênesis Diz o trecho de Gênesis 1.1: "No princípio... Deus..." Quem, pois, é Deus? No livro de Gênesis Ele revela-se como o Criador divino, Aquele que sempre existiu, de eternidade a eternidade. Paul Hoff chega a dizer que o conceito mais importante que encontramos no relato da criação não é a descrição do processo de criar, nem a dos detalhes acerca do homem, por mais interessantes que sejam. Tal conceito é: há um Deus, e por ele foram feitas todas as coisas.1 Deus não tem começo de vida e nem fim de dias. l·:mbora Ele tenha criado todas as coisas, existe separado de 1odas as coisas. As árvores são obra das mãos de Deus, rrías D us não é uma árvore. Deus criou o sol, mas o sol não é Deus. Além do universo, há um ser eterno que é superior à sµa criação. Por isso Gênesis ensina, dede o começo, que Deus é 1'111ico transcendente, pessoal e criador. ., A figura de Deus domina todo o capítulo 1 de Gênesis. Af, o termo traduzido por Deus em nossas Bíblias é Elohim no lu·braico, no plural. Porém, quando é usado para referir-se a 1)eu , a tradução é no singular, pois, nesse caso o plural é 1 IIOFF, Paul. O Pentateuco. São Paulo: Editora Vida, 2007, p. 28. 25
  • 15. considerado majestático, indicando sua intensidade, plenitude, majestade e poder infinito. Este capítulo mostra o poder de Deus, sua majestade, transcendência. Um Deus que opera de longe, que lança a sua palavra e o mundo vai se organizando, saindo do caos e sendo criado. Já no capítulo 2, Deus é chamado de Javé. Um Deus mais pessoal, mais próximo ao homem. Neste capítulo, Deus é descrito dentro de uma linguagem antropomórficaz, ou seja, Javé tem atitudes e ações humanas. Ele aparece criando o homem e a mulher mais de perto, moldando o barro ou fazendo uma operação no homem para fazer a mulher. Andando e conversando com ambos (homem e mulher) no jardim. Ele não está tão longe, e precisa matar um animal para fazer roupas para o primeiro casal. Ampliando mais esta discussão, podemos ir um pouco mais longe e ver Noé oferecendo um holocausto a Deus, e o mesmo sentindo o "cheiro suave", ou seja, assim como nós, Ele sentiu o cheiro delicioso do churrasco, daquela picanha no fogo e se agradou. Podemos ainda falar do antropopatismo, onde Javé tem sentimentos humanos. Javé se arrepende de ter feito a humanidade, lembra de Noé na arca, como se houvesse esquecido, entre outros. Lembro aqui que quando o texto bíblico afirma que Deus se arrependeu, é simplesmente uma forma de tentar mostrar o sentimento de tristeza que Deus teve diante da depravação da humanidade. É certo que Ele 2 O Antropomorfismo etimologicamente .vem da junção de duas palavras gregas: antropos (que significa homem) e mo,fê (forma ou aparência), sendo uma figura de linguagem que atribui a Deus características e atividades humanas. Aqui, Javé tem estas características e atitudes humanas. 26 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO não se arrependeu como se arrepende o homem. Tais figuras de linguagem (antropomorfismo e antropopatismo) são utilizadas · com o objetivo de mostrar Deus. Um Deus transcendente emana, rebaixando-se a uma linguagem humana para fazer-se conhecido. 1.2 OEvento de Gênesis A palavra criar aparece por três vezes no primeiro capítulo do livro de Gênesis (1.1,27). Esse vocabulário é usado para traduzir a palavra hebraica que significa "fazer algo do nada". O fato de que Deus fez o mundo do nada é uma indicação de que Ele tem todo o poder. Quando compreendemos a ideia ali contida, damos o primeiro passo importante para entender nosso relacionamento com Deus. A Bíblia ensina-nos que é somente pela fé que sabemos que Deus criou o mundo. O trecho de Hebreus 11.3 diz: "Pela fé entendemos que os mundos pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente." A confiança na Palavra de Deus é a base do relacionamento de uma pessoa com Deus, bem como de sua experiência cristã. Sem essa fé, agra- dar a Deus é impossível. (Hb 11.6.) Na qualidade de crentes, devemos depender da Palavra de Deus, e não de nossa fragilidade e de nosso conhecimento parcial, como seres humanos. É muito mais importante entender que Deus criou tudo do que formar uma opinião de onde ou quando os acontecimentos da criação tiveram lugar. O autor de Gênesis, 27
  • 16. por exemplo, não apresenta a cronologia dos eventos ali relatados. Não sugere uma data sequer. Nem expõe detalhes geográficos precisos sobre o jardim do Éden, primeiro lugar habitado pelo homem. Essas questões não são ventiladas. Não obstante, a verdade central é clara: Deus criou o mundo do nada, e Sua obra criativa caracteriza-se por propósito, desígnio e boa ordem. Essa verdade é o fundamento e o pano de fundo de toda a revelação restante de Deus, em uma narrativa que gradualmente vai sendo descoberta na Bíblia. 1.3 O Homem - Obra Prima de Deus Após darem-nos a narrativa da origem dos céus e da terra, os capítulos iniciais de Gênesis passam imediatamente para a descrição do homem. Sem nenhuma dúvida, o homem é o mais importante ser de toda a criação divina. Criado à imagem ou semelhança de Deus, ele é o centro do interesse na revelação do propósito de Deus. Paul Hoff explica que o fato de que os membros da Trindade falaram entre si (1.26), indica que este foi o ato transcendental e a consumação da obra criadora.3 Ao homem foram dadas autoridade e responsabilidade sobre a criação. Deus tencionou que o homem governasse o mundo (Gn 1.26,28), e para isso o pôs em um belo jardim, no Éden. O homem era diferente de todos os animais. Essa diferença é destacada pelos eventos descritos em Gênesis 2.18-23. O homem não encontrava companhia satisfatória 3 HOFF, 2007, p. 32. 28 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO enquanto Deus não criou Eva do próprio corpo de Adão. Portanto, houve perfeição! Havia um reino animal e um reino vegetal em perfeita harmonia com a humanidade, encarregada de gerenciá-los. E Deus estava muito satisfeito! Deus queria que a humanidade governasse a criação terrena, mas também queria que os homens -tivessem comunhão com Ele. Havia perfeita ordem na criação, mas dentro do ser humano havia uma força poderosa - a sua vontade. No princípio, o homem preferiu ter comunhão com o seu Criador. Conforme indica o trecho de Gênesis 3.8, Deus tinha comunhão com Seus dois amigos humanos. Que tempos maravilhosos devem ter sido aqueles! Porém, para que Deus e o homem tenham uma verdadeira e duradoura comunhão, o homem deve preferir livremente essa comunhão. Deus havia dado ao homem liberdade de escolha. Deus não criara o homem para ser autômato, um objeto sem vontade e sem desejos próprios, mas Deus queria que o homem Oamasse, por escolha própria. Oresto da criação - as estrelas, o sol, as árvores, etc. - Não têm liberdade de escolha. Tudo o mais deve mover-se de acordo com o desígnio determinado pelo Senhor. Mas Deus queria que o ser humano preferisse voluntariamente fazer a Sua vontade, deleitando-se em assim fazer. 29
  • 17. 2. AGRANDE TRAGÉDIA HUMANA 2.1 A Queda e Suas consequências Dentro do ensino cristão, a desobediência de Adão e Eva, descrita em Gênesis 3.1-7, é chamada de queda. Já vimos qual o propósito original de Deus para a humanidade. Foi dessa altura toda que o homem caiu. Conforme mostram os eventos do terceiro capítulo de Gênesis, encontramos Adão e Eva no jardim do Éden, com total liberdade de escolha. Mas também havia outra personalidade - Satanás. Este também fora criado com um elevado propósito. Porém, rebelara-se contra Deus e perdera a sua posição (Lc 10.18), e agora tentava frustrar o plano de Deus, arrastando o homem em sua atitude de rebeldia. Ele tentou Adão e Eva a usarem sua vontade própria para agirem contra a vontade de Deus. A questão específica envolvida era o mandamento de Deus acerca da árvore no meio do jardim. Não pense ser estranho que o único teste envolvia uma árvore literal e seu fruto. Com frequência Deus testa a nossa obediência, usando coisas simples e corriqueiras. Satanás veio a Eva na forma de uma serpente, criatura que, naquela época, sem dúvida, era especialmente bonita. Adão e Eva falharam ambos diante do teste. Esse fracasso e essa desobediência provocaram a mais crucial mudança no relacionamento entre o homem e Deus. Esse é o mais trágico acontecimento da história da raça humana. É referido por muitas e muitas vezes na Bíblia (ver Romanos 5.12,18-19, por exemplo). 