2. 1
SERTÃO:
UM OLHAR ATRAVÉS DE UMA BREVE
JORNADA GEOGRÁFICA
Luiz Carlos da Silva1
MSc Geologia
Geógrafo
Prof. I de Geografia/SME/RJ
RIO DE JANEIRO
2021
1
E-mail para contato: luizcsilva@rioeduca.net
3. 2
Capa: Mural de Arte Lito no prédio da sede da CODEVASF – Petrolina- PE.
Foto do autor.
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-
SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Antes de imprimir pense em sua responsabilidade com o meio ambiente.
4. 3
APRESENTAÇÃO
Ao longo de todo o processo de formação da sociedade brasileira
o Sertão Nordestino teve sempre uma contribuição marcante. Nas
aulas de geografia do Brasil como também nos estudos da geopolítica
brasileira, o seu papel tem merecido destaque.
Após duas décadas no magistério do ensino fundamental de
geografia em escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro e já tendo
percorrido uma vasta área do território nacional, finalmente eu decidi
conhecer pessoalmente um pouco desta região, a qual é frequente-
mente comentada em algumas das minhas aulas.
Neste texto eu faço uma descrição sob um olhar geográfico,
principalmente, das paisagens, das relações econômicas e de algumas
interações das populações locais.
O texto apresenta inicialmente uma descrição dos domínios
morfoclimáticos do Nordeste, em seguida descreve a geografia e a
geomorfologia do meu trajeto percorrido na região e finaliza com a
transcrição das anotações do meu diário de campo feito durante os dez
dias do mês de janeiro de 2019 que viajei por esta região.
5. 4
OS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO NORDESTE
O Nordeste do Brasil possui 4 domínios morfoclimáticos2
: Zona da Mata -
que está localizada no litoral nordestino com clima úmido e solo fértil, o Agreste
- que é uma estreita área de transição entre a Zona da Mata e o Sertão; o Meio-
Norte - que é a região compreendia entre o Sertão e a região Amazônica, sendo
mais chuvosa do que o Sertão e apresentando vegetação caracterizada pela mata
dos cocais, carnaúbas e babaçus.
O Sertão Nordestino em função do clima, sua vegetação é composta por
árvores e arbustos, o que recebe a denominação de caatinga. As suas sub-regiões
do Agreste e Sertão formam a Região Semi-árida3
.
A região semi-árida ou domínio da caatinga abrange: 70% da área do
nordeste (925.043 Km²); 13% da área do Brasil; 63% da população nordestina e
18% da população brasileira. Apresenta grande diversidade de quadros naturais
e socioeconômicos.
Baseada na interação entre vegetação e solo, a região é dividida em:
. 34% é a zona de domínio de vegetação hiperxerófita, que ocorre nas áreas
tipicamente semi-árida;
. 43% é a zona de domínio hipoxerófita que ocorre nas áreas de clima menos
seco. Ambas são formadas de árvores e arbustos providos de folhas miúdas que
caem na estiagem e possuem, freqüentemente, espinhos. Exemplos: Jurema,
favela, juazeiro (joá), pereiro e cactáceos como o xique-xique, facheiro e
mandacaru;
. 9% é de Ilhas úmidas e 13% é o agreste e áreas de trânsito.
2
De acordo com Ab’Sáber, Domínios Morfoclimáticos correspondem à interação de características climáticas,
botânicas, pedológicas, hidrológicas e fitogeográficas de um local que resulta numa determinada paisagem.
3
Segundo o IBGE, o Semi-árido brasileiro é uma região delimitada pela Superintendência de Desenvolvimento
do Nordeste -SUDENE considerando condições climáticas dominantes de semiaridez, em especial a precipitação
pluviométrica. Como reflexo das condições climáticas, a hidrografia é frágil, em seus amplos aspectos, sendo
insuficiente para sustentar rios caudalosos que se mantenham perenes nos longos períodos de ausência de
precipitações. Constitui-se exceção o rio São Francisco.
6. 5
No trajeto que vou percorrer a ecorregião predominante é a Depressão
Sertaneja, paisagem típica do semi-árido, se caracterizando por uma superfície
de pediplanação (superfície de erosão modelada em climas áridos e semi-áridos)
bastante monótonas com relevo predominantemente suave ondulado e cortado
por vales estreitos com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou
outeiros pontuam a linha do horizonte e vegetação de caatinga.
Mapa de Uso e Ocupação de Solo do Nordeste Brasileiro. Fonte: Revista Brasileira de
Climatologia.
