O documento discute as ideias do filósofo Henri Bergson sobre a natureza do tempo. Bergson via o tempo como uma multiplicidade qualitativa em constante mudança, ao invés de uma medida quantitativa. Ele argumenta que o passado se conserva no presente através da memória e influencia nossa percepção do mundo. A filosofia de Bergson enfatiza a mobilidade, a novidade imprevisível e a liberdade em oposição a forças mecanicistas.
2. bergson
Bergson considers the appearance of novelty as a result
of pure undetermined creation, instead of as the
predetermined result of mechanistic forces. His
philosophy emphasises pure mobility, unforeseeable
novelty, creativity and freedom; thus one can characterize
his system as a process philosophy. It touches upon such
topics as time and identity, free will, perception, change,
memory, consciousness, language, the
foundation of mathematics and the limits of reason.
3.
Para uns, a imagem digital é simulacro apresentando-se
como uma pretensa cópia.
Baudrillard = simulacro
Kittler: era da pós-mídia, pois todas as mídias convergirão
para uma única materialidade: o código binário.
Aparência / Essência
4.
Trata-se de compreendê-la como fluxo, movimento. De
fato, a imagem digital por sua natureza de matriz
manipulável engendra sempre um movimento, seja de
natureza interna ou externa. Interna como as experiências
de Motion graphic. Externas como a Hipermídia. Mesmo
quando parada, a imagem digital pode ser concebida
como um movimento infinitamente pequeno, virtual.
5.
Uma das conseqüências da presença ubíqua dos
computadores e da dinâmica de nossos meios de
comunicação é a percepção do tempo como algo em
fluxo; acontecimento em temporeal. Consonante com esta
presença ocorre o ressurgimento da filosofia
fenomenológica de
Bergson e sua visada em relação ao tempo e,
principalmente, a multiplicidade.
6.
A superposição de uma parte a outra com vistas a mensuração é,
portanto, impossível, inimaginável, inconcebível.
Em toda a mensuração entra um elemento de convenção
No caso do tempo, a ideia de superposição implicaria um absurdo
pois todo efeito da duração que for superponível a si mesmo e, por
conseguinte, mensurável, terá por essência não durar.
7.
No pensamento de Bergson as coisas não são substâncias
independentes do tempo e do devir, mas “fases” de um
devir, de um tornar-se. Em outros termos, uma coisa não
é o efeito de uma causa, mas a expressão de uma
“tendência”. A tendência é uma fase do vir-a-ser. Bergson
constrói uma ontologia em que a vida e o mundo se
tornam imagem-movimento, na qual as coisas estão em
perpétua variação umas em relação às outras.
8.
Ao contrário, Bergson constrói uma ontologia em que a
vida e o mundo se tornam imagem-movimento, na qual as
coisas estão em perpétua variação umas em relação às
outras. Por que Bergson se utiliza da palavra imagem?
Trata-se de imagem enquanto “imago”, ou seja, aquilo que
aparece enquanto aparecer, em outros termos, um
fenômeno.
9.
A linha que medimos é imóvel, o tempo é mobilidade. A linha é
algo já feito, o tempo aquilo que se faz e, mesmo, aquilo que se faz
de modo que tudo se faça. A medida do tempo nunca versa sobre o
tempo equanto duração; contamos apenas um certo número de
extremidades de intervalos e de momentos, isto é, em suma, de
paradas virtuais no tempo.
10.
Simultaneismo
A principal preocupação deste movimento no âmbito da
pintura é o emprego das teorias dos contrastes simultâneo
das cores. Assim, na prática, cada recorte de espaço de
uma tela é transfundido em outros recortes e segmentos a
través da cor, entrando em oposição direta com o
cubismo, que priorizava a forma geométrica.
11.
12.
Para a fenomenologia, em geral, a multiplicidade dos
fenômenos está relacionada a uma unidade processada na
consciência. Já no bergsonismo tudo é multiplicidade,
inclusive “os dados imediatos da consciência” (Bergson
[1888] 2001). A afirmação bergsoniana guarda uma sutil
diferença em relação à fenomenologia. Enquanto que para
esta última os dados são para a consciência; em Bergson
os dados são da consciência.
13.
Seu papel (da ciência) é prever. Ela extrai e retem do mundo
material aquilo que é suscetível de repetir-se e de ser calculado (...)
aquilo que não dura.
Mas essa duração, que a ciência elimina, que é difícil de ser
concebida e expressa, sentimo-la e vivemo-la. E se investigássemos o
que ela é?
