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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 7 • nº1389
Julho/2013
A água que gera a experimentação
e a segurança alimentar da família
“Depois que ela foi
construída, nunca secou
não. A gente queria até
lavar lá dentro, mas não
deu porque ela não secou”,
comenta, rindo, o seu José
(Zé) Martins, sobre a
Cisterna-Calçadão que
garante água ao seu
quintal, há três anos. Ele
divide a vida e o trabalho
na agricultura com dona
Antônia Cândido, “nossa
renda é só do roçado, a
dela também. E desde que
eu nasci, que eu vivo da
agricultura direto”,
contando um pouco de sua
rotina numa tarde de
conversa e passeio pelas
comunidades ao redor.
O casal mora na comunidade Lagoa do Serrote, em Ocara, que nessa época tem
colhido muito feijão mas, na maioria dos roçados, a praga da lagarta prejudicou a colheita
do milho. Zé Martins e Antônia cuidam bem da cisterna
para dar frutos no quintal. “Não tem animal aqui
dentro, tem as cercas e umas piabinhas (doadas por
agentes de endemias) dentro”, diz seu Zé. Além do
roçado, os fundos do terreno da casa abrigam a
produção, garantindo a alimentação da família e o
excedente para venda e estocagem.
No período de construção da cisterna, o casal
recebeu a capacitação de famílias em Gestão de Água
para Produção de Alimentos (GAPA), pela então
executora do P1+2 em Ocara, a Obas (Organização
Barreira Amigos Solidários). Os/as agricultores/as
participantes fizeram dois canteiros,
Ocara
Canteiros ao redor da Cisterna-Calçadão
Roçado de seu Zé Martins e Antônia
Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará
coletivamente, com técnicas diferentes: um cercado de garrafas PET e outro de alvenaria,
ambos forrados com lona. Para Zé Martins, que sabe como a mulher cuida dessa parte do
quintal, o melhor canteiro é o das garrafas, pois foram instalados canos pelos quais a água
passa e umedece a terra, mantendo-o molhado até durante o verão. “Com um canteiro
desse aí, quando tá cheio, ela faz 30 móis, ela vende e ainda fica com uns. Dá pra apurar
uns 40 reais num canteiro cheio, num mês ou menos. E quem quiser vem comprar aqui!”.
Ao redor do calçadão, eles plantaram bananeiras, pimenteiras, tomateiros,
mangueiras, limoeiros, laranjeira, goiabeira, entre outras fruteiras, além de
experimentarem a plantação de macaxeiras, amendoim e eucalipto. Para manter o plantio
saudável, Antônia faz o remédio do Nim para matar a lagarta, que de vez em quando dá.
Ela pega as folhas do Nim,
pisa, e o Zé coloca as folhas
na forrageira e deixa apurar
por dois dias, amargando, e
junto, usou ureia para
adubar a terra.
N u m o u t r o e s p a ç o
c e r c a d o , Z é M a r t i n s
descreve: “aqui, no meu
roçado, plantei capim e
mandioca, mas isso aqui
breja no inverno e eu não
gosto de ver terra rala não. Aí
eu plantei, gradeei e enchi de
capim. A gente cria e tem que
plantar pra dar de comer aos
bichos, mas também pra
comer e vender”.
Em 2012, Zé Martins herdou uma parte do roçado do pai. São três hectares de feijão
que ele e a mulher trabalham, além de terem que contratar, pelo menos, quatro
trabalhadores e a hora de trator, que é 70 reais. Para o trabalhador ajudar na apanha do
feijão – a última deu sete sacos, eles pagam 30 reais, mais o almoço, o que “sai muito
caro”, na opinião de seu Zé. “Agora é 100 reais o saco de feijão e é trabalhoso, você planta,
colhe, leva pra casa, debulha, pra guardar tem que secar no sol, mas a gente tem que
vender né, que é pra pagar os trabalhador. Aqui é só eu e ela, sete sacos. Estou com
vontade de guardar uns seis sacos, e três tambores, porque a família da gente é grande, na
casa somos só nós dois, mas a gente dá pros filhos, que estão espalhados, são seis filhos e
bem uns 10 netos”, completa.
Ao lado da casa, o casal abriga a criação. São quatro porcos, sendo que os bacurins
são logo vendidos, a 60 reais cada um. Por causa da seca, ele tem vendido muitos bichos
para não ter tanto prejuízo. “Os porcos eu tinha um bocado, dei fim em tudo, só fiquei com
quatro. Nessa sequidão eu vendi também umas ovelhas pra dar de comer às outras, estou
com 10 ovelhas. Crio pato, galinha, peru, sementinha de gado também, são quatro, e
quatro animais também”, conta seu Zé. “A gente não tem outra sobrevivência, tem que
criar e vender. A solução da gente é esses bichinhos que a gente cria”.
Seu Zé Martins e dona Antônia ainda têm outra cisterna, além da Calçadão e a de
16mil litros, é uma cisterna coletiva, ao lado da casa. Quem da comunidade quiser ou
estiver precisando de um pouco d’água, pode ir lá e contar com a amizade do casal.
