O documento descreve a carreira do bailarino e coreógrafo russo Vladimir Vasiliev, de 74 anos, que está no Brasil acompanhando os ensaios e a estreia de uma montagem de "O Quebra-Nozes" na Escola Bolshoi no Brasil. Ele é considerado uma lenda do balé russo e foi diretor do Balé Bolshoi por muitos anos, ajudando a preservar as tradições clássicas. A remontagem de "O Quebra-Nozes" em Joinville marca o retorno de Vasiliev ao Bras
1. Mais. Entrevista
com Luiz Gustavo
Madubuike
Com coreografia original de
Marius Petipa e Lev Ivanov, O
Quebra-nozes é uma das obras
clássicas mais famosas e ence-
nadas em todo o mundo.
Tchaikovsky é o responsá-
vel pela música do balé apre-
sentado pela primeira vez em
dezembro de 1892 no Teatro
Mariinsky, em São Petersbur-
go, na Rússia.
A versão assinada por Vladi-
mir Vasiliev tem como base a
adaptação do russo Vasily Vai-
nonen, de 1934. A história co-
meça na casa da família alemã
Stahlbaum. É Natal, e a meni-
na Masha (chamada Clara em
grande parte das remonta-
gens) ganha do padrinho Dros-
selmeyer um boneco quebra-
nozes. Ela fica encantada pe-
lo presente que é rapidamen-
te destruído por seu irmão.
Após o fim da festa, Masha
adormece. Tem início um so-
nho fantástico em que o que-
bra-nozes ganha vida, luta
contra o Rei dos Ratos, se
transforma em príncipe e le-
va a menina por um passeio
pelo Reino dos Doces.
estadao.com.br/e/bolshoi
Cinema Bienal
Dança
PARAENTENDER
NA WEB
DIVULGAÇÃO
A antropologia
da face gloriosa
de Yuri Firmeza
CLEBER GOMES/DIVULGAÇÃO
BolshoiganharemontagemdeVasiliev
Aos 74 anos, estrela russa acompanha em Joinville ensaios e estreia de ‘O Quebra-nozes’ que fez para escola no Brasil
Artista expõe ‘Nada É’,
que foi destaque
na seleção
da Semana dos
Realizadores, no Rio Festa do Divino. Na cena, imperador-menino é coroado
Balé estreou
em 1892
Luiz Carlos Merten
Tudoocorreumuitorapidamen-
te. Curadores da Bienal de São
Pauloforam a Fortaleza encon-
trar-se com artistas locais. Vi-
ram material – fotos – de uma
mostra que Yuri Firmeza havia
feitoemNovaYorkeocomissio-
narampara umtrabalhonaBie-
nal. Yuri conseguiu copatrocí-
nio do Banco do Nordeste e
comuma equipefoiparaAlcân-
tara, no Maranhão. Durante 15
diasacompanhouaFestadoDi-
vino, depois, mais um mês de
ediçãoemixagemdesom.Toda
essa história começou em abril
e o resultado está na Bienal.
Aqui,não deixa de serumavi-
deoinstalação. Foi construído
um simulacro de cinema, num
espaço de 8 por 9 metros, com
som 5.1, em que o público pode
veremlooping,continuamente,
NadaÉ.NoRio,integrandoase-
leção da Semana dos Realizado-
res, Nada É teve sessão especial
no fim de semana. Na vertente
da Mostra Aurora, em Tiraden-
tes,aSemana,idealizadaporLis
Kogan – e com curadoria de Da-
niel Queiroz e dela –, abre uma
janela para o cinema autoral, de
invenção,quetendeasermargi-
nalizado pelo ‘mercado’. Um
dosdiretores,apresentandoseu
filme,dissequetinhaasensação
deestarnumoásis,comparando
o cinema brasileiro a um deser-
to.Nanoitedessedeserto,Nada
Éfulguroucomo um cometa.
