Artigo enviado para o X Simpósio Nacional da ABCiber:
Conectividade, Hibridação e Ecologia das Redes Digitais/2017. Escrito por Fernanda da Silva Ribeiro, mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero.
1. Fernanda da Silva Ribeiro – fdasilvaribeiro@gmail.com
Mestre em Comunicação - FCL
O QUE REVELAM AS PROPAGANDAS QUE NOS DIZEM PARA NÃO PERDER
TEMPO: CONEXÕES E VELOCIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
2. É possível observar que diversos anúncios publicitários
vêm nos alertando, cada vez mais, para não perdermos
tempo ou que temos de ser mais velozes. São propagandas
de supermercados, remédios, postos de gasolina,
farmácias, restaurantes, entre outros.
São os (as):
- fast foods
- quick massages
- vendas express
- ticket rápido
- transporte veloz
3. Pergunta:
Quais valores sociais e econômicos estão por trás das
propagandas que nos dizem para não perder tempo?
• artigo se apresenta no campo: Subjetividades
contemporâneas, poéticas e culturas da
conectividade, do X Simpósio Nacional da Abciber.
5. O artigo é desenvolvido em quatro momentos:
I. A aceleração do tempo a partir da Revolução
Industrial
II. Aceleração do tempo com o desenvolvimento dos
meios de comunicação
III. O surgimento da internet e do tempo always on
IV. Análise das propagandas
6. I. A aceleração do tempo a partir da Modernidade.
Marcada pela Revolução Industrial e pelo
desenvolvimento das máquinas a vapor e dos modos
de produção; pelo crescimento das fábricas e das
indústrias; e pelo desenvolvimento da comunicação e
dos transportes as sociedades passam a produzir mais
e de forma mais veloz. Nessa época são construídos os
primeiros trens e navios e, mais tarde, o telégrafo.
7. “(...) a transição entre a era pré-telégrafo e a era telégrafo assistiu à
transformação do período em que mensagens de longa distância entre
continentes, que poderiam levar 6 meses, passaram a demorar cerca de
10 minutos, o que corresponderia a uma aceleração de 25.920 vezes! Já
o salto entre a era do telégrafo para a era da internet, passou da ordem
de 10 minutos para prazos de 1 segundo ou menos para transferir uma
mensagem: uma aceleração de 600 vezes!” (Couldry, 2015, p.66)
8. II. A continuidade da aceleração do tempo do final do século
XIX até o século XXI, com o surgimento e rápida
disseminação dos principais meios de comunicação.
Nessa época surgiram o rádio, o telefone, a televisão e, mais
tarde, a internet, o que trouxe novas formas de nos
comunicarmos .
Internet rápida a comunicação passou a ser feita por
celulares conectados na palma da mão. Na era da mídia
always on.
9. III. A aceleração do tempo na indústria, nos meios de
produção e no consumo.
O desenvolvimento tecnológico somado à aceleração de
propagandas se disseminando cada vez mais, houve a
introdução de um comportamento de consumo mais
frequente e volátil.
Uma propaganda nova de um produto novo surge nos
celulares a cada instante e logo o produto anterior torna-
se obsoleto.
10. “Se ‘tempo é dinheiro’, a velocidade é poder. Para os banqueiros, para
que haja a mais-valia, é preciso que haja a velocidade da troca. Riqueza e
velocidade estão vinculadas. É conhecido o vínculo da riqueza e do poder
como da lei do mais forte. Mas a lei do mais forte é a lei do mais rápido”
(VIRILIO apud MORAIS, 2002, p.46).
11. Segundo os autores estudados (Virílio, Romano, Crary), os
tempos principais de uma sociedade são dirigidos pelos
mais poderosos, que são, em uma sociedade capitalista, os
donos do dinheiro.
Assim, são os valores dos donos do poder que indicam qual
tempo a grande parte das pessoas deve viver. Se se vender
mais rápido, mais se consome; se mais se consome, mais
lucro se tem.
