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Fernanda da Silva Ribeiro – fdasilvaribeiro@gmail.com
Psicóloga e Mestre em Comunicação - FCL
O QUE REVELAM AS PROPAGANDAS QUE NOS DIZEM PARA NÃO PERDER
TEMPO: CONEXÕES E VELOCIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
É possível observar que diversos anúncios publicitários
vêm nos alertando, cada vez mais, para não perdermos
tempo. São propagandas de supermercados, remédios,
postos de gasolina, farmácias, restaurantes, entre outros.
São:
- fast foods
- quick massages
- vendas express.
- ticket rápido
- transporte veloz
Pergunta:
Quais valores sociais e econômicos estão por trás desse
tempo veloz por trás das propagandas que nos dizem
para não perder tempo?
Por se tratar de um comportamento que tem se
mostrado contínuo na atualidade, esse artigo se
apresenta no campo das subjetividades
contemporâneas, relacionado ao Eixo temático 9:
Subjetividades contemporâneas, poéticas e culturas
da conectividade, do X Simpósio Nacional da
Abciber.
Serão analisadas 3publicidades
1 2
3
O artigo será desenvolvido em quatro momentos:
1- A aceleração do tempo a partir da Modernidade,
marcada pela Revolução Industrial e pelo
desenvolvimento das máquinas a vapor e dos modos
de produção; crescimento das fábricas e das indústrias,
bem como o desenvolvimento da comunicação e dos
transportes. Nessa época são construídos os primeiros
trens e navios e, mais tarde, o telégrafo.
“(...) a transição entre a era pré-telégrafo e a era telégrafo assistiu à
transformação do período em que mensagens de longa distância entre
continentes poderiam levar, digamos, 6 meses para o período de 10
minutos, o que corresponderia a uma aceleração de 25.920 vezes! Já o
salto entre a era do telégrafo e a era da internet, uma mudança de
comunicação transcontinental, passou da ordem de 10 minutos para
prazos de 1 segundo ou menos: uma aceleração de somente 600 vezes!”
(Couldry, 2015, p.66)
2 - O desenvolvimento dos meios de comunicação realizados entre o final do século XIX até o
século XXI foram enormes. Nessa época surgiram o rádio, o telefone, a televisão e, mais tarde,
a internet, o que trouxe novas formas de nos comunicarmos .
Com a internet rápida a comunicação passou a ser feita pela palma da mão e o tempo da
instantaneidade passou a reger as formas de nos relacionar.
Na era da mídia always on – ou seja, o tempo todo conectada via dispositivos móveis ligados à internet - o
passado importa pouco, o futuro chega rápido e o presente passa a ser onipresente. Alcançar qualquer pessoa
em qualquer lugar gera uma inversão de espaços públicos e privados, forçando necessariamente as pessoas a
alterarem hábitos e rotinas.
).
terceira parte falará do tempo da indústria e do capital. Aqui serão
abordadas as premissas desse modelo econômico e a introdução de um
comportamento de consumo cada vez mais frequente e volátil. Paul
Virilio diz que
Se “o tempo é dinheiro”, a velocidade é poder. Eu lembro que para os
banqueiros, para que haja a mais-valia, é preciso que haja a velocidade
da troca. Riqueza e velocidade estão vinculadas. É conhecido o vínculo da
riqueza e do poder como da lei do mais forte. Mas a lei do mais forte é a
lei do mais rápido (VIRILIO, 2011).
Segundo os autores estudados, os tempos principais de uma sociedade são
dirigidos pelos mais poderosos, que são, em uma sociedade capitalis, os donos do
dinheiro. Se assim o são, são os valores dessas referências que indicam qual tempo
devemos viver são a desses poderosos que, para terem lucro, precisam ter uma
sociedade que consuma sempre, e cada vez mais rápido, pois algo se obsoleto em
pouco tempo.
Segundo Romano,
El tempo mecânico se convirtó ahora em uma segunda naturaliza: la aceleración
del ritmo se convirtió em um nuevo imperativo para la indústria y “el progresso”. El
reducir el tempo de uma labor determinada, fuera éste uma fuente de placer o de
dolor, o acelerar el movimento em el espacio, fuese porque el viajero se
trasladarapor su gusto e su provecho, se consideraba como um fin em si mismo
(Romano, 1998, pág.98).
Se quem manda na organização do tempo é o mercado como fazer para vivermos
o tempo humano, subjetivo, na sociedade comandada pelo veloz tempo
mercantil?
Os slogans “Não tem tempo a perder?”, “Alívio rápido”, “Perca peso em temporecord” e “Quanto mais rápido
você faz as perguntas e mais rápido recebe as respostas, mais rápido você pode fazer ajustes no seu business”,
mostram que a velocidade é a ideia por trás dessas marcas.