30 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO Consideremos mais de perto o que realmente sucedeu quando Adão e Eva pecaram. Os atos deles parecem ser ·xemplo do padrão que encontramos revelado no Novo Testamento. Esse padrão mostra a maneira errada de satisfazermos três desejos normais que Deus nos deu: :) o desejo de possuir coisas; 2) o desejo de usufruir das c01sas; 3) 0 desejo de obter sucesso ou bom êxito. No trecho de I João 2.16, a satisfação desses três desejos, !ºr~ da vontad,; de Deus é identificada como: 1) "a concupiscenc1a da carne ; 2) "a c~ncupiscência dos olhos"; 3) "a soberba da vida". Isso aponta, respectivamente, para os desejos pecaminosos, o q~e as pessoas veem e querem, e os valores do mundo nos quais as pessoas se orgulham tanto. Foi desse modo que nossos primeiros pais aliaram-se a Satanás em sua rebelião contra os mandamentos de Deus. Houve um efeito que sucedeu imediatamente a esse ato de desobediência. Ohomem tornou-se cônscio de si mesmo, e não de Deus. E percebeu que estava perdido. Adão e Eva tiveram de esconder-se da santa presença de Deus e usaram folhas para encobrir sua nudez (Gn 3.7). OSenhor Deus, porém, matou um animal e com sua pele fez vestimentas para eles. Avida espiritual de Adão e Eva morreu, conforme Deus havia dito, e seus corpos físicos ficaram sob a ameaça da morte. Foram separados de Deus - ficaram órfãos. Davidson chama atenção para o fato de Deus andar no jardim e perguntar: "onde estão?" interpretando que Deus buscava o homem, não porque o homem estivesse separado de seu 31
  • 18. conhecimento, mas de sua comunhão.4 Adão e Eva preferiram abandonar a comunhão com Deus, deixando-se controlar por Satanás. Do cume do propósito de Deus caíram nas profundezas da servidão ao pecado. ~Deus julgou todos os que participaram na queda. A serpente foi julgada entre todos os animais (Gn 3.14). Estabeleceu-se a inimizade entre a serpente e a humanidade. Mulheres e homens ficaram sujeitos ao sofrimento, ao trabalho árduo e à morte física. A narrativa termina com a humanidade expulsa do feliz jardim, para que não pudessem comer da árvore da vida e viverem para sempre em seu estado pecaminoso (Gn 3.22-24). Quando Deus deu ao ser humano a liberdade de escolha, Ele sabia que havia o perigo de o homem voltar-se do bem para o mal. Porém, embora soubesse o que poderia acontecer, Deus não mudou Seu plano. Algumas pessoas são tentadas a imaginar que talvez Deus tivesse falhado em Seu propósito, pois estão olhando para o mundo coberto com as consequências do pecado. Porém, o plano de Deus não pode falhar (Is 46.10). Deus jamais teria criado o mundo se a obtenção da salvação que Ele dá não ultrapassasse em muito a perda produzida pela desobediência do homem. Deus sabia que alguns prefeririam rejeitar voluntariamente o Seu livramento. Essa verdade nos convence acerca de quão maravilhoso será o futuro para aqueles que aceitarem a salvação 4 DAVIDSON, F. O novo comentário da Bíblia. Editado em português pelo Rev. Dr. Russell P. Shedd - São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 139. 32 lNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO oferecida por Deus. Deus prometeu a vitória final por meio do descendente da mulher (Gn 3.15). Isso envolveu uma profecia a respeito de Cristo, o qual viria a fim de redimir a humanidade. Não é maravilhoso que o crente que vencer, um dia comerá daquela árvore da vida?! Otrecho de Apocalipse 2.7 diz: "Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus." Quão grandiosa é a promessa para aqueles que preferem viver para Deus e se recusam a seguir o conselho de Satanás, aliando-se a ele em sua rebeldia! De fato, como diz Paulo: "Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!" (Rm 11.33). O Propósito de Deus não será frustrado. Um dia, multidões que não poderão ser contadas, vindas de todas as nações, povos e línguas, entoarão o hino da salvação. (Ap 7.9-12). O eterno propósito do verdadeiro Deus terá cumprimento! 2.2 Descendentes e Destruição - Caim, Abel e Sete Adão e Eva, entre outros filhos, tiveram três cujos nomes são mencionados na Bíblia: Caim, Abel e Sete. A história de Caim e Abel, dada no quarto capítulo do Gênesis, ilustra particularmente a condição da humanidade, após o pecado de Adão e Eva. Caim e Abel adoraram a Deus, trazendo cada qual a sua oferta. Osacrifício animal de Abel foi aceito por Deus, mas a oferta de frutos da terra, trazida por Caim, foi rejeitada. 33
  • 19. Essas ofertas de Caim e Abel, no início da narrativa bíblica, refletiram a experiência de seus pais, Adão e Eva. Da mesma forma que Adão e Eva haviam tentado ocultar sua nudez (encobrindo o seu pecado) com folhas de figueira, juntadas mediante seu próprio esforço, assim também Caim trouxe a Deus uma oferta do produto de seu trabalho na terra. Da mesma maneira como Deus matara um animal para fazer vestimentas para Adão e Eva, assim também Abel trouxe um sacrifício que consistia em um animal. Deus vestira Adão e Eva, e aceitara a oferta de Abel. Nesses primeiros acontecimentos, Deus revelou claramente um importante princípio: Para cobriropecadodevehaveramorte,ouamortedo pecadorouamorte de um substituto pelo pecador. De Adão e Caim em diante Deus aponta para a cruz de Jesus Cristo, pois Deus deixou claro que o Salvador prometido teria de morrer a fim de pagar a pena pelos pecados dos seres humanos. Todo animal sacrificado no Antigo Testamento retratava com antecedência o Senhor Jesus, como 0 verdadeiro Cordeiro de Deus (Jo 1.29). Esses sacrifícios retratavam a morte que Jesus teria de sofrer para remover o pecado. Caim e Abel representavam as possíveis atitudes de dois grupos de pessoas. Um desses grupos não vê qualquer necessidade de um Salvador. Sentem-se suficientes em sua própria bondade. O outro grupo sabe que está perdido, a menos que aceitem o sacrifício que Deus proveu, em Cristo, para expiar seus pecados. Caim exibiu uma atitude de desobediência deliberada, visto que Deus o advertira que o pecado tentaria dominá-lo 34 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO (Gn 4.7). Ele terminou assassinando seu irmão, Abel (Gn 4.8), e foi expulso dali para longe da presença do Senhor (Gn 4.14). Em Judas 11, os falsos irm~os são acusados de entrarem pelo mesmo caminho de Caim. Parece que o "caminho de Caim" inclui prestar culto segundo as inclinações do homem natural, perseguir os crentes verdadeiros, recusar-se arrepender-se e excluir a Deus de sua própria vida. Paul Hoff diz que o castigo de tais pessoas se traduz em habitar espiritualmente na terra de Node (errante), sem paz nem sossego.5 O trecho de Gênesis 4.17-24 descreve a história de Caim e seus descendentes. Começaram a construir cidades, fabricar instrumentos e criar gado. Esse foi o começo da civilização. Os eventos e as atividades descritos nesses versículos tiveram lugar ao longo de um extenso período de tempo. A civilização que assim se desenvolveu possuía um falso senso de segurança, o que se percebe na jactância de Lameque (Gn 4.23-24), um dos descendentes de Caim. Enquanto Caim e seus descendentes edificaram a sua civilização, Adão e Eva tiveram outro filho. Quando este nasceu, Eva observou: "Deus me deu outra semente em lugar de Abel; porquanto o matou" (Gn 4.25). Abel havia sido um homem piedoso. Se ele não tivesse sido morto, um de seus descendentes poderia ter sido o Salvador que Deus havia prometido. Toda- via, foi assassinado. Podemos ver que esse homicídio foi uma tentativa de Satanás para destruir essa possibilidade. Agora, porém, Deus dera outro filho a Adão e Eva, Sete, e por meio de Sete, Deus cumpriria a Sua promessa. É ~ 1IOFF, 2007, p. 41. 35