Predomina em grande parte do Ceará e grandes trechos do Rio Grande do
Norte, Paraíba e Pernambuco. Na Bahia chega até Feira de Santana e a leste
ocupa toda calha do rio São Francisco até Pirapora - MG. Apresenta grandes
afloramentos de granito, principalmente, nos sertões de Pernambuco e da Bahia.
O clima é quente semi-árido com período chuvoso de outubro à abril no Sertão e
de janeiro à junho no Agreste. Ambos com média anual de precipitação anual de
500 à 800 mm.
7. 6
DESCRIÇÃO DA GEOGRAFIA E DA GEOMORFOLOGIA AO LONGO
DO TRAJETO
* PARAÍBA
Partirei da cidade de João Pessoa, localizada na mesorregião4
da Zona da
Mata e após atravessá-la entrarei na mesorregião do Agreste Paraibano onde
destaca-se a cidade de Campina Grande. O Agreste é uma região com uma taxa
média anual de pluviosidade em 789mm/a. A geomorfologia desta região é
constituída pelos Tabuleiros Costeiros, Patamares Costeiros da Borborema e do
Planalto da Borborema.
Em seguida entrarei na mesorregião da Borborema, onde se localiza a
cidade de Juazeirinho, região esta com a mais baixa taxa média de precipitação
anual do nordeste, com cerca de 534 mm/a. Após esta região , ao chegar em
Patos onde permanecerei por dois dias, estarei na borda da mesorregião do
Sertão Paraibano, o qual se estende até a cidade de Cajazeira na fronteira do
Estado do Ceará, nela a taxa média anual de precipitação é de 839 mm/a. A
geomorfologia da mesorregião da Borborema é formada pela Depressão
Sertaneja.
* CEARÁ
O trajeto planejado neste estado atravessa, no sentido leste/oeste a
mesorregião do Cariri, nela se localiza a cidade de Juazeiro do Norte, na qual
permanecerei por dois dias. Entre as cidades de Brejo Santo e Cratos está o Vale
do Cariri, o qual é formado pela Bacia Sedimentar do Araripe. A geomorfologia
desta área corresponde à Depressão Sertaneja e o Planalto Sertanejo
apresentando altitude média de 400 m.
4
Mesorregião é uma subdivisão dos estados brasileiros que congrega diversos municípios de uma área
geográfica com similaridades econômicas e sociais, que por sua vez, são subdivididas em microrregiões. Foi
criada pelo IBGE e é utilizada para fins estatísticos e não constitui, portanto, uma entidade política ou
administrativa.
8. 7
Dentro do sertão semi-árido do nordeste, em terras cearense, a região do
Cariri aparece como uma espécie de “Ilha” ou de “Oásis” verdejante, graças a
sua posição junto à vertente setentrional da Chapada do Araripe.
* PIAUÍ
Tanto o trajeto de entrada no estado do Piauí em direção à cidade de Picos,
onde permanecerei por dois dias, quanto a rota de saída desta cidade rumo à
Petrolina – PE, ambos se dão através da região do Semi-árido do Piauí.
Esta área é classificada como Sub-região Semi-árida, se caracterizando
por uma média anual de pluviosidade entre 800 à 400 mm/a que se concentra em
3 a 4 meses do anos. Apresenta altas temperaturas durante todo o ano e elevada
amplitude térmica em algumas áreas.
Mapa da Região do Cariri, CE – Fonte: Google Maps.
A hidrografia da região se caracteriza por regime intermitente com apenas
alguns riachos perenes. O relevo é de depressões interplanálticas (pediplanos),
brejos, várzeas, chapadas e serras secas. Nela domina o bioma Caatinga.
9. 8
* PERNAMBUCO
A rota que seguirei neste estado para chegar na cidade de Petrolina, onde
permanecerei menos de vinte e quatro horas, será através da sua região 7
classificada, de acordo com seu clima, de Sertão do São Francisco, a qual se
caracteriza por ser a região com o menor índice de pluviosidade do estado na
estação chuvosa de janeiro à abril – 326,8 mm/a e com média anual alcançando
485 mm/a. A geomorfologia da região é formada pela Depressão Médio-Baixo
do rio São Francisco e pelas Serras de Jacobina e Orobó.
* BAHIA
A cidade de Juazeiro – BA, na qual permanecerei por dois dias, está
separada de Petrolina – PE pela ponte sobre o rio São Francisco. Ela está situada
na mesorregião do Vale do São Francisco da Bahia. Ao me deslocar desta cidade
para a cidade de Salvador será atravessada a mesorregião Centro Norte Baiano,
essas duas regiões compõem o Semi-árido Baiano.
