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Uma proposta de reabilitação neuropsicológica através do
programa de enriquecimento instrumental (PEI)
A proposal for neuropsychological rehabilitation through the program of instrumental
enrichment (FIE)
Roberta Claro Romão Corrêa
Programa de Pós-Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial, Universidade Salgado
de Oliveira (Universo), Recife, Pernambuco, Brasil
Resumo
Existe hoje, no Brasil, uma incidência grande de pessoas com disfunções cognitivas como
memória, atenção e linguagem mal desenvolvidas, que necessitam de um programa de
reabilitação para minimizar seus déficits. A reabilitação neuropsicológica objetiva intervenções
junto ao paciente e familiares visando à melhora e/ou superação das dificuldades, no plano
cognitivo e comportamental dos mesmos, baseadas em técnicas especificas, facilitando a
inserção na comunidade. O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é um sistema de
intervenção constituído a partir de instrumentos para melhorar o funcionamento das funções
cognitivas. Nosso objetivo é propor o PEI como um programa de reabilitação
neuropsicológica. Acreditamos na relevância desse trabalho como uma opção de programa de
reabilitação neuropsicológica, que se propõe à reorganização das funções neuropsicológicas na
ação mediada pelo terapeuta, através dos instrumentos do PEI. © Cien. Cogn. 2009; Vol. 14
(2): 047-058.
Palavras-chave: reabilitação neuropsicológica; Programa de Enriquecimento
Instrumental (PEI); experiência de aprendizagem mediada.
Abstract
There is today in Brazil, a great incidence of people with cognitive disfunctions such as
underdeveloped memory, attention and language, who need a rehabilitation program to
minimize their deficits. The neuropsychological rehabilitation consists of interventions onto the
patient and family, aiming at the improvement and overcoming difficulties, in the cognitive and
behavioral plan, based on specific techniques, facilitating community acceptance. Feuerstein’s
Instrumental Enrichment Program (FIE) is an intervention system basically elaborated on
instruments, to improve the functional side of the cognitive functions. Our goal is to propose
FIE as a rehabilitation neuropsychological program. We believe in the relevance of this work
as an option to neuropsychological rehabilitation, with the reorganization of the
neuropsychological functions in the action mediated by the therapist, through FIE's
Instruments. © Cien. Cogn. 2009; Vol. 14 (2): 047-058.
Keywords: neuropsychological rehabilitation; Feuerstein’s Instrumental
Enrichment Program (FIE); experience of mediated learning.
Artigo Científico
Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição
Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
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1. Introdução
Reuven Feuerstein criou a teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM),
que estabelece o mediador humano (terapeuta) como facilitador para trabalhar os processos
cognitivos do mediado (paciente). O objetivo da intervenção mediada é promover a
modificabilidade cognitiva através do desenvolvimento dos processos cognitivos.
O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), desenvolvido em 1980 com base
na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), pelo psicólogo Reuven
Feuerstein, é atualmente considerado um dos programas mais inovadores e promissores no
contexto da reabilitação, utilizado para modificar e majorar a estrutura cognitiva do indivíduo
e transformá-lo em um pensador autônomo e independente.
Fundamentada nos conceitos da psicologia cognitiva, da neuropsicologia, do
processamento de informação e das abordagens contextuais do desenvolvimento cognitivo, a
teoria visa à intervenção junto ao indivíduo, pela mediação, promovendo a modificabilidade
cognitiva através do desenvolvimento dos processos cognitivos tais como atenção, memória,
percepção, linguagem, memória, praxias e funções executivas.
Segundo a teoria, o sujeito passa a participar de seu processo de reabilitação de forma
ativa, ou seja, como processador e transformador da informação, propiciando a
modificabilidade cognitiva.
Para expressar o conceito de mediação da aprendizagem, Feuerstein utiliza a fórmula
S-H-O-R, respectivamente, S (estímulo externo); H (mediador Humano); O (organismo
humano); R (resposta que o organismo emite após a interação e elaboração da informação).
Feuerstein partiu da análise do esquema proposto por Piaget para explicar o ato de
aprender. Para Piaget, esse ato é decorrente da interação estímulo-organismo-resposta: SS –– OO
–– RR.. Esse modelo S – O – R não era suficiente para Feuerstein, para a aprendizagem efetiva
da criança. Ele acrescentou, ao modelo de Piaget, a função do mediador humano, que ele
identificou como H, no seu esquema: S – H – O – H – R. (Cruz 2007)
A Experiência de Aprendizagem Mediada é uma interação na qual o terapeuta se situa
entre o organismo do indivíduo mediatizado (paciente) e os estímulos (sinais, objetos,
imagens, problemas, eventos) de forma a selecioná-los, mudá-los, ampliá-los utilizando
estratégias interativas para produzir significado para além das necessidades imediatas da
situação.
Os instrumentos do PEI potencializam o mediador (terapeuta) intervir ativamente no
processo de reabilitação do sujeito; para tal, faz-se necessário entender como as informações
são captadas, elaboradas e operacionalizadas na mente do mediado. Para isso, contaremos
com os relatos de Luria.
A característica essencial desta abordagem é o fato de estar direcionada não apenas
para a remediação de comportamentos e habilidades, como também para uma mudança de
estrutura mental, o que modifica o desenvolvimento cognitivo, a metodologia da mediação
promove o desenvolvimento dos processos mentais, visando uma aprendizagem significativa.
(Belmonte, 2000)
Complementando, Feuerstein (1998), acrescenta que a modificabilidade cognitiva
estrutural refere-se ao desenvolvimento e ampliação das funções cognitivas e mudança no
estado geral do indivíduo.
Este instrumento é realizado através da mediação; intervenção do mediador ao passar
as informações, superando problemas de abstração e complexidade da tarefa, e
proporcionando ao sujeito a capacidade de corrigir funções cognitivas, objetivando tornar seu
mediado um aprendiz independente, ocorrendo assim uma reciprocidade do mediado para o
mediador (Da Ros, 2002).
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As funções cognitivas, objeto de estudo da neuropsicologia, são trabalhadas nos
instrumentos do PEI, nos quais o processo é considerado tão importante quanto o produto e a
produção do conhecimento, mais que a simples reprodução do instrumento.
Desta maneira, este artigo tem como objetivo propor o PEI como reabilitação
neuropsicológica, possibilitando intervenções que garantam o desenvolvimento do potencial
cognitivo.
2. Fundamentação teórica
2.1. Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI)
O PEI destina-se a todas as pessoas, independentemente da idade, nível de
escolaridade ou experiência profissional, que necessitem desenvolver seu potencial cognitivo.
Aplica-se, especialmente, à desmotivação para o estudo, problemas de memória, baixo
rendimento escolar e dificuldades de aprendizagem, hiperatividade, dificuldades de atenção,
síndrome de Down, dificuldades de raciocínio e abstração, desordens perceptivas, entre
outros.
De acordo com Da Ros (1997), uma sessão de utilização do PEI prevê quatro etapas:
(1) Introdução (5 a 10 minutos): os mediados devem obter uma percepção clara e precisa
do problema; a intenção é mediar a tarefa;
(2) Trabalho do paciente (20 a 25 minutos): o mediado executa as tarefas, e o mediador se
preocupa em promover a sensação de competência e o otimismo; ameniza a frustração
do indivíduo, assegurando o alto nível de sucesso na tarefa e preparando-o para
enfrentar as dificuldades que poderão surgir. Como cita Belmonte (2003), deve-se
assegurar a auto-estima, já que a intervenção do mediador tem como objetivo auxiliar
a pessoa a solucionar problemas, através do uso efetivo de estratégias;
(3) Discussão e desenvolvimento do insight (20 a 25 minutos): estimula-se o pensamento
divergente, recapitulam-se conceitos e vocabulários, controla-se a impulsividade,
promove-se a transcendência (fazer o paciente levar para sua vida cotidiana conceitos
que estão sendo trabalhados no instrumento); a intenção é mediar as respostas;
(4) Resumo da terapia (5 a 10 minutos): relembra-se o que aconteceu no decorrer da
terapia, analisam-se as funções cognitivas trabalhadas e discutem-se as percepções das
mudanças cognitivas do paciente.
O mediador incentivará o mediado a descobrir e analisar os objetivos que ele pretende
cumprir e as funções cognitivas que queira desenvolver ao selecionar, planejar e organizar a
tarefa. Seu maior desafio é descobrir os processos de pensamentos que seus mediados
(pacientes) realizam espontaneamente; diante desse conhecimento, elabora e apresenta os
conteúdos, através de diversas modalidades do instrumento (verbal, escrito, pictórico,
simbólico, esquemático e gráfico), de modo que o mediado possa contornar suas dificuldades,
tornando as tarefas mais fáceis e superáveis (Sanchez, 1992).
O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) desenvolve operações mentais
como identificação, comparação, diferenciação, classificação, codificação-decodificação,
raciocínio analógico, raciocínio transitivo, raciocínio hipotético, silogismo, lógica,
representação mental, transformação mental, projeção de relações virtuais, análise-síntese,
inferência lógica e pensamento divergente.
O PEI é composto por vinte e um instrumentos, divididos em duas categorias: PEI
Básico e PEI Standard. Neste artigo nos restringiremos essencialmente ao PEI Básico.