  • 20. interessante observar que durante a vida do filho de Sete, Enos, as pessoas começaram a adorar invocando o nome de Deus (Gn 4.26). Para que o plano remidor de Deus fosse concretizado, teria de haver uma linhagem humana da qual Cristo descendesse. Foi necessário que Deus se tomasse homem, para que pudesse oferecer a Sua vida como pagamento ou resgate, para restaurar o relacionamento que fora interrompido pelo pecado, entre Ele mesmo e os homens. Sete mostrou-se digno de encabeçar essa linhagem de antepassados do Salvador que viria. Podemos seguir a linha de descendência de Sete até Cristo. 2.3 ODilúvio Em sua lista dos antepassados terrenos de Jesus, você notou o nome de Enoque. Note como sua vida é descrita em Gênesis 5.21-24. Compare essa descrição com aquela de Hebreus 11.5-6. Enoque não passou pela morte! Ele viveu em comunhão com Deus, e sua vida teve um término especial. Deus o arrebatou! O neto de Enoque se chamava Lameque, e o filho de Lameque foi Noé. Durante os dias de Noé, a impiedade começou a aumentar. Violência, malignidade e corrupção eram abundantes. Em Gênesis 6.1-8, mostra como a humanidade se corrompeu. Otexto inicia relatando o momento em que a linhagem piedosa de Sete mescla-se com a linhagem pecadora de Caim. A união dos piedosos com mulheres incrédulas foi motivada pela atração física. Desta forma, não J6 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO havia mais referência de devoção. Nesta mesma época, o texto nos informa que havia gigantes na terra. Estes gigantes eram "homens valentes e famosos" (6.4). Apesar de estes termos parecerem ser bons, a valentia e a fama destes gigantes eram para a perversidade. Eram pessoas cruéis e violentas, que praticavam o mal. Estes dois motivos parecem ser os principais motivos que levou Deus a trazer o dilúvio sobre a terra. Deus, então agrada-se de Noé. Durante cento e vinte anos, Deus advertiu a todos, por intermédio de Noé, de que destruiria o mundo com um dilúvio. Contudo, somente Noé encontrou graça diante de Deus, mantendo com o Senhor um relacionamento aceitável. Era justo e reto (6.9), uma pessoa de conduta irrepreensível, di integridade moral e espiritual no meio de uma geração perversa. Era um pregador da justiça (2Pe 2.5). Deus ordenou a Noé que construísse um grande navio (também é chamado arca). Noé obedeceu, construindo-o segundo . as proporções determinadas por Deus. Os cientistas modernos concordam que um flutuante como aquele que Noé construiu poderia enfrentar o mar, tendo espaço suflciente para toda a forma de vida que deveria ser poupada. Ao construir a arca, Noé exerceu fé em uma palavra dita por Deus que ele não era capaz de compreender segundo o raciocínio humano. Segundo lemos em Hebreus 11.7, Noé foi "divinamente avisado das coisas que ainda se não viam". Noé, sua esposa, seus três filhos e as três esposas 37
  • 21. destes, bem como pequena representação de cada espec1e animal e de aves, entraram na arca, conforme Deus havia ordenado. Então Deus enviou o dilúvio. O mundo foi julgado por Deus, e a raça humana pecaminosa foi inteiramente destruída. Durante cerca de um ano, Noé e seus familiares, bem como todas as criaturas que haviam sido preservadas, tiveram de permanecer na arca. Depois as águas baixaram, e à humanidade foi dada uma segunda oportunidade. 2.4 Um Novo Começo Noé deu início à nova civilização ao edificar um altar, oferecendo sobre o mesmo muitos holocaustos. Então Deus estabeleceu uma aliança ou promessa com Noé, acerca do futuro de Seu relacionamento com a humanidade. O ato divino mostra-nos que o propósito final de Deus é julgar o mundo. Esse propósito visa a restauração do homem à comunhão com Deus. Conforme Raymond Dillard, o dilúvio dá um gigantesco passo para trás no processo de criação. As águas retornam o mundo a um estado que pode ser descrito como "sem forma e vazio" (Gn 1.2). Em outras palavras, há uma reversão na criação. Noé e sua família representam uma ligação com a ordem da antiga criação,·enquanto a linguagem da aliança com Noé (9.1-7) ecoa a linguagem de Gênesis 1- 2, de modo a mostrar que Noé significa, de fato, um novo começo.6 Depois que Noé e sua família estabeleceram-se na terra, 6 DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 53. 38 rNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO teve lugar um incidente registrado em Gênesis 9.20-27. Esse incidente mostra que até mesmo um homem justo como Noé pode ser tentado e cair em pecado. Também revela o caráter dos três filhos de Noé: Sem, Cão e Jafé. Cão tratou seu pai desrespeitosamente, enquanto que Sem e Jafé mostraram respeito para com ele. Amaldição da profecia de Noé caiu sobre Canaã, filho de Cão (vs. 25-27). Séculos mais tarde, as tribos cananéias reunidas foram devidamente castigadas, quando os israelitas ocuparam suas terras. O trecho de Gênesis 10.1-32 descreve os lugares onde estabeleceram- se os descendentes de Noé. Atualmente, os cientistas que estudam a história da humanidade vão descobrindo mais e mais evidências de que essa descrição é correta. Essa é a única explicação adequada que temos de como os povos vieram a viver nos lugares que ocupam no mundo. O gráfico abaixo alista os três filhos de Noé, seus filhos e diversas formas por seus descendentes. Os filhos de Jafé estabeleceram-se na área dos mares Negro e Cáspio, e dai para oeste até a Espanha (Gn 10.2-5). É possível que os povos germânicos descendam deles (Asquenas?). Três dos filhos de Cão foram para a África (vs. 6-14). Posteriormente, espalharam-se para o norte, para a terra de Sinear e para a Assíria, e construíram cidades como Nínive, Babel, e Acade. Canaã, o quarto filho de Cão, estabeleceu-se às margens do mar Mediterrâneo, desde Sidom até Gerar, perto de Gaza. Os cananeus usavam uma linguagem semelhante à dos descendentes de Sem, embora fossem descendentes de Cão. 39
  • 22. Os descendentes de Sem ocuparam a área ao norte do golfo Pérsico (vs. 21-31). São conhecidos como semitas. Elão, Assur e Arã são nomes de lugares associados aos semitas. O mapa abaixo mostra a área geral onde se estabeleceram os descendentes de Jafé, Cão e Sem. 2.5 Abraão e Seus Descendentes A partir deste ponto, o Espírito Santo estreita nosso foco de atenção em direção aos semitas (Gn 11.10-32). Há uma árvore genealógica com dez gerações, da família de Sem, terminando na família de Terá, que migrou da cidade de Ur para Harã. Abrão, cujo nome foi mais tarde mudado para Abraão, pertencia a essa família. Abraão é o exemplo de um homem que vivia conforme a revelação divina da criação, segundo nos é revelado em Salmos 19. Deus cumpriu Sua promessa feita a Abraão, e o guiou "de fé em fé" (Rm 1.17). Os descendentes de Abraão - tanto os naturais quanto os espirituais ocupam o centro do interesse divino por todo o restante da Bíblia. Esses são chamados de povo de Deus. 40 lNTRODUÇÃó'.AO ANTIGO TESTAMENTO Questões para Estudo e Discussão 1. Descreva os eventos da criação, da queda e do dilúvio, além de explicar a significação dos mesmos. 2. Identifique os antepassados de Abraão e diga por qual motivo Abraão é uma figura importante. 3. Diga quais lições espirituais podemos extrair das vidas de Caim,AbeleSete. 41
  • 23. 42 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO AULA3 INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL 1. O CHAMADO DE ABRAÃO Embora os tempos fossem tenebrosos e os homens fossem idólatras, Deus era fiel! Deus continuou tratando com a humanidade. Deve ter havido algum testemunho da verdade no coração de Abrão. É possível que a mensagem da natureza, o primeiro testemunho de Deus (ver Salmo 19), tenha despertado o seu coração para buscar a Deus. Sabe- mos apenas que a chamada de Deus veio a Abrão antes de sua família migrarde UrparaHarã (At 7.2). "Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terraque eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem. E amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn12.1-3). O texto acima mostra algumas características em relação às promessas que Deus fez a Abrão: Em primeiro lugar, seu chamado seria pela fé. A começar por sua saída da terra de Ur, pois Abraão saiu de sua terra "sem saber para onde ia" (Hb 11.8). Deus o manda sair da sua terra com a seguinte informação: "para a terra que te mostrarei". Até 43