14.
Duração – aquilo que é a própria mudança
Duração, continuidade que não é nem unidade, nem multiplicidade.
15.
Tempo e espaço são colocados no mesmo plano e tratados como coisas
do mesmo gênero. Quando evocamos o tempo, é o espaço que responde
ao nosso chamado.
16.
Para Bergson devemos compreender a duração como uma
multiplicidade qualitativa, a qual é oposta à multiplicidade
quantitativa. Em sua primeira grande obra, Bergson assim se
expressa a esse respeito:
Não é suficiente dizer que o numeral é uma coleção de unidades: é necessário
acrescentar que essas unidades são idênticas entre si, ou ao menos que elas
supõem identidades desde que se as conte.
Sem dúvida, contar-se-á as ovelhas de um rebanho e dir-se-á que totalizam
cinqüenta; mesmo que elas se distingam uma das outras e o pastor possa
reconhecê-las individualmente. Neste caso, então, negligencia-se suas diferenças
individuais realçando sua função comum (Bergson, [1888] 2001, p:39)
17.
Ao contrário das multiplicidades quantitativas,
multiplicidades qualitativas são heterogêneas e temporais.
Isto é uma idéia difícil de ser assimilada, pois ela marcha
contra a tradição de pensamento da metafísica ocidental;
já que quando pensamos em heterogeneidade, pensamos
em justaposição. Mas, na duração, heterogeneidade não
implica em justaposição, ou implica apenas
retrospectivamente:
18.
É uma sucessão de estados em que cada um anuncia aquele que o
segue e contém o que o precedeu. A bem dizer, eles só constituem
estados múltiplos quando, uma vez os tendo ultrapassado, em me
volto para observar-lhes os traços. Enquanto os experimentava, eles
estavam tão solidamente organizados, tão profundamente animados
com uma vida comum, que eu não teria podido dizer onde qualquer
um deles termina, onde começa o outro (Bergson, [1903] 1979,
p:16).
19.
Nossa ação só se exerce comodamente sobre pontos fixos, é a fixidez
que nossa inteligência procura; ela se pergunta onde o móvel está,
onde ele estará, por onde o móvel passa.
20.
Assim, segundo Bergson, existem um movimento que se
expressa numa transição da repugnância para o medo, do medo
para a simpatia, e da própria simpatia para a humildade. Esse
exemplo é importante, pois, primeiro, ele demonstra um
método típico de Bergson: começar por investigar as questões
pelas nossas percepções e afecções internas; para, em seguida,
referenciá-las na realidade exterior. Segundo, ele marca a
importância da afecção para o conceito de percepção de
Bergson. Nossa relação com o mundo, ou seja, com a
imagem-movimento se dará primordialmente pela faculdade da
afecção.
21.
A multiplicidade qualitativa é então heterogênea (ou
singularizada), contínua (ou interpenetrante), relativa a
oposições ou dualística nos extremos (no caso da
simpatia, piedade inferior e piedade superior
são os extremos), progressiva (temporal), um fluxo
irreversível, o qual não é dado todo de uma vez.
23.
“ estados” -> instantâneos tomados por nós ao longo da mudança, o
fluxo, é a continuidade de transição, é a própria mudança.
24.
Novelo...
Espectro...
Se evoco um espectro de mil nuances, tenho diante de mim uma coisa
completamente pronta, ao passo que a duração se faz continuamente.
Se penso num elástico que se alonga, numa mola que se encolhe ou se
distende, esqueço a riqueza de colorido que é característica da
duração vivida para não ver mais que o movimento simples pelo qual
a consciência passa de um tom ao outro”
25.
A duração consiste de duas características: unidade e
multiplicidade. Então, o tempo cronológico, mensurável,
métrico deve ser distinguido de uma “duração” que é pura
qualidade, progresso, que não escoa de forma mecânica
como um relógio, mas, ao contrário qualitativamente
ligada à vida, com uma incorporação fundamental na
existência.
26.
Há sistemas materiais em que o tempo não faz mais que deslizar.
Acerca dos fenômenos que neles se sucedem, pode-se dizer que são o
desenrolamento de um leque, ou melhor, de um filme cinematográfico.
27.
Uma realidade temporal como a consciência humana é
uma realidade que dura, muda e se diferencia. O conceito
de duração encerra uma dupla idéia: passagem e
conservação. Para que haja mudança ou diferenciação é
necessário que alguma coisa passe, tenha passado e se
conserve. O conceito de tempo ou de duração requer uma
passagem em direção ao passado e uma conservação desse
passado.