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1. O PEI Básico é voltado para crianças de 4 anos até 9 anos, idosos ou pessoas com
necessidades especiais, possuindo uma série de sete instrumentos (Silva, 2006):
a) Organização de Pontos: usando estímulos figurativos, o paciente desenha
linhas para conectar os pontos que criam uma ordem e um significado na
informação inicialmente desconecta, levando ao fechamento de formas, numa
ordem crescente de complexidade.
Este instrumento desenvolve a percepção, reduz o nível de
impulsividade, instiga a curiosidade, flexibiliza as estruturas mentais e
propicia o refletir sobre o próprio processo de pensamento.
Operações mentais desenvolvidas: observação, comparação, avaliação, análise
e síntese e utilização de estratégias.
b) Da Unidade ao Grupo: este instrumento trabalha com o conceito de que o
número é a representação mental de uma quantidade e que pode ser obtido por
meio de diversas operações matemáticas. Desenvolve a capacidade de
contagem, interioriza o conceito de unidade e de grupo, estimula a
flexibilidade cognitiva, desenvolve a capacidade analítica (decomposição) e a
sintética (composição).
Operações mentais trabalhadas: identificação, comparação, diferenciação e
classificação.
c) Orientação Básica no Espaço: as tarefas deste instrumento colocam uma
grande ênfase no vocabulário e conceitos relativos à orientação de objetos no
espaço e a capacidade de relacionar um ou mais objetos espacialmente.
Operações mentais: discriminação figura-fundo, identificação, raciocínio
indutivo e dedutivo, categorização, percepção, orientação espacial e
pensamento comparativo.
d) Comparando e Descobrindo Absurdo: neste instrumento, a tarefa principal é
descobrir e entender a natureza de um absurdo (uma incongruência) entre duas
situações criando um estado de desequilíbrio na situação. Através do processo
de observação, discriminação, comparação e classificação o paciente será
capaz de identificar a relação que gerou o absurdo. Neste instrumento,
trabalha-se o processo de indução porque requer a adoção de um
comportamento organizado e planejado ao identificar as partes e buscar a
relação entre as partes e conclusão do todo.
Operações mentais trabalhadas: observação, análise, discriminação,
classificação, investigação, comparação, interiorização, raciocínio indutivo e
dedutivo.
e) Identificando Emoções: através do processo de decodificação de expressões
dos sentimentos, o mediado aprende como definir a natureza e a origem das
emoções em vários contextos comportamentais/sociais.
Operações mentais deste instrumento: identificação, diferenciação,
comparação, raciocínio indutivo e dedutivo, observação, análise, nomeação e
solução de problemas.
f) Desde a Empatia à Ação: este instrumento utiliza atividades de analisar cenas
e colocar-se no lugar do outro.
As operações mentais são: identificação, diferenciação, comparação,
classificação, análise e síntese, decodificação e codificação, representação
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mental, categorização, raciocínio analógico, raciocínio dedutivo e indutivo e
pensamento seqüencial e inferencial.
g) Três Canais de Atenção: é um instrumento que vivencia as diversas formas de
processar cognitivamente uma mesma situação; a pessoa é levada a manipular,
criar uma imagem mental e representá-la para, posteriormente, reconhecê-la
graficamente.
Operações mentais trabalhadas: representação mental, diferenciação das
formas usando os atributos que foram internalizados através da manipulação,
envolvendo a comparação, a síntese e a seriação.
2. O PEI Standard, voltado para populações acima de 9 anos de idade e adultos, possui
uma série de quatorze instrumentos: Organização de Pontos; Orientação Espacial I,
Comparações, Classificações, Percepção Analítica, Orientação Espacial II,
Ilustrações, Progressões Numéricas, Relações Familiares, Instruções, Relações
Temporais, Desenho de Padrões, Relações Transitivas e Silogismo.
Através de exercícios com lápis e papel, estruturados em unidades de complexidade
cognitiva crescente e de mediação, o paciente é levado a entender o seu processo mental,
favorecendo a aprendizagem e a metacognição, possibilitando-lhe, assim, aprender a aprender
e melhor utilizar seu potencial. No entanto, a organização, o conteúdo, o programa e a
duração dependem das características da população alvo e dos objetivos específicos
pretendidos.
No PEI Básico, os instrumentos não necessitam serem utilizados de maneira ordenada,
portanto o terapeuta tem a flexibilidade na escolha dos instrumentos, de acordo com as
necessidades do seu paciente.
2.2. A neuropsicologia
Segundo Bueno e colaboradores (2004), a Neuropsicologia é uma interface ou
aplicação da psicologia e da neurologia nas relações entre o cérebro e o comportamento
humano, constituindo uma área da Neurociência, procurando compreender as relações
existentes da organização e do funcionamento do sistema nervoso central.
Segundo Luria e colaboradores (2001), a neuropsicologia envolve o estudo das
relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento.
A Neuropsicologia tem como objetivo a relação entre o funcionamento cerebral e as
funções cognitivas, tais como atenção, memória, percepção, praxia, linguagem, funções
executivas etc. O funcionamento neuropsicológico é o conjunto de todas as funções cognitivas
interdependentes para o funcionamento adequado do indivíduo. Quando uma das funções
cognitivas se encontra deficiente, consequentemente há um comprometimento das outras
funções, desencadeando uma disfunção neuropsicológica, necessitando-se assim de
reabilitação neuropsicológica.
Para Fonseca (2005), a cognição ou processos cognitivos que dão sustentação ao
pensamento são modos e estratégias de processamento da informação, são dispositivos
potenciais de adaptação e de pensamento lógico que podem ser aprendidos.
Neste artigo, citaremos alguns processos cognitivos estudados pela neuropsicologia
utilizados pela aplicação do PEI, tais como:
1) Atenção: processo mental por meio do qual o indivíduo seleciona, mantém e integra
certos estímulos e ignora outros. Compreende essencialmente três componentes: alerta
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(manutenção ou sustentação face aos estímulos, envolvendo a postura e o sentido de
orientação face ao mundo exterior), seletividade (focagem de uns aspectos e exclusão
de outros) e processamento (tratamento de estímulos simultânea ou sequencialmente).
Bueno e colaboradores (2004) relatam também que para um organismo
aprender, ele deve ser capaz de perceber os estímulos ambientais, realizar associações
entre os estímulos e arquivar informações relevantes.
Para haver associação de estímulos é necessário discriminar diferenças entre
eles e para arquivar as informações, é necessário decodificar e destinar a informação
em uma ou mais áreas cerebrais.
2) Linguagem: capacidade de expressar sentimentos e pensamentos por meio de
símbolos falados ou escritos. A fala, enquanto manifestação da prática oral, é
adquirida de forma espontânea em contextos informais do dia-a-dia e nas relações
dialógicas que ocorrem desde os primeiros meses de vida de uma criança. Ao
contrário do que ocorre com a fala, a escrita depende de um treinamento formal,
assumindo, em algumas circunstâncias, caráter de prestígio e superioridade. A
linguagem escrita é regida por convenções e normas ditadas pela gramática tradicional
e por regras funcionais. Contudo, esta mesma gramática encontra-se à disposição da
linguagem oral. É incoerente, portanto, estabelecer um grau de superioridade da
linguagem escrita sobre a linguagem oral ou vice-versa.
3) Funções Executivas: segundo Bueno e colaboradores (2004), são processos que
permitem focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar funções cognitivas,
emoções e comportamento. As funções executivas permitem ao indivíduo interagir no
mundo de maneira intencional e envolvem a formulação de um plano de ação,
baseado em experiências prévias e demandas atuais do ambiente. Englobam as
seguintes capacidades: gerar intenções, iniciar ações, selecionar alvos, inibir estímulos
distratores, planejar e prever meios de resolver problemas complexos, antecipar
consequências, mudar a estratégia de forma flexível, quando necessário, monitorar o
comportamento a cada etapa e avaliar o sucesso ou insucesso de nossas ações em
relação aos objetivos.
4) Praxias: movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um fim ou
de um resultado determinado. Não se trata de um movimento reflexo, nem
automático, e sim voluntário, consciente e organizado, envolvendo planejamento
cortical e um sistema de autorregulação frontal. Realizações perfeitas, econômicas,
eficazes, sequencializadas e melódicas de comportamentos motores aprendidos
(exemplos: gestos, manuseio de instrumentos e objetos) decorrem da integração dos
processos superiores de planificação, regulação e execução motora. (Fonseca, 2005)
5) Percepção: processo de organização e interpretação dos dados do mundo exterior e do
mundo interior que são obtidos através dos sentidos. A sua perturbação pode evocar
dificuldades não só na exteroceptividade (fraca discriminação, análise e retenção
visual, espaço ou auditiva-tempo e ritmo), como na proprioceptiva (problemas
posturais, táteis, sinestésicos, gnósicos e práxicos).
6) Memória em termos elementares compreende a capacidade de reter, conservar ou
armazenar a experiência (informação) anterior. Mesmo quando o estímulo não se
encontra presente, a memória permite a evoção ou recuperação de uma possível
resposta; os vários modelos de memória que têm sido apresentados por autores atuais
consideram a memória como multidimensional e multifacetada. (Sánchez, 2004)
Quanto mais significativa a informação, mais solidamente pode ser reutilizada.