  • 24. este momento Deus não diz a Abraão que seria a terra de Canaã. A partir daí, as experiências .de Abraão, do princípio ao fim, caracterizar-se-iam pela fé. Em segundo lugar, a promessa feita a Abraão consistia em algo que o mesmo deveria dar. A frase "... e tu serás uma bênção", mostra esta realidade. Ofato é que as promessas feitas por Deus nunca consiste em bênçãos egoístas, em que apenas a pessoa chamada desfrutará. Consiste em bênçãos que devem alcançar o próximo, as pessoas que estão ao meu redor. Nunca ficam apenas comigo. Em terceiro lugar, a promessa consistia em algo que Abraão receberia em uma época que já estaria morto. Conforme Paul Hoff, as transcendentais promessas feitas a Abraão e a seus descendentes são três: Herdariam a terra de Canaã; Chegariam a ser uma grande nação; Por meio dele, todas as linhagens da terra seriam abençoadas.1 No momento em que estas três promessas se cumpriram, Abraão já estava morto. As promessas de Deus não se acabam quando morremos, mas abrangem nossa descendência, nossos filhos, netos, bisnetos, etc. Seria uma visão limitada, pensar que no momento em que morremos, as promessas de Deus são enterradas juntamente conosco. Os acontecimentos que se seguiram mostram a importância da fé de um homem. Primeiramente uma família, depois uma tribo, uma nação, e, finalmente, o próprio mundo foi afetado pela fé de Abraão, que o levava a seguir a Deus. 1 HOFF, 2007, p. 58. 44 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO 2. UM HOMEM RFSPONDE 2.1 AViagemdeAbraão Abrão respondeu à chamada de Deus para ele deixar a segurança de sua nativa cidade de Ur. Otrecho de Hebreus 11.8 afirma que ele "saiu sem saber para onde ia". Deus, porém, prometera a Abrão um lugar melhor, e ele ficou esperando ansiosamente pelo cumprimento dessa promessa. Ele esperava encontrar a cidade que fora planejada e edificada por Deus. A cidade dotada de alicerces permanentes (Hb 11.10). Abrão primeiramente migrou por 970 quilômetros para o norte, ao longo do rio Eufrates, até Harã, cidade muito parecida com Ur. Aparentemente ele hesitou em sua resolução de cumprir a vontade de Deus, pois esperou até a morte de Terá, antes de obedecer plenamente ao Senhor. Mas então ele partiu de Harã e viajou por 650 quilômetros, para o oeste e para o sul, entrando na terra de Canaã, até um lugar denominado Siquém. De acordo com Gênesis 12.7-8, por duas vezes Abrão erigiu um altar. Isso era uma correspondência pessoal, expressando adoração ao verdadeiro Deus do céu. E isso também era um testemunho para as comunidades idólatras onde ele vivia. Desfrutava de uma tão íntima comunhão com Deus que recebeu um nome incomum. 45
  • 25. 2.2 As Provas de Abraão Os Cinco Primeiros Testes Estudaremos agora a jornada espiritual de Abrão. Importa muito mais compreender essa jornada do que saber os nomes dos lugares por onde Abrão viajou. No trecho de Neemias 9.7-8 há uma palavra profética que explica a jornada espiritual de Abrão: "Tu és Senhor, o Deus, que elegeste a Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão. E achaste o seu coração fiel perante ti, e fizeste com ele o concerto... e confirmaste as tuas palavras, porquanto és justo". Se usarmos essa palavra profética como esboço da experiência de Abrão, descobriremos que ali são descritos quatro acontecimentos principais: 1) Deus escolheu Abrão: 2) Deus mudou o nome de Abrão para Abraão; 3) Deus viu que Abraão Lhe era fiel; e 4) Deus estabeleceu uma aliança com Abraão e cumpriu a Sua promessa. Esses quatro eventos centrais correspondem a diversos capítulos do livro de Gênesis. A chamada de Abrão está registrada em Gênesis 12. Em Gênesis 15.7-21, há a descrição da aliança de Deus com Abrão. Os capítulos doze e dezesseis de Gênesis relatam um importante período no relacionamento de Abrão com Deus. Revela cinco testes específicos mediante os quais Deus viu que Abraão Lhe era fiel. No idioma original do Antigo Testamento, a palavra viu significa explorar completamente. A fidelidade de Abrão foi trazida à superfície. Todos os aspectos dessa fidelidade foram 46 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO postos em evidência. Gênesis 17 descreve a ocasião quando o nome de Abrão foi mudado para Abraão, quando Deus confirmou a Sua aliança com ele. Estudaremos os testes ou provas a que Abrão foi submetido, em Gênesis 12-16, mais detalhadamente, porque esses capítulos relatam provas que também podemos experimentar em nossas vidas. Estude cuidadosamente o gráfico a seguir. Leia as Escrituras referidas. Esse gráfico mostra os cinco testes que Abrão experimentou, antes da aliança com ele ser confirmada. Observemos que o último desses testes envolveu alguma demora. Vinte e quatro anos se haviam passado, desde que Abrão se estabelecera na terra de Canaã e ele e Sarai não tinham qualquer esperança de poderem gerar um filho, segundo os recursos meramente humanos. Abrão havia considerado nomear Eliezer, seu servo de Damasco, como seu herdeiro (Gn 15.2-4). A sugestão de Abrão provavelmente mostra que isso era um costume daquela época, porém, Deus rejeitou tal sugestão. Deus prometera um filho a Abrão e Sarai, e acrescentou que através desse filho, seus descendentes tornar-se-iam tão numerosos quanto as estrelas do céu. Abrão creu em Deus (Gn 15.6), e essa foi a base ein que ele foi aceito por Deus. O trecho de Romanos 4.3 diz que tal fé foi a base de toda a retidão de Abrão diante de Deus. Oquadro a seguirtambém envolve um exercício. As duas últimas colu- nas foram deixadas em branco para você preenchê-las. As três primeiras colunas fornecem-nos as 47
  • 26. INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO OTeste Final Restava ainda um teste para Abraão, em seu relacionamento com Deus. Foi o teste crucial e culminante. Abraão teve de apelar para algo acima de sua capacidade humana de raciocínio, a fim de declarar a Isaque que o próprio Deus proveria um cordeiro para ser sacrificado. A disposição de Abraão em sacrificar seu filho demonstrou tanto a sua obediência quanto sua fé fundamentada em Deus. Deus Pai não apenas proveu um carneiro para o sacrifício, mas também confirmou Sua promessa a Abraão. Em Gênesis 22.16-17, lemos que Deus lhe disse: "Deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia do mar...". 2.3 Os Descendentes de Abraão Temos estudado a vida de Abraão com muitos detalhes devido ao fato de que ele simboliza as verdadeiras questões envolvidas na fé. Embora não possamos fazer outro tanto acerca da vida de cada descendente de Abraão, pelo menos podemos aprender muitas coisas sobre eles. O diagrama abaixo chama-se árvore genealógica e mostra as relações entre os descendentes de Abraão. As linhas mais fortes exibem os membros da família sobre as quais a Bíblia mais relata. Por exemplo, o diagrama indica que Terá tinha três filhos: Harã, Abraão e Naor. Sob os nomes de cada um deles figuram os nomes de seus descendentes. Todavia, alguns desses descendentes casaram-se com outros 49
  • 27. INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO OTeste Final Restava ainda um teste para Abraão, em seu relacionamento com Deus. Foi o teste crucial e culminante. Abraão teve de apelar para algo acima de sua capacidade humana de raciocínio, a fim de declarar a Isaque que o próprio Deus proveria um cordeiro para ser sacrificado. A disposição de Abraão em sacrificar seu filho demonstrou tanto a sua obediência quanto sua fé fundamentada em Deus. Deus Pai não apenas proveu um carneiro para o sacrifício, mas também confirmou Sua promessa a Abraão. Em Gênesis 22.16-17, lemos que Deus lhe disse: "Deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus, e como a areia do mar...". 2.3 Os Descendentes de Abraão Temos estudado a vida de Abraão com muitos detalhes devido ao fato de que ele simboliza as verdadeiras questões envolvidas na fé. Embora não possamos fazer outro tanto acerca da vida de cada descendente de Abraão, pelo menos podemos aprender muitas coisas sobre eles. O diagrama abaixo chama-se árvore genealógica e mostra as relações entre os descendentes de Abraão. As linhas mais fortes exibem os membros da família sobre as quais a Bíblia mais relata. Por exemplo, o diagrama indica que Terá tinha três filhos: Harã, Abraão e Naor. Sob os nomes de cada um deles figuram os nomes de seus descendentes. Todavia, alguns desses descendentes casaram-se com outros 49