28.
Por memória se entende um princípio de conservação do
passado, o qual não é aquilo que passou ou desapareceu,
mas, ao contrário, o que se conserva.
A memória não é somente o princípio de conservação do
passado, mas também o retorno incessante do passado em
direção ao presente, a presença do passado no presente ou
para este presente.
29.
Esta relação com o passado é sempre singular porque
existe infinitos modos de se relacionar com este passado,
infinitos modos de retorno ao passado. Num certo
sentido, o presente é diferente porque o passado retorna
sempre de forma diferente, enriquecendo-o a cada
retorno. Não é essa a experiência que temos ao fruir uma
peça de Motion graphic? Ou ao navegar por uma
hipermídia?
30.
Cada vivência da consciência, segundo sua modalidade
própria, implica uma certa relação de tensão entre
passado, presente e futuro.
Poderíamos concluir então que não existe ação que se
contente em repetir mecanicamente o passado.
31.
Quando pensamos a imagem na perspectiva da duração
bergsoniana, deixamos o espaço, multiplicidade
quantitativa, e mergulhamos no tempo multiplicidade
qualitativa. Nos deparamos com o que é móbil, fluente,
fluxo ininterrupto, porém heterogêneo; não por
diferenciação espacial mas pela intensidade. A imagem
fluxo é construída por indivíduos, também fluxos, e
conjuntos sociais, também fluxos. Trata-se então de fluxos
em permanente interação e mútua transformação.
32.
Em sua significação, a imagem digital necessita da
memória, não como passado morto, mas como
virtualidade capaz de se atualizar no presente construindo
significações coletivas.
33.
Nessa perspectiva, o pensamento que analisa também
deverá mudar para se adequar ao seu objeto. Deverá se
libertar de conceitos rígidos e pré-fabricados para criar
conceitos bem diferentes daqueles que manejamos
habitualmente, isto é, deverá engendrar representações
flexíveis, móveis, quase fluidas, sempre prontas a se
moldarem sobre as formas fugidias do mundo sensível em
movimento.
http://www.youtube.com/watch?v=fzGXSpmNHzc
34. (bônus track)
Bergson + Kilpp
Para Bergson (1999, p. 47), inicialmente há o conjunto das
imagens, e, nele, existem “centros de ação”contra os quais
as imagens “interessantes” parecem se refletir. Deste
modo, com a reflexão das imagens interessantes à ação
necessária, nascem as percepções. Para o autor (p. 247),
“estar no presente, e num presente que recomeça a todo
instante, eis a lei fundamental da matéria: nisso consiste a
necessidade”. A meu ver, o teor conteudístico da televisão
encontra-se nesses centros de ação, e tanto a TV quanto o
espectador são corpos que percebem o que é necessário à
ação no presente.
35.
Na perspectiva do autor, a duração é criação incessante de
diferenças, sendo que a evolução acontece dos virtuais aos
atuais, o que me tem autorizado a propor com certa
frequência as formas televisuais que tenho estudado como
atualizações da virtualidade TV. Esses conceitos
começaram a ser operados em minhas pesquisas
anteriores relacionando “instantes” (formas) de dois
fluxos densos – os da TV Globo e os do SBT –, nos quais
penso ter encontrado aspectos distintos da memória
televisual em distintas imagens da duração atualizada ou
em distintas “porções de duração”
36.
Audiovisualidades são, portanto, virtualidades
audiovisuais. Atualizam-se audiovisual no cinema, no
vídeo, na televisão e na Internet, por exemplo, mas
permanecem simultaneamente em devir, em potência. Tal
perspectiva assume noções adjacentes, que é preciso
esclarecer. A mais importante é a de duração, nos termos
de Bergson, que se relaciona a contrapelo com a noção
tradicional de tempo (essencial elemento constituinte dos
audiovisuais) na ciência e na filosofia, na qual predomina
sua redução à sua espacialização, sua fixação ou
congelamento no espaço.
37.
Para o autor, ao contrário, o tempo (qualitativo,
coalescente e não cronológico) é mobilidade, vivência,
continuidade, ou seja, é a própria mudança e, portanto,
duração. Por isso, a duração é fluxo, e nela haveria
“criação perpétua de possibilidade e não apenas realidade”
(Bergson, 2006, p. 15), um caminho para a virtualidade