A maneira como a informação foi processada, ativada, controlada e regulada pelo
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indivíduo determina a qualidade das funções da memória; caso a informação seja
perdida, afetará, consequentemente, a aprendizagem.
Em todos os instrumentos do PEI são trabalhados os processos cognitivos citados
acima, favorecendo-se, portanto, o desenvolvimento dessas funções, tornando uma
experiência de aprendizagem significativa para o paciente.
2.3. Reabilitação neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica tem como objetivo minimizar as funções cognitivas
deficientes, no aspecto físico, psicológico e sócio-adaptativo, através de diversas técnicas e
estratégias, levando em conta a plasticidade neuronal e, essencialmente, as possibilidades do
paciente. Tem-se como objetivo principal, uma atividade dinâmica para a readaptação do
indivíduo ao seu meio ambiente. (Santos e Abrisqueta-Gomez, 2006)
A reabilitação neuropsicológica vai além da reabilitação cognitiva; ela é mais
abrangente. A reabilitação cognitiva ocupa-se especificamente do tratamento das funções
cognitivas (atenção, memória, percepção, compreensão etc.) e tem como objetivo promover
uma melhora do desempenho em tarefas que demandam funções cerebrais determinadas.
A reabilitação neuropsicológica, além de visar à melhora cognitiva, visa a corrigir,
maximizar as aprendizagens e reaprendizagens das habilidades cognitivas de forma que os
pacientes encontrem meios adequados e alternativos para alcançar metas funcionais
específicas a fim de diminuir ou sanar as funções afetadas. Prioriza o indivíduo como um todo
e sua qualidade de vida, pois inclui problemas emocionais e comportamentais, fazendo com
que o paciente se reintegre ao ambiente social, escolar e de trabalho de maneira mais
adequada possível; atua além do consultório, com o objetivo de facilitar o desempenho em
tarefas que requerem habilidades cognitivas (Gil, 2005).
O primeiro passo é realizar uma avaliação neuropsicológica para se mensurar os
prejuízos cognitivos e as funções intactas. Basicamente, a bateria de testes avalia um conjunto
de habilidades e competências cognitivas, tais como orientação espaço-temporal, raciocínio,
atenção, aprendizagem, memória verbal, visual, curto e longo prazo, funções executivas,
linguagem, organização visuoespacial, funções perceptuais e motoras.
A importância da avaliação neuropsicológica não se limita à apresentação de
diagnóstico e prognóstico, mas também está em direcionar o processo de reabilitação
cognitiva. Permite obter a inferência das características estruturais e funcionais do cérebro e
do comportamento em situação de estímulo e resposta definidas, formular, planejar e executar
estratégias as quais compõem o plano de reabilitação neuropsicológica.
E no final do processo de reabilitação neuropsicológica, realiza-se uma avaliação dos
resultados obtidos para verificar se houve eficácia da intervenção, através dos relatos
subjetivos, do desempenho efetivo nas tarefas e do comportamento cotidiano alcançado.
Existem várias maneiras de se planejar um programa de reabilitação eficiente. É
importante informar o paciente de que nem sempre é possível restaurar a função cognitiva
prejudicada, mas é possível compensá-la, encontrando maneiras de minimizar os problemas
do cotidiano.
Um programa de reabilitação neuropsicológica deve ser individualmente elaborado e
organizado adequadamente à situação de aprendizagem e performance do paciente; revisto
durante o tratamento e, se necessário, modificado, pois o curso clínico se modifica tanto pela
recuperação quanto pelo desenvolvimento dos processos de maturação do cérebro e dos
fenômenos da plasticidade neuronal.
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O planejamento das atividades de reabilitação neuropsicológica necessita da definição
dos objetivos específicos (a curto ou longo prazo), estabelecimento de metas a serem
alcançadas e uma avaliação sistemática dos resultados obtidos.
Os programas de reabilitação envolvem a estimulação de processos metacognitivos
associados ao treino de funções cognitivas específicas. A metacognição é uma capacidade
individual de automonitoramento em tarefas cognitivas ou aprendizagens.
Durante o processo de reabilitação, é importante que ocorram intervenções com o
paciente, com técnicas cognitivas específicas para treino de atenção, de memória, de
estratégias metacognitivas, de habilidades visuo-perceptuais (treinos visual, auditivo,
sinestésico) e visuo-construtivas. A intervenção com a família objetiva esclarecimentos sobre
o quadro/diagnóstico (habilidades e dificuldades, problemas de comportamento), orientações
para auxiliar a generalização das aquisições no ambiente doméstico (organização do
ambiente, métodos de trabalho com o paciente em casa). As intervenções com a escola têm
por finalidade obter esclarecimentos, discutir métodos e estratégias de ensino e currículo
adaptado; além de visitas ao ambiente escolar visando às modificações no ambiente, se
necessárias. (Bueno et al., 2004)
É importante que o paciente compreenda que o tratamento não é um fim em si mesmo.
Cabe ao terapeuta o reforço do comportamento cognitivo aprendido e de novos que levem o
paciente a refletir sobre seu aprendizado, a fim de melhorar seu autocontrole e
autogerenciamento na vida diária, aprendendo a lidar melhor com seus déficits
neuropsicológicos.
Propomos, como um novo programa de reabilitação neuropsicológica inovadora para
desempenho das habilidades metacognitivas, o PEI (Programa de Enriquecimento
Instrumental).
A possibilidade do uso desse programa no processo de reabilitação ocorre quando se
detecta dificuldade para organizar e utilizar, de forma eficiente, suas capacidades/habilidades
cognitivas, apresentando alterações de atenção, de planejamento, impulsividade, perseveração
e rigidez, além da generalização na aprendizagem.
Os instrumentos do PEI centram-se em todas as funções cognitivas. A experiência de
aprendizagem mediada, fundamentada na teoria luriana dos sistemas funcionais, sugere dentro
do contexto neuropsicológico estágios evolutivos fundamentais, organizados para
compreender a ontogênese da aprendizagem.
Podemos estabelecer uma analogia com o modelo funcional de Luria e os instrumentos
do PEI.
Para Luria, a cognição depende da participação sincronizada das três unidades
funcionais, cada uma delas numa estrutura hierárquica: áreas primárias ou de projeção, áreas
secundárias ou de associações e áreas terciárias.
Segundo o pensamento luriano, cada área pode operar unicamente em conjunção com
outras áreas, a fim de produzir comportamentos – escrever ou falar, por exemplo. Portanto,
nenhuma área do cérebro pode ser considerada como a única responsável por qualquer
comportamento humano voluntário ou superior, exatamente porque o desempenho ou a
realização de funções se fundamenta numa interação dinâmica e sistêmica de muitas áreas.
Esta perspectiva não se baseia numa abordagem lesional fixa e imutável, mas numa
abordagem dinâmica suscetível de modificabilidade neurofuncional sustentada numa
perspectiva da plasticidade cerebral.
Quanto maior a complexidade das ações causadas pelo cérebro, maior a necessidade
de novos processamentos. (Damásio, 2006). Por mais essa constatação, verificamos a
importância da utilização do programa do PEI na reabilitação neuropsicológica, reforçando o
enriquecimento cognitivo, não só aumentando a unidade de atenção, implementando as
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estratégias de experiência mediada, mas também implementando uma estratégia de
processamento informativo.
O modelo de input - elaboração – output de informação proposto por Feuerstein pode
ser sintetizado nos seguintes processos funcionais similares à perspectiva de Luria e com os
instrumentos do PEI (Fonseca, 2007):
Input:
Ativação, atenção e percepção (primeira unidade de Luria); responsáveis pela
modelação do alerta cortical, pelas funções de sobrevivência, pela vigilância tônico-postual e
pela filtragem e integração dos inputs sensoriais.
Instrumentos do PEI que trabalham com o Input: organização dos pontos básicos,
organização dos pontos, orientação espacial básica, orientação espacial I e II comparações,
percepção analítica, classificações e ilustrações.
Elaboração:
Integração, retenção, processamento de dados, processamento simbólico e motor
(segunda unidade de Luria).
Esta área é responsável pela análise, síntese, retenção e integração da informação
intrasensorial especifica, recebida na primeira área, com bases em processos perceptivos
sequenciais já especializados hemisfericamente. Abrange um número de unidades de
informações que podem ser processadas e manipuladas simultaneamente.
Instrumentos do PEI que trabalham com Elaboração: relações familiares, relações
temporais, progressões numéricas e instruções, identificando emoções, comparando e
descobrindo absurdo, da empatia à ação.
Output:
Planificação, conscientização do processo, monitorização, predição de consequências,
avaliação de resultados, tomada de decisões, processos de prestação, verificação e preparação
da resposta e integração de efeitos da ação. Respostas certas e justificadas marcam a
capacidade do indivíduo de expor, de forma clara e precisa, como executou determinada
tarefa, explicando de maneira ordenada os passos do seu raciocínio. Consistindo no lobo
frontal, que representa o nível mais elaborado de desenvolvimento do cérebro humano
(terceira unidade de Luria).
Instrumentos do PEI que trabalham com Output: silogismo, relações transitivas,
sobreposições de padrões, três canais de atenção e da unidade ao grupo.