  • 28. descendentes, de tal modo que também estão ligados por linhas. Rebeca, neta de Naor, casou-se com Isaque, filho de Abraão e Sara. Raquel e Lia, bisnetas de Naor, casaram-se com Jacó, neto de Abraão. DESCENDENns DE ABRAÃO Terã 1 Abr~ Hj'ãc...A....,-a-,,),---.(Sa.,..T-ra""")-..,..,(~=-T~-,a) Ló Ismael Is ue Midiã, etc. 1 Naor T MÓABITASI AJBES MEDl~NITAS 1 Rebeca Betuel I AMONITAS Esaú 1 EOOMITAS Jacó T 1 Raquel 1 T 12 filhos T ISRAELITAS Labão . 1 Lia T Você está lembrado dos três propósitos com que Deus escolheu um povo? (ver a introdução à lição). O terceiro desses propósitos era contar com uma linhagem por meio da qual viesse Jesus Cristo, o Redentor. O trecho de Gênesis 24- 50 relata as vidas de três descendentes de Abraão: Isaque, Jacó e José. lsaque A história da vida de Isaque parece ser obscurecida pelas vidas de seu pai, Abraão, e de seu filho, Jacó. No entanto, ele foi um elo importante no plano de Deus. Abraão cuidou para que ele não se casasse com alguma mulher cananéia. Eliezer, servo de Abraão, seguiu as instruções de Abraão e trouxe para Isaque uma esposa dentre a parentela de Abraão, na 50 INTRODUÇÃO AO ANTTGO TESTAMENTO Mesopotâmia (Gn 24). Deus confirmou Sua aliança com Isaque (Gn 26.5). Por meio de Isaque, as promessas de Deus foram transmitidas a seu filho Jacó. Jacó Apesar de suas falhas, Jacó deu valor à bênção divina envolvida na aliança. Ele parecia entusiasmado com a promessa divina acerca de uma nação por meio da qual seria abençoado o mundo. Enquanto lemos a sua história, vemos que ele precisou experimentar as consequências do seu pecado, conforme sucede a todos os homens. Deus o testou e castigou, produzindo em sua vida a grandeza. Deus o tratava como a um filho (Hb 12.5-8). Finalmente, o nome de Jacó, que significa enganador, foi mudado para Israel, que significa "príncipe diante de Deus" (Gn 32.28). Esse foi o nome pelo qual deveria ser chamado o povo escolhido de Deus - os israelitas. Os doze filhos de Jacó foram os cabeças das doze tribos que vieram a ser a nação de Israel (Gn 49). José A história de José mostra-nos que ele foi uma grande e bela personalidade entre aqueles que lemos na Bíblia. A narrativa ilustra a providência de Deus, que também podemos experimentar. José foi vendido como escravo ao Egito, quando tinha dezessete anos. Aos trinta anos, tornou-se segundo governante do Egito. Dez anos mais tarde, seu pai, Jacó, e o resto da família, entraram no Egito, quando houve um período de muita fome em todo o crescente fértil. A família 51
  • 29. totalizava setenta pessoas. Por causa de José, Faraó (rei do Egito) permitiu que eles se estabelecessem na terra de Gósen, a leste de onde o rio Nilo desemboca no mar Mediterrâneo. A região era apropriada para eles, como criadores de ovelhas. Ali aumentaram muito em número, riquezas e influência. Lemos em Gênesis 15.13-16 que Deus dissera a Abraão que os seus descendentes passariam muitos anos como estrangeiros, em outra terra. Por esse motivo, o livro de Gênesis parece encerrar-se com uma derrota para o povo de Deus. O quadro final é o de um sepultamento (Gn 50.26). Contudo, Deus sabia que os israelitas teriam de crescer em sua força e aumentar em seus números, para que pudessem conquistar e entrar na posse da terra da promissão. Também teriam de ser impedidos de misturar-se por casamento com os cananeus, resguardando-se da adoração idólatra que havia em Canaã. Durante o tempo que eles estiveram no Egito, quão maravilhosamente Deus fortaleceu as forças e a determinação de Seu povo! 3. NASCE UMA NAÇÃO 3.1 Servidão e Escravatura Assim como o livro de Gênesis narra as muitas falhas do homem, o livro de Êxodo descreve a poderosa história sobre como Deus se apressa em socorrer ao homem. O Êxodo é o grande livro da redenção - palavra que significa comprar de volta ou resgatar da servidão ou cativeiro. O próprio nome do livro significa saída. Os capítulos 52 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO 1mc1a1s relatam um dos períodos mais excitantes e dramáticos da história do povo de Deus: como Deus lhes deu uma saída, libertando-os do poder de um dos mais poderosos monarcas daquela época - o Faraó do Egito. Ao começar o Livro de Êxodo, lemos sobre o período negro em que a esperança do povo de Deus acerca de uma terra prometida estava mais fraca. José morrera aos cento e dez anos de idade. Muitos anos se passaram após a morte de José. O Faraó não era mais dos reis "Hicsos" (governantes estrangeiros do Egito - XV e XVI dinastias, conforme Maneto, sacerdote historiador do século III a.C.), outro havia assumido o seu lugar. Este novo comandante (egípcio nativo) não conheceu a José e não tinha nenhum parentesco com os israelitas (Ex 1.7-11) Os israelitas, que muito haviam aumentado em número e riquezas, ficavam debaixo de suspeita. Foram reduzidos à mais humilhante servidão. Para eles, aquele foi um tempo difícil. Contudo, despertou neles os seus sonhos então quase esquecidos... a promessa de Canaã... a esperança de serem o povo especial de Deus. É até mesmo possível que os israelitas nunca tivessem saído do Egito para a terra prometida, se tivessem vivido confortável e prosperamente no Egito. Mas Deus não pensava que o conforto deles harmonizava-se com os seus melhores interesses. Deus queria desenvolver o caráter e o senso de utilidade dos israelitas. Deus tem um propósito similar para nós - pois somos, igualmente, Seu povo. Nunca devemos olvidar desse propósito. 53
  • 30. O povo de Deus fora fortalecido e a esperança lhes fora infundida, medi- ante uma vida dura. Foram assim preparados para os passos seguintes, dentro do propósito divino de serem usados como testemunhas do Senhor. 3.2 Redenção e Livramento Deus Seleciona um Homem Quando estudamos o plano de Deus para a humanidade; percebemos que isso sempre envolve um homem ou uma mulher escolhidos. Isso aconteceu quando Deus tirou os israelitas do Egito. Nos últimos e cansativos anos da servidão de Israel, nasceu um filho a um casal da tribo de Levi. Faraó havia ordenado que todos os meninos nascidos aos israelitas teriam de ser sacrificados. Esse menino, porém, foi escondido por sua mãe durante algum tempo, até que, não mais podendo ocultá-lo, colocou-o em uma cestinha deixada a boiar pelas águas do rio Nilo. O menino foi encontrado pela filha de Faraó, que lhe deu o nome de Moisés, palavra que significa retirar, porque ela o havia retirado de dentro da água. Por meio da intervenção da irmã mais velha de Moisés, a própria mãe do menino foi trazida para cuidar dele. Os eventos da vida de Moisés levam-nos a deduzir que sua mãe lhe ensinou coisas sobre seu povo e sobre o Deus vivo, que ele jamais foi capaz de esquecer. Após seus primeiros anos de vida, sob os cuidados de sua mãe, Moisés foi criado na corte do rei. Dispunha das 54 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO vantagens das riquezas e da civilização egípcia. Aprendeu muito durante os quarenta anos que passou no palácio de Faraó. Contudo, nunca deixou de identificar-se com seu povo, os israelitas, embora não da maneira correta (Êx 2.11-16). Moisés era imperfeito, como qualquer um de nós. Deus precisou levá-lo ao deserto de Midiã, para ele entrar na segunda grande fase de sua educação, onde viveu durante os próximos quarenta anos. Finalmente, quando Moisés tinha oitenta anos de idade, apareceu-lhe o Deus eterno. Diante da sarça ardente, no deserto de Midiã, Deus lhe disse: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó" (Êx 3.6). Assim Deus vinculou-se às promessas feitas dentro da aliança estabelecida com os patriarcas. Deus disse a Moisés o que o Seu P.lano incluía para a vida de Moisés (Êx 3.1-4,17). Durante os úl.timos quarenta anos de vida, portanto, Moisés guiou o povo de Deus do Egito até à terra prometida. Moisés escreveu o Pentateuco (os cinco primeiros livros d.a Bíblia). Seu treinamento no Egito, juntamente com suas experiências espirituais, deram-lhe a capacidade necessária para realizar aquela importante tarefa. Deus Liberta os Israelitas .Libertar o povo de Deus das mãos de um Faraó dotado de imenso poder, parecia uma tarefa impossível. O domínio egípcio muito se expandira, estendendo-se do Egito à Palestina, e daí até a região a oeste do rio Eufrates. Moisés pediu a Faraó que desse liberdade ao povo de 55