Mas, o que está por trás desses anúncios que deflagram uma necessidade intensa pela rapidez? Quais valores
sociais estão implícitos nesses anúncios, propagandas e ideias que pregam a velocidade como algo
imprescindível? Que verdade eficiente está posta onde se anuncia que não podemos perder tempo?
Com base na apresentação feita sobre a aceleração das relações do homem com o mundo a partir da
Revolução Industrial, bem como dos tipos de tempo que ele estabelece com sua cultura e sociedade,
podemos observar que as propagandas apresentadas aqui culminam com o momento do tempo instantâneo,
o tempo da atualidade.
Se o tempo do capital é o que governa as grandes sociedades, ou seja, o tempo da produção, do lucro, a
imposição do poder de poucos para muitos, então o tempo das propagandas revelam essa cultura por meio de
seus anúncios.
Ao sermos bombardeados por produtos que nos fazem consumir rapidamente a todo instante, quando vamos
parar? Provavelmente quando acabar o dinheiro, ou as forças humanas.
Como o objetivo das mercadorias é serem consumidas, as propagandas parecem se utilizar do discurso da
velocidade para não perderem mercado. Assim, o produto que fizer alguém emagrecer em temporecord será
bem colocado no mercado, mesmo que traga alguns problemas à saúde, pois o que importa não é emagrecer
bem, mas com rapidez.
O mesmo se aplica às pastilhas Strepsils. Qualquer problema de saúde exige que tiremos a atenção da corrida
diária de nossas vidas para colocá-la no cuidado e na convalescência da doença. Qualquer doença, mesmo as
leves, como pode ser uma dor de garganta, exige cuidado e, às vezes, descanso. Quando vem acompanhada
de febre, por exemplo, é necessário repouso, como recomendam os médicos. Porém, quem tem tempo a
perder? O produto que conseguir curar a dor de garganta mais rápido sairá na frente e não perderá o mercado
para outros produtos de efeito mais lento.
Mas, se para nos recuperarmos de uma doença precisamos ficar de repouso, então não seriaanti-natural não
dar esse tempo ao corpo? Se nos deixarmos levar apenas pelo tempo do capital, não.
Para romper com o hábito de vivermos acelerados é preciso, portanto, questionarmos propagandas como as
apresentadas neste artigo. Mas não somente isso. É importante parar para pensarmos que ideal e que valores
estão nos vendendo. É essa a melhor maneira de fazer compras? É esse o melhor jeito de emagrecer?
Precisamos dessa velocidade para nos realizarmos? Quebrar esse hábito posto de que a velocidade é o que há
de mais importante nos impulsiona a ampliar nosso repertório e ter uma compreensão de mundo mais ampla
e íntegra.
Se trouxermos essas representações para a discussão que aqui se faz, podemos pensar que resistir é deixar a
duração do tempo acontecer, problematizando os tempos acelerados da produção e lutando pelos tempos
dos direitos humanos, como já apontou Romano.
Referências
AMADEU, Sérgio. Sociedade da informação e direitos na internet. In: Revista e, São Paulo: SESC,
Nov.2012.
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
COULDRY, N. O tempo e as mídias digitais: aprofundamento do tempo, déficits de tempo, e
configuração narrativa, jul-dez, 2015. Revista Científica de Comunicação Social da FIAM-FAAM.
Disponível em < file:///C:/Users/W8/Downloads/332-1029-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em 05 jan.
2017.
MORAIS, R.Q. Paul Virilio: o pensador do instante contemporâneo, 2002. Ijuí.Revista do Programa
de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da UNIJUI. Disponível em <
file:///C:/Users/W8/Downloads/1181-4852-1-PB%20(3).pdf>. Acesso em: 26 dez. 2016.
PELEGRINI, M. Tempo, tecnologia e mídia: o roubo do presente e a construção do futuro nos
grupos sociais. São José do Rio Preto: Bluecom, 2008.
PELLANDA, E. C. Nomadismo em espaços sociais: uma discussão sobre as novas formas de
inteirações potencializadas pela mobilidade da informação. In: Intercom Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 30, 2006. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação:
Estado e comunicação. São Paulo: Intercom, 2006.
ROMANO, V. El tempo y el espacio em la comunicacion: la razón pervertida. Hondarribia:
Argitaletxe Hiru, 1998.
___________. Ordem cultural e ordem natural do tempo. CISC. Disponível em
< http://www.cisc.org.br/portal/index.php/pt/biblioteca/finish/18-romano-vicente/55-ordem-
cultural-e-ordem-natural-do-tempo.html>. Acesso em 05 de jan. de 2017.