Nessa lógica da velocidade, as experiências subjetivas, as
relações e o comportamento cotidiano são afetados
diretamente pela instantaneidade.
12. “A velocidade assume a forma de ‘motor da História’ à medida que não atua
apenas na máquina, mas se transporta para as consciências, jogando papel
decisivo em nosso cotidiano. O paradigma-máquina é a velocidade e está
incorporado no agir social – exigimos velocidade das máquinas e dos corpos
(...) (Morais, 2002, pág. 45).
13. Se o tempo do capital é o que governa as grandes sociedades -
então o tempo das propagandas revelam essa cultura por meio de
seus anúncios.
Como o objetivo das mercadorias é ser consumidas, as
propagandas parecem se utilizar do discurso da velocidade para
não perder mercado. Assim, o produto que fizer alguém sentir
alívio da dor em menos de 15min (Pastilhas Strepsils), ou
responder ao consumidor na hora que ele pergunta(Startups), será
bem colocado no mercado.
Como a produção é que está em foco, ficar doente ou demorar-se
numa compra (Carrefour Express), é ser menos eficiente, e quem é
menos eficiente é mal visto, incapaz ou perdedor.
14. Para romper com o hábito de vivermos acelerados é preciso
questionarmos essa velocidade imposta.
É importante parar para pensarmos que ideal de valores estão
nos vendendo. Precisamos dessa velocidade para nos
realizarmos? Temos que sarar com tanta rapidez? Precisamos
mesmo comprar o tempo todo?
Quebrar esse hábito posto de que a velocidade é o que há de
mais importante nos impulsiona a ampliar nosso repertório e ter
uma compreensão de mundo mais ampla e íntegra.
Se trouxermos essas representações para a discussão que aqui
se faz, podemos pensar que resistir é deixar a duração do tempo
acontecer, problematizando os tempos acelerados da produção
e lutando pelos tempos dos direitos humanos, como aponta o
sociólogo Vicente Romano.
15. “Esta questão dos direitos humanos, por exemplo, mostra o ponto de
interseção das diferentes culturas, apesar dos interesses comerciais.
Considera o tempo de muitos e o tempo humano em contraposição ao
tempo de poucos que detém o poder” (Romano, 1998, pág. 93).
16. Referências
AMADEU, Sérgio. Sociedade da informação e direitos na internet. In: Revista e, São Paulo: SESC,
Nov.2012.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
COULDRY, N. O tempo e as mídias digitais: aprofundamento do tempo, déficits de tempo, e
configuração narrativa, jul-dez, 2015. Revista Científica de Comunicação Social da FIAM-FAAM.
Disponível em < file:///C:/Users/W8/Downloads/332-1029-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em 05 jan.
2017.
CRARY, Jonathan. 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
MORAIS, R.Q. Paul Virilio: o pensador do instante contemporâneo, 2002. Ijuí.Revista do
Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da UNIJUI. Disponível em <
file:///C:/Users/W8/Downloads/1181-4852-1-PB%20(3).pdf>. Acesso em: 26 dez. 2016.
PELEGRINI, M. Tempo, tecnologia e mídia: o roubo do presente e a construção do futuro nos
grupos sociais. São José do Rio Preto: Bluecom, 2008.
PELLANDA, E. C. Nomadismo em espaços sociais: uma discussão sobre as novas formas de
inteirações potencializadas pela mobilidade da informação. In: Intercom Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 30, 2006. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação:
Estado e comunicação. São Paulo: Intercom, 2006.
ROMANO, V. El tempo y el espacio em la comunicacion: la razón pervertida. Hondarribia:
Argitaletxe Hiru, 1998.
___________. Ordem cultural e ordem natural do tempo. CISC. Disponível em
< http://www.cisc.org.br/portal/index.php/pt/biblioteca/finish/18-romano-vicente/55-ordem-
cultural-e-ordem-natural-do-tempo.html>. Acesso em 05 de jan. de 2017.