  • 31. Deus. A resposta de Faraó, mostra-nos em poucas palavras a sua atitude. Ele preferiu o clássico: "Quem é o Senhor cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel?" (Êx 5.2). Deus apoiou o pedido de Moisés com pragas sobrenaturais. As primeiras nove pragas foram semelhantes aos desastres naturais que algumas vezes ocorriam no vale do rio Nilo - peixes mortos, enxames de rãs mortas, piolhos e moscas, insetos e pestilência, úlcera nas pessoas e saraivada. A última das dez pragas foi um juízo contra todos os deuses do Egito (Êx 12.12). Lemos que a princípio Faraó manteve-se intransigente, ou conforme diz a Bíblia, ele endureceu o coração. Deus o tornou obstinado, ou conforme diz o hebraico, firmou seu coração. Isso permite-nos ver que Deus somente confirmou aquilo que o próprio Faraó já havia resolvido. Voluntariamente, Faraó tomou a decisão de resistir, e Deus o conservou nessa atitude, para Sua própria glória. As pragas demonstraram o poder do Deus de Israel, tanto para os egípcios como para os israelitas. Cada praga trouxe uma maior manifestação do poder sobrenatural de Deus. Finalmente, Deus enviou a décima praga. Seus resultados foram tão radicais que os egípcios insistiram em que os israelitas deixassem imediatamente o Egito (Êx 12.33). Os israelitas partiram imediatamente, levando consigo as riquezas do Egito. Dirigiram-se para o mar Vermelho. Esse era o caminho mais direto para Canaã. Através da concorrida estrada costeira, que era usada como rota comercial e militar, eles poderiam ter chegado a Canaã em duas sema- nas. Deus, porém, preferiu conduzi-los na direção do mar Vermelho. Lembremo-nos que os israelitas eram uma massa 56 rNTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO desorganizada de ex- escravos. Eram fatores muito importantes o tempo e a oportunidade de se unificarem. Deus não queria que eles voltassem ao Egito. Portanto, ainda faria mais um ato miraculoso. Tal ato produziria um tremendo efeito entre os egípcios: eles saberiam quem é o Senhor (Êx 14.4). Deus conduzia o povo mediante uma coluna de nuvem durante o dia, e por uma coluna de fogo durante a noite; Deus mesmo se manifestava nessa coluna. Quando os egípcios mudaram de parecer e vieram atrás dos israelitas, Deus mudou a posição da nuvem gloriosa para detrás de Seu povo, postando-se entre os israelitas e os egípcios. Deus usou um forte vento oriental para abrir caminho pelo mar, e os israelitas atravessaram em seco. E à distância observaram o exército egípcio sendo coberto pelas águas do mar, quando tentavam seguir pelo mesmo caminho. Deus livrou o Seu povo! Os israelitas ainda tinham muito para aprender. Havia disciplina e castigo. Havia provisões miraculosas e lições sobre liderança. Mas uma nação nasceu em um dia... nasceu à base do sangue derramado... engat.inhando como uma criança para aprender a pôr-se de pé e aprender o propósito de sua existência. Contudo, aquele era o povo de Deus. 57
  • 32. 4. PREPARAÇÃO DO POVO DE DEUS 4.1 Preparação do povo de Deus Para o povo de Israel, o seu êxodo ou saída do Egito foi um dos maiores acontecimentos de sua experiência. Os escritores do Antigo Testamento aludiram ao mesmo por muitas e muitas vezes. O mapa abaixo mostra a rota dessa jornada, representada por uma linha interrompida. Quando estiver lendo sobre a viagem deles, encontre nesse mapa cada localidade mencionada. (Leia Êxodo 15-19.) Depois que os israelitas partiram do Egito, viajaram através da península do Sinai, por determinação divina. (A península do Sinai é a região entre o mar Vermelho, a oeste, e o golfo de Acaba, a leste). Depois que Deus derrotou os egípcios com Seu grande poder, houve um tempo de louvor triunfal (Êx 15). Seguiu-se uma caminhada de três dias pelo deserto de Sur. Em Mara, a água amarga se fez potável por meio de um milagre (Êx 15.25). Então os israelitas mudaram rumo para o sul, e acamparam-se em Elim. No deserto de Sim, Deus providenciou miraculosamente o maná para eles. Maná significa Que é isto?, no idioma dos hebreus. Era um alimento misterioso, nutritivo e concentrado, que seria o alimento diário do povo de Israel, até encontrarem a terra de Canaã. Foram supridas codornizes em abundância, quando os israelitas desejaram comer carne, como comiam no Egito. Três coisas importantes sucederam em Refidim: 1) 58 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO Deus proveu uma fonte que jorrava água, quando Moisés feriu a rocha com a sua vara; 2) o exército amalequita bateu em retirada, derrotado, enquanto Moisés orava pelo exército de Israel; e 3) Moisés seguiu o conselho de seu sogro, nomeando anciãos para que o ajudassem a cumprir seus muitíssimos deveres. Em menos de três meses, os israelitas chegaram ao monte Sinai (também chamado Horebe). Haveriam de acampar-se ali por quase um ano, onde teriam de aprender qual seria seu destino e o propósito divino para suas vidas. 4.2 A Lei de Deus e os Seus Propósitos Um ano vivendo em um acampamento nas cercanias do monte Sinai foi o suficiente para o povo com quem Deus entrara em aliança tornar-se uma nação. Em primeiro lugar, foi-lhe dado o decálogo ' eque significa as leis ou mandamentos). Conforme Raymond Dillard o primeiro evento de maior significação no Sinai foi a entrega da Lei. O relato começa com uma exibição impressionante da presença de Deus. Ele surge na montanha entre fumaça e fogo (Êx 19. 16-19). A montanha se torna em espaço santo por causa de sua presença.2 Então foram promulgadas leis especificas para uma vida santificada. E também foi erigido um lugar de habitação para Deus estar entre o povo, e para ali O adorarem. Esse lugar foi chamado tabernáculo ou tenda da presença do Senhor. · Além disso, foi organiza- do o sacerdócio, as ofertas foram ordenadas, e tiveram início as festas e as estações. Em suma, 2 DILLARD, 2006, p. 64. 59
  • 33. Israel estava sendo preparado para servir com eficácia a Deus. Durante séculos, os israelitas sabiam que seus antepassados - Abraão, Isaque e Jacó - tinham firmado uma aliança com Deus. Agora, o mesmo Deus estava se revelando a eles. O poder divino não era algo que outros tinham sentido; mas tornava-se uma experiência de suas próprias vidas. Eles viram pessoalmente os milagres do Senhor! No Sinai, Israel preparou-se durante três dias para que a sua aliança para com Deus fosse firmada. Deus revelou o decálogo, os outros preceitos e normas relativas às festas sagradas. Deus falou com o povo do meio do fogo e da nuvem. Aarão, dois de seus filhos e setenta anciãos lideraram o povo nas ofertas queimadas. Depois que Moisés leu o livro da aliança, o povo respondeu, aceitando as leis. Então a aliança foi selada mediante o sangue dos animais sacrificados. A condição imposta por essa aliança era a obediência. Os membros daquela nação poderiam per- der seus direitos sob a aliança, por meio da desobediência. As leis dadas por Deus podem ser divididas em três categorias: Lei Moral Regras de certo e errado Lei Civil Regras para ao povo Lei Cerimonial Regras de adoração 60 INTRODUÇÃO AO ANTlGO TESTAMENTO A lei moral tinha caráter permanente. Mas muitas das leis civis e cerimoniais foram dadas apenas por um período limitado de tempo. Por exemplo, certos preceitos acerca da matança de animais foram modificados quando o povo de Israel entrou em Canaã. (Comparar . Levítico 17 com Deuteronômio 12.20-24.) Paul Hoff afirma que as leis de Israel colocavam a nação em absoluto contraste com as práticas das nações ao derredor. Suas leis humanitárias, morais e religiosas, ainda que sem alcançar os princípios do Novo Testamento, foram infinitamente superiores às leis de outros povos.3 ALei moral A lei moral compõe-se do decálogo, ou dez mandamentos. A lei foi inicialmente proferida por Deus, e então registrada em tábuas de pedra. O decálogo é importantíssimo. A seguir damos uma breve versão dessa lei, dadas pela primeira vez em Êxodo 20.3-17. 1. Não adorem outros deuses fora de Mim. 2. Não façam imagens de qualquer coisa para adorar. 3. Não usem Meu nome com maus propósitos. 4. Observem o sábado e conservem-no santo. 5. Respeitem o pai e a mãe de vocês. 6. Não cometam homicídio. 7. Não cometam adultério. 8. Não roubem. 9. Não acusem falsamente a ninguém. 10. Não desejem o que pertence ao próximo. 3 HOFF, 2007, p. 155. 61