A cidade de Salvador onde terminará esta jornada, localiza-se na
mesorregião da Zona da Mata e a região tem a sua geomorfologia constituída
pelos Tabuleiros do Recôncavo e Tucano, além de colinas e cristas pré-
litorâneas .
10. 9
MAPA DO TRAJETO
A jornada tem início em João Pessoa-PB, de onde sigo para Patos-PB e
passo rapidamente por Campina Grande-PB, depois rumo para Juazeiro do
Norte - CE onde também visitarei as cidades vizinhas de Crato e Barbalho. Daí
eu rumo para Picos-PI, e depois para Petrolina-PE. Atravesso o rio São
Francisco e vou para Juazeio-BA, para finalmente me deslocar para Salvador -
BA passando rapidamente pela cidade de Feira de Santana-BA.
Mapa Multimodal do Brasil – DNIT, MT, adaptado pelo autor.
11. 10
DIÁRIO DE CAMPO
1º Dia
Pouco antes da 08:00 horas, estou no Aeroporto
Internacional Antônio Carlos Jobim na cidade do Rio de
Janeiro aguardando o embarque no vôo para João Pessoa –
PB.
. Município de João Pessoa - PB
Quase no fim da manhã chego ao Aeroporto Internacional
de João Pessoa - Presidente Castro Pinto, localizado em
Bayeux, na região metropolitana de João Pessoa, à 7,5 Km
da capital paraibana. E de ônibus urbano me desloco para o
Terminal Rodoviário Severino Camelo no centro da cidade,
Área territorial do município:
210 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
825.796 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
3.421,28 hab/km² (2010 –
IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
12. 11
onde embarcarei à tarde num ônibus intermunicipal com destino
a cidade de Patos-PB.
Faz calor em João Pessoa, cerca de 31°C, o sol está
muito quente mas na sombra o calor é abrandado por um vento
moderado que está soprando. Aproveito o tempo de espera que
tenho antes do embarque para dar uma volta pulo agradável e
bem preservado centro histórico de João Pessoa.
Igreja São Frei Pedro Gonçalves no Centro Histórico de João Pessoa - PB. Foto do autor.
São 15:00 horas e tem início a viagem. Saindo da cidade
vejo bastante vegetação nos arredores o quê não é de surpreender
pois ainda estou na mesorregião da Zona da Mata.
Na rodovia BR 230 em Santa Rita – PB, há 30
minutos da capital, chama a atenção a presença de grandes
fazendas nas duas margens da estrada. Na altura dos kms 60
13. 12
e 63 desta mesma rodovia, na sua margem esquerda, antes do
posto da Polícia Rodoviária Federal, se destaca uma grande
fazenda com o moderno sistema de irrigação de pivô e também
pequenas fazendas com criatórios de peixes.
Após o posto da Polícia Rodoviária Federal surgem
várias fazendas com rebanhos de gado nelore e uma pequena
fazenda com irrigação artificial. Daqui pra frente até Campina
Grande - PB, ao longo de toda BR 230 se dá a ocorrência de
fazendas com pastos cobertos de capim e presença de árvores.
Trecho da BR 230 entre Santa Rita-PB e Campina Grande-PB – Foto do autor.
Já na mesorregião do Agreste Paraibano chegamos a
Campina Grande, me surpreendo com a visão de uma cidade
grande com muitos prédios altíssimos, uma rodoviária moderna,
consideravelmente grande e bastante movimentada. O seu
perímetro urbano é muito amplo.
14. 13
Fim da tarde em
Campina Grande
com seus altos
prédios – Foto do
autor
Após Campina Grande as fazendas tornam-se escassas nas
duas margens da BR 230 e devido ao cair da noite,
lamentavelmente não pude visualizar as mudanças na
paisagem durante a transição da Mesorregião do Agreste, para
a mesorregião da Borborema e desta para a Mesorregião do
Sertão.
Por do Sol na BR 230 à caminho da cidade de Patos-PB – Foto do autor.
15. 14
À noite chegamos em Patos-PB, estou agora na borda do
Sertão Nordestino. No caminho do hotel, para minha surpresa,
o motorista do táxi me informou que hoje durante a tarde e o
início da noite choveu na cidade pela primeira vez depois de
meses . Esta chuva, segundo um morador da cidade foi a
primeira desde o São João.
