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por José Gabriel Navarro
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Produções como Argo
e AHoraMaisEscura
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A HORA MAIS ESCURA i dia 6,sexta,22h,HBO,71 e 571 (HD)
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fotos:divulgação
5 4 +Mo­net+d ez embro d ez embro+ Mo­ne t+ 55
Assim é na política internacional, assim é no cinema. No sé-
culo passado, comunistas logo substituíram nazistas como vi-
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Argo ficou com Melhor Roteiro Adaptado, Melhor
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“O que me aborreceu [em Argo] foi a raiva e a des-
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o tempo todo”, afirma a escritora iraniana Sahar De-
lijani, nascida em 1983, mesmo ano em que os pais
foram detidos por agitação política contra a revolu-
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Livros – a obra é baseada em tragédias da vida pessoal
de Delijani, que estudou nos EUA e vive na Itália.
“Hollywood tem longo histórico em retratar outros
países sem considerar necessário passar algum tem-
po conhecendo-os realmente, por isso [Argo] fica su-
perficial e distante da verdade. Acredito que foi nisso
que o filme falhou, nos mostrando como mulheres e
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além de corpos vazios e raivosos.”
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sustância no mesmo quesito. Pende, como se poderia esperar,
para um lado, torna simplório o comportamento dos paquista-
neses e enriquece a complexidade das ações norte-americanas à
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Lourival Sant’Anna, repórter especial do jornal O Estado de S.
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em guerra ou recém-saídos de uma. Acaba de fazer um curso de do-
cumentário e tem restrições a filmes de ficção de Hollywood sobre
os conflitos da América.“Émuito estereotipado, não consigo ver até
o final, é desconcertante, porque tenho intimidade com os temas”,
diz.Elefalacomavisãodequemjáconversoucomnativosemterri-
tório sitiado sem colete à prova de balas e que define como pode ser
a sensação de estar em território sitiado: com silêncio e um suspiro.
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Mas o Brasil faria diferente? Fôssemos nós o polo cinematográ-
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concebidas são resistentes a uma observação mais atenta, deta-
lhista e complexa. Haveria equilíbrio para relatar em tela grande
a prisão dos brasileiros corintianos na Bolívia em fevereiro deste
ano, acusados de matar o adolescente Kevin Espada,
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te também desafiaria os cineastas brazucas: a Guerra
do Paraguai (1864-1870), a maior da América do Sul.
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ses da Inglaterra e dizimaram um país sem saída para
o mar, que ainda hoje segue longe de se recuperar
cem por cento em termos financeiros e morais.
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aqui tenha nos impossibilitado de enxergá-la com a
clareza e a frequência recomendáveis. Um estudante
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cou chocado ao saber que a imprensa brasileira vira e
mexe compara o número de mortos em conflitos no
Oriente Médio com os saldos fatais da bandidagem
no Rio de Janeiro. “Vocês deveriam comparar a cri-
minalidade brasileira com a dos Estados Unidos, não
com um país em guerra permanente. É como compa-
rar a força de uma pessoa comum com a de uma sem
braço”, comenta o rapaz de 25 anos.
De fato, soa grotesco se equiparar a qualquer nação
repleta de tanques comandados por gente que fala ou-
tro idioma e usa, em alguns casos, até outro alfabeto.