Talvez a experiência de ver o
filme na imersão do cinema te-
nhaajudadonodeslumbramen-
to. Na Bienal, embora impecá-
velcomosomeimagem,NadaÉ
passa sem créditos – iniciais
nem finais – e espectadores já
disseram ao diretor que viram
umpouco do filme, saíram para
veroutrostrabalhosdoeventoe
voltaram para mais um pedaço.
“Agindo assim, eles fazem ou-
tro filme que não o meu em seu
imaginário”, avalia Yuri Firme-
za, e ele não se queixa. Acha o
procedimento intrigante.
Nada É tira seu título do que
disseaodiretorumahabitantede
Alcântara.Nacidademaranhen-
se, nada é – tudo foi ou será. No
século 19, a elite local construiu
palacetesàesperadoimperador
d. Pedro II, que prometeu, mas
nuncafoiàcidade.Beckett,Espe-
rando Godot. Os palácios vira-
ramruínas,queFirmezafotogra-
fou(emostrounosEUA).Opas-
sado, o que foi. O que será é o
futuroeAlcântaraabrigaumaba-
se de lançamento de satélites.
Yuri Firmeza mistura tudo. As
ruínas, os foguetes e a Festa do
Divino,duranteaqualécoroado
o imperador-menino, evocando
d.Pedroesuacorte.Comoartis-
ta visual acurado, o diretor cria
imagens belíssimas e trabalha o
tempo (da ciência e da religião)
comoeternidadeetranscendên-
cia. Alcântara abrigou quilom-
bos. Possui muitos descenden-
tes de quilombolas. Firmeza os
filma – cantando, dançando e
emestáticasolenidade,noculto
e na corte simulada. Como Ar-
thurOmar,elepropõesuaantro-
pologia da face gloriosa. Se es-
treassenoscinemas,NadaÉ,ape-
sar dos reduzidos 32 min, seria
umdosmaioresfilmes doano.
Juliana Ravelli
AhistóriadeVladimirVasilievé
de permanência. Enquanto ou-
trosbailarinossoviéticosdeser-
tavamparaoOcidente,elecon-
tinuou em Moscou como a
maior estrela do balé russo en-
treosanos1960e1980.Quando
a Rússia se democratizava e
reorganizava suas instituições,
em1995Vasilievassumiuadire-
çãodoBalletBolshoicomamis-
são de preservar as tradições e
trazer de volta a glória da com-
panhia cujo nome significa
“grande”. Hoje, aos 74 anos, ele
permanece, com o vigor pelo
qualsemprefoifamoso,devota-
do à arte: remonta e coreografa
baléspelomundoefomentano-
va geração de talentos.
OrussoestáemSantaCatari-
na desde o dia 17 para acompa-
nhar ensaios gerais e a estreia,
hoje,deOQuebra-nozesdaEsco-
la do Teatro Bolshoi no Brasil,
emJoinville.Eleassinaaremon-
tagem da obra, com música de
Tchaikovsky,tradicionalmente
apresentada no fim do ano.
Vasilievésobrenomedomes-
mo peso de Nureyev e Barysh-
nikov. Mas, talvez por ter fica-
donoOriente,soemenosfami-
liar ao grande público. “Nunca
pensamos em deixar nosso
país,nossapátria”,disseemen-
trevista ao Estado, se referin-
do também a sua mulher, Eka-
terina Maximova (1939-2009),
outra estrela do Bolshoi. “Ela
foi a minha vida.”
Consideradospormuitoscrí-
ticos o melhor casal da dança
clássica de todos os tempos,
VasilieveMaximovajáseapre-
sentaramemumpalcobrasilei-
rocomoconvidados,justamen-
te nos papéis principais de O
Quebra-nozes. O espetáculo
aconteceu em 1980 e foi uma
produçãodoBaléTeatroGuaí-
ra, de Curitiba, Paraná.
Daocasião,orussoserecorda
de um episódio. “Maximova ti-
nha dor de dente e fizeram um
tratamento na noite anterior
(aoespetáculo).Haviaumdentis-
tamuitobom.Diziamqueem15
minutos ele iria arrumar tudo.