2º Dia
. Município de Patos - PB
A cidade é bem estruturada urbanisticamente dando uma
impressão de cidade planejada. Ruas arborizadas e sinalizadas
Área territorial do município:
472 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
108.766 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
212,82 hab/km² (2010 – IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
16. 15
formam o seu centro. É predominantemente baixa com poucos
prédios altos.
Não vi ônibus de linha regular de transporte público, mas
muitos pequenos terminais de moto táxi. Constatei um fluxo
considerável de automóveis e motocicletas pelas ruas do seu
centro. Uma ferrovia desativada há mais ou menos 10 anos
corta a entrada da cidade, ela ligava a outros estados vizinhos.
Centro de Patos-PB - Foto do autor.
É cortada pelo rio Espinhares, cujo leito apresenta uma
água bastante turva se deslocando muito lentamente. Na sua
margem constatei uma Estação de Coleta de Dados
Hidrometeorológicos da ANA (Agência Nacional de Águas).
Uma placa sem identificação municipal ou estadual propondo a
revitalização do rio estava fixada no local, contudo nenhuma
17. 16
obra em andamento. Próximo a uma ponte avistei três pequenas
tartarugas nadando em seu leito.
Rio Espinhares na entrada da cidade – Foto do autor.
Sou surpreendido no Mercado Público Municipal da
cidade pela variedade de produtos agropecuários ofertados em
centenas de barracas juntamente com alimentos prontos,
produtos industrializados “Made in China” e produtos de
confecção local. Junto à este mercado está localizado o
Mercado Modelo onde são comercializados carnes, aves e peixes.
Talvez por ser sábado, a presença de consumidores no local é
bastante grande nesta manhã.
Na parte central da cidade, em suas ruas principais o
comércio varejo é numeroso, sendo formado por lojas de
eletrodoméstico, e algumas de grandes cadeias lojista como
Casas Bahia, Eletro Ricardo) e também comércios diversos.
18. 17
Tem me causado estranheza não ver no centro de Patos
nenhum ônibus de transporte coletivo nem vans de passageiros,
vejo muito táxis, moto táxis e pessoas em suas próprias
motocicletas. Os recepcionistas do hotel me informaram que há
um ano a prefeitura “suspendeu” os direitos da única empresa
que explorava as 4 linhas ônibus da cidade. O transporte
coletivo desde então é feito por táxi e moto táxi.
Por ser um pólo de atração na região devido ao seu
comércio, sua universidade e a prestação de serviços, vejo uma
considerável população flutuante circulando pela cidade.
À tarde por volta das 13:00 horas o céu ficou totalmente
encoberto de pesadas nuvens. Trovoadas e relâmpagos
aconteceram, mas apenas choveu o equivalente a uma garoa e o
tempo refrescou bastante em relação ao calor intenso que fez na
parte da manhã.
3º Dia
O recepcionista do hotel e um morador local me
informaram que durante os períodos de estiagem o abastecimento
de água na cidade passa ocorrer a cada 3 dias com duração de
24 horas. E me chamou atenção 2 cartazes, um em via pública
confeccionado pela empresa abastecedora de água da cidade e
19. 18
outro num estabelecimento comercial, alertando para o fato da
água ser um bem finito e que deve ser preservada e poupada.
Tenho lutado incansavelmente em minhas aulas para
mudar a idéia que a maioria dos alunos tem de que a água
potável é um recurso inesgotável. Segundo um taxista, Patos é
abastecida por 3 açudes localizados no próprio município e um
fora dele.
São 12:30 horas me despeço de Patos-PB e inicio minha
viagem para Juazeiro do Norte no Ceará.
De volta a BR 230 vejo na paisagem da sua margem
direita, antes de chegar ao em Santa Gertrude, um serrote no
sentido leste/oeste com a presença de bastante vegetação.
Uma grande área com painés solares se destaca na
margem esquerda da rodovia na altura do Km 371 no
Município de Condado-PB e um pouco mais a frente a
presença de um açude.
Açude na margem esquerda
da BR 230 próximo à
Condado – PB. Foto do
autor.
20. 19
Durante uma hora e meia ao longo do percurso até o Km
424 vários rios temporários foram cruzados pela rodovia. Uma
imensa plantação com irrigação artificial se destaca na altura
do km 454 pouco antes do Município de Souza - PB.
Desde que passou de Souza, a rodovia tem sido margeada
por pequenas propriedades rurais com rebanhos bovinos entre 10
e 20 cabeças.
Ao entrar na BR 116 após o Município de Cajazeiras -
PB, a paisagem apresentou durante alguns quilômetros uma
vegetação semelhante a vegetação de floresta tropical, bastante
distinto daquela que estava sendo vista anteriormente ao longo
da BR 230.