Assim, o PEI pode ser usado como um instrumento terapêutico em muitos casos de
distúrbios ou lesões neurológicas, tais como Síndrome de Down, TDHA, dificuldades de
aprendizagem etc., porque as disfunções cognitivas não se encontram necessariamente
associadas com lesões em áreas corticais particulares, mas tendem a serem sensíveis ao efeito
de uma lesão cerebral, independente de sua localização. Quando usado com rigor
neuropsicológico e clínico, baseado nas necessidades específicas e nos perfis
neuropsicológicos dos indivíduos, o PEI pode ajudar fortemente nesta organização sistêmica e
no seu desenvolvimento funcional, porque o PEI reflete uma modificação progressiva e
qualitativa. (Fonseca, 2005)
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Como exemplo, podemos citar o instrumento Três Canais de Atenção, do PEI Básico,
que foi criado para trabalhar déficits de atenção, impulsividade e déficits nos níveis de input
(captação) e elaboração de informações.
Este instrumento é composto de uma caixa de papelão vazia com uma abertura nas
duas laterais que permite o paciente colocar as mãos para manipulação tátil. A face superior
da caixa é aberta para permitir ao mediador observar o processo de exploração, mediando o
paciente a conduzir uma resposta mais precisa do mediado.
As formas geométricas vão sendo apresentadas uma a uma, para o paciente explorar as
características das peças, através da manipulação tátil, e reconhecer as diferentes formas
(quadrado, triângulo, polígonos variados, formas segmentadas irregulares) iniciando das
formas mais simples para as mais complexas.
É importante salientar que, conforme o trabalho vai sendo realizado, o paciente vai
adquirindo melhor habilidade nas formas mais complexas.
Inicialmente, através da percepção tátil, o objetivo da mediação nessa série é formar
um processo para a exploração tátil e usar essa exploração para construir as imagens mentais
internalizadas que serão graficamente e visualmente reforçadas nas próximas etapas. Os
conceitos podem ser formulados usando tanto o conteúdo (a natureza das formas geométricas)
quanto o processo (como a aprendizagem ocorre). O paciente deve manter a atenção aos
atributos essenciais das formas, movendo as mãos e os dedos, para explorar as dimensões das
formas (praxias) e descrever verbalmente nomeando os atributos que está experimentando
tatilmente.
Deve-se orientar o paciente a segurar a figura entre o polegar e o dedo indicador na
posição vertical, de forma que cada peça possa ser registrada mentalmente enquanto o
paciente explora tatilmente.
Na segunda etapa, o paciente faz um desenho do que foi reconhecido através da
exploração tátil. O indivíduo pode realizar mais de um desenho, até que seja o mais preciso
possível, nos detalhes e tamanho da forma explorada, através da mediação do terapeuta.
A terceira etapa é o reconhecimento visual da forma geométrica. É mostrado ao
mediado uma página (folha) do instrumento, que apresenta variações das formas que foram
exploradas, com o objetivo que ele identifique, entre outros desenhos de formas geométricas,
qual ele explorou, confirmando se o indivíduo conseguiu, através da representação mental
adquirida pela manipulação do instrumento. A diferenciação das formas requer discriminação
e eliminação das formas diferentes.
Cada forma geométrica deve ser explorada bem, nos três canais (manipulação,
reprodução e reconhecimento) para depois ser passada para outra figura. O mediador pode
tanto avançar séries quanto voltar às anteriores, sendo flexível e criativo para responder as
necessidades do mediado e do desenvolvimento cognitivo, ajudando a criança a explorar e a
observar como está realizando as propostas. As formas combinam os elementos familiares que
foram percebidos e os elementos novos que devem ser identificados e registrados. As formas
que se assemelham a objetos familiares (escada, estrela, chave...), ajudam o paciente a nomeá-
las.
As formas geométricas foram construídas de uma madeira fina, dando oportunidade
para serem exploradas com as mãos e os dedos. São levemente ásperas nas bordas e na
superfície o material é plano, com o propósito de favorecer uma resposta do objeto em
questão, através de reconhecimento tátil, totalizando 26 formas geométricas.
Os objetivos específicos desse instrumento são a focalização, usando estímulos
abstratos que devem ser percebidos em diferentes maneiras para depois ser integrado; a
exploração, usando as modalidades táteis e motoras e a construção de conceitos, usando a
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mediação verbal baseado nas informações recolhidas e assimiladas através do tato,
necessitando neste momento evocar a memória.
3. Conclusão
O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é um sistema estruturado de
intervenção, cujo objetivo amplo é modificar a estrutura cognitiva do indivíduo. É dentro do
contexto de reabilitação neuropsicológica que propomos um novo programa de reabilitação,
através do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), com base na teoria da
Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), criada pelo Reuven Feuerstein, ajudando a
reabilitar os indivíduos com funções cognitivas comprometidas.
Os indivíduos mediados desenvolvem maior capacidade de soluções de estratégias
para tarefas de aprendizagem nova e inédita. O terapeuta ajuda a criar condições ou modelos
explicativos das suas experiências que servem para organizar observações e testar a
aplicabilidade dessas regras numa variedade de circunstâncias.
O Programa inibe a impulsividade de respostas distráteis e emocionalmente
desreguladas. Além disso, possibilita a organização antecipada e planificada das condutas; a
antevisão de vários cenários; a dialética da avaliação das vantagens e inconvenientes das
situações; a amplitude do campo mental; a capacidade em considerar as varias facetas de um
problema; a seleção precisa de dados; a indução e educação de relações; o recurso à evidencia
lógica; a aplicação de procedimentos de raciocínio inferencial; a projeção de relações virtuais;
a adoção de diversas estratégias cognitivas e metacognitivas de resolução de problemas; e o
controle moral e ético das condutas dos projetos.
Este tipo de tratamento enfoca habilidades como: atenção, memória, velocidade de
pensamento, percepção, habilidades de resolução de problemas, linguagem e
automonitoramento através da utilização de tarefas terapêuticas desenhadas especificamente
para melhorar essas áreas de funcionamento, que o programa do PEI pode proporcionar
através dos seus exercícios, na contribuição para a reabilitação do paciente.
No processo de reabilitação, a avaliação é muito significativa, estabelecendo o perfil
das funções comprometidas e preservadas do paciente, bem como do seu nível de
funcionamento.
Acreditamos na reabilitação das funções cognitivas deficientes com a utilização desse
programa, pois além de trabalhar as funções neuropsicológicas, ele proporciona a elevação da
autoestima, da autoconfiança, a partir do momento que o terapeuta (mediador) der o feedback
mais específico sobre suas respostas na obtenção da proposta. Isso ajuda o mediado a romper
determinadas barreiras e lidar com tarefas de forma menos defensiva, mais propenso a arriscar
e criar mais hipóteses na solução de problemas.
Concluímos que o PEI é um programa inovador nesse processo, que pode ser utilizado
para reabilitar pacientes com dificuldades cognitivas, porque diante de seus vinte e um
instrumentos o terapeuta tem possibilidades de muitas escolhas de trabalho.
As intervenções são baseadas em técnicas e procedimentos específicos, podendo
atingir e/ou propiciar a reabilitação das principais funções neuropsicológicas, aplicados a
metas pertinentes a cada paciente e às suas dificuldades, facilitando a inserção ou reinserção
do mesmo na comunidade, quando possível, ou ainda, a adaptação individual e familiar,
quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes. A ação do
terapeuta leva o mediado para novos níveis de funcionamento cognitivo, excedendo as suas
capacidades iniciais, modificando-as de forma prospectiva.
Compreendendo a organização neuropsicológica da cognição, com base em Luria,
torna-se assim um paradigma fundamental da reabilitação; com a finalidade da compensação
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e o enriquecimento do potencial habilitativo de indivíduos portadores de desigualdades
sociais, de dificuldades, perturbações, transtornos e desordens psicológicas de aprendizagem.
4. Referências bibliográficas
Belmonte, L.T. (2000). El perfil del professor mediador: aportaciones del programa de
enriquecimiento instrumental (PEI) al estilo de interacción en el aula. Tese de Doutorado.
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de tese e dissertação no World Wide Web: http://www.teses.usp.br/teses/
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prática. São Paulo: Artes Medicas.
Silva, M.C. (2006). Feurstein e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Retirado
em 07/01/2008 no World Wide Web: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/
A0276.pdf./.
- R.C.R. Corrêa é Psicomotricista e Neuropsicóloga Clínica. Habilitada em The Learning
Potencial Assessment Device pelo The Internacional Center for the Enhancement oh
Learning Potencial – ICELP. Jerusalém/ Israel. Atua como Professora do Programa de Pós-
Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial (Universo, PE). E-mail:
robertapsicom@hotmail.com.