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  • 1. Fernanda da Silva Ribeiro – fdasilvaribeiro@gmail.com Psicóloga e Mestre em Comunicação - FCL O QUE REVELAM AS PROPAGANDAS QUE NOS DIZEM PARA NÃO PERDER TEMPO: CONEXÕES E VELOCIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
  • 2. É possível observar que diversos anúncios publicitários vêm nos alertando, cada vez mais, para não perdermos tempo. São propagandas de supermercados, remédios, postos de gasolina, farmácias, restaurantes, entre outros. São: - fast foods - quick massages - vendas express. - ticket rápido - transporte veloz
  • 3. Pergunta: Quais valores sociais e econômicos estão por trás desse tempo veloz por trás das propagandas que nos dizem para não perder tempo? Por se tratar de um comportamento que tem se mostrado contínuo na atualidade, esse artigo se apresenta no campo das subjetividades contemporâneas, relacionado ao Eixo temático 9: Subjetividades contemporâneas, poéticas e culturas da conectividade, do X Simpósio Nacional da Abciber.
  • 5. O artigo será desenvolvido em quatro momentos: 1- A aceleração do tempo a partir da Modernidade, marcada pela Revolução Industrial e pelo desenvolvimento das máquinas a vapor e dos modos de produção; crescimento das fábricas e das indústrias, bem como o desenvolvimento da comunicação e dos transportes. Nessa época são construídos os primeiros trens e navios e, mais tarde, o telégrafo.
  • 6. “(...) a transição entre a era pré-telégrafo e a era telégrafo assistiu à transformação do período em que mensagens de longa distância entre continentes poderiam levar, digamos, 6 meses para o período de 10 minutos, o que corresponderia a uma aceleração de 25.920 vezes! Já o salto entre a era do telégrafo e a era da internet, uma mudança de comunicação transcontinental, passou da ordem de 10 minutos para prazos de 1 segundo ou menos: uma aceleração de somente 600 vezes!” (Couldry, 2015, p.66)
  • 7. 2 - O desenvolvimento dos meios de comunicação realizados entre o final do século XIX até o século XXI foram enormes. Nessa época surgiram o rádio, o telefone, a televisão e, mais tarde, a internet, o que trouxe novas formas de nos comunicarmos . Com a internet rápida a comunicação passou a ser feita pela palma da mão e o tempo da instantaneidade passou a reger as formas de nos relacionar. Na era da mídia always on – ou seja, o tempo todo conectada via dispositivos móveis ligados à internet - o passado importa pouco, o futuro chega rápido e o presente passa a ser onipresente. Alcançar qualquer pessoa em qualquer lugar gera uma inversão de espaços públicos e privados, forçando necessariamente as pessoas a alterarem hábitos e rotinas. ).
  • 8. terceira parte falará do tempo da indústria e do capital. Aqui serão abordadas as premissas desse modelo econômico e a introdução de um comportamento de consumo cada vez mais frequente e volátil. Paul Virilio diz que Se “o tempo é dinheiro”, a velocidade é poder. Eu lembro que para os banqueiros, para que haja a mais-valia, é preciso que haja a velocidade da troca. Riqueza e velocidade estão vinculadas. É conhecido o vínculo da riqueza e do poder como da lei do mais forte. Mas a lei do mais forte é a lei do mais rápido (VIRILIO, 2011).
  • 9. Segundo os autores estudados, os tempos principais de uma sociedade são dirigidos pelos mais poderosos, que são, em uma sociedade capitalis, os donos do dinheiro. Se assim o são, são os valores dessas referências que indicam qual tempo devemos viver são a desses poderosos que, para terem lucro, precisam ter uma sociedade que consuma sempre, e cada vez mais rápido, pois algo se obsoleto em pouco tempo. Segundo Romano, El tempo mecânico se convirtó ahora em uma segunda naturaliza: la aceleración del ritmo se convirtió em um nuevo imperativo para la indústria y “el progresso”. El reducir el tempo de uma labor determinada, fuera éste uma fuente de placer o de dolor, o acelerar el movimento em el espacio, fuese porque el viajero se trasladarapor su gusto e su provecho, se consideraba como um fin em si mismo (Romano, 1998, pág.98). Se quem manda na organização do tempo é o mercado como fazer para vivermos o tempo humano, subjetivo, na sociedade comandada pelo veloz tempo mercantil?