Realização Patrocínio
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Seu Zé Martins olha para o quintal e mostra os porcos

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  • 1. Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1389 Julho/2013 A água que gera a experimentação e a segurança alimentar da família “Depois que ela foi construída, nunca secou não. A gente queria até lavar lá dentro, mas não deu porque ela não secou”, comenta, rindo, o seu José (Zé) Martins, sobre a Cisterna-Calçadão que garante água ao seu quintal, há três anos. Ele divide a vida e o trabalho na agricultura com dona Antônia Cândido, “nossa renda é só do roçado, a dela também. E desde que eu nasci, que eu vivo da agricultura direto”, contando um pouco de sua rotina numa tarde de conversa e passeio pelas comunidades ao redor. O casal mora na comunidade Lagoa do Serrote, em Ocara, que nessa época tem colhido muito feijão mas, na maioria dos roçados, a praga da lagarta prejudicou a colheita do milho. Zé Martins e Antônia cuidam bem da cisterna para dar frutos no quintal. “Não tem animal aqui dentro, tem as cercas e umas piabinhas (doadas por agentes de endemias) dentro”, diz seu Zé. Além do roçado, os fundos do terreno da casa abrigam a produção, garantindo a alimentação da família e o excedente para venda e estocagem. No período de construção da cisterna, o casal recebeu a capacitação de famílias em Gestão de Água para Produção de Alimentos (GAPA), pela então executora do P1+2 em Ocara, a Obas (Organização Barreira Amigos Solidários). Os/as agricultores/as participantes fizeram dois canteiros, Ocara Canteiros ao redor da Cisterna-Calçadão Roçado de seu Zé Martins e Antônia
  • 2. Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará coletivamente, com técnicas diferentes: um cercado de garrafas PET e outro de alvenaria, ambos forrados com lona. Para Zé Martins, que sabe como a mulher cuida dessa parte do quintal, o melhor canteiro é o das garrafas, pois foram instalados canos pelos quais a água passa e umedece a terra, mantendo-o molhado até durante o verão. “Com um canteiro desse aí, quando tá cheio, ela faz 30 móis, ela vende e ainda fica com uns. Dá pra apurar uns 40 reais num canteiro cheio, num mês ou menos. E quem quiser vem comprar aqui!”. Ao redor do calçadão, eles plantaram bananeiras, pimenteiras, tomateiros, mangueiras, limoeiros, laranjeira, goiabeira, entre outras fruteiras, além de experimentarem a plantação de macaxeiras, amendoim e eucalipto. Para manter o plantio saudável, Antônia faz o remédio do Nim para matar a lagarta, que de vez em quando dá. Ela pega as folhas do Nim, pisa, e o Zé coloca as folhas na forrageira e deixa apurar por dois dias, amargando, e junto, usou ureia para adubar a terra. N u m o u t r o e s p a ç o c e r c a d o , Z é M a r t i n s descreve: “aqui, no meu roçado, plantei capim e mandioca, mas isso aqui breja no inverno e eu não gosto de ver terra rala não. Aí eu plantei, gradeei e enchi de capim. A gente cria e tem que plantar pra dar de comer aos bichos, mas também pra comer e vender”. Em 2012, Zé Martins herdou uma parte do roçado do pai. São três hectares de feijão que ele e a mulher trabalham, além de terem que contratar, pelo menos, quatro trabalhadores e a hora de trator, que é 70 reais. Para o trabalhador ajudar na apanha do feijão – a última deu sete sacos, eles pagam 30 reais, mais o almoço, o que “sai muito caro”, na opinião de seu Zé. “Agora é 100 reais o saco de feijão e é trabalhoso, você planta, colhe, leva pra casa, debulha, pra guardar tem que secar no sol, mas a gente tem que vender né, que é pra pagar os trabalhador. Aqui é só eu e ela, sete sacos. Estou com vontade de guardar uns seis sacos, e três tambores, porque a família da gente é grande, na casa somos só nós dois, mas a gente dá pros filhos, que estão espalhados, são seis filhos e bem uns 10 netos”, completa. Ao lado da casa, o casal abriga a criação. São quatro porcos, sendo que os bacurins são logo vendidos, a 60 reais cada um. Por causa da seca, ele tem vendido muitos bichos para não ter tanto prejuízo. “Os porcos eu tinha um bocado, dei fim em tudo, só fiquei com quatro. Nessa sequidão eu vendi também umas ovelhas pra dar de comer às outras, estou com 10 ovelhas. Crio pato, galinha, peru, sementinha de gado também, são quatro, e quatro animais também”, conta seu Zé. “A gente não tem outra sobrevivência, tem que criar e vender. A solução da gente é esses bichinhos que a gente cria”. Seu Zé Martins e dona Antônia ainda têm outra cisterna, além da Calçadão e a de 16mil litros, é uma cisterna coletiva, ao lado da casa. Quem da comunidade quiser ou estiver precisando de um pouco d’água, pode ir lá e contar com a amizade do casal. Realização Patrocínio Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Seu Zé Martins olha para o quintal e mostra os porcos