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Reabilitação neuropsicológica

  • 1. 47 Uma proposta de reabilitação neuropsicológica através do programa de enriquecimento instrumental (PEI) A proposal for neuropsychological rehabilitation through the program of instrumental enrichment (FIE) Roberta Claro Romão Corrêa Programa de Pós-Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial, Universidade Salgado de Oliveira (Universo), Recife, Pernambuco, Brasil Resumo Existe hoje, no Brasil, uma incidência grande de pessoas com disfunções cognitivas como memória, atenção e linguagem mal desenvolvidas, que necessitam de um programa de reabilitação para minimizar seus déficits. A reabilitação neuropsicológica objetiva intervenções junto ao paciente e familiares visando à melhora e/ou superação das dificuldades, no plano cognitivo e comportamental dos mesmos, baseadas em técnicas especificas, facilitando a inserção na comunidade. O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é um sistema de intervenção constituído a partir de instrumentos para melhorar o funcionamento das funções cognitivas. Nosso objetivo é propor o PEI como um programa de reabilitação neuropsicológica. Acreditamos na relevância desse trabalho como uma opção de programa de reabilitação neuropsicológica, que se propõe à reorganização das funções neuropsicológicas na ação mediada pelo terapeuta, através dos instrumentos do PEI. © Cien. Cogn. 2009; Vol. 14 (2): 047-058. Palavras-chave: reabilitação neuropsicológica; Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI); experiência de aprendizagem mediada. Abstract There is today in Brazil, a great incidence of people with cognitive disfunctions such as underdeveloped memory, attention and language, who need a rehabilitation program to minimize their deficits. The neuropsychological rehabilitation consists of interventions onto the patient and family, aiming at the improvement and overcoming difficulties, in the cognitive and behavioral plan, based on specific techniques, facilitating community acceptance. Feuerstein’s Instrumental Enrichment Program (FIE) is an intervention system basically elaborated on instruments, to improve the functional side of the cognitive functions. Our goal is to propose FIE as a rehabilitation neuropsychological program. We believe in the relevance of this work as an option to neuropsychological rehabilitation, with the reorganization of the neuropsychological functions in the action mediated by the therapist, through FIE's Instruments. © Cien. Cogn. 2009; Vol. 14 (2): 047-058. Keywords: neuropsychological rehabilitation; Feuerstein’s Instrumental Enrichment Program (FIE); experience of mediated learning. Artigo Científico Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 2. 48 1. Introdução Reuven Feuerstein criou a teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), que estabelece o mediador humano (terapeuta) como facilitador para trabalhar os processos cognitivos do mediado (paciente). O objetivo da intervenção mediada é promover a modificabilidade cognitiva através do desenvolvimento dos processos cognitivos. O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), desenvolvido em 1980 com base na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), pelo psicólogo Reuven Feuerstein, é atualmente considerado um dos programas mais inovadores e promissores no contexto da reabilitação, utilizado para modificar e majorar a estrutura cognitiva do indivíduo e transformá-lo em um pensador autônomo e independente. Fundamentada nos conceitos da psicologia cognitiva, da neuropsicologia, do processamento de informação e das abordagens contextuais do desenvolvimento cognitivo, a teoria visa à intervenção junto ao indivíduo, pela mediação, promovendo a modificabilidade cognitiva através do desenvolvimento dos processos cognitivos tais como atenção, memória, percepção, linguagem, memória, praxias e funções executivas. Segundo a teoria, o sujeito passa a participar de seu processo de reabilitação de forma ativa, ou seja, como processador e transformador da informação, propiciando a modificabilidade cognitiva. Para expressar o conceito de mediação da aprendizagem, Feuerstein utiliza a fórmula S-H-O-R, respectivamente, S (estímulo externo); H (mediador Humano); O (organismo humano); R (resposta que o organismo emite após a interação e elaboração da informação). Feuerstein partiu da análise do esquema proposto por Piaget para explicar o ato de aprender. Para Piaget, esse ato é decorrente da interação estímulo-organismo-resposta: SS –– OO –– RR.. Esse modelo S – O – R não era suficiente para Feuerstein, para a aprendizagem efetiva da criança. Ele acrescentou, ao modelo de Piaget, a função do mediador humano, que ele identificou como H, no seu esquema: S – H – O – H – R. (Cruz 2007) A Experiência de Aprendizagem Mediada é uma interação na qual o terapeuta se situa entre o organismo do indivíduo mediatizado (paciente) e os estímulos (sinais, objetos, imagens, problemas, eventos) de forma a selecioná-los, mudá-los, ampliá-los utilizando estratégias interativas para produzir significado para além das necessidades imediatas da situação. Os instrumentos do PEI potencializam o mediador (terapeuta) intervir ativamente no processo de reabilitação do sujeito; para tal, faz-se necessário entender como as informações são captadas, elaboradas e operacionalizadas na mente do mediado. Para isso, contaremos com os relatos de Luria. A característica essencial desta abordagem é o fato de estar direcionada não apenas para a remediação de comportamentos e habilidades, como também para uma mudança de estrutura mental, o que modifica o desenvolvimento cognitivo, a metodologia da mediação promove o desenvolvimento dos processos mentais, visando uma aprendizagem significativa. (Belmonte, 2000) Complementando, Feuerstein (1998), acrescenta que a modificabilidade cognitiva estrutural refere-se ao desenvolvimento e ampliação das funções cognitivas e mudança no estado geral do indivíduo. Este instrumento é realizado através da mediação; intervenção do mediador ao passar as informações, superando problemas de abstração e complexidade da tarefa, e proporcionando ao sujeito a capacidade de corrigir funções cognitivas, objetivando tornar seu mediado um aprendiz independente, ocorrendo assim uma reciprocidade do mediado para o mediador (Da Ros, 2002). Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 3. 49 As funções cognitivas, objeto de estudo da neuropsicologia, são trabalhadas nos instrumentos do PEI, nos quais o processo é considerado tão importante quanto o produto e a produção do conhecimento, mais que a simples reprodução do instrumento. Desta maneira, este artigo tem como objetivo propor o PEI como reabilitação neuropsicológica, possibilitando intervenções que garantam o desenvolvimento do potencial cognitivo. 2. Fundamentação teórica 2.1. Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) O PEI destina-se a todas as pessoas, independentemente da idade, nível de escolaridade ou experiência profissional, que necessitem desenvolver seu potencial cognitivo. Aplica-se, especialmente, à desmotivação para o estudo, problemas de memória, baixo rendimento escolar e dificuldades de aprendizagem, hiperatividade, dificuldades de atenção, síndrome de Down, dificuldades de raciocínio e abstração, desordens perceptivas, entre outros. De acordo com Da Ros (1997), uma sessão de utilização do PEI prevê quatro etapas: (1) Introdução (5 a 10 minutos): os mediados devem obter uma percepção clara e precisa do problema; a intenção é mediar a tarefa; (2) Trabalho do paciente (20 a 25 minutos): o mediado executa as tarefas, e o mediador se preocupa em promover a sensação de competência e o otimismo; ameniza a frustração do indivíduo, assegurando o alto nível de sucesso na tarefa e preparando-o para enfrentar as dificuldades que poderão surgir. Como cita Belmonte (2003), deve-se assegurar a auto-estima, já que a intervenção do mediador tem como objetivo auxiliar a pessoa a solucionar problemas, através do uso efetivo de estratégias; (3) Discussão e desenvolvimento do insight (20 a 25 minutos): estimula-se o pensamento divergente, recapitulam-se conceitos e vocabulários, controla-se a impulsividade, promove-se a transcendência (fazer o paciente levar para sua vida cotidiana conceitos que estão sendo trabalhados no instrumento); a intenção é mediar as respostas; (4) Resumo da terapia (5 a 10 minutos): relembra-se o que aconteceu no decorrer da terapia, analisam-se as funções cognitivas trabalhadas e discutem-se as percepções das mudanças cognitivas do paciente. O mediador incentivará o mediado a descobrir e analisar os objetivos que ele pretende cumprir e as funções cognitivas que queira desenvolver ao selecionar, planejar e organizar a tarefa. Seu maior desafio é descobrir os processos de pensamentos que seus mediados (pacientes) realizam espontaneamente; diante desse conhecimento, elabora e apresenta os conteúdos, através de diversas modalidades do instrumento (verbal, escrito, pictórico, simbólico, esquemático e gráfico), de modo que o mediado possa contornar suas dificuldades, tornando as tarefas mais fáceis e superáveis (Sanchez, 1992). O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) desenvolve operações mentais como identificação, comparação, diferenciação, classificação, codificação-decodificação, raciocínio analógico, raciocínio transitivo, raciocínio hipotético, silogismo, lógica, representação mental, transformação mental, projeção de relações virtuais, análise-síntese, inferência lógica e pensamento divergente. O PEI é composto por vinte e um instrumentos, divididos em duas categorias: PEI Básico e PEI Standard. Neste artigo nos restringiremos essencialmente ao PEI Básico. Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 4. 