Eleficouduashorasemeiacom
elaeestava todosuado(quando
terminou). No outro dia, possi-
velmente ainda como efeito do
tratamento, Maximova dizia
queopalcoestavabalançando.”
O retorno. Décadas depois, a
misturadeOQuebra-nozeseBra-
silvoltaàvidadeVasiliev.Ocon-
to natalino não é a primeira re-
montagem que ele faz de uma
obra clássica para o Bolshoi da-
qui, escola da qual é patrono
fundador.Antes,jáhaviarecria-
do Dom Quixote e Giselle.
Aproduçãoincluicercade80
bailarinos, entre alunos e pro-
fessores da instituição, que
completará 15 anos em 2015. A
apresentação será no Centre-
ventos Cau Hansen – palco do
FestivaldeDançadeJoinville–,
com capacidade para receber 4
mil pessoas. Os ingressos, que
custam de R$ 1 a R$ 20, estão
esgotados desde o dia 18.
Vladimir Vasiliev conta que
quis criar uma versão que con-
templasse a tradição sem igno-
rarasmudançaspelasquaisaar-
te passa. “Os corpos vivos são a
base da arte teatral. E eles se
transformam permanentemen-
te. Então, obrigatoriamente, o
tempo e as inovações na dança
moderna e contemporânea mu-
damastradiçõesmesmodadan-
çaclássica.Porisso,aténonosso
tradicionalQuebra-nozes,quees-
tamosfazendo,temosbailarinos
ecoreografiacontemporâneos.”
Também artista plástico, o
russoassinaocenáriodoespe-
táculo.“Desdeocomeçoapin-
turaestánaminhavida.Ointe-
ressante é que a primeira vez
que fiz algo para a cenografia
foi aqui em Joinville. Depois,
em vários espetáculos meus,
até mesmo na Rússia, já usei
essa experiência.”
Destavez,diferentementede
DomQuixoteeGiselle,astelasdo
artista ganharão vida por meio
de uma técnica chamada proje-
ção mapeada. As pinturas ani-
madas serão sincronizadas
com a música.
Orgulho. Vasiliev é um dos res-
ponsáveispela criaçãodaEsco-
ladoTeatroBolshoinoBrasil,a
única “filial” no mundo da res-
peitada matriz russa. O artista
era diretor do Bolshoi de Mos-
cou,nofimdosanos1990,quan-
do autorizou a criação da insti-
tuiçãoemSantaCatarina.“Des-
de o começo, meu sonho foi fa-
zer dessa escola a melhor do
mundo. Aos poucos, acredito
que ela vai ocupar esse lugar.”
Um dos principais desejos
do artista é que se concretize a
criação de um teatro, onde os
bailarinosqueseformamnaes-
cola poderão trabalhar. É o
que, em geral, ocorre nas gran-
des companhias de balé do
mundo, segundo Vasiliev. Em
2003,oarquitetoOscarNieme-
yer (1907- 2012) criou o proje-
to do Complexo Cultural Bol-
shoi Brasil, que ainda não tem
previsão para sair do papel.
Vasilievpertenceaumagera-
ção em que o virtuosismo e a
interpretaçãodeumpapel,alia-
dosàtécnica,erammaisimpor-
tantes do que a simples execu-
ção de movimentos aparente-
mente impossíveis para a pla-
teia.Aconvicçãodequeumbai-
larinoé,antesdetudo,umartis-
ta e não um atleta permanece
como um de seus princípios.
Por isso, ele também respei-
ta os artistas do País. “Penso
que os bailarinos brasileiros
são muito parecidos com os
russos. Os brasileiros também
dançam com o coração, senti-
mento, bom humor. Não estão
fazendo simplesmente exercí-
cios.Osbailarinosdasduasna-
ções realmente dançam.”
O mestre. Vladimir Vasiliev prepara algumas bailarinas para ‘O Quebra-nozes’, em Joinville
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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2014 Caderno 2 C5