Esta vegetação domina a paisagem nas margens da
rodovia até sairmos dela na altura do Município de Milagres
- CE quando entramos na rodovia à direita a BR 393 antes
de Brejo Seco - CE.
Durante o trajeto entre Patos – PB e Pombal – PB a
paisagem que predominou foi a de Sertão, mas com uma
vegetação exuberante. A partir de Souza – PB em direção ao
Município de Cajazeiras – PB e ao seguir para o sul na BR
116 até o Município de Milagres – CE e também durante
21. 20
alguns quilômetros adiante, a vegetação se torna semelhante a
de floresta tropical de pequeno porte.
Ao cair da noite chegamos ao Município de Juazeiro do
Norte no Ceará.
4º Dia
Município de Juazeiro do Norte - CE
Juazeiro do Norte é uma cidade planejada, com altos
edifícios e amplas avenidas em seu centro. È um grande centro
de religiosidade popular, com destaque da devoção à Padre
Cícero, sendo chamada de “A Capital da Fé”. É também um
centro cultural.
Área territorial do município:
258 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
278.264 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
1004,45 hab/km² (2010 –
IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
22. 21
Centro de Juazeiro do Norte - Foto do autor.
Estátua de Padre Cícero (sentado) no Terminal Rodoviário da cidade - Foto do autor.
Me desloco de ônibus urbano até Crato - CE, uma cidade
de médio porte conurbada5
ao Município de Juazeiro do Norte,
da qual está distante cerca de 30 minutos. Ela um centro muito
5
Conurbação: é um fenômeno urbano que acontece quando duas ou mais cidades próximas em distância da outra,
juntam-se e formam grandes conglomerados urbanos.
23. 22
movimentado, bem provido de comércio e prestação de serviços.
De lá eu avisto a Chapada do Araripe.
Minha atenção é chamada pela presença de muito pedintes
no centro desta cidade.
Rua no centro de Crato - Foto do autor.
Aproveito a oportunidade também para conhecer uma outra
cidade conurbada à Juazeiro do Norte, a cidade de Barbalha -
CE, há 15 minutos de distância em ônibus urbano. Trata-se de
uma pequena cidade bem organizada urbanisticamente e que tem
como atração um pequeno centro histórico bastante preservado.
Centro histórico da cidade de Barbalho - CE - Fotos do autor.
24. 23
5º Dia
Antes do amanhecer me despeço de Juazeiro do Norte e
por volta das 04:10 horas, embarco num ônibus interestadual e
inicio a viagem para o Município de Picos no estado do Piauí.
Na rodovia CE 292 atravessando a Chapada do
Araripe após a cidade de Crato, observo em toda extensão da
estrada uma floresta tropical e no término da descida da
chapada a vegetação começa a perder a pujança.
Depois das cidades de Potegi - CE e Araripe - CE, a
vegetação é menos densa que na chapada mas ainda em nada
se assemelha a vegetação de sertão. Ocorre a presença de pastos
cobertos de capim e muitos arbustos além de pequenas
agriculturas.
“ Tando tudo verdinho assim e florado, é inverno!”. Foi o
comentário de um senhor morador da região, também passageiro.
Vegetação na Chapada do Araripe - CE – Foto do autor.
25. 24
Ainda na rodovia CE 292, após passar pelo Município
de Campos Sales - CE e seguindo até o Município de
Fronteira - PI a vegetação ao longo do caminho volta a se
identificar com a vegetação de sertão. Após Fronteira a
presença de pastos e pequenas agriculturas estão diminuindo.
Na altura do Município de Germiniano - PI, vários
comércios de mudas de plantas e também algumas fazendas com
uma plantação de arbustos não identificados.
Plantação não identificada em Germiniano, PI - Foto do autor.
Às 09:30 horas desembarco no terminal rodoviário de
Picos - PI.
26. 25
MUNICÍPIO DE PICOS - PI
Picos é uma cidade de tamanho médio, seu centro é
desorganizado apresentando muita sujeira e várias ruas com
esgoto escorrendo ao longo das sarjetas. Sua ruas estreitas e
sinalizadas e têm intenso fluxo de carros e de pedestres.
O comércio e a prestação de serviços aparentam ser suas
principais atividades econômicas. O comércio de ambulantes
também é bastante numeroso no centro. O transporte coletivo
urbano predominante é feito por centenas de táxi e moto táxi.