50 1. O PEI Básico é voltado para crianças de 4 anos até 9 anos, idosos ou pessoas com necessidades especiais, possuindo uma série de sete instrumentos (Silva, 2006): a) Organização de Pontos: usando estímulos figurativos, o paciente desenha linhas para conectar os pontos que criam uma ordem e um significado na informação inicialmente desconecta, levando ao fechamento de formas, numa ordem crescente de complexidade. Este instrumento desenvolve a percepção, reduz o nível de impulsividade, instiga a curiosidade, flexibiliza as estruturas mentais e propicia o refletir sobre o próprio processo de pensamento. Operações mentais desenvolvidas: observação, comparação, avaliação, análise e síntese e utilização de estratégias. b) Da Unidade ao Grupo: este instrumento trabalha com o conceito de que o número é a representação mental de uma quantidade e que pode ser obtido por meio de diversas operações matemáticas. Desenvolve a capacidade de contagem, interioriza o conceito de unidade e de grupo, estimula a flexibilidade cognitiva, desenvolve a capacidade analítica (decomposição) e a sintética (composição). Operações mentais trabalhadas: identificação, comparação, diferenciação e classificação. c) Orientação Básica no Espaço: as tarefas deste instrumento colocam uma grande ênfase no vocabulário e conceitos relativos à orientação de objetos no espaço e a capacidade de relacionar um ou mais objetos espacialmente. Operações mentais: discriminação figura-fundo, identificação, raciocínio indutivo e dedutivo, categorização, percepção, orientação espacial e pensamento comparativo. d) Comparando e Descobrindo Absurdo: neste instrumento, a tarefa principal é descobrir e entender a natureza de um absurdo (uma incongruência) entre duas situações criando um estado de desequilíbrio na situação. Através do processo de observação, discriminação, comparação e classificação o paciente será capaz de identificar a relação que gerou o absurdo. Neste instrumento, trabalha-se o processo de indução porque requer a adoção de um comportamento organizado e planejado ao identificar as partes e buscar a relação entre as partes e conclusão do todo. Operações mentais trabalhadas: observação, análise, discriminação, classificação, investigação, comparação, interiorização, raciocínio indutivo e dedutivo. e) Identificando Emoções: através do processo de decodificação de expressões dos sentimentos, o mediado aprende como definir a natureza e a origem das emoções em vários contextos comportamentais/sociais. Operações mentais deste instrumento: identificação, diferenciação, comparação, raciocínio indutivo e dedutivo, observação, análise, nomeação e solução de problemas. f) Desde a Empatia à Ação: este instrumento utiliza atividades de analisar cenas e colocar-se no lugar do outro. As operações mentais são: identificação, diferenciação, comparação, classificação, análise e síntese, decodificação e codificação, representação Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 5. 51 mental, categorização, raciocínio analógico, raciocínio dedutivo e indutivo e pensamento seqüencial e inferencial. g) Três Canais de Atenção: é um instrumento que vivencia as diversas formas de processar cognitivamente uma mesma situação; a pessoa é levada a manipular, criar uma imagem mental e representá-la para, posteriormente, reconhecê-la graficamente. Operações mentais trabalhadas: representação mental, diferenciação das formas usando os atributos que foram internalizados através da manipulação, envolvendo a comparação, a síntese e a seriação. 2. O PEI Standard, voltado para populações acima de 9 anos de idade e adultos, possui uma série de quatorze instrumentos: Organização de Pontos; Orientação Espacial I, Comparações, Classificações, Percepção Analítica, Orientação Espacial II, Ilustrações, Progressões Numéricas, Relações Familiares, Instruções, Relações Temporais, Desenho de Padrões, Relações Transitivas e Silogismo. Através de exercícios com lápis e papel, estruturados em unidades de complexidade cognitiva crescente e de mediação, o paciente é levado a entender o seu processo mental, favorecendo a aprendizagem e a metacognição, possibilitando-lhe, assim, aprender a aprender e melhor utilizar seu potencial. No entanto, a organização, o conteúdo, o programa e a duração dependem das características da população alvo e dos objetivos específicos pretendidos. No PEI Básico, os instrumentos não necessitam serem utilizados de maneira ordenada, portanto o terapeuta tem a flexibilidade na escolha dos instrumentos, de acordo com as necessidades do seu paciente. 2.2. A neuropsicologia Segundo Bueno e colaboradores (2004), a Neuropsicologia é uma interface ou aplicação da psicologia e da neurologia nas relações entre o cérebro e o comportamento humano, constituindo uma área da Neurociência, procurando compreender as relações existentes da organização e do funcionamento do sistema nervoso central. Segundo Luria e colaboradores (2001), a neuropsicologia envolve o estudo das relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento. A Neuropsicologia tem como objetivo a relação entre o funcionamento cerebral e as funções cognitivas, tais como atenção, memória, percepção, praxia, linguagem, funções executivas etc. O funcionamento neuropsicológico é o conjunto de todas as funções cognitivas interdependentes para o funcionamento adequado do indivíduo. Quando uma das funções cognitivas se encontra deficiente, consequentemente há um comprometimento das outras funções, desencadeando uma disfunção neuropsicológica, necessitando-se assim de reabilitação neuropsicológica. Para Fonseca (2005), a cognição ou processos cognitivos que dão sustentação ao pensamento são modos e estratégias de processamento da informação, são dispositivos potenciais de adaptação e de pensamento lógico que podem ser aprendidos. Neste artigo, citaremos alguns processos cognitivos estudados pela neuropsicologia utilizados pela aplicação do PEI, tais como: 1) Atenção: processo mental por meio do qual o indivíduo seleciona, mantém e integra certos estímulos e ignora outros. Compreende essencialmente três componentes: alerta Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 6. 52 (manutenção ou sustentação face aos estímulos, envolvendo a postura e o sentido de orientação face ao mundo exterior), seletividade (focagem de uns aspectos e exclusão de outros) e processamento (tratamento de estímulos simultânea ou sequencialmente). Bueno e colaboradores (2004) relatam também que para um organismo aprender, ele deve ser capaz de perceber os estímulos ambientais, realizar associações entre os estímulos e arquivar informações relevantes. Para haver associação de estímulos é necessário discriminar diferenças entre eles e para arquivar as informações, é necessário decodificar e destinar a informação em uma ou mais áreas cerebrais. 2) Linguagem: capacidade de expressar sentimentos e pensamentos por meio de símbolos falados ou escritos. A fala, enquanto manifestação da prática oral, é adquirida de forma espontânea em contextos informais do dia-a-dia e nas relações dialógicas que ocorrem desde os primeiros meses de vida de uma criança. Ao contrário do que ocorre com a fala, a escrita depende de um treinamento formal, assumindo, em algumas circunstâncias, caráter de prestígio e superioridade. A linguagem escrita é regida por convenções e normas ditadas pela gramática tradicional e por regras funcionais. Contudo, esta mesma gramática encontra-se à disposição da linguagem oral. É incoerente, portanto, estabelecer um grau de superioridade da linguagem escrita sobre a linguagem oral ou vice-versa. 3) Funções Executivas: segundo Bueno e colaboradores (2004), são processos que permitem focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar funções cognitivas, emoções e comportamento. As funções executivas permitem ao indivíduo interagir no mundo de maneira intencional e envolvem a formulação de um plano de ação, baseado em experiências prévias e demandas atuais do ambiente. Englobam as seguintes capacidades: gerar intenções, iniciar ações, selecionar alvos, inibir estímulos distratores, planejar e prever meios de resolver problemas complexos, antecipar consequências, mudar a estratégia de forma flexível, quando necessário, monitorar o comportamento a cada etapa e avaliar o sucesso ou insucesso de nossas ações em relação aos objetivos. 4) Praxias: movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um fim ou de um resultado determinado. Não se trata de um movimento reflexo, nem automático, e sim voluntário, consciente e organizado, envolvendo planejamento cortical e um sistema de autorregulação frontal. Realizações perfeitas, econômicas, eficazes, sequencializadas e melódicas de comportamentos motores aprendidos (exemplos: gestos, manuseio de instrumentos e objetos) decorrem da integração dos processos superiores de planificação, regulação e execução motora. (Fonseca, 2005) 5) Percepção: processo de organização e interpretação dos dados do mundo exterior e do mundo interior que são obtidos através dos sentidos. A sua perturbação pode evocar dificuldades não só na exteroceptividade (fraca discriminação, análise e retenção visual, espaço ou auditiva-tempo e ritmo), como na proprioceptiva (problemas posturais, táteis, sinestésicos, gnósicos e práxicos). 6) Memória em termos elementares compreende a capacidade de reter, conservar ou armazenar a experiência (informação) anterior. Mesmo quando o estímulo não se encontra presente, a memória permite a evoção ou recuperação de uma possível resposta; os vários modelos de memória que têm sido apresentados por autores atuais consideram a memória como multidimensional e multifacetada. (Sánchez, 2004) Quanto mais significativa a informação, mais solidamente pode ser reutilizada. A maneira como a informação foi processada, ativada, controlada e regulada pelo Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 7. 53 indivíduo determina a qualidade das funções da memória; caso a informação seja perdida, afetará, consequentemente, a aprendizagem. Em todos os instrumentos do PEI são trabalhados os processos cognitivos citados acima, favorecendo-se, portanto, o desenvolvimento dessas funções, tornando uma experiência de aprendizagem significativa para o paciente. 