  • 10. Os slogans “Não tem tempo a perder?”, “Alívio rápido”, “Perca peso em temporecord” e “Quanto mais rápido você faz as perguntas e mais rápido recebe as respostas, mais rápido você pode fazer ajustes no seu business”, mostram que a velocidade é a ideia por trás dessas marcas. Mas, o que está por trás desses anúncios que deflagram uma necessidade intensa pela rapidez? Quais valores sociais estão implícitos nesses anúncios, propagandas e ideias que pregam a velocidade como algo imprescindível? Que verdade eficiente está posta onde se anuncia que não podemos perder tempo? Com base na apresentação feita sobre a aceleração das relações do homem com o mundo a partir da Revolução Industrial, bem como dos tipos de tempo que ele estabelece com sua cultura e sociedade, podemos observar que as propagandas apresentadas aqui culminam com o momento do tempo instantâneo, o tempo da atualidade. Se o tempo do capital é o que governa as grandes sociedades, ou seja, o tempo da produção, do lucro, a imposição do poder de poucos para muitos, então o tempo das propagandas revelam essa cultura por meio de seus anúncios. Ao sermos bombardeados por produtos que nos fazem consumir rapidamente a todo instante, quando vamos parar? Provavelmente quando acabar o dinheiro, ou as forças humanas. Como o objetivo das mercadorias é serem consumidas, as propagandas parecem se utilizar do discurso da velocidade para não perderem mercado. Assim, o produto que fizer alguém emagrecer em temporecord será bem colocado no mercado, mesmo que traga alguns problemas à saúde, pois o que importa não é emagrecer bem, mas com rapidez. O mesmo se aplica às pastilhas Strepsils. Qualquer problema de saúde exige que tiremos a atenção da corrida diária de nossas vidas para colocá-la no cuidado e na convalescência da doença. Qualquer doença, mesmo as leves, como pode ser uma dor de garganta, exige cuidado e, às vezes, descanso. Quando vem acompanhada de febre, por exemplo, é necessário repouso, como recomendam os médicos. Porém, quem tem tempo a perder? O produto que conseguir curar a dor de garganta mais rápido sairá na frente e não perderá o mercado para outros produtos de efeito mais lento. Mas, se para nos recuperarmos de uma doença precisamos ficar de repouso, então não seriaanti-natural não dar esse tempo ao corpo? Se nos deixarmos levar apenas pelo tempo do capital, não.
  • 11. Para romper com o hábito de vivermos acelerados é preciso, portanto, questionarmos propagandas como as apresentadas neste artigo. Mas não somente isso. É importante parar para pensarmos que ideal e que valores estão nos vendendo. É essa a melhor maneira de fazer compras? É esse o melhor jeito de emagrecer? Precisamos dessa velocidade para nos realizarmos? Quebrar esse hábito posto de que a velocidade é o que há de mais importante nos impulsiona a ampliar nosso repertório e ter uma compreensão de mundo mais ampla e íntegra. Se trouxermos essas representações para a discussão que aqui se faz, podemos pensar que resistir é deixar a duração do tempo acontecer, problematizando os tempos acelerados da produção e lutando pelos tempos dos direitos humanos, como já apontou Romano.
  • 12. Referências AMADEU, Sérgio. Sociedade da informação e direitos na internet. In: Revista e, São Paulo: SESC, Nov.2012. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. COULDRY, N. O tempo e as mídias digitais: aprofundamento do tempo, déficits de tempo, e configuração narrativa, jul-dez, 2015. Revista Científica de Comunicação Social da FIAM-FAAM. Disponível em < file:///C:/Users/W8/Downloads/332-1029-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em 05 jan. 2017. MORAIS, R.Q. Paul Virilio: o pensador do instante contemporâneo, 2002. Ijuí.Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da UNIJUI. Disponível em < file:///C:/Users/W8/Downloads/1181-4852-1-PB%20(3).pdf>. Acesso em: 26 dez. 2016. PELEGRINI, M. Tempo, tecnologia e mídia: o roubo do presente e a construção do futuro nos grupos sociais. São José do Rio Preto: Bluecom, 2008. PELLANDA, E. C. Nomadismo em espaços sociais: uma discussão sobre as novas formas de inteirações potencializadas pela mobilidade da informação. In: Intercom Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 30, 2006. XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação: Estado e comunicação. São Paulo: Intercom, 2006. ROMANO, V. El tempo y el espacio em la comunicacion: la razón pervertida. Hondarribia: Argitaletxe Hiru, 1998. ___________. Ordem cultural e ordem natural do tempo. CISC. Disponível em < http://www.cisc.org.br/portal/index.php/pt/biblioteca/finish/18-romano-vicente/55-ordem- cultural-e-ordem-natural-do-tempo.html>. Acesso em 05 de jan. de 2017.