No final das contas, fica a impressão de que a ficção
travestida de realidade pode nos envolver – por mui-
tas vezes, completamente – e a realidade seria dura
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Realidades – Em Argo
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Em A Hora Mais Escura, a
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Perseguidos em toda Teerã, eles se refugia- ram na casa do embaixador canadense e escaparam fingindo-se de profissionais de Hollywood, capitaneados por um agente se- creto, o protagonista Tony Mendez, cujo livro The Master of Dis- guise serviu de ponto de partida para o roteiro. A Hora Mais Escura reforça por que Kathryn Bigelow se tor- nou a primeira mulher a receber o Oscar de Melhor Direção em 2009, por Guerra ao Terror. A personagem principal do novo filme, uma agente obcecada por encontrar Osama bin Laden, é vivida por Jessica Chastain, vencedora de um Globo de Ouro por essa atuação. Inspirada em uma mulher real, a protagonista é árida, como os filmes e a direção de Bigelow são. Seu estilo documental e hiperrealista – com a marca do namorado da di- retora, o jornalista Mark Boal, que assina o roteiro – lhe rendeu honrarias da própria CIA no fim de outubro último. Ambas as produções foram exitosas nas bilhete- rias e reconhecidas por suas virtudes. A Hora Mais Escura levou o Oscar de Melhor Edição de Som. Argo ficou com Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e – de forma surpreendente, já que não ha- via sido indicado a Melhor Diretor, quebrando um tabu na história da Academia – a cobiçada estatueta mais importante da noite: Melhor Filme. No entan- to, as críticas à ótica predominante nesses longas- metragens não foram poucas. “O que me aborreceu [em Argo] foi a raiva e a des- confiança retratadas no filme. Aparecemos gritando o tempo todo”, afirma a escritora iraniana Sahar De- lijani, nascida em 1983, mesmo ano em que os pais foram detidos por agitação política contra a revolu- ção. Ela passou os primeiros 45 dias de vida numa prisão. Não lhe interessa glorificar o regime vigente na terra persa, como se vê em seu romance de estreia, Filhos do Jacarandá, publicado no Brasil pela Globo Livros – a obra é baseada em tragédias da vida pessoal de Delijani, que estudou nos EUA e vive na Itália. “Hollywood tem longo histórico em retratar outros países sem considerar necessário passar algum tem- po conhecendo-os realmente, por isso [Argo] fica su- perficial e distante da verdade. Acredito que foi nisso que o filme falhou, nos mostrando como mulheres e homens que perderam a humanidade e não são nada além de corpos vazios e raivosos.” O realismo perfeccionista de A Hora Mais Escura carece de sustância no mesmo quesito. Pende, como se poderia esperar, para um lado, torna simplório o comportamento dos paquista- neses e enriquece a complexidade das ações norte-americanas à caça do então líder da al-Qaeda. Lourival Sant’Anna, repórter especial do jornal O Estado de S. Paulo, já correspondeu a partir de mais de 60 países, boa parte deles em guerra ou recém-saídos de uma. Acaba de fazer um curso de do- cumentário e tem restrições a filmes de ficção de Hollywood sobre os conflitos da América.“Émuito estereotipado, não consigo ver até o final, é desconcertante, porque tenho intimidade com os temas”, diz.Elefalacomavisãodequemjáconversoucomnativosemterri- tório sitiado sem colete à prova de balas e que define como pode ser a sensação de estar em território sitiado: com silêncio e um suspiro. Dificuldade Mas o Brasil faria diferente? Fôssemos nós o polo cinematográ- fico do continente americano, seriam outras as cores usadas para pintar aqueles estrangeiros de algum modo em conflito conos- co? “Muitas vezes, quando volto de coberturas internacionais e encontro amigos, vizinhos”, conta Sant’Anna, “me perguntam ‘como é que está lá’ e me demoro, pensando no que falar, mas as próprias pessoas começam a falar entre si, elas respondem. Elas não querem ouvir, acreditam que já sabem”. As ideias pre- concebidas são resistentes a uma observação mais atenta, deta- lhista e complexa. Haveria equilíbrio para relatar em tela grande a prisão dos brasileiros corintianos na Bolívia em fevereiro deste ano, acusados de matar o adolescente Kevin Espada, durante uma partida valendo pela Copa Libertadores, na cidade de Oruro? Um exemplo mais bélico e distan- te também desafiaria os cineastas brazucas: a Guerra do Paraguai (1864-1870), a maior da América do Sul. Brasil, Argentina e Uruguai sucumbiram aos interes- ses da Inglaterra e dizimaram um país sem saída para o mar, que ainda hoje segue longe de se recuperar cem por cento em termos financeiros e morais. É possível que certa banalização da violência por aqui tenha nos impossibilitado de enxergá-la com a clareza e a frequência recomendáveis. Um estudante de biologia de Nazaré, em Israel, Elias Abo Sine, fi- cou chocado ao saber que a imprensa brasileira vira e mexe compara o número de mortos em conflitos no Oriente Médio com os saldos fatais da bandidagem no Rio de Janeiro. “Vocês deveriam comparar a cri- minalidade brasileira com a dos Estados Unidos, não com um país em guerra permanente. É como compa- rar a força de uma pessoa comum com a de uma sem braço”, comenta o rapaz de 25 anos. De fato, soa grotesco se equiparar a qualquer nação repleta de tanques comandados por gente que fala ou- tro idioma e usa, em alguns casos, até outro alfabeto. No final das contas, fica a impressão de que a ficção travestida de realidade pode nos envolver – por mui- tas vezes, completamente – e a realidade seria dura demais para duas horas e pouco de entretenimento. Realidades – Em Argo (à esq.), os americanos perseguidos caminham assustados entre iranianos. Em A Hora Mais Escura, a performance espartana de Jessica Chastain lhe rendeu um Globo de Ouro