2.3. Reabilitação neuropsicológica A reabilitação neuropsicológica tem como objetivo minimizar as funções cognitivas deficientes, no aspecto físico, psicológico e sócio-adaptativo, através de diversas técnicas e estratégias, levando em conta a plasticidade neuronal e, essencialmente, as possibilidades do paciente. Tem-se como objetivo principal, uma atividade dinâmica para a readaptação do indivíduo ao seu meio ambiente. (Santos e Abrisqueta-Gomez, 2006) A reabilitação neuropsicológica vai além da reabilitação cognitiva; ela é mais abrangente. A reabilitação cognitiva ocupa-se especificamente do tratamento das funções cognitivas (atenção, memória, percepção, compreensão etc.) e tem como objetivo promover uma melhora do desempenho em tarefas que demandam funções cerebrais determinadas. A reabilitação neuropsicológica, além de visar à melhora cognitiva, visa a corrigir, maximizar as aprendizagens e reaprendizagens das habilidades cognitivas de forma que os pacientes encontrem meios adequados e alternativos para alcançar metas funcionais específicas a fim de diminuir ou sanar as funções afetadas. Prioriza o indivíduo como um todo e sua qualidade de vida, pois inclui problemas emocionais e comportamentais, fazendo com que o paciente se reintegre ao ambiente social, escolar e de trabalho de maneira mais adequada possível; atua além do consultório, com o objetivo de facilitar o desempenho em tarefas que requerem habilidades cognitivas (Gil, 2005). O primeiro passo é realizar uma avaliação neuropsicológica para se mensurar os prejuízos cognitivos e as funções intactas. Basicamente, a bateria de testes avalia um conjunto de habilidades e competências cognitivas, tais como orientação espaço-temporal, raciocínio, atenção, aprendizagem, memória verbal, visual, curto e longo prazo, funções executivas, linguagem, organização visuoespacial, funções perceptuais e motoras. A importância da avaliação neuropsicológica não se limita à apresentação de diagnóstico e prognóstico, mas também está em direcionar o processo de reabilitação cognitiva. Permite obter a inferência das características estruturais e funcionais do cérebro e do comportamento em situação de estímulo e resposta definidas, formular, planejar e executar estratégias as quais compõem o plano de reabilitação neuropsicológica. E no final do processo de reabilitação neuropsicológica, realiza-se uma avaliação dos resultados obtidos para verificar se houve eficácia da intervenção, através dos relatos subjetivos, do desempenho efetivo nas tarefas e do comportamento cotidiano alcançado. Existem várias maneiras de se planejar um programa de reabilitação eficiente. É importante informar o paciente de que nem sempre é possível restaurar a função cognitiva prejudicada, mas é possível compensá-la, encontrando maneiras de minimizar os problemas do cotidiano. Um programa de reabilitação neuropsicológica deve ser individualmente elaborado e organizado adequadamente à situação de aprendizagem e performance do paciente; revisto durante o tratamento e, se necessário, modificado, pois o curso clínico se modifica tanto pela recuperação quanto pelo desenvolvimento dos processos de maturação do cérebro e dos fenômenos da plasticidade neuronal. Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 8. 54 O planejamento das atividades de reabilitação neuropsicológica necessita da definição dos objetivos específicos (a curto ou longo prazo), estabelecimento de metas a serem alcançadas e uma avaliação sistemática dos resultados obtidos. Os programas de reabilitação envolvem a estimulação de processos metacognitivos associados ao treino de funções cognitivas específicas. A metacognição é uma capacidade individual de automonitoramento em tarefas cognitivas ou aprendizagens. Durante o processo de reabilitação, é importante que ocorram intervenções com o paciente, com técnicas cognitivas específicas para treino de atenção, de memória, de estratégias metacognitivas, de habilidades visuo-perceptuais (treinos visual, auditivo, sinestésico) e visuo-construtivas. A intervenção com a família objetiva esclarecimentos sobre o quadro/diagnóstico (habilidades e dificuldades, problemas de comportamento), orientações para auxiliar a generalização das aquisições no ambiente doméstico (organização do ambiente, métodos de trabalho com o paciente em casa). As intervenções com a escola têm por finalidade obter esclarecimentos, discutir métodos e estratégias de ensino e currículo adaptado; além de visitas ao ambiente escolar visando às modificações no ambiente, se necessárias. (Bueno et al., 2004) É importante que o paciente compreenda que o tratamento não é um fim em si mesmo. Cabe ao terapeuta o reforço do comportamento cognitivo aprendido e de novos que levem o paciente a refletir sobre seu aprendizado, a fim de melhorar seu autocontrole e autogerenciamento na vida diária, aprendendo a lidar melhor com seus déficits neuropsicológicos. Propomos, como um novo programa de reabilitação neuropsicológica inovadora para desempenho das habilidades metacognitivas, o PEI (Programa de Enriquecimento Instrumental). A possibilidade do uso desse programa no processo de reabilitação ocorre quando se detecta dificuldade para organizar e utilizar, de forma eficiente, suas capacidades/habilidades cognitivas, apresentando alterações de atenção, de planejamento, impulsividade, perseveração e rigidez, além da generalização na aprendizagem. Os instrumentos do PEI centram-se em todas as funções cognitivas. A experiência de aprendizagem mediada, fundamentada na teoria luriana dos sistemas funcionais, sugere dentro do contexto neuropsicológico estágios evolutivos fundamentais, organizados para compreender a ontogênese da aprendizagem. Podemos estabelecer uma analogia com o modelo funcional de Luria e os instrumentos do PEI. Para Luria, a cognição depende da participação sincronizada das três unidades funcionais, cada uma delas numa estrutura hierárquica: áreas primárias ou de projeção, áreas secundárias ou de associações e áreas terciárias. Segundo o pensamento luriano, cada área pode operar unicamente em conjunção com outras áreas, a fim de produzir comportamentos – escrever ou falar, por exemplo. Portanto, nenhuma área do cérebro pode ser considerada como a única responsável por qualquer comportamento humano voluntário ou superior, exatamente porque o desempenho ou a realização de funções se fundamenta numa interação dinâmica e sistêmica de muitas áreas. Esta perspectiva não se baseia numa abordagem lesional fixa e imutável, mas numa abordagem dinâmica suscetível de modificabilidade neurofuncional sustentada numa perspectiva da plasticidade cerebral. Quanto maior a complexidade das ações causadas pelo cérebro, maior a necessidade de novos processamentos. (Damásio, 2006). Por mais essa constatação, verificamos a importância da utilização do programa do PEI na reabilitação neuropsicológica, reforçando o enriquecimento cognitivo, não só aumentando a unidade de atenção, implementando as Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 9. 55 estratégias de experiência mediada, mas também implementando uma estratégia de processamento informativo. O modelo de input - elaboração – output de informação proposto por Feuerstein pode ser sintetizado nos seguintes processos funcionais similares à perspectiva de Luria e com os instrumentos do PEI (Fonseca, 2007): Input: Ativação, atenção e percepção (primeira unidade de Luria); responsáveis pela modelação do alerta cortical, pelas funções de sobrevivência, pela vigilância tônico-postual e pela filtragem e integração dos inputs sensoriais. Instrumentos do PEI que trabalham com o Input: organização dos pontos básicos, organização dos pontos, orientação espacial básica, orientação espacial I e II comparações, percepção analítica, classificações e ilustrações. Elaboração: Integração, retenção, processamento de dados, processamento simbólico e motor (segunda unidade de Luria). Esta área é responsável pela análise, síntese, retenção e integração da informação intrasensorial especifica, recebida na primeira área, com bases em processos perceptivos sequenciais já especializados hemisfericamente. Abrange um número de unidades de informações que podem ser processadas e manipuladas simultaneamente. Instrumentos do PEI que trabalham com Elaboração: relações familiares, relações temporais, progressões numéricas e instruções, identificando emoções, comparando e descobrindo absurdo, da empatia à ação. Output: Planificação, conscientização do processo, monitorização, predição de consequências, avaliação de resultados, tomada de decisões, processos de prestação, verificação e preparação da resposta e integração de efeitos da ação. Respostas certas e justificadas marcam a capacidade do indivíduo de expor, de forma clara e precisa, como executou determinada tarefa, explicando de maneira ordenada os passos do seu raciocínio. Consistindo no lobo frontal, que representa o nível mais elaborado de desenvolvimento do cérebro humano (terceira unidade de Luria). Instrumentos do PEI que trabalham com Output: silogismo, relações transitivas, sobreposições de padrões, três canais de atenção e da unidade ao grupo. Assim, o PEI pode ser usado como um instrumento terapêutico em muitos casos de distúrbios ou lesões neurológicas, tais como Síndrome de Down, TDHA, dificuldades de aprendizagem etc., porque as disfunções cognitivas não se encontram necessariamente associadas com lesões em áreas corticais particulares, mas tendem a serem sensíveis ao efeito de uma lesão cerebral, independente de sua localização. Quando usado com rigor neuropsicológico e clínico, baseado nas necessidades específicas e nos perfis neuropsicológicos dos indivíduos, o PEI pode ajudar fortemente nesta organização sistêmica e no seu desenvolvimento funcional, porque o PEI reflete uma modificação progressiva e qualitativa. (Fonseca, 2005) Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 10. 