Apesar do céu nublado, a temperatura está relativamente
alta, fazendo muito calor na cidade. Por volta das 18:35
Área territorial do município:
577 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
78.627 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
137,30 hab/km² (2010 – IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
27. 26
horas sou surpreendido por uma chuva de fraca à média
intensidade que cai na parte da cidade em que estou hospedado.
Vias no centro de Picos, PI - Fotos do autor.
28. 27
6º Dia
O dia amanheceu bastante nublado e no momento não faz
tanto calor e nem chove na cidade.
Quanto ao transporte coletivo na cidade notei uma linha de
ônibus e um micro ônibus intermunicipal circulando pela BR,
além de duas linhas de ônibus urbanos no centro e algumas vans
que saem do município. Para conhecer um pouco mais a cidade,
embarquei no ônibus urbano da linha Pantanal.
A pobreza entre a população é bastante notada pelas ruas
centrais com várias pessoas idosas e aleijadas esmolando.
O Mercado Municipal e as dezenas de barracas ao seu
redor oferecem bastante variedade de produtos agrícolas
principalmente de legumes, grãos e farinhas, produtos de
manufatura local e também alimentos prontos.
O comércio no centro da cidade é formado basicamente de
pequenas lojas variadas e também algumas grande lojas de
cadeias como Americanas, Cacau Show e Magazine Luiza.
No meu deslocamento de ônibus até o bairro Pantanal
saindo do centro e percorrendo principalmente a BR, não vi ao
longo deste trajeto bairros de população de baixa renda mas
áreas de moradias em construção com ruas pavimentadas.
29. 28
Andando por outras partes do centro percebi que o
escoamento de esgoto pelas sarjetas das ruas aparenta ser um
procedimento normal em Picos, havendo inclusive uma pequena
calha por onde corre o esgoto. Não vi qualquer sistema para
coleta de lixo (lixeiras) pelas ruas do centro, assim também
como não vi nenhum trabalhador fazendo a varredura das ruas.
“Graças à Deus ta chovendo, que chova 15 dias sem
parar!” Foi o comentário de um morador da cidade ao cair
uma chuva de fraca intensidade por volta das 17:00 horas.
7º Dia
O dia amanheceu chuvoso na cidade, é nesse momento cai
uma chuva bem fraca como uma garoa.
“Oh doutor o inverno começou!” Exclamou um morador ao
me ver pisando numa poça d’água da chuva para limpar meus
tênis sujos de lama numa rua próxima ao centro de Picos.
São 14:20 horas e estou no terminal rodoviário embarca-
ndo num ônibus intermunicipal para o meu novo destino, a
cidade de Petrolina no estado de Pernambuco.
Nos primeiros quilômetros da BR 407, ainda no Piauí
próximo do município de Jaicó, a paisagem é de vegetação
30. 29
arbustiva com a presença de pastos com poucas cabeças de gado
e pequenas plantações.
Paisagem ao longo da BR 407 no Município de Jaicó - PI - Fotos do autor.
Mais adiante começo a notar uma verdejante vegetação de
sertão com o predomínio de ervas e em capim. Esta paisagem se
mantém ao longo da rodovia após entrarmos no estado de
Pernambuco até o Município de Petrolina.
Apesar dos rios temporários continuarem presentes na
paisagem, um raro evento é visto no Município de Jacobina -
PI ao atravessarmos o rio Jacobina, o qual apresentava um
fluxo de água corrente no seu leito.
Um grande açude surge na margem da rodovia na altura
do Município de Paulistana - PI.
31. 30
Rio Jacobina com fluxo de
água corrente em seu leito -
Foto do autor.
Açude no Município de Paulistana - PI - Foto do autor.
Com a noite já avançando chegamos ao terminal
rodoviário do Município de Petrolina - PE.
32. 31
8º Dia
MUNICÍPIO DE PETROLINA - PE
Petrolina é uma cidade de grande porte com o seu centro
relativamente organizado, ruas amplas, vários edifícios
modernos, grandes praças arborizadas e bastante comércio. O
clima está quase fresco, com céu nublado, vento de fraca a
moderada intensidade e sem chuva.
O rio São Francisco é a divisa entre os estados de
Pernambuco e da Bahia e uma ampla ponte de 4 pistas e com
801 metros de extensão sobre seu leito separa a cidade de
Petrolina - PE do centro da cidade de Juazeiro - BA. Chama
minha atenção o intenso fluxo de veículos de carga, automóveis e
motocicletas nos seus dois sentidos.