  • 34. As duas primeiras leis são aquelas que mostram a natureza especial do decálogo. Elas proíbem a adoração de ídolos e de quaisquer outros deuses. Os egípcios, aos quais os israelitas tinham servido, adoravam a muitos deuses. Canaã, para onde Israel estava marchando, também era terra extremamente idólatra. Opovo de Deus tinha de ser diferente! Precisavam mostrar devoção somente ao verdadeiro Deus. Depois que esses mandamentos foram dados a Israel, entretanto, os israelitas pecaram. Enquanto Moisés estava no monte santo, fizeram um ídolo de ouro na forma de um bezerro, e puseram-se a adorá-lo (Êx 32.1- 10). No Egito, mui provavelmente os israelitas tinham-se aliado aos egípcios em sua adoração ao boi Ápis, cujo ídolo tinha a forma de um boi. Agora, no Sinai, os próprios israelitas fabricavam e estavam adorando uma imagem semelhante. Isso demonstrou que, na realidade, eles não haviam deixado de ser idólatras, conforme o decálogo exigia. Este ato demonstrou a grande necessidade de eles se separarem das práticas pagãs, como a lei requeria. A lei moral mostra como o homem deve viver a fim de ser aceito por Deus. Porém, ninguém pode observar a lei moral na íntegra! Portanto, ela mostra a pecaminosidade humana. O propósito da lei moral inteira é o mesmo hoje em dia, tal como na época em que foi dada aos israelitas. O Novo Testamento ensina-nos que a lei demonstra estes pontos: a) a santidade de Deus; b) a pecaminosidade do homem; e) a necessidade que o homem tem da retidão de Deus (Rm 3.19- 31). 62 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO Nos dias do Antigo Testamento, Deus requeria que os homens oferecessem sacrifícios. Esses sacrifícios cobriam simbolicamente os pecados e fracassos humanos na observância da lei. A própria lei não tinha qualquer provisão para quem desobedecesse. Desde que ela foi dada, apenas um homem foi capaz de observá-la com perfeição, e esse homem foi Jesus Cristo, o Filho de Deus. Cristo não somente guardou a lei, mas também pagou toda a nossa dívida pela lei quebrada, sofrendo a pena imposta pela mesma. Essa pena era a morte. Cristo morreu a fim de podermos viver. Ele foi o sacrifício perfeito (Hb 9.13-15; 10.1- 22; 1 Pe 1.18-20). No Antigo Testamento, Abraão é o grande exemplo de como Deus endireita o relacionamento das pessoas com Ele mesmo. Deus aceitou Abraão treze anos antes dele ter sido circuncidado (Gn 15.6), e quatrocentos e trinta anos antes de a lei ter sido adicionada para mostrar no que consiste o pecado (Gn 3.15-18). Portanto, paraAbraão era impossível que ele tivesse sido aceito por haver guardado a lei. Compreender isso era muito importante! Isso nos ajudará a evitar pensar que os crentes de hoje em dia precisam observar todas as leis do Antigo Testamento, a fim de serem aceitos por Deus. Escreveu Paulo em Romanos 3.21: "Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas". Conforme Paulo continuou explicando, Deus agora aceita o relacionamento dos homens com Ele, na base do sacrifício de Cristo e da fé deles no Filho de Deus (Rm 3.22- 26). Dessa forma, podemos fazer o contraste entre: 1) o 63
  • 35. monte Sinai, com seu horror, trovões e relâmpagos (Êx 19), e 2) o monte Calvário, onde se tornou possível o encontro entre Deus e o pecador, por meio do sangue de Jesus Cristo. O diagrama abaixo ilustra esses pontos. Lei da Promessa de Deus Oeterno plano de Deus, conforme já vimos, consiste em declarar-nos justos por causa de nossa fé e confiança nEle. Esse será sempre a aliança básica de Seu reino. Nossa justiça jamais poderá ser adquirida por meio da lei. Todavia, a lei continua tendo um propósito. Mostra-nos a necessidade de um Salvador. E também nos expõe o padrão divino para o nosso viver diário, Jesus sumariou o espírito da lei em Mateus 22.34- 40. Ele disse que deveríamos amar a Deus de todo o nosso coração, amando ao próximo como a nós mesmos. ALei Civil Deus deu ao Seu povo leis que cobrem cada área da vida diária. Essas leis são conhecidas como a lei civil. Seu povo não deveria seguir aos maus caminhos dos egípcios e dos cananeus. Eram necessárias leis sobre a maternidade e a geração de filhos por causa das per- versões sexuais, da prostituição e dos sacrifícios de crianças, peca- dos comuns entre os cananeus. Leis proibindo o casamento entre irmão e sua irmã também foram oficializadas, porque isso era comum entre os egípcios. Quanto mais uma pessoa sabe acerca das culturas do Egito e de Canaã mais fácil torna-se compreender essas restrições da lei mosaica! 64 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO ALei Cerimonial A lei cerimonial, ou regras de adoração, incluía preceitos relativos ao tabernáculo, ao sacerdócio, às festas, às ofertas e à organização do acampamento. Sua descrição encontra-se na secção seguinte. 4.3 AOrganização Ensinada por Deus e Seu Propósito Em todos os países é comemorada uma data na qual os cidadãos celebram sua existência ou liberdade nacional. Desde quando estiveram diante do monte Sinai, até hoje, os israelitas celebram sua existência como ~m povo especial para uso de Deus. Porém, emoção e senti- mentos patrióticos não são suficientes, por isso Deus organizou o Seu povo para que pudesse andar à altura do compromisso que assumiram. Essa organização, descrita na lei cerimonial, assumiu cinco for- mas básicas, que passaremos a examinar. Para o crente, cada uma dessas formas assemelha-se a um rico filão de ouro. Separada ou coletiva- mente, elas apontam para o verdadeir9 reino de Deus. Cada uma delas fornec~- nos ·uma ilustração (que também podemos chamar de figura ou tipo) de Jesus, o escolhido de Deus, ou Messias, retratando-O de alguma maneira. Essas formas têm a ver com cinco áreas fundamentais da vida espiritual de Israel. Além disso, ilustram verdades que aplicam, de forma similar, às vidas dos crentes de nossos dias. Essas cinco formas são dadas a seguir: 65
  • 36. Forma de Organização Ilustração 1. Tenda da presença do 1. Deus vive entre os homens e Senhor e seus móveis torna-se accessível a eles 2. Osacerdócio 2. Os meios dos homens servirem a Deus 3. As ofertas 3. Os meios pelos quais os homens adoram a Deus 4. Sistematização da vida e 4. As festas ou estações da experiência de uma pessoa com Deus 5. Oconflito espiritual 5. Enumeração e Organização das !tribos Se você tivesse que preparar um estudo sobre qualquer uma dessas aplicações, teria de escrever um livro inteiro. Este curso oferece somente os pontos principais das verdades ensinadas por esses itens. Talvez o Espírito Santo venha a impeli-lo a estudá-los com maiores detalhes, por sua própria iniciativa! 4.4 Tenda da Presença do Senhor A tenda da presença do Senhor, ou tabernáculo, é enfatizada em muitos capítulos da Bíblia. Por exemplo, mais de um terço dos versículos da Epístola aos Hebreus refere-se ao tabernáculo. O tabernáculo foi erigido para prover uma maneira de 66 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO Deus ter comunhão com Seu povo. Ele queria viver entre eles. (Êx 25.8). Deus concedeu a Bezaleel, da tribo de Judá, e a Aoliabe, da tribo de Dã, habilidades especiais para agirem como artífices. O povo de Deus foi convidado a fazer contribuições voluntárias. Os homens trouxeram ouro e prata. Também derrubaram acácias, fizeram tábuas e as trouxeram. As acácias eram admiráveis no deserto, com raízes profundas que sugavam água de filetes subterrâneos. A madeira era praticamente indestrutível! As mulheres trouxeram tecidos e bordados. De acordo com os trechos de Gênesis 15.14 e Êxodo 12.35-36, os israelitas levaram consigo as riquezas do Egito. No Egito os israelitas conseguiram o material mais valioso que foi usado na construção do tabernáculo. Desse modo, foi construída uma estrutura portátil da mais excelente qualidade. Por centenas de anos continuou sendo o lugar onde o povo de Deus se reunia e adorava. O tabernáculo foi posto no meio de um átrio cercado por 137m de cortinas de linho fino (A). As cortinas eram dependuradas em pilares de bronze espaçados a cada 2,3m. A única entrada ficava na extremidade oriental, e tinha 9m de largura (Êx 27.9-18; 38.9-20). Quando um israelita entrava no átrio, fazia sua oferta sobre o altar do sacrifício, ao ar livre. Esse altar era coberto com chapas de bronze, e era portátil, tal como os demais móveis (Êx 27.1-8; 38.1-7). Nesse átrio também havia uma bacia de bronze onde os sacerdotes deveriam lavar-se (Êx 30.17-21; 38.8; 40.30). Esse átrio, cujos móveis eram feitos principalmente de bronze, representa o julgamento divino 67