56 Como exemplo, podemos citar o instrumento Três Canais de Atenção, do PEI Básico, que foi criado para trabalhar déficits de atenção, impulsividade e déficits nos níveis de input (captação) e elaboração de informações. Este instrumento é composto de uma caixa de papelão vazia com uma abertura nas duas laterais que permite o paciente colocar as mãos para manipulação tátil. A face superior da caixa é aberta para permitir ao mediador observar o processo de exploração, mediando o paciente a conduzir uma resposta mais precisa do mediado. As formas geométricas vão sendo apresentadas uma a uma, para o paciente explorar as características das peças, através da manipulação tátil, e reconhecer as diferentes formas (quadrado, triângulo, polígonos variados, formas segmentadas irregulares) iniciando das formas mais simples para as mais complexas. É importante salientar que, conforme o trabalho vai sendo realizado, o paciente vai adquirindo melhor habilidade nas formas mais complexas. Inicialmente, através da percepção tátil, o objetivo da mediação nessa série é formar um processo para a exploração tátil e usar essa exploração para construir as imagens mentais internalizadas que serão graficamente e visualmente reforçadas nas próximas etapas. Os conceitos podem ser formulados usando tanto o conteúdo (a natureza das formas geométricas) quanto o processo (como a aprendizagem ocorre). O paciente deve manter a atenção aos atributos essenciais das formas, movendo as mãos e os dedos, para explorar as dimensões das formas (praxias) e descrever verbalmente nomeando os atributos que está experimentando tatilmente. Deve-se orientar o paciente a segurar a figura entre o polegar e o dedo indicador na posição vertical, de forma que cada peça possa ser registrada mentalmente enquanto o paciente explora tatilmente. Na segunda etapa, o paciente faz um desenho do que foi reconhecido através da exploração tátil. O indivíduo pode realizar mais de um desenho, até que seja o mais preciso possível, nos detalhes e tamanho da forma explorada, através da mediação do terapeuta. A terceira etapa é o reconhecimento visual da forma geométrica. É mostrado ao mediado uma página (folha) do instrumento, que apresenta variações das formas que foram exploradas, com o objetivo que ele identifique, entre outros desenhos de formas geométricas, qual ele explorou, confirmando se o indivíduo conseguiu, através da representação mental adquirida pela manipulação do instrumento. A diferenciação das formas requer discriminação e eliminação das formas diferentes. Cada forma geométrica deve ser explorada bem, nos três canais (manipulação, reprodução e reconhecimento) para depois ser passada para outra figura. O mediador pode tanto avançar séries quanto voltar às anteriores, sendo flexível e criativo para responder as necessidades do mediado e do desenvolvimento cognitivo, ajudando a criança a explorar e a observar como está realizando as propostas. As formas combinam os elementos familiares que foram percebidos e os elementos novos que devem ser identificados e registrados. As formas que se assemelham a objetos familiares (escada, estrela, chave...), ajudam o paciente a nomeá- las. As formas geométricas foram construídas de uma madeira fina, dando oportunidade para serem exploradas com as mãos e os dedos. São levemente ásperas nas bordas e na superfície o material é plano, com o propósito de favorecer uma resposta do objeto em questão, através de reconhecimento tátil, totalizando 26 formas geométricas. Os objetivos específicos desse instrumento são a focalização, usando estímulos abstratos que devem ser percebidos em diferentes maneiras para depois ser integrado; a exploração, usando as modalidades táteis e motoras e a construção de conceitos, usando a Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 11. 57 mediação verbal baseado nas informações recolhidas e assimiladas através do tato, necessitando neste momento evocar a memória. 3. Conclusão O Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) é um sistema estruturado de intervenção, cujo objetivo amplo é modificar a estrutura cognitiva do indivíduo. É dentro do contexto de reabilitação neuropsicológica que propomos um novo programa de reabilitação, através do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), com base na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada (EAM), criada pelo Reuven Feuerstein, ajudando a reabilitar os indivíduos com funções cognitivas comprometidas. Os indivíduos mediados desenvolvem maior capacidade de soluções de estratégias para tarefas de aprendizagem nova e inédita. O terapeuta ajuda a criar condições ou modelos explicativos das suas experiências que servem para organizar observações e testar a aplicabilidade dessas regras numa variedade de circunstâncias. O Programa inibe a impulsividade de respostas distráteis e emocionalmente desreguladas. Além disso, possibilita a organização antecipada e planificada das condutas; a antevisão de vários cenários; a dialética da avaliação das vantagens e inconvenientes das situações; a amplitude do campo mental; a capacidade em considerar as varias facetas de um problema; a seleção precisa de dados; a indução e educação de relações; o recurso à evidencia lógica; a aplicação de procedimentos de raciocínio inferencial; a projeção de relações virtuais; a adoção de diversas estratégias cognitivas e metacognitivas de resolução de problemas; e o controle moral e ético das condutas dos projetos. Este tipo de tratamento enfoca habilidades como: atenção, memória, velocidade de pensamento, percepção, habilidades de resolução de problemas, linguagem e automonitoramento através da utilização de tarefas terapêuticas desenhadas especificamente para melhorar essas áreas de funcionamento, que o programa do PEI pode proporcionar através dos seus exercícios, na contribuição para a reabilitação do paciente. No processo de reabilitação, a avaliação é muito significativa, estabelecendo o perfil das funções comprometidas e preservadas do paciente, bem como do seu nível de funcionamento. Acreditamos na reabilitação das funções cognitivas deficientes com a utilização desse programa, pois além de trabalhar as funções neuropsicológicas, ele proporciona a elevação da autoestima, da autoconfiança, a partir do momento que o terapeuta (mediador) der o feedback mais específico sobre suas respostas na obtenção da proposta. Isso ajuda o mediado a romper determinadas barreiras e lidar com tarefas de forma menos defensiva, mais propenso a arriscar e criar mais hipóteses na solução de problemas. Concluímos que o PEI é um programa inovador nesse processo, que pode ser utilizado para reabilitar pacientes com dificuldades cognitivas, porque diante de seus vinte e um instrumentos o terapeuta tem possibilidades de muitas escolhas de trabalho. As intervenções são baseadas em técnicas e procedimentos específicos, podendo atingir e/ou propiciar a reabilitação das principais funções neuropsicológicas, aplicados a metas pertinentes a cada paciente e às suas dificuldades, facilitando a inserção ou reinserção do mesmo na comunidade, quando possível, ou ainda, a adaptação individual e familiar, quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes. A ação do terapeuta leva o mediado para novos níveis de funcionamento cognitivo, excedendo as suas capacidades iniciais, modificando-as de forma prospectiva. Compreendendo a organização neuropsicológica da cognição, com base em Luria, torna-se assim um paradigma fundamental da reabilitação; com a finalidade da compensação Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009
  • 12. 58 e o enriquecimento do potencial habilitativo de indivíduos portadores de desigualdades sociais, de dificuldades, perturbações, transtornos e desordens psicológicas de aprendizagem. 4. Referências bibliográficas Belmonte, L.T. (2000). El perfil del professor mediador: aportaciones del programa de enriquecimiento instrumental (PEI) al estilo de interacción en el aula. Tese de Doutorado. Universidad Nacional de Educación a Distancia, Madrid, Espanha, ES. Belmonte, L.T. (2003). El perfil del profesor mediador. Madrid: Editorial Santillana. Bueno, O. F.; Santos, F.H. e Andrade, V.M. (2004). Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Medicas. Cruz, S.B. (2007). A teoria da modificabilidade cognitiva estrutural de Feuerstein. A aplicação do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) em estudantes da 3ª. série de escolas do ensino médio. Dezembro 2007, Retirado em 07/01/2008, na biblioteca digital de tese e dissertação no World Wide Web: http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/48/48134/tde-10122007-160413/. Damásio, A.R. (2006). O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano. São Paulo: Companhia das Letras. Da Ros, S.Z. (1997). Cultura e Mediação em Reuven Feuerstein - Relato de um trabalho pedagógico com adultos que apresentam história de deficiência. Tese de Doutorado, Programa de Estudos Pós-Graduação em Psicologia da educação, PUC de São Pulo, São Paulo, SP. Da Ros, S.Z. (2002). Pedagogia e mediação em Reuven Feuerstein. São Paulo: Plexus. Feurstein, R. (1998). Estilo de Interrogacion utilizado por el maestro de Enriquecimiento Instrumental. En desarrollo de habilidades cognitivas. Venezuela: Vol II. Universidad Pedagógica Experimental Libertador. Fonseca, V. (2005). Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Lisboa: Âncora. Fonseca, V. (2007). Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem. Rio de Janeiro: Editora Vozes. Gil, R. (2005). Neuropsicologia. São Paulo: Santos. Luria, A..; Vygostky, L.S. e Leontiev, A.N. (2001). Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone. Sánchez, G.J. (2004). Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção Psicopedagógica. São Paulo: Artmed. Sánchez, M.D.P. (1992). La Modificabilidad Estrutural Cognitiva yel Programa de Enriquecimiento Instrumental (P.E.I). Madrid: Bruno. Santos, F.H. e Abrisqueta-Gomez, J. (2006). Reabilitação Neuropsicológica da teoria à prática. São Paulo: Artes Medicas. Silva, M.C. (2006). Feurstein e a Teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural. Retirado em 07/01/2008 no World Wide Web: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/ A0276.pdf./. - R.C.R. Corrêa é Psicomotricista e Neuropsicóloga Clínica. Habilitada em The Learning Potencial Assessment Device pelo The Internacional Center for the Enhancement oh Learning Potencial – ICELP. Jerusalém/ Israel. Atua como Professora do Programa de Pós- Graduação em Psicopedagogia e Educação Especial (Universo, PE). E-mail: robertapsicom@hotmail.com. Ciências & Cognição 2009; Vol 14 (2): 047-058 <http://www.cienciasecognicao.org> © Ciências & Cognição Submetido em 20/03/2008 | Aceito em 13/07/2009 | ISSN 1806-5821 – Publicado on line em 31 de julho de 2009