Avaliação dos impactos das oscilações no mercado internacional durante a segunda quinzena de setembro sobre as exportações brasileiras. Estudo elaborado pela Área de Análise Econômica do Comércio Exterior do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP.
Publicado em: 26.09.2011
Turbulência Internacional e Impacto para as Exportações do Brasil
1. São Paulo, 26 de setembro de 2011.
Turbulência Internacional e Impacto para as Exportações do Brasil
• As turbulências no mercado internacional, principalmente nesta última semana, afetaram variáveis
fundamentais para o comércio exterior brasileiro, dentre elas a taxa de câmbio do país e a cotação dos preços
de commodities.
• Este informativo tem como objetivo avaliar se as variações destes principais indicadores já estão impactando
significativamente nas vendas brasileiras ao exterior e se há possibilidades de traçar algum cenário para as
exportações do Brasil nos próximos meses. Dentre os índices analisados estão: a variação e a volatilidade do
preço da moeda brasileira, o preço das commodities e o financiamento às exportações em moeda estrangeira
(ACC e PA).
Desvalorização e Volatilidade Cambial
• Entre o fim da semana passada (16 de setembro) e o fim desta semana, o Real teve desvalorização de 11%,
atingindo pico de cotação de R$/US$ 1,90 na quinta-feira. Em comparação a uma cesta de moedas, cuja
desvalorização ficou em 5%, a perda de valor do Real no período de cinco dias foi muito superior, tendo
apenas a taxa de câmbio da África do Sul apresentado desvalorização mais significativa.
• Novamente, chama a atenção o fato de a moeda chinesa (Yuan) ter mantido estabilidade no período de
turbulência. Desta forma, não procedem as reclamações do governo chinês de que o país estaria sofrendo
ataques especulativos por meio de operações de carry trade, principalmente pelo fato de a conta financeira do
país ser ainda muito fechada.
Cesta de Moedas - Variação em relação ao dólar
12 a 15 de setembro de 2011
0,04% 0,08%
Média
-3% -3% -3% -5,4%
-6% -6% -5% -4% -4%
-9% -8%
-11%
-14%
Austrália
China
Rússia
Turquia
Argentina
Suíça
Coréia do Sul
Brasil
Malásia
África do Sul
Chile
Europa
México
Índia
Fonte: Macrodados Elaboração: FIESP/DEREX
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2. • A volatilidade da moeda é outro foco de análise que traz preocupações para a economia do Brasil. Neste
caso, o Real foi também a segunda moeda que mais volatilidade apresentou e novamente o Rande, da África
do Sul, exibiu maior índice. Esta análise se reveste de importância pois pode paralisar projetos de investimento
e planos de produção no curto prazo.
• Ressalta-se que a tendência de alta volatilidade já havia sido verificada na crise de 2008 e reforça o
argumento de que a moeda brasileira, cuja cotação oscilava entre o patamar R$ 1,55 e R$ 1,65, estava
sobrevalorizada. As medidas adotadas pelo Governo (redução da taxa básica de juros e introdução de IOF)
atuam também no sentido de desvalorizar a moeda.
Cesta de Moedas - Volatilidade da Taxa de Câmbio
12 a 15 de setembro de 2011
5,0%
3,9%
3,3% 3,0%
2,1% 2,1% 1,8% 1,8%
1,5% 1,5% 1,1% Média 2,0%
0,8%
0,16% 0,06%
Austrália
China
Rússia
Turquia
Argentina
Suíça
Coréia do Sul
Brasil
Malásia
África do Sul
Chile
Europa
México
Índia
Fonte: Macrodados Elaboração: FIESP/DEREX
O Preço de Exportação das Principais Commodities Exportadas pelo Brasil
• A perda de valor das principais commodities exportadas pelo Brasil nesta semana é outro fator importante que
pode impactar na queda do saldo comercial, na receita dos exportadores e na capacidade de importar do país.
• Entre os dias 16 e 22 de setembro, todos os índices das principais commodities internacionais exportadas
pelo Brasil (soja, petróleo, minério de ferro, algodão, suco de laranja e carne bovina) tiveram retração, com
exceção da carne bovina. Os principais produtos da pauta, como minério de ferro e soja, sofreram quedas de
5,6% e 1,2% respectivamente, mas abaixo da desvalorização do câmbio, o que ajudaria a elevar ou manter a
receita dos exportadores.