Área territorial do município:
4.561 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
359.372 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
64,44 hab/km² (2010 – IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
33. 32
Centro de Petrolina - PE -
Foto do autor.
Rio São Francisco na
divisa de Pernambuco e
Bahia. Petrolina-PE na
margem esquerda e
Juazeiro-BA na direita –
Foto do autor.
Ponte sobre o rio São
Francisco separando
Petrolina e Juazeiro e seu
intenso fluxo de veículos
– Foto do autor.
34. 33
Nesse trecho o rio São Francisco apresenta águas bastante
límpidas com excelente aspecto, não sendo visto nenhum ponto de
escoamento de esgoto em suas margens.
Barcaça de passageiro entre Petrolina e Juazeiro nas límpidas águas do rio São Francisco -
Foto do autor.
No início da tarde me despeço de Petrolina - PE e de táxi
me desloco para a minha pousada no outro lado do Velho Chico
em Juazeiro - BA.
35. 34
MUNICÍPIO DE JUAZEIRO - BA
Juazeiro é um pouco desorganizada urbanisticamente, ruas
pouco sinalizadas, algumas muito estreitas quase sem calçadas
e bastante sujas, embora algumas lixeiras tenham sido vistas.
Sua parte central é formada de prédios predominantemente
baixos com poucos edifícios expressivos.
O centro concentra um numeroso comércio e muitos
ambulantes. A população de baixa renda é bem expressiva nesta
parte da cidade, inclusive pessoas esmolando.
Próximo ao centro, na margem do rio São Francisco, um
pequeno porto fluvial abriga as barcaças que fazem o transporte
de passageiros entre as duas cidades vizinhas.
Área territorial do município:
6.721 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
219.544 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
30,45 hab/km² (2010 – IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
36. 35
Centro de Juazeiro - BA - Foto do autor.
Porto fluvial em Juazeiro e as barcaças de transporte de passageiros entre as duas cidades
vizinhas - Foto do autor.
37. 36
9º Dia
No amanhecer do dia me dirijo ao terminal rodoviário de
Juazeiro - BA e às 07:30 horas embarco num ônibus
intermunicipal com destino a Salvador, BA.
Na margem direita da BR 407 há vinte minutos de
Juazeiro, passamos por um grande acampamento de Sem
Terras totalmente destruído.
Logo após sair do perímetro urbano de Juazeiro - BA
destaca-se nas margens da BR 407 a paisagem característica
de Sertão. Cruzamos diversos rios temporários com seus leitos
secos e inúmeros pequenos açudes ou cacimbas.
Paisagem ao longo da BR 407 - Foto do autor.
Até o km 44 da rodovia, na sua margem direita,
destacam-se algumas fazendas com pequeno número de gado
caprinos e uma de gado bovino.
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Ao aproximar do km 66 da rodovia os cactos, até então
ausentes, surgem na paisagem.
A partir do Km 96, próximo ao Município de Jaguari -
BA e até o Km 130 no Município de Senhor do Bonfim -
BA, a vegetação se modifica e torna-se mais densa com
arbustos e árvores. O solo se apresenta com cobertura vegetal.
Mudanças na paisagem ao longo da BR 407 - Foto do autor.
Após o Município de Senhor do Bonfim - BA, na
margem direita da rodovia BR 407 tem aumentado a presença
de fazendas com gado bovino (rebanhos de aproximadamente 20
cabeças) e também pequenas plantações.
Do Km 170 até o 190 a paisagem ao longo da rodovia
voltou a ser de vegetação de sertão, com destaque de algumas
plantações de palma e macaxeira, além de pastos com pequeno
número de gado bovino.
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Plantação de palma após o Km 170 da BR 407 - Foto do autor.
Agora na BR 324, na altura do Município de
Tanquinho - BA, a paisagem se apresenta menos árida, mas
não muito exuberante, inclusive com a presença de pastos com
gado bovino em pequeno número. Riachos secos ou com pequenos
filetes d’água em seus leitos estão também presentes.
Na borda da Região do Semi-árido e caminhando para a
Região do Agreste, chegamos à Feira de Santana – BA,
chamada de “A Princesa do Sertão” - para um rápido
embarque e desembarque de passageiros. Vejo uma cidade
grande com altos prédios, algumas largas avenidas, um
terminal rodoviário bem amplo e bastante movimentado.
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Município de Feira de Santana - BA - Foto do autor.
Município de Feira de Santana - BA - Foto do autor.
Após Feira de Santana, a partir do km 547 da rodovia
BR 324, antes do pedágio, nas duas margens domina uma
vegetação de floresta tropical exuberante. E mesmo nas áreas
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antropizadas, o solo é coberto por capim e com a presença de
grandes pastos com gado nelore.