  • 37. contra o pecado. As ofertas feitas ali eram consumidas no fogo. Na metade ocidental do átrio era armado o próprio tabernáculo. Tinha 13,7m de comprimento e 4,6m de largura. Estava dividido em duas partes: o Lugar Santo e o Santo dos Santos. O Lugar Santo media 9,lm por 4,6m; e o Santo dos Santos media 4,6m, pois era quadrado. Havia somente uma entrada, que dava para o oriente. Somente os sacerdotes podiam entrar no Lugar Santo. Dividindo o Lugar Santo do Santo dos Santos, havia um véu. Somente o sumo sacerdote podia penetrar para além desse véu, e isso somente uma vez por ano - no dia da expiação, quando os pecados eram simbolicamente cobertos. Na extremidade norte do Lugar Santo havia a mesa onde os pães eram expostos. Na extremidade sul havia um candeeiro. Defronte do véu, que dividia o Lugar Santo do Santo dos Santos, havia o altar do incenso. Todos esses móveis eram cobertos de ouro por dentro e por fora. O Santo dos Santos abrigava o objeto mais sagrado da religião de Israel: a arca da aliança. Era uma caixa feita de madeira de acácia, recoberta por dentro e por fora de ouro puro. Tinha 1,lm de comprimento, e 0,84m de largura e de altura, de acordo com os trechos de Êxodo 25.10- 22 e 37.1-9. Atampa dessa caixa chamava-se propiciatório. Dois querubins alados, feitos de ouro batido, faziam sombra sobre o centro do propiciatório. Esse centro representava a presença de Deus. Distinguindo-se das outras nações, que representavam seus deuses por meio de ídolos, Israel não se utilizava de 68 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO qualquer objeto para representar o seu Deus. No entanto, o propiciatório era o lugar do encontro entre Deus e o homem (Êx 30.6), onde Ele vinha falar com ohomem (Êx 25.22; Nm 7.89). Esse era o lugar onde, no dia da expiação, o sumo sacerdote aspergia o sangue de um animal pelos pecados da nação de Israel (Lv 16.14). As tábuas de pedra, onde o decálogo fora' gravado, foram colocadas no interior da arca (Êx 25.21; 31.18; Dt 10. 3- 5). Mais tarde, também foram postos dentro da arca um vaso com maná e a vara de Aarão (Êx 16.32-34; Nm 17.1-11). A construção e os móveis do tabernáculo retratam certos aspectos de Cristo e Sua obra. Donald Turner traz um resumo dos principais simbolismos do Tabernáculo relativo Jesus:4 Uma só entrada - por meio de Judá. Primeiro, o altar dos sacrifícios - Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós. Lavatório - limpeza ou purificação produzida pela Palavra do Senhor (João 13.8; 15.3). Ministério no Lugar Santo - a comunhão; a luz da Palavra; a oração. A Cortina que ocultava a Arca de Deus, foi rasgada de alto a baixo, quando Jesus morreu na cruz (Mateus 27.51; Hebreus 10.19-22). As cortinas - sua humanidade, seu sacrifício, sua pureza e sua glória. A arca e o Propiciatório - Deus mora com os homens, pois Jesus Cristo era Deus em carne (João 1.14, 17, 18). 4 TURNER, Donald D. Introdução ao Velho Testamento. São Paulo: Editora Batista Regular, 2004, p. 84. 69
  • 38. As tábuas - madeiras do deserto coberta de ouro puro e postas sobre bases de prata, que simbolizava o crente, que é coberto de glória .e a justiça de Cristo, quando se firma sobre o fundamento da morte. Ministério no Santo Lugar e da ressurreição de Cristo. Vestes sacerdotais - cristo virá em sua glória para levar a cabo o plano de Deus. Naturalmente, essas são apenas algumas das significações espirituais que esses objetos podem representar. Há muitos outros símbolos. OSacerdócio O propósito divino que Israel fosse uma nação santa requeria uma adoração sistematizada; portanto, Deus selecionou Aarão irmão de Moisés, para servir como sumo sacerdote. Os quatro filhos de Aarão, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar deveriam ajudá-o como sacerdotes. Antes da inauguração do sacerdócio oficial, o chefe de cada casa (o patriarca) representou sua família na adoração a Deus. Somente um sacerdote é mencionado antes disso na Bíblia. Trata-se do misterioso Melquisedeque, em Gênesis 14.18. Desde a Páscoa celebrada no Egi- to, o filho primogênito de cada família israelita passara a pertencer a Deus (Êx 13.1-2). O pecado dos israelitas, no incidente do bezerro de ouro, levou o Senhor a escolher os levitas (membros masculinos da tribo de Levi) como substitutos do filho mais velho de cada família israelita (Nm 3.5-13; 8.17). Os sacerdotes ofereciam sacrifícios e lideravam o povo 70 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO na expiação pelo pecado (Êx 28.1-43; Lv 16.1-34). Eles ajudavam o povo a discernir a vontade de Deus (Nm 27:21; Dt 33.8). Eles eram os encarregados do tabernáculo e da supervisão do mesmo, com a ajuda dos levitas.'Na qualidàde de guardiões da lei, eles também eram os mestres da nação. Dos sacerdotes requeria-se que Vivessem santamente (Lv 21.l- 22.10). Tinham vestimentas especiais (Êx 28.40-43; 39.27-29), como também com o sumo sacerdote (Êx 28.4-39). Os sacerdotes e o sumo sacerdote tiveram uma bela cerimônia de consagração (Êx 29.1-37; 40.12-15; Lv 8.1-36). To- das essas questões merecem estudo mais profundo, quando você tiver tempo para fazê-lo. Agora, porém, consideraremos como elas se aplicam às nossas vidas, como crentes que somos. Também fomos chamados para servir a Deus. O trecho de 1 Pedro 2.5- 9 diz-nos que os crentes hodiernos são como os sacerdotes do Antigo Testamento, quanto a alguns aspectos. Tal como aqueles sacerdotes, os crentes devem viver separados do modo mundano de viver. Muita coisa pode ser aprendida do sacerdócio vétero testamentário sobre o que significa servir a Deus. As Ofertas A prática de oferecer ofertas a Deus não começou no monte Sinai. Holocaustos e ofertas a Deus sem dúvida já eram então um procedimento regular. Os registros sobre Caim, Abel e Noé demonstram o fato. Lembremo-nos que Moisés aludiu a tais ofertas na presença de Faraó (Êx 5.1-3; 18.12; 24.5). Mas, as leis sacrificiais dadas no monte Sinai tiveram por finalidade prover instruções específicas para essa forma de culto. 71
  • 39. Havia cinco tipos de ofertas. Em quatro delas, havia derramamento de sangue: 1) ofertas pelo pecado; 2) ofertas pela culpa; 3) holocaustos, e 4) ofertas pacíficas. No quinto tipo, ofertas de manjares, não havia derramamento de sangue. No caso das primeiras quatro ofertas eram aceitáveis animais limpos e mansos, como o carneiro, o bode e o boi. Aos israelitas muitos pobres permitia-se substituí-los por pombos. O modo de proceder geral, quando se faziam essas ofertas, com derramamento de sangue, era o seguinte: 1. Oisraelita apresentava o animal diante do altar. 2. Ele impunha as mãos sobre a cabeça do animal, testificando que o mesmo era oferecido como o seu substituto. 3. Oanimal era morto. 4. Osangue era aspergido, geralmente à base do altar. 5. O animal era queimado no todo ou em parte, dependendo da modalidade da oferta. Donald Turner5 e Paul Hoffo trazem uma explicação sobre cada um destes sacrifícios e seus significados: Holocausto. É oferecido depois da oferta pela culpa, da oferta pelo pecado, do sacrifício pacífico e a oferta de manjares, de modo que o pecador já está perdoado e restaurado à comunhão com Deus. O holocausto destacava-se entre as ofertas porque era inteiramente consumido pelo fogo do altar, era considerado o mais perfeito dos sacrifícios. 5 TURNER, 2004, p. 91-96. 6 HOFF, 2007, p. 183-187. 72 INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO Conquanto tivesse o aspecto expiatório, representava antes de tudo a consagração completa do ofertante, pois a vítima era queimada inteira para o Senhor. Muitos cristãos hoje em dia chegam até este ponto na sua vida espiritual mas não reconhecem a responsabilidade de uma consagração de seu ser inteiro a Deus. Oblação ou Oferta de Manjares. Este sacrifício não incluía sangue, mas era oferecido sempre em conexão com o holocausto ou outro sacrifício de sangue. A palavra traduzida por "oblação" significa em hebraico "aproximação", pois o crente deve trazer uma oferta ao aproximar-se de Deus. Esta oferta consistia em produtos da terra que representavam o fruto dos labores humanos: incluíam flor de farinha, pães asmos fritos e espigas tostadas. Uma porção pequena era queimada sobre o altar e o restante pertencia aos sacerdotes, salvo quando o sacerdote era o ofertante (em tal caso esse restante era queimado). Significava a consagração a Deus dos frutos do labor humano. O ofertante reconhecia que Deus o havia provido com seu pão quotidiano. O ofertante entregava o melhor que possuía, o que ensina que nossas dádivas a Deus devem ser de alta qualidade. Sacrifício Pacífico. .Era uma oferta completamente voluntária. Seu traço característico residia no fato de a maior parte do corpo do animal sacrificado ser comida pelo ofertante e seus convidados em um banquete de amizade entre Deus e o homem. Oferecia-se (excluindo aves) qualquer animal limpo de ambos os sexos. Espargia-se o sangue sobre o altar e se queimava a gordura e os rins. Assim, Deus recebia o que se considerava a melhor parte e a mais saborosa. O 73