• Os produtos com quedas mais elevadas foram o açúcar e o algodão, com retração de 13% e 12%
respectivamente. Em ambos os casos, a queda não é compensada pela desvalorização cambial da semana, da
ordem de 11%.
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3. Variação nos preços de Commodities selecionadas
15 a 22 de setembro de 2011
-1,2%
-2,3%
-3,0%
-5,6%
Entre 15/09 e 22/09 houve uma
-7,3% desvalorização de 11% do Real
-8,5%
-11,7%
-13,0%
Açúcar Algodão Petróleo Milho Soja Suco de Carne Minério de
laranja bovina ferro
Fonte: BM&F e Bloomberg
O Financiamento em Dólares das Exportações Brasileiras
• Um dos canais de transmissão mais importantes para os exportadores brasileiros durante a crise iniciada em
2008 foi a súbita e abrupta queda nas linhas de crédito às exportações do Brasil, em especial as linhas de
Adiantamento de Contratos de Câmbio (ACC). Por falta de uma resposta pronta do Banco Central do Brasil
(BACEN) – a resposta adequada veio apenas algumas semanas após o agravamento – a redução das
exportações do Brasil se deu de forma mais acintosa do que se imaginava.
• Este canal é, atualmente, o mais preocupante, pois será a consequência de uma piora no sistema
interbancário internacional, principalmente no continente europeu, e tem potencial de gerar efeito contágio na
economia mundial que pode se traduzir em redução ainda maior do crescimento global ou até nova onda de
recessões.
• Os dados disponibilizados pelo BACEN apresentam os valores de ACC apenas até a última sexta-feira, dia 16
de setembro e, embora não estejam tão atualizados quanto os valores de taxa de câmbio e preços de
commodities, dão sinais de que o ritmo está mais moderado. Não houve crescimento do volume diário de ACC
em setembro em relação à agosto – o valor é o segundo maior do ano.
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4. Média diárias de contratos - 2011
em US$ milhões
313
253 252
241 241
222 214
205 249
210
159 153 194 197 201
167
118
ACC PA
82
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set*
*11 dias úteis de setembro, até dia 16/09/2011
Fonte: Banco Central do Brasil
• Não é possível ser conclusivo neste caso, pois uma piora na saúde de bancos internacionais pode gerar
quebra imediata no repasse de linhas, além de redução dos prazos de pagamentos e elevação do custo de
capital. Além disso, como o problema ainda está localizado nos bancos europeus, os exportadores podem estar
trocando as linhas destes bancos por de outros ao redor do mundo.
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• A propósito, os bancos europeus representam quase 15% do total dos ativos bancários no Brasil e 76% do
total dos ativos bancários estrangeiros no país. Espanha, Países Baixos, Portugal e Reino Unido são as
principais origens dos bancos estrangeiros no Brasil.
Exportações de Manufaturados e Perspectivas
• Ainda não é possível concluir se as exportações de produtos manufaturados serão afetadas pela piora da
economia global.
• Se por um lado a desvalorização cambial pode ampliar as receitas dos exportadores em Reais e inibir em
alguma escala a compra de bens importados, a ameaça de redução ainda maior do crescimento global pode
reduzir a demanda por bens produzidos no Brasil, em especial na Zona do Euro, destino de 19% das
exportações brasileiras de bens manufaturados.
• Não existem sinais claros de que a demanda dos principais países compradores de bens manufaturados do
Brasil (em especial na América Latina) será afetada no curto prazo e nem que as linhas de trade finance (ACC
e PA) estejam se contraindo. Uma reversão destas linhas associada a uma piora na Zona do Euro poderia
afetar o crescimento de outras regiões do globo.
• O BACEN e o BNDES devem ficar atentos a estes dados e agir com pronta disponibilidade para
eventualmente substituir recursos de linhas internacionais de crédito, seja com leilões de reservas cambiais ou
ampliação das linhas do BNDES EXIM.
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Relatório do Latin America Economic Analyst
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5. EQUIPE TÉCNICA
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP
Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior – DEREX
Diretor Titular: Roberto Giannetti da Fonseca Gerente: Frederico Arana Meira
Área de Análise Econômica do Comércio Exterior
Coordenador: Fabrízio Sardelli Panzini
Equipe: Paula Bolonha, Wellington Freire, Paulo Vitor Lira, Laura Gonçalves.
Endereço: Av. Paulista, 1313, 4º andar – São Paulo/SP – 01311-923 Telefones: (11) 3549-4234 Fax: (11) 3549-4730
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