Vegetação de floresta tropical ao longo da BR 324 após Feira de Santana - BA - Foto do autor.
Pasto de gado nelore, após Feira de Santana, na BR 324 - Foto do autor.
Ao cair da noite, entramos na Mesorregião da Zona da
Mata e por volta das 18:10 horas chegamos à Salvador - BA.
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10º Dia
MUNICÍPIO DE SALVADOR - BA
A capital baiana, terceiro município mais populoso do país,
é uma grande e efervescente metrópole brasileira cuja a
economia tem grande peso na atividade do turismo.
E para resistir à enorme atração turística desta cidade, o
meu deslocamento ficou restrito à área do terminal rodoviário
onde desembarquei, estando próximos o hotel no qual me
hospedei e a estação do metrô que utilizei para me deslocar
para o aeroporto. Seu terminal rodoviário é muito ampla e o
fluxo de passageiros é gigantesco. Seu metrô de superfície é
moderno e bem acessível e se conecta ao aeroporto da cidade.
Área territorial do município:
693 km² (2020 – IBGE)
População estimada:
2.900.319 hab (2021 – IBGE)
Densidade demográfica:
3.859,44 hab/km² (2010 –
IBGE)
Mapa: Fonte IBGE
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Minha breve jornada geográfica chega ao seu final e no
início da tarde, após uma rápida viagem de metrô chego ao
Aeroporto de Salvador e às 13:50 horas meu vôo parte com
destino a cidade de São Paulo, de onde farei uma conexão para
o Rio de Janeiro.
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Uma Observação do Autor:
No primeiro momento em que entrei em contato com a
paisagem efetivamente de Sertão, o qual se deu no terceiro dia
da minha jornada durante o trajeto de Patos-PB para
Juazeiro do Norte-CE pela BR 230, muito me surpreendeu a
paisagem que estava diante dos meus olhos.
Durante a minha vida a imagem que sempre tive do
Sertão era a de terras extremamente áridas, com rara ou
nenhuma presença de vegetações, sem pastos nem roçados,
desolada de vida e com multidões de retirantes abandonando
suas terras e se deslocando para grandes centros urbanos.
Mas ao contrário, durante esses 10 dias descobri um
Sertão relativamente verde, com chuvas, alguns rios, riachos e
açudes com água em seus leitos, apesar de muitos ainda secos,
algumas atividades agrícolas e de pecuária e cidades vivendo
seu dia-a-dia de tranquilidade.
Encontrei a justificativa para tal fato consultando os
dados do Monitor de Secas do Brasil, órgão da ANA (Agência
Nacional de Águas), onde constatei que o mais recente
período de seca que afetou grande parte da região nordeste se
deu de janeiro de 2016 à março de 2018, tendo sido
registrado nesse período seca classificada pela ANA nas
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categorias de: seca grave, seca extrema chegando à seca
excepcional.
Entre março de 2018 até o período da minha viagem à
região em janeiro de 2019, os dados apurados mostram que a
estiagem apresentou acentuada tendência de queda, havendo
apenas pontuais ocorrências de secas como as classificadas
anteriormente.
O Sertão que eu tive oportunidade de conhecer não
estava sendo tão assolado pela seca.
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BIBLIOGRAFIA
Sá, Ledo Bezerra; Riché, Giles Robert; Fotius, Georges André. As
Paisagens e o Processo de Degradação do Semi-árido nordestino.
Embrapa Semi-árido, 2004. www.embrapa,br. Acesso: 27/09/2018
Rossato, Maíra Suertegaray et alli. Terra – Feições Ilustradas. Editora
UFRGS, 2003.
IBGE. Mapa Físico da Região Nordeste, 2013. www.ibge.gov.br Acesso:
15/07/2018
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE.
www.ibge.gov.br Acesso: 19/09/2021
DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte),
Ministério dos Transportes. Mapa Multimodal do Brasil, 2013
OBSERVATÓRIO UNIFG DO SEMIÁRIDO NORDESTINO.
https://observatorio.centrouniversitariounifg.edu.br Acesso: 26/09/2021
REVISTA BRASILEIRA DE CLIMATOLOGIA. Ano 12, vol 19, Jun/Dez
2016. https://revistas.ufpr.br Acesso: 26/09/2021
ANA (Agência Nacional de Águas). Monitor de Secas do Brasil.
www.monitordesecas.ana.gov.br Acesso: 26/09/2021